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O estudo do espaço na literatura APRESENTAÇÃO O espaço é um dos elementos da narrativa. A forma de descrever e construir os espaços nos textos literários varia dependendo da época em que foram escritos e também das intenções do autor em relação ao contexto espacial em que se desenvolve a trama. Sendo assim, as relações entre texto e contexto, notadamente a partir do Realismo e do Naturalismo até os dias atuais, com a representação dos espaços de fronteira, das margens e a literatura marginal, tornam-se bastante relevantes para a compreensão e análise das obras literárias. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar o espaço nos textos literários a partir das abordagens teórico-críticas atuais, bem como verá as relações entre texto e contextos nas narrativas literárias em língua portuguesa, além de estudar a forma e o conteúdo de textos considerados como literatura marginal. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar abordagens teórico-críticas atuais para o estudo do espaço na literatura.• Explicar as relações entre o texto e o contexto em narrativas literárias em língua portuguesa. • Analisar, considerando forma e conteúdo, textos considerados como literatura marginal.• DESAFIO As relações entre o texto literário e o contexto de determinada época permitem uma compreensão da obra literária a partir dos cronótopos (BAKHTIN, 2003). Os cronótopos (cronos = tempo, topos = local) enfatizam a indissociabilidade do tempo e do espaço, tal como se manifesta nas representações literárias. Acompanhe o seguinte cenário: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Então, vocês discutem: Como esses elementos (tempo e espaço) se manifestam no texto? O que significa, nesse caso, dizer que esses elementos se fundem? INFOGRÁFICO A categoria espaço, na narrativa, pode ser entendida de diversas maneiras, a depender do foco de observação, que serão usadas como suporte teórico nas análises literárias. Acompanhe, no Infográfico a seguir, as formas de análise de espaço usadas pela crítica e pela academia nos séculos XX e XXI, segundo sistematização proposta por Brandão (2007). CONTEÚDO DO LIVRO A categoria espaço na narrativa pode funcionar como uma moldura para as cenas representadas ou estruturar o enredo e a própria narrativa. As relações entre texto e contexto, e a fusão do espaço com a categoria tempo, são o elo do imaginário com o real, situando a narrativa historicamente ou afastando-a da realidade. Pensar espacialmente também traz a ideia de margem, e da literatura que a atravessa. No capítulo O estudo do espaço na literatura, da obra Estudos de literatura ‒ análise da narrativa em suas diversas manifestações, você vai conhecer algumas abordagens teórico- críticas para o estudo da categoria espaço na narrativa e examinar as relações entre texto e contexto em narrativas literárias de língua portuguesa e entre forma e conteúdo em textos considerados como literatura marginal. Boa leitura. ESTUDOS DE LITERATURA - ANÁLISE DA NARRATIVA EM SUAS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES Elisa Lima Abrantes O estudo do espaço na literatura Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar abordagens teórico-críticas atuais para o estudo do espaço na literatura. Explicar as relações entre o texto e o contexto em narrativas literárias em língua portuguesa. Analisar, considerando forma e conteúdo, textos considerados como literatura marginal. Introdução O espaço é um elemento de narrativa pelo qual os personagens circulam e as ações se desenrolam. O espaço pode ser fechado, como uma casa, um quarto, uma escola, ou aberto, como uma rua, um jardim, uma praia, etc. Muitas vezes, o espaço adquire grande importância na trama, e pode até mesmo se tornar um personagem da história. Além do espaço físico, temos o espaço social, em que os personagens de diferentes classes circulam, e o espaço psicológico, formado pelas lembranças e memórias íntimas dos personagens. O espaço pode refletir as emoções dos per- sonagens ou apenas delimitar o espaço geográfico em que se passa a história. De uma maneira ou de outra, o estudo do espaço permite que se compreenda melhor uma obra literária ao se examinar as relações entre texto e contexto. Neste capítulo, você estudará as diferentes abordagens teórico-críticas para o estudo do espaço na literatura, as relações entre o texto e contexto em narrativas literárias em língua portuguesa e a forma e o conteúdo dos textos considerados literatura marginal. 1 Abordagens teórico-críticas para o estudo do espaço na literatura Se pararmos para analisar a categoria “espaço” na literatura, perceberemos que esse elemento adquire maior ou menor importância na obra dependendo da maneira como está descrito e construído. Seu papel na narrativa pode ter infl uência sobre os personagens, como no caso da obra naturalista O cortiço (1890), em que o ambiente forma e transforma a personalidade dos personagens. O personagem Jerônimo, trabalhador da pedreira de João Romão, vai morar no cortiço do patrão com a esposa Piedade e se transforma com a mudança de casa. Na obra, a infl uência do meio sobre o personagem fi ca evidenciada em muitos trechos, como: Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contem- plativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros. E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se (AZEVEDO, 1977, p. 44). A grande influência do ambiente também pode ser vista no romance inglês O morro dos ventos uivantes (1847), de Emily Brontë. As moradias Wuthering Heights e Thrushcross Grange são os espaços do romance, e os personagens do primeiro espaço são mais livres e transgressores, convivendo com a natureza em seu estado mais selvagem, enquanto os do segundo seguem as normas de comportamento social esperados pela sociedade da época, vivendo em um local em que a natureza é mais domesticada e controlada pelo ser humano. Essas diferenças fazem com que os personagens se comportem de forma diferente ao frequentarem esses espaços do romance, como se, em certo sentido, se tornassem um pouco como eles. Bachelard (2000) propõe o termo topoanálise (topos em grego significa lugar) para o estudo da natureza da imagem poética. Não apenas as relações entre personagens e lugares devem ser pensadas, como também a construção O estudo do espaço na literatura2 de imagens e a poeticidade de um texto em relação à constituição do seu espaço. O autor afirma que as investigações do seu livro A poética do espaço (BACHELARD, 2000, p. 19): [...] visam determinar o valor humano dos espaços de posse, dos espaços defendidos contra forças adversas, dos espaços amados. O espaço percebido pela imaginação não pode ser o espaço indiferente entregue à mensuração e à reflexão do geômetra. É um espaço vivido. E vivido não em sua positividade, mas com todas as parcialidades da imaginação. O autor reflete sobre os espaços íntimos, sobre a relação simbólica da imaginação entre o mundo interior, ou o microcosmo individual, e o mundo exterior, ou o macrocosmo universal, para tratar dos espaços resguardadospela memória. Para ele, a topoanálise pode ser entendida como “[...] o estudo psicológico sistemático dos locais da nossa vida íntima” (BACHELARD, 2000, p. 28). Bachelard trata da ligação afetiva com a imagem dos espaços íntimos, como a casa, todos os seus cantos, do porão ao sótão, por exemplo. Ao autor sustenta que “[...] só a fenomenologia — isto é, a consideração do início da imagem numa consciência individual — pode ajudar-nos a reconstituir a subjetividade das imagens e a medir a amplitude, a força, o sentido da transubjetividade da imagem” (BACHELARD, 2000, p. 3). Ao buscar compreender a imagem poética, o autor a coloca num espaço de transubjetividade, ou seja, que toca a sensibilidade de diversas consciências. Ele ainda defende que somente por meio da fenomenologia — o estudo da experiência subjetiva da consciência — pode-se medir a força da imagem poética. Além da casa em todas as suas partes, os chamados espaços da memória, como armários, cofres e gavetas, são tratados de início como microcosmos individuais. Em seguida, passa-se ao microcosmo das miniaturas e, por fim, à relação dialética entre mundo exterior e interior, macrocosmo e microcosmo. A topoanálise seria então um estudo psicológico e afetivo da relação humana com seus espaços íntimos. Borges Filho (2007) expande o conceito de topoanálise de Bachelard para abarcar também outras abordagens sobre o espaço, incluindo questões estrutu- rais, sociológicas, filosóficas e culturais, que devem fazer parte da interpretação do espaço na obra literária. Para esse autor, o espaço é constituído de cenário, natureza e experiência, que é a vivência dos personagens nesses espaços. Ao pensarmos nessa experiência dos personagens, devemos ter em mente também a 3O estudo do espaço na literatura representação das transformações nas esferas pública e privada, a urbanização, a desterritorialização, os deslocamentos dentro das ruas de uma cidade, entre campo e cidade, entre oceanos e países. O fenômeno da segregação dentro das grandes cidades, o enclausuramento e o confinamento social, são elementos que devem ser levados em consideração na análise literária. Para desenvolver essa análise, um conceito muito importante é o de cro- nótopo (chronos = tempo e topos = lugar), de Mikhail Bakhtin (1975), que considera indissociáveis as categorias de tempo e espaço, como se manifestam nas representações literárias. Esse conceito evidencia o vínculo entre o mundo real e o imaginário, entre a literatura e a história, como explica Fiorin (2006, p. 133): As pessoas organizam o universo de sua experiência imediata com imagens do mundo, criadas a partir das categorias de tempo e espaço, que são inseparáveis. [...] Os textos literários revelam-nos os cronótopos de épocas passadas e, por conseguinte, a representação do mundo da sociedade em que eles surgiram. Figura-se o mundo por meio de cronótopos, que são, pois, uma ligação entre o mundo real e o mundo representado, que estão em interação mútua. O cronótopo brota de uma cosmovisão e determina a imagem do homem na literatura. A relação entre espaço e tempo é indissolúvel. O espaço é, portanto, um dos elementos estruturantes da narrativa, ao lado do tempo, do enredo e dos personagens. Como categoria da narrativa em suas manifestações literárias, teve o conceito estudado pela teoria da literatura, modificado ao longo do século XX de acordo com as noções das diferentes correntes teóricas, que propõem desdobramentos e alternativas, que se configuram como leituras pertinentes a partir de diferentes prismas. Santos (2007), em seu artigo “Espaços literários e suas expansões”, apresenta quatro formas recorrentes de uso da categoria do espaço para análises literárias nos séculos XX e XXI: A representação do espaço — a abordagem mais recorrente nos estudos literários contemporâneos atribui ao espaço características físicas e concretas, cenário para as ações, locais de pertencimento ou trânsito dos personagens ficcionais. Considera-se ainda o espaço social como conjuntura histórica, cultural e ideológica, espaço psicológico das sen- sações, memórias, afetos e expectativas de personagens e narradores. Uma vertente bastante difundida é a de representação do espaço urbano e, nas aproximações com os estudos culturais, a reflexão e utilização de termos como margem, fronteira, território, rede e cartografias. O estudo do espaço na literatura4 O espaço como forma de estruturação textual — considera-se característica espacial os procedimentos formais que produzem efeito de simultaneidade. O texto é fragmentado, como um mo- saico, e a forma estética baseia-se numa lógica espacial que requer a reorientação da atitude do leitor com relação à linguagem. Por meio da simultaneidade, atinge-se a totalidade da obra; as partes são autônomas, mas estabelecem articulações entre si. Esse tipo de construção textual fragmentada é recorrente em obras de autores modernistas, como James Joyce. Em Ulysses, por exemplo, toda a narrativa se desenvolve em um único dia. As cenas são entrecortadas de alusões à história, ao cotidiano dos dublinenses e a eventos que ocorrem fora das 24 horas em que o romance tem lugar. O contexto, que numa narrativa linear seria resumido para o leitor, precisa ser reconstruído por ele, a partir dos fragmentos espalhados por todo o livro. Nesse sentido, o leitor precisa ler o texto como lê a poesia moderna, organizando mentalmente os fragmentos e alusões para reflexivamente fazer as associações a fim de poder compreender o todo a partir de suas partes. O espaço como focalização — nessa forma, a focalização é entendida como um recurso espacial. Aqui o espaço se desdobra em espaço ob- servado e espaço que torna possível a observação. Por essa via é que se pode afirmar que o narrador é um espaço, ou que se narra sempre de algum lugar. A espacialidade da linguagem — aqui entende-se uma espacialidade própria da linguagem verbal, composta por signos que possuem mate- rialidade. O texto literário é tão mais espacial quanto mais a dimensão formal, ou do significante, é capaz de se destacar da dimensão do conteúdo, ou do significado. O sentido da narrativa é dado pelas rela- ções que se estabelecem entre os signos, numa operação de abstração a partir da imaginação do leitor. Como os signos possuem materialidade, eles podem exprimir outros significados, que subvertem a relação estabelecida inicialmente pelo leitor. Não é o foco deste capítulo desenvolver essas diferentes formas de com- preensão do espaço. Fiquemos, por ora, com a primeira e a terceira formas de representação do espaço, e utilizemos o conceito de cronótopo para auxiliar a análise do texto literário nas relações entre texto–contexto e nas literaturas das margens, em textos considerados como literatura marginal — temas que serão apresentados nas próximas seções. 5O estudo do espaço na literatura Se você deseja se aprofundar no assunto do conceito de espaço e suas interpretações nas diversas correntes teóricas da teoria da literatura, uma boa dica de leitura é o artigo “Breve história do espaço na teoria da literatura”, de Luis Alberto Brandão Santos. O texto traça um histórico das abordagens teórico-críticas e oferece outras sugestões de leitura para ampliar o conhecimento sobre as abordagens. 2 Texto e contexto em narrativas literárias em língua portuguesa Nas relações entre espaço e literatura, podemos utilizar uma abordagem extrínseca, que relaciona texto e contexto, aqui entendido como espaço. Para iniciar, podemos refl etir sobre os espaços nas narrativas literárias. Temos o espaço físico, que é o cenário da ação e da movimentação das personagens; pode ser aberto e amplo ou fechado e reduzido. Há também o espaço social, em que as relações sociais se efetivam a partir das interações entre as pessoas; trazem descrições que normalmente criticam os vícios e deformações da sociedade. Por fi m, temos o espaço psicológico, interno aos personagens,que retratam atmosferas densas e algumas vezes perturbadoras que se projetam sobre seus comportamentos (DIMAS, 1994). Alguns autores, como Lins (1976), diferenciam espaço e ambientação, ao compreenderem o primeiro como o lugar físico onde se desenvolve a ação e a segunda como um conjunto de processos que constroem na narrativa a noção de um determinado ambiente. Para se caracterizar um ambiente, levam-se em conta a época em que se passa a história, características físicas do espaço, aspectos socioeconômicos, psicológicos, morais e religiosos. Nesse sentido, o espaço é denotativo e a ambientação, conotativa. Para Lins (1976), existem três tipos de ambientação: a ambientação franca, mediante a descrição do espaço pelo olhar do narrador; a ambientação reflexa, narrada em terceira pessoa, mas descrita pela focalização do personagem, sem a colaboração intrusiva do narrador, que acompanha a perspectiva do personagem, numa visão compartilhada; a ambientação dissimulada, ou oblíqua, em que os atos do personagem vão fazendo surgir o espaço. O estudo do espaço na literatura6 Como exemplo de ambientação franca, temos em O cortiço, de Aluísio de Azevedo (1997, p. 30): “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas”. O olhar do narrador descreve o ambiente. Compare agora com um exemplo de ambientação reflexa, no romance Senhora, de José de Alencar (1997). A cena é narrada em terceira pessoa, mas a própria personagem Aurélia é quem vê a exuberância do ambiente: Atravessou a sala com o brando arfar que tem o cisne no lago sereno, e que era o passo das deusas. No meio das ondulações da seda parecia não ser ela quem avançava; mas os outros que vinham ao seu encontro, e o espaço que ia-se dobrando humilde a seus pés, para evitar-lhe a fadiga de o percorrer. Se Aurélia contava com o efeito de sua entrada sobre o espírito de Seixas, frustrara-se essa esperança, porque os olhos do mancebo [...] não viram mais que um vulto de mulher atravessar o salão e sentar-se no sofá (ALENCAR, 1997, p. 47). A ambientação dissimulada, ao contrário das outras duas formas, não suspende o relato para emoldurar o ambiente, pois: “[...] exige a personagem ativa: o que a identifica é um enlace entre espaço e ação” (LINS, 1976, p. 83). Veja na abertura do romance Mrs Dalloway, da autora inglesa Virginia Woolf, um exemplo desse tipo de ambientação: Mrs. Dalloway disse que ela própria iria comprar as flores. Quanto a Lucy, já estava com o serviço determinado. As portas seriam retiradas dos gonzos; pouco a pouco chegaria o pessoal de Rumpelmayer. Mas que manhã, pensou Clarissa Dalloway — fresca como para crianças numa praia! Que frêmito! Que mergulho! Pois sempre lhe parecera quando, com um leve ringir de gonzos, que ainda agora ouvia, abria de súbito as vidraças e mergulhava ao ar livre, lá em Bourton. Que fresco, que calmo, mas que hoje, não era então o ar da manhazinha; como o tapa de uma onda; como o beijo de uma onda; frio, fino, e ainda (para a menina de dezoito anos que ela era em Bourton) solene, sentindo, como sentia, parada ali ante a janela aberta que alguma coisa terrível ia acontecer (WOOLF, 1980, p. 7). Na narração dissimulada, não há pausa para se falar do ambiente e depois voltar à ação. É como se o espaço nascesse da própria personagem numa relação dialética. Nesse tipo de ambientação, tem-se a diluição da moldura do espaço e da ordem cronológica. No romance moderno, a ambientação dissimulada é incorporada como estrutura narrativa, juntamente com o fluxo de consciência, a fragmentação do enredo e a fusão de níveis temporais e espaciais. 7O estudo do espaço na literatura Na relação texto–contexto na narrativa, a configuração espacial estrutura, em muitos casos, aspectos extraliterários que expandem o sentido do texto, como no caso da obra do autor moçambicano Mia Couto, em que o espaço tem um valor político. Tanto em seus contos quanto em seus textos infantis, o espaço delineia uma paisagem cultural e valores da sociedade moçambicana que precisam ser discutidos com o novo público leitor. São questões impor- tantes para o contexto de uma sociedade pós-colonial, como miscigenação, preconceito e alteridade, entre outros. Na obra de Mia Couto, a categoria espacial não funciona apenas como moldura para as cenas representadas, mas também como um elemento que se vincula à história da nação. Veja como o autor ilustra os conflitos sociais e a questão racial no livro O gato e o escuro (PINHEIRO, 2019). A obra narra a história de Pintalgato, um gatinho que queria transpor os limites de um espaço que dava para a escu- ridão. A despeito das advertências da mãe acerca dos perigos que rondavam aquele lugar, certo dia o gato não resistiu à curiosidade e passou para a outra margem. Logo percebeu que a sua pele ficava negra à medida que adentrava na penumbra; e, para seu espanto, ainda permanecia com essa cor quando retornava à luz. Receoso de expor as marcas da desobediência, o gato prefere não voltar mais para casa. Sua mãe, contudo, logo aparece no local e institui um diálogo amistoso com a obscuridade. Em determinado momento, ela chega mesmo a desejar que o escuro fosse um de seus filhos. É então que o felino Pintalgato acorda e descobre que tudo não passara de um sonho. Mesmo assim, já de pé, reconhece nos olhos da mãe uma dose considerável de breu, como se ela tivesse engravidado da noite (PINHEIRO, 2019). Em uma das passagens do texto, o autor mostra como o preconceito se refere ao discurso do observador, e não ao objeto em si: — Os meninos têm medo de mim. Todos têm medo do escuro. — Os meninos não sabem que o escuro só existe é dentro de nós. — Não entendo, Dona Gata. — Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro só mora quem lá in- ventamos. Agora me entende? (COUTO, 2008, p. 25). Analisando outro exemplo, na obra de João Gilberto Noll temos uma confi- guração espacial que estrutura as narrativas. Os deslocamentos errantes de seus personagens em trânsito contínuo e ininterrupto por espaços fragmentados e vazios se alinham à fragmentação do próprio sujeito, anônimo e desenraizado, que não organiza suas experiências temporais linearmente em passado, presente O estudo do espaço na literatura8 e futuro. Nos romances Hotel Atlântico (1989) e A fúria do corpo (1981), o espaço revela o espaço flutuante e instável do sujeito contemporâneo. No caso do primeiro, a personagem inicia sua perambulação pelo Rio de Janeiro, se acomoda em um hotel, símbolo de transitoriedade e desenraizamento, e viaja a outros locais, como Florianópolis, levado pelo acaso e pelo destino, sempre marcados pela presença da morte, com quem o personagem se encontra no final da narrativa. No segundo, a configuração espacial traz a imagem de um labirinto, espaço opressivo e enigmático. A partir desses exemplos, podemos perceber que a configuração do espaço na narrativa pode tanto funcionar como uma moldura para as cenas representadas quanto adquirir uma relevância de estruturar a trama a partir dele. O cronótopo, que funde tempo e espaço, funciona muitas vezes possibilitando o enredo, como no cronótopo da estrada, por exemplo, em que espaço e tempo se articulam in- tensamente em função da referência que ela sugere: “[...] lugar no qual o tempo se derrama no espaço e flui por ele [...]. [Onde] o sustentáculo principal é o transcurso do tempo” (BAKHTIN, 1990, p. 350, acréscimo nosso). Nesse caminho, vários tipos de encontros podem ocorrer quando as personagens se colocam em movimento. O mote do encontro é um dos mais universais não apenas na literatura (é difícil deparar com uma obra em que esse mote absolutamente não exista), mas também em outros campos da cultura, bem como em diferentes esferas da vida e dos costumes da sociedade. Nos romances, os encontros ocorrem frequentemente em travessia, na estrada. Para Bakhtin (1990, p. 223), é enorme o significadodesse cronótopo na literatura: “[...] rara é a obra que passa sem certas variantes do motivo da estrada, e muitas obras estão francamente construídas sobre o cronótopo da estrada, dos encontros e das aventuras que correm pelo caminho”. Assim como o cronótopo da estrada, outros propiciam o desenvolvimento da narrativa, e a sua identificação facilita a análise da obra literária. Em relação aos cronótopos, nem sempre correspondem exatamente ao que foi de- nominado, como o próprio mote estrada, que pode ser entendido como travessia e como viagens, ocasiões em que acontecem encontros e aventuras. Na literatura mundial, temos a viagem como tema de obras canônicas e fundadoras da literatura ocidental, como a Odisseia, de Homero, a Eneida, de Virgílio, Os Lusíadas de Camões, Dom Quixote, de Cervantes, Ulysses, de James Joyce, A volta ao mundo em 80 dias, de Júlio Verne, dentre muitos outros. 9O estudo do espaço na literatura 3 Literatura marginal Para começarmos a abordar de literatura marginal, tomemos de empréstimo as palavras da professora Rejane Pivetta de Oliveira (2011, p. 31) sobre esse tipo de produção artística: Numa acepção estritamente artística, marginais são as produções que afron- tam o cânone, rompendo com as normas e os paradigmas estéticos vigentes. Na modernidade, uma certa posição marginal da arte sempre foi a condição aspirada como possibilidade para a criação do novo. Contudo, a inovação, uma vez assimilada e introduzida na tradição, deixa de ocupar uma posição à margem, exigindo novos processos de ruptura, que marcam, na perspectiva de Tynianov (1978), a evolução literária. Sob esse ponto de vista, a história da literatura e da arte consiste nessa dialética de posições que se alternam entre o centro e a margem, o que envolve não apenas transformações de ordem estética, mas também social e política. Na literatura brasileira, a nomenclatura literatura marginal é utilizada para se referir a dois momentos distintos. O primeiro, na década de 1970, em que poetas, principalmente intelectuais de classes média e alta do Rio de Janeiro, posicionam-se como contrários às políticas comerciais de produção e circulação da literatura nas grandes editoras e como críticos do sistema social e econômico do país. Ficaram conhecidos como “geração mimeógrafo”, pois produziam artesanalmente seus livros, que eram distribuídos em bares, museus, teatros e cinemas. O comportamento desses artistas refletia sua atitude política, pela qual buscavam transgredir a lógica capitalista. Alguns representantes desse movimento são Paulo Leminski, Chacal, Cacaso, Ana Cristina Cesar, entre outros. Na década de 1990, a nomenclatura marginal é novamente utilizada, mas para designar autores da periferia, que tematizavam a vida nas favelas, a pobreza, os conflitos sociais, o racismo e outras questões de cunho político e social. Aqui podemos mencionar as autoras da periferia, que tiveram suas obras valorizadas, como Carolina Maria de Jesus, que escreveu nas décadas de 1960 e 1970, e Conceição Evaristo, que estreou na literatura em 1990. No entanto, enquanto Carolina não ascendeu socialmente, Conceição Evaristo, também de origem humilde, é doutora em literatura comparada e atua na esfera acadêmica, tendo sido indicada para a Academia Brasileira de Letras. A nova geração de escritores marginais, como Sérgio Vaz, Ferréz, Sacolinha e Geovani Martins, usa a periferia como temática, e o hip hop tem grande influência sobre a sua escrita. O rap, a linguagem coloquial e as gírias dão O estudo do espaço na literatura10 forma aos seus escritos. A postura política desses escritores se reflete em entrevistas, eventos e maior aproximação com o público leitor. Assim, quando falamos de literatura marginal a partir de 1990, falamos de autores da periferia e que tematizam sobre a vida e a cultura nesses locais. Em relação aos procedimentos estéticos, além da linguagem coloquial e das gírias, a incorporação de elementos do rap na construção poética e narrativa traz um aspecto de inovação que se alinha a escritas de vanguarda. Como exemplo, podemos examinar o Manual prático do ódio, de Ferréz (2014). O romance apresenta um narrador onisciente que relata a trajetória de um grupo de criminosos que pretende realizar um assalto para ascender na carreira do crime organizado. Vários criminosos são apresentados no romance, como uma galeria de pessoas que transitam pela favela. Há exemplos de pessoas que estão de passagem, algumas que saem e voltam, e aqui o espaço estrutura a narrativa, como vimos na seção anterior desse capítulo. Segundo Carneiro (2017, p. 254): “[...] o entrelaçamento de histórias evidencia uma cartografia rizomática da região”, o que comprova esse papel do espaço na narrativa. Também podemos pensar esses próprios narradores como espaços, que falam a partir da periferia, com linguagem coloquial, expressões e gírias locais, como a seguir: Régis colocou o copo com caldo de cana vagarosamente no balcão da barraca e antes de ir olhou para a blusa de Nego Duda, tentou notar algum volume, não viu e foi para o canto, mas precavido fingiu que ia coçar a barriga e colocou a mão no revólver, só tirou a mão quando Nego Duda começou a lhe falar do ocorrido. — O barato é o seguinte, tô com um esquema bom, pra fazer um maluco. — Quem que é? — perguntou Régis colocando a mão dentro da cintura no- vamente, com o temor de Nego Duda falar que era ele, se fosse esse o caso, quem puxasse primeiro fritaria o outro. — Você num conhece, mora longe. — Sério? _ disse Régis tirando a mão da cintura novamente. — Mas num é isso que interessa, o que pega é o seguinte, o maluco quer dar cinco pau pra o outro ir pro inferno, só que quero saber com você como vou fazer isso? — Fazendo, porra! respondeu Régis com ironia (FERRÉZ, 2014, p. 23). O fato do narrador opinar e criticar demonstra uma tomada de posição e instrumento pedagógico de formação de consciência do leitor. Na mesma calçada passava Rodrigo, aluno do colégio São Luís, localizado nos Jardins, o aluno passou despercebido, pois tinha trocado o uniforme por roupas mais simples para ir embora para casa, todos na escola passaram 11O estudo do espaço na literatura a adotar a prática depois que alguns colegas foram assaltados no percurso entre a casa e a escola, as vítimas eram sempre jovens de 14 a 16 anos, e os executores dos furtos também tinham a mesma idade, a única diferença entre os jovens que roubavam e os roubados era o muro social que divide o país (FERRÉZ, 2014, p. 32). As personagens vão sendo apresentadas por meio de seus atos, pen- samentos e reflexões, de maneira polifônica, pela voz do narrador e dos personagens que passam pelo território, e o tom pedagógico se dá a partir de um ponto de vista desconhecido pela tradição literária e pelo cânone: o gueto, a favela, a periferia, a partir do olhar de quem vive nesses locais. Uma visão de dentro. ALENCAR, J. de. Senhora. São Paulo: Globo, 1997. AZEVEDO, A. de. O cortiço. São Paulo: Globo, 1997. BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2000. BAKHTIN, M. Forms of time and of the chronotope in the novel. In: BAKHTIN, M. The dialogic imagination: four essays. Austin: University of Texas, 1975. p. 84–258. BAKHTIN, M. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1990. CARNEIRO, Vinicius. Reflexões quanto à literatura marginal brasileira: comparando Ferréz a sua tradição literária. 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O estudo do espaço na literatura12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. OLIVEIRA, R. P. de. Literatura marginal: questionamentos à teoria literária. Ipotesi, v. 15, nº. 2, esp., p. 31–39, jul./dez. 2011. Disponível em: http://www.ufjf.br/revistaipotesi/ files/2011/05/7-Literatura.pdf. Acesso em: 17 jun. 2020. PINHEIRO, A. Estruturação do espaço na literatura infantil de Mia Couto. Línguas e Letras, v. 20, nº. 47, 2019. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/ article/download/14793/pdf. Acesso em: 17 jun. 2020. SANTOS, L. A. B. Espaços literários e suas expansões. 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Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/cerrados/ article/view/1140. Acesso em: 17 jun. 2020. VAZ, S. Literatura, pão e poesia. São Paulo: Global, 2011. 13O estudo do espaço na literatura DICA DO PROFESSOR O espaço é um elemento relevante na construção da narrativa. Seja como moldura do texto (cenário), espaço em que os personagens se movimentam e atuam e na própria estruturação da narração e da narrativa. Veja, nesta Dica do Professor, a relação entre texto e contexto, e de que forma o espaço como elemento da narrativa pode ser entendido na análise literária. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Nos estudos literários, as categorias da narrativa, como personagens, narrador, enredo, ponto de vista, espaço e tempo, têm sua relevância na análise da obra. As categorias de espaço e tempo, na visão do teórico Bakhtin, são indissociáveis na representação artístico-literária. Esse conceito chama-se: A) espacialidade. B) cronótopo. C) ambientação. D) lugar físico. E) espaço social. 2) Alguns estudiosos distinguem as categorias de espaço e ambientação. Enquanto a primeira é o espaço físico onde a ação se desenrola, a segunda é uma combinação de aspectos físicos, sociais, econômicos e emocionais, entre outros. A ambientação pode ser franca, reflexiva e dissimulada. No caso da ambientação franca: A) o ponto de vista é do narrador em primeira pessoa. B) o olhar da personagem e a ação se entrelaçam, não há pausas. C) o olhar que prevalece é o da personagem. D) o ambiente é apresentado pelo narrador alinhado à personagem. E) o ambiente é descrito pelo olhar do narrador. 3) A literatura marginal no Brasil passou por diversas transformações conceituais desde seu surgimento, em 1970, com a "geração do mimeógrafo". Naquele momento, a palavra "marginal" referia-se: A) aos escritores representantes da periferia. B) à linguagem coloquial e à estrutura das letras de rap. C) aos escritores que estavam à margem do circuito editorial. D) à cultura hip hop. E) à representação de personagens de cidades interioranas. 4) A configuração do espaço na narrativa pode trazer um novo prisma para a análise da obra literária. Esse tipo de estudo é chamado de: A) cronótopo. B) topoanálise. C) focalização. D) espacialidade. E) cartografia. 5) No caso de uma narrativa em flashes e cenas fragmentadas, as partes são autônomas, mas se relacionam para formar o sentido do todo. Qual seria a abordagem para se compreender essa configuração de espaço? A) Espaço como estruturação textual. B) Espaço como materialidade da linguagem. C) Espaço como focalização narrativa. D) Espaço representado. E) Espaço de pertencimento. NA PRÁTICA A literatura marginal é aquela que está fora do cânone literário, ou seja, fora da lista de obras que se enquadram no valor estético de determinado período. Na década de 1970, a expressão literatura marginal referia-se à geração mimeógrafo, poetas cariocas de classes média e alta que eram contrários ao sistema de produção e circulação de livros das editoras, e produziam e distribuíam suas obras diretamente ao público, em bares, cinemas, teatros e praças. A partir da década de 1990, a nomenclatura literatura marginal passou a ser usada para classificar autores da periferia, que representam literariamente questões sociais e a cultura da periferia. Veja, Na Prática, como uma professora trabalhou com seus alunos textos considerados como literatura marginal. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Cronótopo Veja e examine o conceito de cronótopo, cunhado por Mikhail Bakhtin, disponível neste dicionário on-line de palavras e expressões literárias. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Estruturação do espaço na literatura infantil de Mia Couto Leia, neste artigo, sobre a configuração espacial como expressão de valores políticos e éticos nos livros infantis de Mia Couto. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Reflexões quanto à literatura marginal brasileira: comparando Ferréz a sua tradição literária Este artigo possibilita a reflexão sobre a literatura marginal brasileira e trabalha alguns elementos pertencentes a textos considerados como literatura marginal. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Realismo e violência em romances da literatura marginal-periférica brasileira: a representação da favela A leitura deste artigo proporciona um aprofundamento no conhecimento sobre textos considerados como literatura marginal. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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