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1 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo 2 Universidade da Amazônia Belém Unama 2009 ELDER LISBÔA FERREIRA DA COSTA HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo 3 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo Catalogação na fonte www.unama.br HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo © 2009, UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA REITOR Édson Raymundo Pinheiro de Souza Franco VICE-REITOR Antonio de Carvalho Vaz Pereira PRÓ-REITOR DE ENSINO Mário Francisco Guzzo PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO Núbia Maria de Vasconcellos Maciel “Campus” Alcindo Cacela Av. Alcindo Cacela, 287 66060-902 - Belém-Pará Fone geral: (91) 4009-3000 Fax: (91) 3225-3909 “Campus” Senador Lemos Av. Senador Lemos, 2809 66120-901 - Belém-Pará Fone: (91) 4009-7100 Fax: (91) 4009-7153 “Campus” Quintino Trav. Quintino Bocaiúva, 1808 66035-190 - Belém-Pará Fone: (91) 4009-3300 Fax: (91) 4009-3349 “Campus” BR Rod. BR-316, km3 67113-901 - Ananindeua-Pa Fone: (91) 4009-9200 Fax: (91) 4009-9308 EXPEDIENTE EDIÇÃO: Editora UNAMA COORDENADOR: João Carlos Pereira SUPERVISÃO E FOTO DA CAPA: Helder Leite NORMALIZAÇÃO: Maria Miranda FORMATAÇÃO GRÁFICA E CAPA: Elailson Santos C837h Costa, Elder Lisbôa Ferreira da História do Direito: de Roma à história do povo hebreu muçulmano: a evolução do direito antigo à compreensão do pensamento jurídico contemporâne / Elder Lisbôa Ferreira da Costa . – Belém: Unama, 2007. 128p. ISBN 978-85-7691-089-3 1. História do Direito. 2. Direito romano. 3. Direito hebreu. I. Titulo CDD: 340.9 4 Universidade da Amazônia Nas diferenças culturais, encontaremos a paz que tanto procuramos. (Elder Lisbôa) 5 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo Aos meus pais, Francisco e Benedita, pelos ensinamentos, ao longo dos anos. Ao Danilo Ewerton pela revisão das notas. Aos meus alunos de Graduação e de Pós-Graduação. 6 Universidade da Amazônia Sumário PRÓLOGO ..................................................................................... 7 PREFÁCIO .................................................................................... 11 ÍNDICE DOS TERMOS E SIGNIFICADOS UTILIZADOS DICIONÁRIO HISTÓRICO ............................................................. 13 DIREITO ROMANO ...................................................................... 14 O DIREITO HEBREU ..................................................................... 20 DIREITO ISLÂMICO ...................................................................... 24 O GÊNESIS DO DIREITO EM SOCIEDADE .................................... 26 DIREITO ROMANO ...................................................................... 35 DIREITO HEBREU ......................................................................... 66 O PENTATEUCO DE MOISÉS: o ápice da lei hebraica ................ 74 O PERSONAGEM HERODES “O GRANDE” ................................. 95 A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO MOSAICA .................................. 98 O HISTÓRIA DE JESUS CRISTO .................................................. 100 SOBRE O JULGAMENTO DE JESUS ........................................... 104 1 A FUNÇÃO DE CAIFÁS ............................................................................... 104 2 SENTENÇA DE JESUS CRISTO ..................................................................... 105 O DIREITO ISLÂMICO E SUAS ORIGENS ................................... 107 REFERÊNCIAS ............................................................................ 124 SOBRE O AUTOR ....................................................................... 127 7 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo PRÓLOGO* presente livro, “História do Direito: de Roma à História do Povo Hebreu e Muçulmano, a evolução do direito antigo à compreensão do pensamento jurídico contemporâneo”, faz parte de uma pesquisa por nós elaborada em nossa última viagem internacional, incluindo o continente europeu e os últimos aconteci- mentos ocorridos no cenário internacional, como o assassinado da ex-premier do Paquistão Benazir Butho, exatamente quando prepa- rava os escritos que, depois, transformaria em livro. Numa das noites, em que estavámos escrevendo essas li- nhas, era assassinada no Paquistão a ex-premier Benazir Butho, em um ataque suicida, provocado provavelmente por algum grupo ter- rorista por razões políticas e/ou religiosas. Nesta edição, procuramos, em longa pesquisa, e achamos necessário incluir o Direito Islâmico, como sendo um direito que influenciou e influencia as populações planetárias, com sua dou- trina religiosa e os reflexos dessa religiosidade nos campos jurídi- co e político. Já tratamos sobre a influência da religiosidade na história dos povos e que, na antiguidade, o místico sempre influenciou a sociedade e a formação do direito. Buscamos relacionar, a partir do tronco comum que nos une inevitavelmente ao monoteísmo, o pa- triarca Abraão. Não há dúvida de que houve grandes nações da antiguidade que praticaram o politeísmo e a influência para a cultura dos povos, mas não serão por ora objeto de nosso estudo. Este tronco comum é, sem dúvida, o grande patriarca Abraão, considerado o Pai das três religiões monoteístas, pela ordem: o Ju- daísmo, o Cristianismo e o Islamismo. É preciso verificar o que há de comum e as suas diferenças nos textos sagrados. Não se pode tam- bém esquecer que outro patriarca teve papel decisivo: Noé. * Esclarecemos que, quando terminamos de escrever estas linhas, tomava posse como Presidente do Paquistão o viúvo de Benazir Butho - Asif Ali Zardari. A citação dos autores portugueses foi mantida em linguagem original. O 8 Universidade da Amazônia Dentro dos escritos que passamos a manusear, temos o códi- go de Hamurábi, que foi a lei para o povo babilônico e fonte de todo o direito da época. Foi procedida uma ponte, com o aparecimento do Direito Empresarial, hoje estudado com muita propriedade em nossas uni- versidades, provando que seus institutos, há muito, já tinham previ- são para os Sumérios. Vale destacar que a civilização suméria é uma das mais antigas de que temos conhecimento, tendo aparecido an- tes mesmo da civilização egípcia e a chinesa. Houve, de nossa parte, uma incansável busca por livros anti- gos, para retratar mais fielmente o que diziam os nossos escritores do século passado, e o que diziam sobre os nossos antepassados, mediante os seus ensinamentos. Vale retratar uma constatação: quanto mais antiga a obra jurídica, mais precioso o seu valor, visto que se evitam comparações indevidas. Um agradecimento especial à Universidade de Salamanca, em particular a biblioteca Francisco de Vitória e, a Universidade de Coimbra, bem como à Universidade de Roma, pelo acervo in- contestável de obras raras e antigas; onde pudemos ter acesso a várias obras, que possibilitaram um estudo mais fiel sobre as ori- gens das primeiras civilizações. Vale um esclarecimento: a grafia foi mantida no original, onde, por exemplo, a palavra monarca era grafada monarcha. Na primeira edição, dedico o prólogo à Paz Mundial entre os homens. Creio que o nosso vetor a ser buscado, sem dúvida, é o mul- ticulturalismo, respeitando as peculiaridades de cada povo, em bus- ca dessa paz cada vez mais distante dos homens. Embora o homem professe credos diferentes, devemos buscar um entendimento para um convívio pacífico em sociedade. Por isso, procuramosdemons- trar que não há discrepâncias instransponíveis entre judeus, cris- tãos e muçulmanos em questões religiosas. Temos sim, muito em comum. Existe uma cultura propalada pelo universalismo que deve ser combatida e repelida por todos nós. Somos chamados a acreditar que “a ideologia de que tudo que vem do ocidente é o que presta, e o que vem do oriente deve ser visto com reservas”, o que é uma inverdade. 9 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo Temos e precisamos procurar um entendimento. Procurar nas diferenças, vertentes comuns. A paz deve estar ao alcance de todos, onde quer que se encontrem, e os irmãos muçulmanos que se en- contram no Paquistão1 possam encontrar a paz. Aqui vale um esclarecimento. Embora nesta obra se retrate a evolução do Direito Hebreu, alocamos alguns pontos que entende- mos importantes sobre a passagem de Jesus Cristo na terra, em virtude deste ter sido um judeu. Por isso, transcrevemos algumas de suas realizações e feitos miraculosos, embora o façamos com mais propriedade quando formos tratar especificamente sobre a evolu- ção do cristianismo e seus reflexos na formação do direito. Aliás, quando formos abordar mais pormenorizadamente a questão sobre Jesus Cristo e nossa posição sobre a sua existência como homem histórico, nos posicionamos ao lado daqueles que de- fendem a sua existência. Uma das principais fontes de que o Cristo histórico realmen- te viveu entre nós é o fantástico historiador Flávio Josefo, autor de História dos Hebreus. Josefo escreveu seus textos no século I. Não podemos deixar de citar que provavelmente seus textos originais podem ter sido influenciados por cristãos, mas nos seus es- critos podemos avaliar a citação de Jesus Cristo de forma imparcial. Para Josefo, Jesus viveu naquele período e seria uma espécie de Mestre. Realizou obras miraculosas e foi crucificado por uma conspiração a mando de Pilatos, que era o governador da Judeia. A ideia é reforçada, pois o historiador Tácito tem escritos pró- ximos ao de Josefo de que Jesus teria morrido a mando de Pilatos à época do Imperador Tibério. A sociedade romana, por meio dos seus dirigentes, não teria dado a importância que Jesus como profeta teria, relegando-o a um segundo plano. Note-se que essas referên- cias são as mesmas que encontramos no Novo Testamento. Agradecemos imensamente aos amigos Moussa M.A. Abuna- im, Ministro Conselheiro da Autoridade Palestina, em Lisboa Portu- gal; Abu Middain, Ministro da Justiça da Palestina de 1995 e 2003, 1 Falamos especificamente do Paquistão de maioria muçulmana, depois do assassinato da Ex-Premier, o que provocou um abalo interno no país. 10 Universidade da Amazônia atualmente dirigente dos territorios palestinos, pelas aulas em árabe e a tradução correta dos termos para o português, pela “viagem” a Palestina e horas de conversas gravadas, que nos permitiram enden- der toda a questão Palestina e o contato com a cultura islâmica.2 Queremos, nesse momento, esclarecer que as conclusões deste livro, em nenhum momento refletem a opinião das autorida- des palestinas que tive o prazer de conviver. Agredecemos a todos os que nos ajudaram a lançar mais esta obra no mercado jurídico e, em particular, as palavras elogiosas do Professor Zeno Veloso que prefaciou esta obra. Aliás, um particular devemos contar. Quando estava na Uni- versidade de Coimbra, em uma das aulas de Mestrado, quando iden- tificado como brasileiro e, particularmente, paraense, o professor catedrático assim se dirigiu: você é do Pará? Tendo uma afirmação como resposta, ele disse: – conheço um dos maiores juristas do mun- do na área do direito civil, o Professor Zeno Veloso. Ficamos orgu- lhosos pelo nobre Professor ser conhecido e respeitado em rincões europeus e ser nosso amigo pessoal. Em especial, a um amigo muito especial, Doutor Paulo Jussa- ra, Juiz e Diretor do Fórum Criminal da cidade de Belém, pela amiza- de sincera e duradoura, pelas longas conversas sobre a vida e o direito, com as quais aprendemos muito, um bálsamo para nossa vida. O nosso muito obrigado. A todos os nossos alunos de Graduação e Pós-Graduação. O autor 2 Sobre a receptividade do povo palestino, ficamos impressionados. No jantar oferecido pelo Senhor Ministro da Justiça nos ofereceu cordeiro assado. Com o intuito de retribuir a gentileza da autoridade palestina, tentamos oferecer uma feijoada à brasileira. De certo que tal prato poderia ser oferecido desde que na referida iguaria não contivesse carne de porco, posto que os muçulmanos jamais comem carne de suíno por questões religiosas. Então, ficamos de oferecer uma feijoada ligth sem a presença dessa carne. O jantar foi muito proveitoso, embora o problema de comunicação fosse uma constante. O Ministro não falava bem o espanhol e entendíamos pouco a língua árabe. Todavia, nos comunicamos e ficamos bastante amigos. Ainda na entrevista ao Ministro da Autoridade Palestina, este declarou que na Palestina praticamente não existe diferença entre a religião muçulmana e cristã, todos participam das mesmas festas, convivendo em perfeita harmonia. Os números também impressionam. A população Palestina é de aproximadamente de 3.500 a 4.000 milhões de Palestinos. No Chile, há aproximadamente 400 mil refugiados. A faixa de Gaza são aproximadamente 350 km2, onde vivem da agricultura e do comércio. Atualmente está bloqueada, sendo difícil a vida na região. Há famílias que não veem seus entes queridos há mais de 15 anos. A sede da autoridade Palestina estava dentro do que corresponde hoje a Faixa de Gaza, mas devido ao bloqueio, está hoje em Hamala na Cisjordânia. Dentro da População Palestina, 90% professam a religião Islâmica e 10% são cristãos. 11 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo PREFÁCIO inha acabado de ler o Curso de Direito Criminal – Parte Geral, de Elder Lisbôa Ferreira da Costa, que muito me impressio- nou pela simplicidade e clareza do texto (os verdadeiros ju- ristas sabem evitar a linguagem gongórica, pretensiosa), sem preju- ízo da profundidade científica da obra, que é o resultado de seus estudos e pesquisas nas multisseculares Universidades de Coimbra e Salamanca. Aliás, devo revelar que em visitas que fiz à Faculdade de Direito de Coimbra, sabendo que eu era brasileiro e do Pará, al- guns catedráticos, naquele modo coimbrão de falar, perguntavam: “Vossa Excelência conhece o Senhor Professor Elder Lisbôa”? Não o conhecia pessoalmente, apenas por seus importantes trabalhos. Só o cumprimentei, diretamente, pela primeira vez, no Tribunal de Justiça do Pará, depois de ter ouvido falar bem, tantas vezes, dele e de seus livros. E veio o pedido para que eu prefaciasse este novo trabalho, que logo aceitei, com muita honra e prazer. O autor passa de um tema a outro com muita versatilidade e estilo. O presente livro conta a história do Direito, que é fruto das religiões antigas. Fala de Roma, do povo hebreu, dos muçulmanos. Mostra a evolução do direito antigo, fala do começo de tudo. Este livro não é, propriamente, um livro de história, mas não deixa de ser uma obra que trata da história, estabelecendo uma relação entre as instituições jurídicas e as grandes religiões. Há muitas passagens memoráveis no escrito, que prefiro não descrever, para que o leitor as descubra e se deleite com elas. Mas não resisto a indicar três delas: a que aponta um para- doxo enorme do papel do homem, ora pugnando pela perpetuação da espécie, ora praticando atos de sua destruição, uma vez desco- brindo a vacina contra a paralisia infantil, outra, inventando a bom- ba atômica; quando mostra que a Lei de Talião evitou a dizimação dos povos e deve ser considerada conforme a sua época, pois repre- sentou um grande avanço, limitando a reação à ofensa, estabele- T 12 Universidade da Amazônia cendo alguma proporcionalidade: “olho por olho, dentepor dente”; quando denuncia que a distância física e cultural nos impede de conhecer melhor o direito islâmico, para poder ver e concluir que suas concepções são muito próximas às nossas. Quem quiser conhecer a evolução do Direito Romano, do Di- reito Hebreu e do Direito Islâmico, que receberam imensa influência da religião, terá muitas informações e grande proveito com a leitura deste livro. O autor promete escrever uma obra específica sobre o cristianismo, mas já nos fala, aqui, e com dados impressionantes, a respeito do maior julgamento da humanidade: o de Jesus Cristo. Redigi este prefácio não como simples obséquio, gesto de admirador e colega, mas porque encontrei no escrito verdadeiro mérito, momentos de enlevo, aprendizagem, prazer. Este é um livro muito bem pensado, muito bem escrito, que deve ser lido e pensa- do. Que há mais importante do que isso? Testemunhamos mais um degrau que Elder Lisbôa ultrapas- sa na sua escalada vitoriosa de mestre e escritor. Que Deus o ajude sempre. Professor Zeno Veloso 13 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo ÍNDICE DOS TERMOS E SIGNIFICADOS UTILIZADOS. DICIONÁRIO HISTÓRICO 14 Universidade da Amazônia 1. Advocacia em Roma – Sob os imperadores, de Teodósio até Justiniano, a corporação dos advogados é minuciosamente re- gulamentada. Chama-se collegium, ordo, consortium, corpus, toga, advocatio, matrícula. Autorizados por permissão expres- sa ao exercício do seu ministério, os advogados eram inscritos num quadro por ordem de antiguidade, seu número era limita- do, eram eles submetidos a exames no período de estágio. 2. Casamento Romano – O casamento, como instituição sagra- da e que tinham as bênçãos do divino, só teve esse caráter depois do advento do cristianismo. 3. Casuística – Antes da codificação propriamente dita, para esta solução utilizaram, em larga escala, para resolver os conflitos, a casuística. Partiam sempre do particular para o geral. 4. Código – (codex justiniani) Recolha de leis imperiais, que visa- va substituir o código de Teodósio. 5. Código de Hamurábi – Vigorou para o povo que habitava a Mesopotâmia. No código de Hamurábi já era retratado o Talião. 6. Corpus Juris Civilis – O Jus Civiles era o direito de Roma e de seus cidadãos. Estes incluiam os estatutos do senado, os de- cretos, os editos dos pretores e alguns costumes bastantes antigos que tinham força de lei. Finalmente, o Corpus Juris Civi- lis recebeu essa denominação, dada por Dionísio Godofredo, DIREITO ROMANO 15 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo por volta do final do século XVI d.C. Essa compilação seria a reunião das principais codificações romanas, sendo elas: O Código, O Digesto3, As Institutas as Novelae, formando, então, o fabuloso Corpus Juris Civilis. 7. Criação da Jurisprudência – A evolução do direito clássico ocorreu a partir das atividades dos jurisconsultos e magistra- dos. Interesante, nesse aspecto, é que os juízes não modifica- vam as regras, mas exerciam uma atividade inteligível de in- terpretação da lei para os casos concretos, fazendo uma in- terpretação atual. Jurisprudência significava o conjunto de opiniões e as obras dos jurisconsultos, tem a correspondên- cia do que seria hoje a doutrina; seriam os que estudavam e resolviam conceitualmente problemas jurídicos; seriam os téc- nicos da ciência do direito. 8. Culto Familiar Romano – O culto doméstico venerava as al- mas dos antepassados, transformados em divindades particu- lares (espíritos protetores da família). A alma do 1º antepassa- do era o Deus Lar; as almas dos outros parentes mortos eram os manes. Havia ainda gênios protetores (deuses do celeiro e do altar do fogo) os penate. Cada um possuía um altar domés- tico, com uma lâmpada sempre acesa. E também imagens de pequenas estátuas que representavam os deuses familiares. Antes de cada refeição, o pai derramava sobre o altar umas gotas de líquido (vinho, leite, mel): a libação. Geralmente, a libação era acompanhada de uma oferenda de alimentos (pe- quenas porções) ou de objetos que se colocavam sobre o altar. 3 O Digesto também recebia a denominação de Pandectas. Era uma compilação composta de 50 livros e seria a obra dos chamados jurisconsultos clássicos. Interessante nota informa que tinham aproximadamente 2.000 livros. Na afirmação de Klabin “O Digesto é uma obra considerável, que apresentou maiores dificuldades do que o Código. O volume da jurisprudência escalonada por cinco séculos (de II a.C. a III d.C), exigiu grande esforço. Havia um grande número de contradições e de soluções velhas e defasadas. Foi necessário fazer uma escolha para conservar o essencial e o melhor, mas com suficiente amplitude, a fim de conseguir um somatório de direito romano e adaptá- lo aos textos da sociedade do século VI. KLABIN, Aracy Augusta Leme. História geral do direito. [s.l.]:Editora Revista dos Tribunais, s/d. p. 235. 16 Universidade da Amazônia 9. Delitos em Roma – Os delitos são divididos em crimina pública, isto é, ficava a cargo do Estado4, representado pelo magistrado com poder de Imperium com a função de garantir a segurança pú- blica; e delicta privata, que consistiam em infrações menos gra- ves, quando a função de reprimir caberia ao particular ofendido, havendo a interferência estatal apenas para regular seu exercício. 10. Digesto – O Digesto (Digesta ou Pandectas), vasta compilação- de extractos de mais de 1.500 livros escritos por jurisconsultos da época clássica. Ao todo, forma um texto de mais de 150.000 linhas. O Digesto continuou a ser a principal fonte para o estu- do aprofundado do Direito Romano. Um terço do Digesto é reti- rado da obra de Ulpiano. 11. Escravos em Roma – Os escravos em Roma eram considera- dos coisas, elementos que estavam à margem de todo e qual- quer processo de igualdade. Escravo romano não podia ter pa- trimônio, não possuía créditos, nem dívidas. 12. Etruscos – Há outras teorias sobre a fundação de Roma. Uma de fortíssima tendência é a de origem etrusca. Afastando a len- da, escritores, como R. Bloch e L.Homo, defendem a tese de que a cidade surgiu da dinastia etrusca, instituída por Tarquínio Prisco, no século VII a.C. Léon Homo diz que sob o aspecto po- lítico, os etruscos, pela primeira vez, deram a Roma um gover- no centralizado, da mesma forma que fundaram a cidade de Roma, criaram o Estado romano. 13. Idade Antiga – É o período que vai desde o aparecimento da escrita, por volta do ano 4.000 a.C a 3.500 a.C, até a queda do Império Romano no Ocidente no ano 476 d.C. 14. Idade Contemporânea – Em 1789, no século XVIII, inicia-se a Idade Contemporânea até os nossos dias. Pelo que conhece- mos, ainda, não temos um fato histórico que pudesse dividir novamente a história. 4 Mais uma vez repetimos: o estado retratado aqui é o Estado Antigo com as suas características próprias. 17 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo 15. Idade Média – Tem início com a queda do Império Romano no Ocidente, no século V, precisamente no ano de 476 d.C. Termi- nou com a decadência do Império Romano no Oriente, que mar- cou a queda de Constantinopla no ano de 1453 d.C, no século XV. 16. Idade Moderna – Ocorre com a queda de Constantinopla no ano de 1453 e vai até a Revolução Francesa em 1789. 17. Império Romano – Roma é um império que se estende à Ingla- terra, da Gália e da Ibéria, à África e ao Oriente, até os confins do Império Persa. 18. Instituições – (Institutiones Justiniani) formam um manual ele- mentar destinado ao ensino de direito. Obra muito mais clara e sistemática que o Digesto. Foi redigida por dois professores, Doriteu e Teófilo, sob a direção de Tribiniano. Justiniano apro- vou o texto e deu-lhe força de lei em 533. 19. Jurisconsultos – Procederama uma interpretação do Direito Romano, o que antes era privativo dos sacerdotes. 20. Jus gentium – O jus gentium seria a lei comum de todos os homens. Esse direito não considerava a nacionalidade. O jus gentium seria a lei comum de todos os homens. Esse direito definia os princípios de compra e venda, das sociedades e dos contratos, autorizava as instituições da propriedade privada e da escravidão. Este direito não era superior ao direito civil, mas completava-o e aplicava-se principalmente aos estrangeiros. 21. Lei Aebutia – criada no século II a.C, trouxe certas modifica- ções do processo e deu maiores poderes ao Pretor. 22. Lei das XII Tábuas – Criação das Leis das XII Tábuas, provavel- mente feita em 451 e 450 a.C. Essas leis aplicavam-se aos ci- dadãos romanos. A Lei das XII tábuas é uma lei da fase monár- quica; antes disso, o direito em Roma era eminentemente mo- nárquico, visto que nessa época os romanos teriam rejeitado 18 Universidade da Amazônia as chamadas Leis Régias. A solidariedade familiar é abolida; todavia, é mantida a autoridade quase que ilimitada do chefe da família; a igualdade jurídica é mantida teoricamente; são proibidas guerras privadas e instituído o processo penal5. A ter- ra tornou-se alienável, sendo reconhecido o direito de testar. 23. Novelas – Novellae (leis novas). Justiniano continua a promul- gar numerosas constituições – mais de 150 – depois da publi- cação de seu codex. 24. Origem lendária da Fundação de Roma – Historicamente, te- mos que Roma6 foi fundada no ano de 754 ou 753 a.C, por Rô- mulo e Remo, filhos de Rhéa Sylvia. Esta é a lenda mais conhe- cida da história da fundação de Roma. 25. Pandectas – Foi a lei das XII Tábuas, além de uma fonte de conhecimento criadora, extraordinariamente fecunda do direi- to romano posterior, durante mil anos até Justiniano. (533 d.C) data da promulgação do pandectas. 26. Patrícios – Eram os cidadãos romanos. Detinham todos os pri- vilégios da Lei romana. 27. Penas no Império Romano – A sociedade romana conheceu no auge de seu desenvolvimento, três espécies de pena: corpo- rais, infamantes e pecuniárias. 28. Período arcaico – Esse período vai desde a fundação de Roma, no século VIII a.C, até o século II a.C. 5 Um conjunto de procedimentos no qual se desenvolveria o processo, portanto, é uma construção romana. 6 Sobre a fundação de Roma, “conta a lenda que em Alba Longa, localizada no Latium, reinava Numitor, destronado e morto por seu irmão Amúlio. Rhea Sylvia, filha de Numitor é, então, encerrada num convento de vestais onde deveria permanecer virgem. Contudo, de sua união ilícita com o deus Marte, nascem Rômulo e Remo que, para não serem mortos, são abandonados numa floresta e recolhidos e amamentados por uma loba, esta enviada pelo pai, Marte. Posteriormente, um pastor de nome Fáustulo quem os encontrou, levando-os para criar e educar. Mais tarde, os dois voltam a Alba Longa e vingam o avô Numitor, derrotando Amúlio. Como prêmio recebem uma colina à beira do Tibre, onde edificaram Roma”. “Os irmãos, porém disputam o privilégio divino de ser o fundador da cidade e Rômulo mata Remo, traçando em seguida os limites da cidade”. LUIZ, Antônio Filardi. Curso de direito romano. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 33. 19 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo 29. Período clássico – Se estende até o século III d.C. 30. Plebeu – Era a classe inferior da população: eram emigrados mais recentes, habitantes dos territórios conquistados, refugia- dos, vencidos, aventureiros. Classe relegada a segundo plano, na antiguidade não possuiam os mesmos direitos dos patrícios. 31. Pretor Peregrino – Cuidava das causas dos estrangeiros. 32. Pretor Romano – No aspecto da administração da Justiça, no século IV a.C, os pretores administravam a justiça. Eles pronun- ciavam o direito. 33. Pretor Urbano – Julgava as causas entre os cidadãos roma- nos. 34. Religião romana – A religião romana era politeísta e apresen- tava muita semelhança com a religião dos gregos. 35. Serviço Militar Romano – O cidadão romano que recusasse a servir no exército romano podia também ser reduzido à condi- ção de escravo. Depois, quando Roma inaugura o alistamento voluntário, desaparece essa causa de escravidão. 36. Urbs – Cidade. 37. Veios – Sobre as conquistas de Roma, sem dúvida, uma memo- rável foi a tomada de Veios que aumentou consideravelmente os domínios de Roma. 20 Universidade da Amazônia 1. Agar – Era escrava de Abraão e mãe de Ismael seu primeiro filho. Deus havia permitido a Abraão ter esse filho com Agar, devido a idade avançada de Sara. 2. Arcanjo Gabriel – É um anjo que aparece tanto na bíblia, quan- to no alcorão, sendo o mensageiro das profecias de Maomé. 3. Caifás – Sumo Sacerdote que acusou Jesus Cristo de blasfêmia. 4. Davi – Davi tornou-se rei e governou por 40 anos. Foi um dos mais gloriosos reinados hebraicos. Combateu fortemente os fi- listeus. Teve a capacidade de unir as doze tribos de Israel, sob um Estado forte e com um rei que governava de forma absolu- ta. Foi Davi quem começou a construção da cidade sagrada de Jerusalém. 5. Essênios – A seita dos essênios, a menor delas, foi talvez a mais influente. Seus membros eram captados das classes mais baixas, pregavam o ascetismo e o misticismo como meio de protesto contra a riqueza e o poder dos sacerdotes e dos gover- nantes. Comiam e bebiam apenas o suficiente para se mante- rem vivos, possuíam todos os seus bens em comum e conside- rava o casamento um mal necessário. Longe de serem patrio- tas fanáticos, tratavam o governo com indiferença, acentua- vam mais os aspectos espirituais da religião do que o ritual, insistiam na imortalidade da alma, na vinda do messias religio- so e na iminente destruição do mundo. Um particular: a exis- tência dos essênios não é confirmado por todos os historiado- res, as referências são feitas por Flávio Josefo. DIREITO HEBREU 21 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo 6. Fariseus – A origem dos fariseus, provavelmente, ocorreu com a revolta macabeia em 166-159 a.C. Era um grupo de homens zelosos da lei e contrários ao modo que os sumo-sacerdotes pregavam o judaísmo. Os fariseus representavam a classe mé- dia e a parte mais instruída do povo comum. Acreditavam na ressurreição, em recompensas e punições depois da morte e na vinda de um messias político. Ardentemente nacionalistas, ad- vogavam a participação no governo e a fiel observância do ritu- al antigo. Infelizmente, consideravam que todas as partes da lei tinham a mesma importância virtual, quer se referissem à assuntos de cerimonial, quer à obrigações de ética social. 7. Flagelação – Flagelação era um castigo muito empregado na antiguidade contra os crimes leves. 8. Herodes, o Grande – Rei da Judéia à época do nascimento de Jesus. 9. Isaac – Filho de Abraão e Agar. 10. Jacó – Neto de Abraão, pai de 12 meninos. Surgiram, então, as 12 tribos de Israel. Temos que Jacob levou os hebreus para o Egito, de onde vieram a sair depois que Moisés, da tribo de Levi, libertou o povo, indo para a terra prometida. 11. Jesus Cristo – Fundador do Cristianismo e a sob sua doutrina foi fundada a religião cristã. 12. Josué – Quem, depois de Moisés, conduziu o povo à Terra Pro- metida. 13. Madiã – Terra onde se refugiou Moisés depois de ter matado um egípcio. Lá casou-se com Tzípora. 14. Mishna – A Mishna se tornou, depois de publicada, objeto de estu- dos rabínicos; dois comentários foram elaborados por ela, compos- tos e compilados das opiniões dos rabinos que viveram depois dela 22 Universidade da Amazônia 15. Moisés – Autor do Pentatêuco, os cindo primeiros livros da Bíblia, responsável pela condução do povo hebreu à Terra prometida. 16. Origem do Povo Hebreu – A origem do nome desse importan- te povo para a posteridade, deriva de Khabiru ou habiru.Inte- ressante que este nome foi dados pelos seus inimigos e signifi- ca: “estrangeiro”, ou “nômade”. 17. Patriarca Abraão – O pacto de Deus com os homens por meio de Abraão continua e deveria continuar, posto que havia neces- sidade de continuar a descendência. Eis que Deus anuncia que sua mulher Sara terá um filho, mesmo tendo 90 anos de idade. 18. Pentateuco – Os ensinamentos de Moisés estão elencados no seu fantástico Pentateuco. Este representava toda a lei e as normas de conduta para o povo hebreu; é composto por cinco livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. 19. Pôncio Pilatos – Governador da Judeia à epoca da crucifixão de Jesus. 20. Sacerdotes – Os sacerdotes, que pertenciam ao partido dos saduceus julgavam a pobreza de forma ainda mais cruel. Para eles, a riqueza era exatamente a prova da benevolência de Deus, e a pobreza sinal de que Deus reprovava e rejeitava aquelas criaturas. 21. Saduceus – Os saduceus que incluíam os sacerdotes e as clas- ses mais ricas eram famosos por negarem a ressurreição e as recompensas e punições na vida extraterrena. Ainda que, ao menos temporariamente, tenham favorecido a aceitação da or- dem romana, sua atitude em relação à lei antiga era ainda mais flexível do que a dos fariseus. 22. Salomão – O mais próspero reinado hebreu. 23 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo 23. Sara – Mulher de Abraão e mãe de Isaac. 24. Sistema Tributário Hebreu – O Sistema Tributário é trinitário. Havia três impostos: um, que era cobrado pelo fiscal do impé- rio; outro, pelo sacerdote do templo; e um terceiro pelo admi- nistrador da casa de Herodes. Os impostos eram independen- tes entre si e provocavam uma situação de miséria total para os hebreus. 25. Talião – Lei, a regra para o cumprimento da justiça tinha como máxima: “Olho por olho, dente por dente”. 26. Talmud – Talmud ou Talmude é o nome da coleção de literatu- ra rabínica judaica. O nome Talmud pertence somente a uma parte da coleção, mas seu uso tradicional indica a coleção in- teira. 27. Terra de Canãa – Canaã seria, hoje, a região ocupada pelo Lí- bano e por Israel. 28. Tetrarca – É um título originário da Grécia. O único lugar em que seu sentido literal “senhor da parte” e usado por todo o Oriente, próximo dos períodos helenístico e romano para os so- beranos subordinados. No Império Romano, a posição de um tetrarca era inferior à de um etnarca “senhor de um povo” que, por sua vez, era inferior à de um rei. 29. Thorá – É a lei viva e fundamental para o povo hebraico. 30. Tzípora – Pastora de rebanhos, mulher de Moisés. 24 Universidade da Amazônia 1. Agar – Escrava egípcia- Mãe de Ismael, pai de uma grande nação, da qual descende Maomé, fundador do Islamismo. 2. Alcorão – Livro sagrado dos que professam a religião muçulmana. 3. Autoridade Palestina – A sede da autoridade Palestina estava no espaço que corresponde, hoje, a Faixa de Gaza, mas devido ao bloqueio, está, atualmente, em Hamala, na Cisjordânia. Den- tro da população palestina, 90% professam a religião Islâmica e 10% são cristãos. 4. Caaba – É a Casa Grande que um dia se referiu Abraão, fica loca- lizada na Mesquita de Meca. É um local de peregrinação mundial. 5. Califa – Sucessor. 6. Direito Islâmico – É um direito que distingue todos aqueles que professam a religião Islâmica. O detalhe é que não importa onde se encontrem. 7. Hégira – Em 622, temos a hégira (fuga), que tem como marco o início da era muçulmana. Posteriormente, como líder de um gru- po, Maomé conquista Meca, por meio da guerra Santa e organi- za a comunidade religiosa do islamismo. 8. Influência Árabe na lingua portuguesa – A influência árabe no léxico português é profunda. Seu vocabulário influenciou di- versos idiomas europeus. Os termos de origem árabe estão pre- sentes na língua portuguesa. Militares: alcácer, alferes, almi- rante, alarido, arsenal. Na agricultura: açafrão, acelga, açúcar, açude, alface alfazema, algodão, alecrim, ameixa, arroz, azei- DIREITO ISLÂMICO 25 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo tona, café, gergelim, laranja, limão. Na ciência, indústria e co- mércio: açougue, alfaiate, alambique, álcool, alcatrão, alqui- mia, algarismo, álgebra, alicerce, almaço, bazar, talco, tráfico, tarifa, saguão, zero, magazine. Nos pesos e medidas: quilate, quintal, arroba. 9. Islã – Provém do islamismo, aquele que professa a religião mu- çulmana. 10. Ismael – Filho de Agar e Abraão. 11. Maomé – O grande precurssor do Islamismo foi o Profeta Maomé (Muhammad ibn Abdallah). Seu nome verdadeiro é Cothan que, aos 40 anos de idade, começou a receber as revelações de Deus. 12. Meca – Cidade sagrada do islamismo- A Caaba é a Casa Gran- de que um dia se referiu Abraão, fica localizada na Mesquita de Meca. 13. Medina – Em 622, diante da hostilidade de seus adversários e privado de Cadidja e Abu Talib, já falecidos, Maomé resolveu aban- donar Meca com seus adeptos. Partiram em pequenos grupos em direção de Yatrib, mais tarde, Medina, a cidade do profeta. 14. Profeta – Os profetas são os homens que receberam a mensa- gem de Deus por meio dos anjos. Eram homens piedosos e de boa cultura dentre a comunidade local. Eles só poderiam fazer milagres se realmente Deus permitisse que o fizessem. No livro Alcorão, há referências a 28 (vinte e oito) profetas. Desses, 21 (vinte e um) são também do cristianismo. Adão, Noé, Abraão, Davi, Jacó, Jó, Moisés e Jesus. Estes seriam os principais e re- cebem honras especiais. 15. Sharia – (o código de leis dos muçulmanos). Os costumes de- vem ser apenas aqueles mencionados nas hadiths, a coletânea de ditos e feitos de Maomé e seus companheiros. 26 Universidade da Amazônia O direito7 surge com o aparecimento do homem na terra e com a fixação do homem ao solo. Afirmamos que após esse fenômeno, toda a conflituosidade passa a existir. O homem que vive em uma ilha, isolado, não possui conflitos, nenhum laço o une, quer em relação ao solo, quer em rela- ção a qualquer coisa. Posteriormente, com a agregação de vários grupos, o fenô- meno da civilização8 acontece, e podemos afirmar que nasce verda- deiramente um conjunto de direitos que mais tarde chamaremos de Direito Positivo. Este acompanhará o ser humano, onde quer que vá. O ho- mem é o único ser vivente que possui de fato, uma história a ser contada, tal fator é atribuido, unicamente, em virtude do homem ser o único ser pensante. Para se entender essa escala evolutiva, o homem percorre uma longa história dentro do seu processo de crescimento, quer em relação a sua forma de vida, quer dos meios tecnológicos colocados em sociedade. Segundo historiadores o aparecimento do homem se daria por volta de 12 milhões de anos, no norte da índia, sua denomina- ção é o Ramapithecos. Seu aparecimento foi detectado graças a in- O GÊNESIS DO DIREITO EM SOCIEDADE 7 Na verdade,em outras conferências por nós proferidas, discutimos se de fato o direito existe, ou se na verdade é um discurso proposto em determinado tempo e em determinado espaço, notadamente pela classe dominante. A forma que o direito vai ter será justamente a que a classe dominante vai impor. 8 Um dos acontecimentos mais marcantes da história do homem é o aparecimento da civilização. Considerando que há distorções quando ao seu conceito, para exemplificar, tais fatos, temos os conceitos geográficos, antropológi- cos, sociológicos de civilização e, por isso, não entraremos no mérito da questão por não ser o objeto de nosso estudo. Contudo, delimitaremos a questão da civilização tão somente ao término do seu sentido literal. Civilização (civitas) quer dizer cidade, da mesma forma que urbano deriva da palavra latina urbs (cidade) e “político” que deriva do término grego polis (cidade, estado). Não questionaremos, neste trabalho, a modalidade de aparição destas sociedades, e sim somenteo caráter etimológico do termo civilização como visto, para adentrarmos posteriormente ao direito romano, hebreu e muçulmano, objeto de nosso estudo. 27 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo dicação de alguns dentes e mandíbula. O fato de pertencer a raça humana ainda é uma incógnita, mas podemos fazer uma relação entre este ser e o homem, embora não se possa afirmar que o mes- mo tivesse a posição ereta. Com o decorrer da história da humanidade, as necessidades do homem na coletividade passa por um processo de mudança, al- terando, sobremaneira, o processo histórico do homem. Dentro desse contexto histórico evolutivo, o homem, depois de integrado ao corpo social, domina o conhecimento da ciência e da tecnologia, integralizando estudos e descobertas. O que era considerado primitivo vai se tornando conhecido, aperfeiçoado e manipulado. O ser humano por meio de suas pesqui- sas avança para a obtenção de uma vida supostamente melhor. Na busca da vida em sociedade, o homem sente a necessida- de de estar em coletividade e se agrega formando os grupos soci- ais. Desse fenômeno, temos o que os sociólogos chamam de estra- tificação social9. Fazemos um parêntese de que o conceito de classe social, aquilo que chamamos de conceito-chave dessa estratifica- ção, ainda, não chegou a uma denominação, sendo o seu conceito não unânime pelos estudiosos e permeado de controvérsias. Chinoy descreve o fenômeno com propriedade: Tão complexos e multifacetados são os fatos da estratificação social que têm sido descritos e interpretados de muitas maneiras diferentes. Alguns autores atribuíram maior importância à posição, outros à riqueza, ao poder ou ao privilégio, como dimensão crucial da estratificação. As diferenças entre aristocratas e plebeus, prósperos e pobres, governantes e governados, têm sido encaradas como o resultado das diferenças inerentes aos homens, como produto de forças institucionais sobre as quais os homens 9 Há de fato uma constatação e que pode ser percebida quando se analisa um corpo social: “Em toda a sociedade alguns homens são identificados como superiores e outros como inferiores: patrícios e plebeus, aristocratas e vulgo, amos e escravos, classes e massas. Exceto talvez nos sítios em que todos vivem num nível de simples sub- sistência, alguns indivíduos tendem a serem ricos, outros remediados, outros pobres. Em toda a parte, alguns governam e outros obedecem embora esses últimos possuam vários graus de influência ou controle sobre os governantes. Tais contrastes – entre os mais altos e os mais baixos, ricos e pobres, poderosos e destituídos de poder – constituem a substância da estratificação social”. Ely Chinoy. Sociedade. Uma introdução à sociologia. São Paulo: Editora Cultrix, s/d. p. 244. Obviamente que isto é uma triste constatação a que não concordamos. Os seres huma- nos são diferentes em sociedade porque o sistema de forma nefasta assim determina, onde muitos não têm acesso aos bens e serviços e outros se apropriam destes, proliferando uma camada de desiguais. 28 Universidade da Amazônia tem escassos controle, como padrões sociais que contribuem para o funcionamento da sociedade, como manancial de conflitos e tensões. A estratificação pode ser considerada um processo, uma estrutura, um problema; pode ser vista como aspecto da diferenciação de papéis e status na sociedade, como divisão da sociedade em grupos ou quase-grupos sociais, como a arena social em que se apresenta o problema da igualdade e desigualdade ou como tudo isso ao mesmo tempo10. Dentro desse aspecto, os historiadores dividiram, didatica- mente, a história em períodos. Embora esta obra não seja própriamente de história, resolve- mos utilizar a mesma divisão para que o estudo fique mais acurado e inteligível, mesmo porque temos que, obrigatoriamente, nos refe- rir aos períodos históricos. Importante destacar essa cronologia dos principais acontecimentos do passado para que possamos entender a evolução do pensamento jurídico. Na antiguidade ou como poderíamos dizer na época primitiva e na Idade Antiga é o período que vai desde o aparecimento da es- crita, por volta do ano 4.000 a.C a 3.500 a.C, até a queda do Império Romano, no Ocidente, no ano 476 d.C. Não será o objeto de nosso estudo a análise dos povos no período da Pré-história. Dentro dessa evolução, os contrastes humanos mostram-se evidentes. A dicotomia é patente quando analisamos o fenômeno de se viver em sociedade, posto que, o homem ora pugna pela per- petuação da espécie, ora vai em sentido oposto, praticando atos para a sua completa destruição. Essa constatação do que estamos a afirmar pode ser repre- sentada tanto pela descoberta da vacina contra a paralisia infantil, quanto pela descoberta da bomba atômica11. As duas assertivas colocam o homem em posição completamente antagônica e em rota de colisão. 10 Ely Chinoy. Sociedade. Uma introdução à sociologia. São Paulo: Editora Cultrix, s/d. p. 244. 11 Não há dúvida de que a descoberta da bomba atômica pelo homem, coloca a preservação da espécie humana no olho do furacão. Depois dessa descoberta, a continuação da vida humana na terra passou a ser uma incógnita, principalmente com a grande tensão dos povos que detêm essa tecnologia, muitas vezes, em constantes conflitos. 29 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo Esse processo evolutivo do homem, acreditamos que está intimamente ligado a questão do poder. O homem sente a necessi- dade de controlar tudo que está a sua volta, quer em relação as ciências, quer em relação ao próprio homem, e quando não conse- gue controlar sente-se ameaçado. Desde o seu aparecimento, provavelmente entre 2 ou 3 mi- lhões de anos, dentro de uma evolução da própria espécie - o Homo Sapiens, essa dominação está patente. Obviamente que o comportamento do homem muda com o passar dos tempos, tendo nuances próprias, e a sua agregação vai ser o motivo de toda a sua conflituosidade12. Cada agregação tem uma característica própria e vai ditar as características de cada povo. Durante a fase da agregação, se determinado povo habitava próximo o mar, a sua caracterísica era voltada para a navegação. A forma de vegetação também era determinante para a detecção da característica de cada povo da antiguidade. Com a agregação dos seres humanos e, consequentemente, com a fixação do homem ao solo, este passa a ter vínculos com os outros membros da comunidade. Diz-se então que há o aparecimento da sociedade e, conse- quentemente, de toda a conflituosidade humana. Sobre essa socie- dade, aliás, os sociólogos retratam que é um dos elementos signifi- cativos mais difíceis de retratar. Afirma Chinoy: A despeito de sua importância, não se chegou a um acordo inequívoco no tocante ao significado de sociedade, mesmo entre os cientistas sociais ou, mais particularmente, entre sociólogos, alguns dos quais deram à sua disciplina o nome de “ciência da sociedade”. Na longa história da literatura que trata da vida de seres humanos em grupos” comentou Gladys Bryson “nenhuma palavra oferece talvez menor precisão em seu emprego do que a palavra “sociedade” [..]. Em sua acepção mais lata, sociedade refere-se apenas ao fato básico da associação humana. Por exemplo, o termo tem sido empregado “no sentido mais amplo para incluir 12 Sobre essa conflituosidade vide nossa obra Direito Criminal: parte geral. Belém: Editora Unama, 2007. Todavia, apenas para elucidar o homem entra em conflito porque vive com outros homens. Daí afirmamos que o agregamento faz necessariamente que o conflito faça parte do seu cotidiano. A conflituosidade é de toda a ordem e é sensivel- mente sentida no campo social. 30 Universidade da Amazônia todas as espécies e todos os graus de relações estabelecidas pelos homens, sejam elas organizadas ou não organizadas, diretas ou indiretas, conscientes ouinconscientes, cooperativas ou antagônicas. Inclui toda a trama das relações humanas e não tem fronteiras nem limites assinaláveis.13 Quando a sociedade surge, há necessidade de se impor limi- tes a essa ação humana. Esse fato é muito bem retratado pela abs- tração do legislador, quando valora as normas de condutas que de- vem ser respeitadas pelo corpo social, em determinado tempo e determinado espaço. Estes, por meio de normas, quer orais, quer escritas, teriam a finalidade de frear o ímpeto do homem quando está atuando em grupo. Embora o direito tenha surgido junto com o homem, não pode- mos falar em um sistema orgânico de princípios nos tempos primitivos. Os grupos sociais, dessa era, viviam em um ambiente mági- co e religioso: a peste, a seca e todos os fenômenos maléficos eram vistos como resultantes das forças divinas. O funcionamento da sociedade dava-se de forma que se um indivíduo cometia um crime, as explicações para a sua punição es- tava nos deuses (se a nação era politeísta), ou mesmo em deus (se a nação era monoteísta). Para conter a ira dos deuses, ou do deus, criaram-se várias proibições, e estas, se não obedecidas, resultavam em castigo. Es- ses castigos podiam ser corporais, ou mesmo a pena de morte. A desobediência do infrator levou a coletividade a punir a infração, surgindo as normas entre os habitantes da mesma comu- nidade, que podiam variar de grupo para grupo, dependendo de suas características culturais e religiosas. Quando os interesses do agente conflita com os interesses do grupo, ou se desvirtua desses preceitos, surge a transgressão. Dependendo da conduta esta poderia ser um crime e o grupo estabelecia uma pena. O castigo se cumpria com o sacrifício da pró- pria vida ou com a oferenda de objetos valiosos aos deuses. 13 CHINOY, Ely. Sociedade. Uma introdução à sociologia. Tradução Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Editora Cutrix, 1961. p. 53. 31 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo A pena, nada mais significava do que vingança14, com o intui- to de revidar a agressão sofrida. A preocupação em castigar não se dava pelo sentimento de ofensa a pessoa que sofreu a agressão e sim pela preocupação em se fazer justiça15. Portanto, a influência religiosa na vida dos cidadãos e mem- bros da comunidade era muito forte e preponderante. As leis eram interpretadas pelos sacerdotes e membros religiosos do grupo e da- vam um caráter sobrenatural aos acontecimentos. Nesse período, o sacerdote tinha uma função dupla, interpretava e aplicava a lei. Sobre essa influência, Wolkmer destaca com propriedade peculiar: Posteriormente, num tempo em que inexistiam legislações escritas e códigos formais, as práticas primárias de controle são transmitidas oralmente, marcadas por revelações sagradas e divinas. Fustel de Coulanges, H. Sumer Maine, entendem que esse caráter religioso do direito arcaico, imbuído de sanções rigorosas e repressoras, permitiria que os sacerdotes-legisladores acabassem por ser os primeiros intérpretes e executores das leis. O receio da vingança dos deuses, pelo desrespeito aos seus ditames, fazia com que o direito fosse respeitado religiosamente. Daí que, em sua maioria, os legisladores antigos (reis sacerdotes), anunciaram ter recebido as suas leis do deus da cidade. De qualquer forma, o ilícito se confundia com a quebra da tradição e com a infração ao que a divindade havia proclamado.16 Sob esse aspecto no campo criminal: quando um crime era cometido, ocorria a reação não só da vítima como de seus familiares e também de toda a sua tribo: a ação contra o ofensor era tão desme- dida que não se destinava só ao infrator, mas a todo o seu grupo. Já se o transgressor fosse membro da tribo, poderia ser expulso e ficava à mercê dos outros grupos, o que acabaria resultando em morte. Todavia, se o delito fosse praticado por um membro de outra tribo, a vingança era de sangue, sendo obrigação religiosa e sagra- da, (a punição se dava porque os deuses queriam), resultando numa 14 A pena como vindita tem o caráter retributivo, ou seja, não se analisa outros aspectos da pena, sendo esta sinônimo de castigo. 15 Note-se que a justiça criminal passa por fases. A primeira é a fase da vingança privada, a segunda a vingança divina e a terceira e última fase vingança pública. Os desdobramentos da vingança privada e da vingança divina: naquela imperava a lei do mais forte; e nesta, a punição se dava porque os deuses tinham que ser de certa forma reparados, caso contrário a ira se volveria para toda a tribo. 16 WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos de história do direito. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2007. 32 Universidade da Amazônia guerra entre o grupo ofendido contra o grupo do ofensor e essa só teria seu desfecho com a morte completa de um dos grupos17. Du- rante essa fase, está muito bem retratada a fase da vingança priva- da, como visto anteriormente. Para se evitar a dizimação dos povos, surge o Talião18 que limita a reação à ofensa a um mal idêntico ao praticado. Interpretar a lei historicamente é importante para não se cometer erros. Para a época, o Talião representou um grande avanço, visto que dava uma certa proporcionalidade a ofensa praticada pelo ini- migo. Talvez o princípio da proporcionalidade, aplicada ao crime e a pena como decorrente deste, esteja justamente na lei de Talião, embora não seja citada. Giddens, citado por Morisson, destaca com propriedade a hu- manidade primitiva em decorrência com a vida natural, descrevendo: Certamente houve um tempo (e talvez veja-se um risco de afirmar que tal tempo já não está mais conosco) em que a natureza se impunha de modo tão imperioso à humanidade que praticamente a controlava. A chamada humanidade primitiva compartilhava a vida natural e era iniciada em sua rotina por meio de rituais e cerimônias que lhe permitissem participar da estrutura dessa vida – e, desse modo, conservar-se dentro da esfera da graça da natureza. O natural – concebido como o numinoso e o sagrado – impunha respeito, e tornou-se a fonte de normas para o comportamento humano. A vida implicava normas práticas, rituais e cerimônias voltados para a agricultura, a pesca, a caça, o acasalamento, o nascimento, a transição da infância para a vida adulta, o enfrentamento da doença, da morte e do sepultamento. Os mesmos imperativos naturais que, acreditava-se, operavam em toda a natureza – o clima, a terra (montanhas, rios, o mar, o deserto, a floresta), o Sol e a Lua mantinham a humanidade unida. Porém, se o homem primitivo talvez se sentisse sem poder diante da natureza, ou apenas um poder menor entre tantos outros, ele também se via como parte do mundo natural; ao contrário, o homem moderno compreende a natureza como um lugar onde pode 17 Está retratado com bastante peculiaridade o período da vingança privada, onde a lei do mais forte prepondera sobre o grupo. 18 Nesse particular, a Lei de Talião mostrou-se extremamente benéfica, pois evitava que houvesse uma desproporção da pena, em relação ao crime praticado pelo agente. Logicamente que quando analisamos tal fato, nos transporta- mos à época em questão para que se possa fazer uma interpretação histórica correta. 33 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo exercer suas atividades – uma arena onde pode impor sua vontade por meio da tecnologia.19 Das legislações que retratam, com propriedade, como eram as legislações antigas, temos o Código de Hamurábi que vigorou para o povo que habitava a Mesopotâmia. Analisando o código de Hamurabi, verificamos que o Talião já existia em seus ensinamentos e preceitos. Os ensinamentos de Moisés estão elencados no seu fantás- tico Pentateuco. Este lei representava toda a lei e as normas de conduta para o povo hebreu. Para os romanos temos, a Lei das XII Tábuas, que vigorou durante séculos e, será objeto de nossos estudosmais adiante. Foi sem dúvida, o começo de uma codificação para os romanos que uti- lizavam a casuística para a solução de conflitos. Isso provocava gran- des desigualdades na aplicação da justiça entre patrícios e plebeus. Em várias legislações, temos o Talião, onde a regra para o cum- primento da justiça tinha como máxima: “Olho por olho, dente por dente”. Nesse particular, essa regra foi um grande avanço na história do direito criminal por reduzir a abrangência da ação punitiva. Muitos povos deixaram de ser dizimados, visto que havia uma “certa proporcionalidade” para o cumprimento da pena. Mais tarde, surge a composição, sistema no qual o ofensor se livrava da puni- ção com a compra de sua liberdade, também adotada pelo Código de Hamurábi, pelo Pentateuco e pelo Código de Manu. O código de Manu que vigorou na Índia não será objeto de nos- sos estudos, mas deve-se ressaltar que no que se refere a família, as proibições desse código só eram aplicadas as mulheres, pois este povo acreditava que o filho era concebido somente com o sangue do pai. 19 MORRISON, Wayne. Filosofia do direito. Dos gregos ao pós-modernismo. Tradução Jefferson Luiz Camargo. Martins Fontes, 2006. p. 33. Observamos que como assevera Giddens: “As culturas pré-modernas enfrentavam uma com- binação de verdade e risco diferente daquela enfrentada pelas culturas modernas”. O contexto geral do pré-moder- no era a importância crucial da confiança localizada. Os mecanismos que proviam à confiança eram: 1- As relações de parentesco como instrumento organizador dos laços sociais no tempo e no espaço; 2- A comunidade local como espaço propiciador do meio familiar; 3- Cosmologias religiosas como modalidades de crença e prática ritual que forneciam uma interpretação provincial da vida humana e da natureza; 4- A tradição como meio de ligar presente e futuro, com a cultura temporalmente voltada para o passado; Destaca Giddens ainda que: “Por outro lado, o ambiente de risco tinha por características”? 1- Ameaças e perigos que emanavam da natureza, como o predomínio de doenças infecciosas, instabilidade climática, inundações ou outros desastres naturais. 2- A ameaça da violência humana representada por pilhagens de inimigos, déspotas locais, criminosos e assaltantes. 3- Ameaças de cair em desgraça perante os deuses ou sob a influência maligna da magia. 34 Universidade da Amazônia A Índia jamais teve característica de um governo unitário, todas as regiões eram governadas por um monarca, cujas funções eram determinadas pelo código de Manu. Isso provocava grandes diferenças regionais. O direito desenvolve-se dentro de uma estrutura própria das comunidades antigas, para algumas populações, é um direito emi- nentemente religioso, dentro de uma cultura antiga, cercada pelo místico e sobrenatural. É um direito das cidades. Para os primeiros tempos históricos, a forma da economia também vai influenciar sobremaneira na feitura de leis e, conse- quentemente, ditar as suas características. Era o que conhecemos como cultura das cidades. Destaca Arciniega: En primer lugar, la cultura antigua es, en esencia, una cultura de ciudad. La ciudad es soporte de la vida política, así como del arte y la literatura. Incluso en aspecto económico, se ajusta a la vida de la ciudad – al menos en primeros tiempos históricos -, esa forma de economía que solemos llamar “economia urbana”. En la época helénica, la ciudad antigua no es esencialmente distinta de la ciudad medieval [...]. Económicamente, también la ciudad antigua descansa originalmente en el cambio – en el mercado de la ciudad – de los productos de la industria urbana los frutos de la estrecha francha agrícola circundante.20 Portanto, dentro desse ambiente surge o direito primitivo e, particularmente, dentro desse cenário, veremos o nascimento do Direito Romano, Hebreu e Muçulmano; a contribuição destes para a história do pensamento jurídico da época; e a sua influência para se entender o pensamento jurídico atual. No que tange particularmente ao Direito Islâmico, várias de suas disposições vigora até os dias de hoje. 20 ARCINIEGA, A. M. Prieto. La transicion del esclavismo al feudalismo. Madrid: Akal Editor, 1989. p. 38. 35 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo A primeira pergunta que fazemos, antes de adentrarmos no estudo do direito romano, urge questionar como eram as institui- ções naquela época. Isso vai demonstrar como seria na concepção romanista o que seria o estado21 para os romanos daquela época. Para os romanos, a representação desse ente corresponde essa ter- minologia. Dados interessantes, sobre Roma, dizem que era uma verda- deira megalópole, mesmo se transportarmos os seus dados para o presente. Tanto é assim que, por volta do século 2 d.C, a sua popu- lação já chegava a 1 milhão de habitantes, todavia, com uma desi- gualdade social sem precedentes. Muita gente pobre e desolada nas ruas, pedintes e muita miséria se alastravam. Não se pode deixar de destacar a falta de higiene que, espalhada por todos os lados, grande quantidade de doenças. Essa realidade contrastava com a opulência das constru- ções e palácios romanos, onde viviam uma corte egoísta e sem pre- ocupações com o resto da população. Para tanto, o ensinamento de Jellinek é elucidador: La terminología política de los romanos corresponde al mismo tipo. El Estado es la civitas, la comunidad de los ciudadanos o la res publica, esto es, la cosa común al pueblo todo, que es precisamente lo que correponde a la expressión griega. Itália y las provincias son, primero y principalmente, países aliados y dependientes de la gran ciudad. La capacidad plena del derecho de ciudadanía, sólo se le concede a aquellos que han sido admitidos a formar parte de la comunidad de la ciudad. El civis romanus es, y permanece siendo, únicamente el cidadano de la ciudad de Roma; pero sobre la ciudad de Roma levántase el más DIREITO ROMANO 21 Logicamente, essa concepção não é a mesma de Estado que temos hoje, concebido de forma moderna e cunhado sob os auspícios da revolução francesa. Qualquer outra interpretação padeceria de sua verdadeira historicidade, levando a conclusões erradas e, sem, qualquer fundamento. A formação do estado romano remonta características da sociedade antiga e, assim, deve ser visto; por isso, este estado do qual estamos a falar é grafado com letra minúscula. 36 Universidade da Amazônia poderoso Estado territorial de la antigüedad. Esta transformación, sin embargo, sólo llega a expresarla de un modo imperfecto la termnología ronama, pues identifica el poder de mando, propio del gobierno, con el Estado romano, haviendo de esta suerte equivalentes la res publica y el imperium, con lo que el elemento más esencial del Estado pasa a ser el poder del mismo y no los ciudadanos; esto es, la res populi se convierte en res imperantis. Como en Grecia, así también úsase aquí, a más de estas denominaciones, la d pueblo para expresar el Estado, por cuanto abstratactamente populus y gens, significan tambiém Estado.22 O cerne de toda a comunidade é, sem dúvida, a família e, em Roma, não podia ser diferente. O embrião da sociedade tinha carac- terísticas próprias. Segundo Catherine Salles, professora de história na Universi- dade de Paris X-Nanterre, em Roma, existiam três tipos de estrutura familiar, como ela retrata: Existiam em Roma três estruturas distintas: a família nuclear, a tríade pai-mãe23-filho; a família ampliada – várias gerações que coabitavam sob a autoridade do patriarca; e, finalmente, a família múltipla, que congregava pessoas e outras famílias nucleares unidas por contratos de casamento.24 O estudo da história do Direito Romano é relevante para os dias atuais, posto que o direito praticado e aplicado no Brasil, ‘so- freu’ e ‘sofre’ influências romanistas. Esse direito é a base de vários conceitos e institutos da atu- alidade. Podemos afirmar que foi o direito que, com suas normas jurídicas,vigorou em Roma. 22 JELLINEK, Georg. Teoria gereral del Estado. Editorial Albatros. Maipu. 391. Buenos Aires, 1900. p. 96. 23 A Sociedade romana em relação às mulheres tinha certa independência. Há registros de mulheres que foram casadas várias vezes e, aparentemente, viviam normalmente em sociedade. Conta uma história que Messalina esperou que seu esposo, o Imperador Cláudio, ficasse por um tempo ausente e se declarou divorciada. Ato contínuo mandou celebrar seu casamento com seu parceiro amoroso Silius. O casamento como instituição sagrada e que tinham as bênçãos do divino, só teve esse caráter depois do advento do cristianismo. 24 SALLES, Caterine. História viva. São Paulo: Duetto Editorial, 2008. p. 46. 37 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo Para tanto, a gênese deste direito foi, indubitavelmente, a fundação de Roma25. Sobre a dicotomia da fundação de Roma, quer a corrente que acre- dita ter sido fundada por Rômulo e Remo, quer aquela que Roma teria sido fundada pelos Etruscos26, não é relevante para os nossos estudos. O que importa é que seus institutos foram de uma perfeição que, ainda, hoje, servem de modelo para as legislações contemporâneas. A professora da Universidade da Califórnia, em Berkley, nos Estados Unidos, Isabelle Pafford27 destaca que no século VI a.C, os Etruscos já tinham fundado uma dinastia, sendo expulsos. Depois desse fato, por volta do ano 500 a.C., portanto, nascia Roma. Somos partidários que de fato a origem de Roma está ligada a civilização etrusca. O Abade Badelli ao abrir uma sessão da academia assim se referiu “ Há mais de 20 séculos que os romanos se esmeram em ignorar ou, melhor dos casos, minimizar a imensa herança cultu- ral, intelectual, política e artística de nossa antiga raça etrusca! Em seu desejo de aparecer como único elemento civilizador de nossa península, a capital romana se esforça sempre para impor um ponto de vista histórico, que está longe de corresponder à realidade. Quan- do Roma não era mais que uma simples povoação do Lácio, no século VII a.C., Tarquínios, Veies, Vulci ou Cortona, nossa boa cidade, já eram centros ilustres onde floresciam as mais variadas artes”28 25 O período que estamos a falar refere-se desde a fundação de Roma até o período da grande codificação, feita por Justiniano no século VI. d.C. 26 Quando terminou o domínio etrusco houve muitas lutas internas em Roma. Estas entre patrícios e plebeus. Os primeiros, ao provocarem a expulsão do rei; e a plebe, que não tinha mais o apoio da forma monárquica de governo que começou a ter ideia de suas capacidades e potencialidades. 27 Texto citado da Revista Aventuras da História. O apogeu de Roma. Editora Abrilano, 2008. n. 62. p. 30. 28 AZIZ, Phillip. Grandes civilizações desaparecidas. A civilização dos etruscos. Rio de Janeiro: Editions Ferni, s/d. p. 10. Um dos direitos mais difíceis de estudar é, sem dúvida, o Direito Romano, pois como afirma Almeida Costa “Um estudo completo da história do direito romano, deverá, consequentemente, desenvolver-se desde a fundação de Roma (Séc. VII ou VIII a.C até os fins do Século XIX. Tornar-se-ia difícil acompanhar a evolução de um direito através de 27 séculos. Ora se por um lado exclui o estudo do direito romano na totalidade da sua vigência; por outro lado, é incontestável que não convirá deixar de abranger um facto histórico que se deu no século VI e que marca o coroamento da larga evolução do Direito em Roma: a compilação efectuada por iniciativa e sob a superior orientação do Imperador Justiniano, de todo o direito romano desde a época clássica até os seus dias. Esta compilação que ficou conhecida como “Corpus Juris Civiles”, não podemos nós esquecê-la, no estudo que nos propomos a fazer da história do direito romano, por duas razões: a primeira, porque quando se deu a queda de Roma, inúmeras instituições estavam ainda em evolução e normas jurídicas há que só na compilação justinianeia tomaram a sua configuração definitiva. Em segundo lugar, porque se perderam muitos textos que nos dariam a conhecer certas instituições jurídicas de Roma. E é através da compilação justinianeia que, por um processo retroactivo, nós con- seguimos reconstituí-las. p. 65. ALMEIDA COSTA, Mario Julio de. Apontamentos de história do direito. Porto: Universidade Católica do Porto. 1979. (a grafia desta parte está grafada em português de Portugal). 38 Universidade da Amazônia Esse direito foi uma das bases de toda a legislação européia, sendo estudado em todas as universidades, proliferando rapidamente por outros rincões mundiais, sendo de fato um direito, presente em várias nações do mundo. Almeida Costa já destacava, o que esta- mos a afirmar: O elemento romano ocupa uma posição de relevo. Está nos alicerces da consciência jurídico européia contemporânea. O direito romano difundiu-se na sequência da expansão político de Roma, impondo-se mercê de sua perfeição, ainda que combinado com elementos locais. E, depois, desde o século XII, estudado pelas sucessivas escolas européias, jamais deixou de estar presente, até aos tempos modernos, na actividade legislativa, na ciência e na prática jurídicas.29 (mantemos a grafia que consta no original). Históricamente temos que Roma30 foi fundada no ano de 754 ou 753 a.C, por Rômulo e Remo, filhos de Rhéa Sylvia. Essa é a lenda mais conhecida da história da fundação de Roma. A fundação lendária pode até ser que não tenha acontecido, face ao seu caráter bucólico, dois meninos sendo amamentados por uma loba. Todavia, sua citação é obrigatória em qualquer manual e, por nós, não pode- ria ficar esquecida. Não há unanimidade entre os historiadores para delimitar a data exata que Roma teria sido fundada. André Pibaniol, citando Varrão, aduz que a fundação de Roma pode ter ocorrido em 753 a.C, ano da sétima olimpíada grega. O escritor francês Rambaud, em sua obra Ciceron et l’ Histoi- re Romaine, em seus apontamentos, consigna uma data exata que seria o ano de 747. 29 ALMEIDA COSTA, Mario Julio de. Apontamentos de história do direito. Porto: Universidade Católica do Porto. 1979. p. 32. 30 Sobre a fundação de Roma, “conta à lenda que em Alba Longa, localizada no Latium, reinava Numitor, destronado e morto por seu irmão Amúlio. Rhéa Sylvia, filha de Numitor, é então encerrada num convento de vestais onde deveria permanecer virgem. Contudo, de sua união ilícita com o deus Marte, nascem Rômulo e Remo que, para não serem mortos, são abandonados numa floresta e recolhidos e amamentados por uma loba, esta enviada pelo pai, Marte. Posteriormente um pastor de nome Fáustulo quem os encontrou, levando-os para criar e educar. Mais tarde, os dois voltam a Alba Longa e vingam o avô Numitor derrotando Amúlio. “Como prêmio recebe uma colina à beira do Tibre, onde edificaram Roma”. “Os irmãos, porém disputam o privilégio divino de ser o fundador da cidade e Rômulo mata Remo, traçando em seguida os limites da cidade.”. LUIZ. Antônio Filardi. Curso de direito romano. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 33. 39 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo Divergências a parte sobre a data da fundação, vamos seguir a tradição e considerar entre o ano de 753 a 754 a.C. Todavia, há outras teorias sobre a fundação de Roma. Uma de fortíssima tendência é a de origem etrusca. O importante não é nos filiarmos a nenhuma das correntes históricas, mesmo porque, como afirma o professor Zeno Veloso que nos prefaciou, este não é um tex- to histórico. Porém, demonstrar as várias vertentes de sua fundação, como fator histórico, é deveras importante para se entender Roma e os motes que firmaram a sua civilização. Becker assinala: Pesquisas arqueológicas e estudos modernos, parecem indicar que a fundação de Roma é bem anterior a data apontada pela lenda. Roma já devia existir por volta de 1.000 a.C. No começo, foi, provavelmente,uma aldeia de pastores e um lugar de refúgio para aventureiros e foragidos de regiões vizinhas. Há autores que sustentam outra hipótese. O monte Palatino, colina que dominava uma estreita passagem no Tibre, teria sido posto militar avançado dos latinos (habitantes de Lácio), para defenderem-se dos etruscos. Estes, porém, que usavam o Tibre como via comercial, ter-se-iam apoderado desse posto militar e, ao seu redor, teriam fundado a cidade. Roma, pois, teria sido etrusca, o que explicaria certas feições da cidade e certas características do espírito romano.31 Ainda sobre a fundação de Roma, afastando a concepção len- dária de sua fundação e contrapondo esse entendimento, confirma a vertente sobre a sua origem etrusca, destacada pelo Professor Silvio Meira. Em seus magníficos escritos, ele afirma que Roma te- ria sido uma dominação do povo etrusco. Meira destaca: Algumas investigações científicas têm posto à prova a tradição quanto à época exata em que Roma foi fundada. Afastando a lenda, escritores como R. Bloch e L.Homo, defendem a tese de que a cidade surgiu da dinastia etrusca, instituída por Tarquínio Prisco, no século VII a.C. Léon Homo diz que sob o aspecto político, os etruscos, pela primeira vez, deram a Roma um governo centralizado, da mesma forma que fundaram a cidade de Roma, criaram o Estado Romano.32 31 BECKER, Idel. Pequena história da civilização ocidental. 3. ed. São Paulo: Companhia da Editora Nacional, 1968. p. 164. 32 MEIRA, Silvio. História e fontes do direito romano. São Paulo: Saraiva Editores [s.d.], p. 32. 40 Universidade da Amazônia Sabe-se que no século VIII a.C, a região que conhecemos por Lácio era ocupada por um grupo de pessoas que se ocupavam da agricultura e cuidavam de rebanhos (pastores). A região é cheia de planícies e compostas de aldeias que, de certa forma, tinham inde- pendência entre si. Todavia, havia identidade quanto aos ritos e, de certa forma, devido a fundação, foram influenciados pelo povo etrusco, que como visto pode ter sido este que deu origem ao povo romano. Os gregos também deram sua influência para esta formação. Entre essas aldeias estava Roma que possuia uma localiza- ção privilegiada, posto que, próxima ao Tibre, era possível chegar- se ao rio, sem qualquer problema, portanto, sair de Roma pelo rio era muito fácil. Não é exagero afirmar que Roma foi um dos maiores impéri- os que a humanidade já conheceu. Dez séculos mais tarde, depois de sua fundação, nos séculos II e III d.C, seus domínios já se espa- lhavam por boa parte do mundo, provando uma das principais carac- terísticas do povo romano - a dominação. Sobre essa dominação, as palavras de Sérgio Pereira Couto são elucidadoras: Não houve em momento algum da história universal um império mais grandioso do que o de Roma. Suas fronteiras se estendiam da península Ibérica até a Capadócia, na atual Turquia, e englobavam a Grécia, Bretanha (atual Inglaterra), o Egito, a Macedônia e a Síria.33 33 COUTO, Sérgio Pereira. A história secreta de Roma. São Paulo: Universo dos Livros, 2007. p. 9. 41 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo O m ap a d o I m p é ri o R o m an o e m s e u a p o ge u . 42 Universidade da Amazônia A principal prova dessa dominação pode ser retratada pela conquista de territórios, o que fez com que Roma se tornasse um dos maiores impérios que a humanidade conheceu. Quando Roma invadia os povoados e as cidades, procurava imediatamente impor sua cultura34 e desenvolver o instituto da es- cravidão35. Essa característica aparece desde a sua fundação. Mar- noco e Souza destacam: A escravidão apparece-nos em Roma, desde a fundação da cidade, como consequência das condições econômicas em que os romanos se encontravam. Os romanos tinham entrado já nesta ephoca no período agrícola e, a escravidão foi um meio de que eles lançaram mão para obter, no regime de economia dissociada e independente que então dominava, a cultura das terras. A fonte que alimentou primeiramente a escravidão foi a conquista. O prisioneiro de guerra ficava entregue à completa discrição do captor, que comprehendeu a conveniencia de lhe conservar a vida fazendo-o trabalhar em beneficio proprio. Os juriscolsultos romanos procuraram até justificar a escravidão, partindo da sua principal origem. O vencedor, diziam eles, tendo o direito de matar, o vencido, tem com mais forte razão, o direito de o fazer propriedade sua.36 (A edição desta obra é de 1908, e, portanto, a grafia foi mantida). Roma é um império que se estende à Inglaterra, da Gália e da Ibéria, à África e ao Oriente, até os confins do Império Persa. Foi, sem dúvida, um dos maiores impérios de toda a humanidade de to- dos os tempos. 34 Quer dominar alguém? Começa por destruir sua cultura. Em um curto espaço de tempo, ela ser-lhe-á complemente servil. Elder Lisboa Ferreira da Costa. 35 O Escravo Romano não podia ter patrimônio, não possuía créditos nem dívidas. Seria um meio de aquisição. Poderia ter uma vida saudável se tivesse um senhor benevolente. Seria considerado escravo romano aquele que nascesse de uma mulher escrava. Outra forma de escravidão era derivada dos Direitos das Gentes, onde os prisioneiros de guerra que não fossem mortos ficavam na condição de escravos. Os escravos tinham procedência de várias frentes: podiam ser crianças vendidas por seus pais, povos vencidos em guerras, o tráfico de pessoas já era previsto como forma de escravidão. Aos escravos romanos era permitido com- prar a sua liberdade. Os escravos também tinham uma função em Roma, de cuidar de um bebê que tivesse nascido em boas condições de saúde, seria encarregado de sua educação, geralmente eram dois escravos anciãos. 36 MARNOCO E SOUZA. História das instituições do direito romano. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1908 p. 39. 43 HISTÓRIA DO DIREITO DE ROMA À HISTÓRIA DO POVO HEBREU E MUÇULMANO A Evolução do Direito Antigo à Compreensão do Pensamento Jurídico Contemporâneo Dos povos que formaram a cultura romana, temos os etrus- cos37, e como não poderia deixar de ser, seria o primeiro povo da sua formação. Cremos que a base cultural dos romanos teve grande con- tribuição deste povo. Podemos afirmar que eram um povo nômade com características simipre-históricas. Estabeleceram-se primeira- mente em Tarquínios, que seria a mais antiga cidade etrusca, que mais tarde formará a Etúria, depois dessa ocupação vão se estabe- lecer desde o Arno até o Tibre. Sabe-se muito pouco sobre eles, sendo sua origem ignorada. Um dos pontos de maior dificuldade para decifrar este enigma é que a escrita etrusca por enquanto é indecifrável, embora se tenha tido acesso a alguns desses escritos, devido a este fato torna-se difícil maiores estudos. O que podemos afirmar é que a Etúria viveu sob a autoridade de um príncipe, ou lucumon. Seria organizada sob uma federação composta de 12 cidades entre as quais: Arezzo, Caere, Cortona, Tar- quínios, Vulci, Volterra. O fato de que Roma de fato tem origem etrusca é calcado em Tito Lívio, que certa vez teria esquecido o seu sentimento naciona- lista romano e saudado a Etúria a primeira potência surgida na Itá- lia: “Antes do estabelecimento do poderio romano os Etruscos havi- am estendido ao longe seu domínio sobre a terra e o mar. O próprio nome dos dois mares, o mar superior e o mar inferior, que cingem a Itália como uma ilha, atestam o poder desse povo”.38 Pela sua cultura e seus costumes se aproximavam dos po- vos fenícios. Entre os anos VIII e VI a.C, foi o povo que mais teve poder na península. Sabe-se por meio de estudos realizados em 1911 pelo professor F. Benoit com sua obra: “A Arquitetura na Antiguida- de”, afirma que os etruscos teriam sido os protaginistas de grandes construções de cidades no ocidente. Outro professor este da Uni- versidade de Sorbonne, na França, em sua obra História da Arte, destaca que toda a arquitetura dos romanos deve-se aos etruscos, que foram os primeiros
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