Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NÃO PODE FALTAR DIREITO NÃO-EUROPEU (DIREITO COMPARADO) Danilo Rafael da Silva Mergulhão CONVITE AO ESTUDO Nesta primeira seção embarcaremos na beleza que a história do Direito tem a nos dispor! Como já dito anteriormente, alcançar o verdadeiro signi�cado dos institutos jurídicos, e, portanto, da própria Ciência Jurídica, perfaz o seu conhecimento histórico. Neste sentido ensina-nos o Prof. Tércio Sampaio, Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 V er a n o ta çõ es É sob esta perspectiva que formaremos as bases para os “fundamentos teóricos gerais do Direito” na in�uência de traços dos ordenamentos jurídicos hebreu, hindu, chinês e japonês que permanecem ainda hoje, com as devidas adaptações presentes. Perceberemos a in�uência do Direito Hebreu na construção de um “constitucionalismo antigo”, do Direito Hindu, na legitimidade de um sistema de castas, o Direito Chinês com a proximidade �losó�ca, de forma particular com os escritos de Lao Tsé – em particular nas obras Tao Te Ching: O livro que revela Deus. Prontos para iniciar essa jornada? PRATICAR PARA APRENDER Iniciaremos nossa primeira sessão de estudos confrontando a construção histórica do Direito. Assim, importante desde já frisar que esse conhecimento não é traduzido para �ns de um saber desfocado da realidade. Ao contrário! Tem uma importância ímpar para o investigador das Ciências Jurídicas. No certame público de acesso ao Programa de Pós-Graduação Stricto Senso – Mestrado e Doutorado da Universidade Federal do Paraná o tema é recorrente, vejamos, Um panorama da História da Ciência do Direito tem a virtude de nos mostrar como esta ciência, em diferentes épocas, se justi�cou teoricamente. Esta justi�cação é propriamente o objeto da nossa investigação. Não pretendemos, pois, enumerar teorias sobre o direito, mas teorizações jurídicas no sentido da roupagem que o pensamento jurídico assumiu enquanto ciência. É a concepção da "historicidade" que permitirão a quali�cação, também, do acontecimento presente como História, criando-se a possibilidade de uma compreensão da ciência jurídica como ciência histórica, aparecendo a dogmática jurídica fundamentalmente como história do direito, ou, pelo menos, como a continuação desta com outros instrumentos. — FERRAZ, 1988, p. 46 “ 0 V er a n o ta çõ es Em nossos meios de comunicação (jornais, internet, TV, rádio) sempre nos deparamos com questões que são levantadas um termo “dignidade da pessoa humana”. Você já se perguntou qual é a construção histórica deste termo? O termo “dignidade da pessoa humana” está esculpido em nossa Constituição Federal em seu inciso III, Art. 1º, sendo reconhecida como o “princípio dos princípios”. Parcela signi�cativa da doutrina jurídica reconhece que a fonte histórica está intimamente ligada à �loso�a e cultura hebraica com referência textual no próprio texto sagrado judaico-cristão, em Gêneses, 1. 26 “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais ¬que se movem rente ao chão’”. É evidente que no processo de racionalização houve uma migração do núcleo conceitual do teocentrismo para o antropocentrismo, mas se mantém como fundamento do mundo ocidental. Paolo Grossi defende a historicidade da experiência jurídica medieval que não pode ser analisada pelo prisma estatalista contemporâneo, na medida em que este deturpa a visão do fenômeno jurídico e o vincula exclusivamente à lei. Assinale a alternativa CORRETA acerca da ordem jurídica medieval: A. A Igreja medieval, instituição que detinha o monopólio da cultura letrada, era a principal responsável pelas normas sociais; B. o direito medieval apresentava-se como dependente de uma estrutura política centralizada nas mãos do rei o que resultava em um direito régio; C. o homem estava no centro da ordem cósmica criada por Deus e sua vontade era explicitada em normas de conduta social; D. a factualidade (direito se constituía a partir dos fatos; a validez cede à efetividade) e historicidade eram duas de suas características principais; E. o direito canônico funcionava como uma espécie de ius commune na medida em que tinha validade em todos os territórios cristãos. “ 0 V er a n o ta çõ es No século XX vemos diversos instrumentos nacionais e internacionais, especialmente depois da II Guerra Mundial que contemplam o papel central da Dignidade da Pessoa Humana, dentro os quais destacamos a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, Lei Fundamental de Bonn de 1949 e no Brasil a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Tal instituto é tido como um verdadeiro epicentro axiológico do ordenamento jurídico Pátrio. Vamos juntos construir o saber? CONCEITO-CHAVE A - DIREITO HEBRAICO Segundo PALMA (2019, p. 109), “o Direito hebraico (Mischpat Ibri) é o conjunto de regras e preceitos religiosos que se alicerça no dogma monoteísta arvorado pelos antigos israelitas, povo de origem semita que outrora habitou a terra bíblica de Canaã.” Como assentado pelo autor, a característica do direito hebraico advém de sua umbilical relação religiosa, na qual impunha limites para todos, inclusive, aos próprios governantes. Com efeito, havendo qualquer violação por partes dos governantes, os profetas apontavam-na. (MARTINS, 2020, p. 40) Perceberemos que o direito hebraico é um direito religioso, embasado em uma religião monoteísta e que tal sistema ainda permanece latente atualmente, como o adotado por alguns países de alinhamento islâmico que possui um sistema jurídico baseado na Sharia ou lei islâmica. Neste sentido, importante ressaltar que o Direito Hebraico teve importantíssima repercussão nos estudos da dignidade da pessoa humana, especialmente com passagens do Antigo Testamento. Com relação ao tema, reza BARROSO (2016, p. 15), grifado por nós: 0 V er a n o ta çõ es Imprimir Os estudos empreendidos por Karl Loewenstein identi�caram as primeiras demonstrações do constitucionalismo, na Idade Antiga, no povo hebreu, especialmente por meio da conduta dos profetas, nos quais eram encarregados por veri�car se os atos do poder público eram compatíveis com o texto sagrado. (LOEWENSTEIN apud MARTINS, 2020, p. 39) Dissertando sobre o tema: Sendo assim, o Antigo Testamento (Tanak) é o ponto de partida para o desenvolvimento �losó�co-doutrinário da cultura hebraica. (PALMA, 2019, p. 109) Especi�camente, no Torah que se observa o eixo da legislação do Israel Antigo. Ele compõe-se por cinco livros: Gênesis (Bereshit), Êxodo (Shemot), Levítico (Va-yikra), Números (Ba-midbar) e Deuteronômio (Debarin). No âmbito dessa estrutura, podem ser categorizadas certas coleções de leis facilmente percebidas no universo da Torah. As subdivisões às quais se refere são tradicionalmente conhecidas como “Código da Aliança” (Ex 20, 22-23, 33) e “Código da Santidade ou Sacerdotal (Lv 17- 26)” (PALMA, 2019, pp. 109-110). As ideias centrais que estão no âmago da dignidade humana podem ser encontradas no Velho Testamento, na Bíblia judaica: Deus criou o ser humano à sua própria imagem e semelhança (Imago Dei). E impôs sobre cada pessoa o dever de amar seu próximo como a si mesmo. Essas máximas são repetidas no Novo Testamento cristão. Devido à sua in�uência decisiva sobre a civilização ocidental, muitos autores enfatizaram o papel do cristianismo na formação daquilo que veio a ser conhecido como dignidade humana, encontrando, nos Evangelhos, elementos de individualismo, igualdade e solidariedade que foram fundamentais no desenvolvimento contemporâneo da sua abrangência. “ O primeiro povo que praticou o Constitucionalismo foram os hebreus. Flavius Josephus deu à forma de sua sociedade o termo ‘teocracia’ [...]. Nesse sistema, os detentores do poder na terra são meramente agentes ou representantesdo poder divino. [...] O regime teocrático dos hebreus se caracterizou porque o dominador, em vez de ostentar um poder absoluto e arbitrário, estava limitado pela Lei do Senhor, que submetia igualmente a governantes e governados. [...] Os profetas surgiram como vozes reconhecidas da consciência pública, e predicaram contra os dominadores injustos e carentes de sabedoria que haviam se separado do caminho da Lei, constituindo-se na primeira oposição legítima na História da Humanidade contra o poder estatal estabelecido. — (LOEWENSTEIN apud MARTINS, 2020, p. 39-40) “ 0 V er a n o ta çõ es Além do mais, de todas as leis, o direito hebraico nos deixou de herança os “dez mandamentos”, como instrumento normativo ainda hoje utilizado com uma espécie de fonte material de normas de cunho jurídico (não matarás, não roubarás, não darás falso testemunho contra teu próximo), outros como normas de cunho moral (não terás outros deuses diante de mim; não pronunciarás em falso o nome de Iahweh teu Deus) e ainda que já fora de cunho jurídico e agora apenas utilizado como norma de cunho moral (não adulterarás). Inclusive, nas palavras de Rodrigo Freitas Palma (2019, p. 110), Outrossim, ainda de acordo com Palma (2019, 113): REFLITA Se a ideia de “Justiça” está ligada diretamente a Deus, como o homem (ser pecador) poderia alcançá-la? Era necessário a observância dos preceitos religiosos hebraicos, em que era preciso persegui-la com todo o fervor, segundo os limites do entendimento de cada um. O roteiro a ser observado para a prática do bem era, no Israel Antigo, a Torah e seus Mandamentos. (PALMA, 2019, p. 113) Malgrado existisse, algumas distinções de interpretações acerca das leis hebraica, conforme indicado pelo supracitado autor, a ética hebraica ali começa a se delinear por intermédio de leis apotídicas positivas e negativas. Graças à singeleza de seus propósitos, elas alcançaram a devida perpetuidade e aceitação geral nas comunidades judaica e cristã.“ na cultura judaica, somente Deus, em sua grandeza in�nita, representa a plenitude da ideia de “justiça” (tsedaká), o que signi�ca dizer que somente Ele é, na perfeita acepção do termo, justo. Destarte, a própria noção de “justiça absoluta” está muito além da capacidade de compreensão humana. “ De qualquer modo, a noção hebraica de justiça esteve sempre associada à caridade e amor ao próximo (hessed). Nesse ínterim, “ser justo” é dar o melhor de si para o progresso da humanidade; agir em conformidade com os mandamentos e, principalmente, não se descuidar jamais do clamor dos pequenos; tomar a “ 0 V er a n o ta çõ es Aponte-se, sobre o tema que os hebreus criaram três tribunais, com funções especí�cas a cada deles: a) o Tribunal dos Três, no qual julgava alguns delitos e algumas causas de interesse pecuniário; b) Tribunal dos Vinte e Três: recebia as apelações e os processos criminais referente com a sanção por morte; c) Tribunal dos Setenta (Sinédrio): era a magistratura suprema dos hebreus, sendo composto por setenta juízes. Tinha como atribuição interpretar as leis e julgar senadores, profetas, chefes militares, cidades e tribos rebeldes. (MACIEL, 2019, pp. 72-73) EXEMPLIFICANDO E para você, qual o signi�cado da Dignidade da Pessoa Humana? Você já havia estudado o sentido do instituto da Dignidade da Pessoa Humana nos escopos aqui apresentados? O seu conceito de Dignidade da Pessoa Humana guarda paralelo com a História do Direito que descobrimos nessa seção? B) DIREITO HINDU Por volta de 1500 a.C., um povo de origem ariana, vindo por meio do hoje Estado do Irã, na época chamado de Pérsia, chegou a Índia e deparou-se com uma sociedade de diversas origens, em diferentes níveis de evolução. Passou, portanto a comandá-los por meio do Direito e pela religião. (MACIEL, 2019, p. 83) Neste contexto, surgem quatro livros, assentando os costumes e as crenças dos arianos. São os Vedas, que signi�cam “o Saber”. O Primeiro Veda instituiu as castas, que foi utilizado pelos arianos para o estabelecimento do poder, em que separava as pessoas em classes sociais especí�cas. Uma vez que, quem nascesse em certa casta nela viveria e morreria, iniciativa de ir ao seu socorro; prover ao seu sustento; defendê-los com nobreza de caráter e manter uma atitude sóbria e de respeito para com o próximo e o mundo que nos rodeia. — PALMA, 2019, p. 113 0 V er a n o ta çõ es devendo cumprir todas as funções nela preestabelecida. ASSIMILE Os escritos catalogam quatro tipos de castas. Vejamos: a) Brâmanes: sacerdotes e intelectuais. b) Ksatryas: guerreiros, sendo os nobres ou descendentes dos antigos chefes. c) Varsyas (vaiçya) comerciantes e grandes agricultores. d) Sudras: trabalhadores braçais. Ademais, de acordo com Maciel (2019, p. 85), Outrossim, as mais antigas exteriorizações jurídicas na Índia formam os smirits, escritos literários que re�etem, segundo Zweigert e Kötz “aquilo que deve ser relembrado”. Entretanto, tornou-se mais famoso o Código de Manu (Manusmriti), malgrado haver imprecisão quanto à data desse conjunto de leis. As Leis de Manu, foram redigidas inicialmente em sânscrito, compõem parte de um acervo literário em que se reúnem �loso�a, religiosidade e os usos e costumes da sociedade hindu num passado distante. Portanto, tem-se ciência de que a �nalidade maior daquela sociedade não se limitava na apresentação de um “texto jurídico”, na acepção perfeita do termo, e sim, na sistematização enciclopédica da própria cultura hindu. (PALMA, 2019, p. 98) O Direito, assim como ocorreu com outras culturas, assume características sagradas, visto que os indianos, utilizou-se de lendas, da tradição e cosmogonia para elucidar as fontes de suas leis. De modo que, o personagem Manu não é A religião hindu impõe a seus �éis certa concepção do mundo e das relações sociais, baseada essencialmente na existência das castas. Dessa forma, as regras de comportamento aparecem sob a forma de princípios religiosos que substituem as normas jurídicas. “ 0 V er a n o ta çõ es propriamente um legislador, a quem devamos atribuir alguma historicidade, mas um tipo de ser mitológico. (PALMA, 2019, p. 98) Dessa forma o Código de Manu, retratava inequivocamente a maneira de organização da sociedade hindu, uma vez que claramente assentava o longo rol de privilégios usufruídos pela casta dominante e in�uente – os brâmanes –, a elite sacerdotal e intelectual do País. Por �m, o direito hindu retrata a relação de uma comunidade a determinada religião. Entretanto, com a extensão do princípio da territorialidade do direito, clama-se cada vez mais por um direito nacional, cuja aplicação esteja desassociada da �liação religiosa. Chamado de direito indiano, em oposição ao direito hindu, passa a ter característica cada vez mais laica, ou seja, autônomo em relação à religião. C) DIREITO CHINÊS A China é um país de grande complexidade aos olhos do Ocidente, que não raro primou pela originalidade, apegando-se a tradições milenares, que perduram até os dias atuais. Na história chinesa, pode-se observar diversos personagens importantes para a sua cultura, e dentre eles, Lao-Tsé (604 a.C.-531 a.C.) (PALMA, 2019, p. 139). Segundo Lao-Tsé, a necessidade de uma “ordem jurídica” é o re�exo imediato da perda da inocência humana, que exigiu que fossem �xados novos fundamentos para o funcionamento da sociedade (PALMA, 2019, p. 142). De acordo com a axiologia, o Direito, no qual sempre construído de forma arti�cial e, portanto, orientado por interesses escusos, não poderá ser considerado referencial de justiça. Neste ponto, preferível seria se o Direito pudesse ser deixar de ser “prescrito”. Ademais, para Lao-Tsé há diferença entre o “Direito (Lei)” e a “Justiça”. Naquele caso, em cerne, as leis derivam da vontade humana, exprimindo a obrigatoriedade da força, por parte do Estado e de seus governantes (PALMA, 2019, p. 142). 0 V er a n o ta çõ es A “Justiça”, por outrolado, segundo Rodrigo Freitas Palma (2019, p. 142-142), Neste sentido, tendo em vista a escassez de documentos comprobatórios sobre a história do Direito Chinês, �ca inviável assentar cronologicamente falando o momento da mudança dos costumes para a normatização escrita. (PALMA, 2019, p. 146) Por outro lado, é certo que “os especialistas são sempre unânimes em apontar os séculos VI e VII de nossa era como o momento em que se podem datar as fontes legais mais remotas que se têm na atualidade.” (PALMA, 2019, p. 146) Por �m, os chineses, paulatinamente, começaram a per�lhar a “concepção do direito sem caráter divino”. E mais, com relação ao Direito Penal, este trazia penas cruéis, tais como a empalação, as marcas a ferro em brasa, os açoites e até mesmo a castração. (PALMA, 2019, p. 146) D) DIREITO JAPONÊS O Direito Japonês até o Século XVIII, teve grande in�uência da �loso�a de Confúcio, �losofo chinês. Uma vez que buscava, segundo Palma (2019, p. 148) Em período anterior a in�uência �losó�ca de Confúcio. A doutrina assenta que existia três épocas da história do Direito nipônico, denominado de “direito nativo”. As origens são dois antigos livros sobre a história do Japão: o Koiji (680 a.C.) e o Nihonshoki (720 a.C.). Ambos os livros têm in�uência chinesa. (PALMA, 2019, p. 148) Resigna-se à singeleza própria a sua natureza imutável, uma virtude ligada à generosidade no agir e no falar, na modéstia e simplicidade no parecer, no desapego àquilo que é perecível, na condenação às ambições causadoras de diversos males que atormentam a sociedade, no rechaço à busca desenfreada e egoística pelo acúmulo de bens materiais, e, também, de tudo o que pode ser considerado supér�uo. “ atitudes conciliatórias que devem nortear as relações entre as pessoas”. Inclusive, de acordo com o autor “na atualidade, pode-se admitir que o tom conciliatório que marca a personalidade das gentes do Extremo Oriente é devido a esse legado.“ 0 V er a n o ta çõ es Ademais, de acordo com a doutrina, o ano de 603 d.C., por meio do “País do Sol Nascente” foi a primeira revelação escrita do direito, tendo sido criada no decorrer do reinado da imperatriz Suiko (592-628). A referida codi�cação se deve ao trabalho do renomado príncipe Shotoku (574-622). Essas leis �caram denominadas como “As Dezessete Máximas”. Segundo a doutrina, elas, na verdade, apresentam como uma espécie de “código de ética pro�ssional para altos funcionários e sugere a existência, já, de todo um corpo organizado de administradores imperiais”. Bem como, previsões de detenções penais. (PALMA, 2019, pp. 148-149) Note-se que após esse período houve um espelhamento ao modelo chinês. A doutrina reza, entre 701 e 702, criou-se uma legislação, denominada de o Taiho. Esta, tem fundamento no ordenamento jurídico proferido pela dinastia chinesa Tang e estava partindo em duas seções: o Ryo (11 artigos) e o Ritsu (6 artigos). O Ryo continha mormente regras jurídicas civis e administrativas, enquanto o Ritsu trazia em seu cômputo toda a matéria criminal. (PALMA, 2019, p. 149) Registre-se que durante a Era Meiji (1868-1912), período do imperador Mutsuhito, houve uma abertura do país para modernização, no qual ocasionou a ruptura em de�nitivo do modelo social existente, em especial, das instituições feudais que vigorava. Dessa forma, o governo japonês criou vínculo com o ocidente. (PALMA, 2019, p. 149-150) No âmbito do Direito, tendo em vista esse movimento realizado pelo imperador Mutsuhito foi necessária uma melhor organização jurídica de seu país. Neste ponto, o ordenamento jurídico nipônico teve in�uência direta do sistema civil law – Sistema Romano-Germânico de Direito – de sorte que houve uma massiva codi�cação de suas normas. Os japoneses estudavam o direito Europeu, inclusive, realizando o envio de professores à Europa para aprender a essência das legislações, decorrentes do Sistema Romano-Germânico de Direito. Inclusive, o Direito Civil alemão foi utilizado como parâmetro para o direito privado nipônico. (PALMA, 2019, p. 150-151) 0 V er a n o ta çõ es Por �m, com a modernização de seu pais, e com aproximação do país nipônico com os Estados Unidos da América, �cou cada vez mais necessário e urgente a modernização de seu ordenamento jurídico, porque fazia necessário a existência de uma legislação dinâmica capaz de abarcar o desenvolvimento para a sua tomada de decisões. Neste ponto, assenta Palma que “a restauração da diplomacia entre os dois países fez com que o sistema jurídico japonês se amoldasse à praticidade inerente ao espírito norte-americano”. (PALMA, 2019, p. 151-152) Como visto, o Direito Antigo tem muito a nos oferecer, a�nal diversos instrumentos normativos estão presentes na atualidade, mesmo que tenham uma nova roupagem para suprir as demandas atuais da sociedade. FAÇA VALER A PENA Questão 1 O sistema de castas da Índia está entre as formas mais antigas de estrati�cação social que sobreviveram ao longo dos anos. Esse sistema que divide os hindus em rígidos grupos hierárquicos baseados em seu karma (trabalho) e dharma (a palavra hindu para religião, embora aqui signi�que dever) tem mais de 3 mil anos e é muito complexo. O sistema de castas divide os hindus em quatro categorias principais: Brâmanes, Ksatryas, Varsyas e Sudras. Marque qual a assertiva CORRETA: a. Brâmanes: trabalhadores braçais. b. Ksatryas: guerreiros, sendo os nobres ou descendentes dos antigos chefes. c. Varsyas (vaiçya): os impuros. d. Sudras: sacerdotes e intelectuais. e. Harijan: comerciantes e grandes agricultores. Questão 2 0 V er a n o ta çõ es REFERÊNCIAS É por meio da análise dos fatos dos antecedentes históricos que pode-se chegar à justi�cação da estrutura jurídica ao longo da história. (MERGULHÃO, 2018, p. 20). Com relação a importância da História do Direito assinale a alternativa correta: a. A História do Direito não é considerado uma ciência e não possui importância para a compreensão do ordenamento jurídico moderno. b. A História do Direito é considerado uma ciência, mas não possui importância para a compreensão do ordenamento jurídico moderno. c. Para Tércio Sampaio, a concepção da "historicidade" que permitirão a quali�cação, também, do acontecimento presente como História, criando-se a possibilidade de uma compreensão da ciência jurídica como ciência histórica, aparecendo a dogmática jurídica fundamentalmente como história do direito, ou, pelo menos, como a continuação desta com outros instrumentos. d. Não existe evidências de institutos construídos na Antiguidade e sua aplicação no Direito contemporâneo. e. O Brasil enquanto nação possui produção jurídica desde a Antiguidade. Questão 3 Segundo o rabino Leib Rojtenberg, a Torá é um texto que conta desde a história da criação do mundo até a entrada do povo judeu na terra de Israel. O rabino explica ainda que a Torá é um guia prático para os judeus, possuindo 613 mandamentos. Por meio das palavras da Torá, que signi�ca ensinamento, os praticantes do Judaísmo podem aprender como agir em diversas situações. Marque a assertiva CORRETA dos livros que compõem a Torá. a. Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. b. Gênesis, Êxodo, Levítico, Pentateuco e Deuteronômio. c. Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Apocalipse. d. Gênesis, Pentateuco, Levítico, Números e Apocalipse. e. Gênesis, Êxodo, Pentateuco, Números e Deuteronômio. 0 V er a n o ta çõ es AZEVEDO, L. C. de. História do direito, ciência e disciplina. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Disponível em: https://bit.ly/3dE6Ckf. Acesso em: 5 mar. 2021. BARROSO, L. R. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo – A construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo Horizonte: Fórum, 2016. FERRAZ JÚNIOR, T. S. A ciência do direito. 2. ed. - São Paulo: Atlas, 1988. MACIEL, J. F. R. Manual de história do direito. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.MARTINS, F. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. MERGULHÃO, D. R. da S. Contratos interempresariais de seguro. A Boa-Fé Objetiva como limitador da autonomia da vontade das partes. Curitiba: Editora Juruá, 2018. PALMA, R. F. História do direito. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. 0 V er a n o ta çõ es https://bit.ly/3dE6Ckf NÃO PODE FALTAR GRÉCIA Danilo Rafael da Silva Mergulhão PRATICAR PARA APRENDER A Civilização Grega in�uenciou e ainda in�uencia o mundo. Seu modo de organização e exercício do poder é ainda hoje modelo para a civilização moderna. Abordaremos as principais fases daquela civilização: o Mundo Grego Antigo, a Filoso�a Política e as cidades estados de Atenas e Esparta. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 V er a n o ta çõ es Imprimir Na sua forma de construção do exercício do poder a civilização grega é tida como a mãe da Democracia direta, ainda hoje utilizada nas nações modernas, principalmente as de raízes históricas com o direito europeu. Todavia essa Democracia ateniense era restrita, conforme nos ensina Bonavides (2009, p. 288), Para além dos homens escravos, as mulheres também não eram participantes desse processo importante da construção da vontade da pólis. Muito embora a sua imperfeição, fruto do pensamento dos homens daquela época, a contribuição da civilização grega é primordial para o estado da arte do nosso sistema político atual. Os membros da Administração Pública estão restritos ao Princípio da Estrita Legalidade, que tem um signi�cado inicial de praticarem apenas atos que são permitidos em Lei, tendo com exceção o Princípio da Discricionariedade. O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº 13, que assevera Imagine que no município que você vive haja um �agrante desrespeitoso aos princípios que regem a Administração Pública, no qual os membros dos Poderes Executivo e Legislativo utilizam de artifícios que possibilitem o nepotismo. Será que enquanto sociedade civil organizada podemos propor um Projeto de Lei? A escura mancha que a crítica moderna viu na democracia dos antigos veio porém da presença da escravidão. A democracia, como direito de participação no ato criador da vontade pública, era privilégio de ín�ma minoria social de homens livres apoiados sobre esmagadora maioria de homens escravos. “ A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por a�nidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, che�a ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de con�ança ou, ainda, de função grati�cada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. “ 0 V er a n o ta çõ es Todos temos a consciência de que vivemos imerso em um sistema político. O que esquecemos muitas vezes é que esse sistema está inserido dentro de um processo histórico. A República Federativa do Brasil (esse é o nome do Brasil!) está constituída sob o manto de um “Estado Democrática de Direito” (Caput, Art. 1º, da CRFB) que elege seus representantes de forma direta (membros do Parlamento, membros do Poder Executivo, dentre outros). A�nal, todo o poder emana do povo (p.ú., art. 1º, da CRFB). Tem percebido o suporte que o conhecimento do surgimento dos institutos dentro da história do Direito tem dado para uma compreensão do mundo que vivemos? Vamos continuar avançando cada vez mais! CONCEITO-CHAVE DIREITO GREGO A) MUNDO GREGO ANTIGO Situado na Europa oriental, a Grécia é banhada pelos mares Jônio, Egeu e Mediterrâneo. De acordo com a doutrina, a primeira civilização que se destacou nessa região foi a micênica, embora exista indícios concretos da existência de outros povos em período anterior. Essa civilização espalhou-se até Creta, até o seu �m, que ocorreu com a invasão dos dórios, por volta de 1200 a.C. (MACIEL, 2019) ASSIMILE Os historiadores normalmente dividem a história grega em cinco períodos. Com relação a esses períodos, (grifos originais): a) Período pré-homérico (2000-1100 a.C.): período de formação do povo grego. Marcado pela existência de duas grandes civilizações — minoica e micênica. b) Período homérico (1100-800 a.C.): o “mundo grego” passa por uma grande ruralização com a invasão dórica, e existem pouquíssimos registros sobre essa fase. A vida gira em torno do genos, e há um grande recuo civilizacional. “ 0 V er a n o ta çõ es Assim, como ocorreu em outros povos antigos, pode-se apontar comprovações de constitucionalismo na Grécia Antiga. Sem falar que, também, foi berço cultural, bem como foi responsável pela criação e pelo desenvolvimento da democracia. (MARTINS, 2020) Neste contexto, o entusiasmo pelo conhecimento foi fundamental motivo para o desenvolvimento cultural desse povo. (PALMA, 2019) Ademais, outra peculiaridade importante na Grécia Antiga era a sua composição em cidades-estados independentes entre si. Das cidades-estados, as mais importantes foram Atenas e Esparta. Inclusive, “a formação do cosmopolitismo grego é o resultado direto de um processo lento e gradual de sedentarização surgido em função da desintegração dos sistemas clânicos.” (PALMA, 2019) Importante ressaltar que as terras do interior nem sempre tinham condições para o povo utilizar da agricultura para a sua sobrevivência, de modo que houve uma busca natural em direção ao litoral para residir e sobreviver. Já no litoral promoveu a facilidade no trânsito de mercadorias por toda a costa do Mediterrâneo. Inclusive, tendo em vista essa caraterística, criou-se a tradição náutica entre os gregos. (PALMA, 2019) Para os gregos, a fonte do direito é o nomos, que pode ser traduzido como lei. Nessa conjuntura, cabia aos nomos limitar o poder das autoridades, visto que a liberdade política equivale em não ter que violar o nomos. (MACIEL, 2019) c) Período arcaico (800-500 a.C.): marcado pelo surgimento da pólis, o modelo da cidade-estado da Grécia. O aumento populacional leva os gregos a mudarem-se à procura de novos locais. O alfabeto fonético surge. d) Período clássico (500-338 a.C.): período de maior desenvolvimento dos gregos, marcado pelo �orescimento da cultura grega, como a �loso�a. Esse período presenciou a rivalidade entre duas grandes cidades-estado gregas: Atenas e Esparta. e) Período helenístico (338-136 a.C.): a Grécia foi conquistada pela Macedônia, iniciando-se a fase da difusão da cultura grega pelo Oriente. Seu �m ocorreu quando a Grécia converteu-se em um protetorado dos romanos. — NEVES, 2021, [s.p.] 0 V er a n o ta çõ es Outrossim, na �loso�a que se encontra uma das principais contribuições dos gregos ao mundo ocidental, conforme já assentado, em especial com Sócrates, Platão e Aristóteles. Importantíssimo assentar que esses �lósofos proporcionaram fundamentais mudanças nas re�exões gregas, especialmente, quando colocou o homem como ponto central de abordagem. Isto é, questões sobre o homem e os seus relacionamentos tornaram-se centrais, abrindo, desse modo, espaço para acepção política (GASPARETTO JÚNIOR, 2021). Além do mais, os gregos, nessa época antiga, acreditavam que a participação na vida pública como um dos maiores bens perseguido pelo homem. Os cidadãos discutiam em assembleias, chamadas de Ágora, sem necessidade de intermediação por meio de representantes. Importante mencionar que só eram considerados cidadãos apenas os homens (sexo masculino), maiores de vinte anos e nascidos em Atenas. Logo, as mulheres, os estrangeiros e os escravos não detinham legitimidade para participar da vida pública. (MACIEL, 2019) No decorrer da democracia de Atenas, os cidadãos governavam de forma direta, no âmbito de assembleias. Eram os próprios cidadãos quedecidiam sobre os temas mais importantes, inclusive, no domínio do Judiciário. (MACIEL, 2019) B) FILOSOFIA POLÍTICA Os historiadores costumam repartir a Filoso�a Grega em quatro períodos. Com relação a esses períodos, 0 V er a n o ta çõ es No período pré-socrático o �losofo mais importante foi Tales de Mileto, inclusive, é considerado o primeiro �lósofo da tradição ocidental. Tales investigava a origem do universo, e para tanto, negava a mitologia grega em que trazia narrativas imaginárias sobre a sua origem (PORFÍRIO, 2021). Tales de Mileto era comerciante, a vida mercantil o permitiu realizar diversas viagens proporcionando conhecer outras culturas, e como bom observador, trouxe para a Grécia o conhecimento sobre matemática. Seus estudos dessa ciência possibilitou uma maior exatidão para os temas astronômicos culminando na criação do Teorema de Tales, o qual permitia revelar a exata altura de objetos com base no comprimento de retas paralelas e das retas transversais da construção (PORFÍRIO, 2021). Outrossim, no período socrático, encontra-se a �gura do �losofo Sócrates, a priori, importante distingui-lo de Tales de Mileto, este buscava encontrar a origem do universo, já Sócrates, por outro lado, buscou analisar as questões humanas, em que, incluía o papel da política (TANCREDI, 2021). Sócrates nasceu por volta de 470 a.C. em Atenas. Nasceu em uma família humildade. Seu pai era escultor, por isso, Sócrates também laborou nesse ofício. Além desse fato, Sócrates também serviu durante três temporadas ao exército de Atenas, chegando a participar da Guerra do Poloponeso (431-404 a.C.). Após servir ao exército, aposentou-se para ser educador e �losofo. Teve um importante aluno: Platão. (PORFÍRIO, 2021) a) Período pré-socrático – do século VII ao século V a.C. Caracterizado pela investigação acerca da physis e pelo início de uma forma de argumentar e expor as ideias; b) Período socrático – do �nal do século V ao século IV a.C. Caracterizado pela investigação centrada no homem, sua atividade política, suas técnicas, sua ética. Também considerado o apogeu da �loso�a grega; c) Período pós-socrático – do século IV ao século III a.C. Caracterizado pela tentativa de apresentar um pensamento uni�cado a partir de diversas teorias do passado. Interessava em fazer a distinção entre aquilo que poderia ser objeto do pensamento �losó�co. d) Período helenístico ou greco-romano – do século III a.C. ao século VI d.C. Engloba o período do Império Romano e dos Padres da Igreja. Trata-se das relações entre o homem, a natureza e Deus. — SANTOS, 2021, p. 21 “ 0 V er a n o ta çõ es Para Sócrates – e os socráticos – os homens deveriam investigar a si mesmos (autoconhecimento), pedra de toque desse período, também denominado de antropológico da �loso�a grega. E mais, uma frase importante para esse período encontrada na entrada do templo do Deus Apolo: “conhece-te a ti mesmo”. Além do mais, Sócrates julgava nada saber, não é, por outo motivo, que a célebre frase, “Só sei que nada sei”, é atribuída a ele (TANCREDI, 2021). Muito embora não haja escritos de sua autoria, os seus pupilos – dos quais destaca-se Platão – ao descrever sua personalidade indicavam que Sócrates achava que, ao dialogar, poderia alcançar o conhecimento. Tido como questionador, foi condenado pela natureza dos seus questionamentos, presentes na obra: A Apologia de Sócrates, escrito por Platão. (TANCREDI, 2021). Sócrates, além de ser acusado de ser ateu e de se agregar aos so�stas, corrompendo a juventude ateniense, bem como atentar contra a democracia ateniense, porque estimulava as pessoas a pensar, questionando as regras postas com o intuito de melhorar a capacidade intelectual (TANCREDI, 2021). Tendo sido condenado a morte, em 399 a.C., Sócrates morreu após ingerir veneno (cicuta) aos setenta anos de idade (TANCREDI, 2021). Outro importante �lósofo dessa época foi Platão, que na verdade se chamava de Arístocles. Nascido em Atenas, no ano de 428 a.C., e falecido em 348 a.C. Sua família tinha grande in�uência em Atenas, tendo em vista ser descendente de Sólon (importante �gura na vida política de Atenas). Consequentemente, a família de Platão tinha posses, de modo que ele poderia se dedicar à �loso�a (PORFÍRIO, 2021). Ao contrário do que ocorreu com seu mestre, Platão publicou diversas obras que até hoje são objetos de estudos, e entre todas as suas obras, destaca-se, para muitos, a sua principal obra: a República. Além disso, Platão, por volta de 388-387 a.C., fundou a escola �losó�ca denominada de Academia. Como era cidadão 0 V er a n o ta çõ es ateniense, podia adquirir terrenos na cidade. Ele escolheu um terreno público chamado de Akademia ou Hekademeia, em que era dedicada ao herói grego Akademus (PORFÍRIO, 2021). No âmbito da �loso�a política, Platão, não acreditava na democracia, e para explicar seu raciocínio, dividiu o homem em corpo (material) e alma. Com relação à alma, ainda, dividiu em três caraterísticas progressivas, são elas: racional (inteligência); irascível (emoções); concupiscível (liberdade). Para Platão somente aqueles que tinham característica de ser racional (característica mais desenvolvida e superior às outras duas características), que eram �lósofos, e estariam mais aptas a serem governantes, daí se extrai do termo “Rei-Filósofo”, preconizado por Platão. A justi�cativa de Platão é que por causa da racionalidade, os �lósofos, conseguiriam agir com Justiça, que seria o Supremo Bem no qual deveria ser alcançado pelo governo. (PORFÍRIO, 2021). A academia era uma comunidade na qual os jovens se reuniam com o intuito de discutir política e praticar exercícios físicos. Haviam salas para os alunos e o papel de Platão era de mentor e sem hierarquia entre professores. Dos seus alunos, tinha Aristóteles. Aristóteles, nasceu na cidade de Estagira, na Macedônia, em 384 a.C. Jovem foi para Atenas, onde acabou sendo aluno de Platão. Aristóteles estudou na Academia e posteriormente tornou-se professor. Para Aristóteles a política é a ciência que buscava a felicidade humana. Era dividido em dois aspectos: o ético, em que se interessava na felicidade individual de cada homem; e na política propriamente dita, no qual se interessava na felicidade coletiva. E mais, segundo o �lósofo, a política se situa na esfera das ciências práticas, isto é, aquelas que analisam o conhecimento como meio de ação (ESCOLA, 2021). Por �m, importante assentar passagem do próprio Aristóteles: 0 V er a n o ta çõ es C) ATENAS Conforme já assentado, Atenas foi uma das cidades-estados mais importante na Grécia Antiga. Rememorando que na Grécia Antiga, especialmente, em Atenas, foi berço cultural, bem como foi responsável pela criação e pelo desenvolvimento da democracia. Nas palavras de Rodrigo Freitas Palma (2019), “não por acaso, aqui despontam, pela primeira vez na história da humanidade, os nítidos contornos dos ideais democráticos.” Até mesmo porque a sua localização geográ�ca, próximo ao litoral, além de ter importante papel no comércio marítimo, permitiu, também, a ascensão de seus conhecimentos para outros povos do Mediterrâneo. Neste contexto, surgiu uma aristocracia bem-organizada politicamente, em que ditava padrões de comportamento para o mundo antigo. (PALMA, 2019) A legislação mais antiga conhecida de Atenas são as leis de Drácon, de 621 a.C., no qual prevê o �m à solidariedade familiar bem como tornou obrigatório o recurso aos tribunais para lide entre clãs. Tais leis, �caram conhecida pela sua severidade (o exemplo das Leis de Drácon é utilizada até os dias atuais para assentar sobre leis severas – leis draconianas), criando, também, importantes normas penais. (MACIEL, 2019) Em seguida, as leis de Drácon, entre 594 e 593 a.C., fora alterada e promoveu uma intensa reforma institucional, social e econômica, que também in�uenciaram o desenvolvimento dos atenienses. (MACIEL, 2019) I. Dizíamos que toda pólis pareceser uma comunidade, e toda comunidade, como forma de união, segue em direção ao bem (já que todas as ações de todos são praticadas tendo em vista o bem). É assim evidente que, na medida em que toda comunidade visa o bem, a comunidade suprema e que inclui todas as outras em seu seio almeja o bem mais supremo; e esta é aquela que se chama pólis, a comunidade política. — Pol., 1252a, p. 02. “ 0 V er a n o ta çõ es Importante salientar que com a criação de Leis supracitadas promove-se a estabilidade – segurança jurídica – na comunidade ateniense, consequentemente, eliminando a prática de julgamento arbitrários e decisões sem fundamento. E mais, houve um aprimoramento pelo ateniense de seu ordenamento jurídico, pois de�niu as condições de validade de suas leis e rechaçando ao Direito ancestral de caráter consuetudinário. Vejamos: Além do mais, havia, em Atenas, um modelo de organização judiciária, com Tribunais de competências distintas entre si. Neste contexto, Areópago, foi o Tribunal mais antigo em Atenas, inclusive segundo a lenda, fora criada pela própria deusa Atena. (PALMA, 2019) Por outro lado, havia o Tribunal dos Heliastas, a corte mais democrática de Atenas, por ser de um júri popular composto de até 6.000 cidadãos. Esse tribunal julgava todas as causas, salvo os crimes de sangue. Os membros do Tribunal dos Heliastas, chamados de heliastas, eram sorteados anualmente entre os cidadãos de Atenas. (PALMA, 2019) Sem falar que de acordo com a doutrina, ainda era possível a�rmar a existência de dois Tribunais, que teriam funcionado até meados do século IV a.C. Isto é, havia um Tribunal denominado de Xenicon Dikasterion que tinha competência para julgar quando pelo menos uma das partes era estrangeira e também um Tribunal denominado de Nautodikai que tinha competência para julgar demandas marítimas. (PALMA, 2019) Outrossim, a democracia em Atenas, era exercida por meio de uma Assembleia. Esse fato tem importância, uma vez que, assim como ocorreu no Tribunal dos Heliastes, que era composto por cidadãos ateniense, essas características �zeram As autoridades não têm permissão para usar uma lei não escrita, em caso algum. Nenhum decreto do Conselho ou da assembleia deve prevalecer sobre uma lei. Não é permitido fazer uma lei para um indivíduo se ela não se estender a todos os cidadãos atenienses e se não for votada por seis mil pessoas, por voto secreto. — PALMA, 2019, p. 176. “ 0 V er a n o ta çõ es surgir e promover o debate e re�exão sobre a justiça, no sentido do justo e injusto, ultrapassando o mero debate sobre leis. (MACIEL, 2019) E mais, a retórica teve papel ímpar na democracia ateniense. Ou seja, o papel dos debatedores, tanto na Assembleia quanto no Tribunal, era convencer aos outros de seus argumentos, especialmente, porque não havia as �guras de advogados, juízes e promotores (como há nos dias atuais). (MACIEL, 2019) Inclusive, “a atividade advocatícia era vista com maus olhos, como se fosse uma cumplicidade para o engodo. O ideal era que todo cidadão se sentisse indignado com qualquer ilícito, mesmo sem ser a vítima.” (MACIEL, 2019, p. 107) Tentando evitar e combater a corrupção e outros problemas sociais, �cou de�nido que, quem denunciasse as irregularidades, haveria ganhos �nanceiros de parte do valor da condenação do réu. Neste ponto, houve um aumento signi�cativo de denúncias, inclusive àquelas sem fundamento. Aqueles que utilizam das denúncias sem fundamento com o �m de obter as vantagens econômicas decorrentes da condenação do réu �cara conhecido como sicofantas. Além do mais, para combater essa prática, foi determinado uma regra de que se o denunciado – réu – não obtivesse um número mínimo de votos no tribunal, o denunciante seria condenado a pagar uma multa. (MACIEL, 2019) EXEMPLIFICANDO Importante ressaltar que a prática de denunciar outrem sem fundamento legal em que sabe ser inocente, ainda hoje é tutelada pelo Estado, especialmente, no Código Penal brasileiro em seus artigos 339 (Denunciação caluniosa) e 340 (Comunicação falsa de crime ou de contravenção). D) ESPARTA A cidade-estado de Esparta progrediu às margens do Rio Orontes, nas terras Lacônica. A sua história começou a ser contada após a invasão dos dórios, povo de origem germânica, por volta de 1200 a.C. A história dos espartanos é uma das mais 0 V er a n o ta çõ es belicosas e militaristas civilizações que o mundo já conheceu. (PALMA, 2019) Neste contexto, os espartanos tinham o domínio das tradições cívicas e amavam a sua pátria com todo fervor. Empenhavam-se até a morte em combate, na mesma intensidade que odiavam os covardes e desertores. Para além dessas características, o treinamento militar dos espartanos começava aos sete anos de idade, para que em sua juventude fosse um brilhante e perigoso guerreiro. Além do mais, por força desses traços assentados, permitia que os pais repelissem �lhos nascidos com de�ciência, ou até mesmo, lançar o bebê em penhasco caso consignasse que seria um impedimento à carreira militar. (PALMA, 2019) REFLITA Os espartanos eram xenofóbicos, pois, malgrado acreditassem na igualdade, este, estaria devidamente restrito aos próprios espartanos, se achando, consequentemente, superiores aos demais povos. (PALMA, 2019) Você consegue imaginar como o Direito, enquanto condutor das relações humanas podem ser mecanismos de implantação de um sistema que gere e sustente um preconceito (sentido lato) para determinada camada da sociedade? No âmbito do sistema político, importante asseverar que Esparta tinha dois reis, com origem em famílias pertencentes à aristocracia: a dos Ágidas e a dos Euripôntidas. Estes não detinham poderes ilimitados, pois encontravam-se limitados à vontade da Assembleia do Povo, denominada de Apella, em que era composto pela aristocracia, ou do Conselho de Anciões, denominado de Gerúsia, no qual era composto por vinte e oito gerontes com idade igual ou superior a sessenta anos e por dois reis. Outrossim, os dois reis tinham caraterísticas de serem Chefes Militares. (PALMA, 2019) No âmbito do direito, as leis espartanas tinham um caráter preponderantemente consuetudinário, ao contrário do que ocorria com Atenas. Neste sentido, assentou Justiniano, quando observava esse traço ao a�rmar que os espartanos, ao 0 V er a n o ta çõ es contrário dos atenienses e romanos, preferiam “con�ar à memória aquilo que observavam como lei”. Por esse motivo, o estudo do direito espartano é deveras genérico. (PALMA, 2019, p. 185) Esperamos que você tenha �cado cada vez mais curioso com o tema e posso aprofundá-lo com nossa bibliogra�a. FAÇA VALER A PENA Questão 1 A Grécia deixou uma contribuição enorme para a formação política da atualidade. Os historiadores normalmente dividem a história grega em alguns períodos. São eles. a. Período pré-homérico , Período homérico, Período arcaico , Período clássico e Período helenístico. b. Período pré-homérico, Período arcaico , Período clássico e Período helenístico. c. Período pré-homérico, Período homérico, Período arcaico e Período helenístico. d. Período homérico, Período arcaico , Período clássico e Período helenístico. e. Período arcaico, Período clássico, Período helenístico e Período homérico Questão 2 Os historiadores normalmente dividem a história grega em cinco períodos. Essa classi�cação facilita as características de cada época bem como a conquistas para a construção do processo democrático. Diante dessa realidade, assinale a alternativa correta que demonstra os períodos histórico grego, adotado pela maioria da doutrina. a. Período pré-socrático, período socrático, período pós-socrático e período helenístico ou greco-romano. b. Período pré-socrático, período pós-socrático e período helenístico ou greco-romano. c. Período socrático, período pós-socrático e período helenístico ou greco-romano. d. Período pré-socrático, período socrático e período pós-socrático. 0 V er a n o ta çõ ese. Período socrático e período helenístico ou greco-romano. Questão 3 Esparta foi uma das mais importantes cidades-estado da Grécia Antiga e �cou marcada por ter uma sociedade hierarquizada com pouca mobilidade social. Dentro dessa estrutura social, os esparciatas eram a classe privilegiada, gozando de riquezas oriundas de suas terras, e eram os únicos com direitos políticos. Esparta teve protagonismo nas Guerras Médicas e na Guerra do Peloponeso. Marque duas características de Esparta: REFERÊNCIAS BONAVIDES, P. A reforma constitucional e o plebiscito. Revista da Informação Legislativa. Brasília: v. 29, n. 113 (jan./mar. 1992). Disponível em: https://bit.ly/369ExNG. Acesso em: 28 mar. 2021. GASPARETTO JUNIOR, A. Filoso�a política. Disponível em: https://bit.ly/367K07x. Acesso em: 29 mar. 2021. MACIEL, J. F. R. Manual de história do direito. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. MARTINS, F. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. NALINI, J. R. Recrutamento e preparo de juízes. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1992. a. Bélica e com leis escritas. b. Não Bélica e com leis preponderantemente consuetudinário. c. Igualdade entre os povos e com leis escritas. d. Bélica e com leis preponderantemente consuetudinário. e. Igualdade entre todos os povos e com leis preponderantemente consuetudinário. 0 V er a n o ta çõ es https://bit.ly/369ExNG https://bit.ly/367K07x NEVES, D. Grécia antiga. Disponível em: https://bit.ly/3hvdsK8. Acesso em: 29 mar. 2021. PALMA, R. F. História do direito. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. PORFÍRIO, F. Tales de Mileto. Disponível em: https://bit.ly/3qFzaPA. Acesso em: 29 mar. 2021. SANTOS, W. J. P. dos. Filoso�a grega. Disponível em: https://bit.ly/2Tsuqkh. Acesso em: 29 mar. 2021. TANCREDI, S. Sócrates. Disponível em: https://bit.ly/3jAVCIc. Acesso em: 29 mar. 2021. 0 V er a n o ta çõ es https://bit.ly/3hvdsK8 https://bit.ly/3qFzaPA https://bit.ly/2Tsuqkh https://bit.ly/3jAVCIc NÃO PODE FALTAR ROMA Danilo Rafael da Silva Mergulhão Imprimir PRATICAR PARA APRENDER Conforme temos avançado percebemos que o Direito enquanto ciência é fruto de uma construção histórica. Conforme preceitua o Ferraz Júnior (1988, p. 2), Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. Um panorama da História da Ciência do Direito tem a virtude de nos mostrar como esta ciência, em diferentes épocas, se justi�cou teoricamente. Esta justi�cação é propriamente o objeto da nossa investigação. Não pretendemos, pois, enumerar teorias sobre o direito, mas teorizações jurídicas no sentido da roupagem que o pensamento jurídico assumiu enquanto ciência. “ 0 V e r a n o ta çõ e s Chegamos agora a um momento importantíssimo: ROMA. Nas palavras do saudoso Prof. Thomas Marky “a importância do estudo do direito romano não precisa ser explicada, pois é de conhecimento mesmo do leigo que o nosso direito e o de todos os povos do Ocidente derivam do direito romano”. (MARKY, 1995, p, 3.) Os romanos como nenhum outro povo conseguiu sistematizar o Direito e perpetuar sua in�uência até os dias atuais. In�uência esta que ultrapassou em muito a queda do Império Romano do Ocidente no século IV d. C. e a queda do Império do Romano do Oriente no século XV d. C., estendendo-se até a atualidade! Quando tem início a vida? Imagine que o escritório que você pertença é contratado para a defesa na qualidade de amicus curie de instituição que esteja habilitada para tratar da adoção de embriões excedentários (vide a ADI 3510 no sítio eletrônico do STF). O desejo da instituição é que você construa uma defesa sobre o início da vida, e se um embrião é um ser vivente que tem a tutela do Estado. A pergunta de quando tem início a vida a�ige os juristas desde que o mundo é mundo! Esse tema é de suma importâncias para �ns de direitos da personalidade, direitos da sucessão, direitos a alimentos, direitos securitários, etc. Na qualidade de advogado desenvolva as teorias que tratem da matéria e apresente um parecer à instituição que o contratou. Vamos juntos mergulhar na História desse povo? CONCEITO-CHAVE A) ROMA 0 V e r a n o ta çõ e s Teremos uma compreensão mais �dedigna dos institutos jurídicos quando trilhamos os seus elementos históricos. O Direito Romano torna-se, diante de sua organização social-política-�losó�ca o caminho que nos garante um ponto de partida seguro, daí ser reconhecido largamente pela doutrina como um “admirável instrumento de educação jurídica” (ALVES, 2019, p. 2.). A.1) Períodos e Magistraturas Do ponto de vista histórico-jurídico toda essa construção dar-se-á através dos séculos, desde a fundação de Roma (lendária, no século VIII a.C.) até a codi�cação de Justiniano (século VI d.C.). O processo de divisão da história romana, sob o ponto de vista metodológico não encontra consenso na doutrina. Adotamos para tanto a classi�cação sugerida: EXEMPLIFICANDO Uma demonstração dessa discussão doutrinária quanto aos períodos do direito romano nas fases compreendidas entre a sua fundação no século VIII a.C. até sua queda no século VI d.C., consta na obra do Prof. Thomas Marky (1999, p. 5-6) que indica como critério de divisão, 1º – período real (vai das origens de Roma à queda da realeza em 510 a.C.); 2º – período republicano (de 510 a 27 a.C., quando o Senado investe Otaviano – o futuro Augusto – no poder supremo com a denominação de princeps); 3º – período do principado (de 27 a.C. a 285 d.C., com o início do dominato por Diocleciano); 4º – período do dominato (de 285 a 565 d.C., data em que morre Justiniano). Quanto à história interna, seguiremos a seguinte divisão, em três fases: 1ª – a do direito antigo ou pré-clássico (das origens de Roma à Lei Aebutia, de data incerta, compreendida aproximadamente entre 149 e 126 a.C.). 2ª – a do direito clássico (daí ao término do reinado de Diocleciano, em 305 d.C.); e 3ª – a do direito pós-clássico ou romano-helênico (dessa data à morte de Justiniano, em 565 d.C. – dá-se, porém, a designação de direito justinianeu ao vigente na época em que reinou Justiniano, de 527 a 565 d.C.). — ALVES, 2019, p. 2-3 “ Tal divisão pode basear-se nas mudanças da organização política do Estado Romano, distinguindo-se, então, a época régia (fundação de Roma no século VIII 0 V e r a n o ta çõ e s Diferentemente da Mitologia Romana, em que a fundação de Roma se deu por dois irmãos que são amamentados por uma loba. Figura 1.3 | Irmãos sendo alimentados por uma loba Fonte: Shutterstock As evidências históricas indicam majoritariamente que o povo de Lácio foram os fundadores de Roma. Enquanto organização política, a realeza era formada pelo rei, pelo Senado e pelos comícios. a.C. até a expulsão dos reis em 510 a.C.), a época republicana (até 27 a.C.), o principado até Diocleciano (que iniciou seu reinado em 284 d.C.), e a monarquia absoluta, por este último iniciada e que vai até o �m do período por nós estudado, isto é, até Justiniano (falecido em 565 d.C.). Outra divisão, talvez preferível didaticamente, distingue no estudo do direito romano, tendo em conta sua evolução interna: o período arcaico (da fundação de Roma no século VIII a.C. até o século II a.C.), o período clássico (até o século III d.C.) e o período pós-clássico (até o século VI d.C.). “ 0 V e r a n o ta çõ e s O Rei, era ASSIMILE O Rei tinha, neste período, as seguintes atribuições: O Senado era considerado uma extensão dos poderes do rei ao ponto de que sua formação era de escolha do rei entre os chefes das chamadas gentes (grupo social romano, que julgavam descender de um antepassado comum). (ALVES, 2019) Por �m, os comícios por cúrias, um tipo de consulta da vontade dos cidadãos romanos, convocados pelo rei, que faz referência as reuniões na Ágora de Atenas. (ALVES, 2019) o magistrado único, vitalício e irresponsável.7 Sua sucessão não se fazia pelo princípio da hereditariedadeou da eleição, mas, segundo parece, o sucessor, quando não indicado pelo antecessor, era escolhido pelo interrex (senador que, por designação do Senado, governava, na vacância do cargo real, pelo prazo de cinco dias, passando o poder, nas mesmas condições, a outro senador, e assim por diante até que fosse escolhido o rei). — ALVES, 2019, p.15 “ O rei, como chefe do Estado, tinha o comando supremo do exército, o poder de polícia, as funções de juiz e de sacerdote, e amplos poderes administrativos (dispunha do tesouro e das terras públicas). Demais, declarava guerra e celebrava tratados de paz. Eram seus auxiliares: a) nas funções políticas: 1º – o tribunus celerum (comandante da cavalaria); 2º – o tribunus militum (comandante da infantaria); e 3º – o praefectus urbis (encarregado da custódia da cidade, durante a ausência do rei); b) nas funções judiciárias: 1º – os duouiri perduellionis (juízes nos casos de crime de traição ao Estado); e 2º – os quaestores parricidii (juízes nas hipóteses de assassínio voluntário de um pater, isto é, do chefe de uma família); e c) nas funções religiosas: – os membros do colégio dos pontí�ces, dos áugures e dos feciais. — ALVES, 2019, p. 18. “ 0 V e r a n o ta çõ e s Sob o ponto de vista de análise da construção do ordenamento jurídico, utilizaremos a divisão interna. O período do direito antigo, arcaico ou ainda chamado de pré-clássico é aquele considerado o berço da formação jurídica romana. Em comum aos demais povos dessa época já estudados, os costumes são sua fonte inicial. Tinha como principais características formalismo, rigidez e solenidade, que eram concretizados nas pessoas dos pontí�ces, tendo como principal expoente Lúcio Papírio Cursor. Neste período, “o Estado tinha funções limitadas a questões essenciais para sua sobrevivência: guerra, punição dos delitos graves e, naturalmente, a observância das regras religiosas”. (MARKY, 1999, p. 6) A.2. PERÍODO CLÁSSICO Do ponto de vista de organização política há o advento da República (Res publica = coisa pública). Este período é marcado pela centralização do poder estatal e pela criação de institutos jurídicos que pudessem resguardar uma certa autonomia do cidadão, enquanto indivíduo, diferentemente do período arcaico em que as pessoas eram mais reconhecidas enquanto núcleo familiar. (ALVES, 2019) Há uma efervescência do direito romano, com o surgimento de jurisconsultos que se debruçaram sobre o estudo do ordenamento jurídico, fruto também da expansão romana. As fontes do direito nesta fase, inicialmente se deu pelos: (a) costumes, que prepondera desde o período arcaico; (b) a lei, e; (c) o edito dos magistrados. (ALVES, 2019) ASSIMILE A construção da lei nesse período romano tinha características distintas segundo o magistério de Alves (2019, p. 21), A lex rogata (a proposta de um magistrado aprovada pelos comícios, ou a de um tribuno da plebe votada pelos concilia plebis, desde quando os plebiscitos se equipararam às leis) e lex data (lei emanada de um magistrado em decorrência de poderes que, para tanto, lhe concederam os comícios). “ 0 V e r a n o ta çõ e s Nas palavras de Thomas Marky, “o marco mais importante e característico desse período é a codi�cação do direito vigente nas XII Tábuas, codi�cação feita em 451 e 450 a.C. por um decenvirato, especialmente nomeado para esse �m”. (MARKY, 1999, p. 06) Que foi fruto do embate ente a plebe e o patriciado, que tinha o condão de refrear o “arbítrio dos magistrados patrícios” (ALVES, 2019, p. 23). É considerado um grande avanço, à época, muito embora tenha em sua formação regras religiosas, considerado por Tito Lívio fons omnis publici priuatique iuris – “fonte de todo o direito público e privado”) (ALVES, 2019, p. 25), fato este contestado na atualidade pelos historiadores. Durante o período interno chamado de Clássico, houve uma segunda mudança na organização política de Roma, com a caída da República, há o advento do chamado Principado, que in�uenciou principalmente nas fontes do Direito, que teria somado aos (a) costumes; (b) a lei, e ao (c) edito dos magistrados os: (d) Senatusonsultos; (e) constituições imperiais; e, (f) responsa prudetium (respostas dos jurisconsultos). (ALVES, 2019). ASSIMILE Segundo o magistério de Alves (2019, p. 35), Na lex rogata, distinguem-se quatro partes: 1ª) o index (onde se consignava o nome gentílico do proponente e a indicação sumária do seu objeto); 2ª) a praescriptio (em que constavam as indicações do nome e títulos do magistrado proponente, do dia e local em que se votou a lei, e da tribo ou centúria que votou em primeiro lugar); 3ª) a rogatio (parte principal da lex rogata, pois nela estava declarado o seu conteúdo); e 4ª) a sanctio (sanção, pena para o caso de infringência da lei). Na república, encontramos leges rogatae de grande importância para o direito privado, como a Lei Aebutia (meado do século II a.C.), que introduziu o processo formulário. O Senatusoconsultos passa a ser fonte de direito, não só em virtude do exaurimento do poder legislativo dos comícios, como também pela circunstância de que, não estando ainda os tempos devidamente amadurecidos para que o 0 V e r a n o ta çõ e s Já as Constituições Imperiais teriam origem na absorção pelo Príncipe dos poderes dos Magistrados na medida que Por �m, as responsa prudentio seria A.3. PERÍODO PÓS-CLÁSSICO princeps, abertamente, usurpasse o poder legislativo, propunha ele as medidas que lhe pareciam necessárias, e o Senado sobre elas deliberava. “ Ao príncipe jamais foi atribuída expressamente a faculdade de legislar, mas em decorrência dos poderes que absorveu das magistraturas republicanas e da auctoritas que lhe era reconhecida, ele, desde o início do principado, interferiu na criação do direito, com as constitutiones (constituições imperiais), que não indicavam um ato formal do princeps para criar direito, mas qualquer ato dele emanado, e que eram fonte de direito quando continham novo preceito jurídico. As constituições imperiais se apresentam, principalmente, sob um dos quatro seguintes tipos:15 1º) edicta (editos) – normas gerais que, em virtude do ius edicendi do príncipe, dele emanavam, e se assemelhavam, na forma, às oriundas dos magistrados republicanos; 2º) mandata (mandatos) – instruções que o príncipe transmitia aos funcionários imperiais, principalmente aos governadores e funcionários das províncias (a partir do século V d.C., desapareceram totalmente);16 3º) rescripta (rescritos) – respostas que, sobre questões jurídicas, o imperador dava a particulares, ou a magistrados e a juízes; no primeiro caso, diziam-se subscriptiones, porque eram escritas abaixo da pergunta, para que a resposta desta não se separasse; no segundo, epistulae, pois eram redigidas em carta; e 4º) decreta (decretos) – eram sentenças prolatadas pelo príncipe em litígios a eles submetidos em primeira instância ou em grau de recurso. — ALVES, 2019, p. 35-36 “ As respostas dos jurisconsultos que abrangem não só os pareceres dados sobre casos concretos (como na época de Augusto), mas também as opiniões em geral dos jurisconsultos com ius respondendi, manifestadas sobre casos concretos ou em obras doutrinárias. Os responsa prudentium eram, então, fonte de direito – portanto, vinculavam o juiz – se constituíssem opinio communis (opinião comum). Se houvesse divergência de opiniões, o juiz julgava segundo a que lhe parecesse melhor. — ALVES, 2019, p. 36 “ 0 V e r a n o ta çõ e s É considerado o período de declínio da civilização romana. Sob o ponto de vista político, instaura-se uma monarquia cujo poder central é absoluto, também chamado de dominato. (MARKY, 1999) Diferentemente do que acontece nos períodos anteriores a Constituição Imperial passar a ser única fonte do direito. Cabendo aos costumes como fonte espontânea do direito, a ser utilizado como mecanismo de preenchimento de lacunas a Constituição Imperial. Aindahá as obras dos antigos jurisconsultos romanos servindo de inspiração aos magistrados. Marky (1999, p. 9) diz que, Essa falta de criatividade neste momento crítico para a civilização romana é também exposta por Wenger ao assinar que “os nomes dos juristas desse período, na sua quase totalidade, foram esquecidos: a jurisprudência, nessa época de decadência, torna-se anônima.” (WENGER, 1953, § 77, p. 531) Esse processo de compilação e codi�cação das regras em vigor na época, e com isso o surgimento do chamado Digesto, as Institutas e as Novellae formaram o que conhecemos por Corpus Iuris Civilis, publicado no �nal do século XVI d.C. (MARKY, 1999, p. 10). Sobre o tema, Marky (1999) explica: Nesse período, pela ausência do gênio criativo, sentiu-se a necessidade da �xação de�nitiva das regras vigentes, por meio de uma codi�cação que os romanos em princípio desprezavam. Não é por acaso que, exceto aquela codi�cação das XII Tábuas do século V a.C., nenhuma outra foi empreendida pelos romanos até o período decadente da era pós-clássica. “ Na época pós-clássica, de organização política monárquica absoluta (284 d.C. — 565 d.C.), a única fonte de direito era, praticamente, a vontade do imperador, expressa em suas constituições. O conjunto de regras de direito por ele editadas chamou-se de leges, em contraposição ao direito elaborado pelos pareceres dos jurisconsultos da época clássica, cuja importância jurídica e validade os imperadores reconheceram e que se denominou iura. As compilações pós- clássicas, culminando com a de Justiniano (527 d.C. — 565 d.C.), continham justamente leges e iura. O Código de Justiniano compõe-se das constituições imperiais. O Digesto é uma coleção de fragmentos das obras e pareceres dos jurisconsultos clássicos. “ 0 V e r a n o ta çõ e s REFLITA Neste momento de re�exão, que tal aprofundarmos a importância do Direito Romano na construção nos Direitos das Obrigações, uma das disciplinas de Direito Civil que estudaremos nos anos seguintes? Neste momento de re�exão, que tal aprofundarmos a importância do Direito Romano na construção nos Direitos das Obrigações, uma das disciplinas de Direito Civil que estudaremos nos anos seguintes? A ideia de propriedade privada plena, o Direito de Posse, Direito de Família, Direito das Obrigações, Direito da Personalidade, Direito das Sucessões, Direito Internacional foram inspirações romanas que perduram até a atualidade, nos ordenamentos jurídicos modernos. Por �m, vale salientar que o Direito Romano é a nossa principal fonte histórica do Direito. Foram os romanos que deram ao Direito a musculatura cientí�ca necessária, principalmente pelos estudos dos jurisconsultos e pela compilação do Corpus Iuris Civilis. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Diferentemente do que acontece nos períodos anteriores, a Constituição Imperial passa a ser como única fonte do direito. Cabendo aos costumes como fonte espontânea do direito, a ser utilizado como mecanismo de preenchimento de lacunas a Constituição Imperial. Ainda há as obras dos antigos jurisconsultos romanos servindo de inspiração aos magistrados. Acerca de qual momento histórico do período romano o texto faz referência? a. Período Pós-Clássico. b. Período Arcaico. c. Período Clássico. d. Período dos Principados. 0 V e r a n o ta çõ e s e. Período Real. Questão 2 A história externa e interna é classi�cada Alves (2019, p. 2-3), Acerca desses períodos assinale a alternativa correta. 1º – período real (vai das origens de Roma à queda da realeza em 510 a.C.); 2º – período republicano (de 510 a 27 a.C., quando o Senado investe Otaviano – o futuro Augusto – no poder supremo com a denominação de princeps); 3º – período do principado (de 27 a.C. a 285 d.C., com o início do dominato por Diocleciano); 4º – período do dominato (de 285 a 565 d.C., data em que morre Justiniano). Quanto à história interna, seguiremos a seguinte divisão, em três fases: 1ª – a do direito antigo ou pré-clássico (das origens de Roma à Lei Aebutia, de data incerta, compreendida aproximadamente entre 149 e 126 a.C.). 2ª – a do direito clássico (daí ao término do reinado de Diocleciano, em 305 d.C.); e 3ª – a do direito pós-clássico ou romano-helênico (dessa data à morte de Justiniano, em 565 d.C. – dá-se, porém, a designação de direito justinianeu ao vigente na época em que reinou Justiniano, de 527 a 565 d.C.). “ a. Há uma unanimidade na doutrina no que tange a classi�cação da história da civilização romana. b. O período clássico é tido como o de maior efervescência jurídica, do ponto de vista, da criação das normas e da existência de grandes jurisconsultos. c. É no período clássico que os costumes surgem como fonte do direito romano. d. O Corpus iuris civilis foi criado no período clássico. e. A responsa prudentio englobava apenas os pareces para os casos concretos. Questão 3 Durante o período clássico temos o surgimento de diversas fontes do direito, que se aliam ao costume fonte do direito do período arcaico. Sobre as fontes do direito romano no Período Clássico podemos a�rmar que: a. São considerados fontes do direito os costumes, a lei, Senatusonsultos, as constituições imperiais e o responsa prudetium. 0 V e r a n o ta çõ e s REFERÊNCIAS FERRAZ JÚNIOR, T. S. A ciência do direito. 2. ed. - São Paulo: Atlas, 1988. MARCHI, E. C. S. V. Thomas Marky: vida e obra, no centenário de seu nascimento (1919-2019). Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São Paulo, 114, 917-938. Disponível em: https://bit.ly/3qIEJwD. Acesso em: 14 jun. 2021. MARKY, T. Curso elementar de direito romano. 8. ed., 13. Tiragem. São Paulo: Saraiva, 1995. MOREIRA, A.J. C. Direito romano. 19. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2019. 9788530984274. Disponível em: https://bit.ly/3qGetmA. Acesso em: 4 abr. 2021. PORCHAT, R. Direito romano. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Disponível em: https://bit.ly/3yju8Lq. Acesso em: 14 jun. 2021. WENGER, L. Quellen des roemischen rechts. Wien, 1953. b. São considerados fontes do direito as constituições imperiais e o responsa prudetium. c. São considerados fontes do direito costumes e a lei. d. São considerados fontes do direito os costumes, a lei, o edito dos magistrados, Senatusonsultos, as constituições imperiais e o responsa prudetium. e. São considerados fontes do direito o edito dos magistrados, Senatusonsultos, as constituições imperiais e o responsa prudetium. 0 V e r a n o ta çõ e s https://bit.ly/3qIEJwD https://bit.ly/3qGetmA https://bit.ly/3yju8Lq NÃO PODE FALTAR DIREITO FEUDAL E DIREITO CANÔNICO Danilo Rafael da Silva Mergulhão Imprimir CONVITE AO ESTUDO Vamos iniciar uma nova fase do nosso processo de aprendizagem. Já �cou muito claro a importância da história do Direito para a compreensão do ordenamento jurídico atual e do mundo contemporâneo. Nessa segunda fase de nosso processo de conhecimento, analisaremos as contribuições do período feudal, o processo de descentralização do poder e do ordenamento jurídico e a importância do Direito Canônico. Fonte: Shutterstock. Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 V er a n o ta çõ es Em um segundo momento, estudaremos os pressupostos jurídicos que compuseram a formação dos Estados Nacionais, aprofundando-nos no momento histórico chamado de Iluminismo, a criação das prensas e o desenvolvimento da divulgação de obras até chegarmos à formação do Direito na Era Moderna, quando mergulharemos no estudo dos sistemas do Civil Law e Commow Law. Veremos, ainda, as Revoluções Liberais e a in�uência da economia na construção do Direito. No Brasil, contemplaremos a fundação das duas primeiras Faculdades de Direito em Olinda e em São Paulo e analisaremos qual foi a in�uência delas no processo conhecido como codi�cações oitocentistas. PRATICAR PARA APRENDER Você já se perguntou como surgiu o ensino superior? Durante a Idade Média, criaram-se as universidades. Esse projetode construção de conhecimento se alastrou pelas cidades europeias ainda no século XXI d.C. (MERGULHÃO, 2018). As primeiras universidades europeias, que são modelos para o sistema de ensino superior do mundo moderno, são a Universidade de Bolonha, localizada na Itália, fundada em 1088; a Universidade de Oxford, localizada na Inglaterra, fundada em 1096; a Universidade de Paris, localizada na França, fundada em 1170 (ALVES, 2015). Essas universidades, assim como outras do mesmo período, ainda estão em funcionamento e trouxeram contribuições para além de todas as expectativas. A criação da metodologia cientí�ca tida como uma ciência, seus escritos e a análise das áreas de conhecimento através do discurso cientí�co foram essenciais para a evolução das ciências, tornando a universidade um espaço que diferencia a mera opinião da ciência. É nessa dinâmica, enquanto acadêmicos de Ciências Jurídicas, que todos nós estamos inseridos. E é nesse espaço do ensino superior que você galgará a formação necessária para desenvolver a ativa própria do Bacharel em Direito. 0 V er a n o ta çõ es Você está em seu escritório e recebe a visita de Beatriz. Ela relata que é casada no religioso com João e que, após cinco anos, descobriu que o seu esposo já era casado com outra pessoa no momento do casamento que foi celebrado com ela. Ela conseguiu a anulação do casamento perante o Poder Judiciário, mas, na qualidade de participante da comunidade católica e querendo se casar novamente, agora com Marcos, procura os seus serviços de especialista em Direito Canônico para requerer a anulação do casamento perante a Igreja Católica. Na qualidade de Advogado de Beatriz, como você deverá atuar? Vamos continuar a aprofundar os nossos estudos com responsabilidade, pois é sob essa ótica que desenvolveremos nossas aptidões pro�ssionais. CONCEITO-CHAVE DIREITO FEUDAL O ponto inicial que devemos começar a tratar é que, diferente do que normalmente é veiculado em obras literárias sérias, não podemos �rmar que a Idade Média é um período de “trevas”. Assim como todo processo de construção histórica, esse período histórico passou por “altos e baixos”. Nesse sentido, ensina-nos o historiador francês Jacques Le Go�: REFLITA Diversos autores fazem um processo de revisitar a Idade Média, na medida em que assumem que tal período possui características que nos acompanham até hoje, principalmente no que diz respeito à construção de conhecimento de forma organizada e à fundação das universidades. Neste mesmo sentido, segue o magistério de Russell: Eu diria que a Idade Média não é o período dourado que certos românticos quiseram imaginar, mas também não é, apesar das fraquezas e aspectos dos quais não gostamos, uma época obscurantista e triste, imagem que os humanistas e os iluministas queriam propagar. É preciso considerá-la no seu conjunto. — (LE GOFF, 2007, p. 18) “ 0 V er a n o ta çõ es Sob o ponto de vista temporal, a Idade Média está compreendida entre o período da história da Europa que tem início com o colapso do Império Romano do Ocidente no século V d.C. até o período do Renascimento; ou ainda com a queda do Império Romano do Oriente, com a invasão de Constantinopla, no século XV (ALVES, 2015). Como percebe-se, o período tido como início e �nal está dentro de um contexto eurocêntrico. A Idade Média é marcada por uma desconcentração do poder, ocasionada após a queda do Império Romano do Ocidente e a miscigenação da cultura romana com a cultura dos reinos bárbaros (ALVES, 2015). Neste período, houve substancial produção jurídica de nomes que ainda hoje estudamos em nossas bancas de graduação e pós-graduação, dentre os quais destacamos “Irnerius, Azo, Acúrsio e os glosadores e comentadores, de uma forma geral, é assentada numa tradição romanística altamente so�sticada e com elementos de gênese criativa bastante inovadora, muitos dos quais estranhos ao direito romano” (PAIXÃO, 2016, p. 2). O Direito Feudal foi um dos aspectos jurídicos existentes nessa época, sendo de�nido como “caracterização do direito dominial medieval entre os séculos IX e XIV, segundo as diversas características regionais que o feudalismo apresentou. Sua concentração, especialmente na França, ocorreu nos séculos X e XI” (MACIEL, 1980, p. 156-157). Tinha por pressupostos a realização de um contrato entre duas partes, um senhor e um vassalo, “em que este obrigava-se a ser �el ao senhor, fornecer-lhe ajuda, especialmente militar, e participar dos conselhos e cortes do senhor. Em A Idade das Trevas como é chamada, se estende de 600 a 1000 d.C., aproximadamente. Qualquer tentativa de enquadrar essa história em compartimentos estanques é altamente arti�cial. Não se deve considerar muito tais divisões, pois na melhor das hipóteses só servem para indicar alguns traços gerais que prevaleceram durante o período. Assim, não se deve imaginar que com o �m do século VII a Europa de repente tenha mergulhado na obscuridade, só ressurgindo quatro séculos mais tarde. Por uma única razão: as tradições clássicas do passado sobreviveram em certa medida, ainda que sua in�uência contínua fosse um tanto precária e restrita. — (RUSSELL, 2001, p. 195) “ 0 V er a n o ta çõ es contrapartida, o senhor obrigava-se a proteger e reconhecer o domínio do vassalo sobre uma determinada parcela territorial” (MACIEL, 1980, p. 158). A justiça DIREITO CANÔNICO O Direito Canônico é fruto dos estudos empreendidos pelo catolicismo romano. Segundo Mergulhão (2021), ASSIMILE A in�uência do teocentrismo cristão na construção do ordenamento jurídico perdura até a atualidade. Inicialmente, os cristãos foram perseguidos pelo Império Romano desde o momento de sua criação. Com o fortalecimento da cristandade, tanto em Roma como nas demais cidades que compunham o Império, no governo de Constantino (311 d.C.), este in�uenciado pela conversão de sua mãe Helena, houve a proibição de perseguição aos cristãos e, por �m, culminando com Teodósio impondo o Cristianismo como religião o�cial do Império em 385 d.C. (MERGULHÃO, 2018). Você sabia que o Édito de Milão conferiu permissão para a religião Católica realizar as suas atividades nos territórios romanos? Segue o texto – em tradução livre – como um dos primeiros sobre liberdade de religião. era realizada ordinariamente pelos senhores, baseando-se especialmente em costumes regionais, podendo ter como fontes, ainda, algumas legislações romano-germânicas, as capitulares, comuns na Alta Idade Média, continham, além de normas de direito penal e processual, algumas poucas regras de direito feudal. — (MACIEL, 1980, p. 158) “ Assim como o Direito Romano, enquanto construção histórica o Direito Canônico está enraizado no sistema jurídico contemporâneo. De perseguidos pelo Império Romano desde os seus primórdios, passando pelo espraiamento de sua doutrina em Roma e nas demais cidades que pertenciam ao Império Romano, e mais à frente com a adesão à doutrina cristã por Helena, mãe do imperador Constantino (311 d.C.), que proibiu a perseguição aos cristãos, culmina no Governo de Teodósio, que em 385 d.C. elevou o cristianismo à religião o�cial do Império. “ 0 V er a n o ta çõ es Segundo Maciel, Podemos destacar como uma das hipóteses do Direito Canônico o vácuo político deixado a partir da invasão de Roma e, por conseguinte, a queda do Império Romano do Ocidente. É nesse processo de desconcentração política na Europa que a Igreja Católica conseguiu, paulatinamente, um destaque para além do poder espiritual, ingressando nas estruturas do poder temporal, dentre os quais destacamos o poder político e o poder jurídico. Sobre o tema, assim disserta Maciel: Nós, Constantino e Licínio, imperadores, encontrando-nos em Milão para conferenciar a respeito do bem e da segurança do império, decidimos que, entre tantas coisas bené�cas à comunidade, o culto divino deve ser a nossa primeira e principal preocupação. Pareceu-nos justo que todos, os cristãos
Compartilhar