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Gestão de equipamentos médico-assistenciais Unidade 1 Autores Financiamento no SUS e os principais avanços na gestão de tecnologias em saúde Eduardo Coura Assis Daniel Baldoino de Souza Revisor Técnico Marcelo Sette Gutierrez GLOSSÁRIO AAMI Association for the Advancement of Medical Instrumentation ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATS Avaliação de Tecnologias em Saúde BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CBO Cadastro Brasileiro de Ocupação CE Central de Equipamentos CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear CTP Custo Total de Propriedade DP Diretoria de Programas EA Evento Adverso EAS Estabelecimentos Assistenciais de Saúde ECRI Emergency Care Research Institute EMA Equipamentos Médico-Assistenciais EMH Equipamento Médico-Hospitalar GESCON Sistema de Gestão Financeira e de Convênios HTAi Health Technology Assessment International INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia MC Manutenção Corretiva MP Manutenção Preventiva MS Ministério da Saúde MTBF Mean Time Between Fail NHS National Health Service NICE National Institute Clinical of Excellence OMS Organização Mundial da Saúde PD Plano Diretor PGRS Programa de Gestão de Resíduos em Saúde PROADI Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS PROCOT Programa de Cooperação Técnica REBRATS Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde RENASES Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde RENEM Relação Nacional de Equipamentos de Materiais Permanentes financiáveis para o SUS RDC Resolução da Diretoria Colegiada RSS Resíduo Sólido de Saúde SBE Saúde Baseada em Evidências SIGEM Sistema de Informação e Gerenciamento de Equipamentos e Materiais Permanentes Financiáveis para o SUS SIOPS Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde SISPAG Sistema de contas a pagar SICONV Sistema de Convênios SISREBRATS Sistema de Informação da Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde SOMASUS Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde SUS Sistema Único de Saúde TR Termo de Referência WHO World Health Organization Todos os instrumentos normativos e legais contemplados neste curso correspondem às últimas publicações vigentes até a data da elaboração desse material. Nota do Autor 6 UNIDADE 1 FINANCIAMENTO DO SUS E OS PRINCIPAIS AVANÇOS NA GESTÃO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE “Olá! Meu nome é Soma e nesta unidade você conhecerá como se cons- titui os diversos níveis de gestão em saúde no âmbito de um Sistema Público de Saúde, como ocorre o processo de financiamento na pers- pectiva do Sistema Único de Saúde (SUS) com as suas diversas modali- dades de repasses, as principais portarias que discriminam quais tecno- logias são financiáveis ou não, suas relações/listas, tabelas e sistemas. E, por fim, abordaremos também o princípio básico sobre a temática de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) e sua contribuição na gestão de tecnologias em saúde no âmbito do SUS, assim como, a criação da CONITEC e da REBRATS. Aqui também serão apresentados os conceitos básicos sobre nosso objeto de estudo, os equipamentos médico-assistenciais (EMAs), suas particularidades que diferenciam das demais tecnologias em saúde, assim como modelos de gestão aplicada a essas tecnologias e os ins- trumentos normativos existentes para essa família de tecnologias”. 7 AULA 1 - FINANCIAMENTO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE NA PERSPECTIVA DO SUS E SEUS MARCOS NA GESTÃO NÍVEIS DE GESTÃO EM SAÚDE NA ESFERA PÚBLICA Vamos abordar neste tópico da Aula 1, os diversos níveis de gestão na esfera pública do Brasil, assim como suas respectivas competências e relações existentes. É muito importante que iniciemos os estudos nesse assunto, já que em cada esfera de governo há um direcionamento a ser seguido. É importante que você, prezado estudante, conheça em qual cenário se enquadra, assim como, compreenda que uma determinada ação poderá se relacionar com as várias esferas governamentais, em maior ou menor intensidade. Acredito que você, também, já deve ter observado que no setor público há mais de um nível de organização (federal, estadual/distrital e munici- pal). Esses entes federativos têm origem na nossa Constituição Federal de 1988 e é denominada como Federalismo. Federalismo: O Brasil se organiza em um sistema político federativo constituído por três esferas de governo – União, Estados e municípios –, todas consideradas pela Constituição da República de 1988 como entes com autonomia administrativa e sem vinculação hierárquica. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/para_entender_gestao.pdf Saiba mais Esta configuração existente permite estabelecer como devem ser as res- ponsabilidades de cada ente, ou seja, as respectivas atribuições para o funcionamento de um Sistema Público de Saúde que cumpra com seus princípios e doutrinas. No Brasil, o sistema público de saúde é denominado “SUS”, que signi- fica Sistema Único de Saúde, que completou 30 anos de existência em 2018. É, sem dúvida, a maior política de inclusão social do Brasil e um dos maiores sistemas públicos de saúde universal do mundo. Você sabia disso? http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/para_entender_gestao.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/para_entender_gestao.pdf 8 Se você quiser conhecer mais sobre a história, os princípios e as doutri- nas do nosso sistema público de saúde, recomendo que faça os cursos disponíveis sobre o SUS na plataforma AVASUS. Apresentaremos a seguir a classificação mais utilizada a respeito das perspectivas de gestão na saúde em 3 níveis: Macro, Meso e Micro, con- forme podemos observar na ilustração abaixo: Figura 1 - Representação ilustrativa dos 3 níveis de perspectiva de gestão em saúde Fonte: IECs. Nesta figura, vemos a relação que as três perspectivas possuem entre elas. Vamos explanar cada uma a seguir: • Macro: nessa perspectiva estão incluídas as entidades que representam o governo, através do poder executivo, legislativo e judiciário e estão repre- sentadas pelos seus órgãos públicos, estaduais/distritais e municipais. É nessa perspectiva que são criadas as políticas, os programas e instrumen- tos normativos que norteiam as práticas administrativas, assistenciais e legais acerca do sistema público de saúde. Podemos citar como exemplo: as Secretarias municipais e estaduais de saúde, as Agências reguladoras, como a Agência Nacional Suplementar de Saúde (ANS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Ministério da Saúde, os Conselhos, como o Conselho Nacional de Saúde (CNS), o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) e o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Nesse nível de gestão todas as decisões de incorporação, modificação ou desinvestimento de tecnologias devem ser sustentadas por diferen- tes estudos de avaliação de tecnologias em saúde (ATS). Veremos mais sobre este assunto adiante. Por exemplo, vejamos a seguinte situação: o Ministério da Saúde incorporou a técnica de facoemulsificação acompa- nhada da técnica de laser na cirurgia de catarata. Porém, para que essa tecnologia fosse ofertada em definitivo no rol do SUS, ela teve que primeiramente passar por diversas etapas de análise, para avaliação do mérito científico deste arsenal terapêutico da oftal- mologia. Essa análise de mérito científico adota o conceito da Medicina 9 Baseada em Evidências (MBE), mas não será visto neste curso. Essa incorporação na tabela SUS, em linhas gerais, visa garantir que o pacien- te que procurar os serviços médicos pertencentes à rede pública do SUS poderá ser, de fato, beneficiado pelastecnologias incorporadas. Considerando que o Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS) tenha habilitação para realizar tal procedimento, os custos serão arcados ini- cialmente pelo mesmo e, somente após o envio da guia para reembolso ao Ministério da Saúde, que o Estabelecimento será efetivamente reem- bolsado. É importante ressaltar, caro estudante, que esse valor de reem- bolso é guiado pela tabela SIGTAP, conforme podemos ver pelo modelo de tabela apresentado. Figura 2 - Modelo de tabela de procedimento para cirurgia de catarata Fonte: Ministério da Saúde. É interessante que você note que nessa tabela temos os custos divididos, em serviço hospitalar e serviço profissional. O serviço hospitalar contem- pla os materiais utilizados no procedimento, como os gastos com ener- gia elétrica, gases medicinais, anestésicos, água e os descartáveis, tais como: agulhas, fio cirúrgico, gazes, esparadrapos, luvas, entre outros, além do valor de uso da sala. Já o custo relacionado ao serviço profissio- nal está vinculado aos honorários dos envolvidos neste procedimento. Assim, para o procedimento de Cirurgia de Catarata Congênita, o SUS reembolsará o EAS no valor total de R$895,16. Não entraremos no mérito aqui, se esse valor de reembolso é compatí- vel ou não com os gastos efetuados, pois o importante mesmo é chamar atenção de vocês sobre os diversos níveis de gestão em saúde pública e seus diversos atributos. • Meso: nesta perspectiva estão contemplados todos os EAS, sejam eles da rede pública, filantrópica ou privada. 10 Agora, faça uma reflexão e tente citar alguns exemplos de EAS classifi- cados como MESO. Pensou? Se você citou os hospitais, clínicas, centro de especialidades, policlínicas, entre outros estabelecimentos, parabéns, você compreendeu bem o conceito de dimensão da gestão! Como nosso sistema público de saúde é descentralizado, ou seja, se a gestão da sua unidade resolver adotar algum tipo de serviço em saúde antes que o Ministério da Saúde aprove a sua cobertura no rol do SUS, e considerando que ela assuma todos estes custos, não há problema algum, isto é permitido e é possível. Mas, é importante lembrar que os produtos a serem utilizados neste novo procedimento a ser incorporado pelo município ou Estado devem ter registro sanitário na ANVISA, exceto quando se tratar de pesquisa e, mesmo assim, também deve atender uma série de orientações éticas e legais para esse fim. Enfim, é importante observar que neste nível de gestão, a perspectiva é dos serviços, ou seja, o gestor deve ter como norte para suas decisões o público do seu EAS, a natureza jurídica da sua Instituição, os vínculos com os demais órgãos federais ou estaduais, para, então, compreender quais são os convênios, modalidades de financiamento que se aplicam. • Micro: nessa dimensão, a gestão atua de modo mais específica, ou seja, com públicos selecionados, como por exemplo, os pacientes acometidos por doenças raras, ou seja, os casos de saúde excepcionais, onde as deci- sões não levam em consideração tamanhos amostrais estatisticamente significantes. No âmbito da gestão pública, os maiores desafios estão na judicialização, reflexo do número pífio de recursos tecnológicos ofertados pelo mercado, ocasionando, então, em um monopólio por parte de alguns ‘players” da indústria e, consequentemente, elevando o seu custo para aquisição provocado principalmente pelas patentes conquistadas por seus desenvolvedores. ? Você pode estar pensando, mas onde isso se reflete na gestão dos equipamentos para saúde? Assim como nas demais dimensões de gestão, nesta há determinados tipos de patologias raras que requerem tecnologias personalizadas, ou equipamentos dedicados, para os quais, muitas vezes, não há o proce- dimento e nem o produto ainda disponível para comercialização. E você, prezado (a) estudante, em conjunto com uma equipe clínica, eventual- mente será desafiado a buscar tais informações acerca da tecnologia antes de fazer o pleito aos órgãos competentes para o seu registro e/ou incorporação do procedimento, se assim o desejar. 11 Você sabia que recentemente a ANVISA colocou em consulta pública a RDC nº 305, de 24 de setembro de 2019, que dispõe sobre requisitos para fabricação, comercialização, importação e exposição ao uso de dispositivos médicos personalizados? Você sabia? Pois é, percebam, então, que a gestão no nível micro, embora menos pre- sente que nos demais níveis, também requerem atenção por parte dos gestores, uma vez que é sabido que os processos judiciais que envolvam as doenças raras são cada vez mais presentes diante do pouco acesso ou nenhum acesso a essas tecnologias pela maior parte da população. FINANCIAMENTO NO SUS É importante que conheçam como se constitui o sistema de financia- mento público no SUS, de modo que compreendam como se procedem as solicitações e os respectivos modus operandi desse processo. Vimos anteriormente, os diferentes níveis de perspectiva na gestão da saúde na esfera pública e, vimos também que a estrutura institucional e decisória do SUS é pensada dentro dos princípios da descentralização, distribuição de competências e participação da comunidade, advindas da Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90) e que estabelece as responsa- bilidades e diretrizes a serem cumpridas por cada gestor nas esferas federal, estadual e municipal. De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS, cada ente Federado seguirá um rito para a tomada de decisão conforme podemos ilustrar abaixo. Figura 3 - Diagrama da estrutura administrativa nos diversos âmbitos da gestão Fonte: CONASS (2016). 12 A Constituição Federal (CF) de 1988, em seu artigo nº55, diz ainda, que até que seja aprovada a lei de diretrizes orçamentárias, trinta por cento (30%) do orçamento da Seguridade Social, excluído o seguro desempre- go, deverão ser obrigatoriamente destinados ao setor da saúde. Não obstante no artigo nº198, parágrafo 3, traz: § 3º A Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º; II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal. Todavia, sabe-se que essa determinação constitucional nunca foi efe- tivamente cumprida, mesmo com a aprovação da lei orgânica do SUS, em 1990. Recentemente, em 13 de janeiro de 2012 foi publicada a Lei Complementar nº141 que regulamentou o parágrafo terceiro do artigo 198 da C.F. para dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públi- cos de saúde; e ainda estabeleceu os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e con- trole das despesas com saúde nas três esferas de governo; entre outras providências (BRASIL, 2012). Veja a Lei Complementar 141/2012 na íntegra no link: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp141.htm Saiba mais http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp141.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp141.htm 13 Na metade da década de 90, do século passado, houve um amplo movi- mento pela aprovação de uma Emenda Constitucional1, que fixasse defi- nitivamente patamares mínimos e regras do financiamento do SUS. Na sequência, a Emenda Constitucional nº 29 (EC 29), de 13 de setembro de 2000, determinou a vinculação e estabeleceu a base de cálculo e os per- centuais mínimos de recursos orçamentários que a União, os Estados, Distrito Federal e Municípios são obrigados a aplicar em ações e serviços públicos de saúde. Segundo a EC 29, os Estados mantêm-seobrigados a investir 12% da arrecadação com impostos e os municípios 15%. No caso da União, as bases de cálculo foram revisadas pela Emenda Constitucional nº 86 (EC 86), de 17 de março de 2015. Desde então, o investimento está vinculado a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro. O percentual mínimo a ser aplicado será aumenta- do progressivamente, iniciando-se em 13,2% no primeiro ano até alcan- çar o percentual de 15% a partir do 5º ano. Entretanto, para que aconteçam transferências, regulares ou eventuais, da União para os estados, os municípios e o Distrito Federal, as mesmas estão condicionadas à contrapartida destes níveis de governo, em confor- midade com as normas legais vigentes (Lei de Diretrizes Orçamentárias entre outras). Além disso, novas regras sobre o financiamento e a transferência dos recursos federais para as ações e os serviços públicos de saúde do SUS foram anunciadas no dia 24 de abril de 2020, onde foi publicada a Portaria nº 828 GM/MS (BRASIL, 2020) que altera a Portaria de Consolidação nº 6/GM/MS de 28 setembro de 2017, a qual contemplava o conteúdo da Portaria nº 3992/2017 acerca do financiamento e da transferência dos recursos federais aos demais entes federados, destinados a execução das ações e os serviços públicos de saúde. Essa nova portaria estabeleceu novos Grupos de Identificação para transferências federais de recursos da saúde, e alterou a nomenclatu- ra dos Blocos de Financiamento. Portanto, a partir de maio de 2020 os recursos do Ministério da Saúde, destinados a despesas com ações e serviços públicos de saúde, a serem repassados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, passarão a ser organizados e transferidos na forma dos seguintes blocos de financiamento: I - Bloco de Manutenção das Ações e Serviços Públicos de Saúde; 1 Emenda Constitucional é uma modificação da constituição de um Estado, resultando em mudanças pontuais do texto constitucional, as quais são res- tritas a determinadas matérias, não podendo, apenas, ter como objeto a abolição das chamadas cláusulas pétreas. (https://dicionariodireito.com.br/ emenda-constitucional) 14 II - Bloco de Estruturação da Rede de Serviços Públicos de Saúde. Os recursos que compõem cada Bloco continuarão sendo transferidos, fundo a fundo, de forma regular e automática, em conta corrente espe- cífica e única para cada Bloco e mantidas em instituições financeiras ofi- ciais federais. A condição para que haja essa transferência continua sendo respaldada pela LC 141/2012 que já vimos anteriormente. Vale lembrar também que os recursos que compõem cada Bloco de Financiamento devem ser aplicados em ações relacionadas ao próprio Bloco, ou seja: I. As ações devem constar no Plano Municipal de Saúde e na Programação Anual de Saúde do Município submetidos ao respectivo Conselho de Saúde; II. Cumprimento do objeto e dos compromissos pactuados e/ou estabe- lecidos em atos normativos específicos, tais como as portarias e resolu- ções da CIT e das CIBs, expedidos pela direção do SUS; III. Vinculação com os programas de trabalho previstos no Orçamento geral da União, ao final do exercício financeiro. 15 Figura 4 - Representação ilustrativa dos Grupos de Identificação Fonte: Autoria própria. Os incentivos destinados à aquisição de equipamentos médico-hospi- talares são enquadrados no Bloco de Estruturação da Rede de Serviços Públicos de Saúde, conforme descrito a seguir: I. Aquisição de equipamentos voltados para a realização de ações e ser- viços públicos de saúde; II. Obras de construções novas ou ampliação de imóveis existentes utili- zados para a realização de ações e serviços públicos de saúde; III. Obras de reforma de imóveis já existentes utilizados para a realização de ações e serviços públicos de saúde. Agora que vocês já sabem como se constitui a estrutura que organiza o financiamento do SUS, vamos ver de que forma ocorrem esses repasses financeiros. 16 TIPOS DE REPASSES Ei, você que está aqui, estudando com a gente, sabe me dizer o que são repasses? De maneira sucinta, podemos dizer que repasses são as transferências financeiras previstas na CF e integram a distribuição de recursos prove- nientes da arrecadação de tributos federais ou estaduais, aos Estados, Distrito Federal e Municípios, com base em dispositivos constitucionais. Em suma, significa que os impostos, alíquotas ou taxas pagas por cada cidadão de acordo com a legislação poderão ser aplicadas em áreas sociais, como educação, segurança e saúde. E esses recursos advindos dessas arrecadações poderão ser utilizados através do mecanismo de repasse. O Ministério da Saúde, por meio de portarias, instituiu as Normas Operacionais Básicas (NOB’s) para definir a competência de cada ente federativo na gestão e financiamento, além de garantir a efetividade da implantação do SUS. Essas normas definem critérios para que estados e municípios volunta- riamente se habilitem a receber repasses de recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) para seus respectivos fundos de saúde. Há três tipos de repasses desses recursos aos entes federativos: 17 18 Ao final do exercício, para as transferências Fundo a Fundo devem demonstrar o cumprimento das metas estabelecidas junto ao Ministério da Saúde, em conformidade com o Programa de Trabalho do Orçamento Geral da União que originou o repasse dos recursos. Esse procedimento é necessário, pois o Programa de Trabalho do Orçamento Federal que originou o repasse gera a vinculação dos recursos repassados. Atenção! Procedimentos da Tabela SUS e Lista de produtos financiáveis pelo SUS Agora que você já conhece as modalidades de repasses de recursos para investimentos em saúde e compreende como é constituído a estrutura de financiamento, vamos apresentar o rol de serviços financiados pelo SUS, assim como, quais são os bens financiáveis e a relação com as ações e os serviços essenciais ofertados. Como já é sabido, o SUS é descentralizado, ou seja, cada ente da federa- ção poderá assumir a incorporação de uma nova tecnologia mesmo que essa ainda não esteja coberta pela tabela SUS. Outro aspecto importante que você precisa conhecer se refere ao fato de termos em nosso sistema dois modelos de incorporação, o primeiro que tem como base, o processo de incorporação de um bem material, isto é, os equipamentos médico-assistenciais e o outro modelo baseado na incorporação do procedimento que pode ser um exame, uma inter- venção terapêutica ou uma reabilitação. Para facilitar o entendimento acerca dos modelos de incorporação exis- tentes, vamos classificá-los da seguinte forma: recursos de capital e recursos de custeio. • Recursos de capital, são conhecidos também como investimento, são recursos aplicados no patrimônio, tais como obras, construções, instalações e aquisição de equipamentos e materiais permanentes que são incorpora- dos(UFBA, 2020); • Recursos de custeio, são aqueles aplicados nas despesas com contratos de prestação de serviços, aquisição de materiais de consumo etc (UFBA,2020). 19 Os recursos de capital que abordaremos neste curso são os equipamen- tos médico-assistenciais e seus respectivos correlatos. Antes de aden- trarmos nas listas de financiamento e tabelas de cobertura é crucial que vocês entendam que a primeira etapa neste processo de oferta de tec- nologias em saúde ao SUS e também ao mercado privado ocorre atra- vés do registro sanitário2 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que irá conferir autorização para comercialização dos produtos para saúde em todo território nacional. Lembrem-se que os gestores da saúde, além de investirem recursos financeiros com investimentos em capital, devem também se atentar aos recursos de custeio (honorários dos profissionais, locação/utilização do espaço para realização do serviço, consumo de descartáveis, energia elétrica, serviços terceirizados, insumos médicos, entre outros). Vocêjá imaginou quanto custa para o EAS a realização de uma cirurgia que já tem todos os equipamentos adquiridos? E se posteriormente hou- ver uma internação em enfermaria ou em unidade de terapia intensiva (UTI), ou até mesmo necessitar de procedimentos complementares, por exemplo? Figura 5 - EMA e suas interfaces Fonte: pt.pngtree.com e br.freepik.com 2 Registro sanitário: O registro é o ato legal que reconhece a adequação de um produto à legislação sanitária, e sua concessão é dada pela Anvisa. É um con- trole feito antes da comercialização, sendo utilizado no caso de produtos que possam apresentar eventuais riscos à saúde. 20 Observe que dependendo da tecnologia avaliada, poderá ter mais de um procedimento médico relacionado ao mesmo equipamento e, então, poderá gerar mais de um reembolso. Por exemplo: os equipamentos de diagnóstico por imagem (ultrassom, aparelhos de raios x, ressonância nuclear magnética) possuem diversas indicações e, para cada indicação haverá um valor de remuneração diferente na tabela SUS. Veja a seguir os exemplos: Figura 6 - Ficha de procedimento de ultrassonografia transesofágica coberto no SUS Fonte: Ministério da Saúde 21 Figura 7 - Ficha de procedimento coberto no SUS Fonte: Ministério da Saúde Note que foi usada a mesma tecnologia (ultrassom para diagnóstico), contudo por serem procedimentos distintos (ecocardiografia transeso- fágica e ultrassonografia de aparelho urinário), temos uma diferença de R$140,80 (cento e quarenta reais e oitenta centavos).Outro aspecto importante para ser considerado é que atualmente com a implementa- ção da “Relação Nacional de Equipamentos e Materiais Permanentes finan- ciáveis para o SUS” (RENEM) só ocorre o financiamento do equipamento médico se o seu procedimento já estiver incorporado na tabela de pro- cedimentos do SUS. A RENEM foi criada por meio da Portaria GM/MS nº 3134, de 17 de dezem- bro de 2013 (BRASIL, 2013), para administrar os itens financiáveis para o Sistema Único de Saúde (SUS) e padronizar suas nomenclaturas per- mitindo a efetiva gestão dos mesmos. Os itens contidos na RENEM são classificados como Equipamentos Médico-Hospitalares e/ou Materiais Permanentes e devem se enquadrar nos critérios estabelecidos pela Portaria STN 448/2002, na qual são considerados aspectos como a dura- bilidade, perecibilidade, fragilidade, incorporabilidade e transformabili- dade dos materiais permanentes. Veja na figura abaixo uma parte da composição desta lista. Você pode obter esta lista completa no portal do Fundo Nacional ou através do link https://portalfns.saude.gov.br/renem/ https://portalfns.saude.gov.br/renem/ 22 Figura 8 - Relação de alguns equipamentos cadastrados na RENEM Fonte: FNS. Os itens relacionados na RENEM são disponibilizados para o cadastra- mento de propostas de projetos de acordo com o tipo de Estabelecimento Assistencial de Saúde (EAS) e seus respectivos ambientes organiza- dos pelo Sistema de Informação e Gerenciamento de Equipamentos e Materiais (SIGEM). Veja a seguir o layout do SIGEM. 23 Figura 9 - Tela de pesquisa de equipamentos do SIGEM Fonte: FNS. Embora exista o financiamento desses equipamentos listados na RENEM, para que haja aprovação das propostas pleiteadas pelos gestores, deve- rão antes obedecer a alguns critérios de elegibilidade, de modo que, quando solicitados serão avaliados quanto à sua admissibilidade antes da liberação dos recursos. E você deve estar se perguntando, quais são estes critérios avaliados em relação ao mérito e que são empregados pelos gestores do SUS na apre- ciação das propostas? Citaremos alguns deles a seguir: • Habilitação do serviço no EAS compatível com o que está sendo solicitado pelo proponente (Ex: Cardiologia, Neurologia, Ortopedia); • Área física e infraestrutura em conformidade com as normativas técnicas vigentes; • Corpo técnico de profissionais de acordo com o estabelecido pelos órgãos profissionais competentes; 24 • Dados epidemiológicos da região; • Se o procedimento que inclui esse equipamento já está incorporado na tabela SUS; • Se o procedimento médico já está aprovado pelo Conselho Federal de Medi- cina (CFM), conforme Resolução CFM Nº 1.982/2012. Você pôde compreender que embora haja uma lista de itens financiáveis pelo SUS, a sua obtenção está condicionada ao cumprimento de algumas exigências citadas anteriormente. Essa etapa de julgamento dos pleitos é conhecida como análise de mérito ou admissibilidade na gestão macro e é fundamental para reduzir repasses de recursos de investimentos que são considerados improcedentes ou mesmo não aplicáveis para as finalidades apresentadas. Para que essas análises sejam realizadas há diversos sistemas de infor- mação em saúde que são utilizadas como ferramentas de pesquisa para a análise de mérito. Citaremos alguns mais usados a seguir: Figura 10 - Representação ilustrativa dos sistemas de informação em saúde Fonte: Autoria própria. Após você estudar sobre o financiamento dos equipamentos em saúde e dos procedimentos, além de aprender sobre a análise de mérito, supo- nho que você gostaria de saber agora que tipo de análise é feita para inclusão, modificação ou exclusão destes procedimentos da tabela SUS. Veremos esse assunto no próximo capítulo. 25 CONCEITOS BÁSICOS DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE (ATS Você já se deparou com a necessidade de avaliar uma tecnologia em saúde? Como você fez ou irá fazer essa avaliação? Qual tecnologia em saúde foi avaliada ou será avaliada por você? Como você obteve infor- mações ou obterá as informações para realizar essa avaliação? Perceba que muitas são as questões que pairam sobre o assunto Avaliação de Tecnologia em Saúde (ATS). Isso se deve principalmente pelo fato que uma avaliação per si, pode ser feita de diversos modos. Veja, então, que a ação de avaliar pode depen- der do contexto que você está situado, do público que irá usufruir e até mesmo de quem demandou essa avaliação (AUGUSTOVSKI, 2009). Considerando que o enfoque são os equipamentos de saúde é importan- te compreender que essas tecnologias podem ser avaliadas sob diversos “olhares”. Ela pode ser avaliada sob o olhar da manutenção, pela equipe de Engenharia Clínica, sob o olhar da sua utilização através dos profissionais da saúde, sob o olhar da sua performance clínica por meio dos pesquisadores ou mesmo, sob o olhar da economicidade através dos gestores públicos. Cada ator desse processo pode construir uma avaliação diferente para a mesma tecnologia alvo, que no caso são os equipamentos de saúde. As avaliações podem ser referentes aos seguintes aspectos: manutenção do equipamento, questões relacionadas ao manuseio e ergonomia, a efi- cácia e segurança durante os experimentos clínicos e, também, ao custo efetividade. Assim, se juntarmos todas essas avaliações isoladas em um único estudo podemos denominá-lo, como um estudo de avaliação de tecnologias em saúde para os equipamentos de saúde. Segundo a Sociedade Internacional de Avaliação de Tecnologias em Saúde (HTAi), ATS é um campo de investigação científica para assistir à tomada de decisões políticas e clínicas sobre a inserção e utilização de tecnologias em saúde. As tecnologias em saúde incluem produtos far- macêuticos, dispositivos, diagnósticos, procedimentos e outras interven- ções clínicas, de saúde pública e organizacional. Este é um campo multidisciplinar que aborda os impactos clínicos, econômi- cos, organizacionais, sociais, legais e éticos de uma tecnologia, consideran- do seu contexto específico de saúde, bem como as alternativas disponíveis. O escopo e os métodos de ATS podem ser adaptados às necessidades de um determinado sistema de saúde, mas os processos e os métodos de ATS devem ser transparentes, sistemáticos e rigorosos (BRASIL, 2009). 26 Uma das abordagens da ATS está no uso da Saúde Baseada em Evidências (SBE), área do saber que explora as evidências científicas de eficácia, efe- tividade e segurançade uma determinada tecnologia agregada a uma avaliação econômica em saúde, como custo efetividade por exemplo para investigar os desfechos mais importantes para aquilo que ela se propõe (BOSI, 2017). MARCOS NORMATIVOS NA GESTÃO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE NO ÂMBITO DO SUS Vamos iniciar esse tópico apresentando um dos primeiros grandes avan- ços no SUS, no que tange a gestão de tecnologias em saúde. PODCAST- Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde (PNGTS) Veja na figura a seguir, a ilustração do mapa do Brasil com a Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS) e seus res- pectivos membros distribuídos nos Estados. Figura 11 - Distribuição geográfica dos membros da REBRATS Fonte: REBRATS (https://rebrats.saude.gov.br/membros) https://rebrats.saude.gov.br/membros 27 Esses membros participam dos editais que são fomentados pelos órgãos do governo, como agências de fomento e ministérios e, então, produ- zem diversos tipos de estudos, como: avaliação econômica, impacto orçamentário, monitoramento do horizonte tecnológico (MHT), parece- res técnico científicos, revisões sistemáticas e avaliação de equipamen- tos médico-assistenciais. O conjunto destas análises constituirá em uma Avaliação de Tecnologias em Saúde. Esses estudos podem subsidiar muitos gestores durante os processos de tomada de decisão. Para cada tipo, há um guia metodológico que orienta como deve ser feito a elaboração deste estudo. Entre esses, há um guia que norteia o pesquisador a desenvolver um estudo de ATS para avaliação de equipamento médico assistencial. Figura 12 - Diretriz metodológica para elaboração de estudos para avaliação de equipamentos médico-assistenciais Fonte: REBRATS. 28 No Brasil, o órgão responsável do governo que assume as competências para realizar as atividades de avaliação das tecnologias que estão sen- do pleiteadas pela sociedade, academia, indústria ou por um grupo de pacientes é o Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias (DGITS). O DGITS é a secretaria executiva da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) e essa comissão integra diversas secretarias finalísticas do Ministério da Saúde, assim como, a ANVISA, ANS, CFM, CNS entre outros (BRASIL, 2011). Essa comissão tem como uma das suas principais atribuições apreciar os pleitos de incorpo- ração, modificação e exclusão da tecnologia. Não obstante esses procedimentos que estão sendo avaliados, em sua gran- de maioria, podem também estar inseridos em protocolos clínicos de diretri- zes terapêuticas (PCDTs) ou diretrizes diagnósticas e terapêuticas (DDT). PCDTs são documentos que estabelecem critérios para o diag- nóstico da doença ou do agravo à saúde; o tratamento preco- nizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando couber; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores do SUS. Este deve ser baseado em em evidência científica e con- siderar critérios de eficácia, segurança, efetividade e custo-e- fetividade das tecnologias recomendadas.( http://conitec.gov. br/index.php/protocolos-e-diretrizes ) As Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas (DDT) em Oncologia são documentos baseados em evidência científica que visam nortear as melhores condutas na área da Oncologia. A principal diferença em relação aos PCDT é que, por conta do sistema diferenciado de financiamento dos procedimentos e trata- mentos em oncologia, este documento não se restringe às tecnologias incorporadas no SUS, mas sim ao que pode ser oferecido a este paciente, considerando que o financiamento é repassado como procedimento para o atendimento aos cen- tros de atenção e a autonomia destes na escolha da melhor opção para cada situação clínica. ( http://conitec.gov.br/index. php/protocolos-e-diretrizes ) Esses documentos acompanham os guidelines internacionais, buscando as melhores condutas médicas para um determinado problema de saú- de e são fundamentados nas melhores evidências científicas disponíveis e atualizados periodicamente pela CONITEC. O objetivo principal é orien- tar os profissionais de saúde sobre quais são as condições para escolha desta ou daquela tecnologia, enfim, uma série de algoritmos que orien- tarão os profissionais na perfeita prescrição médica. http://conitec.gov.br/index.php/protocolos-e-diretrizes http://conitec.gov.br/index.php/protocolos-e-diretrizes http://conitec.gov.br/index.php/protocolos-e-diretrizes http://conitec.gov.br/index.php/protocolos-e-diretrizes 29 Vale a pena, também, frisar que os gestores estaduais e municipais pode- rão estabelecer os seus próprios protocolos, desde que respeitados os princípios da ética profissional e a observância das evidências científi- cas disponíveis. Abaixo temos um exemplo do volume 1, do manual de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas do Ministério da Saúde (MS), elaborado pela Secretaria de Atenção Especializada (SAES). Figura 13 - PCDT do Ministério da Saúde -Volume 1 Fonte: Ministério da Saúde Vimos aqui então os principais marcos normativos na gestão de tecnolo- gias em saúde no âmbito do SUS. Em nossa próxima aula, estudaremos os conceitos básicos da tecnologia que estamos estudando neste curso, os EMAs. Bons estudos!!! 30 AULA 2 - EQUIPAMENTOS MÉDICO-ASSISTENCIAIS (EMAs) CONCEITOS BÁSICOS DE EMAS Olá, agora nós vamos estudar o objeto do nosso curso que são os equi- pamentos médico-assistenciais (EMAs). Você provavelmente trabalha, ou pretende trabalhar com essas tecnologias, certo? Mas o que você sabe sobre essas tecnologias? E, na sua opinião, o que um gestor deveria conhecer acerca desses ativos, que representam um impacto financeiro importante no orçamento de uma instituição de saúde? A seguir iremos apresentar, as principais características desse grupo de tecnologias, suas legislações aplicáveis, seus principais cuidados, entre outros aspectos importantes que vocês devem ter conhecimento para executar uma boa gestão. A medicina tem evoluído bastante nas últimas décadas e não há como pensarmos em uma assistência à saúde de boa qualidade e com menor exposição aos riscos sem o emprego das tecno- logias disponíveis hoje. Ademais, podemos dizer que dentre essas tecnologias existentes, os “equipamentos médico-assistenciais” merecem destaque, devido princi- palmente à sua grande importância no tratamento, diagnóstico e reabili- tação de enfermos. A evolução tecnológica destes produtos é constante e isso ocorre muito em função dos avanços obtidos no campo da micro- eletrônica, tecnologias de informação e comunicação (TICs), tecnologias de automação e controle, redes neurais, sistemas machine learning3, computação em nuvem, entre outros. Entretanto, esses gadgets no seu cerne obedecem a um princípio básico da Instrumentação Biomédica, que pode ser representado pela ilustra- ção a seguir: FIGURA INTERATIVA 1 - Representação esquemática básica de um sistema de instrumentação biomédica Agora que você já sabe como esses equipamentos funcionam e são constituídos, veremos a seguir como eles podem ser classificados. 3 Machine learning é um método de análise de dados que automatiza a constru- ção de modelos analíticos. 31 CLASSIFICAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS PARA SAÚDE Produtos para saúde envolvem uma série de conhecimentos advindos principalmente das Ciências Exatas e Biológicas e, correspondem a uma representação bastante significativa do arsenal de tecnologias em saúde existente. Você saberia como classificá-los? Essa classificação pode ser feita de diferentes formas e isso irá depender do autor ou do documento estudado. Podemos por exemplo agrupá-los segundo sua aplicação, nas seguintes categorias: diagnóstica, terapêuti- ca, assistiva/assistência, de monitoramento e apoio. FIGURA INTERATIVA 2 – Classificação dos Equipamentos para saúde Na literatura internacional, os equipamentos médico-assistenciais(EMAs) estão classificados dentro de um grupo maior de tecnologias, representado pelos dispositivos médicos (medical devices). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) esse grupo inclui desde equipa- mentos médicos computadorizados altamente sofisticados até simples abaixadores de língua de madeira. No Brasil, também temos um agrupamento dessas tecnologias que foi estabelecido através da Resolução Diretiva Colegiada (RDC) nº509 de 27 de maio de 2021 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2021). Na Seção 3 dessa resolução veremos alguns exemplos dessas definições: FIGURA INTERATIVA 3 – Classificação dos Equipamentos – RDC nº509 de 27 de maio de 2021 Para nosso curso, o subgrupo ao qual nos concentraremos são os deno- minados “equipamentos médico-assistenciais” que estão representados também no grupo de equipamentos de saúde e, quando se refere ao registro para comercialização, eles estarão representados pelo grupo produtos para saúde. Imagino que você deve estar agora também se perguntando, qual é a área da ciência que abrange esse conhecimento? Esta área é a Engenharia Biomédica. 32 Quer saber mais sobre a história da Engenharia Biomédica? É só ouvir o podcast a seguir: PODCAST – História da Engenharia Biomédica Escutou? Agora pode estar se perguntando: e a Engenharia Clínica, onde foi parar? A Engenharia Clínica é uma das subáreas da Engenharia Biomédica que se relaciona às atividades de gestão do ciclo de vida dos EMAs nos EAS, como: a certificação metrológica através de ensaios em equipamentos médicos; o suporte nos processos de tomada de decisão, seja na aquisi- ção ou alienação de equipamentos; a investigação de eventos adversos com os equipamentos, assim como, no programa de educação perene das equipes assistenciais que manuseiam as tecnologias e das equipes técnicas que garantem sua funcionalidade. A seguir veremos quais são as peculiaridades destes produtos para saú- de e que, vocês devem conhecer para que saibam quais medidas impor- tantes devem ser tomadas para cada condição apresentada. 33 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS IMPORTANTES NA GESTÃO DOS EMAS Neste tópico vamos apresentar a você algumas particularidades de maior importância para os EMAs que deverão ser consideradas na gestão des- tes ativos. Sabe-se que, algumas aquisições são feitas tendo como base esses aspectos que estudaremos a seguir, uma vez que impactam dire- tamente no seu custeio e, de certa forma, influenciam até mesmo na gestão dos recursos humanos. Vocês vão notar que por mais que você já tenha atuado na gestão de outras tecnologias em saúde, quando o assunto são os EMAs, outras informações devem ser observadas. RESÍDUOS GERADOS Você já parou para pensar sobre a quantidade de insumos que são des- cartados a cada procedimento realizado com determinado tipo de EMA? E esse insumo é descartado de que forma? Tem como aproveitar esse resíduo para outro fim? Qual é o custo necessário para tratar esse resí- duo gerado? Há normativas acerca deste assunto? Muitas perguntas nos cercam, não é mesmo? E o meio ambiente volta a ser o protagonista nesse assunto, além, é claro, da saúde dos profissio- nais e pacientes que estão expostos aos resíduos gerados, não é mesmo? O Plano de Gestão de Equipamentos Médico-Assistenciais deve procurar compor e contribuir com os procedimentos estabelecidos pelo Plano de Gestão de Resíduos dos Serviços de Saúde (PGRSS) do Estabelecimento de Assistência em Saúde. Caso seja produzido resíduo pelos equipamen- tos, logo devem estar submetidos aos protocolos elaborados em conjun- to com os fornecedores. A legislação pertinente a resíduos sólidos de saúde (RSS) está estabele- cida pela RDC 222/2018 e pela Resolução CONAMA número 358/2005 e dentre os destaques temos: como deve ser feito a segregação, o acondi- cionamento, a identificação, a coleta, o transporte interno, o armazena- mento interno temporário e externo. Assim como: a coleta, o transporte externo e a destinação dos resíduos. Além disso, a resolução ainda traz como são classificados os resíduos quanto aos seus tipos. 34 Quer explorar mais sobre esse tema, acesse aqui as legislações na íntegra: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=102253 e também a http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/phoca- download/Noticias/2018/GESAM/02_rdc_222_2018.pdf Saiba mais Ou seja, praticamente tudo isso que você leu, gera resíduo em saúde e deve estar enquadrado dentro das normativas. Portanto, é importante caracterizar em cada uma das atividades pres- tadas pelo EAS como se dará o destino final dos resíduos, para cada uma destas áreas, cabendo ao gestor se responsabilizar pelo seu rejeito corre- to, visto que estes rejeitos podem possuir componentes químicos, tóxicos e até radioativos, os quais quando descartados incorretamente podem gerar impactos diversos ao meio ambiente e à saúde da população. Rejeitos como a água, os reagentes usados em laboratórios, os materiais médicos descartáveis, os filmes radiográficos, as peças e componentes eletrônicos que são partes dos equipamentos e que passaram por repa- ros, são itens que precisam ser manipulados adequadamente e tratados antes de serem desprezados no meio ambiente, tendo em vista seu forte impacto contaminante ao meio ambiente. https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=102253 http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/phocadownload/Noticias/2018/GESAM/02_rdc_222_2018.pdf http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/phocadownload/Noticias/2018/GESAM/02_rdc_222_2018.pdf 35 Talvez muitos não se lembrem disso, mas há anos atrás, o município de Goiânia era atingido por aquele que foi conside- rado o maior acidente radiológico do Brasil, conforme pode ser visto na figura da capa noticiada no Jornal Correio Braziliense. A tragédia envolvendo o césio-137 deixou centenas de pessoas mortas contaminadas pelo elemento e outras tantas com sequelas irreversíveis. Figura 14 - Manchete de jornal do Correio Brasiliense em 1987 Fonte: http://www.defesanet.com.br/dqbrn/noticia/27032/ Cesio-137--O-legado-de-uma-tragédia/ Você sabia? Esse assunto é tão importante que o Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde (SOMASUS) do Ministério da Saúde criou um menu dedicado no ambiente para consulta pelos usuários. Acesse através do link: http://somasus.saude.gov.br http://www.defesanet.com.br/dqbrn/noticia/27032/Cesio-137--O-legado-de-uma-tragédia/ http://www.defesanet.com.br/dqbrn/noticia/27032/Cesio-137--O-legado-de-uma-tragédia/ http://somasus.saude.gov.br 36 Figura 15 – Tela de consulta do SOMASUS Fonte: Ministério da Saúde. Em suma, vale então frisar que toda vez que for adquirir um EMA, bus- que informações sobre os resíduos que são gerados por ele, como eles devem ser descartados e, se o EAS tem infraestrutura física e tecnológica em conformidade para esta finalidade. Ergonomia e usabilidade Outras particularidades importantes a serem estudadas para esse grupo de tecnologias em saúde são as questões de ergonomia e usabilidade e que, por muitas vezes, não são avaliados, ou então, são avaliados sem a prioridade necessária, por não serem considerados importantes duran- te o processo de aquisição. Mas, antes de adentrarmos nesse assunto, você saberia me dizer o que é ergonomia? E usabilidade? Já ouviu esses termos antes? Então vamos aos conceitos sobre estes dois assuntos: Segundo Alexandre (1998); Petzhold e Vidal (2003) a ergonomia é o estudo da relação entre o homem e seu ambiente propriamente dito, assim como, os instrumentos, as máquinas, o mobiliário, os métodos e a organização do trabalho. Imagine um profissional de saúde que exer- ce sua função laboral por 8 horas e necessita em boa parte desse tem- po deslocar caixas de instrumentais cirúrgicos da Central de Material e Esterilização que fica em um andar diferente do Bloco Cirúrgico. Provavelmente seu rendimento profissional será reduzido e possivelmen- te poderá sofrer algum problemade saúde a longo prazo, comprometen- do sua rotina desse serviço. Medidas relativamente simples, como a ins- talação de uma monta carga através de um elevador ou um sistema de transporte por meio de esteiras poderia aperfeiçoar todo esse processo. 37 É sabido que um número significativo de profissionais se afasta por pro- blemas de saúde ocupacionais, muitas vezes, justificados pela fadiga e o estresse causado por diversas situações, onde alguns equipamentos ao serem manuseados exigem esforços intensos e repetitivos, além de provocar maiores chances de ocasionar acidentes. De acordo com a NR-17 a análise do ambiente de trabalho deve considerar os aspectos, como: • Levantamento, transporte e descarga individual de materiais; • Mobiliário do posto de trabalho; • Equipamentos nos postos; • Condições ambientais; • Organização do trabalho; • Capacitação dos trabalhadores; • Condições sanitárias de conforto; • Programas de saúde ocupacional e de prevenção de riscos ambientais; • Disposições transitórias. A NR 17 trata sobre a ergonomia no trabalho e tem como objetivo proporcionar o conforto, diminuir os riscos de lesões dos profissionais e aumentar a produtividade (ABNT). Se observarmos os equipamentos médicos mais antigos e comparar- mos hoje com os equipamentos médicos disponíveis vamos notar que mudanças importantes foram realizadas pelos fabricantes no projeto, de modo a mitigar os problemas relacionados a ergonomia. Cada vez mais compactos, mais leves, permitindo assim maior facilidade no seu transporte, além de disporem de mais tecnologias para movimentos, como são os casos, por exemplo, das camas hospitalares, que antes pre- via apenas o seu funcionamento mecânico e os movimentos como de elevação e descida eram feitos por meio de manivelas, hoje, contam com sistemas eletromecânicos acionados por controle remoto. Veja abaixo a evolução da tecnologia no quesito ergonomia apresentado pela cama hospitalar. 38 Figura 16 - Cama hospitalar mecânica com sistema de elevação mecânico por meio de manivelas Fonte: RC móveis hospitalares. Figura 17 - Cama hospitalar eletromecânica com sistema de elevação através de controle remoto Fonte: OLX. Agora que já estudamos o conceito de ergonomia, vamos compreender sobre o conceito de usabilidade. A usabilidade é descrita pela literatura científica como uma característica do fator humano relacionada à facili- dade no seu uso, efetividade, eficiência e satisfação do usuário, além do que deve ser considerada desde o início do desenvolvimento do produto. 39 Se formos elencar quais são as variáveis de medida de usabilidade mais empregadas, em conformidade com a International Standard Organization (ISO) são: efetividade, eficiência e satisfação. Uma maneira de permitir que essas variáveis sejam melhor compreendidas pode ser obtida atra- vés de um questionário, como este abaixo: • O menu é de fácil compreensão e está legível? • Os comandos do equipamento são fáceis de operar? • O equipamento apresenta sequência de funções para seu manuseio com segurança? • Os comandos para utilização do equipamento são fáceis de aprender? • As teclas e botões de comando do equipamento apresentam claramente qual o seu objetivo? Considerar esses fatores pode minimizar de forma significativa a postu- ra do profissional de saúde durante o atendimento aos pacientes, bem como, evitar problemas de afastamento, devido a atestados médicos por lesões físicas, por exemplo. A usabilidade pode ser bem exemplificada na ilustração abaixo: Figura 18 - Exemplos de interfaces homem-máquina (painel de um avião e de um monitor) Fonte: Wdicas e aeromagazine A usabilidade também é um conhecimento fundamental durante o pro- cesso de avaliação da tecnologia, visto que o profissional de saúde deve ter claro como realizar a programação dos parâmetros dos equipamen- tos médicos, com vistas a evitar possíveis erros médicos decorrente do manuseio destes EMAs. 40 CUIDADOS NA CONSERVAÇÃO, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE Os EMAs, assim como os outros equipamentos, precisam seguir reco- mendações do fabricante acerca da sua conservação, armazenamento e como esses devem ser transportados. Todo manual de usuário forne- cido na aquisição de um equipamento fornece tais informações, a fim de garantir uma melhor conservação dos produtos e prevenir acidentes e, está amparado pela Resolução nº 30 de 15/02/2006/ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária que dispõe sobre o registro, rotulagem e reprocessamento de produtos médicos, e dá outras providências. Dependendo da constituição física do material ele pode ser esterilizado por temperatura e pressão, óxido de etileno e radiação gama. Materiais que são termosensíveis não podem ser submetidos à exposição de tem- peratura elevada, caso contrário são danificados. Dessa forma, o próprio fabricante irá informar quais são os métodos de assepsia adequados para cada item do seu produto. E você deve estar se perguntando, mas porque devo saber isso? O serviço de esterilização do seu EAS precisa conhecer o volume de materiais que serão adicionados na sua rotina após aquisição de deter- minados EMAs, uma vez que isso implica diretamente na rotina do serviço da Central de Material e Esterilização (C.M.E) e, consequente- mente, irá demandar mais saneantes além disso, a aquisição de outras máquinas utilizadas no processo de higienização destes itens deverá ser considerada. A seguir estão alguns exemplos de equipamentos de apoio utilizados no CME: Figura 19 - Relação de equipamentos utilizados na CME Fonte: Autoria própria. 41 Sobre estes equipamentos pode-se afirmar que todos são muito comu- mente utilizados em uma CME: a lavadora ultrassônica utilizada na limpeza de materiais canulados com lumens e demais produtos asso- ciados; o gabinete de secagem empregado na aeração dos circuitos res- piratórios utilizados em ventiladores pulmonares, unidades de aneste- sia e equipamentos correlatos usados em fisioterapia respiratória e, a autoclave de bancada muito utilizada nos processos de esterilização por vapor saturado. Se considerarmos que cada equipamento desses possa ser incluído no serviço que você atua, há a necessidade de se mensurar o quanto de água, energia, saneantes entre outros fatores deverão ser computados para mantê-los operantes. Figura 20 – Representação dos principais insumos utilizados pelos equipamentos de apoio médico-assistencial Fonte: Autoria própria. Além dessas questões, é importante atentar-se que em um EMA, podemos ter itens que são descartáveis e itens que são reprocessados. Desses itens reprocessados temos peças, partes aplicadas e acessórios. Atenção! 42 ACESSÓRIOS, PARTES APLICADAS E PEÇAS As partes aplicadas são produtos fabricados exclusivamente com o pro- pósito de integrar um equipamento médico, sem o qual o equipamento não exerce a sua função pretendida. Visualize nas imagens a seguir: Figura 21 - Exemplos de partes aplicadas dos EMAs Fonte: Autoria própria. De modo geral, as partes aplicadas não são descartáveis, são subme- tidas aos processos de limpeza, desinfecção e até esterilização depen- dendo do tipo de exposição. Em seguida temos as peças, que de acor- do com a instrução normativa-IN nº13 de 22 de outubro de 2009 são componentes que constituem fisicamente o equipamento, suas partes e acessórios. São exemplos de peças: cabo de conexão à rede elétrica, fontes de alimentação elétrica, placas de vídeo, de rede, componentes eletrônicos, gabinetes, fios entre outros (ANVISA, 2009). Isoladamente essas peças não são consideradas produtos médicos, logo não necessitam de registro ou cadastro na ANVISA. Salienta-se tam- bém que são itens que, de modo geral, não passam por processos de esterilização, ocorrendo somente higienização com alguns saneantes e correlatos. Figura 22 - Ilustração de peças usadas em EMAs Fonte: Autoria própria. 43 Já os denominados acessórios, de acordo com a mesma IN nº13 de 22 de outubrode 2009 são produtos fabricados exclusivamente com o propó- sito de integrar um EMA, conferindo uma característica complementar ao mesmo, mas não fundamental, ou seja, ele não é essencial. São eles: haste para suporte de soro, carrinhos para acondicionamento e trans- porte de equipamentos, estativas entre outros. Esses itens, de modo geral, também não passam pelos mesmos processos de esterilização que os EMAs, salvo em algumas exceções, como áreas de isolamento de vias aéreas, por exemplo. Figura 23 - Ilustração de acessórios usados em EMAs Fonte: Autoria própria. Outro aspecto importante a se considerar para esse grupo de tecnolo- gias se refere ao seu armazenamento e transporte. No momento da defi- nição do equipamento a ser adquirido, deve-se analisar cuidadosamente a questão referente à logística e de transporte até o local de instalação, ou seja, a possibilidade de levar o equipamento até o local a ser insta- lado e para isso deve ser considerado o peso e a dimensão do mesmo, por exemplo. Outros detalhes como vibração ou até mesmo choques mecânicos devem também ser considerados. Em todos esses casos, não tendo uma avaliação rigorosa do percurso, poderá incorrer em um aumento do custo de instalação, visto que pode ser necessário investir em meios de instalação e deslocamento da tecnologia, entre eles, como derrubar paredes ou lajes (para transportar EMAs de um andar para outro) etc. Recomenda-se que as partes do equipamento, seus acessórios e insu- mos sejam armazenados em local apropriado, fresco e arejado, em um ambiente limpo e seco com os cuidados necessários para que as embala- gens permaneçam íntegras e isentas de possibilidades de contaminação. 44 A área de armazenamento deve ter condições que permitam preservar as condições de uso das partes e os acessórios do EMA e essas devem ser ins- pecionadas com frequência para verificar qualquer potencial degradação. Figura 24 - Almoxarifado de um Hospital Fonte: IPTC Photo Metadata. Você já imaginou que uma compra de determinado produto pode ser totalmente perdida se as variáveis temperatura, umidade, aeração não forem atendidas conforme preconizada pelo fabricante dos EMAs? Pense no enorme problema que poderia causar ao EAS, caso isso viesse a ocorrer. A seguir veremos um assunto crucial para esses produtos que é a manutenção. Bons estudos. 45 AULA 3 - MANUTENÇÃO ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANUTENÇÃO DE EQUIPAMENTOS MÉDICO-ASSISTENCIAIS Estimado (a) estudante está animado para nossa aula 3? Nessa terceira aula você aprenderá sobre um assunto muito importante que diz res- peito às ações que deverão ser realizadas pelo gestor no que tange à manutenção dos EMAs. Suponhamos que algum produto que você possua (Ex: carro, TV, vídeo game, celular) e que em algum determinado momento necessite de repa- ro, esse certamente implicará em algum tipo de custo, e muitas vezes se você não se planejou e não tiver recursos para isso, ficará sem ele e isso com certeza te deixará insatisfeito, não é mesmo? Agora imagine essa mesma situação em um serviço de saúde, onde a interrupção de um equipamento poderá paralisar um serviço todo e, o pior, dependendo da sua finalidade, trazer acometimentos graves à saú- de do paciente? Então, convidamos você, aluno, a se dedicar nesse que consideramos um dos principais assuntos desse curso. Quando se fala em um plano de manutenção, estamos nos referindo ao modo de organização da manutenção do parque de EMAs, ou seja, como será feito o acompanhamento, se será através de indicadores estatísti- cos advindos das ordens de serviço, relatórios de serviço emitidos por terceiros, lista de peças adquiridas etc. Estaremos abordando também as outras manutenções, como as preventivas, preditivas e as calibrações. Os cuidados para um adequado plano de manutenção devem primordial- mente se sustentar nas prioridades do EAS, além de prever os requisitos para manutenção do equipamento, sua classificação de risco, função e histórico de incidentes. Note por exemplo, que os equipamentos de baixo risco não necessitam de uma verificação tão frequente, quando compara- dos aos equipamentos classificados como de alto risco, por serem desti- nados a finalidades de apoio, de modo geral, e por serem constituídos de uma manufatura mais simples, menos complexa tecnologicamente. Quando um EAS elabora um Plano de Manutenção ele está contribuin- do para uma potencial redução nos riscos de falhas dos equipamentos, minimizando os altos custos de uma tecnologia inoperante que poderá interromper um serviço e, consequentemente, resultará na desmarca- ção de exames, aumento na fila de espera, realocação de profissionais de saúde, de pacientes entre outros problemas. 46 Diante do exposto, o gestor em saúde precisa atender as recomenda- ções estabelecidas pelo manual do fabricante das tecnologias em saú- de, no que se referem à periodicidade na execução das manutenções preventivas, calibrações e se organizar com os diversos setores do EAS para evitar que o serviço fique desabastecido nos horários com maior demanda de utilização. É importante que no Plano de Manutenção seja definido quais são os equipamentos que não podem ficar ausentes deste plano, caso seu orçamento delimite o quanto poderá investir em manutenção. Alguns condicionantes podem ser utilizados para auxiliar você nessa priorização, são eles: • Possuir alguma regulamentação específica por algum órgão de fiscalização/ controle; • Possuir importância estratégica para o EAS, ou seja, equipamentos que podem fazer o EAS perder receita por interrupção no atendimento ou equi- pamentos de alto risco para pacientes e funcionários em caso de falha. O plano de manutenção deve ser de conhecimento de todos os usuários das tecnologias e sendo possível, deve ser devidamente divulgado pelo EAS, de modo a evitar contratempos. Alguns equipamentos de infraes- trutura, bem como, algumas instalações também devem ser incluídas no plano de manutenção. A seguir listamos algumas ações que poderiam ser adicionadas nesse plano, tais como: • Tratamento de água para geração de vapor e condicionamento de ar; • Limpeza de canaletas, calhas e ralos de água pluvial; • Limpeza de fossa séptica e caixas de gordura; • Limpeza e sanitização de reservatórios de água potável. Dentre os diversos equipamentos de apoio/infraestrutura que mencio- namos acima temos: a máquina de lavar roupas e louças, secadoras, máquina de prensa, calandra, caldeiras, compressores de ar medicinal, conjunto de bombas de recalque, equipamentos de ar condicionado e refrigeração, painéis elétricos que contenham contadores e relés, gru- po gerador (emergência), disjuntores de alta tensão, bombas de vácuos, autoclaves, PABX, transformadores etc. As atividades executadas em uma manutenção devem ser as mais com- pletas possíveis e a inspeção realizada deve ser padronizada para cada atividade executada. Neste contexto deverão ser executadas atividades de inspeção geral; troca de peças e acessórios com sua vida útil vencida; 47 lubrificação geral; aferição e posterior calibração do equipamento e tes- tes de desempenho. Todos estes procedimentos devem ser mapeados, quantificados e definidos de forma que se tenha um histórico definido de cada equipamento. O principal objetivo de um programa de manutenção de EMAs é garan- tir a segurança e a precisão nos resultados medidos do equipamento e que este estará pronto para uso no paciente. Para assegurar a qualidade da tecnologia é fundamental que se respeite as orientações do manual quanto as verificações/inspeções periódicas dos mesmos. Vamos agora conhecer os tipos de manutenção existentes? É importante que saiba distinguir as suas diferenças para cobrar do seu prestador de serviço, caso seja terceirizado, a manutenção dos EMAs. TIPOS DE MANUTENÇÃO Já deve ser do seu conhecimento, que as manutenções se diferenciam quanto à sua forma de emprego, periodicidade e atuação. Também é válido lembrar que todos os tipos demanutenção são importantes, pois isso conceberá maior extensão na vida útil das tecnologias, além de miti- gar falhas nas medições lidas. Veremos então agora, as definições sobre a manutenção corretiva, pre- ventiva e preditiva. MANUTENÇÃO PREVENTIVA Pressupõem que esse termo é familiar para maioria de nós, não é mesmo? O termo preventivo é muito usado na área da saúde, quando falamos em prevenção de doenças e, ele também pode ser aplicado aqui. A diferença é que neste caso, a prevenção será relacionada às falhas, interrupções, acidentes, ou imprecisões em leituras feitas por esses equipamentos. A Manutenção Preventiva refere-se às atividades programadas e que res- peitam as orientações do fabricante, ela consiste basicamente em ações como: calibrações, substituição de peças, lubrificação, limpeza etc. (WHO, 2011c). De modo geral, a substituição de peças obedece a um contador de horas, denominado “timer” ou horímetro, que indicará o quanto tempo este equi- pamento ficou trabalhando, semelhante a um carro que marca a quilome- tragem percorrida. Assume-se, que ao atingir um determinado número de horas estabelecido pelo fabricante, deve-se realizar a substituição da peça. 48 Esse limite de horas estabelecido pelo fabricante para substituição das peças está fundamentado em testes realizados em laboratório durante o desenvolvimento de um projeto, onde determinadas peças são sub- metidas à ensaios de qualidade e, então, as medidas das variáveis de consumo e desgaste são obtidas para preconizar a periodicidade de substituição. Quando você, gestor, adquirir seu equipamento médico assis- tencial para sua unidade e, enquanto este equipamento estiver em garantia de aquisição e caso alcance o tempo necessário para substituição de peças de acordo com o manual do fabri- cante, isso poderá ser feito sem custo para você! Para isso, lembre-se de informar nas cláusulas do Termo de Referência de aquisição essa prerrogativa, evitando contratempos. Atenção! Depois de findado o período de garantia de aquisição, caso você não tenha uma equipe de Engenharia Clínica na sua unidade será necessário contratar esse serviço de manutenção preventiva com o representante autorizado do produto. Caso seu serviço já seja constituído por uma equipe de Engenharia Clínica é recomendável que no Termo de Referência você inclua na aquisição a capacitação dos seus profissionais, de modo que ao terminar a vigência da garantia de aquisição, o time de profissionais da sua unidade realize as manutenções. Estimado aluno, lembre-se que a manutenção preventiva é um condicio- nante importante para que você obtenha uma maior sustentabilidade ao seu parque tecnológico e ao mesmo tempo garanta assistência médi- ca de qualidade no seu EAS. MANUTENÇÃO CORRETIVA Embora para muitos de nós, este assunto seja bastante conhecido, vamos chamar a atenção principalmente para a questão da qualidade das manutenções. Você já teve curiosidade de ler uma ordem de serviço? Você pode estar pensando, “mas não sou Engenheiro, o que vai adiantar eu ler, se eu não vou entender nada”? 49 Pois é, caro estudante, caso na sua Unidade não exista ainda uma equipe de Engenharia Clínica e você está contratando um serviço que consiste no reparo de um EMA e recebeu um ou mais orçamentos por parte dos prestadores de serviço é importante pelo menos conhecer o que exigir dessas empresas. Para tanto, atenção a estes passos: O primeiro passo é identificar se essa empresa que está orçando um ser- viço de reparo é uma assistência técnica autorizada do fabricante. Outro aspecto é verificar se no orçamento foi descrito quais os itens serão reparados ou substituídos, de modo que, caso haja uma reincidên- cia do problema apresentado, você possa identificar se são as mesmas peças que já foram reparadas ou substituídas. Caso você tenha interesse, é seu direito também, solicitar ao prestador de serviço a devolução das peças que foram substituídas, mesmo que você não faça uso delas, mas que, de certa forma, pode inibir o mau comportamento de empresas que agem de maneira ilícita, substituindo peças que na verdade não apresentavam defeito algum. Um outro aspecto se refere ao teste após entrega do produto reparado. É muito comum depararmos com situações onde o prestador de serviço entrega um produto para você via transportadora e ao chegar no servi- ço, você disponibiliza para os profissionais de saúde utilizá-los e, logo em seguida você é acionado novamente pelo corpo profissional de saúde que reclama que o equipamento continua apresentando o mesmo problema. Uma maneira de evitar contratempos como esse, quando você não tem um serviço de Engenharia Clínica na sua unidade, é pedir a presença de um técnico da empresa responsável na entrega do produto e que este acompanhe seu funcionamento após sua entrega. Isso evitará questões como: “foi o profissional de saúde que estragou novamente o equipa- mento”, ou que “eles não sabem usar o equipamento”, ou ainda que “foi culpa da empresa de logística que avariou o mesmo durante o transpor- te”, ou até mesmo que “a infraestrutura do serviço onde o equipamento está ligado é precária e o danificou”. 50 Caso você pertença à administração pública, lembre-se de se resguardar para evitar problemas de ordem legal e documente tudo. Elabore um documento de aceite, na qual tanto você que está intermediando a contratação do serviço, como o profis- sional de saúde que está utilizando o produto, assim como, o representante autorizado que acompanhou o teste assumam a responsabilidade pelo recebimento do equipamento em per- feitas condições para funcionamento e então, somente após o aceite você libera a nota fiscal para o pagamento. Atenção! Já que falamos bastante sobre Manutenção Corretiva, vamos ao seu con- ceito teórico. A manutenção corretiva (MC) compreende basicamente as atividades destinadas a restaurar a integridade física, segurança e/ou desempe- nho de um EMA após uma falha causada por qualquer motivo, seja ele conhecido ou desconhecido (WHO,2011b). Gostaria de chamar atenção também para os casos denominados corri- queiros e aqueles que são também de urgência. Lembre-se que estamos em um ambiente de saúde e todo cuidado é pouco, não é mesmo? É muito comum que todo EAS tenha um almoxarifado central e também haja almoxarifados setorizados, ou seja, um apenas para farmácia, outro apenas para o serviço de nutrição e dietética e um para manutenção. Havendo ou não um almoxarifado para manutenção é importante que itens, como as peças de maior saída e que os valores são menores, sejam adquiridos por você gestor, evitando que seu EAS tenha um ser- viço interrompido devido a manutenção. Itens como fusíveis, lâmpadas, baterias, pilhas, cabos de força, fontes de alimentação entre outros são imprescindíveis e podem inclusive salvar vidas. Caso você tenha difi- culdade em saber quais itens de manutenção são mais importantes e deverão constar no estoque do seu almoxarifado, faça uma curva ABC, também denominado como “Análise de Pareto” 51 Curva ABC A curva de experiência ABC, também conhecida como Análise de Pareto, ou Regra 80/20, é um estudo que foi desenvolvido por Joseph Moses Juran, um importante consultor da área da qualidade que identificou que 80% dos problemas são geral- mente causados por 20% dos fatores e auxilia na classificação dos itens em estoque de acordo com sua importância relativa. (http://www.sobreadministracao.com/o-que-e-e-como-funcio- na-a-curva-abc-analise-de-pareto-regra-80-20/ ) Saiba mais Após estudarmos a manutenção corretiva e preventiva, vamos agora conhecer um outro tipo de manutenção muito importante no âmbito da saúde e que, infelizmente, é muito pouco praticada: a manutenção preditiva. MANUTENÇÃO PREDITIVA A manutenção preditiva, também muito importante em um Programa de Manutenção, corresponde basicamente de visitas in loco nos serviços com vistas a identificar o status quo de algunsequipamentos durante sua utilização e que porventura estão em vias potenciais de ocasionar uma falha ou mau funcionamento. Analise a seguinte situação representada abaixo: http://www.sobreadministracao.com/o-que-e-e-como-funciona-a-curva-abc-analise-de-pareto-regra-80-20/ http://www.sobreadministracao.com/o-que-e-e-como-funciona-a-curva-abc-analise-de-pareto-regra-80-20/ 52 E, então? Conseguiu perceber? Sabendo que há um fio exposto no cabo do ECG, você pode imaginar que o paciente ficará sem monitoração e já solicita ao profissional de saúde que separe este material para encaminhar para uma manutenção. Observe que não podemos denominar esta ação como sendo uma manutenção corretiva, uma vez que o objeto ainda não está totalmente danificado, mesmo porque ele continua monitorando aquele paciente e também não podemos dizer que é manutenção preventiva, uma vez que, essa intervenção não é programada e não foi estabelecida em con- formidade com o manual do fabricante. Alguns serviços denominam essa atividade como “Ronda Hospitalar” por não existir um agendamento com as áreas visitadas, salvo algumas exceções, onde não é permitido o acesso em qualquer momento e necessita de autorização. O objetivo é percorrer os ambientes e ver as condições de uso de cada tecnologia. Você sabia? 53 Para a seleção das áreas que necessitam maior frequência de visitas para inspeção preditiva, você poderá utilizar de alguns critérios de elegi- bilidade conforme apresentamos a seguir: • Classificação de risco; • Probabilidade maior de prevenção de problemas; • Histórico de incidentes; • Requisitos normativos ou do fabricante; • Tempo de uso da tecnologia. Um outro aspecto interessante a ser mencionado é que ao implementar essa tarefa na sua gestão, você terá uma redução de imprevistos com relação a interrupção de um procedimento médico, promovendo um melhor planejamento na aquisição de materiais e possivelmente identifi- car o que está gerando essas quebras constantes e, então, poder intervir previamente de modo mais eficiente. Agora que você já conhece o conceito dos três tipos principais de manu- tenção na área da saúde, vamos explorar um pouco sobre outras ações importantes nesse assunto e que irão aperfeiçoar cada vez a gestão des- tes ativos. CONTROLE DE QUALIDADE Você já deve ter ouvido falar muito nesse assunto não é mesmo? Mas o que exatamente compreender quando estamos tratando de qualidade no cenário da saúde? A mais importante condição a ser observada, quando falamos de quali- dade nos processos de saúde é saber que esse controle tem como bem maior a preservação da saúde daqueles que usufruem dessas tecnolo- gias e também daqueles que a manuseiam. Esse controle para manutenção é importante tanto para aquelas reali- zadas internamente (equipe interna do EAS), como para as executadas por terceiros, pois ela permite a conferência daquilo que foi realizado e como foi realizado, além de evitar possíveis acidentes, assim como, pagamentos indevidos por algo que foi contratado e não foi executado ou foi parcialmente executado por qualquer motivo alheio. 54 A avaliação técnica após o retorno de uma intervenção requer testes quantitativos e qualitativos de modo a atender todas as medidas de pre- caução, assim como avaliar a qualidade da mão de obra dos prestadores de serviço e também da equipe interna de manutenção da Engenharia Clínica, quando for o caso. Entretanto, para que esse controle de qualidade seja eficiente, recomen- da-se que o gestor do grupo de manutenção disponha de um banco de dados para gestão da manutenção dos EMAs e o mantenha atualizado. Essa atualização poderá conter algumas informações para futuras con- sultas e rastreamento das atividades executadas em um equipamento específico. Decisões sobre futuras aquisições, novas contratações de mão de obra poderão ser sustentadas através de informações, tais como: • Número e tipo de falhas ocorridas no equipamento; • Comparação das falhas que foram relatadas pela equipe de Engenharia Clí- nica com aquelas relatadas pelas empresas prestadoras de serviço; • Tipo e número de peças que estão sendo substituídas no equipamento, tanto em serviços internos como externos; • Custo por serviço (interno e externo) e custo acumulado; • Datas de realização de cada serviço e, consequentemente, o MTBF (Mean Time Between Failures) ou TMEF (Tempo Médio entre Falhas). Não obstante é importante também que esse controle de qualidade ava- lie os aspectos referentes ao tempo de atendimento da ocorrência, a cordialidade e pró-atividade da equipe de Engenharia Clínica do EAS e, se a equipe mantém informado o corpo clínico sobre os procedimentos que foram executados no equipamento enquanto em manutenção, pre- visão de entrega, elaboração de treinamentos da equipe clínica, resoluti- vidade na primeira manutenção, por exemplo, entre outros. A garantia de satisfação dos usuários frente aos serviços de manutenção e instalação dos equipamentos é um dos “termômetros” para conhecer os pontos fortes e fracos e assim permitir uma possível reavaliação dos pro- cessos executados pela equipe de manutenção, seja ela externa ou interna. CALIBRAÇÃO Certamente não deve ser estranho para você esse termo também, não é mesmo? Você sempre que vai ao posto de combustível abastecer seu veículo, se lembra de calibrar os pneus do carro ou da sua bicicleta não é mesmo? 55 Mas será que tecnicamente podemos considerar isso uma calibração? Segundo o Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM), calibração é a operação que estabelece, sob as condições especificadas, em uma pri- meira etapa, uma relação entre os valores e as incertezas de medição fornecidas por padrões e as indicações correspondentes com as incer- tezas associadas; em uma segunda etapa, utiliza esta informação para estabelecer uma relação visando à obtenção de um resultado de medi- ção a partir de uma indicação. Ou seja, percebam que erroneamente o que popularmente chamamos de “calibrar os pneus” do carro não está correto, pois o enchimento dos pneus com ar ou nitrogênio consiste basicamente de uma ação de ajuste de pressão, que não está em ambiente controlado e, além disso, lá no equipamento usado para encher os pneus não é sempre que teremos as informações de incertezas de medição com fácil acesso. Ademais, os equipamentos utilizados para encher os pneus também necessitam periodicamente de manutenção dos seus elementos cons- trutivos internos, devido ao ressecamento provocado pelo ar que vem do compressor e claro, da fadiga mecânica natural das peças. Figura 25 - Demonstração de pneu sendo enchido Fonte: http://abr.org.br/noticia/calibrar-o-pneu-corretamente-e-coisa-seria/ Desse modo, o que fazemos então é o enchimento dos pneus com pres- são positiva de ar ou nitrogênio e não chega ser uma calibração do pneu propriamente dita, como vimos na definição acima do VIM. Aliás, o que se espera é que esse equipamento que enche os pneus com a pressão que você selecionou esteja calibrado e, preferencialmente, com instru- mentos rastreáveis, evitando que você entregue maior ou menor quan- tidade de pressão daquela previamente selecionada. http://abr.org.br/noticia/calibrar-o-pneu-corretamente-e-coisa-seria/ 56 Já no universo dos equipamentos eletromédicos temos uma gama de grandezas a serem mensuradas e que requer calibrações periódicas, para que os valores lidos pelos profissionais de saúde sejam fidedignos. Essas calibrações periódicas são necessárias tendo em vista que o uso constante destas tecnologias gera mudanças nas características técnicas dos mate- riais que constituem o equipamento, causadas por exemplo pela fadiga dos elementos mecânicos, vida útil dos componentes, entre outros. Vejamos por exemplo, as variações na força elástica de uma mola, altera- ção nas propriedades elétricas dos componentes, consequência de fato- res externos como temperatura, umidade relativa do ar, energia eletro- estática, a pressão atmosférica
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