Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 2 3 Márcia Facundo Aragão BIOFÍSICA Sobral 2022 4 5 Sumário UNIDADE 1: INTRODUÇÃO À BIOFÍSICA, MEDIDAS EM CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, NOÇÕES DE TERMODINÂMICA E GRANDEZAS FÍSICAS. ........ 7 UNIDADE 2: A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA EM LABORATÓRIO, SOLUÇÕES E SUSPENSÕES. ....................................................................... 17 UNIDADE 3: TRANSPORTE ATRAVÉS DE MEMBRANAS ............................. 23 UNIDADE 4: EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE EM SISTEMAS BIOLÓGICOS ........... 29 6 7 UNIDADE 1: INTRODUÇÃO À BIOFÍSICA, MEDIDAS EM CIÊNCIAS BIOMÉDICAS, NOÇÕES DE TERMODINÂMICA E GRANDEZAS FÍSICAS. Todas as categorias do saber que existem, como a Química, a Biologia, a Sociologia, a Psicologia, a Filosofia, dentre outras, de alguma maneira se relacionam com a Física. Portanto, a Física é uma ciência que investiga as leis do universo no que diz respeito à matéria e à energia, que são seus constituintes, e suas interações. Mas afinal, o que é Biofísica? A Biofísica representa uma síntese entre a Biologia e a Física, enfoca as funções existentes nos organismos vivos explicadas pelas leis da Física teórica, por exemplo, o fluxo do sangue ou a filtração glomerular são explicados por leis da hidrodinâmica, ou seja, explicados pelas leis da Física. Biofísica é a ciência interdisciplinar que faz uso das teorias da Física, assim como seus métodos, para resolver as questões da Biologia. É uma forma de enxergar o ser vivo que ocupa lugar no espaço e transforma energia e, portanto, consequentemente, existe em um meio que interage com ele. Portanto, a Biofísica é a ciência que estuda matéria, energia, espaço e tempo nos seres vivos. Neste primeiro momento, nos concentraremos no segundo conceito, o de energia. Este é referido como a capacidade de realizar trabalho. Outros conceitos, no entanto, também são necessários para o seguimento deste estudo, como calor e temperatura. Segundo o autor, calor compreende a energia presente em um corpo em decorrência do grau de agitação em suas moléculas. Já a temperatura é definida como a grandeza que quantifica (mede) o calor em um corpo. Existem três escalas de temperatura, as quais são Kelvin (K), Celsius (ºC) e Fahrenheit (ºF), na escala Kevin o ponto de vapor da água é 373 K, enquanto na escala Celsius o ponto de vapor da água é 100ºC e na escala Fahrenheit é 212ºF. Na escala Kelvin o ponto de congelamento da água é 273 K, na escala Celsius o ponto de congelamento da água é 0ºC e na escala Fahrenheit é 32ºF. A partir dos referidos ponto de vapor e congelamento da água nas diferentes escalas é possível fazer a conversão da temperatura de uma escala para outra. A conversão da temperatura pode ser feita utilizando a equação mostrada na Figura 1. 8 Figura 1 - Equação para conversão de temperatura entre as escalas Kelvin, Celsius e Fahrenheit. Estes conceitos servem de base para outra ciência além da Biofísica, a Termodinâmica. Esta estuda as interações ocorrentes entre o calor e a matéria. A percepção do calor é algo que podemos sentir diante dos receptores de calor espalhados pelo nosso corpo, diferente do que ocorre com outros tipos de energia que tem um caráter mais abstrato, como a energia gerada pela queima da glicose. A termodinâmica apresenta algumas leis que podem ser aplicadas a qualquer sistema que execute transferências de energia sob qualquer modalidade: elétrica, nuclear, mecânica, luminosa etc. É importante observarmos que as transferências de energia entre os sistemas ocasionam padrões típicos que ilustram uns dos princípios da termodinâmica: quanto maior o acúmulo de energia no sistema, maior a pressão desenvolvida. E quanto mais pressão haverá uma maior expansão redundando em mais movimento das partículas envolvidas. Este aumento resulta em uma certa desordem que pode ser quantificada dentro de um sistema e pode ser definida enquanto conceito físico: a entropia. A entropia é a quantificação da desordem em um determinado sistema, de forma que, quanto maior a entropia de um sistema significa que mais difícil é localizar uma partícula. Esta grandeza é especialmente importante quando acrescentamos o estudo dos diferentes tipos de sistemas existentes no universo, em destaque a natureza. 9 Em um sistema natural tudo está em movimento, ou seja, as partículas atômicas e subatômicas estão constantemente em atividade cinética, o que causa um choque natural entre estas partículas. Quando ocorre a colisão entre elas, estamos diante de um fenômeno físico: o atrito. Este pode ser definido como sendo uma resistência ao movimento. O atrito, por natureza, produz calor o qual favorecerá uma agitação das moléculas deste meio e provocará desordem, que como visto anteriormente, é definido como entropia. Com o aumento do atrito ocorre consequentemente o aumento de calor, que por sua vez, aumenta a energia e provoca mais atrito. A observação deste fenômeno pelos nossos antepassados nos permitiu o desenvolvimento do fogo pelo atrito entre madeiras e rochas. Considerando esta perspectiva, podemos classificar os diferentes sistemas naturais em: Sistema Conservativo – é aquele que não troca energia ou matéria com os outros sistemas (ambiente). Este é um sistema que na prática não existe, pois tal sistema não permitiria sua própria sustentabilidade, portanto, é meramente teórico. Sistema Dissipativo – é aquele que promove a troca tanto de matéria quanto de energia com sistemas vizinhos. São características destes sistemas: a complexidade e a imprevisibilidade, pois são extremamente difíceis de descrever do ponto de vista estrutural, quanto do ponto de vista da estimação de cenários futuros. Os seres vivos podem ser vistos como exemplos de sistemas, visto que possuem características próprias e são complexas e imprevisíveis. Como tal, estes devem desenvolver estabilidade e evitar condições de equilíbrio energético. Um sistema é dito equilibrado quando não mais troca energia e/ou matéria com o meio. Os organismos vivos devem buscar uma condição estável ao longo do tempo, porém, sem equilíbrio energético. Este equilíbrio significa morte. 10 Estas relações entre os sistemas naturais são regidas por algumas leis as quais denominamos Leis da Termodinâmica. São elas: 1ª Lei da Termodinâmica: a quantidade energética que adentra a um sistema é equivalente a energia que sai. 2ª Lei da Termodinâmica: o fluxo de energia entre dois sistemas ocorre partindo daquele em que há algum excesso de energia para outro com quantitativo menor. 3ª Lei da Termodinâmica: não há entropia em um sistema que se encontra no zero absoluto (zero Kelvin). De posse dos conhecimentos já adquiridos, iremos agora entender os conceitos de matéria, energia, força e pressão O peso, por sua vez, por ser uma força de campo gravitacional, varia em função da aceleração da gravidade em cada local; logo, ele é menor em lugares onde a gravidade é menor (como na Lua, por exemplo). O Quadro abaixo apresenta as equações para o cálculo das seguintes grandezas físicas: peso, força e pressão e suas respectivas unidades no SI. O cálculo da área é feito pela seguinte equação: A = π(r)2, onde π=3,14. 11 A matéria pode se apresentar nos estados sólidoe fluido. No estado sólido, a ordem é maior, e, assim, comparativamente, a quantidade de energia é menor. Como suas moléculas apresentam baixa energia cinética e um grau maior de ordem, os sólidos apresentam algumas propriedades características: dão origem a corpos de forma definida; sólidos não escoam, não fluem, não escorrem; a macroestrutura da matéria depende de como as partículas do sólido se organizam. Os estados fluidos podem ser de dois tipos: líquido e gasoso. Nesses estados, a ordem molecular é menor e o grau de movimentação independente das Nos fluidos, como a água ou o gás, as moléculas têm um grau de ordem menor, já que apresentam maior energia cinética. Vejamos algumas propriedades dos fluidos: não dão origem a corpos de forma definida; uma vez que os fluidos não têm forma própria eles são capazes de escoar, fluir, escorrer. Quando aquecemos um fluido (líquido ou gás), o calor (energia) cedido ao sistema faz com que a energia cinética das moléculas aumente. Logo, o calor (energia) é uma variável decisiva na cinética molecular dos líquidos e gases. Uma vez definidos os estados (as fases) da matéria, discutiremos rapidamente como a mudança de um estado da matéria para outro pode ocorrer. As mudanças de fase de uma substância são as seguintes: fusão: de sólido para líquido; solidificação: de líquido para sólido; vaporização: de líquido para gás; condensação (ou liquefação): de gás para líquido; sublimação: de sólido para gás (sem passar pela fase líquida). Outra propriedade interessante da matéria é a densidade. Densidade é a quantidade de matéria (massa) por unidade de espaço (volume), ou seja, o cálculo da densidade é realizado de acordo com a seguinte fórmula: densidade = massa ÷ volume. A unidade de densidade no SI é kg/L ou g/mL. Se dois corpos com a mesma massa ocupam volumes diversos, sua densidade é diferente. Moléculas com mais massa podem necessitar de mais energia para aumentar sua cinética. A massa da molécula é um dos determinantes da viscosidade de um líquido ou de um gás. Viscosidade é a resistência intrínseca de um fluido ao escoamento. Ela é 12 calculada de acordo com a seguinte equação: Ƞ = (força x tempo) ÷ área, a unidade de viscosidade no SI é Pascal segundo (Pa.s). Discutiremos agora um conceito fundamental: o da inércia. A inércia é a propriedade essencial da matéria, seja ela fluida ou sólida, seja um simples átomo ou um corpo complexo. Qualquer porção ou tipo de matéria manifesta essa propriedade fundamental. Ela consiste na resistência que um corpo oferece à aceleração. Somente influências extrínsecas a esse corpo podem alterar o seu estado de inércia, alterando sua velocidade, seja este corpo fluido ou sólido. A aceleração é a razão entre a variação de velocidade em um dado intervalo de tempo e é calculada pela seguinte equação: aceleração = velocidade ÷ tempo, a unidade de aceleração no SI é metro por segundo ao quadrado (m/s2). A velocidade é razão entre a variação de espaço em dado intervalo de tempo, portanto, o cálculo da velocidade é realizado pela seguinte fórmula: velocidade = distância ÷ tempo, a unidade de velocidade no SI é metros por segundo (m/s). Vamos sistematizar alguns conceitos: inércia é a medida da massa dos corpos. Movimento é a medida da velocidade dos corpos. Energia representa a capacidade de transformar. Ainda, em outras palavras: energia é a capacidade de realizar trabalho. Todo corpo pode sofrer influência de um agente extrínseco que rompa sua inércia. Esse agente é a força. Todo corpo tende a manter sua velocidade constante. Energia é uma grandeza física que também é chamada de trabalho, portanto, energia ou trabalho pode ser calculada de acordo com a fórmula a seguir: Energia = Força x densidade e a unidade de energia ou trabalho no SI é Joule (J). Na natureza, dispomos de basicamente três tipos de forças: forças de campo, forças de contato e forças nucleares. Forças de campo atuam à distância, são representadas pelas forças eletromagnética e gravitacional. Outro tipo de força é a força de contato, que genericamente corresponde à força que qualquer corpo exerce em outro corpo por meio do contato entre eles. No núcleo dos átomos, as forças de grande intensidade que são exercidas entre as partículas nucleares são responsáveis pela estabilidade (coesão) do núcleo atômico, elas são as forças nucleares. 13 Portanto, pressão é o conjunto de forças que um fluido exerce em seu continente, em virtude do choque entre suas moléculas constituintes. A pressão é composta por pequenas forças produzidas pelos choques das moléculas do fluido sobre a parede do continente; tanto que, com o aumento do calor e, consequente, aumento da cinética molecular, a pressão dentro da bola de gás também aumenta. Todos os conceitos estudados nessa unidade são grandezas físicas e possuem unidades. Para expressarmos os valores de qualquer grandeza, incluindo as fundamentais, a comunidade científica adota o Sistema Internacional de Unidades, comumente referenciado como unidades do SI (Sistema Internacional). A Tabela 1 relaciona algumas grandezas fundamentais e suas correspondentes unidades do SI. Muitas grandezas não são descritas por uma das unidades do SI listadas na Tabela 1. Porém, observe que a taxa com a qual um objeto se move é determinada pela distância que ele percorre durante um intervalo de tempo, e a distância (m, metros) e o tempo (s, segundos) são duas das grandezas fundamentais. Assim, as unidades SI para a velocidade são metros por segundo, m/s. Muitas outras, assim chamadas de grandezas derivadas (Tabela 2). 14 A unidade SI relativa à distância é o metro, abreviado como m. No entanto, cabe destacar que a Biofísica estuda a maneira que as moléculas se organizam e como a sua composição permite o funcionamento de sua estrutura s, e o comportamento de aglomerados organizados de diferentes moléculas apresentando o que pode chamar de vida, como no caso dos vírus ou das bactérias e dos protozoários. Além disso, estuda também as estruturas formadas por células com igual funcionamento (órgãos) ou aglomerados de micro-organismos. A Tabela 3 apresenta os prefixos para os múltiplos e submúltiplos do metro. 15 16 17 UNIDADE 2: A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA EM LABORATÓRIO, SOLUÇÕES E SUSPENSÕES. Na unidade anterior foi estudada a estrutura corporal dos seres vivos, e foi possível perceber que esta é composta de uma verdadeira mistura de substâncias básicas como as biomoléculas, água, dentre outras. Diante desta perspectiva é razoável considerar que nem toda mistura é igual ou semelhante. Duas categorias delas destacam-se na composição do organismo humano: as soluções e as suspensões. No entanto, antes de iniciarmos nosso estudo sobre as soluções e as suspensões iremos fazer um breve estudo sobre a água. A água é uma substância líquida, incolor a olho nu em pequenas quantidades, inodora e insípida, essencial a todas as formas de vida, composta por hidrogênio e oxigênio. Constitui 50% a 90% da massa corpórea dos seres vivos, quanto maior a atividade metabólica em um tecido, maior será a concentração de água. Devido a sua geometria molecular, a água ganha a configuração de um poderoso dipolo elétrico como pode ser observado na Figura 1. Esse dipolo elétrico torna a água uma molécula polar com grande poder de interação intermolecular. Sendo assim, as moléculas polares são solúveis em água, enquanto as moléculas apolares são insolúveis. 18 As moléculas de águas interagem entre si formando as pontes de hidrogênio. Essas pontessão fortes ligações químicas, apesar das moléculas estarem fortemente ligadas, esta substância apresenta grande mobilidade. A seguir são listadas algumas propriedades macroscópicas da água: Densidade: é a medida da massa em um determinado volume, ou seja, determina o quanto a substância é compacta. A densidade da água diminui em temperaturas menores, por isso o gelo flutua na água; Calor específico ou capacidade térmica: é a quantidade de calor que é preciso para elevar em 1ºC a temperatura de 1g de uma substância. A água apresenta um elevado calor específico, esta propriedade é importante para evitar que os seres sofram variações bruscas na temperatura; Calor de vaporização: é a quantidade de calor necessária para que uma substância passe de estado líquido para o estado de vapor. Devido ao elevado calor de vaporização da água, uma superfície se resfria quando perde água em forma de vapor. Tensão superficial: é uma propriedade física que resulta da força de atração entre as moléculas internas e da superfície, ou seja, é a alta capacidade das moléculas de água se manterem unidas. 19 Viscosidade: é a medida da resistência ao escoamento, a água possui uma baixa viscosidade. A água apresenta várias funções nos organismos vivos, dentre elas podem ser citadas: transporte de substâncias, termorregulação e lubrificante. No corpo humano é tida como o seu principal constituinte (entre 70% a 75%). É dito que o envelhecimento pode ser considerado um processo de secagem, uma vez que da infância até a velhice a quantidade de água no corpo diminui gradativamente. Além disso, esta substância é componente essencial para o bom funcionamento geral do organismo. Além da importância para os organismos vivos, a água também é muito utilizada em análises laboratoriais. Na maioria dos testes laboratoriais, esta substância é utilizada como reagente e, por isso, segue um rigoroso processo de controle de qualidade. A água natural tem sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloreto, ferro, carbonato e sulfato, além de gases dissolvidos. Portanto, para evitar que os componentes presentes nessa substância interfiram nos testes analíticos, órgãos nacionais e internacionais estabeleceram parâmetros de qualidade para que ela possa ser utilizada como reagente. No Brasil os padrões mais empregados são os estabelecidos pelo Instituto de Normas Clínicas e Laboratoriais (CLSI): água de reagente de laboratório clínico (CLRW); água reagente especial (SRW); água de alimentação instrumental (IFW). Para que a água atenda aos padrões de qualidade exigidos se faz necessário o uso de tecnologias para purificação tais como: filtração, destilação, deionização, osmose reversa e sistema ultravioleta (UV). Agora que já conhecemos algumas propriedades da água, vamos retornar ao estudo de soluções e suspensões. Considerando que, a suspensão e a solução são misturas e que estas são compostas pela união entre duas ou mais substâncias em um mesmo sistema (meio), podemos classificá-las em homogênea e heterogênea. 20 Mistura homogênea - é aquela que apresenta uma única fase e não pode ser separadas fisicamente. É um exemplo de mistura homogênea a água e o açúcar. Mistura heterogênea - é aquela que podemos separar fisicamente seus componentes e manter sua estrutura original. Durante a leitura do capítulo é possível perceber que dentre estas categorias mencionadas anteriormente está a solução, que pode ser definida como uma mistura homogênea, ou seja, unifásica que pode ser de vários tipos: sólido em líquido, como a água e o sal; líquido em líquido como água e álcool; e gás em líquido como ocorre na água fervente. Elas ainda podem ser de outros dois tipos: gás em sólido e sólido em sólido. Para o entendimento das soluções é necessário um breve conhecimento de três conceitos fundamentais, definidos por Mourão Jr. (2017): Dissolução: processo de formação de uma solução. Solvente: substância que dissolve o soluto. Soluto: substância, geralmente sólida, dissolvida pelo solvente. Se observarmos o que é dito pelo autor, podemos considerar o sangue como um bom exemplo de solução, pois este representa uma mistura heterogênea de plasma e células. Já o próprio plasma, é uma solução de substâncias em meio aquoso. Continuando a leitura, poderá perceber que as soluções podem ser de dois tipos: oleosas e aquosas, Além desta divisão, podemos classificar as soluções em dois tipos: interativas e difusivas. Segundo o autor, a solução difusiva é aquela em que seus componentes interagem entre si e trocam apenas energia cinética entre si. Já a solução interativa é aquela em que ocorre interação química entre seus componentes. É importante ressaltar que em ambos os casos, temos que ficar atentos ao tipo de elemento que está sendo transferido, se é matéria, se é energia ou os dois. No caso das soluções biológicas, em sua grande maioria são do tipo interativa. 21 Em se tratando de soluções se faz necessário o conhecimento sobre a sua concentração. A concentração pode ser expressa das seguintes formas: Percentual (%): gramas de soluto por 100 mL da solução; Molar (mol / L): mols de soluto por litro de solução; O Quadro 1 apresenta as fórmulas para realizar os cálculos da quantidade de soluto das soluções. Ainda em relação à concentração das soluções, estas podem ser classificadas como saturadas e insaturadas. O limitante da solução é a solubilidade do soluto. Toda substância possui seu coeficiente de solubilidade, portanto, coeficiente de solubilidade é quantidade máxima de uma substância capaz de se dissolver em uma quantidade fixa de solvente. Em uma solução insaturada o soluto está em quantidade inferior ao coeficiente de solubilidade, enquanto que na solução saturada, o soluto presente está em quantidade igual ao coeficiente de solubilidade. Portanto, a partir de uma solução saturada pode ser preparada uma solução insaturada, fazendo as devidas diluições. Diluir é diminuir a concentração do soluto, para obter soluções diluídas basta utilizar a relação entre as concentrações e os volumes iniciais e finais para saber quanto utilizar da solução estoque, conforme equação a seguir: C1 x V1 = C2 x V2 22 Onde: C1 = concentração inicial C2 = concentração final V1 = volume inicial V2 = volume final 23 UNIDADE 3: TRANSPORTE ATRAVÉS DE MEMBRANAS Nessa unidade iniciaremos nosso estudo lançando o olhar para uma necessidade básica das células: manter suas atividades metabólicas básicas como digerir, secretar e reproduzir-se. Ao realizarmos a leitura do capítulo, podemos perceber que as células para manter suas funções básicas necessitam estabelecer uma comunicação com o meio externo e com as células vizinhas. A comunicação intercelular varia desde a troca de substâncias e eletrólitos até impulsos elétricos cuja criação depende diretamente da forma como a célula regula o fluxo para dentro e para fora. Inicialmente, vamos estudar o que são membranas biológicas e sua constituição. As membranas são estruturas que limitam o conteúdo celular. Estas estruturas são formadas por lipídeos e proteínas, além de conter também carboidratos ligados aos componentes principais. Segundo o modelo de mosaico fluido proposto por Singre e Nicholson em 1972, são constituídas de uma dupla camada lipídica, com proteínas nela inseridas ou ligadas a sua superfície (Figura 1). O grau de interação de proteínas com a bicamada lipídica é variável e de acordo com o grau de interação são classificadas em proteínas integradas e proteínas periféricas. A extensão da cadeia polipeptídica que fica incluída na bicamada ou projetada para fora está intimamente relacionada com a função da proteína, por exemplo, proteínasque atuam como antígeno, têm via de regra, uma porção externa maior que o segmento intramembrana. 24 Os componentes lipídicos da membrana são: fosfolipídeos, glicolipídeos e colesterol. Os fosfolipídeos da membrana, além de sua função estrutural, são precursores de moléculas reguladoras. Já o colesterol é precursor de hormônios esteroides nas glândulas suprarrenais e gônadas e de sais biliares. Os glicolipídeos possuem estrutura muito variada e a grande diversidade de configuração justifica sua atuação como marcadores característicos de cada tipo de célula. As membranas celulares são semipermeáveis e altamente seletivas, por isso a passagem de substâncias ou sinais através delas depende da natureza e do tamanho da substância transportada. O transporte de íons ou moléculas pequenas pode ser feito por transporte passivo (difusão simples ou facilitada) ou por transporte ativo. Já o transporte de macromoléculas e partículas pode ser feito por endocitose ou exocitose. Enquanto que a água é transportada por osmose. A osmose é a passagem da água de uma solução hipotônica para um meio hipertônico através de uma membrana semipermeável. Solução hipotônica: solução com menor concentração de solutos em relação à outra. 25 Solução hipertônica: solução com maior concentração de solutos em relação à outra. Solução isotônica: solução com igual concentração de solutos em relação à outra. A difusão é um processo que não envolve gasto de energia. Na difusão simples, o maior limite é a concentração nos dois lados da membrana da espécie transportada. Ocorre que nos dois lados encontram-se espécies químicas eletricamente carregadas, cujas concentrações devem ser bem controladas de modo a se preservar a normalidade da vida celular. A polaridade dessas espécies constitui uma dificuldade a passagem pelas membranas, em virtude do caráter lipófilo destas, mas pode ser superada mediante a difusão facilitada (transporte passivo) ou o transporte ativo. A difusão facilitada é uma espécie de transporte transmembranoso realizado por proteínas denominadas transportadoras, carregadores, sistemas de transporte, translocases ou permeases e capazes de se ligar reversivelmente a substâncias específicas. O transporte ativo é aquele que depende de fornecimento de energia, em razão de ser feito contra um gradiente de concentração ou eletroquímico, no caso dos íons. A endocitose é um processo de captura do fluido extracelular, que pode ocorrer de modos: pinocitose de fase fluida, endocitose mediada por receptores e fagocitose. A exocitose tem como objetivo expulsar materiais celulares envolvidos por membrana e constituindo vesículas que se fundem à membrana plasmática e liberam material para o exterior sem o rompimento do invólucro celular. Agora que já estudamos a constituição e os tipos de transporte através de membranas, vamos focalizar nossos estudos nos impulsos elétricos. A criação e propagação de impulsos elétricos correspondem ao que conhecemos como potencial de ação das membranas. Estes potenciais são largamente estudados dentro da Biologia, mas à Biofísica cabe desvendar suas bases e comportamentos. O primeiro fato que devemos assumir é que todas as células corporais apresentam potenciais elétricos em suas membranas (potencial de ação). Este potencial existe graças 26 à diferença de potencial existente entre os dois lados da membrana (interno e externo). O potencial elétrico de uma membrana varia conforme o estado funcional da célula, ou seja, a célula em repouso apresenta um potencial diferente daquela que está em plena atividade. Para este estudo, tomaremos como exemplo a célula nervosa (neurônio) que é uma das principais produtoras de impulsos de natureza elétrica. Uma célula nervosa em repouso apresenta um padrão elétrico típico: no exterior da membrana predomina uma maior concentração de cargas positivas, o que faz com que ela assuma este caráter externamente. Já no interior celular há um déficit de cargas positivas, prevalecendo, portanto, cargas negativas. Podemos dizer então que, em uma condição de homeostase, o interior da célula é carregado negativamente enquanto o exterior é carregado positivamente. Por conta deste comportamento nos remetemos à formação de um polo semelhante à uma pilha cujos lados (polos) são carregados positivamente e negativamente. Nesta condição dizemos que a membrana está despolarizada o que vai corresponder a um estado de repouso conforme a Figura 2. 27 A polaridade da membrana é responsável pela criação de forças cuja origem é a diferença de concentração apresentada entre os dois meios. Esta força inicial funciona como disparador para que processos de troca de íons ocorram e produzam a diferença de potencial. Outro fator importante a ser considerado é que os íons embora presentes nos dois lados da membrana, apresentam-se em concentrações diferentes. Este desequilíbrio iônico é fundamental para a manutenção da vida, pois garante a energia inicial necessária para criar e manter o potencial elétrico. Como exemplo pode-se citar o sódio que concentra-se majoritariamente no lado externo da membrana e o potássio que contrariamente, se concentra em maior proporção no interior da célula. Este desequilíbrio eletrolítico provoca cargas distintas em cada tipo celular. A célula nervosa, em uma condição de repouso, apresenta -90mV de potencial elétrico. Esse potencial é elevado até +35mV quando a célula está em plena atividade. Cabe à Biofísica explicar a que se devem estes valores. Para entender como se processa os potenciais de ação em uma membrana é necessário assumir que este possui três etapas distintas, todas ocasionadas e reguladas pelo fluxo de íons, principalmente Na+ e K+. São elas: Estado de repouso – etapa onde prevalece a condição original de positividade no exterior da célula. Esta positividade se deve ao acúmulo de cargas positivas principalmente do Na+. Despolarização – nesta etapa ocorre a inversão da polaridade da membrana motivada pela entrada de cargas positivas, deixando um déficit no exterior celular. A entrada é motivada pelo aumento da permeabilidade da membrana ao Na+ que carrega junto consigo suas cargas positivas. Nesta etapa, o potencial de ação da membrana que estava em -90mV pode atingir o máximo de 35mV. Esta mudança de potencial representa a transmissão de uma informação nervosa que é de natureza elétrica. Esta, porém, tem curta duração e logo em seguida deve voltar ao seu estado de repouso. Repolarização – representa o retorno da membrana ao estado de repouso. Nesta etapa, as cargas positivas que adentraram na etapa anterior, devem retornar ao exterior. Este retorno, no entanto, é realizado pelo K+ que também 28 apresenta carga positiva. Lembre-se: o K+ é mais concentrado no interior celular, portanto, sai de forma passiva. Após estes três passos, a célula terá transmitido um impulso elétrico e uma informação terá sido conduzida. Este ciclo, porém, não é autossustentável, pois os íons Na que entraram na primeira etapa não podem ficar aprisionados no interior celular, assim como o K também não pode ficar livre continuamente no exterior celular. Para reverter esta situação, há a participação de um outro agente transportador: a bomba de Na-K. A bomba de Na-K transporta íons contra o gradiente de concentração e com gasto energético de ATP (adenosina trifosfato). A cada ciclo desta bomba é restaurada a condição original da membrana no momento de repouso. Talvez você possa estar com a seguinte dúvida: como podemos medir uma quantidade de energia tão pequena? A resposta está no multímetro, um aparelho que quantifica as variações de um circuito elétrico como a voltagem, a corrente e a resistência. A medição dessas variáveis é baseada na diferença de potencial (DDP) captadas por eletrodos.Portanto, destacamos que esta base é o que subsidia o funcionamento de exames como o encefalograma e o eletrocardiograma. No primeiro são medidas as atividades elétricas das células neuronais a partir de eletrodos posicionados na cabeça do indivíduo. Já no segundo mede-se a atividade elétrica das células do miocárdio. 29 UNIDADE 4: EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE EM SISTEMAS BIOLÓGICOS Nessa unidade estudaremos sobre o equilíbrio do ácido-básico nos sistemas biológicos. O equilíbrio ácido-básico é um estado de equilíbrio dinâmico entre os fluidos biológicos e tecidos. A redução do pH é denominada acidose e o seu aumento constitui a alcalose, ambos capazes de reduzir acentuadamente a eficiência das reações químicas celulares. Inicialmente, vamos estudar os tipos de reação, as reações podem ser irreversíveis, quando ocorrem em um só sentido, ou reversíveis, quando ocorrem nos dois sentidos. Considere a equação a seguir, onde A e B são os reagentes e C e D são os produtos, v1 é a velocidade que A e B reagem para formar C e D e v2 é a velocidade que C e D reagem para formar A e B. A velocidade das reações é diretamente proporcional ao produto das concentrações dos reagentes, à medida que v1 diminui e v2 aumenta, até se igualarem em um dado instante, e se estabelecer um equilíbrio dinâmico. Esse equilíbrio dinâmico caracteriza-se como uma reação que só aparentemente chegou ao fim, entretanto, os reagentes coexistem no sistema. Ou seja, as propriedades macroscópicas do sistema são constantes, mas há uma variação contínua das propriedades microscópicas. Portanto, a constante de equilíbrio das reações são calculadas conforme fórmula abaixo: Kc = [Produtos] / [Reagentes] Dessa maneira é necessário que compreendamos os conceitos de ácidos, bases e sais. Entende-se por ácido qualquer substância que reage doando prótons, por base qualquer substância que recebe prótons, já os sais são substâncias que ao se dissociarem não liberam diretamente H+ ou OH-. Os ácidos são classificados segundo o grau de ionização em: fortes, moderados e fracos. Dessa forma, a acidez de uma solução é determinada 30 exclusivamente pela concentração de íons H3O + (ou H+), ou seja, pelo número de moléculas ionizadas, não pelo total de moléculas dissolvidas. O mesmo critério de classificação é válido para as bases devendo-se, entretanto, ressalvar-se o fato de que tais compostos iônicos no estado e, por isso, sua dissolução em água não origina íons, apenas separa essas espécies químicas que já existiam antes da dissolução. Ocorre, portanto, uma dissociação iônica e daí falar-se que Kb é a constante de dissociação da base. Devido ao fenômeno de hidrólise as soluções aquosas dos sais neutros podem apresentar reação ácida, básica ou neutra, dependendo dos valores de Ka e Kb do ácido e base que originaram o sal. Para que possamos dar continuidade ao nosso estudo se faz necessário entender a constante de dissociação da ionização da água e o conceito de pH. A concentração de H2O não dissociada é muito maior que a dos íons que a compõem, ela pode ser considerada constate e incorporada a Kc, passando a ser denominada Kw, sendo Kw = [H+] [OH-]. Assim, a água pura deve conter quantidades equimolares de [H+] e [OH-], portanto, a Kw = 10-14 mol2/L2. [H+] = [OH-] = (Kw)1/2 = 10-7 mol/L De acordo com as concentrações de [H+], temos então: · Soluções com [H+] = 10-7 mol/L são consideradas neutras. · Soluções com [H+] > 10-7 mol/L são consideradas ácidas. · Soluções com [H+] < 10-7 mol/L são consideradas básicas. Considerando-se que Kw = 10-14 mol2/L2, conclui-se que a solução ácida terá a maior concentração de H+, que é 1 mol/L, e a menos ácida, a menor concentração, que será igual a 10-14 mol2/L2. Sörensen propôs a utilização de seu logaritmo negativo, que determinou o potencial hidrogeniônico, representado por pH. Sendo assim: pH = - log [H+] = log 1/[H+] = colog [H+], onde se observa o pH e a concentração de íons H+ variam de forma inversa. Assim, por exemplo, para [H+] = 1 mol/L e [H+] = 10-14 mol/L, tem-se: 31 pH = - log [H+] = - log 1 = 0 pH = - log [H+] = - log 10-14 = 14 Isso permite estabelecer uma escala convencional de pH, na qual o máximo e o mínimo de acidez sejam iguais a zero e 14, respectivamente (Figura 1). Seguem alguns exemplos de [H+] e pH em fluidos biológicos: · Suco gástrico: [H+] aproximadamente 0,01 mol/L e pH = 2,0. · Sangue: [H+] = 3,98 x 10-8 mol/L e pH = 7,4. · Suco pancreático: [H+] = 2,5 x 10-9 mol/L e pH 8,6. O conhecimento do pH de fluidos biológicos e de soluções de laboratório é de importância primordial. Existem aparelhos especiais, os peagâmetros para determinações precisas, mas o uso de indicadores de pH é indispensável na prática. Os indicadores de pH são substâncias que mudam de cor conforme o pH do meio. A cor resultante é comparada com uma série de padrões coloridos (veja na página 50 do livro: Práticas de laboratório de bioquímica e biofísica: uma visão integrada). Fora da faixa de mudança de coloração, que é a faixa útil, os indicadores não funcionam. É que os indicadores são ácidos fracos que apresentam cor A (ácida), quando protonados e, cor B (básica) quando desprotonados. Para o estudo do equilíbrio ácido-básico, toma-se como referência o sangue, que, estando sempre em circulação e banhando todos os tecidos, pode receber ácidos ou bases. O pH sanguíneo normal está entre 7,35 e 7,45, e o organismo, por tolerar pequenas variações possui uma série de mecanismos para impedi-las. Embora o metabolismo animal seja acidogênico, 32 o pH sanguíneo permanece constate porque o organismo dispõe de três mecanismos para controlá-lo evitando que os ácidos produzidos pelas células promovam alterações lesivas: · Excreção do excesso de ácidos por via renal; · Utilização de tampões naturais, existente no organismos para amortecer as alterações de pH; · Excreção pulmonar do anidro carbônico (CO2). Vale a pena ressaltar que estes três mecanismos funcionam em sincronia. Em seguimento à discussão temos o tempo de cada linha de defesa: · Sistemas tampão químicos, ação imediata do H+ para as células (2 a 4 horas); · Pulmões ajudam em 50% (10 a 30 minutos); · Rins, dependendo da modificação do intracelular (1 a 2 dias). Em primeiro lugar, o excesso de ácido é excretado pelos rins, principalmente sob a forma de amônia. Em segundo lugar, o corpo utiliza soluções tampão do sangue para se defender contra alterações súbitas da acidez. Quimicamente falando, tampão é uma resistência à mudança de pH. No corpo humano, as soluções tamponantes são responsáveis pelo funcionamento biológico que depende criticamente do pH. Em destaque, o sistema tamponante mais importante é o do sangue. A Tabela 1 lista os sistemas-tampão no sangue (líquido intravascular), nos tecidos (líquido intersticial) e no interior das células (líquido intracelular). 33 Tabela 1 - - Em temos de importância, os tampões disponíveis no organismos são ordenados do seguinte modo: 1) A hemoglobina (cerca 15 g) está contida nas hemácias (eritrócitos); 2) O bicarbonato distribui-se entre o plasma (do qual é o principal tampão) e os eritrócitos; 3) O fosfato distribui-se entre plasma (do qual é o segundo tampão) e eritrócitos. O transporte sanguíneo do anidrido carbônico (CO2) é feito de três formas: como bicarbonato (HCO3) – 64%, como carbamino-hemoglobina – 27% e dissolvido no plasma – 9%. O CO2 resultante do metabolismo do plasma transfere-se para o plasma e aumenta a pressão do CO2, o que facilita sua entrada no eritrócito, onde inicialmente ele combina com a hemoglobinapara forma a carbamino-hemoglobina. A acidez resultante do metabolismo e a baixa pressão parcial do O2 (pO2) diminuem a afinidade do oxigênio pela hemoglobina e favorecem a dissociação da oxi-hemoglobina proveniente dos pulmões liberando oxigênio para os tecidos. A base Hb- associa-se ao H+, formando a desoxi-hemoglobina e impedindo a acidificação acentuada. O sangue, contendo as três formas de transporte de CO2, ao atingir os alvéolos apresenta pressão do O2 inferior e pressão parcial do CO2 (pCO2) superior às desses componentes do ar alveolar. Com a passagem do CO2 para o alvéolo e do oxigênio para o sangue, ocorre a formação da oxi-hemoglobina, que é transportada para os tecidos. O H+ liberado e o CO2 eliminado com o ar 34 expirado deslocam o equilíbrio do tampão HCO3 -/CO2 para a direita, elevam o pH e favorecem a ligação do oxigênio com a hemoglobina (Figura 2). O metabolismo celular, além de produzir CO2, forma vários ácidos que, por serem não voláteis, não podem ser eliminados pela via respiratória. Para compensar esse desvio de equilíbrio, os rins lançam mão de três mecanismos: reabsorção do HCO3 – e excreção do H+; acidificação da urina e excreção renal da amônia. Os distúrbios no equilíbrio ácido-básico são chamados acidose quando há queda no pH e alcalose quando o pH se eleva. Em algumas patologias, como o enfisema pulmonar, a dificuldade da troca gasosa leva a um aumento da pressão de CO2, ou seja, aumento do componente ácido sem aumento proporcional da [HCO3 – - respiratória e, desse modo, acumula CO2 no sangue, reduzindo sua eliminação. O aumento da [CO2] desloca o equilíbrio para a formação de bicarbonato, de tal forma que o pH do sangue retorna à normalidade. Entretanto, há situações em que a variação do pH ocorre por causas metabólicas, como é o caso, por exemplo, da diabetes não tratada, que se caracteriza por uma superprodução de ácidos que determinam a queda do pH. Nesses casos o aumento da [H+] desloca o equilíbrio para a esquerda, com diminuição da [HCO3 –], instalando-se a acidose metabólica. 35
Compartilhar