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19 1.5 A chegada da Psicomotricidade relacional da Europa André Lapierre levou a Psicomotricidade Re- lacional para a Itália, onde concretizou seu grande sonho que foi o de implantar a primeira escola de especialização em Psicomotricidade: Escola Trienal de Especialização em Psicomotricidade Relacional, possibilitando sua integração à ANUPI - Associa- ção Nacional Unificada de Psicomotricidade da Itália cuja presença hoje existe em várias escolas de especialização do mundo, cabendo aos órgãos competentes do governo a autorização e supervi- são das especializações. 1.6 A Inclusão da Psicomotricidade relacional no Brasil No Brasil, especificamente em Curitiba, no Instituto CIAR, a Psicomotricidade Relacional adentra-se com muita aceitação, em que André La- pierre e Anne Lapierre orientaram e supervisiona- ram a formação da primeira turma de psicomotri- cistas relacionais do Brasil. Hoje, o CIAR Curitiba é referência nacional na especialização em Psico- motricidade Relacional. A Psicomotricidade Relacional toca a globalidade do SER, garante a preservação da sua saúde global, redi- 20 mensiona seus valores dentro de um processo de co- municação autêntico. (JOSE LEOPOLDO VIEIRA). ACESSE: http://www.ciar.com.br e descubra mais curiosidades sobre a Psicomotricidade. 1.7. Diversificação dos principais conceitos e concepções Primeiramente, vamos ler e refletir um pouco sobre Psicomotricidade através deste trecho: A Psicomotricidade Relacional não é uma técnica que se possa aprender intelectualmente nos livros. É mais um método, uma maneira de atuar, uma possibilidade de se estabelecer uma comunicação mais humana, mais verdadeira com qualquer pessoa, até mesmo com as crianças, desde a creche e a escola. (ANDRÉ LAPIER- RE em entrevista concedida ao lado de José Leopoldo Vieira por Victor Casimiro) De acordo com André Lapierre, a Psicomo- tricidade Relacional é basicamente um método que prioriza o vínculo afetivo que existe em cada ser em desenvolvimento, os fatores, psicológicos, motores e afetivos, sem esquecer dos campos emocionais li- gados à cognição; tem como foco eliminar qualquer 21 metodologia que tenha ênfase na Psicopedagogia, pois em comparação com a Psicomotricidade, é uma terapia limitada e ainda muito fraca em seus concei- tos teóricos para a prática com real significância. A Psicomotricidade Relacional, de forma cui- dadosa e sensível, prepara a criança e a ensina como verbalizar e colocar de forma clara todas as suas questões mal resolvidas, incluindo seus conflitos internos e externos, ajudando-a, por meio do jogo simbólico, a reestruturar seus pensamentos operan- tes e seus comportamentos futuros, tendo como foco um resultado atuante e preventivo em meio às intercorrências no modo em que a criança ou o ado- lescente se comunica e se relaciona com as pessoas a sua volta e com os seus pais, que são o referencial de aprendizado para a vida. A terapia com a Psicomo- tricidade ajuda, de forma prática, no livramento de traumas e frustrações diversas que causam prejuízo na qualidade de vida física e psicológica. Alguém poderá objetar que este ecletismo não é coe- rente, nem científico. Responderemos que há tempos as ciências experimentais renunciaram à coerência e que a física, por exemplo, adota, segundo as circunstâncias, tanto a teoria corpuscular da luz, quanto a teoria vibra- tória, que são perfeitamente contraditórias. As teorias científicas não passam de modelos afixados sobre uma realidade desconhecida, a evolução não se realiza a não 22 ser trocando de modelo para cercar mais de perto a re- alidade. (LAPIERRE; AUCOUTURIER, 1996, p. 10). Uma intervenção direta junto à criança é desejável e possível e tem por objetivo permitir que ela expri- ma suas carências e seus conflitos no plano relacio- nal. Com efeito, à medida que descobre o mundo dos objetos, a criança descobre o mundo dos outros, com seus desejos, suas proibições, suas seduções, sua agressividade, seus próprios desejos, suas próprias am- bivalências, podendo então estruturar pouco a pouco os modos de ação e de reação que lhe serão pessoais. Todas as crianças são confortadas com esse proble- ma. Algumas o resolvem melhor que outras, o que faz com cada uma vá constituir uma personalidade mais ou menos normal ou mais ou menos patológica. Isto depende da qualidade e da clareza das relações que ela terá podido estabelecer com seu ambiente, seus pais e também todos os adultos com os quais vai ter uma relação contínua (LAPIERRE, 2002, p. 171). Existe hoje uma série de profissionais em massa que não prioriza as capacidades empíricas do ser a sua frente e erra ao se prender a questões que não ajudam, se apega à necessidade e à deficiência em algumas áre- as. O psicomotricista deve ter olhos de águia para en- xergar o que ainda não foi visto, e não só o óbvio. O 23 primeiro investimento do terapeuta é na construção da autoestima da criança para que ela mostre onde tem dificuldades sem ser abalada quando for confron- tada em seu conflito interno e externo. Nós nos interessamos por aquilo que ela sabe fazer, e não pelo que ela não sabe fazer (LAPIERRE; AUCOU- TURIER, 2004, p.19) Todos os seres humanos conseguem, em qual- quer tempo, superar dificuldades físicas e psíquicas quando são condicionados a ter uma autoestima viva e saudável. Quando o psicomotricista, desde o pri- meiro momento, coloca como propósito terapêutico impulsionar a vontade da criança a superar suas difi- culdades, todo o processo será de sucesso. Na Psicomotricidade Relacional o corpo e o movimento exercem em caráter excepcional e extre- mamente grandioso a forma de viver e desenvolver do ser em terapia. O comportamento e o movimento são responsáveis pelas diversas revelações do ser que chega em seu ambiente psicomotricista terapêutico. É preciso priorizar e, acima de tudo, entender o processo de observação no contato e na utilização da linguagem verbal e, principalmente, a não verbal do indivíduo, pois dali são revelados detalhes impor- tantíssimos que só profissionais praticantes da ob- 24 servação contínua podem verificar no decorrer da sua vida profissional. É preciso também entender que o desenvolvi- mento da autonomia e da identidade do ser dá-se naturalmente pelos processos de desenvolvimento da socialização, consideramos este fato como regra. Quando o ser entra em processo de socializa- ção, interage e, simultaneamente, começa a ganhar valores sociais em um processo natural que expan- de as habilidades de afetividade com outros seres a sua volta, isto é, um processo único e natural que as crianças estabelecem entre elas e com os adultos, ou seus genitores referenciais, contribuindo para que o reconhecimento do outro e a capacidade de ver e conviver com as diferenças de identidade de gênero, habilidades e limitações do próximo possa empoderá-las para os valores que precisarão ter para conviver em uma vida futura de forma saudável e independente. 1.8 A extrema importância do brincar para desenvolver Mais uma vez seguindo pela visão lapierriana, vamos focar no jogo simbólico e na brincadeira usando ao máximo a imaginação, pois são elemen- tos fundamentais na prática psicomotricista dentro de um contexto pedagógico, lembrando que o jogo 25 simbólico trabalha o cérebro da criança de forma muito eficaz, desvendando informações reais do consciente e inconsciente. É na primeira infância que a criança evolui atra- vés do brincar e no jogo simbólico, perpassando pelo real e o imaginário que é, sem dúvida alguma, um eficiente artifício psicomotor, é através deste instrumento que a criança aprende a reconhecer e adquirir vínculos familiar e social (amizade). Ao participar dos jogos e brincadeiras, ensaian- do situações realísticas da vida diária, o psicomotri- cista consegue ajudar a criança ou o adolescente a evoluir no desenvolvimento cognitivo-motor, social e principalmente emocional. ATENÇÃO!A brincadeira e o jogo simbólico ajudam o ser em desenvolvimento a visualizar-se em meio aos outros a sua volta. Em contrapartida, nessa interação divertida, desenvolve seu vocabulário, adquirindo diversas lingua- gens, e dando poder às suas projeções orais, racionais e subjetivas, e, ainda, aumenta a capacidade de raciocí- nio em meio a possíveis confrontações e compreen- sões dos quesitos básicos de convivência, formando-se para o presente e futuro, onde poderão enfrentar desa- fios iguais aos que viveram nas brincadeiras e nos jo- gos simbólicos, formando livremente um ser racional, questionador e independente em suas ações. 26 (...) o ponto fundamental da passagem da Psi- comotricidade funcional à relacional é a utilização do jogo (brincar da criança) como elemento pedagó- gico (NEGRINE, 1995, p. 74). O grande erro do psicomotricista que se põe como direcionador da Psicomotricidade Clínica é a falta de direcionamento correto para condicionar a criança ao jogo, a fim de que este evento tenha pro- gresso pedagógico assertivo. Logo, se o jogo sim- bólico não for rigorosamente utilizado para um fim clínico, o ser em terapia não se beneficiará de evo- luções para sua qualidade de vida psíquica e afetiva nas terapias faz. ...no que tange ao desenvolvimento afetivo e emocional, o jogo permite a expressão do imaginá- rio e da criatividade, dos sentimentos, das fantasias, dos desejos e dos conflitos conscientes e inconscien- tes (VIEIRA et al, 2005, p.50) A proposta do jogo simbólico deve ser coloca- da ao indivíduo de forma serena e acolhedora, dei- xando-o livre para acertar e errar em seu processo com o terapeuta, logo, todas as atividades propostas devem ser livres, espontâneas, fazendo com que o ser em terapia seja completamente livre para usufruir de toda a imaginação que for capaz de revelar no momento terapêutico. Cabe ao psicomotricista anotar, observar e rela- tar de forma metódica, pois todos os atos serão re- 27 veladores sobre aquela criança, onde ela demonstra- rá medos, conflitos e traumas que a deixam, de certa forma, defensiva em pensamentos, palavras e ações. Você tem percebido que estamos batendo sem- pre na mesma tecla? Anotar, observar? Pois é, um bom profissional, atuante ou não, depois da sua for- mação técnica deve manter esta postura de forma metódica e natural. Depois de uma formação técnica na área de humanas, sempre haverá pessoas que pre- cisarão de nós. Pense nisso! Nesse sentido, precisamos entender que a maioria dos conflitos internos que afligem uma criança em sua primeira infância tem influência do meio em que vivem, portanto, chamamos de “influências do meio” apelidos, bullying, projeção, a superação do medo por imposição e palavras ditas de forma agressiva, tudo isso é, de for- ma grave, alojado no inconsciente, formando em longo prazo um ser inseguro, impotente e em constante sofri- mento, sendo assim, torna-se um distúrbio que impede este ser de se desenvolver e relacionar-se com outras pessoas. Logo, um dos papéis do psicomotricista é in- vestigativo para atuar na origem do problema. 1.9 Quais as principais áreas de at- uação para um psicomotricista? Com os avanços assertivos da Psicomotricidade Relacional, as diversas demandas têm crescido, assim 28 como a procura desses profissionais em vários cam- pos da sociedade. Assim, são inseridas e iniciadas no campo da educação infantil e no ensino fundamental I e II, onde esse instrumento de trabalho clínico e terapêutico tem se estabelecido como uma poderosa ferramenta de intervenção em todos os campos da sociedade, sendo de grande eficácia para que o aluno e/ou paciente não fique andando em círculos, entre vários profissionais ao mesmo tempo, sem evolução. 1.10 A Psicomotricidade relacional no ambiente escolar Atualmente, é na escola de ensino regular e em espaços psicopedagógicos que temos mais presen- ça da Psicomotricidade Relacional, onde seus re- sultados atuam de forma preventiva e terapêutica, em que o foco é otimizar o processo de desenvol- vimento cognitivo motor de crianças em desenvol- vimento psicossocial, ajudando-as a adquirir as- pectos positivos de convivência mediante políticas estudantis, condicionando-as a um relacionamento saudável com outros seres no mesmo espaço de aprendizagem escolar. Nas atividades de Educação Física, o corpo e o movimento são os primeiros a serem trabalhados na criança, com objetivo de fazer com que se auto- conheçam e vejam suas limitações e superações no 29 dia a dia e, em seguida, o processo de aquisição de aprendizagem passa a ter uma consonância com a motricidade, transmitindo aos alunos possibilidades de experimentar diversas atividades psicomotoras com outras crianças. A Psicomotricidade no am- biente escolar é o instrumento para condicionar os alunos ao autoconhecimento, de forma didática e sempre agradável. 1.11 A Psicomotricidade relacional na empresa Mantoan (2001), uma escritora de referência em inclusão em todos os campos da sociedade, defende que é necessário ultrapassar os níveis de motivação material e evoluir para novos patamares motivacio- nais relativos à criação de novas ideias (razão de exis- tir), precisando, para isso, de liberdade. A grande luta para manter-se atuante e atu- alizado, de forma efetiva, em uma empresa exige constante atualização pessoal e profissional, que é, sem dúvida, uma imensa e infinita jornada em toda a vida do ser humano, e só é possível chegar aos níveis de maturidade através do autoconhecimento, ao longo dos anos, em um local de trabalho, detalhe indispensável na vida de todos os seres racionais. A Psicomotricidade traz como proposta às empresas o autoconhecimento para melhor aproveitamento 30 das habilidades de cada colaborador dentro de uma empresa. Muitas pessoas trabalham anos e anos de forma maquinal e jamais desenvolvem suas habili- dades ou conhecem seus limites, pois nunca foram condicionadas a esta prática. A Psicomotricidade dentro da empresa tem o objetivo de fazer com que o colaborador possa se expressar com criatividade e autoconfiança. As dinâ- micas de grupo e atividades de relaxamento têm um resultado excepcional e assertivo, pois os gestores de pessoas têm investido muito na autoestima dos seus colaboradores, para que se expressem claramente e de forma segura, contribuindo para o crescimen- to de todos os envolvidos. Quando o colaborador conhece suas habilidades e seus limites, os gestores podem aproveitá-lo de forma muito mais eficaz sem deixá-lo constrangido, impedindo também a troca constante de pessoal dentro da empresa. 1.12 A clínica psicomotricista A Psicomotricidade Clínica tem um único foco: a criança e seu desenvolvimento em primei- ro lugar e, na sequência, dar sentido a sua vida ajudando-a a entender a si própria, dando autono- mia física e psíquica para que se encontre e possa acompanhar as demais crianças em desenvolvi- mento. É preciso conhecer a real necessidade e 31 dificuldade dessa necessidade para que se possa dar sentido a uma psicoterapia psicomotricista de sucesso evolutivo, podendo se reencontrar e se desenvolver na primeira infância com menor prejuízo possível na vida futura. No setting clínico, a Psicomotricidade Rela- cional exerce uma demanda com diversas proble- máticas específicas, perpassando por um campo extremamente difícil que é o neurológico, onde já existem profissionais mais específicos; como fisioterapeutas funcionais e neurofuncionais que usam técnicas mais direcionadas à evolução da parte física, em especial, porém, o psicomotricis- ta pode atuar em conjunto com estes profissio- nais. Já na clínica psicomotricista existe o campo motor, o psicossocial, o cognitivo, o da aprendi- zagem e o das esferas afetivas da criança. No atendimento clínico exclusivo, na Psico- motricidade Relacional, pode haver sessões in- dividuais, em conjunto, e a parte documental da clínica que é seguir com rigidez alguns protoco- los especiais e obrigatórios,como a anamnese, ou seja, a parte investigativa e o processo de diag- nosticar os focos onde há necessidade de aborda- gem terapêutica, sem esquecer-se da investigação familiar, escolar, e/ou de todos os participantes na vida daquela criança ou adolescente.
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