Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso de Capacitação em Ludoterapia: A Psicoterapia através do Brincar Se ainda não adquiriu o CERTIFICADO de 120 HORAS pelo valor promocional de R$ 57,00. Clique no link abaixo e adquira! https://bit.ly/30bPRH8 https://bit.ly/30bPRH8 Sumário 1 O que é Ludoterapia? ...................................................................................... 3 2 Histórico da Ludoterapia................................................................................ 12 2.1 A criança e o Brincar Segundo Vera Barros de Oliveira ......................... 15 2.2 O Jogo e o Brincar segundo Melanie Klein ............................................. 16 2.3 O Jogo e o Brincar Segundo Donald Winnicott ....................................... 16 3 Bases da Ludoterapia.................................................................................... 19 3.1 Método Fenomenológico e os princípios existenciais ............................. 20 3.2 Recursos Metodológicos ......................................................................... 23 3.3 O Papel do Psicólogo na Ludoterapia ..................................................... 24 3.4 Orientação dos Pais ................................................................................ 25 4 Ludoterapia: Pais e Professores, como podem ajudar? ................................ 27 5 Técnicas de Ludoterapia ............................................................................... 32 Referências ...................................................................................................... 37 Anexo I – Contribuição da Ludoterapia no Autismo Infantil .............................. 38 Resumo ......................................................................................................... 38 Introdução ........................................................................................................ 39 Referencial Teórico .......................................................................................... 40 Conceitos e Características principais do autismo ........................................ 40 Testes Para Autismo e Funcionamento dos Níveis do Autismo .................... 41 A Ludoterapia e a Sua Importância ............................................................... 42 Ludoterapia e o Seu Funcionamento ............................................................ 44 Metodologia ...................................................................................................... 45 Resultados ....................................................................................................... 47 Conclusão ........................................................................................................ 50 Referências ...................................................................................................... 51 1 O que é Ludoterapia? Ser criança é mergulhar em um mundo de descobertas, de transformações e contato direto com o desconhecido. Para cada fase da vida há um cuidado específico, e esse cuidado se intensifica quando falamos sobre a infância. É nessa fase que a criatividade se expressa com facilidade, que os primeiros afetos vão proporcionar acolhimento para encorajar a vida no futuro e que os monstros imaginários podem provocar mudança no comportamento e alimentar medos fantasiosos. Quando a bagunça e o barulho dão espaço ao silêncio e ao isolamento, causando mudança no comportamento, significa que é um bom momento de cuidar da saúde mental dos pequenos. Esse cuidado na infância é de grande importância para que não tome proporções maiores, impedindo que a as fases seguintes sejam prejudicadas. Cuidar da saúde mental das crianças é também exercer a função de prevenção da saúde mental do adolescente, tornando um adulto mais consciente de seus sentimentos. A psicoterapia infantil é o cuidado e a atenção com a saúde mental da criança. É um espaço potencial para acolhimento das angústias, medos, inseguranças e um momento de intervenções com os pais. Com o intuito de promover uma infância saudável a psicoterapia infantil utiliza a Ludoterapia para caminhar rumo ao bem-estar familiar, a prevenção e solução de conflitos. O objetivo é auxiliar na expressão das emoções de cada criança, pois através da brincadeira ela pode expandir seus sentimentos acumulados de tensão, frustração, insegurança, agressividade, medo, espanto, confusão e re- significar os eventos traumatizantes. Desta forma, o terapeuta exerce a função de facilitador, sendo capaz de identificar os conflitos e auxiliar na busca de melhores alternativas para lidar com https://www.vittude.com/blog/stress-infancia/ https://www.vittude.com/blog/saude-mental/ http://www.lysispsicologia.com.br/saude-mental/suicidio-na-adolescencia-tristeza-e-solidao-nao-tem-idade/ https://www.vittude.com/blog/o-que-e-psicoterapia/ http://www.lysispsicologia.com.br/servicos/psicoterapia-infantil/ http://www.lysispsicologia.com.br/servicos/psicoterapia-infantil/ https://www.vittude.com/blog/angustia/ https://www.vittude.com/blog/5-razoes-para-fazer-terapia-familiar/ https://www.vittude.com/blog/conheca-as-emocoes/ https://www.vittude.com/blog/medo-como-superar/ https://www.vittude.com/blog/trauma/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/qualidades-de-um-bom-terapeuta/ eles, ao mesmo tempo em que, orienta os pais a como intervir diante dessas vivências. As primeiras sessões são realizadas com os pais, ou quem exerce essa função. O psicólogo realiza entrevistas iniciais para reunir informações sobre a história da criança e para conhecer a dinâmica da família em que a criança está inserida. Depois, o psicólogo tem maiores condições de entender a queixa e avaliar os objetivos do trabalho. As sessões seguintes são realizadas apenas com a criança. Sabemos que as crianças não expressam seus sentimentos e emoções como fazem os adultos, verbalizam menos e tem outras formas de comunicações, por isso, o atendimento a ela é feito de forma lúdica, ou seja, “brincando” (desenhos, jogos, massinhas, etc.). É através do brincar que a criança expressará seu mundo simbólico, e com o auxílio do terapeuta encontrará recursos de enfrentamento para se posicionar diante do mundo, mas desta vez, de forma saudável e sem prejuízos no seu dia a dia. Encontros periódicos com os pais serão importantes ao longo da psicoterapia. A participação dos pais neste processo é imprescindível para sua evolução, muitas vezes, se faz necessário solicitar aos pais informações, como também, oferecer-lhes auxílio para o desenvolvimento satisfatório do processo psicoterapêutico. A parceria com a escola também é importante, já que, é no ambiente escolar que a criança passa boa parte do tempo. São muitos os motivos que fazem uma pessoa necessitar de psicoterapia, porém, isso pode ser percebido quando você sentir que seu filho está passando por “alguma dificuldade” que nem ele e nem você, tem conseguido lidar ou entender tais questões. Outras vezes, o encaminhamento à psicoterapia pode ser feito por outros profissionais da área da saúde como pediatra, psiquiatra, fisiologista, fisioterapeuta, neurologista, entre outros, ou pela escola. Muitos pais têm dúvidas sobre quando buscar ajuda para os filhos e acabam inseguros por desinformação. Dificuldades no relacionamento com as https://www.vittude.com/blog/fala-psico/pais-sao-pessoas-nao-herois/ https://www.vittude.com/blog/como-escolher-um-bom-psicologo/ https://www.vittude.com/blog/alimentacao-saudavel/ https://www.vittude.com/blog/o-que-e-inteligencia-emocional/ https://www.vittude.com/blog/psiquiatra-nao-e-coisa-de-gente-doida/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/psicologo-neurologista-ou-psiquiatra-quem-procurar/ pessoas, na atenção ou aprendizado são aspectos relevantes para buscar auxílio de um psicólogo, outras queixas comuns que indicam a necessidadede acompanhamento psicológico são: • Choro excessivo • Irritabilidade • Timidez excessiva • Birras e malcriações • Isolamento • Agressividade • Medo de ficar em determinado ambiente sozinho • Ciúmes após a chegada do (a) irmão (a) • Necessidade extrema de proximidade com os pais • Enurese e encropese • Dificuldades escolares • Recusar ir à escola de forma repentina • Demora a falar ou andar • Separação dos Pais • Perda de algum familiar • Mudanças no comportamento em geral Através do brincar a criança encontrará, com o auxílio do terapeuta, recursos de enfrentamento e expressão dos sentimentos, permitindo a resolução de conflitos internos e aliviando os sintomas. O acompanhamento psicológico na infância promove uma vida emocional equilibrada, já que é ensinada de forma lúdica a importância de compreender as emoções para enfrentar os conflitos de forma saudável. Os benefícios também são voltados aos pais, já que, também é trabalhado as necessidades de se afastarem da ideia de terem que ser perfeitos em suas funções. É importante lembrar que, a busca de Psicoterapia Infantil não significa que os pais não estão sendo bons suficientes, mas é preciso ressaltar que filhos https://www.vittude.com/blog/timidez/ https://www.vittude.com/blog/solidao/ https://www.vittude.com/blog/ciume/ https://www.vittude.com/blog/fala-psico/os-conflitos-do-divorcio/ https://www.vittude.com/blog/perda-de-uma-pessoa-querida/ não vem com manual de instrução e que as falhas vão existir, mesmo quando os pais estão fazendo de tudo para não falhar. Muitos se sentem culpados por não conseguir dar o suporte necessário e resolucionar as dificuldades que a criança está enfrentando. Quanto mais os pais perceberem o psicólogo como companheiro, mais os ganhos serão alcançados para o bem-estar da criança. Ludoterapia é o nome científico da Terapia através do brincar, é a psicoterapia adaptada para o tratamento infantil, através do qual a criança, brincando, projeta seu modo de ser. O objetivo dessa modalidade de análise é ajudar a criança, através da brincadeira, a expressar com maior facilidade os seus conflitos e dificuldades, ajudando-a em sua solução para que consiga uma melhor integração e adaptação social, tanto no âmbito da família como da sociedade em geral. O terapeuta observa e interpreta suas projeções para compreender o mundo interno e a dinâmica da personalidade da criança. Para isso, buscam-se instrumentos através dos quais as projeções são facilitadas uma vez que, quanto menor a criança, mais difícil é para ela verbalizar adequadamente seus conflitos. Pode ser brincar de casinha, criação e prática de estórias e contos de fadas, jogo do rabisco, desenho, pintura, modelagem, dentre várias outras atividades. Ao brincar, a criança de alguma forma “sabe” que está se expondo porque ali ela atua representando as situações que a afligem. Como colocar toda a sua energia, atenção e emoção na brincadeira, ela intui que está como que “transparente” ao olhar do outro. Brincar é uma forma de linguagem tão clara para a criança que ela pensa ser, o seu significado, compreensível também para os outros. É por essa razão que às vezes, ao terminar uma sessão, ela pode pedir ao terapeuta que não mostre sua produção aos pais. Pode ser, por exemplo, um desenho que ela fez de sua família, no qual ela desenhou o pai afastado no canto da página e em tamanho menor. A sua obra pode estar denunciando dificuldades de relacionamentos na dinâmica familiar, as quais ela não se sente autorizada a abordar e com as quais https://www.vittude.com/blog/comportamento/ https://www.vittude.com/blog/psicologo/ não sabe tampouco lidar. Desse modo, não pode expressá-las e pede a cumplicidade do terapeuta para mantê-las em segredo. Outro exemplo: Ao brincar com os bonequinhos, a criança cria uma família em que os pais brigam muito ou batem nos filhos. Ela não está contando uma estória adequadamente articulada através da fala, como faria um adulto, mas reproduz uma cena possivelmente bastante conhecida sua. Cabe ao terapeuta investigar a origem dos conflitos, averiguando se trata-se de identificação com personagens de outras estórias, como filmes vistos na TV ou lidos em estórias em quadrinhos ou se retrata a sua própria vida. A maioria das crianças adere facilmente à ludoterapia e adquire, em relação ao terapeuta, confiança suficiente para se expor, brincando livremente. Outras, porém, e por várias possíveis motivações internas, esquivam-se das atividades projetivas preferindo brinquedos cujo grau de exposição é muito menor, como os jogos, por exemplo, em que as regras e o comportamento são previamente determinados, reduzindo bastante o grau de sua exposição. Nessa situação, fica mais difícil uma intervenção interpretativa de finalidade diagnóstica porque, sem o recurso da atividade projetiva e sem a verbalização do conflito, as sessões correm o risco de se tornar apenas uma hora de brincadeiras o que, não sendo ruim – ao contrário, muito se elabora durante a hora lúdica – pode também não ser suficientemente eficaz no sentido de ajudar a criança a lidar com a dificuldade que a trouxe até ali. Nesses casos, faz-se necessário que novos recursos sejam introduzidos, no sentido de facilitar o acesso do terapeuta à problemática central do paciente. Para isso é fundamental que, primeiramente, tenha sido construído um vínculo terapêutico adequado e que o profissional tenha flexibilidade para seguir novos caminhos de acordo com o gosto, necessidades e recursos da criança. Desta nova porta, a criatividade de ambos poderá ditar qual a atividade mais fácil e prazerosamente poderia trazer o problema à tona e ser acessado sem grandes barreiras defensivas. O que importa, na terapia, é que o contato com a emoção aconteça. O processo de elaboração vai dando-se à medida que o analisando compartilha sua dor, anseios e experiências traumáticas de uma maneira mais livre de crítica e mesmo de autocensura. A participação do terapeuta neste tipo de trabalho é bastante mais ativa do que seria numa ludoterapia tradicional. Aqui ele não pode ser apenas um observador, precisa facilitar a viabilização do projeto, seja oferecendo ideias no início (para que a exequibilidade do trabalho a ser feito seja perceptível para a criança) seja operacionalizando algumas fases da criação (por exemplo, a criança pode estar disposta a ditar a história ao invés de escrevê-la de próprio punho). Nesta situação, o terapeuta pode funcionar como uma espécie de assistente do autor, uma vez que o que importa nessa fase do processo é o conteúdo da narrativa. O produto concreto resultado dessa experiência, isto é, o ‘’livro’’ em si pode não ter importância no sentido de valor artístico, mas o que conta é o resultado terapêutico obtido durante a sua elaboração, para cujo processo ele funciona como uma ferramenta de acesso ao mundo interno da criança. Muitas são as possibilidades de intervenção na Ludoterapia e a elaboração de um livro é apenas uma delas. O terapeuta poderá criar, juntamente com a criança, o caminho mais suave e adequado para cada caso, respeitando a personalidade, os recursos e as limitações de cada criança, enfim, a sua individualidade. A Ludoterapia destina-se principalmente a crianças na faixa de três a onze anos de idade, aproximadamente, e pode ser aplicada individualmente ou em grupo, dependendo da abordagem adotada e do problema a ser tratado. Os motivos que levam os pais a buscarem a terapia para seus filhos são bastante diversos, predominando dificuldades de aprendizagem e distúrbios comportamentais, especialmente agressividade e comportamento antissocial, ocorrendo igualmente em ambos os sexos. A indicação da Ludoterapia é mais comumente feita por pediatras e pela escola e vem aumentando cada vez mais nos últimos tempos. A procura ocorre predominantementeentre famílias de classes média e alta. No entanto, dada a sua importância no tratamento e ao alto índice de detecção de problemas em crianças na idade escolar, cresce também o número de centros de serviços gratuitos para atendimento à população carente. O tratamento realiza-se através de sessões de cinquenta minutos cada e as crianças geralmente gostam bastante, visto que na sala de Ludoterapia não lhe serão solicitadas atividades desagradáveis ou entediantes. Ali elas poderão falar e/ou brincar sendo, esta última, a forma mais apreciada e através da qual cada criança se expressará de forma simbólica. As representações variam em função do tipo de quadro clínico que a criança apresenta, muito embora as atividades lúdicas sejam parecidas, independentemente do sexo da criança e de sua sintomatologia, que inclui também aquelas portadoras de déficits neurológicos e cognitivos. O que difere é o grau da elaboração das representações. Por exemplo, uma criança com motricidade fina abaixo da média, apresentará um produto empobrecido em termos gráficos, o que não a impedirá de elaborar seus conflitos de maneira satisfatória. No entanto, são as questões emocionais o fator responsável pela maior parte dos distúrbios que chegam ao consultório. Durante as sessões, o terapeuta pode utilizar-se tanto de técnicas diretivas como não-diretivas e isso vai depender principalmente da abordagem por ele adotada. Através da postura diretiva, o terapeuta orienta a criança a desenvolver atividades nas quais ele crê ser mais facilitado a expressão de um determinado tipo de conflito. Particularmente, prefiro a postura não-diretiva, posicionando-me mais pontualmente apenas quando percebo ser importante para o andamento do tratamento. Permito que a criança se autodirija praticamente o tempo todo, sentindo-se livre para realizar a atividade que preferir e expressar-se do modo que lhe for mais conveniente, consciente de que não será criticada por nada que se refira ao seu modo de ser. Limito-me a pontuar possíveis aspectos importantes ao detectá-los no seu comportamento, porém sem forçá-la ostensivamente. Um clima de respeitosa cordialidade é obtido, geralmente sem dificuldades. Para isso, na primeira sessão do processo, estabeleço que naquele espaço estarão sempre presentes três regras que deverão ser obedecidas o tempo todo: 1a.) é proibido machucar- se de propósito; 2a.) é proibido quebrar qualquer coisa de propósito; e 3a.) é proibido me machucar de propósito. As crianças costumam achar bastante justa essa combinação e, às vezes, me perguntam se elas valem também para mim, ao que respondo afirmativamente. Elas se sentem satisfeitas por saberem que, exceto essas três condições, tudo o mais é permitido, razão porque aquele espaço passa a ser sinônimo de liberdade de expressão. As crianças em processo terapêutico tendem a manifestar bastante afetividade em relação ao terapeuta, o que facilita muito todo o trabalho. Este, porém, deverá corresponder com reserva, pois seu papel será sempre acolhê- las tendo em mente levá-las em busca da sua independência e autonomia, o que é feito gradativamente. Assim, o vínculo afetivo mais forte vai se desfazendo de forma lenta e natural, preparando a criança para receber alta do processo terapêutico sem sentir-se abandonada, rejeitada ou privada de um lugar que lhe fazia sentir-se muito bem. Quando essa transição é feita adequadamente – o que não ocorre, infelizmente, quando os pais decidem interromper o processo abruptamente – pode acontecer também que a própria criança, por sentir-se mais independente e livre do problema que a levou até ali, decida espontaneamente finalizar a terapia. A participação dos pais é fundamental para o sucesso do tratamento porque eles estão, invariavelmente, ligados ao quadro apresentado pela criança. Não se trata de culpá-los pelo problema. É que a criança é, em geral, uma espécie de reflexo da dinâmica familiar. Daí a importância do envolvimento dos pais no tratamento, para que se possa tratar a criança, orientando-os e recebendo deles o feedback necessário ao acompanhamento do caso. Porém, nem sempre a receptividade dos pais é favorável. Para alguns, é muito difícil lidar com a constatação de que é necessário fazer mudanças porque sua atitude em relação à criança, embora bem- intencionada, vem sendo geradora de conflitos. No entanto, há muitos casos que são gratificantes, nos quais os pais apresentam-se cooperativos e envolvem-se inteiramente com o tratamento. A melhora dos sintomas ou mesmo a supressão do quadro inicial é detectada através da evolução das representações da criança. Muda sua maneira de abordar o tema central numa mesma brincadeira, assim como evoluem também o teor de seus desenhos e/ou o seu comportamento em geral. No caso clínico citado anteriormente, um dos sinais da ocorrência de elaboração (evidência de que o problema começa a ser processado e resolvido internamente) foi o fato de que, ao longo do processo de criação do livro, Bruna começou a gostar da história que estávamos construindo (a história do seu conflito que, na verdade, estava sendo reconstruída agora de uma forma mais consciente) e ao ver que o livro começava a ganhar forma (o seu livro, na verdade, construído com uma experiência de sua vida), percebeu que a sua história tem valor e importância (“minha vida é uma história importante, interessante e merece ser lida, escrita e contada porque pode ser apreciada”). Ao valorizar sua produção, a criança vai ganhando autoconfiança e maior desenvoltura com o tema, vai internalizando as intervenções feitas e se apropriando dos insights que surgem, num clima de criatividade e entusiasmo pela atividade que desenvolve. Além da observação no consultório, o profissional também busca informações na escola e na família com a finalidade de certificar-se de que os ganhos em terapia estão sendo generalizados para o universo de relações da criança. Às vezes os pais queixam-se de que a criança “piorou” relatando que ela, que antes era dócil e pacata, tornou-se briguenta e rebelde. Dependendo do caso, o profissional poderá interpretar esse comportamento como ganho real para aquela criança em particular, visto que começou a sentir coragem para expressar seus sentimentos de desagrado, caso fosse incapaz de fazê-lo anteriormente. Caberá ao terapeuta interpretar cuidadosamente esses dados para identificar se indicam realmente uma melhora da criança ou não, atuando apropriadamente a partir dessa avaliação e do relato dos pais. O tempo de duração do tratamento é variável, podendo ocorrer nas primeiras seis semanas, nos casos mais simples e agudos, ou estender-se por um ou mais anos, quando tratar-se de dificuldades estruturais ou mais complexas. 2 Histórico da Ludoterapia Melanie Klein ao iniciar seu trabalho na década de 20, desenvolveu um novo instrumento de trabalho: ¨a técnica do brincar¨. Por meio dessa técnica foi possível alcançar as fixações e experiências mais profundamente recalcadas da criança e exercer uma influência importante em seu desenvolvimento. Na psicanálise infantil o brincar tomou forma e sentido, passou a ser visto e trabalhado como técnica infantil, chamada de ludoterapia. Para a psicanálise infantil a palavra e o brincar da criança devem ser resgatados em toda sua autenticidade. Essa abordagem vai além da concepção cronológica e, objetiva revelar o que há de específico no infantil e na criança. A Ludoterapia é uma técnica psicoterápica usada no tratamento dos distúrbios de conduta infantis e, baseia- se no fato de que o brincar é um meio natural de auto expressão da criança. Podendo ser utilizada de forma individual ou grupal. Visto que não se pode exigir de uma criança que faça associações livres, Melanie Klein tratou o brincar comoequivalente a expressões verbais, isto é, como expressão simbólica de seus conflitos inconscientes. Assim a Psicoterapia Infantil ajudaria a criança a resolver fixações e a elaborar situações traumáticas do seu desenvolvimento. A análise através do brincar mostra que o simbolismo possibilita à criança transferir não apenas interesses, mas também fantasias, ansiedades e culpa a outros objetos além de pessoas, ou seja, muito alívio é possibilitado através do brincar. Podemos assim pensar que a criação, no uso da criatividade através do brincar seria um viés sublimatório; forma encontrada pela criança de colocar suas pulsões à mostra, expostas via objetos socialmente valorizados ou não. Melanie Klein percebeu que o brincar da criança poderia representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias e , que estas brincadeiras possibilitam conhecer os significados latentes e estabelecer correlações com situações experimentadas ou imaginadas por elas, fornecendo à cada uma delas a possibilidade de elaborar tais situações; mas, parece ter sido Donald Woods Winnicott o primeiro pós-freudiano a se debruçar sobre a real temática, como objeto de estudo específico. De acordo com Cabral (2000) “Análise infantil é um método de diagnóstico e terapia infantil que combina os princípios da Psicanálise freudiana e as técnicas projetivas consagradas nos testes de Rorschach e de Murray (T.A.T.). A esse método, Melanie Klein (1932) deu o nome de playtechnique, ou técnica de brinquedo, ou ainda ludoterapia, depois desenvolvida por outros psicanalistas da Escola de Londres, como D. W. Winnicott e Money Kyrle, e adotada no todo ou em parte por analistas de outras correntes. A análise infantil funda-se no princípio da catarse, uma vez que tenta explorar o mundo de sentimentos e impulsos inconscientes (os “fantasmas” infantis) como origem efetiva de todas as ações e reações observadas nos pequenos pacientes”. Melanie Klein estudou e relatou as descobertas da psicanálise que resultaram na criação de uma nova Psicologia Infantil. A criança desde os seus primeiros anos de vida pode experimentar sentimentos ruins como angústia e luto. O caráter primitivo do psiquismo infantil requer uma técnica analítica especialmente adaptada à criança, para isso utilizamos sua própria linguagem, ou pelo menos tentamos usar uma linguagem acessível à criança como também lançamos mão de todos os tipos de brincadeiras, desde jogos de regras como também jogos com bonecos de pano ou animais, além de todo material pedagógico que contribui muito para entendermos o mundo infantil. Por meio deste método obtemos acesso às fixações e experiências profundamente recalcadas da criança, o que nos possibilita exercer uma influência radical em seu desenvolvimento. O homem ao nascer é totalmente dependente nos primeiros anos de vida. Essa dependência se estende às atividades corporais e emocionais, porque depende do adulto até para saciar suas necessidades básicas como: agasalhar- se, alimentar-se, etc. O poeta, o artista, o pai, a mãe, o amigo, os idealistas estão latentes na criança pequena. Toda brincadeira tem um significado a ser explorado. Analogamente ao ator que pesquisa seu personagem, a criança constrói seu conhecimento com brincadeiras, jogos, jogos dramáticos e jogos com regras. Muitos pais ao verem seus filhos brincando se questionam se devem deixá-los sem fazer nada, porém desconhecem o fato de que brincar é a forma natural da criança vivenciar todos os acontecimentos do seu dia a dia e até mesmo compreender o mundo que a cerca. Brincar é o trabalho da criança. Ela o faz para aprender, ganhar experiência, desenvolver-se, exercitar sua criatividade. Durante as brincadeiras começa a identificar seus sentimentos: amor, raiva, agressividade, isso podemos observar durante os jogos dramáticos da criança que procura imitar os adultos em suas atividades e se utilizam de expressões e mímicas para representar o personagem. Dessa forma o melhor caminho para chegarmos ao mundo mágico da criança é através da brincadeira. A ludoterapia pode ser realizada também com adultos. Todos nós precisamos brincar e sorrir sempre, para nos sentirmos felizes com a vida. 2.1 A criança e o Brincar Segundo Vera Barros de Oliveira Segundo a Psicóloga Infantil, Vera Barros Oliveira (2000), no brincar casam-se a espontaneidade e a criatividade com a progressiva aceitação das regras sociais e morais; ou seja, brincando a criança se humaniza, aprendendo a conciliar de forma efetiva a afirmação de si mesma à criação de vínculos afetivos duradouros. Oliveira explica que brincando a criança elabora progressivamente o luto da perda relativa dos cuidados maternos, assim como encontra forças e descobre estratégias para enfrentar o desafio de andar com suas próprias pernas e pensar aos poucos com a própria cabeça, assumindo a responsabilidade por seus atos. Dessa forma, o brincar se constitui na ferramenta por excelência que a criança dispõe para aprender a viver. É no brincar que a criança encontra condições de desenvolver seu potencial já adquirido geneticamente. Segundo Oliveira, o brincar tem um papel importante na construção da inteligência e equilíbrio emocional do bebê, contribuindo para sua integração com o meio em que vive e, até mesmo para sua autoafirmação. Ela alega que as estruturas mentais, por serem orgânicas, só se desenvolvem mediante a possibilidade de expressão e comunicação com o meio. E, complementa, dizendo: “o brincar ensina a escolher, a assumir, a participar, a delegar e, a postergar”. Oliveira esclarece que é a crença no retorno periódico da mãe, que alimenta, protege, aquece, conversa e brinca, que dá forças ao bebê para suportar sua ausência. E, que o caráter ondulatório e cíclico de sua atividade lúdica, com temas opostos como vimos, expressa simbolicamente que est á aprendendo a esperar e a suportar a tensão e a frustração da separação, justamente porque confia em seu retorno. E, completa dizendo que o brincar compensa e reequilibra o organismo, chegando mesmo a armazenar bem-estar, se assim podemos dizer, para momentos futuros 2.2 O Jogo e o Brincar segundo Melanie Klein Melanie Klein, discípula fiel de Sigmund Freud, acabou por criar sua própria linha de psicanálise. Conjecturava a possibilidade do lúdico não apenas com o propósito de resgatar a relação de amor que a criança pode não ter tido, mas uma possibilidade de se trabalhar mais enfaticamente com o sujeito infantil. A referida autora observou que existem outras emoções em jogo nessa relação, como o ódio, a inveja, a sexualidade, etc. Verificou, então, que a criança havia perdido a inocência e suas brincadeiras e jogos apresentavam conteúdos sexuais. Para ela, os brinquedos e jogos infantis, tornaram-se processos simbólicos, com sentidos e significações especiais e únicos para cada criança. Em 1929, Melanie Klein, não focalizava a criatividade como sendo uma temática específica, mas descreveu o processo criativo como sendo uma tentativa de restauração de danos causados a objetos, sejam esses internos ou externos. Segundo ela, brincando a criança expressa de modo simbólico suas fantasias, seus desejos e suas experiências vividas 2.3 O Jogo e o Brincar Segundo Donald Winnicott Winnicott, observou que os bebês tendem a usar os punhos e os dedos para satisfazerem seus instintos e, que após alguns meses passam a usar algum objeto especial para substituir este meio de estimulação, já tendo a capacidade de reconhecer este objeto como “não-eu”. Adquirem também, a capacidade d e criar, imaginar, inventar, produz ir um objeto e estabelecer uma relação afetuosa com este objeto. Segundo ele, fenômenos transicionais é justamente a transferência que ocorre na troca do uso do dedo ou polegar paraa utilização de um objeto como o “não-eu ” a que ele chama de objeto transicional. Ou seja, quando pensamos no brincar como um instrumento valioso para o trabalho analítico, sabemos que estamos tratando de uma atividade que ocorre na área que foi denominada por Winnicott de transicional. Ele afirma que quando o simbolismo é empregado, o bebê já está claramente distinguindo entre fantasia e fato, entre objeto externo e interno, entre criatividade primária e percepção. E, diz que o brincar te m um lugar e um tempo, acontecendo primeiro entre mãe e bebê, segundo as experiências de vida. Ele explica que o brincar facilita o crescimento e, portanto, a saúde - além de conduzir aos relacionamentos grupais, até por que, “brincar é fazer. ”. Segundo ele, no brincar a criança manipula fenômenos externos a serviço do sonho e veste fenômenos externos, escolhidos com significado e sentimentos oníricos. E, prossegue dizendo que há uma evolução direta dos fenômenos transicionais para o brincar, do brincar para o brincar compartilhado, e deste para as experiências culturais. Winnicott esclarece ainda, que o brincar envolve o corpo devido à manipulação de objetos. Assim sendo, a criatividade é fundamental e é através dela que o indivíduo sente que a vida é digna de ser vivida. Ele explica que em todas as fases da vida, o mediador é fundamental para o sucesso no desenvolvimento do bebê, criança, adolescente, adulto ou velho. E, que tudo acontece com um mediador, com interação: o segurar, o manejar, a apresentação de objetos, a destruição do objeto, a sobrevivência à destruição. Assim, quando essa interação é feita com confiança, se a tarefa da mãe é cumprida na sua integralidade o desenvolvimento emocional e mental do bebê e da criança é conseguido sem consequências negativas. E, de acordo com Winnicott o simples fato de estar ao lado da criança, amando-a e respeitando seu ritmo natural, é o suficiente para proporcionar condições para seu desenvolvimento. Ele afirma que quando a criança experimenta angústia, medo e desamparo, o “objeto transacional” serve como suporte - um apoio para criança. Segundo Winnicott, este objeto é reconhecido pelos pais e é carregado para todos os lugares, pois ele representa conforto e segurança para o bebê. Um objeto que não é imposto à criança, antes é por escolhido pela própria criança. Às vezes uma fralda velha, um pedaço de roupa dos pais, um cobertor, possui características muito particulares, como, por exemplo, o cheiro e, por isso não pode ser lavado. Ele esclarece que esse objeto não é auto erótico, como por exemplo, chupar o dedo ou enrolar o cabelo; ou seja, não é auto erótico porque é externo ao corpo da criança. Esclarece ainda que, para cada criança, esse objeto tem um sentido, e é sentido como algo seu que lhe passa segurança e, visto que lhe é familiar, pode experimentar um sentimento de posse e controle, pois, sabe que pode levá-lo para onde quer. E, nos fala enfaticamente que “é no brincar que o indivíduo criança ou adulto pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu. 3 Bases da Ludoterapia Ludoterapia significa a aplicação de procedimentos de psicoterapia através da ação do brincar, mais especificamente, é o processo psicoterapêutico, que lançando mão do brinquedo, vai, através, da brincadeira constituir-se na estratégia utilizada pelo psicoterapeuta, a fim de que se possa rumar no sentido da autenticidade, aspecto este que fundamenta a essência da psicoterapia de base fenomenológico-existencial. A psicologia dispõe de três métodos básicos, através dos quais se desenrola toda a sua prática. São eles: o comportamental, o psicanalítico e o fenomenológico. No método comportamental, que tem no seu bojo os princípios positivistas, a terapêutica vai ocorrer através da sistematização das contingências de reforço, frente aos comportamentos desadaptados de uma dada criança. A partir de tal sistematização a criança vai reaprender os comportamentos, que se tornarão adaptados. Na prática psicanalítica o processo terapêutico só ocorrerá de fato com a transferência. Esta constitui a essência do método psicanalítico, que tem como fundamento a interpretação a partir de seus princípios e axiomas teóricos. A interpretação das vivências da criança e a consequente reelaboração das experiências passadas é o objetivo da terapêutica psicanalítica. Na psicoterapia fenomenológico-existencial, o discurso constitui a essência do processo psicoterápico e ocorre na relação entre duas ou mais linguagens. É nesta relação de intersubjetividade que o psicoterapeuta vai buscar, na vivência conflitiva do cliente a coerência entre as condições do existir. O psicólogo vai percorrer nesta busca através de seu recurso básico de atuação: a linguagem. É na linguagem que vai ser articulado o processo de psicoterapia. Heidegger afirma que é no discurso que o indivíduo revela aquilo que ele oculta. Na linguagem, o ser se revela, e aquilo que oculta se dá na estrutura do entendimento e do sentimento. Ainda segundo este filósofo, o estado de queda ou decaimento acontece quando a linguagem, o sentimento e a compreensibilidade apresentam-se desarticulados. Por outro lado, o dasein atua no mundo de forma autêntica quando as três condições do existir mostram-se em harmonia. A diferença na aplicação destes três métodos pode se tornar clara a partir da seguinte exemplificação: “Num determinado momento, um menino de nove anos que já vinha há algum tempo mostrando comportamentos agressivos na sessão de ludoterapia. Pega um boneco pai, soca-o e depois isola-o do restante dos bonecos, escondendo-o em uma caixa. ” Na concepção behaviorista a atitude deste menino teria sido aprendida e as contingências do meio, provavelmente, reforçaram-na. A estratégia terapêutica consistiria numa reaprendizagem. Psicanaliticamente, provavelmente a revelação da criança seria interpretada a partir de uma teoria de base que se articula numa vivência edípica. No enfoque fenomenológico- existencial todos os valores, teorias e pressupostos seriam colocados entre parênteses, e desta forma a situação poderá ser compreendida no contexto em que a revelação se evidencie. A terapêutica se daria no sentido de criar condições para que os sentimentos se mostrem, sejam eles de amor, de hostilidade, de culpa ou outros. Ao processo de escuta e fala, enquanto articulação do sentido, que ocorre no brincar, vai se denominar ludoterapia. A fala no adulto, que por si só muitas vezes é suficiente, na criança, na maioria das vezes mostra-se insuficiente, fazendo-se necessário o recurso do brinquedo para que desta forma o processo psicoterapêutico possa fluir. No lúdico, a criança revela seus sentimentos, suas vivências, enfim seus significados. 3.1 Método Fenomenológico e os princípios existenciais A abordagem fenomenológico-existencial lança mão do método fenomenológico utilizando os recursos da épochè, redução fenomenológica, captação intuitiva e integração significativa, à luz da filosofia existencial com os princípios de liberdade, responsabilidade, risco, angústia, desespero, morte e autenticidade. Enquanto método, que pretende se diferenciar do positivismo, a fenomenologia propõe que, em contato com os fenômenos, suspendam-se os juízos, os valores, as teorias, enfim, os princípios teóricos acerca do que apresenta. A esta postura, frente ao aparente, vai se denominar épochè. Na psicologia com este enfoque, as intervenções do psicoterapeuta vão se fundamentar na redução fenomenológica como a estratégia pela qual o psicólogo vai buscar o sentido do discurso do cliente. É neste aspecto que escuta e fala se articulam, fundando o processo psicoterapêutico. Ao psicoterapeuta cabe buscar os significados que estão implicados nodiscurso do cliente; para tanto, ele vai pautar-se nos princípios da captação intuitiva e da integração significativa. Na primeira se dá a percepção apurada a partir da condição de sentir do terapeuta. O sentido é captado, porém não é elaborado no nível reflexivo. Isto vai ocorrer num segundo momento com a integração significativa, quando o conteúdo passado pelo cliente se refletirá na relação entre ambos. Os princípios existenciais vão possibilitar as reflexões acerca da existência. A liberdade ocupa lugar de destaque nestas reflexões, uma vez que é a partir das possibilidades dadas ao existente que este se torna livre para escolher. Enquanto livre o indivíduo torna-se responsável pela possibilidade escolhida. Ao se tornar responsável, sente-se culpado e angustiado frente às possibilidades abandonadas e às que serão preteridas respectivamente. Quando a criança chega à sala, o terapeuta se apresenta e pergunta-lhe se sabe o porquê de estar ali. Apresenta-lhe o espaço de ludo com todas as suas possibilidades: papel para desenhar, lápis de cor, água, areia, barro, tesoura, quadro negro, jogos, livros infantis, fantoches, casa de bonecas, carrinhos, entre outros. Neste momento, cabe à criança escolher. O princípio a ser trabalhado é o da liberdade. Não se escolhe pelo cliente; é ele quem vai escolher; desta forma vai exercer a sua possibilidade de escolha. Ele pode dizer: “não sei tia, escolhe qualquer coisa. ” O terapeuta pode responder: “você está dizendo que eu posso escolher por você. ” - É. - Você está dizendo que não quer escolher. - Não. Você pode escolher, eu não quero escolher. - Quando você me manda escolher por você, sou eu quem vou definir a tarefa. Você então se dispõe a fazer o que eu quiser. Então vamos fazer contas de multiplicar. - Não, mas isso eu não quero. - Mas você disse que eu poderia escolher. - Mas multiplicar não. - Então tá. O que você escolhe? Se a criança insistir em não escolher, o terapeuta pode continuar escolhendo coisas que a criança provavelmente não gostaria de fazer e então refletiria para ela: “quando a gente não escolhe o que quer, deixa o outro escolher e aí a escolha do outro pode acabar por desagradar”. Nesse caso, trabalha-se a forma como ele constrói o seu ser no mundo: “é sempre assim com seus coleguinhas, eles escolhem por você? ” / “é assim na sua casa? ” Exploram- se todas as suas situações de vida. Ao acabar a sessão, pede-se para que ele observe como isso acontece lá fora. Nesta situação foi trabalhada a liberdade de escolha. A responsabilidade também foi vista. Ela escolheu e é responsável pelo que escolhe. Quando escolhe não escolher, continua responsável por não ter escolhido. É responsável por deixar que a outra escolha por ela. A angústia é o sentimento original que se dá na abertura do ser para o mundo. Frente às possibilidades oferecidas, ao dasein cabe escolher. A opção por uma das possibilidades encerra todas as outras. Isto acontece, por exemplo, quando, faltando poucos minutos para terminar a sessão, a criança ainda deseja realizar muitas tarefas que o tempo não permitiria. A criança deve fazer uma escolha, situação que vem carregada de angústia, uma vez que ela terá que abrir mão de outras possibilidades. Neste momento, o psicoterapeuta deve atuar no sentido de não aliviar a angústia, pois se assim o fizer estará aniquilando a situação de crescimento. A autenticidade caracteriza-se pelo fluir juntamente as três condições da existência. São elas: sentimento, entendimento e linguagem. O terapeuta atua no sentido de que tais condições se articulem sem conflitos. Na vivência dialética entre o eterno e o temporal, o terceiro termo é a existência no tempo, onde a morte é a constante companheira da vida. Neste sentido, o temporal constitui-se num aspecto fundamental no trabalho da psicoterapia. A partir da consciência da coexistência morte e vida, o psicoterapeuta atua de forma a trazer as limitações do existir. 3.2 Recursos Metodológicos A ludoterapia constitui-se numa prática da psicologia, portanto vai se articular a partir de um método e de reflexões teóricas. O fazer do psicólogo além de utilizar-se destes instrumentos, vai se dar a partir de alguns recursos metodológicos, tais como: atitudes, intervenções, livros, jogos, fábulas, dinâmicas, entre outros. Com relação às atitudes, a ética deve ocupar o lugar central. A sua atuação deve ser isenta de seus valores. Não cabe ao terapeuta avaliar uma atitude feia, nem bonita, nem certa ou errada, enfim, ele deve evitar ao máximo uma atitude de julgamento, uma direção quanto ao caminho que a criança deve seguir. Deve estabelecer uma relação com a criança pautada na autenticidade. Evitar, por exemplo, falar com a criança como se estivesse falando com alguém que não compreenda a linguagem comum, provavelmente se pensar desta forma não irá estabelecer uma relação de confiança. O psicólogo brinca com a criança, mas fala a sua própria fala, ao brincar. Virginia Axline, que adota a teoria de Rogers em sua atuação, descreve em seu livro Dibs: em busca de si mesmo algumas intervenções que são classificadas por Rogers como refletora de conteúdo verbal e clarificadora de vivência emocional. A primeira ocorre quando o cliente, ao brincar, revela um significado incongruente e o psicólogo sintetiza o discurso e o devolve. Na segunda, o psicólogo extrai o sentimento que foi explicitado naquela brincadeira e clarifica-o. Alguns psicólogos constroem as suas intervenções de forma afirmativa. Virginia Axline o faz de forma inquisitiva. Cada um vai construir seu próprio estilo e suas modalidades de intervenções, desde que o método fenomenológico seja considerado. 3.3 O Papel do Psicólogo na Ludoterapia A atuação do psicólogo muitas vezes constitui-se numa arte muito mais do que numa técnica. Este aprendizado ocorre na medida em que há a experiência. Os aprendizes de ludoterapia acabam por passar por momentos difíceis, em que se separar da forma como lidam com o cotidiano para assumir uma postura de psicoterapeuta torna-se uma tarefa árdua. É comum, em psicólogos inexperientes, ocorrerem alguns deslizes, tais como, entrar em competição com a criança que assume no mundo uma postura autoritária, levando o psicólogo a imbuir-se do lema: “vamos ver quem é que manda! ”. Agir desta forma implica em prejuízo do processo. Neste contexto não há lugar para disputa, a relação deve se estruturar como de ajuda. O psicólogo atua como facilitador que junto com a criança cria condições de crescimento num ambiente que lhe permita no brincar a expressão dos seus significados. No início pode ocorrer que o terapeuta tenha dificuldade em dar limites à criança. Com frequência, a criança opõe-se ao fato de ter que ir embora, ao término das sessões. Os limites têm que ser estabelecidos e trabalhados com a criança. Outra questão à qual o psicólogo deve estar atento é a curiosidade: psicólogo nenhum deve ser curioso, pois, se assim for, não vai estar atento ao outro, estará atento a si mesmo. Não se faz necessário insistir nos porquês, hábito bastante frequente nos novatos. Este tipo de questionamento muitas vezes acaba por irritar a criança, que muitas vezes reage dizendo: “tia, para de perguntar o porquê” ou “você pergunta muito”. O psicólogo deve sempre continuar o processo na linha que a criança conduz. Ao invés de ficar perguntando: “mas por que você disse isso? ” Ou, “mas por que você prefere esse jogo? ”, o psicólogo deve ir junto com a criança: “Ah, sim, você escolheu esse jogo”, e deixá-la continuar procedendo sobre o jogo da forma que ela própria escolheu. O treinamento da épochè faz-se necessário para que o psicoterapeuta atue de uma forma própria que não se confunda com a vivência cotidiana. Através da ação, do brincar, por exemplo, a criança vai expressando toda a suahostilidade e o terapeuta vai criar um ambiente permissivo para que ela externe esses sentimentos. Não vai dizer para ela que em pai não se bate. Se a criança, neste contexto, quiser bater no pai, ela o fará. Essa forma de atuar vai diferenciar o psicólogo das pessoas comuns. As pessoas comuns vão dizer: “o que é isso? Seu pai é tão bonzinho para você”, ao psicólogo, no entanto caberá a compreensão desta expressão. A expressão dos sentimentos é muitas vezes ambígua e contraditória. Ora sente culpa, ora se sente ódio. A nós terapeutas cabe remover a culpa para que o sentimento de origem apareça espontaneamente. Com culpa há repressão dos sentimentos. Portanto, alimentar a culpa é terminantemente proibido no processo terapêutico. As intervenções do terapeuta deverão mobilizar os sentimentos de forma que estes apareçam através do brincar, da ação e consequentemente pela linguagem. Para tanto faz-se mister que o psicoterapeuta mantenha “as orelhas em pé e os olhos abertos”. 3.4 Orientação dos Pais A orientação dos pais acontece sempre que o terapeuta perceber que os estes não estão atuando de forma a facilitar o crescimento da criança. Os pais ou boicotam o processo ou continuam mentindo, ou ainda castigando em demasia. No início pode-se chamá-los uma vez por mês. Depois, de acordo com a situação, pode-se espaçar as orientações. Neste momento, o terapeuta vai levá-los a refletir sobre a forma como as coisas estão acontecendo na família. O terapeuta traz as situações familiares conflitivas e todos refletem sobre tais situações. Não diz diretamente o que deve ser feito. Pede-se para eles que deem sugestões do que se pode fazer e aí vão refletindo em cada uma das sugestões e depois, juntos, descobrem qual é a orientação que eles acreditam que devem utilizar. Pode-se utilizar como recurso os livros infantis a fim de ampliar as possibilidades de atuação. Nesta etapa do trabalho, alguns itens merecem atenção especial: a forma como se dá a disciplina familiar. Através de chantagem? Os pais fazem chantagem com os filhos e reclamam que eles também estão fazendo? A dinâmica é chantagem? A disciplina é rígida, se dá através da punição física? Não há disciplina? Não há limites? Na família tudo vale? Tudo tem que ser trabalhado. Muitas vezes os pais dizem: “não adianta, ele não respeita ninguém”, “não cumpre horário”, “nunca chega cedo” e os pais sempre chegam atrasados à sessão. Pode-se fazer uma brincadeira: “ah, nisso ele tem a quem puxar. Vocês também sempre chegam atrasados aqui”. Nesse caso, fala-se do atraso como uma característica familiar, ou seja, tira-se da criança o papel de bode expiatório e localiza-se essa situação na família. Desta forma pode-se tornar claro o modo como a família atua frente às regras. Outra queixa comum: “ele é muito dependente. Imagina, ele não faz nada sozinho”. E o terapeuta responde: “sim, mas eu soube que ele quis ir à padaria sozinho e não lhe foi permitido”. Os pais replicam: “ah, mas a padaria é perigosa. Lá não adianta que eu não deixo, de jeito nenhum”. Então deve-se mostrar que a questão da dependência é algo que serve à família. A criança utiliza, mas a família se serve disso. Vai-se trabalhando assim a questão da dependência, entre outras. A comunicação, por exemplo, do tipo paradoxal pode acabar por trazer conflitos sérios na criança. Um exemplo pode tornar clara a confusão provocada quando os pais assim se comunicam: “homem não pode descansar”, diz a mãe. Logo depois pergunta: “filho, está cansado, quer colo? ” A criança fica na dúvida: afinal, sou homem ou não sou homem? E os vínculos afetivos? Como se dão? Eles são de dependência? Não existem? É cada um por si e Deus por todos? São meio confusos, uma hora há, outra hora não há? O relacionamento em si e o relacionamento familiar como um todo, como ele ocorre? Que influência exerce na vida da criança? Outros recursos podem ser utilizados, como por exemplo, os livros infantis; fábulas, que às vezes trazem questões que são fundamentais, próprias à situação vivida pela família ou pela criança; crônicas que podem ser usadas no trabalho com os pais e com a criança. A leitura pode ser feita em casa ou na próxima sessão, pode-se ler junto com a criança para ver como ela lê, se ela tem compreensão do que lê, como é o entendimento, o sentimento e a articulação da linguagem. A família na psicoterapia permite estabelecer a hora da verdade, uma vez que são trazidas questões que não são relatadas pela família. Neste momento, o terapeuta lança a questão e vê o que eles vão fazer com ela, como a família vai lidar com aquela verdade. A partir da colocação clara das dificuldades vividas pela família, as coisas começam a melhorar porque a verdade seja dita e o objetivo é que esse diálogo continue em casa, sem precisar da ajuda de um terceiro. O terapeuta vai pontuando as questões levantadas de forma a intervir nos conflitos e vai estimulando para que a coisa se resolva, para que negociem aquela situação, sem, contudo, se intrometer ou dar a sua opinião. 4 Ludoterapia: Pais e Professores, como podem ajudar? O papel dos pais na psicoterapia infantil é de extrema importância. Inicialmente porque é um deles, ou ambos, que identifica a necessidade de atendimento e leva o filho ou filha até o psicólogo. A partir do primeiro contato, se estabelece uma parceria entre a família e o terapeuta que será imprescindível para o sucesso do tratamento. Os pais, ao escolherem um profissional para tratar de seu filho, assumem também responsabilidades, como a manutenção da frequência, a efetivação do pagamento e o cumprimento das demais combinações realizadas conjuntamente. Para tanto, é necessário que se estabeleça uma relação de confiança. Tendo isso em vista, geralmente, no início do tratamento, é realizada uma ou mais entrevistas com ambos ou com um dos pais. Nessas entrevistas, o profissional irá escutar a demanda familiar, realizar uma avaliação prévia do caso, esclarecer as dúvidas da família, explicar como realiza o seu trabalho e estabelecer combinações. Nesse momento, é importante que os pais relatem tudo o que julgarem pertinente para que o psicólogo possa ter um entendimento o mais abrangente possível da problemática envolvendo a criança e sua família. O psicólogo deve se colocar de forma que os pais se sintam à vontade para fazer todos os questionamentos que julgarem necessários, esclarecendo todas as suas dúvidas quanto aos procedimentos a serem utilizados, ao referencial teórico adotado pelo profissional, aos honorários, à frequência, aos horários, às férias, aos intervalos, etc. Alguns profissionais, ao atenderem crianças, costumam realizar um processo avaliativo antes de iniciar a psicoterapia propriamente dita. Essa avaliação varia no tempo e nos instrumentos utilizados conforme a orientação teórica e prática de cada profissional. Os psicólogos que adotam a avaliação inicial, realizam uma devolução para os pais ao final da mesma. Nessa devolução, são discutidos com a família os resultados obtidos, a possibilidade ou não de um diagnóstico inicial, os instrumentos utilizados e a indicação terapêutica. Toda e qualquer dúvida ou discordância deve ser discutida com o profissional, que tem a obrigação ética de acolher e esclarecer os questionamentos da família. Durante o processo psicoterapêutico infantil, a participação dos pais é constante, pois é essencial que acompanhem e participem do tratamento. Essa participação pode ocorrer de diversas formas, com entrevistas semanais, quinzenais ou mensais; com entrevistas com pai e mãe juntos; com entrevistas só com o pai ou só com a mãe, ou mesmo com outro familiar cujo vínculo seja significativo para o paciente; com atendimento conjunto da criança com ambos os pais, ou com um dos pais. Nada disso é pré-definido e existem muitas possibilidades que vãosendo construídas conjuntamente pelo terapeuta, pelo paciente e pelos pais. O contato contínuo com os pais propicia que estes se apropriem do processo terapêutico dos filhos, podendo acompanhar o progresso e a evolução, dando ao psicólogo feedbacks que subsidiarão a sua intervenção. Cria-se também um espaço de escuta para os pais, onde as questões individuais e familiares podem ser trabalhadas, colaborando para a melhora dos filhos. Não se trata de psicoterapia para os pais, mas do acompanhamento familiar visando o progresso terapêutico da criança. Havendo a necessidade de atendimento psicológico dos pais, o psicólogo os encaminhará para outro profissional. Além disso, a psicoterapia infantil também exige que o psicólogo muitas vezes realize intervenções junto a outros profissionais que atendem a criança, como médicos e professores. Essas intervenções são sempre realizadas com a ciência e anuência dos pais e muitas vezes, é solicitado que a família realize a mediação dos contatos entre o psicólogo e os demais profissionais. No momento da alta, também é indicada a realização de uma ou mais entrevistas de encerramento com os pais para avaliação do processo e discussão das indicações futuras. É importante que os pais tenham a segurança de que a qualquer momento podem interpelar o profissional, seja para esclarecimentos, pontuações ou recombinações. O psicólogo e a família são aliados no processo psicoterapêutico infantil. O receio de muitos pais de que o psicólogo possa julgar ou criticar suas crenças, posturas ou formas de educar os filhos deve ser superado. O trabalho do psicólogo não é de julgamento e sim de auxílio à família para entender o que se passa com o filho, buscando soluções para os problemas apresentados, de forma que a criança retome o seu desenvolvimento saudável e a família siga a sua vida de forma mais tranquila e satisfeita. O papel do professor na vida educacional das crianças desde as primeiras séries, mesmo quando ainda estão na creche ou pré escola, carrega uma forte simbologia para a vida dos alunos. Quem de nós não tem no imaginário um professor ou vários, para a vida toda? Pensar na escola sem professor é algo que nos parece bizarro. Pelo menos por enquanto. A principal função do professor ainda parece ser a de ensinar, mas este processo precisa passar pelo tramite transferencial, em que a criança vai projetar de si no professor e introjetar em si algo do professor. Aqui temos um dos elementos que mais é acionado na interação professor/aluno, a relação de espelho. O professor espelha na criança o conhecimento, o suporte, a proteção, os afetos. Ao se interagir com o professor a criança identificará com ele elementos que se assemelham aos fatores de sua família, pai e mãe, e também do ambiente de origem. A criança projeta no professor suas necessidades básicas de apoio e proteção e introjeta dele aquilo que de fato ele está tendo condições de oferecer. Podemos observar que as crianças, antes mesmo de chegar a escola, já nomeiam objetos para projetar/introjetar dentro da dinâmica de afastamento dos pais. É o que Winnicott chamou de “objeto transicional”, os bichos de pelúcia, a chupeta e muitos outros brinquedos. Assim na evolução da criança até o mundo escolar, haverá uma transferência automática dela para o professor, no processo em que o professor torna-se espelho para o aluno. Nesta interação professor/aluno, o professor passa ser a sequência e extensão dos pais. Se esta interação for favorável, a criança vai criar identificação com o professor e desta identificação poderá construir seu processo de aprendizado de forma mais tranquila. Do contrário se o professor não conseguir fazer esta interação de espelho com a criança o processo de pertença e interatividade com o aprendizado pode ser rompido, daí a criança entra em um sofrimento emocional e provavelmente terá seu desenvolvimento educacional comprometido. Por isso que em um equipamento educacional o professor não está sozinho, uma equipe de profissionais e outros professores podem colaborar neste processo de interação com a criança. Muitas vezes, num primeiro momento, a criança pode refutar o seu professor direto, mas a acolhida por toda equipe de trabalho pode trazer a segurança e tranquilidade e depois a possível vinculação ao professor. Assim o papel do professor nas escolas, creches, pré-escolas e ensino fundamental carrega uma necessidade de potencial de vínculo afetivo no perfil do professor. Uma maturidade relacional e uma prontidão para se desdobrar àqueles que muitos necessitam de suporte. O professor então, precisa ser um indivíduo maduro pois será exigido dele tanto o conhecimento como o potencial de acolhida afetiva. Uma escola, ao selecionar professores para as tenras idades escolares, não pode simplesmente escolher por serem recém-formados ou estarem em fase de aprendizado. Na verdade, são nas séries iniciais que os professores devem ser melhor selecionados e até melhor remunerados. Entretanto no Brasil esta posição é inversa, os professores de segundo grau e universidades são melhores pagos do que os do ensino fundamental. A base de uma carreira educacional está nos primeiros anos de vida. E esta base vai para além dos conteúdos. É uma base de aporte e suporte emocional. Assim, o professor das séries iniciais precisa ter muito conhecimento de conteúdos e de vínculos afetivos para poder espelhar na criança o desejo de desbravar novos conhecimentos e dar a ela certeza que estará sendo acolhida na outra casa sua que não é a da sua própria família, mas sim a escola, onde ela passará por longos períodos nela. 5 Técnicas de Ludoterapia Livros Infantis O terapeuta pode ter em seu consultório vários livros infantis. Hoje em dia é possível encontrar textos com ilustrações bastante sensíveis explorando inúmeros temas pertencentes ao mundo das crianças. Quando uma criança escolhe um destes livros abre-se um tema a ser explorado, um universo afetivo a ser compreendido. O corpo Na ludoterapia pode-se fazer brincadeiras como “o macaco mandou” ou imitar animais em seus movimentos ou sentimentos. Pode-se jogar bola, correr, pular, ir a um trepa-trepa. Pode-se dirigir a criança num relaxamento onde ela imagina-se com uma lanterna na mão passeando por dentro de seu corpo. Podes-lhe pedir que pare quando sentir um músculo mais tenso ou uma dor e que então descreva o que está percebendo ou sentindo. Ela pode deitar-se sobre um papel e o terapeuta desenhar seu contorno que será depois “vestido”. Ela pode também fazer um desenho livre de seu corpo sobre um grande papel. A parede pode ser usada para registrar o crescimento dela. É sempre uma surpresa constatar a mudança de tamanho. O espelho também pode ser utilizado. A criança pode gostar ou não do que vê. Pode ser simpática ou agressiva a si mesma através do espelho. O terapeuta pode usar também o espelho para demonstrar a incongruência entre a fala e a expressão. Dramatização A criança pode fazer uma brincadeira dramática livre utilizando os objetos da sala como a casinha de bonecas, objetos de casinha, bonecas, fantoches, bonecos, armas, carros etc. Nestas brincadeiras, quando o terapeuta é convidado a contracenar, é importante que ele atue segundo instruções da criança para que não represente o personagem por seus próprios critérios, mas pelos critérios da criança. Pode-se construir com a criança uma caixinha dos sentimentos. Criança e terapeuta juntos nomeiam os sentimentos que conhecem que são então escritos num papelzinho e guardados na caixa. Posteriormente pode-se sortear um ao acaso e representá-lo para que o outro adivinhe do que se trata. É uma forma de exercitar a criança a compreender os sentimentos dos que a cercam e os seus próprios. Testes ProjetivosTPO – Teste projetivo Ômega, CAT –Teste de apercepção temática para crianças, Rorschach – Teste psicodiagnóstico de Hermann Rorschach e outros. No psicodiagnóstico este material é utilizado para recolher dados úteis na elaboração da conclusão psicodiagnóstico. Na ludoterapia o terapeuta pode utilizá-los como recurso para explorar com a criança os significados externados. De forma que o material produzido é discutido, pensado e questionado, e o que importa é o significado emergente. Jogos Baralho, jogo da velha, memória, loto, ludo, boliche, bola-de-gude, belisca, risk, espião e muitos outros que se pode comprar à vontade nas prateleiras de jogos para crianças. No processo terapêutico pode-se trabalhar a forma como a criança joga, conhecer sua forma de raciocinar, como lida com a competição, quais suas maiores preocupações durante um jogo etc. Outras vezes a criança é introduzida num jogo não conhecido anteriormente e pode-se conhecer sua forma de lidar com estas situações. Histórias e Poesias Eis algo que a criança em idade escolar se vê obrigada a fazer diariamente. É certo que muitos têm prazer nisto. A utilização na terapia pretende a exteriorização de sentimentos e ideias em palavras. Isto não é uma tarefa fácil para todas as crianças, mas é um caminho bonito de ser trilhado. Pode-se propor uma história interativa, construída em dupla pelo terapeuta e o cliente. Alguém começa, o outro completa, depois o outro traz uma nova frase, depois o outro, assim até que considerem a história encerrada. Pode começar assim: “Era um dia especial...”. A poesia é também interessante e pode ser trabalhada de forma interativa. Pode-se pedir à criança que escreva uma poesia comunicando à sua mãe seus sentimentos. A poesia dispensa muitas informações e pode ser mais direta que uma prosa, o que torna o exercício bastante emocionante. A criança pode fazer uma redação com um tema proposto pelo adulto. Outras vezes ela própria escolhe sobre o que escrever. Recursos Artísticos – Tinta, água, argila, massa Muitas vezes o terapeuta poderá trabalhar apenas o contato da criança com estes materiais, o que pode lhe ser bastante prazeroso ou uma experiência asquerosa. Parece verdadeiro que a criança menor lida mais livremente com este tipo de material. Mas crianças maiores têm tido bastante prazer no reencontro com a manipulação de argila e tinta, com os quais tendem logo a construir algo. Assim, a utilização pode ser livre ou dirigida: a criança pode criar livremente e o terapeuta buscará articular com ela o sentido do que está vivenciando, ou o terapeuta pode sugerir-lhe que expresse algum sentimento através da argila, ou utilizando tinta da cor de sua preferência. Por ocasião do aniversário das crianças o terapeuta pode sugerir-lhes que construam um presente para si mesmas. Argila e tinta resultam num presente concreto bastante interessante. Fazer um presente para você mesmo não parece ser coisa fácil, mas esta atividade tem sido realizada com bastante prazer pelas crianças, que levam com bastante cuidado seus presentes para casa. Uma criança fez um porta-lápis que levou com muito cuidado para casa. Passado um tempo a irmã o quebrou acidentalmente. A criança, muito sentida, pediu para fazer outro. Este objeto já tinha um lugar especial em seu quarto que não gostaria que ficasse vazio. Enquanto a criança utiliza este material é possível ao terapeuta atento perceber a forma como ela utiliza o espaço, o material e como está sua motricidade fina e ampla. Referências https://www.vittude.com/blog/psicoterapia-infantil/ Eliane Pisani Leite - Autora do livro: Pais Educativos https://br.mundopsicologos.com/artigos/quais-sao-as-bases-da-ludoterapia https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?o-papel-dos-pais-na- psicoterapia-infantil&codigo=AOP0421 https://abarcapsicologo.com.br/?223/artigo/o-professor-e-a-sua-funcao-de- espelho PROTASIO, Myriam Moreira. Técnicas da gestalt terapia aplicada a ludoterapia. Revista de Ludoterapia do Instituto de Psicologia fenomenológico-existencial do Rio de Janeiro - IFEN http://www.ifen.com.br/publica.html Aspectos teórico-práticos na Ludoterapia - Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo* AXLINE, Virginia. Ludoterapia. Belo Horizonte: Interlivros, 1984. ______. Dibs: em busca de si mesmo. Rio de Janeiro: Agir, 1989. MALDONADO, Mª Tereza. Comunicação entre pais e filhos. Rio deJaneiro: Vozes, 1989. SATIR, Virginia. Terapia do grupo familiar. Rio de Janeiro: FranciscoAlves, 1976. https://www.vittude.com/blog/psicoterapia-infantil/ https://br.mundopsicologos.com/artigos/quais-sao-as-bases-da-ludoterapia https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?o-papel-dos-pais-na-psicoterapia-infantil&codigo=AOP0421 https://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?o-papel-dos-pais-na-psicoterapia-infantil&codigo=AOP0421 https://abarcapsicologo.com.br/?223/artigo/o-professor-e-a-sua-funcao-de-espelho https://abarcapsicologo.com.br/?223/artigo/o-professor-e-a-sua-funcao-de-espelho Anexo I – Contribuição da Ludoterapia no Autismo Infantil Fernanda Karina Uchôa da Silva Ana Cláudia Barroso Resumo O objetivo deste trabalho é averiguar a relevância da ludoterapia no tratamento do distúrbio de neurodesenvolvimento, chamado autismo, em crianças. O autismo se caracteriza pela presença de desvios nas relações interpessoais, linguagem e comunicação. Dessa forma, a ludoterapia é um processo facilitador as demais terapias, especialmente de crianças autistas. O objetivo da pesquisa foi alcançado pelo uso da Revisão Sistemática em conjunto com a estatística descritiva. A base de dados utilizada para a realização da busca de artigos que tratam do assunto se deu na PsycINFO. Os resultados demonstraram que a nível internacional, embora escassos, há estudos que relacionam a ludoterapia ao tratamento de crianças com autismo, no entanto, a situação ainda é pior em se tratando de pesquisas de cunho nacional. Palavras- chaves: Autismo. Ludoterapia. Revisão Sistemática. CONTRIBUTION OF PLAY THERAPY IN CHILDREN'S AUTISM Abstract The objective of this study is to investigate the relevance of Play Therapy in the treatment of the neurodevelopmental disorder, called autism, in children. Autism is characterized by the presence of deviations in interpersonal relationships, language and communication. In this way, Play Therapy is a process that facilitates the other therapies, especially of autistic children. The objective of the research was achieved through the use of Systematic Review in conjunction with descriptive statistics. The database used to perform the search of articles that deal with the subject occurred in PsycINFO. The results showed that at international level, although scarce, there are studies that relate Play Therapy to the treatment of children with autism, however, the situation is still worse in the case of national research. Keywords: Autism. Play Therapy. Systematic review. Resumen El objetivo de este trabajo es averiguar la relevancia de la ludoterapia en el tratamiento del trastorno de neurodesarrollo, llamado autismo, en niños. El autismo se caracteriza por la presencia de desvíos en las relaciones interpersonales, el lenguaje y la comunicación. De esta forma, la ludoterapia es un proceso facilitador las demás terapias, especialmente de niños autistas. El objetivo de la investigación fue alcanzado por el uso de la Revisión Sistemática en conjunto con la estadística descriptiva. La base de datos utilizada para la realización de la búsqueda de artículos que tratan del asunto se dio en la PsycINFO. Los resultados demostraron que a nivel internacional, aunque escasos, hay estudios que relacionan la ludoterapia al tratamiento de niños con autismo, sin embargo, la situación aún es peoren lo que se refiere a investigaciones de cuño nacional. Palabras claves: Autismo. Ludoterapia. Revisión sistemática. Introdução Os familiares que possuem uma criança autista precisam ter os melhores artifícios para auxiliar essa criança, e como a ludoterapia vem sendo comprovadamente útil nesse processo de ajuda é muito importante os familiares saberem as qualidades desse tratamento. Sobre isso, Martelli et. al. (2000) explicam que a ludoterapia é um recurso muito poderoso, visto que através do brincar se revelam as estruturas mentais da criança autista, colaborando assim para um melhor entendimento de como ele percebe a si próprio e o meio à sua volta. Assim, torna-se importante apresentar para as famílias como o tratamento da ludoterapia pode dar assistência à criança autista ajudando esta a libertar os seus sentimentos e problemas através de brincadeiras e jogos, possibilitando a acessibilidade do entendimento sobre o tratamento da ludoterapia. Referencial Teórico Conceitos e Características principais do autismo Segundo Amy (2001), o conceito de autismo surgiu quando Leo Kanner, em 1943, no artigo intitulado: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo descreveu uma síndrome à qual deu o nome de autismo infantil. Nessa publicação, Kanner (1943) destaca que o sintoma fundamental, “o isolamento autístico”, estava presente na criança desde o início da vida dizendo que se tratava então de um distúrbio inato. Nela, descreveu os casos de onze crianças que tinha em comum um isolamento extremo desde o início da vida e um anseio obsessivo pela preservação da rotina. Em 1944, Hans Asperger escreve outro artigo com o título “Psicopatologia Autística da Infância”, descrevendo crianças muito parecidas às descritas por Kanner. O autismo é conceituado como uma síndrome comportamental, com causas de um distúrbio de desenvolvimento. Sendo assim, o autismo se caracteriza pela presença de desvios nas relações interpessoais, linguagem e comunicação, tais como: comportamentos não-verbais, prejuízo no contato visual direto, expressão visual, semblante e gestos corporais, e um conjunto marcantemente pequeno de atividades e interesses (SOUZA et. al, 2004). De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), o autista apresenta padrões repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses ou atividades, isto é, observa-se inflexível adesão a rotinas ou rituais específicos e não funcionais, maneirismos motores e/ou preocupação persistente com partes de objetos. O autista apresenta ainda comportamentos hiperativo, agressivo e injurioso em relação a si e aos outros, assim como pensamentos e comportamentos interferentes e repetitivos. Estima-se que 66% dos afetados mantêm severos comprometimentos no seu desenvolvimento e jamais atingem uma função social independente (MARTELLI et. al., 2000, p. 20). Diversos são os fatores que podem desencadear o autismo, dentre os quais se incluem o desequilíbrio nos sistemas neuroquímicos e fatores genéticos. Devido aos enormes custos psicossociais, clínicos e econômicos, é de se considerar essencial à administração de medicamentos que possam contribuir para a redução do sintoma autísticos. A prescrição desses medicamentos só pode ser realizada por médicos especialistas, tais como o psiquiatra ou o neurologista e, por serem drogas que podem apresentar os mais diversos efeitos colaterais, suas receitas médicas sempre ficam retidas nas farmácias (MARTELLI et. al., 2000). O autismo pode ter como principais diagnósticos diferenciais a esquizofrenia de início na infância, retardo mental com sintomas comportamentais, transtorno misto de linguagem receptivo/expressiva, surdez congênita ou transtorno severo da audição, privação psicossocial e psicoses desintegrativas (SOUZA et. al, 2004). É comum apresentar-se dúvidas em relação ao conceito de Transtorno do Espectro Autista (TEA), Autismo e Síndrome de Asperger. Para Souza e Alencar (2016) o TEA é um conjunto abrangente de distúrbios complexos do neurodesenvolvimento, que são: o Autismo; a Síndrome de Asperger; a Síndrome de Rett; o Transtorno Infantil Desintegrativo; e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação (TGDSOE). O Autismo é caracterizado por indivíduos com pouco interesse na convivência em sociedade, com problemas de socialização e dificuldades de comunicar-se com eficácia. Por outro lado, a Síndrome de Asperger é caracterizada por indivíduos que possuem o interesse na convivência em sociedade, e que possuem comunicação constituída de fala extensa e palavras “complicadas” (SOUZA e ALENCAR, 2016). A nomenclatura de Síndrome de Asperger foi tirada do DSM–V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e ela foi agrupada aos transtornos do espectro autista de grau leve, classificada como Desordem do Espectro Autista de Nível 1, sem a presença de défices cognitivos ou linguísticos. Há 3 níveis de grau no autismo, sendo 1 o mais leve, 2 o nível moderado e 3 o grau mais grave (PEREIRA, RIESGO e WAGNER, 2008). Testes Para Autismo e Funcionamento dos Níveis do Autismo De acordo com Wilson (2012), para diagnosticar alguém com autismo, o especialista precisa fazer alguns testes. Estes testes incluem exames físicos, entrevistas, questionários, observações e testes de sangue e, por vezes, podem ser realizados por vários especialistas ao longo de várias visitas. Depois que o profissional determina os resultados dos testes, ele ou ela vai se encontrar com os pais para discutir se a criança cumpre os critérios de diagnóstico para o autismo. Alguns dos testes para ver se a criança tem autismo são: teste auditivo, exame neurológico, ressonância magnética, eletroencefalografia, testes genéticos para detectar anomalias cromossômicas, exames para verificar os níveis de chumbo. Para Wilson (2012), a inteligência de cada autista pode variar, visto que alguns têm inteligência acima da média e habilidades verbais e outros têm alterações cognitivas e uma completa falta de linguagem falada. O nível de funcionamento pode por muitas vezes mudar com o tratamento, então a pessoa diagnosticada com autismo de baixo funcionamento pode, eventualmente, chegar a um nível mais elevado. Segundo Wilson (2012), os especialistas usam o Gilliam Autism Rating Scale ou Childhood Autism Rating Scale para determinar o nível de funcionamento da criança com autismo. As crianças com autismo podem ter um desses níveis de funcionamento: alto funcionamento, que é caracterizado por QI médio ou acima da média, porém com o comportamento social incomum e os padrões de comportamentos repetitivos ou restritivo; autismo moderado que é caracterizado por QI normal ou quase normal, com alguns desafios de linguagem e desafios emocionais; baixo funcionamento, quando o discurso é limitado ou completamente ausente, quando as habilidades sociais são muito limitadas, quando os desafios emocionais são extremos. A Ludoterapia e a Sua Importância O termo “ludoterapia” surgiu no cenário das psicoterapias com a publicação do livro de Virginia Axline intitulado Play therapy. Depois disso, disseminou-se o uso dessa expressão para designar todo e qualquer trabalho com crianças em função do uso de brinquedos como recurso facilitador da expressão infantil no espaço terapêutico (AGUIAR, 2014). A definição da ludoterapia pode ser dada como: uma relação interpessoal dinâmica entre a criança e um terapeuta treinado em ludoterapia que providencia a esta um conjunto variado de brinquedos e uma relação terapêutica segura de forma que possa expressar e explorar plenamente o seu self (sentimentos, pensamentos, experiências, comportamentos) através do seu meio natural de comunicação: o brincar (LANDRETH, 2002, p. 16 apud HOMEM, 2009, p. 21). Para Almeida (1998), a ludoterapia favorece as crianças a manifestar e indicar sentimentos, sensações e preocupações
Compartilhar