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Moisés Santos|@eumoisesantos Odontologia UFPE – Periodontia – 2021.1 Etiopatogenia das doenças periodontais Sendo uma doença inflamatória, a doença periodontal é complexa e comum, caracterizada pela destruição dos tecidos periodontais de suporte dentário moles e duros, como o osso alveolar e o ligamento periodontal. O colapso tecidual que ocorre no periodonto, é uma resposta à inflamação instalada a partir da deposição do biofilme subgengival, que em indivíduos suscetíveis, faz com que a doença aconteça/avance. Esse colapso acontece devido a liberação excessiva e desregulada de citocinas pró- inflamatórias em conjunto com enzimas derivadas; assim como os subprodutos bacterianos como lipopolissacárides (LPS), a sinalização de receptores do tipo Toll (TLR) e complexos de citocinas; algumas enzimas destruidoras de tecido, como as metaloproteinases da matriz (MMPs) e citocinas inflamatórias, são encontradas em alta quantidade no fluido gengival e na saliva dos pacientes periodontais. OBS.: os fatores que levam ao desenvolvimento da doença periodontal são chamados de fatores etiológicos secundários locais e gerais. Para o controle da doença periodontal é imprescindível levar em consideração a condição de risco com paciente, como os genes, biomarcadores inflamatórios, avalição do risco do paciente e o tabagismo, que é o principal fator de risco externo para a instalação das doenças periodontais. OBS.: o tabagismo deve ser extinto do dia a dia do paciente periodontal, como forma de controle da periodontite, sendo àquele o principal fator de risco para a instalação da doença. Instalada a inflamação gengival crônica, por meio das alterações ambientais, a disbiose do biofilme se instala que, por sua vez, vai desencadear uma inflamação excessiva descontrolada, que dá início a periodontite. OBS.: a disbiose é caracterizada pelo rompimento da homeostase microbiológica do biofilme em que atividades funcionais ou metabólicas passam a sofrer maior influência de certos grupos bacterianos patogênicos. OBS.: as possíveis bactérias responsáveis pela disbiose são P. gingivalis e T. denticula que colonizam ambientes mais anaeróbicos. OBS.: a disbiose pode ser desencadeada por outros desequilíbrios sistêmicos, orais e ambientais do indivíduo; ela induz uma resposta imune não eficaz, descontrolada e destrutiva. • O que tona o biofilme patogênico ➢ A sua natureza física: a união de bactérias que são emaranhadas por uma matriz orgânica polimérica, que as protegem das ações naturais do nosso corpo ou ações abióticas; ➢ Localização: ele se depõe sobre uma superfície dura (os dentes); estando interior e exterior ao corpo; ➢ Quantidade: por ser de uma quantidade grande, nunca é possível eliminar todo o biofilme; ➢ Capacidade de invasão tecidual: alguns desses componentes do biofilme tem alta capacidade de invasão e degeneração do tecido que se instala; ➢ Fatores de virulência: é qualquer estrutura que o organismo possui, capaz de produzir virulência; podem ser suas respostas de ordem direta, sendo enzimas e ácidos os que levam a Acumulo de biofilme Resposta imune Gengivite Gengivite Periodontite Moisés Santos|@eumoisesantos Odontologia UFPE – Periodontia – 2021.1 destruição do tecido, e indiretos (interferem na resposta imune), que são LPS, Gingipains e Leucotoxina do AA. • O que leva a formação do biofilme (voltar no resumo de microimuno: microbiologia oral) ➢ Disposição da película adquirida: é a deposição de glicoproteínas, que começam a se depositar logo após a higiene oral – do ponto de vista funcional, serve para proteger o dente contra a ação de ácidos; ➢ Colonização bacteriana inicial: quando as bactérias, através de suas adesinas, irão se ligar ao biofilme dental (S. sanguis e A. viscosus); ➢ Etapas de acumulação e coagregação: é quando há proliferação de colonizadores iniciais, produção de matriz extracelular, agregação de colonizadores intermediários tardios, fazendo com que o ambiente se torne cada vez mais anaeróbico; OBS.: no início dessa fase de acumulação e coagulação, um período entre 24h e 48h, que o biofilme adquire a capacidade de causar alterações teciduais. ➢ Dispersão: liberação de bactérias/agregados celulares do biofilme; que depende do controle mecânico, nutricional e genético; sendo considerado como uma estratégia de sobrevivência e disseminação. O periodonto tem seus mecanismos de defesa, como a barreira epitelial, mecanismos salivares (ação física e agentes antimicrobianos) e a resposta imune (voltar ao resumo de microimuno sistema imune), que é a principal forma; essa resposta, ocorrendo de maneira desregulada, é a responsável pela destruição dos tecidos periodontais. • Resposta imune inata: atua no sulco, epitélio juncional e adjacências. É a primeira linha de defesa, atuando com neutrófilos, macrófagos, células resistentes não profissionais (PNN), sistema complemento e citocinas, com a função de diluir isolar e se possível eliminar agentes agressores; no entanto, tem sua eficácia limitada. OBS.: evita a progressão da gengivite para uma periodontite, desde que haja uma remoção adequada do biofilme. • Resposta imune adquirida: é a segunda linha de defesa, e é especifica para os patógenos presentes. É desencadeada por uma resposta celular ou humoral, estimulada com a penetração de agentes patogênicos no tecido conjuntivo. São responsáveis por esse tipo de resposta os linfócitos T, B, plasmócitos, anticorpos, células apresentadoras de antígeno (APC’s), citocinas e mecanismos de respostas inespecífica. Tem um grau de proteção não claro, porém se mostra mais marcante na fase de destruição do periodonto de sustentação. OBS.: o dano mais especifico do tecido periodontal é decorrente da resposta imune especifica, por conta dos mediadores produzidos em excesso. • Agentes de destruição do periodonto Quando produzidos em excesso para debelar a inflamação as citocinas IL-1, IL-6, IL-8, TNF-alfa, IFN-gamma e RANKL, as enzimas proteolíticas, como metaloproteinases e as prostaglandinas, são os principais agentes de destruição das estruturas periodontais. • Resolução da inflamação Precisa ocorrer de maneira ativa, com a atuação do próprio sistema imune do paciente, atuando como resposta e sanando a inflamação através de mediadores, como resolvinas, lipoxinas, protectinas e maresinas), tendo como ações a interrupção do recrutamento de neutrófilos, estimulo à retirada de tecido necrótico, ações antibacterianas e a promoção do reparo. OBS.: como medida terapêutica, e intervenção profissional é a manipulação desses mediadores de maneira sintética para prescrever ao paciente. Gengivite induzida pelo biofilme dental É uma condição inflamatória restrita aos tecidos moles que circundam os dentes que se desenvolve em resposta ao acúmulo de biofilme Moisés Santos|@eumoisesantos Odontologia UFPE – Periodontia – 2021.1 na superfície dentária. É uma doença que é capaz de, com o tratamento correto, ser regredida. OBS.: nem toda gengivite levará a uma periodontite. OBS.: o biofilme é considerado a causa da gengivite, mas não pode ser considerado a causa da periodontite. A relação do biofilme dentário e da gengivite é estabelecida a partir da suspenção da higiene oral; e sua regressão é feita pelo controle da placa dentária, a partir de uma higiene oral adequada. O biofilme associado a gengivite se instala junto a margem gengival (coronário), tendo uma proporção igual de bactérias GRAM+ e GRAM-, que dá origema uma infecção polibacteriana inespecífica. Periodontite Uma doença desencadeada por um biofilme dental disbiótico que resulta na inflamação e destruição das estruturas de suporte do dente levando a sua perda de inserção progressiva. Com tratamento, é possível debelar a inflamação, no entanto a sequelas serão permanentes. Toda periodontite é precedida por uma gengivite, assim é extremamente necessário tratar toda a gengivite de maneira adequada, pois não as sabe qual irá progredir para uma periodontite. O biofilme associado a periodontite se instala de maneira subgengival/radicular, e há um aumento significativo de microrganismos anaeróbicos. Progressão da doença periodontal (DP) • Lesão inicial (SEMANA1) Após a deposição do biofilme na gengiva, as bactérias liberam substâncias capazes de passar pelo tecido, em resposta, o tecido libera mediadores inflamatórios, fazendo com que haja um aumento da permeabilidade vascular, com isso há um aumento na secreção de fluido gengival e neutrófilos, mas poucos macrófagos; há, ainda, um aumento das células inflamatórias; assim o processo inflamatório ocorre de maneira subclínica. • Lesão precoce (SEMANA2) Tem-se a maior quantidade de biofilme, o infiltrado ocupa maior área, assim há um aumento do número de macrófagos e predominância de linfócitos T, os eventos da inflamação aguda continuam atuando. Durante esse processo é notório a lesão de colágeno e a proliferação de cristas epiteliais. Temos como sinais clínicos: sangramento à sondagem, seguido por vermelhidão e edema. • Gengivite estabelecida (SEMANA3) Tem-se um aumento do infiltrado e, agora, temos uma predominância de linfócitos B e plasmócitos com a produção de anticorpos. Com isso há um aumento na profundidade do sulco e o biofilme passa a se estender subgengivalmente. OBS.: a extensão do biofilme ainda não caracteriza uma bolsa periodontal, para isso é necessária uma perda de inserção. OBS.: até aqui, a inflamação pode ser revertida sem danos. Aumento da destruição de colágeno, mas sem perda de inserção ou migração do apical do epitélio juncional. Os sinais clínicos da inflamação são mais exacerbados. • Periodontite (6MESES?) Tem-se um infiltrado mais extenso, porem com a composição similar ao da gengivite estabelecida. Temos a produção intensa de anticorpos e mediadores inflamatórios. A partir de então, temos perda de inserção, migração apical do epitélio juncional, destruição do ligamento periodonto e do osso alveolar, assim, tem-se a maior entrada de produtos bacterianos. Clinicamente, temos a bolsa periodontal (c/s recessão) e radiograficamente, tem-se a perda óssea. O padrão de progressão ocorre da seguinte forma: a pessoa adquire a periodontite, e passa por Moisés Santos|@eumoisesantos Odontologia UFPE – Periodontia – 2021.1 um período sem destruição de estruturas, após um certo tempo, há uma agudização da inflamação, levando a destruição dos tecidos adjacentes, depois há uma redução da atuação, e assim o ciclo se repete. Essa agudização pode ser desencadeada por algum desequilíbrio no sistema imune. OBS.: clinicamente, não conseguimos dizer quando o indivíduo está em período de destruição ativa ou não. Fatores contribuintes para o avanço da DP Pensando na justificativa para algumas pessoas ou sítios serem mais suscetíveis a evolução da doença periodontal, temos: • Fatores locais: Favorecem o acumulo de biofilme por dificultarem a higienização; a diminuição do fluxo salivar, e as forças oclusais inadequadas. Sobre os que favorecem o acumulo de biofilme: ➢ Cálculo dental: É o mais frequente, temos o biofilme não mineralizado sempre presente (esse biofilme é que tem a capacidade de causar a doença periodontal). O cálculo atua apenas como retentor do biofilme, não provoca diretamente a inflamação gengival. ➢ Lesões cariosas ➢ Fatores anatômicos São outros fatores capazes de fazer com que a doença periodontal evolua em alguns lugares/pessoas diferentes de outros. Como: apiamentos dentários, concavidades radiculares, perolas de esmalte, inserção alta do freio labial e os sulcos palatinos de desenvolvimento. ➢ Fatores iatrogênicos São condições provocadas pelos próprios profissionais como: restauração com margens em excesso, aparelharem ortodôntica, coroa com sobrecontorno e as violações do espaço biológico. ➢ Hipofunção salivar: Quando não há uma salivação suficiente (solução tampão), tem-se um acumulo de biofilme, sendo passível de instalação de inflamação, assim é importante investigar quais as causas da xerostomia do paciente. ➢ Forças oclusais excessivas: A força oclusal excessiva só é um fator contribuinte, quando o paciente já tem a doença periodontal instalada. Como sinal clinico, o dente vai estar com mobilidade (mesmo sem perda óssea que justifique) e o paciente reclama de sensibilidade; como sinal radiográfico, tem-se o espessamento da lâmina dura e o alargamento do espaço periodontal. • Fatores gerais ou sistêmicos Tem-se as alterações hormonais, uso de medicações, tabagismos, diabetes e doenças sistêmicas e outros fatores. Atuam sobre a gengivite: ➢ Alterações hormonais: Presentes na puberdade, gravidez e menopausa; com a atuação dos hormônios como: estrogênio, progesterona e testosterona. Tendo como etiologia o aumento da sensibilidade a irritantes locais (biofilme) e alteração do perfil microbiológico intensificando a resposta imune. Como possíveis manifestações: gengivite severa e granuloma piogênico gravídico. ➢ Medicamentos: Tem-se os que provocam crescimentos gengivais, que aumentam a atividade dos fibroblastos, como: fenitoína, nifedipina, ciclosporina; Tem-se os que agravam a severidade da gengivite: contraceptivos orais, ansiolíticos, antidepressivos, anti-hipertensivos (esses 3 últimos estão associados a xerostomia. Atuam sobre a periodontite: ➢ Tabagismo: Moisés Santos|@eumoisesantos Odontologia UFPE – Periodontia – 2021.1 O tabagismo é uma das maiores causas da periodontite; os pacientes tabagistas possuem um risco aumentado para periodontite, e uma suscetibilidade a destruição dos tecidos de maneira mais severa. Também, esses pacientes possuem uma resposta menos favorável ao tratamento, mesmo que seja cirúrgico. Quando esse paciente cessa a sua atividade tabagista, os ricos começam a ser reduzidos. OBS.: quando associado a diabetes, esses riscos são ainda mais agravados. Possíveis mecanismos de ação: A redução na resposta do hospedeiro (baterias ficam livres para causar uma maior destruição); alteração do perfil da microflora (nicotina favorecendo a proliferação das bactérias) e alteração do metabolismo ósseo e colágeno (inibição da formação de osso e de colágeno). • Diabetes Em casos de pacientes não controlado, tem- se uma inflamação mais intensa, uma maior prevalência e severidade da gengivite e periodontite; as manifestações dependem do nível de controle do diabetes. OBS.: o tipo de diabetes não influencia em o paciente manifestar ou não a periodontite. OBS.: é comum observar o surgimento de abcessos periapicais nesses pacientes. Possíveis mecanismos de ação: Esses pacientes, no geral, têm um aumento na secreção de citocinas pró-inflamatórias, alterações no metabolismo do colágeno e tecidos mineralizados e produção de PMNs e anticorpos defeituosos. Outras alterações menos comuns associadas: • Leucemia Pacientes com leucemia podem apresentar dois casos: gengivite associada à leucemia, causada por uma trombocitopenia; e um crescimento gengival, que ocorre devido a infiltração de leucócitos imaturos.OBS.: essas alterações podem acontecer mesmo na ausência do biofilme; e quando há biofilme, elas são exacerbadas. • HIV/AIDS Esses pacientes possuem uma imunidade celular reduzida (contagem de linfócitos TCD4); e como forma de manifestação oral temos: eritema gengival linear, periodontite necrosante e periodontite severa. Essas manifestações estão associadas ao grau de imunossupressão do paciente. • Síndrome de Down Desordem genética, sendo uma trissomia do cromossomo 21; esses pacientes possuem uma função neutrofilica anormal; e, clinicamente, manifestam xerostomia, IP elevado, inflamação severa e bolsas profundas. Além destes, existem outros fatores que podem/contribuem para a instalação e agravamento da doença periodontal, como estresse crônico, tromobocitopenia, agranlocitose, neutropenia, osteopenia/osteoporose, obesidade/síndrome metabólica, hipertensão, doenças, defeitos e polimorfismos genéticos, condição socioeconômica e determinantes não modificáveis. Referências: LINDHE J. Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral. 5ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. NEWMAN MG, TAKEI HH, KLOKKEVOLD PR, CARRANZA Jr. FA,. Periodontia clínica. 11ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
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