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01.MA.ET.Psicologia Aplicada ao Serviço Social

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PSICOLOGIA APLICADA AO SERVIÇO 
SOCIAL 
Fernanda Piscinin 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA: PSICANÁLISE, BEHAVIORISMO, 
GESTALT E PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA/HISTÓRICO-CULTURAL ............ 3 
2 ANÁLISE DA PSICOLOGIA SOCIAL: DEFINIÇÕES E OBJETOS DE ESTUDOS 13 
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .................................................................... 20 
4 DEBATES SOBRE TEMAS FUNDAMENTAIS DA PSICOLOGIA SOCIAL ........ 27 
5 FAMÍLIA, ESCOLA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA ...................... 35 
6 PSICOLOGIA SOCIAL COMO SUPORTE AO SERVIÇO SOCIAL ................... 45 
 
 
 
 
 
3 
 
 
1 CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA: PSICANÁLISE, 
BEHAVIORISMO, GESTALT E PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA/HISTÓRICO-
CULTURAL 
Apresentação 
Olá, aluno! Seja bem-vindo (a) ao estudo da psicologia e suas interfaces com os 
sujeitos e a realidade social! 
 
Psicologia enquanto ciência 
Todo mundo aqui deve ter um amigo que está sempre preparado para te ouvir quando 
você precisa. Muitas vezes, você já deve ter pensado que esse amigo é quase um 
psicólogo! Na verdade, as pessoas acreditam, baseadas no conhecimento de senso 
comum, que o fato de estarem disponíveis a ouvir o outro já o torna um psicólogo. Isso 
é um engano, pois a psicologia é muito mais ampla do que isto, ela é uma ciência que 
se apoia em estudos sistemáticos e tem como objeto de estudo o ser humano e seus 
fenômenos psicológicos. Vamos conhecer um pouco mais sobre algumas das 
concepções teóricas dessa ciência? 
 
Neste bloco, vamos começar a conhecer a história e o desenvolvimento da 
psicologia enquanto ciência, a partir do contato com algumas importantes concepções 
teóricas que fazem parte do campo de estudos e intervenções da psicologia. Além 
disso, vamos começar a refletir um pouco sobre as contribuições da psicologia à 
prática do assistente social. Bons estudos! 
 
 
 
 
 
4 
 
1.1 Psicanálise 
De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2018) a psicanálise, criada por 
Sigmund Freud (1856-1939), pode ser entendida como uma teoria, um método de 
investigação e uma prática profissional, que tem como objetivo conhecer o 
funcionamento da vida psíquica, interpretando aquilo que manifestamos a partir de 
ações e palavras, dando-nos a possibilidade de buscarmos autoconhecimento a partir 
da análise. 
Freud era médico, especialista em psiquiatria e começou a desenvolver seu 
trabalho a partir do atendimento clínico a pessoas com “problemas nervosos”. 
Trabalhou com Jean Martin Charcot (1825-1893) e Josef Breuer (1842-1925), médicos 
que contribuíram na construção do desenvolvimento de seu trabalho e investigações a 
respeito do inconsciente. 
Para Freud, esse era um conceito importante. O inconsciente é o lugar onde 
toda a experiência afetiva fica registrada e contribui para a determinação dos 
comportamentos dos indivíduos durante todas as fases do seu desenvolvimento. Para 
Bock, Furtado e Teixeira (2018), o indivíduo utiliza mecanismos de defesa, que são 
inconscientes e deformam a percepção da realidade, afastando pensamentos que 
possam ser dolorosos ou desorganizadores do psiquismo. 
Falando em psiquismo, Freud, a partir de seus estudos e intervenções, 
desenvolve uma teoria sobre a estrutura do aparelho psíquico, em que ele se refere a 
três sistemas ou instâncias psíquicas. Inicialmente, ele vai chamar de inconsciente, pré-
consciente e consciente. Depois, com o amadurecimento em seus estudos, Freud 
modifica a teoria do aparelho psíquico e começa a trabalhar com os conceitos de id, 
ego e superego. O id é onde guardamos nossa energia psíquica e onde se localiza o que 
Freud chamou de pulsão de vida e pulsão de morte. O ego é regido pelo princípio da 
realidade e tem como funções básicas a percepção, a memória, os sentimentos e o 
pensamento. Já o superego é o local onde internalizamos proibições e limites impostos 
por exigências culturais e sociais. O superego tem sua origem com o complexo de 
Édipo. 
 
 
 
5 
 
O complexo de Édipo é um processo que ocorre com meninos e meninas entre 
3 e 5 anos. Nessa fase, de acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2018), a mãe torna-se 
objeto de desejo do menino e o pai da menina. Para “ter” o pai, ou a mãe, a criança se 
identifica com o outro (pai ou mãe) enquanto modelo de comportamento. Nesse 
processo, ela passa a internalizar regras e normas sociais representadas e impostas 
pela figura de autoridade. 
Freud trabalhou em caminhos que nos ajudassem a conhecer um pouco mais 
da nossa vida psíquica. Os estudos e descobertas de Freud foram traduzidos em 
conceitos importantes que podem ser aplicados no trabalho psicanalítico, contribuindo 
no entendimento das relações e conflitos humanos. 
 
1.2 Behaviorismo 
Behaviorismo tem origem do termo inglês behavior que significa 
“comportamento”. Essa concepção teórica da psicologia foi fundada pelo americano 
John B. Watson (1878-1958), que em um contexto em que a psicologia buscava 
reconhecimento como ciência, tinha como proposta a experimentação observável e 
mensurável do comportamento. 
 
Certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas e 
isso ocorre porque estes se ajustam aos seus ambientes por meio de 
equipamentos hereditários e pela formação de hábitos, que 
contribuem para formar novas respostas. Watson buscava a 
construção de uma psicologia livre de conceitos mentalistas e de 
métodos subjetivos, atendendo, dessa maneira, aos objetivos da 
ciência que seriam de previsão e de controle (BOCK; FURTADO; 
TEIXEIRA, 2018, p.51). 
 
 
 
 
 
6 
 
 Apesar de Watson ter dado o primeiro passo na análise do comportamento, 
outros psicólogos comportamentais ficaram bastante conhecidos nessa área da 
psicologia. Um desses foi B. F. Skinner (1904-1990), que por meio da análise 
experimental do comportamento, formulou a ideia de comportamento operante, ele 
defendia que o comportamento poderia ser controlado pelo estímulo às respostas 
esperadas e tanto o comportamento reflexo como o intencional podiam ser 
condicionados. 
 
O comportamento operante refere-se à inter-relação sujeito-
ambiente. Quando o organismo se comporta, emitindo essa ou 
aquela resposta, sua ação produz uma alteração ambiental, uma 
determinada consequência que, por sua vez, retroage sobre o sujeito 
alterando a probabilidade futura de ocorrência. Assim, agimos sobre 
o mundo em função das consequências criadas pela ação (BOCK; 
FURTADO; TEIXEIRA, 2018, p.54). 
 
 
Skinner demonstrou a sua tese relacionada ao comportamento operante em um 
experimento dentro de uma caixa, que ficou conhecida como Caixa de Skinner. A partir 
dessa experiência, Skinner definiu alguns eventos consequentes ao comportamento 
que se pretendia obter, que podem acontecer pelo que chamamos de reforço. 
O Behaviorismo, assim com outras tendências teóricas da psicologia ligadas ao 
comportamento, vem sendo aplicadas em diversas áreas como a educação, recursos 
humanos em empresas, esporte, entre outras. 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
Figura 1 - Caixa de Skinner - Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/3504017/ 
Um rato foi colocado em um recipiente fechado no qual encontrava apenas 
uma barra. Essa barra, ao ser pressionada pelo rato, acionava um mecanismo que lhe 
permitia obter uma gotinha de água, encaminhada à caixa por meio de uma pequena 
haste. Durante a exploração da caixa, o rato pressionou a barra acidentalmente, o que 
lhe trouxe, pela primeira vez, uma gota de água que foi rapidamente consumida. O 
procedimento envolvia tornar disponível a água ao rato cada vez que a barra fosse 
pressionada. Depois de várias tentativas bem-sucedidas, constatou-se a alta 
probabilidade de que, estando em situação semelhante, o rato pressionasse a barra 
novamente (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2018, p.54). 
 
1.3 Gestalt 
A Psicologia da Gestalt, representada inicialmente por Max Wertheimer (1880-
1916),Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941), foi fundada a partir da 
necessidade de entender as ações e processos humanos como uma totalidade. Na 
tentativa de comprovar fenômenos psicológicos a partir de uma prática científica, 
vários representantes da psicologia acabaram tentando traduzir alguns dos processos 
humanos de forma fragmentada. Nesse sentido, de acordo com Bock, Furtado e 
Teixeira (2018), tendo suas origens na Fenomenologia, a Gestalt tem como objetivo a 
análise dos fenômenos como os percebemos, ou seja, como percebemos a realidade 
ao nosso redor, entendendo a experiência de cada pessoa e como ela é vivida. 
 
 
 
8 
 
Segundo Frazão e Fukumitsu (2014) dos principais conceitos trabalhados pela 
Gestalt é o que chamamos de awareness, que pode ser traduzida como “estar 
consciente de”, o que importa para a Gestalt é o aqui-agora. 
Como podemos ver, a percepção é um dos elementos-chave em que essa 
concepção teórica se apoia, pois é a partir desta que tomamos consciência do que está 
a nossa volta, estabelecendo uma relação chamada pela Gestalt de figura-fundo. No 
entanto, é importante também entendermos como cada um de nós decodifica essa 
realidade, pois é isso que determinará nossos comportamentos e sentimentos em 
relação a alguma situação. Para a Gestalt “o todo é maior do que a soma das partes” e 
o comportamento precisa ser estudado levando em consideração o contexto no qual o 
indivíduo está inserido. 
 
1.4 Psicologia Sócio-Histórica e Psicologia Comunitária 
1.4.1 Psicologia Sócio-Histórica 
 De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2018), a Psicologia Sócio-Histórica 
toma como base de estudos a Psicologia Histórico-Cultural de Lev Vygotsky (1896-
1934), que propõe a possibilidade de superação das visões dicotômicas, que entendem 
os sujeitos a partir de uma perspectiva unilateral e naturalizada, que ele considera 
reducionista. Para Vygotsky a experiência pessoal se constitui no coletivo e na cultura, 
portanto precisa ser analisada a partir de uma perspectiva sócio-histórica, que se 
reproduz em um movimento dialético da realidade. Ou seja, as formas de subjetivação 
presentes hoje, fazem parte do movimento em que se constitui a história. 
Dessa forma, podemos dizer que o fundamento filosófico, teórico e 
metodológico adotado pela Psicologia Sócio-Histórica é o materialismo histórico 
dialético. Nessa perspectiva, o ser humano é um indivíduo ativo e participante da 
história e da sociedade, e esta última é concebida como uma construção histórica dos 
seres humanos que produzem sua vida material em suas atividades, por seu trabalho. 
Nesse sentido, as ideias, são representações da realidade material e levam em si as 
 
 
 
9 
 
contradições que se expressam nelas. A história é concebida como o movimento 
constante do fazer humano, que produz ideias (inclusive a própria psicologia) a partir 
da base material. 
É nessa relação dialética que a psicologia sócio-histórica trabalha. 
Afirma a materialidade, mas nega o determinismo estrutural e a 
ordem natural dos fenômenos, apresentando uma concepção muito 
profícua de que a materialidade já contém a subjetividade 
historicamente incrustada, o que significa que a materialidade não é 
física, e que a subjetividade não é ideia pura: ambas são configuradas 
e configuram a história pela mediação do trabalho (SAWAIA, 2014, p. 
5). 
 
A atividade, a consciência, a identidade, a afetividade, a linguagem, o sentido e 
o significado, são algumas das categorias de análise que a Psicologia Sócio-Histórica se 
utiliza. De acordo com Strey et al (2013) nos ajuda a fazer uma leitura dos processos e 
movimentos que fazem parte das relações sociais em determinado momento histórico 
e dizem do processo de construção da subjetividade humana. 
 
1.4.2 Psicologia Comunitária 
A Psicologia Comunitária, segundo Ornelas (1997), surge enquanto um 
desdobramento da Psicologia Social crítica e da necessidade de construção de uma 
nova atuação da psicologia, que estivesse mais atenta aos movimentos de 
transformação da realidade, atuando diretamente nas comunidades. Dessa forma, os 
psicólogos comunitários para que pudessem melhorar o estado psicológico geral dos 
indivíduos de determinada comunidade, precisariam entender os processos que fazem 
parte desta. Essa concepção teórica traz uma perspectiva política, pois a intervenção 
passa a ser de âmbito social e não mais individual. 
A Psicologia Comunitária vai se destrinchando, ao longo do tempo, em várias 
correntes teóricas. No contexto norte-americano, na década de 1960, podemos 
 
 
 
10 
 
perceber uma prática que dava ênfase a uma lógica de controle da comunidade, a 
partir de uma dinâmica educacional, de maior participação social do grupo segundo 
ORNELAS (1997). 
Já no contexto latino-americano, vemos emergir, a partir da década de 1970, 
uma prática, cuja principal característica era o compromisso com uma ação 
psicossocial orientada para a transformação social, tendo com base uma práxis crítica 
libertadora. Segundo Costa (2015) essa prática acontecia mediante o processo de 
fortalecimento comunitário, que demanda mobilização das potencialidades individuais 
e coletivas das pessoas e grupos na comunidade. Nesse processo, é de fundamental 
importância a construção de uma prática que envolve o compromisso, a participação e 
o exercício da democracia. 
 
1.5 A associação da teoria psicológica à prática do assistente social 
 Depois de termos conhecido um pouco de algumas das perspectivas teóricas da 
psicologia, podemos refletir juntos: como esse conhecimento poderá contribuir para a 
prática do trabalho do assistente social? 
 A psicologia e o serviço social são profissões que trabalham de forma 
interdisciplinar em diferentes espaços socio-ocupacionais. Suas áreas de conhecimento 
podem ser complementares, possibilitando um olhar mais integral aos indivíduos e 
suas relações sociais, culturais, econômicas e políticas. 
 Ambas as profissões intervêm diretamente com os sujeitos sociais, nas mais 
diversas situações do cotidiano. Dessa forma, a psicologia, principalmente a Psicologia 
Social, pode nos ajudar a compreender a construção da subjetividade dos indivíduos, a 
partir das relações sociais vividas por eles, entre sujeito e sociedade. 
 A interseção entre essas duas áreas do conhecimento pode subsidiar a 
construção de saberes e ações que tenham como foco o compromisso social, tendo 
como consequência práticas voltadas para a garantia de direitos sociais, civis e 
políticos. 
 
 
 
11 
 
 
Conclusão 
Diante da apresentação dessa unidade, percebemos que a psicologia, enquanto 
uma ciência, baseada em objetos de estudo, métodos e metodologias, tem dimensão 
multifacetada. Isso nos faz constatar a existência de vários referenciais, ou seja, várias 
psicologias. Conhecemos um pouco de algumas concepções teóricas como Psicanálise, 
Behaviorismo, Gestalt, Psicologia Sócio-Histórica e Psicologia Comunitária. Vimos que 
cada uma delas enxerga os indivíduos e os fenômenos psicológicos de maneiras 
diferentes. 
Depois de termos conhecido um pouco mais da psicologia, refletimos sobre a 
possibilidade de associação da teoria psicológica à prática do assistente social. Nesse 
sentido, concluímos que no cotidiano do trabalho dessas duas profissões é possível 
uma atuação interdisciplinar, que garanta um olhar integral para os indivíduos e as 
relações sociais. 
 
Referências 
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. 
Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 15. Ed. – São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. 
COSTA, José Fernando Andrade. “Fazer para Transformar”: a Psicologia Política das 
Comunidades de Maritza Montero. Revista Psicologia Política, v.15, n.33, 2015. 
Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
549X2015000200003> Acesso em: 16 ago 2019 
FRAZÃO, LilianMeyer; FUKUMITSU, Karina Okajima (org.) Gestalt-terapia: conceitos 
fundamentais. 1. Ed. São Paulo: Summus, 2014 (recurso digital). 
 
 
 
12 
 
ORNELAS, José. Psicologia comunitária: Origens, fundamentos e áreas de 
intervenção. Análise Psicológica, 3, XV, p.375-388, 1997. Disponível em: 
<http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v15n3/v15n3a02.pdf> Acesso em: 16 ago 2019 
 
SAWAIA, Bader Burihan. Transformação social: um objeto pertinente à Psicologia 
Social? Psicologia & Sociedade, p. 4-17, 2014. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/psoc/v26nspe2/a02v26nspe2pdf> Acesso em: 16 ago 
2019 
STREY, Marlene Neves et al. Psicologia Social Contemporânea. 21.ed. Petropolis, RJ: 
Vozes, 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
2 ANÁLISE DA PSICOLOGIA SOCIAL: DEFINIÇÕES E OBJETOS DE ESTUDOS 
Apresentação 
Depois que conhecemos algumas das concepções teóricas da psicologia e 
refletimos como esse conhecimento pode contribuir para a nossa atuação como 
assistente social, vamos agora adentrar um pouco mais no campo de conhecimento da 
Psicologia Social. Para tanto, conheceremos seus objetos de estudo e maneiras de 
intervenção. Vamos lá? 
 
2.1 Desenvolvimento histórico da Psicologia Social 
 No início do século XX, momento em que a Psicologia tentava ser reconhecida 
enquanto ciência, muitos pesquisadores, baseados na proposta positivista de August 
Comte (1798-1857), acabavam caindo em uma visão reducionista do ser humano, 
reproduzindo uma perspectiva dicotômica que via indivíduo e sociedade de maneira 
separada. Diante desse quadro, a Psicologia Social inicia suas problematizações 
apontando para a necessidade do desenvolvimento de teorias e métodos que 
pudessem explicar as influências dos fatores sociais sobre os processos psicológicos 
dos indivíduos. 
 Apesar de estar mais aberta a análise dessas interações, inicialmente, a 
Psicologia Social ainda tinha uma perspectiva adaptacionista. Essa percepção era 
comum entre os pesquisadores da Psicologia Social norte-americana. Lá, a Psicologia 
Social se desenvolveu a partir da Segunda Guerra Mundial, momento em que se 
tentava entender o comportamento social para a minimização de conflitos. Segundo 
Strey et al. (2013) psicólogos sociais trabalhavam para a alteração ou a criação de 
atitudes a fim de interferir nas relações grupais tornando-as mais harmônicas, 
promovendo a produtividade dos grupos, a partir de uma lógica de ajustamento social. 
 
 
 
14 
 
 No entanto, ainda sim, víamos um processo de dicotomia entre indivíduos e 
sociedade, visto que a sociedade era colocada enquanto plano de fundo de um 
cenário, onde o indivíduo atuava, e desta forma procurava-se explicar o seu 
comportamento por "causas" internas. 
 Essa Psicologia Social norte-americana foi criticada, principalmente por 
cientistas da França e Inglaterra, por ser ideológica, reprodutora dos interesses da 
classe dominante e construída em um contexto específico, dificultando sua aplicação 
em outros países, com diferentes condições histórico-sociais. Nesse sentido, segundo 
Strey et al. (2013), passaram a desenvolver uma Psicologia Social europeia, que tinha 
uma maior preocupação com o contexto social. 
 No Brasil, existia uma forte influência da Psicologia Social norte-americana, mas 
que também começou a ser questionada, no momento da “Crise da Psicologia Social”, 
visto que sua produção não tinha consonância com os problemas sociais emergentes 
dos países latino-americanos. Mediante esse contexto, foi fundada, em 1980, a 
Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), que se propôs a construir um 
referencial teórico que pudesse compreender o contexto social ali vigente, 
perpetrados por problemas políticos e sociais. Essa Psicologia Social, segundo Torres e 
Neiva (2011), rompe com a dicotomia (indivíduo/sociedade) até então presente, 
trazendo uma perspectiva mais crítica do ser humano como produto histórico-social e, 
ao mesmo tempo, como construtor e transformador da sociedade onde está inserido. 
 
2.2 A relação problema-método 
 De acordo com Torres e Neiva (2011), podemos dizer que a Psicologia Social, a 
partir desse momento, propõe trabalhar tendo em vista pressupostos teóricos como o 
socioconstrutivismo, a análise do discurso e a psicologia marxista. Essas perspectivas 
pautavam o papel político da Psicologia Social e as possibilidades de intervenção para 
a transformação da sociedade. 
 
 
 
15 
 
Diante das propostas de uma Psicologia Social que atendesse as necessidades 
presentes no contexto latino-americano, como vimos no tópico anterior, no Brasil 
iniciaram-se as produções científicas, ainda marcadas por rivalidades, mas, 
inicialmente, com forte contribuição de Silvia Lane (1933-2006), que trouxe uma 
discussão com aportes da Psicologia Sócio-Histórica. Como vimos na unidade anterior, 
essa concepção parte do pressuposto de que o ser humano é um ser ativo, social e 
histórico. Também é marcante a contribuição de Martin-Baró (1942-1989), que 
defendia uma Psicologia Social que trabalhasse no desenvolvimento de um saber 
crítico da realidade. 
Destarte, é importante apontar que a Psicologia Social latino-americana apresenta, 
enquanto problema de pesquisa, a possibilidade de mudanças sociais a partir do olhar 
para os indivíduos, vistos em sua totalidade, e um contexto social marcado por 
questões sociais e políticas próprias do momento histórico e social. Dessa forma, 
podemos perceber o comprometimento de uma psicologia social mais crítica. 
Enquanto método, apresenta uma forte tendência ao materialismo histórico dialético. 
[...] para conhecer o ser humano, é preciso situá-lo em um momento 
histórico, identificar as determinações e desvendá-las. Para entender o 
movimento contraditório da totalidade na qual se encontram os indivíduos, 
deve-se partir do geral para o particular, para o processo individual de 
relação entre atividade e consciência. É necessário perceber o singular e seu 
movimento como parte do movimento geral e, ao revelar essas mediações, 
compreender não só o geral, mas o particular. É dessa forma que o indivíduo 
deve ser entendido pela Psicologia fundamentada no materialismo histórico 
e dialético (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2018, p. 75). 
 
 
2.3 Os objetos de estudo da psicologia social 
 Considerando os processos de mudanças presentes no contexto da Psicologia 
Social vividas pelas tendências norte-americana, europeia e latino-americana, 
podemos dizer que a Psicologia Social se debruçou em vários objetos de estudo ao 
longo do tempo. No entanto, vemos que a base desses estudos eram as relações dos 
indivíduos, entre si e com a sociedade ou cultura onde estão inseridos. 
 
 
 
16 
 
 Para entendermos melhor, comecemos com a compreensão de que o indivíduo 
e sua subjetividade se constituem a partir de sua inserção na cultura. Dessa forma, 
podemos dizer que o ser humano é diferente de outras espécies, visto que ele 
desenvolve e torna cada vez mais complexa sua cultura. Esse processo, segundo Strey 
et al (2013), se dá a partir da aquisição da linguagem, momento em que se inicia uma 
organização complexa do pensamento, em que o ser humano aprende a simbolizar. 
 No decorrer do seu desenvolvimento, o indivíduo fará contato com a cultura 
pertencente ao seu grupo, a partir das inter-relações sociais, aprendendo regras, 
valores, crenças e costumes que fazem parte da sociedade. Porém, de acordo com 
Strey et al. (2013) é importante pontuar que o indivíduo não absorve passivamente a 
cultura imposta, visto que esse processo envolve um movimento em que o indivíduo 
constrói a sociedade e é construído por ela. 
Nesse processo, a linguagem tem papel importante, por ser um produto e um 
instrumento social, trazendo consigo as propriedades de comunicação e significação, 
orientando-se no sentido da constituição da consciência dos indivíduos. Assim, a 
palavra reflete a origem social da consciência(STREY et al., 2013). 
Em síntese, nesse processo de construção contínuo da cultura é que as relações 
sociais vão se constituindo, contribuindo nos processos de formações de 
representações sociais e identidades. 
Mediante o exposto, podemos dizer que, ao se debruçar nos objetos de estudo 
aqui apresentados, a Psicologia Social busca refletir sobre o movimento de 
transformação do ser humano e as construções subjetivas, podendo ser pessoais e 
sociais, contidas no movimento da sociedade. 
 
2.4 Intervenções da psicologia social 
 A prática da psicologia social pode estar presente em vários contextos como 
consultórios, instituições de saúde, escolas, organizações públicas e/ou privadas, entre 
outros, e em diferentes territórios. Segundo Ferreira (2014) trabalho se dá a partir de 
 
 
 
17 
 
conjecturas e ações que podem envolver movimentos sociais, grupos geracionais, 
enfim, diferentes seguimentos socioculturais, com o objetivo de se constituir 
intervenções junto a projetos na área social e políticas públicas. 
 O papel do psicólogo social, de acordo com Bock, Furtado e Teixeira: 
 
[...] é construir condições para que cada sujeito, grupo ou instituição 
compreenda e se aproprie de sua forma de estar no mundo e 
contribua nas relações que estabelece a partir de se considerar como 
parte ativa na transformação de si e do mundo na busca de melhores 
condições de vida para si e para o coletivo. (BOCK; FURTADO; 
TEIXEIRA, 2018, p. 79) 
 
 No processo de construção de intervenções da psicologia social, precisamos 
levar em conta as relações sociais que se constituem por meio da comunidade. Neste 
contexto, segundo Ferreira (2014), podemos ver a diversidade das relações de um 
grupo, onde as pessoas estabelecem relações dinâmicas e que se perpetuam por algo 
em comum. Desta maneira, é importante ressaltar que a intervenção da psicologia 
social deve considerar a presença ativa desses indivíduos e suas singularidades, 
garantindo que tenham voz e vez, no exercício da ação política. 
 
2.5 O indivíduo e a multidão 
 Como vimos no tópico anterior, a Psicologia Social se dedica ao estudo das 
relações sociais, à forma como os indivíduos as constituem e são constituídos e como 
estas relações podem ser vistas no âmbito da comunidade. Assim sendo, é importante 
problematizar aqui a forma como essas relações se dão, entendendo o papel dos 
indivíduos. 
 
 
 
18 
 
 Segundo Strey et al. (2013) as relações sociais, em uma perspectiva dialética, só 
se dão a partir do momento que existe a ligação com um outro. Nesse sentido, para 
que haja transformação é necessária a transformação das relações existentes. 
 Em vista disso, quando trabalhamos no contexto da psicologia social, 
precisamos levar em conta a existência de um grupo/comunidade, com propósitos 
comuns, e que se organize por meio destas relações sociais. Ao contrário disso, de 
acordo com Strey et al. (2013), teremos um amontoado de pessoas em multidão, 
situação em que a relação entre elas, praticamente, é inexistente, e a única coisa em 
comum é a figura de um chefe ou um dirigente. Dessa forma, ficaria difícil estabelecer 
uma dinâmica democrática, em que os indivíduos possam exercitar seu direito de 
participação e são respeitadas em sua autonomia. 
 
Conclusão 
 Nessa unidade, estudamos sobre o processo de construção histórica da 
Psicologia Social, entendendo que esta sofreu influências de diferentes vertentes 
metodológicas ao longo do tempo, relacionadas às particularidades de cada contexto 
social, político e econômico, em momentos históricos distintos. 
Vimos também que a Psicologia social latino-americana se destaca nesse 
contexto, trazendo uma problematização mais crítica da realidade, baseada em 
questões políticas e econômicas que emergiam nesses países no final da década de 
1970. Por conseguinte, vimos a construção de uma psicologia social apoiada em 
estudos que visavam entender e intervir nas relações dos indivíduos e na sociedade, 
apreendendo esses indivíduos enquanto seres ativos, sociais e históricos. 
Ao final, conhecemos um pouco das possibilidades de intervenção da psicologia 
social, considerando a importância da comunidade, para a construção de uma prática 
profissional mais democrática. 
 
 
 
 
19 
 
Referências 
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. 
Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 15. Ed. – São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. 
TORRES, Claudio Vaz; NEIVA, Elaine Rabelo. Psicologia Social: principais temas e 
vertentes. Porto Alegre, RS: Artmed, 2011. 
STREY, Marlene Neves et al. Psicologia Social Contemporânea. 21.ed. Petrópolis, RJ: 
Vozes, 2013. 
FERREIRA, Rita de Cássia Campos. Psicologia Social e Comunitária. Fundamentos, 
Intervenções e Transformações. São Paulo, SP: Érica, 2014. 
 
 
 
 
20 
 
 
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 
Apresentação 
Olá, aluno! Nesta unidade estudaremos as Representações Sociais, enquanto 
temática importante da Psicologia Social, que permeia análises e discussões de vários 
autores. Conheceremos a origem desse conceito e como ele foi discutido ao longo do 
tempo. Propomos-nos também, a pensarmos juntos sobre como as Representações 
Sociais são presentes na vida cotidiana. Vamos nos aprofundar mais nessa temática? 
 
3.1 As representações coletivas (Durkheim) 
 Como vimos nas outras unidades, a construção da Psicologia Social passou por 
um longo percurso, tendo como base, diferentes vertentes teóricas. Uma grande 
referência foi Émile Durkheim (1858-1917), considerado fundador das Ciências Sociais. 
Suas teorias tiveram forte influência na construção da chamada Psicologia Social 
Sociológica, vertente da Psicologia Social que se desenvolveu inicialmente na Europa, 
em contraponto à Psicologia Social Psicológica, norte-americana. 
 Durkheim baseia suas reflexões na relação entre indivíduo e sociedade. Para o 
autor é a sociedade que determina o comportamento do indivíduo e, por isso, as 
condutas individuais não podem ser explicadas apenas com um enfoque individual 
psicológico. 
 Durkheim desenvolveu seu estudo sobre Representações Coletivas, a partir da 
análise da religião e dos mitos, problematizando o lugar dos símbolos na sociedade. De 
acordo com ele, todas as formas de conhecimento, inclusive a ciência, não são 
resultadas de uma construção individual e sim um produto da idealização coletiva. 
Para o autor, “[...] nossas categorias de pensamento e representações da realidade 
surgem de um fato social” (ALVARO; GARRIDO, 2006, p. 9). Nesse sentido, essas 
 
 
 
21 
 
construções não podem, segundo Torres e Neiva (2011), estar somente ligadas a uma 
consciência individual. 
 Dessa forma, podemos dizer que as Representações Coletivas são base para a 
construção de ideias individuais, ou seja, o indivíduo carrega marcas de sua realidade 
social relacionadas aos seus vínculos sociais. Destarte, concluímos que a estrutura 
social reproduz representações coletivas. 
Os estudos de Durkheim sobre Representações Coletivas são importantes, pois 
acabam por influenciar o desenvolvimento da teoria de Representações Sociais, 
desenvolvido por Serge Moscovici, que veremos mais adiante. 
 
3.2 As mentalidades primitivas (Lévy-Bruhl) 
O conceito de mentalidades primitivas foi desenvolvido por Lévy-Bruhl (1857-
1939), que, assim como Durkheim, acreditava que as representações coletivas 
poderiam ter influências sobre os indivíduos. No desenvolvimento de seus estudos ele 
apontava, diferentemente de Durkheim, que os campos de conhecimento, como a 
ciência moderna, não nascem da religião, enquanto pensamento primitivo. Lévy-Bruhl 
faz uma divisão entre mentalidade moderna construída pelo pensamento ocidental, e 
a mentalidade primitiva, que tem como fonte, o conhecimento místico e pré-lógico 
segundo Torres e Neiva (2011). 
Para Lévy-Bruhl o pensamento religioso não se tratava de algo rudimentar ou 
primitivo.O pensamento religioso para ele tinha outra lógica de funcionamento, que 
se baseia na explicação mística da realidade, diferente do pensamento científico. 
Nesse sentido, as mentalidades primitivas derivam não de uma inferioridade evolutiva, 
mas seria uma forma de adaptação intelectual ao contexto, de maneira a ignorar as 
operações lógicas ou a reflexão. Por exemplo: se um objeto cai no chão, a mentalidade 
moderna pode tentar explicar esse fato a partir da física. Já a mentalidade primitiva, 
pode dizer que existe uma condição mística para que esse objeto tenha caído, “porque 
Deus quis!”. 
 
 
 
22 
 
Dessa forma, segundo Torres e Neiva (2011), para entender o funcionamento 
de mentalidades primitivas, era importante conhecer como as representações 
coletivas aconteciam na sociedade, influenciando os indivíduos. 
 
3.3 As representações sociais (Moscovici) 
 Agora que conhecemos um pouco dos estudos de Durkheim e Lévy-Bruhl, 
vamos entender como as teorias de representações coletivas e mentalidades 
primitivas influenciaram a construção da teoria de representações sociais desenvolvida 
por Serge Moscovici (1925-2014), trazendo grande impacto para as discussões da 
psicologia social, ao criticar os pressupostos positivos e funcionalistas presentes nas 
demais teorias. 
 Em meados da década de 1960, Moscovici começou a desenvolver a teoria das 
representações sociais a partir da observação de que o conhecimento científico e os 
termos usados pela ciência, passaram a fazer parte das falas cotidianas, nas relações 
sociais. No entanto, esse conhecimento era usado de forma não científica, baseado no 
conhecimento de senso comum. Mas o que seria o senso comum? Podemos dizer que 
o senso comum é aquele que orienta o conhecimento prático e influencia o 
comportamento dos indivíduos no cotidiano. Ele é aprendido nas interações sociais. 
 Assim, nasceu a teoria de representações sociais que pode ser definida da 
seguinte forma: 
As representações sociais são “teorias” sobre saberes populares e do 
senso comum, elaboradas e compartilhadas coletivamente, com a 
finalidade de construir e interpretar o real. Por serem dinâmicas, 
levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o 
meio, ações que, sem dúvida, modificam os dois (STREY, 2013, p. 
105). 
 
 
 
 
23 
 
É importante pontuar aqui, que Moscovici teve grande influência da teoria de 
representações coletivas de Durkheim. Assim como ele, entendia que existe uma 
relação entre o coletivo e o indivíduo. No entanto, podemos dizer que ele atualiza as 
ideias de Durkheim, pois ele busca entender a construção dessas relações. Nesse 
sentido, a teoria das representações coletivas parte da análise de uma estrutura mais 
estática. Ao contrário, a teoria das representações sociais, tem um olhar mais dinâmico 
para a sociedade, visto que se propõe a analisar como essas relações se dão no 
cotidiano. 
 
3.4 A formulação do conceito de representações 
 Vamos entender então como o conceito de representações sociais foi 
formulado? Falamos no tópico anterior que Moscovici parte de um olhar mais 
dinâmico em relação à sociedade. Esse olhar garante vermos diversos aspectos que 
fazem parte dessa realidade social, dentro de uma dimensão histórica e 
transformadora, relacionando aspectos culturais, cognitivos e ideológicos. Moscovici 
olhava para o coletivo sem desconsiderar o indivíduo. Segundo ele, esse indivíduo, 
inserido na sociedade, passa a pensar de acordo com as ideias compartilhadas nesse 
contexto. 
 
 De acordo com Strey (2013), para entendermos essa teoria, é fundamental que 
possamos considerar elementos como a cognição, o afeto e a ação/atitude e a relação 
entre eles no processo de representação social. A cognição poderia ser descrita como a 
capacidade de gerar imagens e conhecimento acerca da informação que chega até 
mim em determinado momento. Esse contato gera uma percepção que pode alterar a 
sensação e o afeto, tendo caráter simbólico significante. Já a ação/atitude é o 
posicionamento a partir do que me foi informado. 
 
 
 
 
 
24 
 
3.5 Núcleo central das representações sociais e manifestações na vida cotidiana 
Após entendermos o conceito de representações sociais, vamos entender um 
pouco sobre a importância desse conceito para a Psicologia Social e como suas 
manifestações se fazem presentes na vida cotidiana. 
 
Estudar Representações Sociais é buscar conhecer o modo como um 
grupo humano constrói um conjunto de saberes que expressam a 
identidade de um grupo social, as representações que ele forma 
sobre uma diversidade de objetos, tanto próximos como remotos, e 
principalmente o conjunto dos códigos culturais que definem, em 
cada momento histórico, as regras de uma comunidade. (STREY, 
2013, p. 107) 
 
 Dessa forma, a teoria de representações sociais pode ajudar-nos a entender a 
realidade e o comportamento das pessoas no cotidiano, assim como as escolhas que 
fazemos, problematizando questões humanas e sociais, que são, muitas vezes, 
naturalizadas. Nesse sentido, segundo Strey (2013), podemos dizer que o ser humano 
é um ser social e, esse social, não é determinante, mas constitutivo dele. 
 Criamos as representações sociais para tornar familiar o não familiar. Ao 
tornarmos o estranho familiar, garantimos uma sensação de “bem-estar” a partir de 
um universo, que inicialmente, poderia trazer desconforto. Nesse caminho, os 
processos básicos geradores de representações sociais seriam a ancoragem e a 
objetivação, que se compoem diante do que entendemos dos Universos Retificados, 
que dizem respeito ao conhecimento científico, e dos Universos Consensuais, 
relacionados ao senso comum. 
[...] a ancoragem corresponde exatamente à incorporação ou à 
assimilação de um novo objeto em um sistema de categorias que são 
familiares e funcionais aos indivíduos e que lhes estão facilmente 
disponíveis na memória. A ancoragem permite integrar o objeto da 
representação em um sistema de valores próprios ao indivíduo, 
 
 
 
25 
 
denominando-o e classificando-o em função da inserção social desse 
indivíduo. Assim, um novo objeto é ancorado quando ele passa a 
fazer parte de um sistema de categorias já existentes, mediante 
alguns ajustes (TORRES; NEIVA, 2011, p.293). 
 
Já a objetivação pode ser definida como: 
 
[...] a objetivação é o processo pelo qual procuramos tornar concreto, 
visível, uma realidade. Procuramos aliar um conceito com uma 
imagem, descobrir a qualidade icônica, material, de uma ideia, ou de 
algo duvidoso. A imagem deixa de ser signo e passa a ser uma cópia 
da realidade (STREY, 2013, p.110). 
 
 
 É importante pontuar, que esses processos acontecem e desenvolvem-se de 
maneira concomitante, dando sentido às representações sociais. 
 
Conclusão 
Nessa unidade trabalhamos o conceito de Representações Sociais, 
desenvolvido por Moscovici. Conhecemos também a teoria de representações 
coletivas de Durkheim e a teoria de mentalidades primitivas, de Lévy-Bruhl, que de 
alguma forma, influenciaram o trabalho de Moscovici, enquanto referência importante 
para a Psicologia Social. 
A teoria das representações sociais nos ajuda a compreender o comportamento 
das pessoas no cotidiano, suas relações e escolhas, percebendo que estas não podem 
ser naturalizadas e que, de algum modo, estão relacionadas ao lugar do ser humano 
 
 
 
26 
 
enquanto ser social. Nesse movimento, vimos que conhecer o saber popular é 
importante para a compreensão dos fenômenos sociais. 
 
 
Referências 
STREY, Marlene Neves et al. Psicologia Social Contemporânea. 21.ed. Petrópolis, RJ: 
Vozes, 2013. 
TORRES, Claudio Vaz.; NEIVA, Elaine Rabelo. Psicologia Social: principais temas e 
vertentes. Porto Alegre, RS: Artmed, 2011. 
ALVARO, Jose Luis; GARRIDO, Alicia. Psicologia Social: Perspectivas Psicológicas e 
Sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.27 
 
 
4 DEBATES SOBRE TEMAS FUNDAMENTAIS DA PSICOLOGIA SOCIAL 
Apresentação 
Olá, aluno! Estamos trabalhando com aspectos importantes da Psicologia 
Social, que nos ajudam a compreender quais os principais autores e teorias que 
contribuíram para o processo de construção dessa ciência. Assim, nessa unidade, 
vamos estudar um pouco mais dos aspectos conceituais construídos por Vygotsky, que 
trouxe importantes contribuições para a Psicologia Social, como vimos nas unidades 
anteriores. Vamos conhecer mais de perto esse estudioso e suas contribuições? 
 
4.1 A construção social dos processos mentais superiores 
Lev Vygotsky (1896-1934) se dedicou a estudos voltados para a questão do 
desenvolvimento humano, evidenciando que os processos de aprendizagem e do 
próprio desenvolvimento deveriam ser olhados a partir da relação com os aspectos 
sociais em um processo socio-histórico e cultural. 
É importante lembrar que Vygotsky teve influência da abordagem do 
materialismo histórico dialético e buscava ver o homem na sua interação com a 
natureza e com o meio social. Nessa perspectiva, o homem é um ser da natureza, mas 
também é um ser social, capaz de transformar a natureza com a mediação de 
instrumentos. Ao transformar a natureza ele também se transforma, ou seja, 
“mudanças históricas na sociedade e na vida material, produzem modificações na 
natureza humana” (PALANGANA, 2001, p. 93). É partir dessa base que ele irá defender 
que o uso de instrumentos materiais e o uso dos signos e símbolos, de forma 
articulada e combinada, darão origem às funções cognitivas superiores ou processos 
mentais superiores. Esses processos mentais superiores são o que distinguirá o 
homem dos outros seres da natureza, que não criam e nem transformam a cultura. 
 
 
 
 
28 
 
A teoria de Vygotsky tem como perspectiva o homem como um sujeito total 
enquanto mente e corpo, organismo biológico e social, integrado em um 
processo histórico. A partir de pressupostos da epistemologia genética, sua 
concepção de desenvolvimento é concebida em função das interações 
sociais e respectivas relações com processos mentais superiores, que 
envolvem mecanismos de mediação. As relações homem-mundo não 
ocorrem diretamente, são mediadas por instrumentos ou signos fornecidos 
pela cultura (ALMEIDA, 2000, p. 64). 
 
Nesse sentido, para ele, era importante entender o papel da linguagem 
enquanto instrumento humano de mediação e interação com o meio e com a cultura. 
A partir do desenvolvimento da fala são produzidas mudanças qualitativas na 
estruturação cognitiva do indivíduo, agindo na estrutura do pensamento. Vygotsky 
defendia que as funções mentais superiores (percepção, memorização, atenção, 
pensamento e imaginação) são socialmente formadas e culturalmente transmitidas 
por meio da linguagem. Nesse processo, mesmo que o indivíduo tenha capacidade 
biológica de se desenvolver, isso somente será possível a partir da interação com o 
outro. 
De acordo com PALANGANA (2001), a partir dos aspectos apresentados, 
podemos dizer que há quatro pensamentos-chave vygotskyanos: a interação, a 
mediação, a internalização e a Zona de Desenvolvimento Proximal. A interação 
acontece por meio dos relacionamentos interpessoais, de troca com o meio. Essa 
interação se dá nos processos de mediação, a forma como o indivíduo irá desenvolver 
essa interação através de representações simbólicas e da linguagem. A partir disso, 
acontece a internalização, ou o momento em que a aprendizagem se completa. Já a 
Zona de Desenvolvimento Proximal está relacionada àquilo que já está apreendido 
pelo indivíduo e o que possa vir a se estabelecer enquanto aprendizagem, na 
aproximação com os outros mais experientes. 
 
4.2 Inter e Intrasubjetividade 
 
 
 
29 
 
 Agora que já entendemos como se dá a construção social dos processos 
mentais superiores, é interessante discutirmos o papel da realidade social na formação 
do sujeito individual. Como falamos anteriormente, de acordo com Vygotsky, a 
constituição do sujeito é permeada pela cultura e pelas interações sociais. Então como 
podemos pensar na formação da subjetividade a partir dessa perspectiva teórica? Para 
começar vamos definir subjetividade: 
Um sistema integrado do interno e do externo, tanto em sua 
dimensão social, como individual, que por sua gênese é também 
social... A subjetividade não é interna e nem externa: ela supõe outra 
representação teórica na qual o interno e o externo deixam de ser 
dimensões excludentes e se convertem em dimensões constitutivas 
de uma nova qualidade do ser: o subjetivo. Como dimensões da 
subjetividade ambos (o interno e o externo) se integram e 
desintegram de múltiplas formas no curso de seu desenvolvimento, 
no processo dentro do qual o que era interno pode converter-se em 
externo e vice-versa (GONZALEZ-REY, 1997, p. 40). 
 
A partir do exposto, podemos evidenciar que a construção da subjetividade acontece a 
partir de movimentos de intersubjetividade e intrasubjetividade. A linguagem e seu 
desenvolvimento serão responsáveis pela formação de processos mentais que 
determinarão o uso dos signos, ou os significados que damos para as experiências que 
vivenciamos. Dessa forma, aquilo que parece individual na pessoa, ou intrasubjetivo, é 
resultado de sua construção na relação com o outro, um coletivo, que veicula a 
cultura, em uma condição intersubjetiva. As características e atitudes individuais estão 
profundamente impregnadas nas trocas com o coletivo, é no contexto da cultura, de 
seus valores e da negociação de sentidos tramados pelos grupos sociais, que se 
constrói e se internaliza o conhecimento. Nesse processo, nos tornamos humanos na 
relação social com o outro e nos apropriamos dos significados sociais. No entanto, 
também atribuímos significados, conferindo às relações ao nosso redor um sentido 
pessoal. 
 
 
 
 
30 
 
4.3 O processo de socialização 
 Podemos dizer que a experiência social começa com o nascimento. As 
primeiras demandas da criança são de natureza biológica, como se alimentar, se 
manter aquecido e seguro. Porém, essas demandas serão atendidas na relação com 
outros seres humanos, que irão determinar como essas necessidades serão atendidas. 
Por exemplo, a criança precisa se alimentar. Inicialmente, essa alimentação é provida 
pela mãe ou um cuidador que definirá o tipo de alimento que essa criança receberá ao 
longo do seu desenvolvimento e os horários. 
 São nessas e noutras experiências que acontece o processo de socialização, ou 
seja, processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser membro da sociedade. Ao se 
tornar social, o indivíduo passa a assimilar hábitos culturais, aprendendo-os com 
outros sujeitos. Nesse processo, os indivíduos passam a interiorizar regras e valores de 
determinada cultura e, ao apreender esse sistema nos adaptamos aos grupos dos 
quais fazemos parte. 
 Como falamos no tópico anterior, esse processo de interação mediado pela 
linguagem também constituirá a nossa própria personalidade, e assim, vamos dando 
significados para as experiências que vivemos. 
 Os processos de socialização acontecem, em um primeiro momento na 
infância, no meio familiar. Nessa interação, de acordo com PELAGRANA (2001), a 
criança passa a ter os primeiros contatos com a linguagem e começa a significar 
relações sociais primárias. Nesse momento, também são interiorizadas normas e 
valores sociais. Esse processo é chamado de socialização primária e a família é 
fundamental nesse processo, enquanto instituição social. Passamos também pelo que 
podemos chamar de socialização secundária, nesse caso, já existe o domínio da 
linguagem e uma interação maior do sujeito com a sociedade. Este já internalizou 
papéis sociais e passa a receber conhecimentos específicos que o ajudarão a 
compreender as relações sociais. 
 O processo de socialização do indivíduo, segundo Pelagrana (2001), acontece 
por meiode mecanismos como a aprendizagem, que incidirá na interação com outros 
 
 
 
31 
 
indivíduos e com o meio social, a partir da mediação da linguagem; a imitação, 
momento em que ele irá reproduzir comportamentos e atitudes de indivíduos e 
grupos que fazem parte do meio onde está integrado; e a identificação, em que ele irá 
se identificar e reproduzir modelos de conduta social. 
 
4.4 A construção dos significados 
 A construção de significados para os indivíduos, como já discutimos 
anteriormente, de acordo com Vygotsky, acontece no movimento de integração ao 
mundo por meio da linguagem. Nesse processo, o ser humano vai se constituindo 
enquanto sujeito social, atribuindo significados aos objetos, aos seres e aos eventos 
que acontecem em seu meio social, dentro de um contexto histórico e cultural. Dessa 
forma, Vygotsky definirá o significado como: 
 
O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito 
do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer quando se trata 
de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma 
palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um 
critério da “palavra”, seu componente indispensável [...] Mas, o 
significado de cada palavra é uma generalização ou um conceito. E 
como as generalizações e os conceitos são inegavelmente atos de 
pensamento, podemos considerar o significado como um fenômeno 
do pensamento (VYGOTSKY, 1996, p. 104). 
 
A cultura irá negociar o sentido das coisas, através de representações 
simbólicas, da língua falada, da linguagem, que realiza a mediação entre a coisa e a 
compreensão da coisa, como se fosse uma tradução. Podemos usar como exemplo 
uma cadeira. Há um consenso dentro do contexto social em que vivemos do que seria 
cadeira e para o que ela serve. Essa informação, então, fica armazenada no nosso 
cérebro e, por meio da internalização, conseguimos abstrair o conceito de cadeira e o 
 
 
 
32 
 
tornamos universal. E então, cadeira não cabe apenas na palavra e passa a ter 
significados mais complexos, que abrangem experiências afetivas, emocionais, 
informativas, a partir das trocas que vamos estabelecendo nas nossas relações. 
 
4.5 Consciência e conscientização 
 Outro aspecto importante discutido por Vygotsky em suas pesquisas é a forma 
como se estabelece a consciência humana. Vygotsky, para o desenvolvimento de suas 
ideias, teve grande influência de movimentos revolucionários vinculados ao marxismo, 
que parte de uma concepção da formação dos indivíduos e da história a partir de um 
movimento dialético da realidade, que precisa ser apreendido dentro do contexto 
histórico-cultural. 
 Para Marx e Engels: 
O pressuposto primeiro de toda a história humana é a existência de 
indivíduos concretos que, na luta pela subsistência, organizaram-se 
em torno do trabalho e estabeleceram relações entre si e com a 
natureza. O modo de produção material condiciona o processo da 
vida social, política e econômica. Por sua vez, a produção das ideias, 
das representações, do pensamento, enfim, da consciência, não está 
dissociada da atividade material e do intercâmbio entre os homens 
(PELAGRANA, 2001, s./p.). 
 
Nesse sentido, podemos entender que a consciência humana está relacionada à 
forma como nos inserimos nos processos da vida social, condicionados pelo modo de 
produção material, ou seja, a consciência é produto das relações sociais estabelecidas 
pelos seres humanos em determinado momento da história. Destarte, a consciência 
pode ser apreendida como produto subjetivo, “[...] como apropriação pelo homem do 
mundo objetivo se produz em um processo ativo cuja origem é a atividade sobre o 
mundo, a linguagem, as relações sociais” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2018, p.76). 
 
 
 
33 
 
Sobre a consciência, podemos concluir que ela desempenha papel ativo na 
realização de atividades objetivas e simbólicas, tendo no trabalho, papel fundamental 
para o planejamento, a atuação e a transformação da realidade. “Ao analisar o 
desenvolvimento da consciência ou do pensamento individual, Vygotsky transpôs 
integralmente para a sua análise a concepção marxista de consciência social” 
(PELAGRANA, 2001, s. p.). No processo de internalização da consciência social é que se 
desenvolve a consciência individual. 
Já a conscientização não foi diretamente trabalhada por Vygotsky, mas é um 
conceito que está relacionado aos pressupostos filosóficos e epistemológicos do 
pensamento de Karl Marx e Friedrich Engels. A conscientização pode ser entendida 
como um desenvolvimento crítico da tomada de consciência, que implica ação. Nesse 
movimento, a realidade e os processos de naturalização das relações sociais são 
desvelados, estimulando a reflexão e a ação dos seres humanos sobre a realidade, 
promovendo a transformação. 
A conscientização pode ser considerada um elemento antagônico à alienação, 
que, segundo Marx e Engels, é constituinte das relações sociais no modo de produção 
capitalista. A alienação bloqueia o desenvolvimento dos indivíduos no mesmo nível do 
crescimento das forças produtivas, mediadas pelo trabalho, no contexto das relações 
sociais capitalistas. Dessa forma, a conscientização se dá a partir de um processo de 
reflexão humana sobre a sua existência, inserindo os seres humanos na ação 
transformadora da realidade. 
 
Conclusão 
Estudamos nessa unidade temas fundamentais da psicologia social como a 
construção social dos processos mentais superiores, temática estudada por Vygotsky. 
Também vimos como acontecem os processos de inter e intrasubjetividade e o papel 
da realidade social na formação do sujeito individual, a importância dos processos de 
socialização e como, no processo de integração ao meio social, por mediação da 
 
 
 
34 
 
linguagem, os indivíduos vão atribuindo significados à realidade. Esse processo é 
dialético e garante a constituição do ser humano enquanto ser social. 
Por último, vimos como acontecem os processos de consciência e 
conscientização. Com base na teoria marxista, a consciência humana está relacionada 
à forma como nos inserimos nos processos da vida social, condicionados pelo modo de 
produção material, tendo papel ativo na realização de atividades objetivas e 
simbólicas. Já a conscientização pode ser entendida como um desenvolvimento crítico 
da tomada de consciência, que implica ação transformadora da realidade. 
 
Referências 
PALANGANA, Isilda Campaner. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e 
Vygotsky. São Paulo: Summus Editorial, 2001. 
ALMEIDA, Maria Elizabeth de. Informática e Formação de professores. Brasília: 
Ministério da Educação, 2000. Disponível em: 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002401.pdf. 
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; e TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. 
Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 15. Ed. – São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. 
GONZALEZ-REY, Fernando I. Categoria “personalidade”: su significación para la 
psicologia social. Psicologia Revista, revista da Faculdade de Psicologia da PUC-SP, n.4, 
p.40, mai., 1997. 
VIGOTSKI, Lev. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
5 FAMÍLIA, ESCOLA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA 
Apresentação 
Olá, aluno! Nas unidades anteriores aprendemos um pouco mais sobre o 
contexto da psicologia, a ampla produção da psicologia social e alguns conceitos 
importantes trabalhados por autores que contribuíram nessa produção, colaborando 
para a compreensão uma série de fatores sociais que fazem parte da construção dos 
indivíduos e da sociedade. Aqui vamos adentrar um pouco mais no contexto da família, 
da escola e dos meios de comunicação em massa, procurando entender a constituição 
da subjetividade no mundo contemporâneo e, consequentemente, como essas 
instituições sociais podem influenciar o comportamento grupal. 
 
5.1 A constituição da subjetividade no mundocontemporâneo 
 Para falarmos sobre a constituição da subjetividade no mundo contemporâneo 
é importante retomarmos esse conceito para entendermos melhor o que é a 
subjetividade, o principal objeto de estudo da psicologia. A subjetividade é o modo 
particular pelo qual nos constituímos e somos reconhecidos pelos outros, “[...] o 
mundo de ideias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir 
de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é também 
fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 
2018, p. 76). 
 A percepção de subjetividade individualizada é consequência dos processos de 
transformação da sociedade e o desenvolvimento das formas de produção capitalista. 
Nesse contexto, os seres humanos passam a ser vistos de maneira cada vez mais 
individualizada como consumidores e produtores individuais, livres para vender sua 
força de trabalho. 
 
 
 
36 
 
 As ideias de Descartes podem ser consideradas, enquanto inauguradoras do 
pensamento moderno em que é presente a valorização da razão, a ideia do ser 
singular e a constituição da representação de algo interno ao indivíduo, ou seja, a 
subjetividade. Alguém já ouviu a frase: “Penso, logo existo!”? (BOCK; FURTADO; 
TEIXEIRA, 2018). 
 No entanto, como discutimos nas unidades anteriores, é a partir da instituição 
da psicologia enquanto ciência, que começamos a desenvolver estudos que pudessem 
nos ajudar a entender a subjetividade dos sujeitos e sua relação com o mundo social. 
 No âmbito da psicologia social é interessante apreendermos a subjetividade 
atrelando-a ao conceito de identidade: 
 
A identidade compõe com a atividade e a consciência as categorias 
básicas do psiquismo e refere-se à compreensão que o sujeito faz 
sobre si mesmo. Reúne na consciência as ações, os projetos, as 
relações, as noções e os julgamentos sobre si. É o que permite ao 
sujeito saber-se único, identificar-se com o que faz e vive, 
reconhecer-se. Em uma noção de mundo em movimento, a 
identidade aparece, como metamorfose (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 
2018, p.76). 
 
De acordo com Antonio da Costa Ciampa (2006), psicólogo social brasileiro, o primeiro 
passo para a construção da identidade é a diferenciação entre eu e o outro. Conforme 
nos relacionamos, enxergamos diferenças e similaridades com vários grupos sociais. 
Na unidade anterior, entendemos um pouco desse movimento a partir dos processos 
de socialização primária e secundária, diante das interações construídas entre o sujeito 
e a sociedade. Além disso, vimos também como se constituem os processos de 
consciência e conscientização, entendendo a forma como nos inserimos nos processos 
da vida social e transformamos a realidade. Segundo Strey (2013), Ciampa defenderá a 
ideia de metamorfose, em que a identidade é produzida em um movimento de 
 
 
 
37 
 
transformação contínua com a realidade, em que o sujeito transforma o mundo e é 
transformado por ele. 
Agora que entendemos sobre os conceitos de subjetividade e identidade, vamos 
refletir juntos: como estes processos se constituem no mundo contemporâneo? 
O mundo contemporâneo é marcado pela globalização e a possibilidade de acesso a 
informações, com o desenvolvimento da tecnologia e informatização. Alguns autores 
defenderão que vivemos na “sociedade da informação”, processo que leva também à 
transformação das relações sociais e da produção cultural. Porém, é importante 
pontuar que esse processo está relacionado ao desenvolvimento das forças produtivas 
da sociedade e, dentro do contexto capitalista contemporâneo, podemos perceber 
que esses movimentos representam, intrinsecamente, a resocialização dos sujeitos e a 
possibilidade de transformação também da sua identidade e subjetividade. Sabemos 
que, as características e atitudes individuais estão, profundamente, impregnadas nas 
trocas com o coletivo e, justamente, é ali no contexto da cultura, dos seus valores, da 
negociação de sentidos tramados pelos grupos sociais, que se constrói e se internaliza 
o que somos. 
Nesse sentido, podemos dizer que a construção da subjetividade no mundo 
contemporâneo, mediado pelas relações capitalistas, muitas vezes produz formas de 
sociabilidade voltadas para o individualismo grosseiro e consumo, relações essas 
inibidoras do pleno desenvolvimento humano. Essas relações acabam por reproduzir a 
ideia do ser humano como “peça de uma máquina”, tendo sua subjetividade anulada e 
colocada a serviço do Estado, ou de instituições burocráticas, enquanto reprodutoras 
da lógica do capital. 
 
5.2 Grupos e instituições como instâncias mediadoras das relações indivíduo-
sociedade 
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2018), foi a partir do século XIX, na denominada 
Psicologia das Massas ou Psicologia das Multidões, que Gustav Le Bon (1841-1931) 
 
 
 
38 
 
começou a desenvolver os primeiros estudos sobre os grupos, tentando entender os 
fenômenos das massas e da multidão, e como estes atravessam os indivíduos. 
Como já vimos nessa disciplina, os processos grupais ou o processo de nos 
relacionarmos com os outros, com grupos sociais, são definidores de como nos 
compomos enquanto sujeitos históricos. É importante frisar que a transformação da 
sociedade acontece na relação de indivíduos com outros, nos processos de 
agrupamento. Essas relações e a inserção em grupos podem ocorrer de maneira 
consciente ou não. Assim, podemos falar da nossa inserção em grupos “espontâneos”, 
que podem se constituir nas relações sociais, a partir do que é comum entre as 
pessoas e, nos grupos organizados que também apresentam características comuns, 
mas resolvem se organizar para desenvolver finalidades específicas. Alguns exemplos 
são grupos ligados à igreja, a partidos políticos, aos sindicatos etc. Estes são formas de 
organização da sociedade que podem estar a serviço da transformação social ou 
manutenção da ordem existente. 
Vários autores buscaram em suas pesquisas, compreender como se dá o processo 
grupal e como este se caracteriza. Kurt Lewin (1890-1947), que também trouxe 
grandes contribuições para o desenvolvimento da psicologia, se debruçando no estudo 
das relações interpessoais, defendia a noção de interdependência entre pessoas 
membros de um grupo. Para ele, o grupo apresenta um movimento dinâmico, em que 
qualquer alteração individual, altera também o coletivo. Silvia Lane, ao analisar a 
proposta de Lewin, diz que a “[...] função do grupo é definir papéis, o que leva a 
definição da identidade social dos indivíduos e a garantir a sua reprodutividade social” 
(STREY, 2013, p. 202). 
Ao analisar o papel do grupo na mediação indivíduo-sociedade, Sérgio Antonio 
Carlos afirmará: 
O grupo também pode ser visto como um lugar onde as pessoas 
mostram suas diferenças. Onde as relações de poder estão presentes 
e perpassam as decisões cotidianas, onde o conflito é inerente ao 
processo de relações que se estabelece. Onde há uma convivência do 
diferente, do plural. Não como um movimento de defesa das 
 
 
 
39 
 
minorias, mas num movimento de cada um e de todos procurando 
discutir suas ideias com os outros. Num confronto de ideias, 
buscando conciliar apenas o conciliável, deixando claras as 
individualidades, o diferente. A importância de afirmar que as 
pessoas são diferentes, que pensam de maneira diferente porque 
possuem valores diferentes, mas que podem produzir juntas o seu 
processo grupal. Este é um embate diário das relações pessoais que 
trazem consigo toda uma história de vida. Relações onde estarão 
presentes as múltiplas determinações de cada sujeito. Determinações 
de classe social, de gênero, de raça e de nacionalidade. Relações que 
se embaterão tanto na busca consciente de uma dominação quanto 
de defesas inconscientes utilizadas para lutar e/ou fugir das ameaças 
que as novas situações -desconhecidas- lhe colocam (STREY, 2013, p. 
202).É interessante marcar, como o autor coloca sobre a importância de se 
considerar no processo grupal, as diferenças e conflitos existentes, criados a partir da 
história de vida de cada um e múltiplas determinações sociais. Este processo é 
importante no movimento dialético presente nos grupos, em que podemos perceber 
uma condição de individualidade e totalidade. 
Destarte, é imprescindível pensar também na formação dos grupos nos 
processos institucionais. O processo de institucionalização regulariza e normatiza a 
vida cotidiana, regulando comportamentos socialmente esperados. De acordo com 
Bock, Furtado e Teixeira (2018), as normas institucionalizadas passam por um processo 
que definirá valores e regras sociais que ganham estatuto de verdade ao serem 
reproduzidas cotidianamente. Alguns exemplos de suas formas sociais visíveis são a 
família, a escola e a igreja que, enquanto instituições, produzem e reproduzem regras 
e valores que são vividos nas organizações da sociedade e fazem parte da vida dos 
indivíduos. Como dissemos anteriormente, essas organizações podem, em alguns 
momentos, estar a serviço da transformação social, em outros, a serviço da 
manutenção da ordem existente. 
 
 
 
40 
 
 
5.3 Comportamento antissocial: a agressão 
Um dos assuntos que a psicologia social se interessa por analisar é a violência 
enquanto comportamento atrelado às relações sociais, como produção humana. Esse 
tema deve ser compreendido a partir de múltiplos determinantes: históricos, 
demográficos, políticos, econômicos e psicossociais. Mas o que é violência? 
A violência é um sintoma “[...] do mal-estar nas relações humanas, da 
fragilidade e/ou ruptura dos laços sociais de indivíduos, [...] ao mesmo tempo, está na 
origem de muitas situações que causam mal-estar, insegurança coletiva, medo social 
[...]” (Bock; Furtado; Teixeira 2018, p. 363). A violência pode ser entendida como o uso 
da agressividade humana, que pode trazer prejuízos e causar sofrimento. Vamos 
entender de onde vem a agressividade humana? 
Segundo Bock, Furtado, e Teixeira (2018), de acordo com a psicanálise, a 
agressividade está presente na nossa constituição psíquica. É ela que nos possibilita 
enfrentar situações difíceis para a nossa própria sobrevivência. No entanto, a 
agressividade não precisa se configurar apenas de maneira destrutiva e violenta. O 
pensamento, a imaginação e a ação também podem estar relacionados com 
agressividade. Quando temos contato com a educação e mecanismos sociais como a 
lei, a tradição e a cultura, nós conseguimos dar outro sentido a nossa agressividade e 
passamos a controlá-la, podendo canalizar e transformar nossos impulsos em 
atividades mais positivas, como práticas esportivas, o trabalho, a produção intelectual 
As formas como os indivíduos lidam com sua própria agressividade e a 
representação desta em seu cotidiano, pode ser de maneira positiva ou negativa. A 
resposta está associada a uma série de fatores sociais e individuais, que dizem respeito 
ao meio social onde o indivíduo vive e como ele vê e se relaciona com este contexto. 
Nesse sentido, a família, a escola e os meios de comunicação em massa podem 
reproduzir e estimular tanto comportamentos violentos e antissociais, quando 
reproduzem e perpetuam práticas punitivas, quanto comportamentos pró-sociais, 
como veremos adiante. 
 
 
 
41 
 
 
5.4 Comportamento pró-social: o altruísmo 
O comportamento pró-social e o altruísmo podem ser caracterizados como o 
desejo de ajudar outra pessoa, sem benefício próprio. Dessa forma, assim como nos 
perguntamos por que as pessoas agem de forma antissocial e violenta umas com as 
outras, é importante perguntar quais os motivos que levam ao comportamento pró-
social e ao altruísmo? 
Há diferentes vertentes teóricas que procuram explicar esse comportamento 
entre as pessoas. Aqui vamos recorrer, inicialmente, a psicanálise. Como dissemos no 
tópico anterior, para a psicanálise, seres humanos têm em sua composição psíquica a 
agressividade. O altruísmo então, segundo Aronson, Wilson e Akert (2018) seria uma 
forma de nos defendermos de nossas ansiedades e conflitos internos, a fim de 
lidarmos melhor com as nossas necessidades interiores, e como essas necessidades 
influenciam nossas relações com os outros. 
Podemos procurar entender o comportamento pró-social a partir da 
perspectiva cultural, social e histórica em que as relações humanas são concebidas e se 
estabelecem a partir de trocas sociais e psicológicas, de transformação e 
reciprocidade. No momento que interiorizamos a realidade concreta, subjetivamos, ou 
seja, damos significados às relações, e a externalizamos em forma de 
comportamentos. Desse modo, se vivemos em um contexto comunitário onde existe 
diálogo e partilha de saberes, com base no afeto, construímos relações mais inclusivas 
e, portanto, pautadas na lógica pró-social. 
Discutir comportamentos pró-sociais, ou até mesmo antissociais, é importante 
se quisermos caminhar para uma prática direcionada à mudança social. O 
desenvolvimento da prática democrática parte do trabalho desenvolvido a fim de 
promover a potencialização de indivíduos e grupos concretos. Entender o 
comportamento grupal é relevante nesse processo. 
 
 
 
 
42 
 
5.5 Comportamento grupal 
 Como sinalizamos anteriormente, podemos associar o comportamento grupal 
às práticas institucionais reproduzidas cotidianamente pelas organizações sociais e, 
consequentemente, pelos indivíduos pertencentes a estas. A família, a escola e os 
meios de comunicação em massa têm papel relevante neste contexto, visto serem os 
principais meios de socialização e formação dos indivíduos, a partir dos aspectos 
relacionados à cultura, aos valores e comportamentos considerados aceitáveis em 
cada momento histórico da sociedade. Estes dispositivos (família, escola e meios de 
comunicação) exercem função ideológica. 
 A ideologia, segundo Costa (2015), é a forma que nós encontramos para dar 
significado às nossas relações, contribuindo na sustentação e reprodução dessas. A 
partir da ideologia criamos juízos de valor, discriminações, estereótipos, preconceitos, 
e também contrapomos às qualidades. Essa ideologia pode contribuir na reprodução 
de relações tanto justas e éticas, como assimétricas, desiguais e injustas. Nesse último 
caso, podemos dizer que há relações de dominação, quando amparadas por valores 
discriminatórios e preconceituosos. 
 Podem ser vistas enquanto formas de dominação, segundo Costa (2015): a 
dominação econômica, baseada na expropriação do trabalho de outras pessoas; a 
dominação política, quando as relações que se estabelecem entre pessoas e grupos 
não são justas, democráticas e desrespeitam os direitos de diversos sujeitos; e a 
dominação cultural, como racismo, patriarcalismo e institucionalismo. 
Contudo, é indispensável compreendermos que as formas de dominação podem 
influenciar o comportamento grupal, de forma a conduzir reproduções ideológicas que 
atendem a reprodução e manutenção do status quo. 
 
Conclusão 
Iniciamos esta unidade refletindo sobre a construção da subjetividade no mundo 
contemporâneo e como esta vem sendo mediada pelos processos de transformação 
 
 
 
43 
 
da sociedade marcados pela globalização, a informatização e o acesso a informações. 
Como dissemos, tais transformações levam também a mudanças nas relações sociais e 
na própria produção cultural. Esse movimento, no contexto capitalista 
contemporâneo, reproduz a ideia do ser humano como “peça de uma máquina”, tendo 
sua subjetividade anulada e colocada a serviço do Estado, ou de instituições 
burocráticas, enquanto reprodutoras da lógica do capital. 
Para entendermos melhor esse processo, estudamos aqui sobre o papel dos grupos e 
instituições que mediam as relações entre os indivíduos e a sociedade. Falamos 
também sobre os comportamentos sociais pró-sociais e antissociais, e como acompreensão destes é importante para caminhar até a prática direcionada à mudança 
social. 
Ao final, discutindo o comportamento grupal, retomamos a importância da família, da 
escola e dos meios de comunicação em massa, enquanto dispositivos que exercem 
função ideológica, visto serem os principais meios de socialização e formação dos 
indivíduos, a partir dos aspectos relacionados à cultura, valores e comportamentos 
considerados aceitáveis em cada momento histórico da sociedade. 
 
 
Referências 
ARONSON, Elliot; WILSON, Timothy D.; AKERT, Robin M. Psicologia Social. 8. Ed. - Rio 
de Janeiro: LTC, 2018. 
LANE, SILVIA & CODO, WANDERLEY (Orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento. 
São Paulo: Brasiliense, 1984. 
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. 
Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 15. Ed. – São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018. 
 
 
 
44 
 
COSTA, José Fernando Andrade. “Fazer para Transformar” a Psicologia Política das 
Comunidades de Maritza Montero. Revista Psicologia Política, v.15, n.33, 2015. 
PACHECO, Kátia Monteiro De Benedetto; DA COSTA CIAMPA, Antonio. O processo de 
metamorfose na identidade da pessoa com amputação. Acta Fisiátrica, v. 13, n. 3, p. 
163-167, 2006. 
STREY, Marlene Neves (Org.) Psicologia Social Contemporânea: livro-texto. 21. ed. 
Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
6 PSICOLOGIA SOCIAL COMO SUPORTE AO SERVIÇO SOCIAL 
Apresentação 
Olá, aluno! Estamos chegando à última unidade desta disciplina. Aqui vamos 
conversar sobre como a psicologia social poderá servir de suporte para a reflexão e as 
práticas do Serviço Social. Para isso, nos engajamos nas diversas leituras que envolvem 
a relação entre o indivíduo e a sociedade, a importância da linguagem nesse processo 
e as possibilidades de construção do trabalho social voltado para práticas mais 
democráticas. 
 
6.1 Matrizes de análise da relação indivíduo/sociedade 
Vários estudiosos se dedicaram a análise da relação entre indivíduo e 
sociedade, entre eles autores clássicos da sociologia como Émile Durkheim, Max 
Weber e Karl Marx. Estes autores contribuíram nas reflexões sobre a constituição da 
sociedade e sobre a maneira como os indivíduos se relacionam, influenciando também 
a construção do conhecimento no campo da psicologia e do serviço social. 
Segundo Álvaro e Garrido (2006), Émile Durkheim (1858 — 1917) defenderá que 
é a sociedade dita as regras das relações sociais. A partir disso, ele analisará como essa 
sociedade opera através do que ele chama de fatos sociais. Para Durkheim os fatos 
sociais são coletivos (consciência coletiva), ou seja, dizem respeito a toda uma 
sociedade, e não apenas a um indivíduo em particular. Por isso, esses fatos sociais 
também são considerados exteriores aos indivíduos. Além disso, são coercitivos, pois 
se impõe sobre o indivíduo de maneira obrigatória. Nesse sentido, podemos dizer que 
para esse autor o indivíduo só existe em relação à sociedade, ou seja, ele não age e 
não pensa de forma independente, sendo, constantemente, formatado pela 
sociedade, que é definidora das relações sociais. A integração dos membros da 
sociedade se concretiza em instituições, como a família, a escola, o Estado, que darão 
 
 
 
46 
 
sustentação, garantindo a coesão e manutenção social. É importante considerar que 
Durkheim parte de uma matriz positivista, e por isso tende a acreditar que a sociedade 
tem um movimento progressivo que respeita uma ordem natural. 
Max Weber (1864 — 1920) se opõe a Durkheim em vários pontos, a começar 
pela imparcialidade. De acordo com Álvaro e Garrido (2006), para Weber não tem 
como sermos imparciais ao estudarmos a sociedade. Outro ponto importante é que, 
diferentemente de Durkheim, Weber considera que o indivíduo cria e modifica a 
sociedade e não ao contrário. Normas, costumes e regras estão internalizados nos 
indivíduos, que, com base nisso, definem suas condutas e comportamentos, 
dependendo do contexto que se apresenta. 
De acordo com Álvaro e Garrido (2006), Weber chama a atuação do homem na 
sociedade de ações sociais, que podem ser entendidas como o ato de se relacionar. 
Essas ações sociais podem acontecer a partir de motivações diferentes: a afetiva, 
realizada a partir dos sentimentos humanos; a tradicional, ações realizadas a partir dos 
costumes; a objetiva/racional, que se estabelece tendo um fim claro; e as ações 
pautadas em valores, envolvendo questões éticas, políticas e religiosas. 
Karl Marx (1818 — 1883) parte de outra perspectiva, para ele os seres humanos 
são sujeitos históricos e atuam na construção da sociedade, estabelecendo ações 
recíprocas entre si. Existe, de acordo com Netto e Braz (2012), um movimento 
constante de criação e recriação da vida individual e coletiva, a partir de componentes 
de tensão, conflitos e antagonismos, que se compõem em embates entre subjetivo e 
objetivo, individual e coletivo. O homem (no sentido genérico) é um ser social e 
quando falamos de ser social, estamos falando de humanidade, sociedade. Esse ser 
social é capaz de transformar a natureza e a si próprio, e essa transformação se dá a 
partir do trabalho. No entanto, o trabalho pode ser apreendido dentro de uma 
perspectiva ontológica, mas também dentro de uma dimensão histórica. Nesse 
sentido, no contexto do modo de produção capitalista, o trabalho assume um papel na 
exploração e alienação do homem, quando se estabelece a divisão social do trabalho e 
a propriedade privada dos meios de produção. 
 
 
 
47 
 
 
6.2 Desenvolvimento da linguagem 
Para entendermos um pouco mais sobre relação entre indivíduo e sociedade 
precisamos estar atentos ao significado da linguagem. Falamos, em outras unidades, 
sobre a importância da linguagem nas relações sociais enquanto instrumento de 
criação e reprodução de cultura, valores e normas sociais. Vamos discutir sobre o 
desenvolvimento da linguagem? 
O que é a linguagem? A linguagem é a forma que utilizamos para nos 
expressarmos e nos comunicarmos. Ela pode ser realizada a partir da fala, gestos, 
imagens, atitudes, ou seja, existem muitas formas de se estabelecer a linguagem. É 
interessante pensar que os grupos humanos constroem formas diferentes de se 
estabelecer os códigos e passar informações. Uma delas é a língua que, dependendo 
da região do mundo, ou da tradição do grupo, estabelecerá diferentes palavras para 
dar significado a algo. Temos também a escrita, sendo esta uma maneira de registro de 
informações e apresentações de ideias em determinado tempo e espaço. 
Destarte, a linguagem é um tema bastante estudado entre as ciências humanas 
e sociais, áreas que discutem diferentes aspectos do tema. Dessa forma, vamos 
conhecer aqui algumas dessas discussões. 
De acordo com a perspectiva marxista, a linguagem teria surgido a partir da 
complexificação das necessidades humanas e a divisão do trabalho. Para Marx e Engels 
A linguagem é tão velha como a consciência: é a consciência real, 
prática, que existe também para outros homens e que, portanto, 
existe igualmente só para mim e, tal como a consciência, só surge 
com a necessidade, as exigências dos contatos com outros homens. 
Onde existe uma relação, ela existe para mim. (MARX; ENGELS 1989, 
p. 36 apud STREY, 2013, p. 120) 
 
 
 
 
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 No trecho citado, podemos perceber que a criação dos códigos e, 
consequentemente, da linguagem está diretamente relacionado ao contexto e 
necessidades sociais, quando se observa também a formação de uma consciência 
humana. 
 Partindo da construção marxista, a teoria da abordagem histórico-cultural, 
também desenvolve análises sobre a linguagem, pontuando a transformação desta a 
partir do contexto histórico, dando base à comunicação e significação da própria 
história, o que também nos remete à consciência e o processo de hominização. 
“Através