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Priscila M
ossato Rodrigues Barbosa
PSICO
LO
GIA SO
CIAL E CO
M
UN
ITÁRIA
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6644-5
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 4 5
Código Logístico
59440
Esta obra apresenta reflexões sobre a teoria e a 
prática da psicologia social e comunitária. São 
discutidos temas como desigualdade, problemas 
biopsicossociais, processos de exclusão, políticas 
de assistência e as intervenções e os desafios da 
psicologia social e comunitária na saúde, no sistema 
prisional e em serviços de acolhimento. A intenção 
deste livro é apresentar um panorama teórico 
e prático sobre a área, bem como os princípios, 
conhecimentos, valores e compromissos na busca de 
melhores condições biopsicossociais.
Psicologia social e 
comunitária
Priscila Mossato Rodrigues Barbosa
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. 
Imagem da capa: i3alda/Shutterstock Jason Heglund/elements.envato
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B211p
Barbosa, Priscila Mossato Rodrigues
Psicologia social e comunitária / Priscila Mossato Rodrigues Barbosa. 
- 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020.
94 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6644-5
1. Psicologia social. 2. Psicologia comunitária. I. Título.
20-64093 CDD: 302
CDU: 316.6
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Priscila Mossato 
Rodrigues Barbosa
Mestre em Educação pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR). Especialista em Psicologia Clínica – 
Abordagem Psicanalítica e graduada em Psicologia 
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná 
(PUCPR). Professora do ensino superior, ministrando 
as disciplinas de Psicologia da Educação e Psicologia 
do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Atua também 
como psicóloga clínica.
Agora é possível acessar os vídeos do livro por 
meio de QR codes (códigos de barras) presentes 
no início de cada seção de capítulo.
Acesse os vídeos automaticamente, direcionando 
a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet 
para o QR code.
Em alguns dispositivos é necessário ter instalado 
um leitor de QR code, que pode ser adquirido 
gratuitamente em lojas de aplicativos.
Vídeos
em QR code!
SUMÁRIO
1 Psicologia social e comunitária 9
1.1 Psicologia como ciência e profissão 10
1.2 O que é psicologia social e comunitária? 12
1.3 Psicologia social e comunitária no Brasil 16
2 Constituição do sujeito 25
2.1 Psicologia do desenvolvimento e a constituição do sujeito 25
2.2 Dimensões do sujeito 28
3 Sujeito como ser biopsicossocial 39
3.1 Sentimento de pertença 39
3.2 Desigualdade social 48
3.3 Problemas biopsicossociais 50
4 Sujeito e cultura 55
4.1 Representações sociais 55
4.2 Ideologia 61
4.3 Sociedade e cultura 64
4.4 Estereótipos, estigma e preconceito 67
5 Intervenções da psicologia social e comunitária 73
5.1 A atuação do psicólogo social e comunitário 73
5.2 Psicologia social e as políticas de assistência social 86
5.3 Desafios da psicologia social e comunitária contemporânea 89
Esta obra apresenta a você, leitor, reflexões sobre a teoria e a prática da 
psicologia social e comunitária. Para tanto, no primeiro capítulo, intitulado 
“Psicologia social e comunitária”, abordamos o contexto da psicologia como 
ciência e profissão. Você vai aprender e adquirir noções necessárias sobre este 
campo de estudo e conhecer seu percurso histórico no Brasil.
No segundo capítulo, denominado “Constituição do sujeito”, 
trazemos conhecimentos iniciais da psicologia do desenvolvimento para 
compreendermos o processo de constituição do sujeito e suas dimensões: 
identidade, subjetividade, afetividade e consciência.
Com essa compreensão, podemos adentrar no terceiro capítulo, intitulado 
“Sujeito como ser biopsicossocial”, no qual tratamos do ser humano de maneira 
integral e consideramos sua constituição biológica inseparável da constituição 
psíquica e social. Explicitamos o sentimento de pertença, elemento tão 
fundamental para o ser humano, e o articulamos com os agentes socializadores 
configurados em grupos como família, escola, trabalho e comunidade. Ao 
final, desenvolvemos a temática da desigualdade social e os problemas 
biopsicossociais com o objetivo de trazer reflexões sobre o compromisso da 
psicologia social e comunitária na realidade brasileira.
Na sequência, o quarto capítulo, intitulado “Sujeito e cultura”, versa sobre a 
teoria das representações sociais, muito importante na leitura dos fenômenos 
sociais. Além disso, discutimos sobre ideologia por meio de uma perspectiva 
crítica com relação à manutenção das diferenças. É preciso ampliar este 
conhecimento para alcançar uma certa compreensão de sociedade e de cultura. 
Ainda estudamos noções como estereótipo, estigma, preconceito e seus efeitos 
nos processos de exclusão social.
No quinto capítulo, “Intervenções da psicologia social e comunitária”, 
você poderá identificar as aplicações da psicologia social e comunitária em 
intervenções sociais na saúde, na atuação do psicólogo no sistema prisional 
brasileiro e em serviços de acolhimento. Além disso, abordamos o papel do 
psicólogo social e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
É também neste capítulo que apresentamos as políticas de assistência social 
para chegarmos aos desafios que a psicologia social e comunitária enfrenta. 
Nossa intenção é que você possa adquirir um panorama teórico e prático da 
psicologia social e comunitária, bem como absorva princípios, conhecimentos, 
valores e compromissos na busca de melhores condições biopsicossociais.
Desejamos uma excelente leitura, bons estudos e produtivas reflexões!
APRESENTAÇÃO
Psicologia social e comunitária 9
1
Psicologia social e 
comunitária
Neste capítulo, convidamos você a acompanhar um percurso 
que se inicia com a compreensão da psicologia como ciência e 
tem como ponto de chegada a psicologia social e comunitária. 
Para tanto, é fundamental que se entenda, mesmo que de modo 
sucinto, as três principais correntes filosóficas sobre o desenvol-
vimento humano.
A primeira corrente, chamada inatismo, sustenta que as ca-
racterísticas do indivíduo são definidas por sua genética e, por 
essa razão, são predeterminadas biologicamente. O ambientalis-
mo, segunda corrente, acredita que o ambiente prevalece sobre 
as características biológicas. Por fim, denominada sócio-histórica, 
a terceira corrente entende que as características do indivíduo 
se estabelecem na interação dos fatores biológicos e dos fato-
res ambientais e, consequentemente, ambos são fundamentais 
no desenvolvimento humano. 
A teoria sócio-histórica pode ser considerada a mais aceita 
na interpretação do desenvolvimento e na visão biopsicossocial 
do ser humano. Seus fundamentos e pressupostos se aproxi-
mam da psicologia social não somente na forma de entendi-
mento, mas também nas possíveis formas de intervenção que 
se efetivam na sua atuação. A psicologia social e comunitária 
é extremamente pertinente para contribuição de formas mais 
igualitárias de organização social.
Desse modo, inicialmente, abordaremos o histórico da psicolo-
gia social e comunitária no Brasil. Em seguida, integraremos os fun-
damentos da teoria e da prática desse campo do conhecimento.
10 Psicologia social e comunitária
1.1 Psicologia como ciência e profissão 
Vídeo O interesse em compreender as questões da mente humana é an-
terior à constituição da psicologia como ciência, a filosofia já se ocupa-
va dessas questões. Sua origem é evidenciada, inclusive, na etimologia 
da palavra psicologia, que resulta da junção das palavras gregas psyché 
(alma ou mente) e logos (razão ou estudo), isto é, estudo da mente.
O termo psicologia já era mencionado em algumas obras de filo-sofia do século XVI. Segundo Davidoff (2004), é possível compreen-
der a mente/alma como o princípio subjacente aos fenômenos da 
vida mental e espiritual do ser humano. Esse princípio aponta que 
os fenômenos psíquicos nem sempre são manifestos, mas são ati-
vos de maneira implícita.
Como mencionado, o início da psicologia ocorreu com a filosofia, 
até que emergiu como uma ciência independente. Seu estabelecimen-
to como ciência ocorreu quando Wilhelm Wundt (1832-1920) criou, em 
1879, o primeiro laboratório de psicologia experimental na cidade de Lei-
pzig, na Alemanha. Nesse momento, houve a consolidação dos estudos 
da psicologia sob os critérios científicos de observação e com métodos 
provenientes da fisiologia (SCHULTZ; SCHULTZ,1998).
Esse laboratório foi o precursor de tantos outros na Europa e nos 
Estados Unidos. Wundt se dedicava, principalmente, a pesquisar rea-
ções de comportamento aos estímulos de maneira controlada e com 
rigor científico, o que, de certa forma, limitava o desenvolvimento 
da psicologia. Seu método de pesquisa e produção de conhecimen-
to se caracterizava como estruturalista, pois buscava compreender 
processos estruturais do psiquismo. Por esse motivo, acreditava-se 
que a consciência era separada da mente.
Nesse período, a psicologia passa a se relacionar com a fisiologia, 
se distanciando de ideias abstratas e espirituais. Isso foi importante 
para seu fortalecimento, sua vinculação com princípios e métodos 
científicos, bem como seu reconhecimento. Mais tarde, no desenvol-
vimento de seu percurso, a psicologia foi além da sua relação com 
a fisiologia, de modo que hoje pode ser considerada nas dimensões 
fisiológica, psíquica e social.
Psicologia social e comunitária 11
A psicologia tem como objeto de estudo os fenômenos psíquicos, 
que abarcam conceitos como percepção, atenção, inteligência, cog-
nição, memória, emoção, sentimentos, comportamentos, relação 
interpessoal, linguagem, personalidade, consciente e inconsciente, re-
siliência, psicopatologias, entre outros.
Não é possível nos referirmos à teoria da psicologia como única, 
pois ela é muito ampla. Existem muitas abordagens, e cada uma delas 
pode privilegiar certos fenômenos, bem como ter sua própria meto-
dologia. Também, não é possível considerar uma abordagem superior 
à outra, pois todas são reconhecidas e contribuem na construção do 
conhecimento científico.
Para conhecimento geral, podemos mencionar algumas das 
principais abordagens da psicologia: behaviorismo, cognitivismo, 
humanismo, psicanálise e gestalt. Em comum, todas têm conside-
ração à subjetividade própria. Sobre isso, Bock, Furtado e Teixeira 
(2001, p. 23) salientam:
É o homem em todas as suas expressões, as visíveis (nosso com-
portamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as singulares 
(porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos 
assim) – é o homem-corpo, homem-pensamento, homem-afeto, 
homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade.
Agora que já temos um panorama de teorização, podemos conhe-
cer as principais áreas de atuação da psicologia. É importante ressaltar 
que cada área conta com diferentes especificidades e aplicações:
• escolar/educacional;
• organizacional e do trabalho;
• de trânsito;
• jurídica;
• psicomotricidade;
• do esporte;
• clínica;
• hospitalar;
• psicopedagogia;
• social;
• neuropsicologia.
Introdução à psicologia, 
de Linda Davidoff, é uma 
leitura indicada para 
quem deseja obter visão 
ampla da psicologia. A 
obra aborda a história 
desse campo do co-
nhecimento, bem como 
apresenta seus principais 
fundamentos e conceitos. 
Além disso, contempla 
os avanços mais atuais 
da área. 
DAVIDOFF, L. São Paulo: Pearson, 
2004.
Livro
12 Psicologia social e comunitária
O Conselho Federal de Psicologia, órgão responsável pela regula-
mentação da psicologia como profissão, descreve cada uma dessas 
áreas na Resolução CFP 03/2007. Na sequência, abordamos a psicolo-
gia social propriamente dita, tema principal desta obra.
1.2 O que é psicologia social e comunitária? 
Vídeo Primeiramente, é prudente levar em conta que alguns autores con-
sideram a psicologia comunitária como uma subárea da social. Por isso, 
iniciamos nossa discussão com a tarefa de conceituar o que é psicolo-
gia social. Em seguida, avançamos para o entendimento da psicologia 
social e comunitária de fato.
A psicologia social se interessa em estudar o ser humano e sua 
relação com seu meio sócio-histórico e cultural. Lane (2006, p. 8) 
destaca que “o enfoque da Psicologia Social é estudar o comporta-
mento de indivíduos no que ele é influenciado socialmente”. Nesse 
sentido, a psicologia social privilegia a interação social e o que se 
origina nela, incluindo o pensamento social, a história do indivíduo, 
seus costumes e seus valores.
Ao pensarmos nessa perspectiva, ou melhor, no ser humano 
como um ser social, é importante ressaltar que, ao nascermos, 
somos inseridos em uma organização anterior. Essa organização 
engloba elementos sociais, culturais e históricos já estabelecidos. 
Para nos humanizarmos, somos amparados na relação com um ou-
tro ser humano, que se apropria da função do cuidado, visto que 
somos completamente dependentes ao nascer.
Além dos cuidados essenciais de alimentação, limpeza, aquecimen-
to e afetividade, são transferidas, nessa relação, referências simbólicas. 
Elementos como a nossa língua materna e o nome que nos é atribuí-
do nos permitem fazer parte de um sistema social. O ser humano se 
insere por meio de um lugar também subjetivo, localizado no tempo, 
no espaço (data e local de nascimento), na história da humanidade, na 
sociedade e na cultura.
Nesse sentido, a psicologia social busca compreender a inserção do 
indivíduo no processo histórico e sua dinâmica, já que ele próprio é 
agente transformador da sociedade em que vive. Inclusive, a psicologia 
social pode ser considerada uma ciência ambiental. Myers (2014) a 
Psicologia social e comunitária 13
nomeia assim por entender que ela investiga como o ambiente social 
afeta o comportamento de cada indivíduo.
A psicologia social também se ocupa da construção do conhecimen-
to sobre o convívio social, o processamento desse conhecimento, suas 
leis, suas influências situacionais e seus estímulos sociais. É correto 
sustentar que ela compreende as formas de relacionamento humano 
em diferentes âmbitos, como comportamentos em grupo, fenômenos 
de grupo, motivações, comoções, a violência e o altruísmo social, bem 
como a construção de estereótipos e preconceitos.
Uma reflexão interessante é percebemos como as interações sociais 
são intensas até mesmo em situações corriqueiras. Interagimos fre-
quentemente com nossa família, nossos vizinhos, colegas de trabalho 
etc. A interação social está presente, inclusive, em situações mais com-
plexas. Nelas, utilizamos nossas habilidades interpessoais, nos empe-
nhamos em sermos aceitos, realizamos negociações, persuadimos, 
agimos com empatia e com nossas identificações 1 . Nesse sentido, a 
psicologia social também estuda processos cognitivos e emocionais.
De acordo com o Conselho Regional de Psicologia (CRP09, 2015), 
a atuação profissional do psicólogo social deve ser “fundamentada na 
compreensão da dimensão subjetiva dos fenômenos sociais e coleti-
vos, sob diferentes enfoques teóricos e metodológicos, com o objetivo 
de problematizar e propor ações no âmbito social”.
Ainda segundo o CRP09, é permitido ao psicólogo social desenvol-
ver atividades em distintos espaços institucionais e comunitários, assim 
como “no âmbito da saúde, educação, trabalho, lazer, meio ambiente, 
comunicação social, justiça, segurança e assistência social”.
O trabalho do psicólogo social pode envolver políticas e ações li-
gadas à comunidade em geral e aos movimentos sociais de grupos 
étnico-raciais, religiosos, de gênero, geracionais, de orientação sexual, 
de classes sociais e de outros segmentos socioculturais. Sua atuação se 
refere à realização de projetos da área sociale/ou definição de políticas 
públicas (CRP09, 2015).
Além disso, o mesmo documento ressalta que esse profissional tem 
o compromisso de realizar estudos, pesquisas e supervisão quanto à 
relação do indivíduo com a sociedade, a fim de oportunizar a proble-
matização e a estruturação de proposições que qualifiquem o trabalho, 
bem como a formação no campo da psicologia social (CRP09, 2015).
Identificação designa um proces-
so psicológico inconsciente pelo 
qual o sujeito se constitui ou se 
transforma, assimilando ou se 
apropriando de aspectos, atribu-
tos ou traços das pessoas mais 
próximas (ZIMERMAN, 2001).
1
14 Psicologia social e comunitária
É válido destacar que a atuação prática da psicologia social é condi-
cionada ao contexto tanto quanto às demandas sociais, que são variá-
veis. Trata-se de uma prática que tem se ampliado proporcionalmente 
aos movimentos sociais, assim como às políticas governamentais em 
saúde pública (CRP09, 2015).
Para atender às necessidades sociais, a psicologia social é apli-
cada em subáreas – psicologia comunitária, ambiental/ecologia 
humana, do trabalho, da saúde e dos movimentos sociais, por 
exemplo. Além disso, ela está relacionada às práticas psicossociais 
específicas, como de direitos humanos, de situações de emergên-
cia e desastres, de grupos de mulheres, de população em situação 
de rua, terceira idade, entre outras.
Segundo Góis (1993 apud CAMPOS, 2015, p. 11) a psicologia social 
estuda a atividade do psiquismo consequente do modo de vida do lu-
gar ou da comunidade e, da mesma forma, estuda “o sistema de rela-
ções e representações, identidade, níveis de consciência, identificação 
e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos grupos comu-
nitários”. A intenção é que haja o desenvolvimento da consciência de 
sujeitos históricos e comunitários, por meio da dedicação interdiscipli-
nar no desenvolvimento dos grupos e da comunidade, ou seja, que o 
indivíduo se transforme em sujeito.
Campos (2015) explica que, desde meados da década de 1960, há a 
aplicação de teorias e métodos da psicologia no trabalho com comuni-
dades de baixa renda, tendo em vista a busca por melhores condições 
de vida da população. Esse campo teórico e prático passou a ser cha-
mado de psicologia comunitária.
O início dos trabalhos de psicologia social comunitária acon-
teceu em bairros populares, favelas, associações de bairro e mo-
vimentos populares. Somente após a ampliação dos sistema de 
saúde e educação pública no Brasil é que a psicologia social comu-
nitária passou a atuar em postos de saúde, creches, instituições de 
promoção de bem-estar social etc.
Os trabalhos comunitários se efetivam com base no levantamento 
das necessidades e carências – por exemplo, condições de saúde, edu-
cação e saneamento básico – de determinado grupo. Após o levanta-
mento das necessidades, o trabalho consiste na conscientização dos 
grupos, objetivando a apropriação dos indivíduos do seu papel de su-
Psicologia social e comunitária 15
jeitos ativos, conscientes e capazes de buscar estratégias que solucio-
nem seus problemas (CAMPOS, 2015).
As produções teóricas e práticas da psicologia social comunitá-
ria se caracterizam pelo desenvolvimento de práticas cooperativas 
ou autogestionárias, fundamentadas na ética da solidariedade. 
O desenvolvimento do trabalho nessa área se sustenta por meio da 
conscientização de causas sociopolíticas e do desenvolvimento do 
senso crítico sobre o contexto dos problemas que fazem parte do 
cotidiano da comunidade.
Campos (2015) destaca que os conceitos utilizados na psicologia 
social se verificam nas contribuições das teorias de abordagem cog-
nitivista, das representações sociais e do interacionismo simbólico. 
Em termos teóricos, seu conhecimento é produzido com a interação 
entre o psicólogo social e os sujeitos. A organização do saber – já 
construído pela psicologia social – é articulado ao saber da comu-
nidade para coordenar processos e encaminhamentos que visam à 
transformação da realidade. A metodologia utilizada é a pesquisa 
participante, “na qual o pesquisador e os sujeitos da pesquisa traba-
lham juntos na busca de explicações para os problemas colocados, 
e no planejamento e execução de programas de transformação da 
realidade vivida” (CAMPOS, 2015, p. 10).
Ainda de acordo com Campos, os trabalhos de psicologia social 
e comunitária enfatizam, sobretudo, a ética da solidariedade, assim 
como os direitos humanos fundamentais e a busca pela melhoria da 
qualidade de vida da população. Bonfim (1987) ressalta o compro-
misso ético e político que a psicologia social e comunitária assume 
ao trabalhar com o intuito de que haja condições adequadas para o 
exercício pleno da cidadania, democracia e igualdade. Em termos po-
líticos, a psicologia social e comunitária busca o desenvolvimento de 
práticas de autogestão cooperativa e o questionamento das formas 
de opressão e de dominação.
O aspecto social deve ser entendido como tudo aquilo que se refere 
à vida coletiva e psicológica do indivíduo, atuando de modo determi-
nante sobre o comportamento individual e se inscrevendo no corpo e 
psiquismo humano. Assim, se considera a complexidade envolvida na 
construção de conhecimento e sua efetivação prática (CAMPOS, 2015).
autogestionário: relativo à 
autogestão.
Glossário
Discorra sobre o modo de 
atuação da psicologia social e 
comunitária.
Atividade 1
16 Psicologia social e comunitária
Historicamente, a psicologia social buscou, desde seu início, identi-
ficar de que modo as relações interpessoais são fundamentais para a 
constituição das funções psicológicas e da subjetividade do sujeito. Ela 
tenta compreender como isso varia de um contexto sociocultural para 
outro (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
Na Seção 1.3, faremos um apanhado histórico para clarificar e enten-
dermos o percurso e o desenvolvimento da psicologia social, bem como 
da psicologia social comunitária, desde seu início até a atualidade.
1.3 Psicologia social e comunitária no Brasil 
Vídeo Para conhecermos os aspectos referentes à psicologia social e co-
munitária no Brasil, precisamos, primeiramente, realizar uma breve 
contextualização da psicologia social no mundo para, depois, enten-
dermos como esse campo se desenvolveu no país.
Quando Wundt desenvolveu o primeiro laboratório experimental, já 
havia um estímulo aos estudos em psicologia social (DAVIDOFF, 2004). 
O pesquisador se ocupava de temas como linguagem, cultura, mitos, 
religião e costumes. Nesse sentido, segundo Bernardes (2001), já se 
considerava que os fenômenos coletivos não poderiam ser reduzidos à 
consciência individual, fato que endereça várias questões à psicologia 
social como campo de investigação. Dessa forma, os objetos de estu-
do eram pertinentes tanto à esfera individual quanto à esfera coletiva. 
Desde o início dos estudos em psicologia, os fenômenos sociais são 
considerados (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
A psicologia social teve seu desenvolvimento acentuado na Europa 
e nos Estados Unidos após o término da Segunda Guerra Mundial 
(1939-1945). Esse fato ocorreu devido à necessidade de estudos sobre 
a moral das tropas em tempos de guerra, suas motivações, episódios 
de estresse, enfrentamento de situações adversas e seus efeitos psico-
lógicos (FARR, 2004).
As publicações de trabalhos com esse enfoque acabaram sendo 
base para a psicologia social nos EUA e a obra The American Soldier – em 
português, O Soldado Americano (1949) –, sob a editoração do sociólogo 
Samuel Stouffer (1900-1960), abordou o treinamento e a adaptação dos 
soldados, a vida no exército e suas consequências. Essa obra inspirou a 
busca por soluções de problemas causados por esse contexto.
Explique qual é o objeto de 
estudo da psicologia social.
Atividade 2
Psicologia social e comunitária 17
Na década de 1950, iniciava-se a sistematização de modelos cientí-
ficos. A tendência dominante era a pragmática americana, que preten-
dia garantir a produtividade de grupos e a minimizaçãodos conflitos 
humanos. Já na Europa, foram desenvolvidos modelos científicos com 
raízes na fenomenologia (LANE; CODO, 1984).
Bernardes (2001) faz uma comparação interessante ao afirmar 
que a psicologia social está para a Segunda Guerra Mundial assim 
como os testes psicométricos estão para a Primeira Guerra. Em 
outras palavras, esses dois momentos são caracterizados por um 
“utilitarismo” na psicologia.
Com relação aos referenciais teóricos, pode-se afirmar que aqueles 
que privilegiavam a interação do sujeito com o meio foram os que 
tiveram mais espaço. São eles: o behaviorismo radical, de Burrhus 
Skinner (1904-1990); a abordagem histórico-cultural, de Lev Vygotsky 
(1896-1934); e a teoria sistêmica, de Ludwig von Bertalanffy (1901-1973) 
(SCHULTZ; SCHULTZ, 1998). É importante que haja esse pluralismo, a 
propósito, ele ocorre em virtude da complexidade dessa área. Ainda 
que possa haver erros nas interpretações de fenômenos sociais, certa 
abertura teórica auxilia na sua compreensão.
O surgimento da Escola de Frankfurt também foi importante para 
a história da psicologia social. Conhecida como o Instituto de Pesquisa 
Social, seu estudo incluía o entendimento da sociedade e o comporta-
mento autoritário de alguns ditadores europeus.
Lane (2006) explica que os cientistas do Instituto de Pesquisa Social 
buscavam compreender as origens e as causas do comportamento do 
indivíduo. Para isso, aprofundavam os estudos sobre traços de perso-
nalidade, atitudes, preconceitos e motivações, contudo, acabavam por 
tomar o indivíduo e a sociedade como fenômenos distintos.
Segundo Lane, foi nesse período que surgiu a chamada crise da 
psicologia social, oriunda dos trabalhos dos próprios cientistas e psi-
cólogos sociais e feitas em virtude da continuidade dos problemas. O 
preconceito, a violência e a miséria permaneciam, e o ser humano apa-
rentava se desumanizar nos centros urbanos. A crise era tanto meto-
dológica quanto prática, o que dificultava intervenções, explicações e 
prevenções com relação ao comportamento social.
Na Europa, no fim da década de 1960, as crises se intensificaram 
e expuseram que “nada poderia ser alterado nas condições sociais de 
A psicometria é o ramo da 
psicologia que pesquisa e 
aplica técnicas de mensuração 
das capacidades mentais. 
O teste mais famoso é o QI 
(quociente de inteligência). 
Os testes psicológicos de 
inteligência e personalidade 
foram amplamente utilizados 
pelos norte-americanos durante 
a Primeira Guerra Mundial 
(1914-1918), especialmente 
pelo exército, com o objetivo de 
classificar os recrutas (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 1998).
Saiba mais
18 Psicologia social e comunitária
vida de qualquer sociedade, se a base fosse os conhecimentos desen-
volvidos até aquele momento” (LANE, 2006, p. 78).
É importante saber que dois grandes congressos tiveram um papel 
importante na história da psicologia social. O primeiro ocorreu no ano 
de 1976, em Miami, nos EUA. Nele, participaram muitos profissionais 
latino-americanos, que, diante das críticas, discutiram e tentaram enca-
minhar os rumos de uma psicologia social que atendesse às demandas 
da realidade cotidiana, com fortes influências de bases materialistas e 
históricas (LANE, 1984).
O segundo, Congresso de Psicologia Interamericana, aconteceu em 
1979, na cidade de Lima, no Peru. Pode-se dizer que, nesse congresso, 
teve início um novo momento e, finalmente, uma redefinição da psico-
logia social. A Assembleia da Associação Latino-Americana de Psicolo-
gia Social (Alapso) foi uma iniciativa criada para promover e fortalecer 
os estudos na área.
Entre as discussões que ocorreram nesse congresso, foram le-
vantados o problema da dependência teórica e a reprodução do co-
nhecimento norte-americano. Isso ocorria em virtude de os modelos 
estrangeiros não englobarem a realidade latino-americana, especial-
mente a brasileira (LANE, 2006).
Na América Latina, a crise também teve um caráter político, com a 
tendência de pensar e propor práticas de psicologia social dirigidas às 
condições de cada país. É fato que as ditaduras militares – nas décadas 
de 1960 e 1970 – favoreceram o debate sobre o papel de psicólogos e 
da psicologia social e comunitária, embora existisse a tendência teórica 
americanizada (LANE, 1995).
Algum tempo depois desse congresso no Peru, psicólogos bra-
sileiros associados à Alapso promoveram o Encontro de Psicologia 
Social, no qual emergiu a Associação Brasileira de Psicologia Social 
(Abrapso). A intenção era de intensificar as trocas e produções en-
tre os estudiosos de todas as regiões do país. Os psicólogos sociais 
se comprometeram com o estudo da realidade social, desenvolve-
ram novas ações para reposicionar essa área e priorizaram a par-
ticipação dos indivíduos nas transformações sociais (LANE, 2006). 
Com isso, se abriu um espaço para a psicologia social comunitária, 
que se desenvolveria em um próximo momento.
Psicologia social e comunitária 19
Nesse período, a psicologia social passa a ter uma abordagem 
crítica, na qual a perspectiva teórica conduz a uma nova concepção 
histórica e social do ser humano. O sujeito pode ser tomado como 
produto das relações, mas, do mesmo modo, ele é produtor; com 
isso, a ciência também passa a ser tomada como uma prática social 
(GUARESCHI; BRUSCHI, 2003). Não se tinha mais a premissa de que a 
psicologia teria leis universais – como sustentavam as tendências prag-
máticas americanas –, mas, sim, perspectivas subjetivas, singulares. 
Além disso, não havia consenso entre a relação do aspecto biológico 
da espécie e o aspecto histórico e cultural das sociedades (LANE, 1995).
O texto A psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia, de Ana 
Mercês Bahia Bock, aborda de modo interessante o compromisso social da 
psicologia por meio da perspectiva sócio-histórica. 
In: BOCK, A. M. B; GONÇALVES, M. G. G.; FURTADO, O. (orgs.). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica 
em psicologia. São Paulo: Cortez, 2001.
Leitura
Com a revisão crítica dos aspectos teóricos e suas aplicabilidades 
práticas, alguns conteúdos passaram a se destacar. Um exemplo é a 
psicologia da linguagem, que é entendida como um fenômeno dinâmi-
co e construído historicamente pela sociedade, além de participar das 
funções psíquicas (pensamento e sentimento). Outro exemplo é a teo-
ria da identidade social – que estuda como os grupos se formam e suas 
dinâmicas – e a criação de técnicas de dinâmicas de grupo 2 . Os papéis 
sociais e as relações de poder também passam a ser temas de estudo.
Esses congressos internacionais foram fundamentais e evidenciaram 
as preocupações dos psicólogos sociais de toda a América Latina em 
produzir um conhecimento realmente transformador. Buscava-se uma 
metodologia de pesquisa que, sobretudo, pudesse alcançar o sujeito em 
seu contexto histórico e favorecesse a interdisciplinaridade, com o obje-
tivo de efetivar uma prática comprometida com a realidade social.
Nesse sentido, o método de pesquisa participante é considerado 
um dos mais adequados para acompanhar transformações sociais. 
Além dele, outras estratégias podem ser utilizadas, como a obser-
vação em processos grupais, estudos de caso e estudos mediante 
relatos históricos de vida.
Dinâmica de grupo é uma 
técnica na qual simula-se uma 
situação social em determinado 
grupo, de modo que o desem-
penho dos indivíduos é avaliado 
por um psicólogo, conside-
rando a aplicação de conceitos 
relativos ao comportamento 
individual e grupal (SCHULTZ; 
SCHULTZ,1998).
2
20 Psicologia social e comunitária
A história da psicologia social na América Latina foi permeada pela 
ideia de que a ciência deveria produzir efeitos práticos ou ser desenvol-
vida com base em uma prática que resultaria em uma sistematização 
teórica. Desse modo, podemos afirmar que a psicologia social e comu-
nitária criou as bases para a atuação transformadora e crítica, com ori-
gem nas relações de grupos (LANE, 1995).
A psicologia social e comunitária é, portanto, caracterizadapela ar-
ticulação entre teoria, pesquisa e prática. Sua comprovação teórica é 
fruto da transformação da realidade por meio da prática. No Brasil, 
como mencionado, as práticas da psicologia social tiveram origem em 
1960 e, até a década de 1970, apresentavam a mesma problemática: a 
alienação da própria realidade e a adoção do modelo norte-americano.
O rompimento com o modelo norte-americano ocorreu na década 
de 1980, com influência da psicologia marxista. Segundo Bernardes 
(2001, p. 31):
Os países latino-americanos conseguem construir uma pro-
dução em psicologia social que não deixa nada a desejar à 
produção do restante do Ocidente. Contextualizada, histórica, 
preocupada com a cultura, valores, mitos e rituais, brasileiros e 
latino-americanos em geral, já não veem mais necessidade de 
importação desenfreada de teorias e métodos cientificistas.
Além disso, o surgimento da Abrapso, como abordado anteriormente, 
também foi determinante, uma vez que essa entidade se preocupa em 
promover congressos e pesquisas. Seu surgimento ocorreu em julho de 
1980, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A professora 
doutora Sílvia Lane – que coordenou esse processo com a temática “Psi-
cologia social como ação transformadora” – é até hoje referência na área.
A Abrapso pode ser considerada, portanto, decisiva para o desen-
volvimento da psicologia social no Brasil. A instituição promove encon-
tros periódicos, nos quais se apresentam diferentes experiências em 
psicologia social. Entre seus objetivos, destaca-se a ampliação e de-
mocratização do serviço para população. Ainda, a Abrapso conta com 
núcleos regionais de pesquisa e estudos (CAMPOS, 2015). As ações da 
instituição foram extremamente importantes, visto que, desde o início, 
a psicologia, em geral, era acessível apenas para uma parcela da popu-
lação, tendo, consequentemente, um viés que pode ser considerado 
elitista (BOCK, 2003; LANE, 2006; YAMAMOTO, 2003).
Psicologia social e comunitária 21
Recentemente, com a evolução da tecnologia, alguns pesquisadores 
passaram a estudar, entre outros temas, a cognição social, a comunica-
ção, o processamento das informações e o mundo virtual. A psicologia 
social, nesse sentido, também teve seu crescimento e está presente 
com distintas funções em diversas áreas: acadêmica, nas disciplinas e 
nos estágios das graduações em psicologia; profissional, nas clínicas, 
nos centros de atenção psicossocial e nas empresas; e na pesquisa.
Alguns autores, como Lane e Codo (1984), distinguem a atuação da 
psicologia em psicológica e social. A vertente psicológica reduz expli-
cações do coletivo e social às leis individuais e envolve reflexões sobre 
como extrair entidades psicológicas dos fenômenos sociais. Já a verten-
te social reflete a relação entre o individual e o coletivo.
Segundo Lane (2007), há a necessidade de trabalhos e práticas que 
tenham qualidade e competência suficientes para identificar e respon-
der às exigências feitas por setores da sociedade (saúde, educação, 
bem-estar social etc.) para que a psicologia não se afaste das deman-
das sociais e se torne pouco útil.
O profissional da área de psicologia social deve considerar os as-
pectos históricos gerais e regionais, assim como conhecer a cultura e o 
local a se trabalhar. Além disso, esse profissional deve contribuir para 
construir novos significados de interação social, proporcionar oportu-
nidades para diálogo e adaptação salutar 3 (LANE, 2007).
Por fim, a psicologia social é desafiada a intervir nas questões so-
ciais impostas pela contemporaneidade, o que confere a esse trabalho 
uma complexidade própria.
Descreva as origens da 
psicologia social e as relacione 
com as críticas sofridas em seu 
processo histórico e com as 
transformações que ocorreram 
por meio delas.
Atividade 3
Adaptação saudável; pessoas 
saudáveis psicologicamente.
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, pudemos conhecer um pouco a trajetória da psicologia 
e como ela se instituiu como ciência. É importante pensar que o ser huma-
no sempre se sentiu intrigado e procurou compreender a vida psíquica. 
Por vezes, é comum buscar essa compreensão em caminhos diferentes 
da psicologia científica e encontrar explicações e aconselhamentos em 
fontes como misticismo, religião, astrologia, entre outros.
A psicologia teve seu processo de construção científica e, com isso, des-
cobriu muito sobre o ser humano e seu psiquismo. Diversas hipóteses foram 
levantadas e, por meio de métodos científicos, foram elaboradas teorias. 
22 Psicologia social e comunitária
Desse modo, esse campo do conhecimento teve muitos avanços e 
diversas áreas surgiram. Ocupando-se do estudo do indivíduo e sua 
inter-relação com a sociedade, a psicologia social é uma das áreas 
emergentes da psicologia geral.
Inicialmente, estudava-se o indivíduo separado da sociedade, o que 
gerou muitas críticas. Contudo, essas críticas foram construtivas, uma vez 
que, por meio delas, foi possível construir uma nova perspectiva, com ên-
fase socio-histórica, na qual considera o ser humano como sujeito ativo, 
não estático e reducionista.
É fundamental compreender que o ser humano é um sujeito 
biopsicossocial, desse modo, é um erro tentarmos “fragmentá-lo” e buscar 
compreendê-lo sem considerar a tessitura que o humaniza. Ele é um ser 
biológico, mas também relacional, social e histórico.
A linguagem é um elemento extremamente importante e muito 
considerado pela corrente sócio-histórica. Ela se dá apoiada no aparato 
fisiológico, medeia a relação entre os humanos, participa da construção 
do pensamento e, por isso, é um produto cultural e sustenta o social.
A psicologia social contribui para o entendimento de vários problemas 
e pode oferecer subsídios na busca por soluções. A psicologia social co-
munitária se estabelece em virtude de as questões e os conflitos existen-
tes nas sociedades perpassarem pelas experiências vividas, o que impõe 
reflexões, implicações e compromisso social.
REFERÊNCIAS
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Petrópolis: Vozes, 2001.
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de 
psicologia. São Paulo: Cortez, 2001.
BOCK, A. M. B. Psicologia e sua ideologia: 40 anos de compromisso com as elites. In: BOCK, 
A. M. B. (org.). Psicologia e compromisso social. São Paulo: Cortez, 2003.
CAMPOS, R. H. F. Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia. 20. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2015.
CRP09 – Conselho Regional de Psicologia da 9. Região. Áreas de atuação do(a) psicólogo(a), 
2015. Disponível em: http://www.crp09.org.br/portal/orientacao-e-fiscalizacao/orientacao-
por-temas/areas-de-atuacao-do-a-psicologo-a. Acesso em: 12 jun. 2020.
DAVIDOFF, L. Introdução à psicologia. São Paulo: Pearson, 2004.
FARR, R. As raízes da psicologia social moderna (1872-1954). 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
GUARESCHI, N. M. F.; BRUSCHI, M. E. (org.). Psicologia social nos estudos culturais: 
perspectivas e desafios para a psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003.
LANE, S. T. M. Avanços da psicologia social na América Latina. In: LANE, S. T. M.; SAWAIA, B. 
Psicologia social e comunitária 23
B. Novas veredas da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1995.
LANE, S. T. M. O que é psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 2006.
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H. F. Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis: Vozes, 2007.
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1984.
MYERS, D. G. Psicologia social. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 5. ed. São Paulo: Cultrix, 1998.
YAMAMOTO, O. H. Questão social e políticas públicas: revendo o compromisso da 
psicologia. In: BOCK, A. M. B. (org.). Psicologia e compromisso social. São Paulo: Cortez, 2003. 
ZIMERMAN, D. E. Vocabuláriocontemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001.
GABARITO
1. A atuação prática da psicologia social é condicionada ao contexto e às demandas so-
ciais, que variam. Sua aplicação ocorre em subáreas, como a psicologia comunitária, 
ambiental/ecologia, do trabalho, da saúde, dos movimentos sociais, além de práticas 
psicossociais específicas – por exemplo, direitos humanos, situações de emergência e 
desastres, grupos de mulheres, populações em situação de rua, terceira idade etc. Os 
trabalhos comunitários devem se efetivar com base em um levantamento das neces-
sidades e carências do grupo em questão, por exemplo, condições de saúde, educa-
ção e saneamento básico. Na sequência, há a utilização de métodos e processos de 
conscientização no trabalho com os grupos populares, a fim de que os indivíduos se 
apropriem progressivamente do seu papel de sujeitos ativos, conscientes e busquem 
soluções para os problemas. 
2. A psicologia social estuda a interação social e suas origens, abarcando o pensamento 
social, a história do indivíduo, seus costumes e valores. Ela compreende as formas de 
relacionamento humano no âmbito social, como comportamentos em grupo (os cha-
mados fenômenos de grupo), motivações, comoções, violência social, altruísmo social 
e construção de estereótipos e preconceitos. A psicologia social tem como objetivo 
conhecer características e grupos de indivíduos no conjunto de suas relações sociais. 
Além disso, ela busca superar a cultura do individualismo, tendo como premissa que 
o conhecimento se constrói na interação social (sociointeracionista). Por fim, a psi-
cologia social estuda as instituições sociais e suas diferentes manifestações, assim 
como fenômenos que envolvem multidões de pessoas, relações de poder e domina-
ção, propaganda, processos de influência social que englobam aspectos emocionais, 
inconscientes, afetivos e irracionais.
3. No início, a psicologia científica se caracterizou, predominantemente, em sua li-
gação com a fisiologia. Mais tarde, ela se ampliou para além dessa relação, de 
modo que hoje pode ser considerada nas dimensões fisiológica, psíquica e social. 
A psicologia social emerge do esforço de compreender o ser humano socialmente, 
visto que muitos fenômenos humanos não podem ser completamente entendidos 
considerando apenas aspectos individuais. Historicamente, a psicologia social na 
24 Psicologia social e comunitária
América Latina e no Brasil é caracterizada por uma crise após a década de 1960. Com 
isso, há um investimento para que as práticas se tornem mais comprometidas com 
transformações sociais, envolvendo contextos políticos e específicos de cada região, 
além de um desapego às teorias norte-americanas e europeias, distantes da realida-
de latino-americana. No Brasil, o desenvolvimento da Abrapso, bem como a reação 
à opressão política, ideológica e econômica do período militar são alguns fatores. A 
psicologia social tem como objetivo ampliar e democratizar o fornecimento de servi-
ços a favor da população em geral.
Constituição do sujeito 25
2
Constituição do sujeito
Ao iniciarmos este capítulo, vamos estabelecer dois pressupos-
tos para o desenvolvimento dos temas. O primeiro é o de que a 
psicologia social estuda o comportamento do indivíduo na condi-
ção de influenciado e influenciador social. Já o segundo parte do 
fato de a socialidade, tão própria da condição humana, fazer parte 
do sujeito antes mesmo de ele nascer.
Nosso objetivo neste capítulo é entender – com base nesses 
pressupostos – como o sujeito se constitui subjetivamente, isto é, 
suas dimensões, sua subjetividade, sua identidade, sua afetividade 
e sua consciência. Esses conceitos levantam o seguinte questiona-
mento: como podemos ser sujeitos individualizados e, simultanea-
mente, tão coletivos?
Para respondê-lo, é importante conhecermos como a socializa-
ção acontece, quer dizer, quais são seus agentes e processos, bem 
como as questões que envolvem a relação dos sujeitos com a cul-
tura. Isso nos leva a concluir que há uma articulação fundamental 
entre indivíduo, sociedade e cultura. Contudo, não se exclui o fato 
de que, ao mesmo tempo, cada sujeito é único, singular em suas 
vivências e em sua personalidade.
Este estudo nos convida, portanto, à compreensão dos proces-
sos subjetivos e sociais, desvelando algo que diz respeito a nós 
mesmos, na nossa complexa forma de estar no mundo.
2.1 Psicologia do desenvolvimento 
e a constituição do sujeitoVídeo
Para compreendermos o fato de antes de nascermos já sermos in-
seridos socialmente, pense na seguinte afirmativa: quando um bebê 
nasce, ele é imediatamente inserido em uma ordem simbólica da hu-
26 Psicologia social e comunitária
manidade. Desde o nascimento e por todo percurso da vida, nós nos 
relacionamos socialmente com pessoas e grupos, bem como com con-
textos históricos e culturais.
Segundo Barbosa (2009, p. 47):
O contexto simbólico (social, histórico e cultural), portanto, é o 
que insere a existência de um ser na humanidade. É representa-
do pela língua materna, pelo nome que é escolhido para desig-
ná-lo, a história sobre sua origem (data e lugar de nascimento, 
filiação), as quais são referências essenciais para que se desen-
volva o sentimento de pertença e segurança, a partir de algo que 
se torna sempre familiar, sua identidade.
Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento, há uma in-
terdependência indissociável entre o orgânico, o psíquico e o social. 
O sujeito se constitui como um ser biopsicossocial, de maneira arti-
culada entre maturação, crescimento, desenvolvimento, subjetivida-
de e aprendizagem.
A psicologia do desenvolvimento estuda e produz conhecimento 
articulando o ciclo biológico do ser humano – desenvolvimento em-
brionário, feto, nascimento, crescimento, reprodução, envelhecimento 
e morte – com os desenvolvimentos psicológico e socioambiental. O 
desenvolvimento ocorre com a articulação de todas essas dimensões 
da existência humana. Sua separação para estudo é meramente didá-
tica, uma vez que essas dimensões incidem sobre o sujeito de modo 
simultâneo e interligado.
Com base nessa premissa, podemos apresentar as definições en-
contradas em Mariotto (2018). Essas definições, além de serem interde-
pendentes, são diferentes entre si, pois compreendem características 
específicas; os conceitos de desenvolvimento e aprendizagem acompa-
nharão todas essas definições.
A primeira definição versa sobre a noção de maturação, ligada à 
fisiologia e ao avanço das estruturas nervosas. Essa evolução possibili-
ta que haja instalação de funções e aquisição de habilidades; é impor-
tante, contudo, entender que a maturação por si só não garante essas 
aquisições. Um exemplo disso é a fala: para desenvolver a habilidade 
de falar, os seres humanos necessitam de um aparato fisiológico fona-
dor. Entretanto, a presença desse aparato não garante que o ser hu-
mano fale por si só – ele precisa, também, de condições relacionais e 
ambientais, ou seja, é necessário que alguém fale com ele. Enquanto 
Constituição do sujeito 27
o aparelho fonador não está maduro, a criança ainda não pode falar, 
embora se fale muito com ela. Desse modo, a maturação oferece con-
dições para que haja o desenvolvimento e a aprendizagem.
A segunda definição compreende a noção de crescimento. O 
crescimento, assim como a maturação, também diz respeito à di-
mensão fisiológica e à evolução corporal no sentido das medidas e 
proporções. Além disso, essa noção está relacionada às aquisições 
funcionais características de cada idade, como as funções sexuais 
e reprodutivas.
A terceira definição é o desenvolvimento, que representa a capaci-
dade adaptativa. Essa expressão adaptativa ao meio e ao mundo social 
se apoia nos recursos conquistados na maturação, e isso só é possível 
em função das conquistas das habilidades físicas e mentais. O desen-
volvimento engloba os processos da personalidade e a aptidão para 
dar significação às experiências e às interpretações sobre seu entorno.A quarta definição é a subjetividade. A sua formação está relacio-
nada à incursão do ser humano no mundo simbólico da linguagem, 
pois é nesse momento que a criança se situa em determinada cultura e 
adquire sua identidade particular.
A maturação, o crescimento e, particularmente, o desenvolvimen-
to dependem dos processos de formação da vida psíquica e são pro-
fundamente sensíveis a eles. É importante ressaltar que todos esses 
processos estão condicionados pelos adultos próximos à criança, 
inicialmente por meio da relação entre mãe e filho. A figura materna 
pode ser considerada, aqui, uma função: sempre que nos referirmos a 
ela, estamos nomeando uma função que pode ser exercida pela mãe 
ou outra pessoa que realize os cuidados próprios da maternagem. A 
constituição do sujeito acontece na troca relacional e primitiva com 
a função da maternagem; ela ocorre por meio de identificações e pela 
transmissão de significações afetivas, morais, entre outras.
Shaffer (2005), no prefácio de sua obra Psicologia do desenvolvimen-
to: infância e adolescência, afirma que o desenvolvimento humano é 
um processo holístico e contínuo. Embora alguns pesquisadores se 
ocupem com tópicos particulares do desenvolvimento humano – por 
exemplo, os desenvolvimentos físico, cognitivo ou moral –, o desenvol-
vimento, em virtude de suas características, não pode ser fragmentado. 
Shaffer (2005) afirma que os seres humanos são, ao mesmo tempo, 
David R. Shaffer, em 
sua obra Psicologia do 
desenvolvimento: infância 
e adolescência, faz um 
apanhado sobre o desen-
volvimento humano até a 
adolescência, explorando 
as principais teorias da 
psicologia do desenvolvi-
mento. O autor apresenta 
também pesquisas preo-
cupadas em identificar e 
entender os processos 
desenvolvimentais, 
fatores biológicos e 
ambientais. 
SHAFFER, D. R. São Paulo: Pioneira 
Thomson Learning, 2005.
Livro
holístico: que busca o entendi-
mento integral dos fenômenos.
Glossário
28 Psicologia social e comunitária
criaturas físicas, cognitivas, sociais e emocionais; cada um desses com-
ponentes do “eu” depende parcialmente das mudanças que ocorrem 
em outras áreas do desenvolvimento.
O fato de sermos filhos de seres humanos não garante nossa huma-
nização. Precisamos ter uma história e memórias que constituam um 
repertório de experiências que angariamos em nosso percurso de vida. 
Nesse sentido, as variáveis da formação de nossa subjetividade não de-
pendem somente de nós mesmos e de nossos dotes inatos da infância. 
Elas dependem especialmente de um humano adulto, que se relaciona 
e cuida, em um processo complexo de enlaces subjetivos e simbólicos, 
os quais instituem bases e recursos para o desenvolvimento de novos 
processos interpessoais. Esses processos se atualizam e se ampliam 
pelo resto da vida em todos os grupos e experiências sociais.
2.2 Dimensões do sujeito
Vídeo Para compreendermos as dimensões do sujeito, podemos retomar 
a ideia de que o ser humano é um ser biopsicossocial. Nesse sentido, 
sua fisiologia biológica é a base da sua existência, que garante possibi-
lidades para o desenvolvimento do psiquismo e da sociabilidade; esse 
desenvolvimento, por sua vez, ocorre articulado com as condições do 
meio. Embora o ser humano não possa ser considerado um ser instin-
tivo, ele carrega características historicamente desenvolvidas que mos-
tram sua predisposição em se relacionar. Um fato interessante é que, 
apesar de uma base comum e objetiva, cada ser se tornará único no 
processo de desenvolvimento.
Na sequência, vamos abordar alguns conceitos inerentes às di-
mensões do sujeito. Eles são úteis para o entendimento da psicolo-
gia social e comunitária.
2.2.1 Identidade
Embora a ideia de identidade faça parte do nosso cotidiano – temos 
até documentos instituídos, como o RG, que nos identifica como únicos 
e diferentes –, não costumamos parar para refletir sobre isso. Para a 
questão humana que jamais cessa – “quem sou eu”? –, as respostas, 
sempre parciais, por vezes mutáveis, são incapazes de totalizar nosso 
ser. Assim, vamos nos recobrindo de representações que nos referen-
ciam e trazem notícias sobre nós.
Constituição do sujeito 29
Para definirmos identidade, podemos fazer um resgate desse 
termo no dicionário. Lá, encontramos a seguinte definição: “conjun-
to de características que distinguem uma pessoa ou uma coisa e 
por meio das quais é possível individualizá-la”; “qualidade do que é 
idêntico” (HOUAISS, 2009). Outra definição é: “estado de semelhança 
absoluta e completa entre dois elementos com as mesmas caracte-
rísticas principais” (MICHAELIS, 2020).
Com base nessas definições, podemos perceber um interessan-
te paradoxo: identidade é, simultaneamente, igualdade e diferença. 
 Jacques (1998) destaca esse paradoxo afirmando que identidade reme-
te-nos tanto à qualidade do que é idêntico e igual quanto à ideia daqui-
lo que é capaz de caracterizar o sujeito como distinto dos demais. Em 
outras palavras, identidade se refere ao reconhecimento de um sujeito 
naquilo que lhe é próprio, mas também no que lhe faz pertencer ao 
todo, confundindo-se com outros e seus pares.
Ciampa (1984) chama atenção para as propriedades de igualdade 
e diferença contidas nesse termo. O termo identidade é constituído 
pela diferença (prenome) e pela igualdade (sobrenome), o que re-
mete à família, nosso primeiro grupo social. Trata-se de um parado-
xo, uma vez que a soma do prenome e do sobrenome identificam o 
sujeito socialmente – “eu sou José da Silva”. Contudo, é o prenome 
(José) que o diferencia dos familiares, já que o sobrenome (da Silva) 
é compartilhado pelos membros da família, isto é, carregamos em 
nossa identidade e em nosso nome completo um aspecto simbólico 
de nosso primeiro grupo social.
Diversas áreas do conhecimento – filosofia, antropologia, história e 
sociologia, por exemplo – já se apropriaram e estudaram esse conceito 
de maneira própria. Para a psicologia social e comunitária, as contribui-
ções da sociologia são bastante relevantes.
Laurenti e Barros (2000) relatam que, historicamente, o termo 
 personalidade já foi utilizado para significar o que atualmente entende-
mos como identidade. Isso evidencia como a perspectiva individualista 
foi predominante na ciência. Na própria história da psicologia, assim 
como em outras ciências, podemos constatar que o processo de estu-
do se deu sob uma primazia do ser biológico e individual apoiados em 
uma estrutura psíquica. As dicotomias indivíduo x grupo e ser humano x 
sociedade ainda são um processo de transformação inacabado.
30 Psicologia social e comunitária
O conceito de personalidade remete a características classificá-
veis em categorias, desconsiderando, de certo modo, as variantes do 
ambiente. Segundo Laurenti e Barros, a história social e singular do 
indivíduo era considerada como um cenário para a manifestação de 
comportamentos reconhecidos como habituais.
Algumas definições sobre o conceito de personalidade incluem a in-
tervenção da socialização, como podemos constatar em Savoia (1989). 
Para o autor, a construção da personalidade é consequente do pro-
cesso de socialização, no qual intervêm fatores inatos (psicogenética) 
e adquiridos (sociedade e cultura). Nesse sentido, há a necessidade de 
se considerar o ser humano como um sujeito social, ou seja, um sujeito 
incluído em seu contexto sócio-histórico. Por essa razão, os psicólogos 
sociais passaram a trabalhar com o conceito de identidade.
A identidade deve ser considerada uma construção social, entretan-
to, se considerarmos o sujeito de modo integral, ela também opera na 
subjetividade por participar das representações que cada um tem de si. 
A identidade abarca algo do sujeito que pode ser considerado na fron-
teira entre o particular e o social. Ao mesmo tempo em que incorpora 
sua identidade de maneira singular, ela o apresenta ao olhar do outro, 
no social. Nesse sentido, concordamos com Laurenti e Barros (2000) 
quando as autoras afirmam que o termo identidade podeexpressar, 
de certa forma, uma singularidade construída na relação com o outro.
As mesmas autoras apontam que a identidade pode ser caracteri-
zada como uma processualidade histórica ligada ao conjunto das re-
lações que permeiam a vida cotidiana. Em outras palavras, as bases 
sobre as quais se articulam o pessoal e o social dependem de certa 
contextualização histórica.
A identidade não é uma propriedade natural, inerente ao biológi-
co, com surgimento espontâneo e independente; ela deve ser com-
preendida como uma figuração sócio-histórica de individualidade. É o 
contexto social que vai oferecer requisitos para as mais diversificadas 
possibilidades de identidade.
O contexto social precisa ser tomado de modo amplo, e não iso-
ladamente. Para compreender a articulação entre desenvolvimento e 
identidade, podemos pensar no seguinte aspecto: a identidade de um 
sujeito se apresenta de determinado modo na infância, pois os papéis 
Constituição do sujeito 31
sociais de uma criança são diferentes dos de um adolescente, que, por 
sua vez, é diferente de um adulto, e assim por diante. Nesse sentido, a 
identidade é o arranjo entre variáveis; por isso, pode ser considerada 
mutável. De acordo com Ciampa (1987, p. 74), “identidade é movimen-
to, é desenvolvimento do concreto [...] é metamorfose”.
Bock (2001) identifica que existem momentos da vida de todos nós 
em que acontecem redefinições sobre a maneira de estarmos no mun-
do. O autor ressalta, inclusive, que podemos ter crises de identidade, 
caracterizadas por mudanças intensas que podem ser confusas e an-
gustiantes. Em certos momentos, sofremos alterações em nosso corpo, 
mudamos nossos interesses e meio social; um exemplo dessa mudan-
ça é a fase da adolescência.
Esse exemplo reforça a afirmativa de que somos seres biopsicosso-
ciais. Um evento fisiológico do desenvolvimento, como a adolescência, 
articula-se de modo indissociável com o social e com o psicológico.
Outra implicação referente à mobilidade identitária é o fato de que 
ela não pode ser considerada como pronta e acabada. O desenvolvi-
mento do ser humano só se encerra com a morte, e o mesmo ocorre 
com a identidade.
2.2.2 Subjetividade
Abordamos brevemente a subjetividade quando tratamos da cons-
tituição do sujeito. A razão disso é o fato de ela ser relativa ao sujeito; 
mais do que isso, sem a subjetividade, não existe sujeito, é o processo 
de sua construção que o instaura. A subjetividade é a forma particular 
de o sujeito se relacionar com o mundo.
O ser humano subjetiva suas experiências. O que isso significa? A 
capacidade de subjetivar nos humaniza, faz com que tenhamos um 
aparato simbólico internalizado de significação sobre o mundo. A sub-
jetividade se constrói por meio de diferentes elementos, como história 
de vida e experiências, na maneira como nos apropriamos desses ele-
mentos e os representamos psiquicamente.
A subjetividade pode ser representada como um mundo interno 
criado pela interação entre o sujeito e o mundo externo. Ela é articu-
lada pela nossa forma própria de interpretar, registrar e simbolizar. 
A identidade se mantém a 
mesma durante toda a vida ou 
ela é algo mutável? Justifique 
sua resposta. 
Atividade 1
No texto Identidade: uma 
ideologia separatista?, 
Bader Sawaia promove 
uma reflexão sobre a 
identidade, bem como 
sobre a dialética da inclu-
são e exclusão em uma 
articulação com a realida-
de social. O interessante 
dessa leitura é que ela 
nos ajuda a compreender 
um pouco mais sobre a 
desigualdade social por 
meio de um posiciona-
mento crítico. 
In: SAWAIA, B. B. As artimanhas 
da exclusão: análise psicossocial e 
ética da desigualdade social. 14. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2014.
Leitura
32 Psicologia social e comunitária
O processamento singular do que se apreende do meio, da cultura e 
como se inscreve subjetivamente caracteriza nossa forma de interagir 
e nos relacionarmos com os aspectos da vida.
Os sentimentos, a afetividade, os pensamentos, as ideias, as repre-
sentações, os desejos e as significações são componentes psíquicos 
(emocionais e cognitivos) que pertencem à nossa subjetividade. Esses 
componentes psíquicos, como já mencionamos, estão submetidos a 
contextos históricos, culturais e sociais. Assim, não é possível pensar no 
sujeito e em sua subjetividade sem considerar os contextos nos quais 
ele se encontra inserido.
Se a subjetividade remete a uma forma singular de interpretar as 
coisas do mundo, em oposição a ela temos a objetividade, que diz 
respeito exatamente ao que é unânime, o que pode ser lido e interpre-
tado de uma única forma por todos. Aguiar (2015) nos lembra que é a 
linguagem que faz a mediação da internalização da objetividade, o que 
possibilita a elaboração de sentidos e significações pessoais que cons-
tituem a subjetividade. O autor aponta, ainda, que o mundo psicológico 
é um mundo em relação dialética com o mundo social.
Para Bock (2001), entender o fenômeno psicológico representa en-
tender a expressão subjetiva de um mundo objetivo e coletivo. Trata-se 
de um processo que se estabelece por meio da conversão do social 
em individual e da construção interna dos elementos e das atividades 
do mundo externo, isto é, que fazem parte da vida (interpretamos in-
ternamente eventos externos). O autor afirma, ainda, que entender o 
fenômeno psicológico dessa maneira significa retirá-lo de um campo 
abstrato e idealista para constituir uma base material vigorosa (BOCK, 
2001). O social resulta do modo como o ser humano pensa, bem como 
a forma de se pensar resulta também do social.
Nesse sentido, concordamos com Aguiar (2015) e Bock, Furtado 
e Teixeira (2002) quando os autores ressaltam que a psicologia so-
cial enfatiza a influência de fatores situacionais, envolvendo todos 
os fenômenos sociais, comportamentais e cognitivos decorrentes 
da interação interpessoal dos sujeitos. O estudo da subjetividade 
possibilita conhecer o ser humano em suas expressões compor-
tamentais, sentimentais, singulares e genéricas, pois é a síntese 
singular e individual que cada ser humano constrói durante seu 
desenvolvimento e suas vivências da vida social e cultural.
dialética: “oposição, conflito 
originado pela contradição entre 
princípios teóricos ou fenômenos 
empíricos” (HOUAISS, 2009).
Glossário
Explique o processo de subjeti-
vidade e especifique qual é sua 
relação com os meios interno 
e externo.
Atividade 2
Constituição do sujeito 33
O artigo Constituição do sujeito, subjetividade e identidade, publicado no periódico 
Interações, faz uma articulação bastante interessante entre constituição do su-
jeito, identidade e subjetividade, abordando também a consciência de si, o que 
pode promover reflexões e complementar seus estudos. Vale a pena conferir!
Acesso em: 12 jun. 2020.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-29072002000100003&lng=pt&nrm=iso
Artigo
2.2.3 Afetividade
No ser humano, pensamentos, sentimentos, crenças, valores etc. 
são entrelaçados no tecido da subjetividade; entre as dimensões do 
sujeito, temos a complexa dimensão afetiva.
Na tentativa de se compreender o ser humano, mais uma vez nos 
deparamos com uma dicotomia. Essa dicotomia refere-se à dimensão 
cognitiva, como se ela fosse separada da dimensão afetiva. Bruner 
(1986; 1998 apud LEME, 2003) afirma que a tradicional distinção concei-
tual entre afetividade e cognição – realizada tanto na filosofia quanto 
na psicologia – delimita regiões e fronteiras pouco úteis sobre o psi-
quismo e impõe a necessidade de se criarem pontes conceituais para 
relacionar aquilo que nunca deveria ter sido apartado.
Nesse sentido, Vygotsky (1993) adverte que é necessário reconhecer 
a íntima relação entre o pensamento e a dimensão afetiva. Na teoria 
de Vygotsky, os processos cognitivos e afetivos e os modos de pensar 
e sentir são carregados de conceitos, relações e práticas sociais que os 
constituem como fenômenos históricos e culturais (OLIVEIRA; REGO, 
2003). Nesse constructo teórico, pode-sesustentar que a afetividade 
humana se constitui culturalmente.
Na perspectiva da psicanálise, a dicotomia entre pensamento e afe-
to também não se sustenta. Voltolini (2006) explica que, quando Freud 
percebeu que o pensamento é afetado – para se referir à relação in-
trínseca entre pensamentos e afetos –, estava em vias de formular que 
o pensamento não é afetado apenas eventualmente, como se poderia 
pensar com base na cisão entre afetividade e cognição, mas que não 
há pensamento que não seja afetado. Essa “afetação” não é boa e nem 
má, é simplesmente característica do pensamento humano.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-29072002000100003&lng=pt&nrm=iso
34 Psicologia social e comunitária
Agora que já entendemos que a afetividade se relaciona com a cog-
nição, podemos nos fazer a seguinte pergunta: como a afetividade se 
constitui? A afetividade participa da constituição do sujeito. Como vi-
mos, o ser humano precisa ser amparado para viver, se desenvolver e 
se humanizar. O amparo é fisiológico e afetivo, de maneira integrada e 
simultânea, realizado por alguém que faz a função materna.
O estabelecimento da dimensão afetiva se desenvolve por meio 
desse amparo afetivo, que se dá com investimento dirigido ao ser hu-
mano e é manifestado na maternagem por toques, carinhos, olhares, 
palavras endereçadas ao bebê, aspectos esses que o introduzem em 
um contexto simbólico e de relações múltiplas (BARBOSA, 2005; 2009; 
DOLTO, 2001; JERUZALINSKY, 2008).
Levisky (1992) enfatiza a importância de um bom vínculo entre o 
bebê e a mãe (função materna) como uma condição para que se de-
senvolva um sentimento de confiança básica. Esse sentimento é a base 
para o desenvolvimento das funções psíquicas. A capacidade de o su-
jeito fazer laços, de ter sua capacidade de se relacionar de modo inter-
pessoal, depende dessas primeiras experiências, pois elas terão como 
consequência a transformação do ser humano em um ser de lingua-
gem e também em um ser relacional.
Barbosa (2009) destaca a ideia de que, como resultado da necessi-
dade de amparo ao nascer, o ser humano carrega em si, em todas as 
suas próximas fases da vida, aspectos dessa relação com o outro – uma 
relação basicamente afetiva. É desse modo que ele estabelecerá novos 
laços, se posicionará e produzirá na vida.
2.2.4 Consciência
Como vimos, a separação entre o individual e o social deve ser to-
mada apenas de maneira didática, pois, na verdade, as dimensões do 
sujeito se articulam e interdependem umas das outras; a vida psíquica 
se relaciona com a construção social. O sujeito deve ser sempre en-
tendido como ativo, como alguém que é influenciado, mas também 
influencia seu entorno. Essa ideia é importante, também, para enten-
dermos a dimensão da consciência no sujeito.
A consciência refere-se à propriedade de se ter ciência. Ela se relacio-
na também com as percepções, pois trata-se da capacidade de perceber 
Constituição do sujeito 35
a si mesmo e ao outro. Para que se tenha consciência social, o sujeito 
precisa, antes de mais nada, ter consciência de si próprio. A consciência 
social se efetiva por meio da distinção entre o sujeito e os outros.
A imagem que construímos de nós mesmos tem relação com o 
retorno do olhar dos outros sobre nós. O conceito de identidade 
nos revela, também, que o ser humano se vê como tal porque os 
outros o reconhecem assim.
O reconhecimento de si mesmo por meio do reconhecimento do 
outro promove sucessivas diferenciações que colaboram para que o 
ser humano construa consciência sobre si mesmo. A consciência de si 
pode ser compreendida como condicionada à consciência social.
Se a consciência de si acontece por meio da relação com o outro, 
devemos entender que, nesse processo, há uma significação. Em uma 
relação com o outro, o sujeito é significado pelo outro enquanto sig-
nifica o outro e, consequentemente, a si próprio. Sobre essa questão, 
Brandão (1990, p. 37) afirma:
Os acontecimentos da vida de cada pessoa geram sobre ela a 
formação de uma lenta imagem de si mesma, uma viva imagem 
que aos poucos se constrói ao longo de experiências de trocas 
com outros: a mãe, os pais, a família, a parentela, os amigos de 
infância e as sucessivas ampliações de outros círculos de outros: 
outros sujeitos investidos de seus sentimentos, outras pessoas 
investidas de seus nomes, posições e regras sociais de atuação.
À medida que o ser humano adquire experiências e amplia suas 
relações sociais, ele vai se formando, aprendendo e se transformando. 
Com isso, ele adquire novos papéis sociais, e esse processo continua 
por toda a vida do sujeito. Em cada fase da vida, o sujeito representa 
determinados papéis sociais associados à sua faixa etária, à sua posi-
ção familiar e a outras representações. Ser filho, pai, estudante, marido, 
profissional e avô são exemplos de papéis sociais. Alguns papéis ocor-
rem simultaneamente, enquanto outros ocorrem temporariamente.
Lane (2006) explica que, nos grupos nos quais se relaciona, o ser 
humano se encontra com normas balizadoras, algumas podem ser 
mais sutis e outras, mais rígidas. Essas normas caracterizam os pa-
péis e constituem as relações sociais. Além disso, os papéis sociais 
acabam tendo a função de localizar o sujeito socialmente – o lugar 
que ele ocupa na sociedade.
36 Psicologia social e comunitária
Nesse sentido, é importante compreender como esses conceitos 
se relacionam, pois esse conjunto de papéis desempenhados pelo su-
jeito também constitui a identidade social, que passa pela consciência 
de si. Os papéis atendem à manutenção das relações sociais repre-
sentadas pelo o que os outros esperam de nós, com suas expectativas 
e normas (LANE, 2006).
Segundo Lane, a consciência de si interfere na identidade social 
quando os papéis dentro do grupo são postos em questão, uma vez 
que eles definem a identidade social. De modo geral, há uma sustenta-
ção por parte das instituições e das ideologias, o que torna a interferên-
cia e a mudança mais difíceis.
A psicologia social busca transformações por meio das melhorias 
na condição de vida das pessoas, criticando a manutenção das clas-
ses dominantes. Por isso, aponta para importância da consciência, que 
permite ao sujeito integrar o conhecimento da sua própria história, en-
tender-se como sujeito ativo e conhecer sua realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo da subjetividade é complexo e se estabelece por meio da 
relação do indivíduo com a sociedade. A constituição do sujeito e seu pro-
cesso de desenvolvimento precisam da afetividade; trata-se de processos 
necessários para possibilitar sua construção identitária, bem como para 
que ele encare os papéis sociais e obtenha consciência social e de si.
É importante que o ser humano possa se apropriar de sua história. É 
importante, também, que ele compreenda seus grupos sociais de uma 
perspectiva mais ampla para que possa exercer sua cidadania e seu lugar 
de sujeito ativo, capaz de operar transformações sociais.
REFERÊNCIAS
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fev. 2015. Disponível em: https://psicologado.com.br/atuacao/psicologia-social/nocao-de-
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Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2005.
BARBOSA, P. M. R. Representações de crianças sobre a relação afetiva com seus professores: 
uma contribuição para compreensão do desejo de aprender. 2009. Dissertação (Mestrado 
em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.
Comente a seguinte afirmativa: 
“A consciência de si pode ser 
compreendida como algo condi-
cionado à consciência social”.
Atividade 3
Constituição do sujeito 37
BOCK, A. M. B. A psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia. In: 
BOCK, A. M. B; GONÇALVES, M. G. G.; FURTADO, O. (orgs.). Psicologia sócio-histórica:uma 
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Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
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movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984.
CIAMPA, A. C. A estória do Severino e a história da Severina. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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Petrópolis: Vozes, 1998.
JERUZALINSKY, A. Saber falar: como se adquire a língua?. Petrópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 
2008.
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Freud pensa a educação. São Paulo, n. 1, 2006.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
GABARITO
1. A construção da identidade se inicia com as relações que o sujeito começa a esta-
belecer. Com o avanço no desenvolvimento e a aquisição de mais experiências, as 
relações sociais se ampliam e os papéis sociais mudam de acordo com o momento 
vivido. Assim, é possível sustentar que a identidade é, também, uma construção social 
e, por isso, algo mutável.
38 Psicologia social e comunitária
2. A subjetividade se refere ao singular do sujeito, mas, ao mesmo tempo em que se 
caracteriza como um mundo interno, é totalmente interdependente do meio, isto é, 
do mundo externo. O sujeito apreende ou subjetiva por meio da sua relação com o 
mundo; a subjetividade, portanto, é composta por causas internas e externas, na qual 
a maneira como o sujeito interpreta suas experiências e seu entorno se estabelece 
com as relações sociais. A capacidade subjetiva nasce com a constituição do sujeito e 
está vinculada a condições sócio-históricas.
3. É por meio do contato com o outro que é possível construir a noção da existência por 
meio da diferenciação. Na relação com o outro, esse outro é significado e também sig-
nifica para que o “eu” possa se significar. Desde o início, por meio do seu contato com 
aquele que encarna a função materna, o sujeito vive sucessivas diferenciações. Na inser-
ção social, são construídas a identidade, a subjetivação, a afetividade e a consciência de 
si. Para ter consciência de si, é necessário consciência social e vice-versa.
Sujeito como ser biopsicossocial 39
3
Sujeito como ser biopsicossocial
Neste capítulo, vamos conhecer abordagens do cotidiano 
relacional do ser humano. Nesse sentido, conheceremos o 
conceito de sentimento de pertença, que é fundamental para 
os seres humanos. Esse conceito é articulado pelo o que no-
meamos como agentes socializadores, a saber: (i) família – nossa 
primeira pertença em grupo; (ii) escola – possivelmente nosso 
segundo grupo social; (iii) trabalho – inserção social que ocupa 
um grande lugar; e (iv) comunidade – na qual também se esta-
belecem relações de pertença.
Na sequência, iremos estudar a desigualdade social e suas 
diversas implicações. Vamos abordar os chamados problemas 
biopsicossociais, buscando compreender um pouco do trabalho do 
psicólogo social com as comunidades. Para tanto, mencionamos 
questões delicadas como abandono, violência familiar, abuso de 
substâncias, gravidez na adolescência, abuso sexual, trabalho in-
fantil, adolescentes em conflito com a lei, entre outros.
3.1 Sentimento de pertença 
Vídeo Viver em grupos faz parte da natureza do ser humano. Essa carac-
terística tem uma base biológica, uma vez que “as chances de sobrevi-
vência em sua história evolutiva foram maiores para indivíduos ligados 
socialmente” (GASTAL; PILATI, 2016, p. 286). Baumeister e Leary (1995 
apud GASTAL; PILATI, 2016) afirmam que o pertencimento é uma ne-
cessidade básica do ser humano, sendo essa necessidade o que o mo-
vimenta na procura por relações sociais.
Fontana (2002) corrobora essa afirmação ao ressaltar que os 
seres humanos são criaturas sociais. O autor atribui isso à natu-
reza indefesa do sujeito, especialmente na primeira infância, visto 
que “ajudou a assegurar ao longo de milhões de anos de evolução 
40 Psicologia social e comunitária
humana que as pessoas permanecessem unidas” (FONTANA, 2002, 
p. 19). Nesse sentido, é importante entender quais grupos sociais 
possibilitam o sentimento de pertença (veremos essa questão nas 
próximas seções). Contudo, adiantamos que esse sentimento é es-
sencial para a saúde física e psíquica do ser humano.
Spitz, em sua obra O primeiro ano de vida (1993), ressalta os efei-
tos terríveis no desenvolvimento humano quando ocorre a privação 
de carinho no decorrer do primeiro ano de vida. O autor menciona a 
necessidade humana de contato e do sentimento de pertença. Além 
disso, ele demonstra como a falta desses elementos contribui para o 
desenvolvimento de patologias.
Fontana (2002) corrobora Spitz ao sustentar que o ser humano vive e 
trabalha em grupos sociais. Para o autor, há evidências de que o isolamen-
to do indivíduo pode levar a graves problemas cognitivos e emocionais. 
Fontana afirma também que o ser humano é programado para ser gregá-
rio. Essa programação, segundo o autor, é tão importante que determina 
o modo como a vida é experienciada, uma vez que não basta apenas par-
ticipar de grupos sociais, o ser humano precisa de estima e apoio para se 
desenvolver de modo saudável, feliz e adaptado.
A necessidade de relacionamento e sentimento de pertença acom-
panha o ser humano por toda sua vida. As variadas maneiras de or-
ganização social têm forte ligação com a manutenção de vínculos 
sustentados pelo sentimento de pertença. Vejamos algumas dessas 
formas de organização nas subseções a seguir.
3.1.1 Família
É consenso entre estudiosos que o primeiro grupo social do ser hu-
mano é a família. Para Fontana (2002), a família é o grupo mais impor-
tante ao longo de toda a infância, mesmo quando, em um segundo 
momento, a escola passa a fazer parte da vida do indivíduo.
A função mais importante da família é cuidar dos filhos e socializá-
-los. Faz parte da socialização a aquisição de valores, as crenças e as 
adequações de comportamentos em relação à sociedade da qual fazem 
parte. A família propicia, além da formação, uma espécie de “treino”, 
que prepara o sujeito para se inserir nos demais grupos sociais. Desse 
modo, a família tem uma função primordial na socialização infantil.
gregário: “que gosta de ter a 
companhia de outras pessoas;

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