Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CURSO: TEORIAS DO ESTADO - FMD - 1º PERÍODO - 1º SEMESTRE 2022 PROFESSOR DOUTOR DIMAS FERREIRA LOPES (resumos para apoio das aulas) DISCENTE: A) EMENTA DO CURSO A Sociedade e o Estado. Formação, elementos e finalidade do Estado. Evolução do Estado Moderno até a Contemporaneidade. Formas de Estado. Sistemas e regimes políticos. Formas de Governo. O Federalismo brasileiro. Teoria da Separação dos Poderes. B) CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DO CURSO (UNIDADES DE ENSINO) 1. APRESENTAÇÃO DAS TEORIAS DO ESTADO E DE SEUS CONCEITOS 1.1 Ciência Política e Teoria do Estado. 1.2 Evolução histórica. 1.3 O público e o privado no Estado (liberdade X legalidade) 1.4 O fenômeno político: poder e legitimidade 2. ORIGEM DA SOCIEDADE 2.1 Teorias da origem natural do Estado 2.2 Teorias contratualistas do Estado 2.3 Principais marcos teóricos da Teoria do Estado 3.SURGIMENTO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO 3.1 O Estado oriental (antigo) 3.2 O Estado grego. 3.3 O Estado romano 3.4 O Estado medieval. 3.5 Estado e Iluminismo 3.6 Estado de Direito e Constitucionalismo 4. ESTADO MODERNO 4.1 Elementos constitutivos: povo, território e poder soberano 4.2 Estado e nação 4.3 Povo e nacionalidade 4.4 Território 4.5 Soberania: o componente político-jurídico do Estado 5. ORGANIZAÇÃO DE ESTADOS 5.1 Formas de Estado 5.2 Formas de Governo 5.3 Sistemas de Governo 5.4 Regimes Políticos C) Regime Presencial (sujeito a alterações) D) Material didático Para o desenvolvimento do plano de estudo, o aluno terá acesso à textos, vídeos e atividades de fixação dos conteúdos ministrados (resumos facilitadores das exposições e debates). Visando a eficácia do ensino-aprendizagem, o professor, conforme a estimação cognitiva da turma, executará salas de aulas invertidas, seminários, GV-GO, e outros recursos didático-pedagógicos. E) Avaliações Para o regime presencial O aluno será submetido a avaliações que totalizam 100 pontos, sendo 30 deles reservados à prova global. Os 70 pontos restantes serão assim distribuídos: • 20 pontos: trabalho (tema e data serão definidos e comunicados oportunamente a turma, podendo ser individual ou em grupo; escrito ou expositivo); • Duas provas no valor de 25 pontos cada uma delas (temas e datas serão definidos e comunicados oportunamente a turma, podendo ser individual ou em grupo; escrita ou expositiva); • PROVA SUBSTITUTIVA - o aluno poderá realizar apenas a substitutiva de uma das 3 notas distribuídas anteriormente a prova global. A data desta prova substitutiva será informada e aplicada entre a 3ª avaliação e com a devida antecedência da prova global; • PROVA ESPECIAL – o aluno que não totalizar 30 pontos nas 3 avaliações anteriores a prova global não terá direito à prova especial, pois estará matematicamente impossibilitado de alcançar os 60 pontos mínimos de aprovação. Para o regime não-presencial (caso venha a ser determinado) • O aluno será submetido a avaliações que totalizam 100 pontos, sendo 30 deles reservados à prova global. Os 70 pontos restantes serão assim distribuídos: • Duas provas no valor de 35 pontos cada uma delas (temas e datas serão definidos e comunicados oportunamente a turma, podendo ser individual ou em grupo; escrita ou expositiva); • PROVA SUBSTITUTIVA - o aluno poderá realizar apenas a substitutiva de uma das 2 notas distribuídas anteriormente a prova global. A data desta prova substitutiva será informada e aplicada entre a 2ª avaliação e com a devida antecedência da prova global; • PROVA ESPECIAL – o aluno que não totalizar 30 pontos nas 2 avaliações anteriores a prova global não terá direito à prova especial, pois estará matematicamente impossibilitado de alcançar os 60 pontos mínimos de aprovação. Espaço reservado para o aluno anotar as datas das atividades avaliativas: Bom curso. I. APRESENTAÇÃO DAS TEORIAS DO ESTADO 1. Ciência Política e Teorias do Estado Há ciência e há ciências. E dentre as ciências há a ciência política. Há ciência política e há teorias acerca das matérias estudadas pela ciência política. E dentre estas teorias há as teorias acerca do Estado, sua origem e evolução histórica, seus elementos constitutivos etc. O Estado é a matéria nuclear estudada pela ciência política. 1.1 - Ciência e ciências O vocábulo latino ciência (scientia) se emprega no singular como sinônimo de conhecimento, ou seja, de informações obtidas pelo ser humano para a compreensão da realidade. No plural, ciências são a reunião de todos os conhecimentos específicos, isto é, os conhecimentos acerca das variadas realidades das quais se buscam as compreensões. O somatório dos conhecimentos específicos compõe o conjunto “conhecimento”. A doutrina informa as mais variadas classificações das ciências. Mencionaremos algumas destas classificações para, a partir das mesmas, situarmos a “Ciência Política” como um dos conhecimentos específicos componentes do conjunto “conhecimento”. Para Aristóteles as ciências são as “do pensar”, as “do produzir” e as “do agir”. Filosofia e matemática, por exemplo, são ciências teóricas (do pensar), dialética e retórica, por exemplo, são ciências poéticas (do produzir), ao passo em que a moral, a economia e a POLÍTICA são ciências práticas (do agir). Para André-Marie Ampère as ciências são da matéria ou do espírito: da matéria ou cosmológicas estudam a organização do universo, do espírito ou noológicas estudam a mente e o espírito humanos. As ciências da matéria são de 2 tipos: • primeiro tipo - cosmológicas propriamente ditas: a matemática, a física e a química; • segundo tipo - fisiológicas (a medicina, a zoologia e a botânica). As ciências do espírito também são de 2 tipos: • primeiro tipo - noológicas propriamente ditas: a filosofia e a linguística; • segundo tipo – sociais (a antropologia, a POLÍTICA). CLASSIFICAÇÃO MAIS USUAL - as ciências seriam de 4 tipos: ➢ Ciências matemáticas (estudo da quantidade considerada em número, em extensão etc.). São de 2 tipos: a) teóricas (aritmética, álgebra, geometria); b) aplicadas (mecânica e astronomia). ➢ Ciências físico-químicas (estudo da matéria inorgânica considerada quanto às propriedades do que é inanimado): física, química, mineralogia, geologia. ➢ Ciências biológicas (estudo da matéria orgânica considerada quanto às propriedades do que é animado, ou seja, das manifestações vitais): botânica, zoologia, antropologia. ➢ Ciências Humanas, também chamadas de ciências morais (estudo do “homem como ser inteligente, livre e social, considerado em si e em seus atos”). São de 3 espécies: a) psicológicas (estuda o ser humano em si): psicologia, lógica, ética; b) históricas (estuda o ser humano e sua atuação no tempo e no espaço): história, arqueologia; c) sociais (estuda o ser humano relacional, ou seja, as relações entre as pessoas): sociologia, direito e POLÍTICA. 1.2 - Ciência política à luz das classificações das ciências: - Na concepção aristotélica a ciência política é uma ciência prática, uma ciência do agir. Não é uma ciência teórica, nem poética; - Na concepção amperiana a ciência política é uma ciência do espírito do tipo social. Não é ciência material; - Na concepção atual de ciências a ciência política é uma ciência humana (ou ciência moral, como alguns se referem a ciência humana). Sendo a ciência humana o gênero, a ciência política é uma das suas três espécies, a saber, ciência social. Não é ciência psicológica, nem ciência histórica. 1.3 - Teoria e teorias do Estado. O vocábulo “teoria” aliançado ao vocábulo “Estado” para formar a expressão “teorias do Estado” emerge do conceito de “política”. Vale conferir. Política: o vocábulo possui variadas conceituações. Iremos distinguir duas delas. A segundaconceituação distinguida é uma progressão do primeiro conceito, permitindo- se cogitar - desta evolução - uma definição que inclua teorias ao Estado: - Primeiro conceito: Política como arte de governar (“ciência régia”, na expressão de Platão. Régia vem de reger, palavra que traduz a ideia de exercer a função de regente, governador, chefe, administrador etc.); - Segundo conceito: Política como teoria do que é governado. Ora, o Estado tem um elemento diretivo, e, por isso, é um grupo social com governantes e governados. Os grupos sociais são, grosso modo, formados a partir de relações interpessoais, como são, por exemplo, as relações estabelecidas entre governantes e governados. Ensina o professor Darcy Pereira Azambuja (1903-1970, jurista que foi professor da PUC e da UFRGS): “O Estado aparece, assim, aos indivíduos e sociedades, como um poder de mando, como governo e dominação (...). Deixando de lado, por enquanto, o problema de quem deve governar, é evidente que essa função tem de ser exercida por alguém, e os que a exercem legitimamente têm o direito de exigir a obediência dos governados (...). A autoridade é intrínseca ao Estado, é o seu modo de ser, e o poder é um de seus elementos essenciais”. (Azambuja, Darcy. Teoria Geral do Estado. Porto Alegre: Editora Globo, edição de 1978, p.5). “De fato, é o supremo e legal depositário da vontade social e fixa a situação de todas as outras organizações”. (Azambuja, Darcy. Teoria Geral do Estado. Porto Alegre: Editora Globo, edição de 1978, p.4). Observemos o quadro didático abaixo para identificarmos a natureza das relações interpessoais de alguns grupos sociais, conforme poderão ser identificadas a partir da letra das leis que os mencionam direta ou indiretamente: Tipos de grupos sociais Quanto à duração Temporários: Black blocs, multidão (Art. 65, III, “e” do CP), festas, shows Duráveis: empresa, família. (Art. 1571, III e Art. 1.033, II e III do CC e Art. 226 da CF) Permanentes: classes sociais, igreja, Estado (Arts 5º, VI e 18 da CF) Quanto à dispersão Reunidos periodicamente: reuniões ordinárias e extraordinárias (Arts 1350 e 1355 do CC) Reunidos permanentemente: família, pensionatos, “repúblicas estudantis”, conventos Quanto à formação Voluntários: sociedades filantrópicas, sindicatos, partidos políticos (Arts. 5º, XVII, 8º, I e 17 da CF) Impostos: Estado, igreja, castas e classes sociais ARTIGOS DE LEIS CITADOS NO QUADRO DIDÁTICO (a partir da leitura dos artigos de lei poder-se-á graduar a natureza das relações interpessoais, ou seja, onde há o estabelecimento de organização/sistematização destas relações e onde estas relações estão diluídas ou inexistentes): Art. 65, III, “e” /CP São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. At. 1.571, III/CC A sociedade conjugal termina: III - pela separação judicial. Art. 1.033, II e III/CC Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: II - o consenso unânime dos sócios; III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado. Art. 5º, VI/CF Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. Art. 18/CF A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 1º - Brasília é a Capital Federal. § 2º - Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. § 3º - Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. CF. Art. 226: A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. Art. 1.350/CC Convocará o síndico, anualmente, reunião da assembleia dos condôminos, na forma prevista na convenção, a fim de aprovar o orçamento das despesas, as contribuições dos condôminos e a prestação de contas, e eventualmente eleger-lhe o substituto e alterar o regimento interno. Art. 1.355/CC Assembleias extraordinárias poderão ser convocadas pelo síndico ou por um quarto dos condôminos. Art. 1.566, inc. II/CC São deveres de ambos os cônjuges: II - vida em comum, no domicílio conjugal. At. 1.571, III/CC A sociedade conjugal termina: III - pela separação judicial. Art. 5º, XVII/CF Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; Art. 8º, inc. I/CF É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; Art. 17 §§ 1º e 2º /CF É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: (...) § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. § 2º - Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. Identificamos que a letra da lei traz em si elementos valorativos, ou seja, uma operação que elege e juridicializa situações da vida em sociedade (izar é um sufixo que equivale a converter algo). Ora, juridicizar é convertar algo que não é jurídico em jurídico. Esta operação recebe o nome de fenomenologia da juridicização. De maneira simples podemos afirmar que se são os valores que fundamentam as normas, todas as normas têm relações com fatos e eventos da vida humana. Esta eleição do não-jurídico em jurídico cinge-se a opções tomadas em razão das deliberações políticas. De modo amplo, as teorias do Estado são mesmas de tríplices enfoques: ✓ Teoria social do Estado ✓ Teoria jurídica do Estado ✓ Teoria política do Estado 2 As teorias social, jurídica e política do Estado serão objeto de tratativas ao longo do curso. 2.1 NA CIRCUNSCRIÇÃO DA TEORIA SOCIAL DO ESTADO estudaremos de acordo com as unidades de ensino: • ORIGEM DA SOCIEDADE: Teorias da Origem Natural do Estado; Teorias Contratualistas do Estado etc. • SURGIMENTO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO: o Estado oriental antigo, o Estado grega; o Estado romano; o Estado medievaletc. • ESTADO MODERNO: Elementos constitutivos: povo, território e poder soberano; Estado e Nação, Povo e Nacionalidade etc. 2.2 NA CIRCUNSCRIÇÃO DA TEORIA JURÍDICA DO ESTADO estudaremos de acordo com as unidades de ensino: • ORGANIZAÇÃO DE ESTADOS (Formas de Estado; Formas de Governo). 2.3 NA CIRCUNSCRIÇÃO DA TEORIA POLÍTICA DO ESTADO estudaremos de acordo com as unidades de ensino: • SISTEMAS DE GOVERNO • REGIMES POLÍTICOS 3. Conceito para a disciplina “A Teoria do Estado...deve ter como objeto a descrição e interpretação do conteúdo estrutural da realidade política do Estado, com seus fundamentos e suas contradições” (Soares, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado: novos paradigmas em face da globalização – 4ª ed. – São Paulo: Atlas, 2011. A advertência crítica do professor Quintão Soares (PUC Minas) é relevante porque expõe a existência de contradições teóricas e, bem por isso, nos anima a estudar a disciplina Teorias do Estado (no plural), a qual já foi denominada de Teoria Geral do Estado. É a partir desta menção - TGE - que recolhemos uma antiga definição, por ser bem analítica, e que permitirá o desenvolvimento crítico de nosso curso ao enfoque tríplice das teorias social, jurídica e política do Estado, e o que de dissensão intelectiva nelas há, bem como o novel (algo teórico novo, por exemplo, são os novos paradigmas estatais em face da globalização, a sobreestatalidade, a soberania compartilhada etc.). Eis o conceito-farol que adotamos para os nossos estudos: “Teoria Geral do Estado é a ciência geral que, na análise dos fatos sociais, jurídicos e políticos do Estado, unifica esse tríplice aspecto e elabora uma síntese que lhe é peculiar, para estudá-lo e explicá-lo na origem, na evolução e nos fundamentos de sua existência” (Menezes, Aderson de. Teoria geral do estado. Rio de Janeiro: Forense, 3ª edição, 1972, p. 30). O formidável professor Anderson de Menezes (1919-1970) foi titular da disciplina TGE na Universidade de Brasília. No índice da referida 3ª edição de sua obra Teoria Geral do Estado, com excelente didática, apresenta uma introdução ao estudo e um estudo complementar acompanhados de 3 PARTES. Estas três partes nos interessam. São elas: - Primeira Parte: TEORIA SOCIAL DO ESTADO (o estado; origem e justificação do estado; evolução histórica do estado; elementos constitutivos do estado; soberania; formação, modificação e extinção de estados); - Segunda Parte: TEORIA JURÍDICA DO ESTADO (formas de estado; formas de governo; constituição; constituinte e constitucionalidade; poderes do estado); - Terceira Parte: TEORIA POLÍTICA DO ESTADO (democracia; sistema representativo; parlamentarismo; presidencialismo; voto, eleição e mandato). Passemos a estudar sequencialmente estas 3 partes, iniciando-se pela Teoria Social do Estado. II - TEORIA SOCIAL DO ESTADO a) Situando a temática “teoria social do Estado” O professor doutor Mário Lúcio Quintão Soares, na 4ª edição de sua excelente obra Teoria do Estado, em índice, cuida do aspecto teórico social do Estado, dentre outras, com as seguintes rubricas marcadas pelo novel e pelo crítico: - A sociedade como substrato da realidade política do Estado. - O Estado (principais teorias sobre o advento do Estado etc.). - As complexas sociedades modernas. Quintão Soares discorre sobre o conceito de sociedade, sobre a relação entre Estado e sociedade, e, no que intitula de “marcos teóricos para a compreensão do Estado Moderno”, visita a evolução histórica do Estado desde o legado greco-romano até os dias atuais (Confira: Soares, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado: novos paradigmas em face da globalização – 4ª ed. – São Paulo: Atlas, 2011). O já citado professor Anderson de Menezes, no índice da 3ª edição de sua obra Teoria Geral do Estado, trata da Teoria Social do Estado com os seguintes subtítulos: o Estado - origem e justificação do Estado; evolução histórica do Estado; elementos constitutivos do Estado; soberania; formação, modificação e extinção de Estado. Verifica-se que ambos cuidam da evolução histórica do Estado, do fenômeno político “poder e legitimidade”, tangendo o público e o privado no estado (Liberdade X Legalidade) etc. b) Evolução breve do conceito de ESTADO: status e Estado Isoladamente o vocábulo latino status expressa mais de uma sinonímia. Vejamos algumas destas definições dicionarizadas. Até hoje, por exemplo, o status de uma pessoa significa algo associado às suas condições, como à condição honorífica (situação no quadro das classes sociais: rica, pobre, classe média etc.), ou à sua condição jurídica (situação no rol legal das capacidades: menor de idade, maioridades civil e penal, relativamente incapaz, solteira, casada, nascida com vida, natimorta, em estado de coma etc.), ou ainda às suas condições física, psicológica, religiosa (situação clínica de apta ou inapta medicamente para certas atividades, estado de graça/beatitude etc.) etc. No mundo das mídias do século XXI, os navegantes têm perfis nos quais há menções nominais a seus status, completados muitas vezes com informações da seguinte natureza: “em relacionamento sério” etc. Há também o status das coisas, como, por exemplo, os estados físicos da matéria (sólido, líquido e gasoso). O antigo Direito Romano fazia menção a status como sinônimo da situação do ser humano. Em apostila de estudos por mim elaborada, fiz este destaque: ➢ Da INSTITUTAS, de Justiniano, lê-se que: “vejamos antes as pessoas, pois é conhecer pouco o direito, se desconhecemos as pessoas, em razão das quais ele foi constituído” (Et prius de personis videamus. Nam parum est jus nosse, si personae, quarum causa constitutum est ignorentur). ➢ Tipos de pessoas a luz do Direito: → referindo-se a pessoa humana: pessoa física → referindo-se a ente moral: pessoa jurídica Obs- Quase-pessoas jurídicas – Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: V - a massa falida, pelo administrador judicial; VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador ➢ A expressão “ter pessoa” significa ter personalidade. Ter personalidade é ter aptidão ou capacidade. “Ser pessoa” é estar apta, estar capaz. Quem está apta ou capaz é apta ou capaz para direitos e deveres na ordem civil, isto é, no e/ou para os negócios da cidade (= para os negócios da civilis). São os cidadãos: homens com cidadania. ✓ PESSOA FÍSICA → em tese, bastaria ser homem para ser reconhecido como pessoa. Mas nem sempre foi assim. Na cidade de Roma nem todo homem era pessoa. Existiam várias classes de homens, e a nem todas elas serão atribuídas “pessoa”, isto é, capacidade civil. → capacidade: ▪ de gozo (ou personalidade): aptidão para adquirir direitos, isto é, adquirir “coisas” (coisa é o que pode ser possuído, bem é o que é possuído), e ficar sujeito a obrigações (= deveres). ▪ de exercício (capacidade pp. dita): ter atributos para exercer os próprios direitos. - Status é o nome que os romanos davam para a condição civil da capacidade. - Em Roma para “ter” ou “ser” pessoa, isto é, ter personalidade, o homem se submetia a 2 ESPÉCIES DE CONDIÇÕES: Primeira: condição natural (status naturalis): nascimento perfeito X monstriparidade: formas monstruosas não eram filhos. O monstro romano ou da antiguidade (muitas vezes apontados como resultado do coito humano com animais, demônios disfarçados) se referia aquele tipo anormal pela grandeza da deformidade física. Era uma espécie de “erro da natureza”, uma transgressão a ordem natural. Foi substituído pelo “monstro da modernidade”, ou seja, aquele que comete erro de conduta, o transgressor da ordem civil. São de dois tipos: - Pessoa com profundo distúrbio de comportamento, que não poderia ser reconhecida como ser humano de “comportamento normal” (ex: estupradores, pedófilos, assassinos etc.), - Aquele patológico:comete crime sem motivo algum (“monstro jurídico”). Em Roma o nascituro tinha direitos assegurados. Obs. O Art. 2º do CCB também resguarda os direitos do nascituro. Naciturus pro iam nato habetur si de eius commodo agitur: o nascituro já se considera nascido para o que lhe traz vantagem (Paulo, Dig. 1.5,7). Segunda : condição artificial (3 status não-naturais). São eles: ❖ Status libertatis: “A suma divisão do direito das pessoas é esta, a saber: todos os homens ou são livres ou são escravos” (GAIO). A escravidão foi abolida no Brasil pela Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888, conhecida por “Lei Áurea”. ❖ Status civitatis: “politicamente considerado o primeiro estado do homem é de nacional (cidadão romano) ou estrangeiro”. Obs: estrangeiro = peregrino (aquele que não tinha regalias na “cidade” de Roma). A CRFB discrimina no Art. 12 quem são os brasileiros natos e naturalizados, quais são os cargos privativos de brasileiros natos, e as hipóteses da perda de nacionalidade. A Lei 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil e cria o Conselho Nacional de Imigração. A Lei de XII Tábuas alertava: “Adversus hostem aeterna auctoritas” (Contra o estrangeiro, eterna garantia). ❖ Status familiae: família romana é o conjunto de pessoas colocadas sob o poder de um chefe – o paterfamilias (difere da família moderna, constituída pelo casamento do chefe). A unidade familial romana era de base patriarcal (mulher não a chefiava), e era composta de 2 classes de pessoas: • o detentor da capacidade plena de direitos, o sui iuris: o paterfamílias. • os subordinados ao paterfamilias (alieni juris), que eram de duas classes: ➢ os de parentesco natural ou sanguíneo (cognatio) ➢ os de parentesco civil (agnatio) = adotados (filhos e filhas, mulheres, escravos). A CF no § 6º do Art.227 e o Art. 1.596 do CCB - na mesma linha do direito romano - prescrevem que os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. - Em resumo: Em Roma para que um ser humano pudesse ser considerado como uma pessoa natural apta a titularidade plena de direitos e obrigações na vida da cidade, necessário era, além, é claro, do nascer fisicamente perfeito, que nascesse do sexo masculino e não feminino, que fosse livre e não escravo, que fosse cidadão romano e não estrangeiro, e que fosse paterfamilias. Isto é que era ter as “três cabeças” dos 3 status. No Brasil “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil” – Art.1º do CCB. Até porque a “DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANO”, aprovada em 10/12/1948, pela Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é signatário, ter estabelecido nos Arts. I, IV, VI, XVI que: Art. I – Todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e devem agir em suas relações com espírito de fraternidade. Art. IV – Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos são proibidos em todas as suas formas. Art.VI - Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. Art. XVI – 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. b.1 - Quem estabeleceu mais palpavelmente a conexão entre “status” e “governo e circunscrição governada” foi o filósofo e diplomata italiano Nicolau Maquiavel (1469- 1527), a quem se diz ter sido ele o “fundador da ciência política moderna”. Na sua obra O Príncipe, de 1513, registrou que: “Todos os estados que existem e já existiram são ou foram sempre repúblicas ou monarquias” Ou com a seguinte tradução: “Todos os estados, todos os domínios que tiveram e têm poder sobre os homens, são estados, e são ou repúblicas ou principados”. Para Maquiavel, sob a rubrica “estado”, governa-se de duas maneiras ou modos: as repúblicas são governadas por mais de uma pessoa (como uma espécie de vontade coletiva), e os principados/monarquias têm a sua regência na vontade de uma só pessoa. O filósofo e historiador italiano Norberto Bobbio (1909-2004) ensina: “...Maquiavel substitui a tripartição clássica, aristotélica polibiana, por uma bipartiação. As formas de governo passam de três a duas: principados e repúblicas. O principado corresponde ao reino; a república, tanto a aristocracia como à democracia”. Disponível em: < https://www.studocu.com/pt- br/document/universidade-do-vale-do-itajai/ciencia-politica/teoria-politica-de- maquiavel-norberto-bobbio/4869320> Acesso 01 Jan 2022. https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-do-vale-do-itajai/ciencia-politica/teoria-politica-de-maquiavel-norberto-bobbio/4869320 https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-do-vale-do-itajai/ciencia-politica/teoria-politica-de-maquiavel-norberto-bobbio/4869320 https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-do-vale-do-itajai/ciencia-politica/teoria-politica-de-maquiavel-norberto-bobbio/4869320 Para Aristóteles existiam seis formas de governos: a monarquia, a aristocracia e a politeia ou democracia, as quais, respectivamente, se degeneravam por meio da tirania, da oligarquia e da demagogia ou olocracia: • Monarquia - rei tem poder supremo X Tirania - poder supremo obtido de forma corrupta • Aristocracia - alguns nobres detém o poder X Oligarquia - poder detido por um grupo que o exerce de forma injusta • Democracia ou Politeia - povo detém o controle político X Demagogia ou Olocracia - poder exercido por multidões/turbas/ classes ou facções populares Políbio é um historiador grego. Para ele, rigorosamente, também seriam seis as formas de governo: realeza ou reino, tirania, aristocracia, oligarquia, democracia e oclocracia. A título de curiosidade: “Políbio - Formas de governo Realeza - Primeira forma de governo, que surge naturalmente Tirania - Forma degenerada associada à realeza Aristocracia - Surge após a queda da tirania, distribuindo o poder para um grupo de pessoas Oligarquia - Degeneração da aristocracia, cujo grupo busca o benefício próprio Democracia - Resultado da evolução da oligarquia, deixando o poder nas mãos da maioria Oclocracia - Degeneração da democracia, quando a turba passa a cuidar da vida política com ilegalidade Governo misto - Forma de governo que é uma junção da realeza, aristocracia e democracia” . Gallo, Rodrigo Fernando. A teoria das formas de governo na Antiguidade in RÓNAI: REVISTA DE ESTUDOS CLÁSSICOS E TRADUTÓRIOS – 2013 V1.N2 pp. 79 - 93 – ISSN: 2318-3446 - UFJF – JUIZ DE FORA. Verifica-se, pois, no particular do conceito de ESTADO, o relevante contributo de Maquiavel que, ao estabelecer a conexão entre “status” e “governo e circunscrição governada”, facilitou a popularização do vocábulo status como equivalente de entidade que interliga poder e política. Na compreensão conceitual de Estado há algumas noções que poderíamos predicar de tormentosas na medida em que, embora sejam elementos fundantes do conceito [de Estado] - e por isso nele [conceito de Estado] noções sempre consideradas -, são noções variáveis, haja vista as multíplices formas de suas concepções, suscitando por conseguinte debate interminável sobre a extensão conceitual destas noções. Quando nos referimos a multíplices formas de concepções estamos tratando de cosmovisões, isto é, da maneira de uma pessoa se colocar numa determinada posição sobre as questões filosóficas políticas. https://www.todamateria.com.br/monarquia/https://www.todamateria.com.br/aristocracia/ Quando nos referimos a extensão conceitual estamos considerando a “pluralidade de coisas que está contida sob um conceito”, como o concebe Kant. Cf. Renato Duarte Fonseca, Predicação e extensão conceitual em Kant: problemas. Disponível em <https://www.scielo.br/j/man/a/vsfvbtR4DQvwgQqNKwwdfgJ/?lang=pt> Acesso: 01 Jan 2022. As noções variáveis - e por esta razão tormentosas - envolvendo Estado e fenômeno político são resumidamente as cosmovisões sobre as relações: estado e poder, poder e liberdade, liberdade e legitimidade, legitimidade e legalidade etc. Para ilustramos estas problemáticas selecionaremos alguns textos, ainda que não tenhamos estudado até esta altura do curso as teorias estatais (serão estudadas nesta disciplina nas próximas aulas). Uma destas doutrinas é a contratualista. Para o momento, baste que se tenha em mente algo simples assim: contratualistas são aqueles que acreditam que a sociedade humana e o Estado foram originados por um acordo ou contrato estabelecido entre cidadãos autônomos. Uma espécie de super reunião. Fica interessante imaginarmos este momento de criação. Os contratualistas de modo geral (Hobbes, Spinoza, Grotius, Puffendorf, Tomasius, Locke e Rousseau) concebiam um estado natural da vida humana antecedente ao estado social desta vida humana (o estado social é também chamado de estado civil), algo apreendido teoricamente pela razão. O jusfilósofo estadunidense John Rawls (1921- 2002), tal qual os contratualistas, considerava este estado natural uma abstração imaginativa: “Rawls deixa claro, quanto à natureza dessa abstração, que não se trata de um ponto de vista transcendente à vida humana concreta, mas antes imanente a ela. É neste ponto que a posição originária de Rawls supera as abstrações contratualistas em torno ao estado natural: somente é possível orientar a conduta humana neste mundo a partir de paradigmas surgidos deste mundo, ainda que por via de um raciocínio hipotético. Nessa posição originária, os indivíduos são imaginados em sua essência puramente humana, i.e., despojados de caracteres secundários como raça, cor, gênero, idade, religião, profissão etc., mantendo somente sua capacidade de distinguir entre o que lhes seja benéfico ou maléfico – o que Rawls chama de racionalidade – e a capacidade de orientar suas ações de acordo com essa percepção básica e com as ilações morais que dela derivam...”. VASCONCELOS, Fernanda Sousa; CHAVES, Raphael Ayres de Moura. Teorias clássicas e contemporâneas da justiça: de Platão a John Rawls. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4638, 13 mar. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/46469. Acesso em: 8 maio 2020. Continua o autor, em outros parágrafos de seu artigo: https://jus.com.br/artigos/46469/teorias-classicas-e-contemporaneas-da-justica https://jus.com.br/artigos/46469/teorias-classicas-e-contemporaneas-da-justica https://jus.com.br/revista/edicoes/2016 https://jus.com.br/revista/edicoes/2016/3/13 https://jus.com.br/revista/edicoes/2016/3/13 https://jus.com.br/revista/edicoes/2016/3 https://jus.com.br/revista/edicoes/2016 “Nessa circunstância imaginária, em que os indivíduos desconhecem suas diferenças – encontrando-se submetidos, portanto, ao que Rawls chama de VÉU DA IGNORÂNCIA, se tivessem que elaborar uma legislação para si próprios, que tipo de norma elaborariam ou deixariam de elaborar? Ora, normas que privilegiassem os mais ricos, em detrimento dos mais pobres, decerto não seriam aceitas com unanimidade – afinal, no estado de ignorância, todos desconheciam suas condições econômicas reais. Os mais ricos, imaginando-se pobres, não legislariam em detrimento destes, nem vice- versa. O mesmo raciocínio aplica-se a todas as outras diferenças (de opinião, crença, raça, gênero etc.). Rawls conclui, portanto, que se o conceito de justiça deve necessariamente – como resulta inconteste ao longo de toda a tradição filosófica – apresentar certa unidade e universalidade (não podendo se reduzir a opinião parciais ou a preferências ou interesses particulares), somente a igualdade satisfaz essa exigência. A própria noção de justiça, conclui Rawls, pressupõe a igualdade substancial entre os seres humanos”. E ainda: “A partir desta descrição da posição originária da humanidade, RAWLS EXTRAI DOIS PRINCÍPIOS BÁSICOS – ambos inspirados, em última análise, pela garantia da igualdade - que devem ser respeitados por toda e qualquer ordem jurídica ou política que se pretenda justa. O PRIMEIRO diz respeito à igualdade de direitos e deveres fundamentais perante a lei. Trata-se, pois, da igualdade formal do Estado Liberal clássico, tal como enuncia o artigo 5º da Constituição Federal em sua expressão literal. Rawls entendia, porém, que os membros da sua sociedade imaginária não se contentariam com essa garantia igualitária: ainda que desconheçam, devido ao véu da ignorância, as características que os diferenciam uns dos outros, a existência dessas diferenças não lhes escapa de todo. Por essa razão, admitir uma sociedade inteiramente igualitária seria atentar contra essas particularidades, dentre as quais se incluem diferenças de talento e capacidade que, em uma ordem realmente justa, resultariam em diferenças de lucro econômico e posição social. É neste ponto que vem à tona a necessidade de um SEGUNDO PRINCÍPIO, além da igualdade formal, para alcançar uma melhor definição da justiça: o respeito às diferenças consideradas benéficas para a própria coletividade. Rawls entendeu, no entanto, que este segundo princípio precisava atender a dois requisitos sem os quais o primeiro restaria inviabilizado: em primeiro lugar, seria necessário garantir a igualdade de oportunidades a todos. Não há qualquer impedimento à existência de cargos políticos e econômicos distintos, mas desde que observada a condição sine qua non de que esses cargos sejam acessíveis a todos. Em segundo lugar, observa Rawls que as diferenças sociais permitidas não poderiam, em hipótese alguma, colocar os indivíduos menos favorecidos em uma situação de penúria na qual estivessem privados dos bens mais básicos, e que os mais favorecidos recusariam terminantemente. O que justifica a existência de diferentes cargos e funções políticas ou econômicas é o sopesamento entre os direitos e obrigações de cada cargo ou função: se, por um lado, os ocupantes das esferas econômicas mais altas têm ao seu dispor maior diversidade e qualidade de bens e serviços, têm, por outro, maior carga de obrigações e deveres a cumprir, e dos quais os indivíduos de classe média ou baixa estão livres. Isso significa que as diferenças são aceitas, mas desde que resultem em um benefício geral para a coletividade. Em outras palavras: o segundo princípio de Rawls desenvolve, através de preceitos práticos, o conceito de igualdade material, tão caro aos cientistas políticos contemporâneos. A importância deste conceito, no sentido desenvolvido magistralmente por John Rawls, para a caracterização Estado Democrático de Direito é que é precisamente nele que reside o ponto de superação dialética das experiências políticas anteriores - o Estado Liberal e o Estado Social. No Estado Liberal, o princípio da igualdade formal – o primeiro princípio de Rawls – vigorava, ou devia vigorar, de forma irrestrita. Pouco tardou para que viessem à tona as flagrantes injustiças sociais a que a aplicação ilimitada desse princípio pode gerar, o que tornou necessária a sua complementação por outros princípios políticos. O problema é que o modelo seguinte – o Estado Social – malogrou igualmente na tentativa de impedir as injustiças sociais. À custa de igualar as classes, acabou por violar gravemente a liberdade individual, dando origem aos regimes autoritários ou mesmo totalitários no início do século XX. O equilíbrio entre a igualdade exclusivamente formal doEstado Liberal e a igualdade exclusivamente substancial ou material do Estado Social veio através do Estado Democrático de Direito que começou a se impor, gradativamente, após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). E esse equilíbrio foi alcançado precisamente através do método de Rawls: assegurando aos indivíduos iguais deveres e liberdades, na medida em que essa igualdade seja realmente benéfica para a coletividade e desde que as diferenças sociais admitidas não prejudiquem os menos favorecidos”. Interessante compararmos os estratagemas do “Véu da Ignorância” com a tática advocatícia empregada no filme “Tempo de Matar”: “Cada vez mais, obras cinematográficas vêm sendo utilizadas no meio acadêmico para fomentar discussões jurídicas. Dentre as tendências de caráter interdisciplinar que despontaram no meio acadêmico jurídico de diversos países ocidentais na segunda metade do século XX, “Direito e Literatura” e “Direito e Cinema” assemelham-se pela ousada proposta de aproximar o mundo do Direito a universos ficcionais, na busca por novos espaços de reflexão e compreensão do fenômeno jurídico e de sua complexa e dinâmica relação com outras manifestações culturais. (OLIVO, MARTINEZ, 2014). Baseado no livro de John Grisham, o filme de 1996, Tempo de matar, permanece atualíssimo pela sua temática que mistura racismo, violência sexual contra crianças e as falhas da Justiça. O filme começa com um crime bárbaro: dois homens brancos estupram uma criança negra, uma garota de seus dez anos, em Canton, Mississipi, região com a herança racista que caracteriza ainda nos dias atuais o sul dos E.U.A.A violência do ato a deixa hospitalizada por dias, com seu pequeno útero dilacerado. Com a comoção causada pelo crime, os dois criminosos são presos. No entanto, a mera possibilidade de os agressores serem soltos sob fiança deixa o pai da criança transtornado. Ele invade o Tribunal armado e mata os dois homens, ferindo ainda um terceiro. No Mississipi, Carl, o pai da criança agredida, Tonya, corre ainda o risco de ser condenado à pena de morte pelos homicídios. Sem muita saída, o homem contrata um advogado branco, seu velho conhecido, para sua defesa. O advogado contratado era o que alguém com as condições financeiras de Carl poderia pagar. Seu escritório vivia às moscas. Mesmo assim, o advogado Jake Tyler compra a causa, mergulhando de cabeça a fim de salvar a vida de seu cliente. (...) Seu cliente tem pouquíssimas chances de ser absolvido e corre risco de parar na “milha verde”, eufemismo para o corredor da morte, local onde os que são condenados à pena de morte aguardam a execução. Para a população e para a mídia, a questão racial pesava mais que a violência sofrida pela criança. A mídia estava mais preocupada com o assassinato de dois homens “de bem” por um homem negro e pobre, do que a violência sexual sofrida por Tonya, que convalescia no hospital. Jake sofre ataques em seu escritório e em sua casa. Sua estagiária é sequestrada por homens supostamente ligados ao Ku Klux Klan. Tudo faz parte de uma estratégia de pessoas da cidade ligadas a movimentos de supremacia branca para que Jake abandone a causa. Jake tira sua família da cidade e prossegue na causa. Carl, mesmo sem estudo, entende que a questão é mais racial do que jurídica. Jake deve convencer o Júri que a vida da pequena Tonya valia mais do que a vida dos homens que a agrediram e por isso foram mortos por seu pai. É assim que Jake ganha a sua causa: pede aos jurados fecharem os olhos e pensarem que o que aconteceu com Tonya poderia ter acontecido com uma menina branca. A empatia dos jurados só é despertada para absolverem o réu se o considerarem como um igual a eles, não como um homem negro acusado de um crime”. Artigo de Ramos, advogada especialista em Ciências Penais. Disponível em < https://canalcienciascriminais.com.br/tempo-de-matar-2/ > Acesso: 22.Jan.2022. c) ORIGEM DA SOCIEDADE Muitos estudiosos sustentam que há um binômio incontestável, qual seja: “ser humano e sociedade” (apresentado geralmente como binômio “homem- sociedade”). E que isto se afirma tomando em conta que “ser humano” e “sociedade”, embora possam ser considerados em si, são, em realidade, exigentes (se reclamam como necessários) e, por isso são inseparáveis, impartíveis, indecomponíveis. Destarte, não se poderá isolá-los como elementos formadores desta relação indissolúvel que é a sociedade. O prefixo “co” é uma abreviação da expressão latina “cum” (com) que expressa o sentido de companhia. Então, poderemos dizer que o ser humano e a sociedade se coexigem. Ulpiano (150-223) foi um jurista com atuação em Roma (atuação com forte contribuição para os direitos romano e bizantino). A seguinte máxima é atribuída a ele: “Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus, "Onde há homem, há sociedade; onde há sociedade, há Direito. De acordo com este raciocínio, o ser humano - por naturalmente não viver sozinho -, será um ser relacional, um ser de essência convivial. Estes estudiosos dizem que o ser humano “convive”. Aristóteles, com outras palavras, disse que “o homem é um animal político”, ou seja, um homem da convivência na cidade. A palavra polis, de onde deriva o termo política, é o conjunto de habitantes da urbe (= a cidade, daí utilizarmos o vocábulo urbano como sinônimo de cidade). Várias são os processos de adaptações sociais conhecidos (religião, família, escola, associações etc.). Todos estes grupos têm regras de conduta com influência no comportamento social. Ensina Eugen Ehrlick: “Um grupo social é uma pluralidade de seres humanos que, em suas relações mútuas, reconhecem certas regras de conduta como obrigatórias e, em geral pelo menos, regulam de fato sua conduta de acordo com elas. Essas regras são de vários tipos e têm vários nomes: regras de direito, de moral, de religião, de costume ético, de honra, de decoro, de tato, de etiqueta, de elegância... Essas regras são fatos sociais, resultantes das forças que operam na sociedade, e não podem ser consideradas separadas e à parte da sociedade, na qual são operantes, assim como o movimento das ondas não pode ser computado sem se considerar o elemento em que elas se movem...”. (“Os Grandes Filósofos do Direito”, por Clarence Morris, trad. Reinaldo Gurany, SP: Martins Fontes, 2002, pág. 448). A “ordem”, portanto, estará na base conceitual de qualquer processo de adaptação social (DENTRE ELES, O DIREITO, seja em sentido objetivo – complexo de leis -, ou subjetivo - faculdade de fazer algo, concedida ou permitida pelas leis). Certifiquemo-nos desta afirmação: “O homem (homo sapiens) não é um produto simples da natureza, mas o resultado do convívio com outros homens. Por isso, apesar da sua sociabilidade, há nele, sempre, algo de próprio, tipicamente individual, que não se dissolve no social nem se torna comum. Assim, não é possível negar que o homem jamais se despe, por completo, de seus instintos egoístas, motivo pelo qual não se consegue apagar, nem mesmo superar, a sua inclinação, muito natural, de fazer prevalecer os seus interesses quando em confronto com os seus semelhantes. (...) Disto decorre, evidentemente, a imperiosa exigência da comunidade de estabelecer normas de conduta que tenham um caráter obrigatório em decorrência do qual a sua impositividade ao homem seja incondicional e independente da adesão das pessoas”. (“Teoria do fato jurídico”, por Marcos Bernardes de Mello, SP: Saraiva, 1995, p. 4/5). “O direito é essencial ao homem enquanto homo socialis, isto é, ao homem considerado integrante da sociedade. O homem sozinho não necessita de Direito ou de qualquer norma de conduta social. Por isso o Direito não está na natureza do ser humano, sendo-lhe estranho e dispensável. Somente quando o homem se vê diante de outro homem ou da comunidade e condutas interferem entre si, é que exsurge a indispensabilidade das normas jurídicas, diante da indefectível possibilidade dosentrechoques de interesses que conduzem a inevitáveis conflitos. Daí ser imperiosa e irremovível a necessidade que tem a comunidade de manter sob controle o comportamento de seus integrantes, contendo-lhes as irracionalidades e traçando-lhes normas obrigatórias de conduta, com o sentido de estabelecer uma certa ordem capaz de obter a coexistência pacífica no meio social”. (“Teoria do fato jurídico, por Marcos Bernardes de Mello, 1995, SP: Saraiva, pág. 6 e 7). “O direito, em sentido objectivo, ensina Van Wetter, é o conjunto das regras prescriptas ás acções humanas e cuja observancia é garantida pelo poder social (Droit romain, Vol. I, pág. 6).O domínio da moral é muito mais vasto do que o do direito, e entre as suas regras grande numero existe que não são preceitos de direito, “porque á sociedade não interessa que a observancia seja assegurada por meio de coerção externa”. Não ha auctoridade externa que possa exigir o cumprimento de obrigações puramente da consciencia. Ao contrario, o caracter distinctivo das regras de direito consiste na sua execução obrigatoria, que pode ser determinada pelos Tribunaes e executada pela força publica. Assim, o preceito que me aconselha a dar esmolas é um preceito de caridade, ao passo que a obrigação de pagar as dividas é um preceito de justiça e, portanto, de direito”. (“Elementos do direito romano, por Antônio Bento de Faria, 1907, RJ: J. Ribeiro dos Santos, pág.14 – grafia da época). “Na sua finalidade de ordenar a conduta humana, obrigatoriamente, o direito valora os fatos e, através das normas jurídicas, erige à categoria de fatos jurídicos aqueles que têm relevância para o relacionamento inter-humano”. (...)Exemplo: “Na verdade, somente o fato que esteja regulado pela norma jurídica pode ser considerado um fato jurídico, ou seja, um fato gerador de direitos, deveres, pretensões, obrigações ou de qualquer outro efeito jurídico, por mínimo que seja. As meras relações de cortesia, por exemplo, não criam situações jurídicas, com a de A poder exigir que seu vizinho B o cumprimente, toda manhã, sob pena de ser constrangido a fazê-lo ou punido por não o fazer. Esse mesmo fato do cumprimento, em outras situações, pode acarretar resultados jurídicos – é o que acontece com os militares, e.g, em que pode ser punido o subordinado que não prestar continência ao seu superior – porque há norma jurídica que assim estabelece”. (“Teoria do fato jurídico, por Marcos Bernardes de Mello, 1995, SP: Saraiva, pág. 9). A sociedade, portanto, seria uma relação, um vínculo que procede espontaneamente. É uma ligação voluntária entre homens, um encadeamento que, por ser espontâneo, não poderá ser desatado, tornando, por conseguinte, indissolúvel a relação “ser humano-sociedade”. Cabe nesta altura a leitura do seguinte texto: “Convém esclarecer, desde logo, que a palavra sociedade é empregada aqui em seu mais amplo conceito, do ponto-de-vista sociológico, para incluir-se, neste sentido universal ou genérico, toda relação voluntária entre os homens. E por isso a preferimos – orientado pelo esquema de Robert M. Maclver – aos termos COMUNIDADE, ASSOCIAÇÃO E INSTITUIÇÃO, o primeiro considerado como uma área da vida comum, um foco de vida social, o viver comum; o segundo catalogado como um corpo de seres sociais organizados ou uma organização de seres sociais para a persecução de um interesse ou interesses comuns; e o terceiro qualificado como formas estabelecidas de relação entre os seres sociais a respeito de si mesmo ou a respeito de um objeto exterior, isto é, formas organizadas de atividade social, com aspecto exterior, no tempo e no espaço. Então, o homem, que faz parte permanentemente de uma COMUNIDADE, integra simultaneamente ou sucessivamente ASSOCIAÇÕES de diferentes espécies e das mais variadas finalidades, em cujos seios existem e se modificam INSTITUIÇÕES, dissolvendo-se umas e criando-se outras. Nasce naturalmente no ambiente familiar, onde, além de cuidados especiais, é alimentado, vestido, educado e protegido, passando desde aí pela escola e pela igreja, até que atinge condições de conduta própria, para ingressar na decantada ‘luta pela vida’, participando sempre de processos associativos e procurando alcançar o seu destino humano por intermédio de processos institucionais. Assim, para exemplificar, sendo a associação um ser vivo e a instituição uma forma ou meio, a família se enquadra naquele gênero e o casamento neste. Mas a vida social do homem, além de intensa, é profundamente variada, apresentando-se com diversas matizes. E ele se agrupa a outras pessoas para novos fins, em empreendimentos profissionais, econômicos, intelectuais, recreativos, filantrópicos etc. Esse conjunto de organismos sociais é o que forma, entre as espontâneas relações humanas, a sociedade em geral, oscilando ainda a extensão significativa do vocábulo, porque pode o mesmo compreender desde os grupos sociais de uma cidade (sociedade urbana) até a humanidade toda (sociedade humana), compreendendo nessa escala o elemento humano de um Estado ( sociedade nacional) , que, emoldurada pela ordem jurídica, recebe a vulgarizada denominação de sociedade política. Esta passa a constituir o Estado que, sem ser a maior de todas as sociedades, possui sobre as outras uma supremacia indisfarçável, decorrente especialmente da compulsoriedade que lhe é privativa e que se bifurca em dois fatores positivos: a obrigação de em sua jurisdição o homem permanecer e, em aí ficando, não poder resistir à sua força coercitiva. Tal atributo é inerente ao Estado, dele não dispondo as demais sociedades, cujas atividades, de resto, se organizam e desenvolvem dentro do Estado, que, com sua sanção, as regula e disciplina, podendo favorecê-las ou não, suprimindo-as, inclusive”. (Menezes, Aderson de. Teoria geral do estado. Rio de Janeiro: Forense, 3ª edição, 1972, págs. 49/50, grifos e destaques nossos). Obs. Robert Morrison MacIver, escocês (1882-1970), professor de Ciência Política. c.1 - OUTRA FORMA DE NARRAR A ORIGEM DA SOCIEDADE: 1-Enquanto “NÔMADE” a associação humana não requeria demarcação territorial. 2-Tornando-se “SEDENTÁRIO” o homem se fixa no solo e constrói a sua casa. Surge o grupo familiar fixado ao solo. 3-Ensina Fustel de Coulanges: “Quando se constrói o lar é com pensamento e a esperança de que continue sempre no mesmo lugar. O deus ali se instala não por um dia, nem pelo espaço de uma vida, mas por todo o tempo em que dure essa família, e enquanto restar alguém que alimente a chama do sacrifício. Assim o lar toma a posse da terra; essa parte da terra torna-se sua, é sua propriedade”. Constava da Tábua Décima, Art.16, da Lei das XII Tábuas: “Que o vestíbulo de um túmulo jamais possa ser adquirido por usucapião, assim como o próprio túmulo”. Nos fragmentos não-classificados da Lei das XII Tábuas (os de Hotomano), Art.1: “Que os sacrifícios religiosos domésticos sejam perpétuos”. Obs. Vestíbulo= câmaras. 4-O solo inicialmente era coletivo, isto é, de todos e de ninguém ao mesmo tempo, já que ninguém podia aliená-lo (= vender, transferir). Com a fixação do grupo familiar, o solo deixará de ser propriedade coletiva para ser propriedade privada sagrada daquele lar, ou seja, “propriedade privada familiar”. 5- A família ocupava a terra e a ocupação era por tempo indefinido já que o solo era sagrado. O Professar César Fiúza ensina: “Cada família cultuava seus próprios deuses, chamados ‘lares’ ou manes. Nada mais eram que seus antepassados. Os romanos não acreditavam em céu. Os mortos continuavam vivendo, mas no território que haviam ocupado enquanto vivos. O termo manes é oriundo do verbo ‘maneo,-re” que significa permanecer. Deuses manes eram aqueles que permaneciam; eram deuses domésticos, os antepassados falecidos”. 6- A família detentora da propriedade privada a que se refere é a “patriarcal”, cujo chefe era o homem, único capaz de determinar as relaçõesde parentesco entre os membros da associação familial. Só para recordar: antes a família era em regime matriarcal, o macho raptava a fêmea e a fecundava, tudo em regime de promiscuidade sexual, gerando a incerteza da prole. Mas como os filhos nasciam e os pais não se responsabilizam, a mulher cuidava dos filhos que sabiam seus, embora de vários pais. Entre o regime matriarcal e patriarcal observou-se a “couvada”, um rito em que o homem assumia a mulher e o seu grupo familiar. 7-O grupo familiar romano é composto por duas classes de pessoas: o chefe - o paterfamilias – ou seja, o ascendente masculino vivo mais idoso, e os membros a ele subordinados (mulher,filhos,parentes, escravos, isto é, todos os membros da casa). Era uma família agnatícia (parentes sanguíneos e não-sanguíneos), pois se a natureza negasse filhos, a descendência masculina não poderia acabar já que também era responsável pelo Altar (religião e cerimônias fúnebres). Em Roma a família englobava os sanguíneos e os adotados porque se fosse família cognatícia (aquela por exclusiva consanguinidade natural dos membros) o culto poderia ser interrompido. 8-Cada família ocupava uma parte da terra por tempo indefinido. O chefe da cada família, ou seja, o paterfamilias, tinha o sagrado dever de conservar a propriedade e a família até a morte. Após a morte do paterfamilias, o filho varão mais velho assumia o seu lugar. Constava da Tábua Quinta, Art.2, da Lei das XII Tábuas: “Se o pai de família morre intestado, não deixando herdeiro seu (necessário), que o agnado mais próximo seja o herdeiro”. O Art. 7 dispunha: “Se o pai de família morre sem deixar testamento, ficando um herdeiro seu impúbere, que o agnado mais próximo seja o seu tutor”. Apesar da redundância é importante dizer que a chefia da família romana recaia ordinariamente no varão mais velho, e que este, como herdeiro, não podia jamais alienar o solo sagrado da família de seus ancestrais. 9- Observa-se até agora três modalidades de propriedade: - a propriedade coletiva, - a propriedade privada familiar, - e a propriedade dos tempos modernos: propriedade privada individual, sem restrições religiosas, podendo o proprietário aliená-la, caso queira. Reza o Art. 1.228 do CC: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”. 10 - Walter Vieira do Nascimento, acerca da origem da propriedade, tem excelente página: "... O ALTAR E O SOLO. (...) passemos ao exame da propriedade desde suas origens. Nesse sentido, esclarece Fustel de Coulanges: 'Quando se constrói o lar, é com o pensamento e a esperança de que continue sempre no mesmo lugar. O deus ali se instala, não por um dia, nem pelo espaço de uma vida, mas por todo o tempo em que dure essa família e enquanto restar alguém que alimente a chama do sacrifício. Assim o lar toma a posse da terra; essa parte da terra torna-se sua, é sua propriedade'. (...) Como se observa, estando a família ligada ao altar e a este solo, estabeleceu-se uma estreita relação entre a religião e a terra. Fixada a família no solo, aí se erguia o lar, que era também a morada dos deuses, erigindo-se nele o altar para a prática do culto. Portanto, através do lar, como entidade sagrada, o homem tomou a posse da terra e fez dela propriedade sua. Não seria, porém, a causa religiosa a única a concorrer para consolidar todo um processo de vida sedentária. Como consequência dessa transformação, pode-se apontar ainda uma solidariedade entre os membros de grupos que se foram organizando. Ligados por laços de parentesco e de vizinhança, eles puderam sustentar uma ajuda mútua, não somente do ponto de vista de segurança e defesa, como também de cooperação econômica (...). Na concepção que vem desde John Locke a respeito de um suposto estado de natureza anterior à sociedade, no sentido de que 'a propriedade era uma instituição humana justificada pelo direito natural', já se encontrava uma explicação para a sua origem, assim sintetizada por Michael Tigor & Madeleine Levy: 'No estado de natureza, o homem penetrava na floresta e começava a plantar. Misturava seu trabalho com a terra e produzia uma colheita. Outro abatia um cervo e combinava seu trabalho com a carne e o couro para fazer alimentos e vestuário. Os dois, graças a seu trabalho, criavam valores que não haviam existido antes e, por conseguinte, tinham direito natural a seu produto. O que poderia ser mais naturalmente certo do que eles negociarem suas propriedades como iguais?' (...). Em suma, abstraída a suposição do estado de natureza, a origem da propriedade móvel ou imóvel encontra-se igualmente em Locke o mesmo suporte de cooperação econômica. Portanto, nos dois elementos - o religioso e o econômico - podemos distinguir a fonte primordial dos bens patrimoniais". (Lições de História do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 11ª ed., 1999, págs. 60/61). Obs.: Dos fragmentos não classificados (Lei XII Tábuas), de Hotomano:"1. Que os sacrifícios religiosos domésticos sejam perpétuos". (Cic. De Leg. lib. 2). Prossegue Walter Vieira do Nascimento analisando o processo evolutivo da propriedade (de coletiva a individual): ".... PROPRIEDADE COLETIVA E INDIVIDUAL. É de se considerar a família vinculada a um grupo. Formado da reunião de famílias de um mesmo tronco, esse grupo aparece, pois, como um todo familiar. São exemplos mais recentes entre os povos antigos a fratria grega, a gens romana e a sippe germânica. Mas, por força de um processo de evolução, o vínculo grupal foi se tornando mais flexível e a propriedade, coletiva que era, começou a adquirir caráter individual. Resultou, conforme salienta Pontes de Miranda, que 'à formação histórica da propriedade individual presidiu o princípio do interesse da cada um. De modo que ficou esse em frente ao interesse grupal, mais antigo. Depois, com a quase absorção do interesse grupal pelo individual, o interesse grupal reagiu como antítese' (...). Em outras palavras, trata-se do processo pelo qual a propriedade fundiária obedeceu a uma evolução dividida nas seguintes fases: a) a da propriedade grupal; b) a da propriedade privada familial; c) a da propriedade privada individual. Na primeira fase, a terra em que se fixava a tribo era posta à disposição das famílias que a compunham, tendo sobre ela gozo temporário e não podendo aliená-la. Na segunda fase, cada família ocupava uma parte da terra por tempo indefinido, cumprindo ao chefe conservá-la até a morte, quando se transmitia aos herdeiros, que também não podiam aliená-la. Na terceira fase, desaparecendo quaisquer restrições, o proprietário pôde dispor livremente da sua terra, quando então se consolida a propriedade individual". (Lições de História do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 11ª ed., 1999, págs. 61/62). 11- Esclarecidos a respeito da fixação das famílias ao solo, avança-se para uma segunda etapa: a reunião em vizinhança destas várias famílias e o surgimento de comunidades mais amplas abrangendo estas famílias (poder-se-ia compará-las as cidades e até mesmo ao Estado de hoje). . Primeiro surgem as unidades familiares descendentes do mesmo tronco (vinculadas biologicamente + não-sanguíneos) e cultuadoras dos mesmos deuses. . Em seguida surgem as reuniões de unidades familiares diferentes para a proteção de interesses comuns, cultuando deuses ancestrais e outros novos deuses comuns ao grupo maior (deuses estaduais e posteriormente nacionais). Na Grécia são as gens ou genes: genes + genes = fátria. Em Roma são as gens ou genes: genes + genes = cúria. A cúria romana equivale a fátria grega. O crescimento das famílias (e dos grupos sociais ligados por interesses comuns levará a edificação da cidade-estado, isto é, da polis. A segurança dos cidadãos que inicialmente dependia mais do grupo a que pertencia passará a depender do Estado (polis).Por isso a história da “cidade”, ou seja, a históriado “Estado” ou de um “povo” deverá ser elaborada tomando-se em consideração quatro aspectos principais ligados a formação: • PRIMEIRO: A CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL- ADMINISTRATIVA (organização espacial da polis e seus equipamentos urbanísticos: ruas, bairros, cidade, região geográfica etc); • SEGUNDO: A CONSTITUIÇÃO SOCIAL (classes sociais da polis); • TERCEIRO: A CONSTITUIÇÃO POLÍTICA (formas de Estado e Governo e autoridades da polis); • QUARTO: AS FONTES DO DIREITO E O MODO DE DISTRIBUIR A JUSTIÇA. A respeito deste 4º aspecto, vale a leitura do seguinte texto: Presença do Direito na Sociedade: “Nem todos têm ideia de quanto o Direito se faz presente no meio social, de como está entrosado com quase tudo que se passa na sociedade, participando das mais simples às mais complexas relações sociais. É difícil praticarmos um ato que não tenha repercussão no mundo do direito. Como lembrou Ruggiero (Inst. de Direito Civil, vol. I, pp. 11/12), o camponês que, semeando o seu campo, deixa cair algumas sementes sobre o campo vizinho, pratica, embora ignore, um ato jurídico, pois dá origem a uma figura de acessão, a satio, tornando o vizinho proprietário da semente lançada e dos seus eventuais frutos. O fumante, que deita fora o resto do seu cigarro ou charuto, realiza um ato de derelicto, abandonando uma coisa sua. O banhista, que apanha na praia a concha preciosa trazida pelas ondas, pratica uma ocupatio, adquirindo a propriedade duma res nullius. Tenha ou não consciência disso, a dona de casa, quando adquire uma simples caixa de fósforo no quiosque ou gêneros alimentícios no supermercado, realiza um contrato de compra e venda. Diariamente, quando milhares de pessoas tomam o trem, ônibus, o metrô, ou outro qualquer transporte público, realizam, até inconscientemente, um contrato de transporte, através do qual, mediante o simples pagamento da passagem, a transportadora se obriga a levá-los incólumes ao ponto de destino. E se por infelicidade ocorrer um acidente do qual resulte lesão ou morte para alguém, segundo as regras do direito, será a transportadora obrigada a indenizar os prejuízos, envolvendo danos emergentes e lucros cessantes, isto é, tudo aquilo que a vítima efetivamente perder e aquilo que deixar de ganhar em razão do acidente, pelo restante de sua sobrevida. Como se vê, o Direito invade e domina a vida social desde as mais humildes às mais solenes manifestações, quer se trate de relações entre indivíduos, quer entre o indivíduo e o grupo social, como a família e o Estado, quer se trate ainda de relações entre os próprios grupos.” (Filho, Sérgio Cavalieri. “Programa de Sociologia Jurídica”, 11ª ed., RJ: Ed. Forense, pág. 11/12). Obs: compra e venda: Art. CC, contrato de transporte: Art. 730 do CC, acessão: Art. 1255/CC, ocupação: Art. 1263/CC, abandono: Art. 1275, III/CC). d) Principais teorias acerca da origem e justificativa do Estado (anotações próprias do professor, mais citações a partir de Aderson de Menezes (AM) e Quintão Soares (QS) e outros: principais marcos teóricos da teoria do Estado. Atenção: uma coisa é o surgimento fenomênico do Estado (o provir do Estado) e outra coisa são os fenômenos estatais pós-surgimento, os quais ocorrem a posteriori do provir estatal. Portanto, não confundir as teorias de origem do Estado com a formação histórica dos Estados (como iremos estudar a seguir). Aderson de Menezes a este respeito precatou: “O assunto de que se vai tratar, nem sempre posto nas devidas condições, diz respeito ao aparecimento primário, à gênese primitiva do Estado, cujo poder deve ser legitimado, desde aí, em jurisdição razoável, pela própria concepção de sua origem. Não se, pois, confundir a presente matéria, como o fazem alguns, com as transformações posteriores da sociedade política, nem mesmo que estas se relacionem com a formação histórica, através dos tempos, de novas entidades estatais. Aqui tem-se em vista saber como surgiu o Estado pela vez primeira, de que maneira e quando se originou a realidade política, justificando-se, por via desse conhecimento, a sua autoridade incontestável sobre os respectivos súditos, que a ela se amoldam e submetem, sem discutir mesmo se se cuida de um bem ou de um mal. Quanto às modificações que, na organização dos estados, possam ocorrer e que de fato ocorrem, constitui isso outra questão, fixada mais próxima a nós e a ser objeto de estudo à parte, sob o foco luminoso de outras doutrinas, também explicativas, do começo, do desenvolvimento e da extinção, modernamente, das sociedades estatais, bem como dos efeitos dessas alterações estruturais, referentemente à situação e aos interesses dos respectivos jurisdicionados” (AM, op. cit., pág.78, grifos nossos). Estas são as 5 principais teorias da origem do Estado. 1ª - Teorias da origem natural do Estado (O Estado decorre da ordem natural das coisas, isto é, da própria necessidade humana da vida em conjunto). Aderson de Menezes cita Darci Azambuja que cita Aristóteles compondo, lapidarmente, a explicação desta doutrina: “Para viver fora da sociedade, o homem precisava estar abaixo dos homens ou acima dos deuses, como disse Aristóteles, e vivendo em sociedade ele natural e necessariamente cria a autoridade e o Estado”. (AM, op. cit., pág.99). Esclarece ainda: “É que a noção exata do Estado, implicando a integração de três elementos: população, território e governo, ajuda o raciocínio segundo o qual a entidade estatal se originou quando um grupo humano, já comandado por uma autoridade definida e permanente, se fixou com ânimo definível e ainda permanente em uma área geográfica definitiva e também permanente, de sorte a adquirir sua existência nova e característica feição, já então não somente social, mas, ao mesmo tempo, jurídico-política. Existiram, em verdade, nas sociedades primitivas, tribos errantes que, apesar de conduzidas por chefias perfeitamente configuradas, não chegaram a constituir Estados, justamente porque lhes faltava o terceiro elemento, o territorial, embora gozassem da presença do núcleo populacional e da expressão governamental. Quer isso dizer que o nomadismo impediu a formação do Estado, que sendo como um produto da civilização, só apareceu no seio de coletividades sedentárias”. (AM, op. cit., pág.98). 2ª - Teorias teológicas da criação do Estado (Há duas principais doutrinas disputando provar que o Estado é obra de Deus). ✓ Doutrina do direito divino sobrenatural. Expoente desta doutrina: o religioso francês Bossuet (1627-1704). “... o estado é obra imediata de Deus, uma manifestação direta de seu poder no universo, designando o próprio Deus a pessoa ou família que, assim divinizada, vai exercer a autoridade estatal”. (AM, op. Cit., pág.81). - A autoridade estatal (o/a monarca) era o representante de Deus na terra, sendo ungido em cerimônia religiosa. Por isso detinha autoridade absoluta, prestando contas unicamente a Deus, pois segundo dizia o “rei sol “Luiz XIV, rei da França ... “está em Deus, e não no povo, a fonte de todo o poder”. - "O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. Os reis são deuses e participam de alguma maneira da independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê melhor..." (Bossuet). Disponível em <https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios- historia/exercicios-sobre-formacao-dos-estados-nacionais- modernos.htm> Acesso: 04 Jan 2022 - Esta doutrina, na prática, procurava dar justificativa a forma de governo monarquista absolutista, na qual a superioridade do monarca o faz independente de outros órgãos do Estado. ✓ Doutrina do direito divino providencial Expoente desta doutrina: na verdade dois, os franceses De Maistre (1753- 1821) e De Bonald (1754-1840). “... o Estado é instituído pela graça da Providência divina, que o conduz indiretamente, isto é, pela direção providencialdos acontecimentos e das vontades, porque os homens, dotados de livre-arbítrio, praticam seus atos e se organizam entre si, respondendo, no entanto, à onipresença de Deus”. (AM, op. cit., pág.81). - Também defendem a legitimidade monárquica. A diferença para a doutrina do direito divino sobrenatural é que para esta última a obra de Deus é imediata, direta, ou seja, é decretiva (Deus decide sem o uso de instrumentos secundários), e pela doutrina providencial a obra de Deus é mediata, indireta, ou seja, a vontade de Deus é prescritiva (aqui os homens, como elementos racionais secundários, ligam as vontades Deus- Homem). Poderíamos destacar o papel da classe sacerdotal (colegiado de sacerdotes) nesta mediação. 3ª - Teorias contratualistas da fundação do Estado Precisamos obter algumas noções para entendermos o contratualismo social (vale retornar ao texto sobre o véu da ignorância, uma metáfora de John Rawls). Consideram-se duas espécies de Estado, nominalmente tratados como “Estado da natureza” e como “Estado social” (equivalente a Estado civil, civil por ser da civitas). https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-historia/exercicios-sobre-formacao-dos-estados-nacionais-modernos.htm https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-historia/exercicios-sobre-formacao-dos-estados-nacionais-modernos.htm https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-historia/exercicios-sobre-formacao-dos-estados-nacionais-modernos.htm “Estado Natural, também chamado Estado de Natureza, é o estado anterior à constituição da sociedade civil. Todos os autores contratualistas admitem, de certa forma, um "estado de natureza". Alguns dos autores contratualistas, apesar de descreverem um "estado de natureza", admitem que ele possa nunca ter vindo a existir, mas que era preciso fazer essa construção para entender a formação da sociedade civil. É a ausência de sociedade. O que difere a sociedade humana das sociedades formadas por outras criaturas é a necessidade de regras para que haja organização dos interesses. A cultura faz com que o homem se emancipe dos outros animais. O ser humano, sendo dotado de razão torna-se livre. Estado Natural para Thomas Hobbes - No estado de natureza, segundo Hobbes, os homens podem todas as coisas e, para tanto, utilizam-se de todos os meios para atingi-las. Conforme esse autor, os homens são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um poder de violência ilimitado. Um homem só se impõe a outro homem pela força; a posse de algum objeto não pode ser dividida ou compartilhada. Num primeiro momento, quando se dá a disputa, a competição e a obtenção de algum bem, a força é usada para conquistar. Não sendo suficiente, já que nada lhe garante assegurar o bom usufruto do bem, o conquistador utiliza-se da força para manter este bem (recorre à violência em prol da segurança desse bem). Estado Natural para John Locke - Para John Locke, o Estado de Natureza não é apenas uma construção teórica, ele sempre existiu. Locke entendia que no Estado de Natureza as pessoas eram submetidas à Lei da Natureza o que era possível porque elas eram dotadas de razão. Nesta Lei da Natureza cada indivíduo poderia fazer o papel de juiz e aplicar a pena que considerasse justa ao infrator. Esta arbitrariedade individual é um dos principais motivos das pessoas buscarem entrar num Estado Civil. Ao contrário de Hobbes, na teoria de Locke não haveria uma guerra generalizada. De acordo com o Direito Natural, o ser humano tem direito sobre sua vida, liberdade e bens. A propriedade privada era definida no momento em que o ser humano misturava seu trabalho com a natureza: "Quando começaram a lhe pertencer? Quando os digeriu? Quando os comeu? Quando os cozinhou? Quando os levou para casa? ou quando os apanhou? E é evidente que se o primeiro ato de apanhar não os tornasse sua propriedade, nada mais poderia fazê-lo. Aquele trabalho estabeleceu uma distinção entre eles e o bem comum”, mas por que o Estado de Natureza continua existindo? Para Locke, "não é toda convenção que põe https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade https://pt.wikipedia.org/wiki/Civil https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_Natural https://pt.wikipedia.org/wiki/Propriedade_privada fim ao estado de natureza entre os homens, mas apenas aquela pela qual todos se obrigam juntos e mutuamente a formar uma comunidade única e constituir um único corpo político; quanto às outras promessas e convenções, os homens podem fazê-las entre eles sem sair do estado de natureza. Estado Natural para Rousseau - Diferentemente de Locke e Hobbes, Rousseau não acreditava que o estado de natureza seria uma etapa da história humana caracterizada por inconveniências que deveriam ser substituídas pela sociedade civil. Na verdade, Rousseau é conhecido por ser o filósofo do bom selvagem por atribuir características positivas ao estado de natureza. Na concepção de Rousseau, o ambiente natural seria como se fosse criado para servir as necessidades do homem. Por isso ele havia de ter poucas preocupações, tais como preservação, reprodução e alimentação. Outro ponto importante é o fato de que em estado de natureza, o homem primitivo vive em isolamento. A ausência de comunidades era consequência da falta de necessidade que um tinha do outro. A propriedade privada de qualquer espécie não existia, esporadicamente os machos e as fêmeas se encontrariam com fins reprodutivos e os filhos deixariam suas mães assim que estivessem aptos a se alimentarem por conta própria. Esse isolamento teria favorecido o surgimento de qualidades positivas ao homem natural, como a bondade, que é relacionada ao amor de si mesmo e a piedade. Da mesma forma, o isolamento teria inibido aspectos negativos como a ânsia de poder e glória, uma vez que estes dependem das opiniões alheias. Rousseau adiciona que essas características apenas fazem sentido para os que estabelecem algum tipo de relação social, logo elas não são uma realidade aos selvagens justamente pela falta de uma relação moral entre eles. A instituição da propriedade privada seria o marco do fim da liberdade natural encontrada no estado de natureza. Quando o homem cercou um terreno e definiu o que seria somente seu, ele é coibido a pensar em necessidades que não possuía. A coletividade sufocaria as qualidades naturais e despertaria paixões e vícios, que empobreciam e infelicitavam a vida em sociedade. Seria então um estado de guerra generalizada” (grifos e destaques nossos). Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_natural> Acesso: 07 Jan 2022. Com estes esclarecimentos, as teses seguintes serão mais bem compreendidas: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_natural ✓ Do inglês THOMAS HOBBES (1588-1679), autor da obra “Leviatã ...”: - Na Bíblia há menções alegóricas a um monstro marinho devorador (uma espécie de serpente ou crocodilo): Cap. 41 do Livro de Jó e em Livro do profeta Isaías (cap. 27). Hobbes compara o Estado ao Leviatã e os súditos as escamas desta criatura aquática. - Hobbes sustenta que o Estado é como que o Leviatã, monstro cuja criação se deve ao fato de que os seres humanos acabaram por reconhecer esta necessidade organizativa como apta para a promoção do bem comum. - A ideia de “bem comum” está conectada com a de “poder comum”. Quintão Soares - com mira na figura do Leviatã - ensina: “Tal figura metafórica está intimamente ligada à imagem de alienação dos direitos e da própria vontade dos súditos (outorga de poder através de contrato social) em favor do soberano. Embora de tendência absolutista ... Constrói o fundamento de sua compreensão autocrática de poder, em perspectiva laica, ao estabelecer como paradigma para
Compartilhar