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Teorias do Estado 1 sem 2022

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CURSO: TEORIAS DO ESTADO - FMD - 1º PERÍODO - 1º SEMESTRE 2022 
PROFESSOR DOUTOR DIMAS FERREIRA LOPES (resumos para apoio das aulas) 
DISCENTE: 
 
A) EMENTA DO CURSO 
A Sociedade e o Estado. Formação, elementos e finalidade do Estado. Evolução do 
Estado Moderno até a Contemporaneidade. Formas de Estado. Sistemas e regimes 
políticos. Formas de Governo. O Federalismo brasileiro. Teoria da Separação dos 
Poderes. 
 
B) CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DO CURSO (UNIDADES DE ENSINO) 
 
1. APRESENTAÇÃO DAS TEORIAS DO ESTADO E DE SEUS CONCEITOS 
 1.1 Ciência Política e Teoria do Estado. 
 1.2 Evolução histórica. 
1.3 O público e o privado no Estado (liberdade X legalidade) 
1.4 O fenômeno político: poder e legitimidade 
2. ORIGEM DA SOCIEDADE 
2.1 Teorias da origem natural do Estado 
2.2 Teorias contratualistas do Estado 
 2.3 Principais marcos teóricos da Teoria do Estado 
 3.SURGIMENTO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO 
3.1 O Estado oriental (antigo) 
 3.2 O Estado grego. 
 3.3 O Estado romano 
 3.4 O Estado medieval. 
 3.5 Estado e Iluminismo 
 3.6 Estado de Direito e Constitucionalismo 
 
4. ESTADO MODERNO 
4.1 Elementos constitutivos: povo, território e poder soberano 
 4.2 Estado e nação 
4.3 Povo e nacionalidade 
4.4 Território 
4.5 Soberania: o componente político-jurídico do Estado 
5. ORGANIZAÇÃO DE ESTADOS 
5.1 Formas de Estado 
 5.2 Formas de Governo 
5.3 Sistemas de Governo 
 5.4 Regimes Políticos 
 
C) Regime Presencial (sujeito a alterações) 
 
D) Material didático 
 
Para o desenvolvimento do plano de estudo, o aluno terá acesso à textos, vídeos e 
atividades de fixação dos conteúdos ministrados (resumos facilitadores das exposições 
e debates). 
Visando a eficácia do ensino-aprendizagem, o professor, conforme a estimação 
cognitiva da turma, executará salas de aulas invertidas, seminários, GV-GO, e outros 
recursos didático-pedagógicos. 
 
E) Avaliações 
 
Para o regime presencial 
O aluno será submetido a avaliações que totalizam 100 pontos, sendo 30 deles 
reservados à prova global. Os 70 pontos restantes serão assim distribuídos: 
 
• 20 pontos: trabalho (tema e data serão definidos e comunicados 
oportunamente a turma, podendo ser individual ou em grupo; escrito ou 
expositivo); 
• Duas provas no valor de 25 pontos cada uma delas (temas e datas serão 
definidos e comunicados oportunamente a turma, podendo ser individual ou em 
grupo; escrita ou expositiva); 
• PROVA SUBSTITUTIVA - o aluno poderá realizar apenas a substitutiva de uma 
das 3 notas distribuídas anteriormente a prova global. A data desta prova 
substitutiva será informada e aplicada entre a 3ª avaliação e com a devida 
antecedência da prova global; 
• PROVA ESPECIAL – o aluno que não totalizar 30 pontos nas 3 avaliações 
anteriores a prova global não terá direito à prova especial, pois estará 
matematicamente impossibilitado de alcançar os 60 pontos mínimos de 
aprovação. 
 
Para o regime não-presencial (caso venha a ser determinado) 
 
• O aluno será submetido a avaliações que totalizam 100 pontos, sendo 30 deles 
reservados à prova global. Os 70 pontos restantes serão assim distribuídos: 
• Duas provas no valor de 35 pontos cada uma delas (temas e datas serão 
definidos e comunicados oportunamente a turma, podendo ser individual ou em 
grupo; escrita ou expositiva); 
• PROVA SUBSTITUTIVA - o aluno poderá realizar apenas a substitutiva de uma 
das 2 notas distribuídas anteriormente a prova global. A data desta prova 
substitutiva será informada e aplicada entre a 2ª avaliação e com a devida 
antecedência da prova global; 
• PROVA ESPECIAL – o aluno que não totalizar 30 pontos nas 2 avaliações 
anteriores a prova global não terá direito à prova especial, pois estará 
matematicamente impossibilitado de alcançar os 60 pontos mínimos de 
aprovação. 
 
Espaço reservado para o aluno anotar as datas das atividades avaliativas: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bom curso. 
I. APRESENTAÇÃO DAS TEORIAS DO ESTADO 
 
1. Ciência Política e Teorias do Estado 
 
Há ciência e há ciências. E dentre as ciências há a ciência política. Há ciência política e 
há teorias acerca das matérias estudadas pela ciência política. E dentre estas teorias há 
as teorias acerca do Estado, sua origem e evolução histórica, seus elementos 
constitutivos etc. 
O Estado é a matéria nuclear estudada pela ciência política. 
 
1.1 - Ciência e ciências 
O vocábulo latino ciência (scientia) se emprega no singular como sinônimo de 
conhecimento, ou seja, de informações obtidas pelo ser humano para a compreensão 
da realidade. No plural, ciências são a reunião de todos os conhecimentos específicos, 
isto é, os conhecimentos acerca das variadas realidades das quais se buscam as 
compreensões. O somatório dos conhecimentos específicos compõe o conjunto 
“conhecimento”. 
A doutrina informa as mais variadas classificações das ciências. Mencionaremos algumas 
destas classificações para, a partir das mesmas, situarmos a “Ciência Política” como um 
dos conhecimentos específicos componentes do conjunto “conhecimento”. 
Para Aristóteles as ciências são as “do pensar”, as “do produzir” e as “do agir”. Filosofia 
e matemática, por exemplo, são ciências teóricas (do pensar), dialética e retórica, por 
exemplo, são ciências poéticas (do produzir), ao passo em que a moral, a economia e a 
POLÍTICA são ciências práticas (do agir). 
Para André-Marie Ampère as ciências são da matéria ou do espírito: da matéria ou 
cosmológicas estudam a organização do universo, do espírito ou noológicas estudam a 
mente e o espírito humanos. 
As ciências da matéria são de 2 tipos: 
• primeiro tipo - cosmológicas propriamente ditas: a matemática, a física e a 
química; 
• segundo tipo - fisiológicas (a medicina, a zoologia e a botânica). 
 As ciências do espírito também são de 2 tipos: 
• primeiro tipo - noológicas propriamente ditas: a filosofia e a linguística; 
• segundo tipo – sociais (a antropologia, a POLÍTICA). 
 
 
 
CLASSIFICAÇÃO MAIS USUAL - as ciências seriam de 4 tipos: 
➢ Ciências matemáticas (estudo da quantidade considerada em número, 
em extensão etc.). São de 2 tipos: 
a) teóricas (aritmética, álgebra, geometria); 
b) aplicadas (mecânica e astronomia). 
 
➢ Ciências físico-químicas (estudo da matéria inorgânica considerada 
quanto às propriedades do que é inanimado): física, química, 
mineralogia, geologia. 
 
➢ Ciências biológicas (estudo da matéria orgânica considerada quanto às 
propriedades do que é animado, ou seja, das manifestações vitais): 
botânica, zoologia, antropologia. 
 
➢ Ciências Humanas, também chamadas de ciências morais (estudo do 
“homem como ser inteligente, livre e social, considerado em si e em seus 
atos”). São de 3 espécies: 
a) psicológicas (estuda o ser humano em si): psicologia, lógica, ética; 
b) históricas (estuda o ser humano e sua atuação no tempo e no 
espaço): história, arqueologia; 
c) sociais (estuda o ser humano relacional, ou seja, as relações entre as 
pessoas): sociologia, direito e POLÍTICA. 
 
1.2 - Ciência política à luz das classificações das ciências: 
- Na concepção aristotélica a ciência política é uma ciência prática, uma ciência do agir. 
Não é uma ciência teórica, nem poética; 
- Na concepção amperiana a ciência política é uma ciência do espírito do tipo social. Não 
é ciência material; 
- Na concepção atual de ciências a ciência política é uma ciência humana (ou ciência 
moral, como alguns se referem a ciência humana). Sendo a ciência humana o gênero, a 
ciência política é uma das suas três espécies, a saber, ciência social. Não é ciência 
psicológica, nem ciência histórica. 
 
1.3 - Teoria e teorias do Estado. 
 
O vocábulo “teoria” aliançado ao vocábulo “Estado” para formar a expressão “teorias 
do Estado” emerge do conceito de “política”. Vale conferir. 
Política: o vocábulo possui variadas conceituações. Iremos distinguir duas delas. A 
segundaconceituação distinguida é uma progressão do primeiro conceito, permitindo-
se cogitar - desta evolução - uma definição que inclua teorias ao Estado: 
- Primeiro conceito: Política como arte de governar (“ciência régia”, na expressão de 
Platão. Régia vem de reger, palavra que traduz a ideia de exercer a função de regente, 
governador, chefe, administrador etc.); 
- Segundo conceito: Política como teoria do que é governado. Ora, o Estado tem um 
elemento diretivo, e, por isso, é um grupo social com governantes e governados. Os 
grupos sociais são, grosso modo, formados a partir de relações interpessoais, como são, 
por exemplo, as relações estabelecidas entre governantes e governados. Ensina o 
professor Darcy Pereira Azambuja (1903-1970, jurista que foi professor da PUC e da 
UFRGS): 
“O Estado aparece, assim, aos indivíduos e sociedades, como 
um poder de mando, como governo e dominação (...). Deixando 
de lado, por enquanto, o problema de quem deve governar, é 
evidente que essa função tem de ser exercida por alguém, e os 
que a exercem legitimamente têm o direito de exigir a 
obediência dos governados (...). A autoridade é intrínseca ao 
Estado, é o seu modo de ser, e o poder é um de seus elementos 
essenciais”. (Azambuja, Darcy. Teoria Geral do Estado. Porto 
Alegre: Editora Globo, edição de 1978, p.5). 
 
“De fato, é o supremo e legal depositário da vontade social e 
fixa a situação de todas as outras organizações”. (Azambuja, 
Darcy. Teoria Geral do Estado. Porto Alegre: Editora Globo, 
edição de 1978, p.4). 
 
Observemos o quadro didático abaixo para identificarmos a natureza das relações 
interpessoais de alguns grupos sociais, conforme poderão ser identificadas a partir da 
letra das leis que os mencionam direta ou indiretamente: 
Tipos de grupos sociais 
Quanto à duração Temporários: Black blocs, multidão (Art. 65, III, “e” do CP), 
festas, shows 
Duráveis: empresa, família. (Art. 1571, III e Art. 1.033, II e III do 
CC e Art. 226 da CF) 
Permanentes: classes sociais, igreja, Estado (Arts 5º, VI e 18 da 
CF) 
Quanto à dispersão Reunidos periodicamente: reuniões ordinárias e 
extraordinárias (Arts 1350 e 1355 do CC) 
Reunidos permanentemente: família, pensionatos, “repúblicas 
estudantis”, conventos 
Quanto à formação Voluntários: sociedades filantrópicas, sindicatos, partidos 
políticos (Arts. 5º, XVII, 8º, I e 17 da CF) 
Impostos: Estado, igreja, castas e classes sociais 
 
 
ARTIGOS DE LEIS CITADOS NO QUADRO DIDÁTICO (a partir da leitura dos artigos de lei 
poder-se-á graduar a natureza das relações interpessoais, ou seja, onde há o 
estabelecimento de organização/sistematização destas relações e onde estas relações 
estão diluídas ou inexistentes): 
 
Art. 65, III, “e” /CP São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: e) 
cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou. 
 
At. 1.571, III/CC A sociedade conjugal termina: III - pela separação judicial. 
 
Art. 1.033, II e III/CC Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: II - o consenso unânime 
dos sócios; III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo 
indeterminado. 
 
Art. 5º, VI/CF Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do 
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes: VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o 
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de 
culto e a suas liturgias. 
 
Art. 18/CF A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil 
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, 
nos termos desta Constituição. § 1º - Brasília é a Capital Federal. § 2º - Os Territórios 
Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao 
Estado de origem serão reguladas em lei complementar. § 3º - Os Estados podem 
incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou 
formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população 
diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei 
complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de 
Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei 
Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às 
populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade 
Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. 
 
CF. Art. 226: A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
 
Art. 1.350/CC Convocará o síndico, anualmente, reunião da assembleia dos 
condôminos, na forma prevista na convenção, a fim de aprovar o orçamento das 
despesas, as contribuições dos condôminos e a prestação de contas, e eventualmente 
eleger-lhe o substituto e alterar o regimento interno. 
 
Art. 1.355/CC Assembleias extraordinárias poderão ser convocadas pelo síndico ou por 
um quarto dos condôminos. 
 
Art. 1.566, inc. II/CC São deveres de ambos os cônjuges: II - vida em comum, no domicílio 
conjugal. 
 
At. 1.571, III/CC A sociedade conjugal termina: III - pela separação judicial. 
 
Art. 5º, XVII/CF Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XVII - é 
plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; 
 
Art. 8º, inc. I/CF É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não 
poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão 
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical; 
 
Art. 17 §§ 1º e 2º /CF É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos 
políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o 
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os 
seguintes preceitos: (...) § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir 
sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha 
e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as 
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus 
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. § 2º - Os partidos 
políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus 
estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. 
 
Identificamos que a letra da lei traz em si elementos valorativos, ou seja, uma operação 
que elege e juridicializa situações da vida em sociedade (izar é um sufixo que equivale a 
converter algo). Ora, juridicizar é convertar algo que não é jurídico em jurídico. Esta 
operação recebe o nome de fenomenologia da juridicização. De maneira simples 
podemos afirmar que se são os valores que fundamentam as normas, todas as normas 
têm relações com fatos e eventos da vida humana. Esta eleição do não-jurídico em 
jurídico cinge-se a opções tomadas em razão das deliberações políticas. 
 
De modo amplo, as teorias do Estado são mesmas de tríplices enfoques: 
 
✓ Teoria social do Estado 
✓ Teoria jurídica do Estado 
✓ Teoria política do Estado 
 
 
 
2 As teorias social, jurídica e política do Estado serão objeto de tratativas ao longo do 
curso. 
 
2.1 NA CIRCUNSCRIÇÃO DA TEORIA SOCIAL DO ESTADO estudaremos de acordo com as 
unidades de ensino: 
• ORIGEM DA SOCIEDADE: Teorias da Origem Natural do Estado; Teorias 
Contratualistas do Estado etc. 
• SURGIMENTO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO: o Estado oriental antigo, o 
Estado grega; o Estado romano; o Estado medievaletc. 
• ESTADO MODERNO: Elementos constitutivos: povo, território e poder 
soberano; Estado e Nação, Povo e Nacionalidade etc. 
 
2.2 NA CIRCUNSCRIÇÃO DA TEORIA JURÍDICA DO ESTADO estudaremos de acordo com 
as unidades de ensino: 
• ORGANIZAÇÃO DE ESTADOS (Formas de Estado; Formas de Governo). 
 
2.3 NA CIRCUNSCRIÇÃO DA TEORIA POLÍTICA DO ESTADO estudaremos de acordo com 
as unidades de ensino: 
• SISTEMAS DE GOVERNO 
• REGIMES POLÍTICOS 
 
3. Conceito para a disciplina 
 
“A Teoria do Estado...deve ter como objeto a descrição e interpretação do 
conteúdo estrutural da realidade política do Estado, com seus fundamentos e 
suas contradições” (Soares, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado: novos 
paradigmas em face da globalização – 4ª ed. – São Paulo: Atlas, 2011. 
A advertência crítica do professor Quintão Soares (PUC Minas) é relevante porque expõe 
a existência de contradições teóricas e, bem por isso, nos anima a estudar a disciplina 
Teorias do Estado (no plural), a qual já foi denominada de Teoria Geral do Estado. É a 
partir desta menção - TGE - que recolhemos uma antiga definição, por ser bem analítica, 
e que permitirá o desenvolvimento crítico de nosso curso ao enfoque tríplice das teorias 
social, jurídica e política do Estado, e o que de dissensão intelectiva nelas há, bem como 
o novel (algo teórico novo, por exemplo, são os novos paradigmas estatais em face da 
globalização, a sobreestatalidade, a soberania compartilhada etc.). 
Eis o conceito-farol que adotamos para os nossos estudos: 
“Teoria Geral do Estado é a ciência geral que, na análise dos fatos sociais, 
jurídicos e políticos do Estado, unifica esse tríplice aspecto e elabora uma síntese 
que lhe é peculiar, para estudá-lo e explicá-lo na origem, na evolução e nos 
fundamentos de sua existência” (Menezes, Aderson de. Teoria geral do estado. 
Rio de Janeiro: Forense, 3ª edição, 1972, p. 30). 
O formidável professor Anderson de Menezes (1919-1970) foi titular da disciplina TGE 
na Universidade de Brasília. No índice da referida 3ª edição de sua obra Teoria Geral do 
Estado, com excelente didática, apresenta uma introdução ao estudo e um estudo 
complementar acompanhados de 3 PARTES. 
 Estas três partes nos interessam. São elas: 
- Primeira Parte: TEORIA SOCIAL DO ESTADO (o estado; origem e justificação do estado; 
evolução histórica do estado; elementos constitutivos do estado; soberania; formação, 
modificação e extinção de estados); 
- Segunda Parte: TEORIA JURÍDICA DO ESTADO (formas de estado; formas de governo; 
constituição; constituinte e constitucionalidade; poderes do estado); 
- Terceira Parte: TEORIA POLÍTICA DO ESTADO (democracia; sistema representativo; 
parlamentarismo; presidencialismo; voto, eleição e mandato). 
Passemos a estudar sequencialmente estas 3 partes, iniciando-se pela Teoria Social do 
Estado. 
 
II - TEORIA SOCIAL DO ESTADO 
a) Situando a temática “teoria social do Estado” 
 
 O professor doutor Mário Lúcio Quintão Soares, na 4ª edição de sua excelente obra 
Teoria do Estado, em índice, cuida do aspecto teórico social do Estado, dentre outras, 
com as seguintes rubricas marcadas pelo novel e pelo crítico: 
- A sociedade como substrato da realidade política do Estado. 
 
- O Estado (principais teorias sobre o advento do Estado etc.). 
 
- As complexas sociedades modernas. 
 
 
Quintão Soares discorre sobre o conceito de sociedade, sobre a relação entre Estado e 
sociedade, e, no que intitula de “marcos teóricos para a compreensão do Estado 
Moderno”, visita a evolução histórica do Estado desde o legado greco-romano até os 
dias atuais (Confira: Soares, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado: novos paradigmas 
em face da globalização – 4ª ed. – São Paulo: Atlas, 2011). 
 
 
O já citado professor Anderson de Menezes, no índice da 3ª edição de sua obra Teoria 
Geral do Estado, trata da Teoria Social do Estado com os seguintes subtítulos: o Estado 
- origem e justificação do Estado; evolução histórica do Estado; elementos constitutivos 
do Estado; soberania; formação, modificação e extinção de Estado. 
Verifica-se que ambos cuidam da evolução histórica do Estado, do fenômeno político 
“poder e legitimidade”, tangendo o público e o privado no estado (Liberdade X 
Legalidade) etc. 
 
b) Evolução breve do conceito de ESTADO: status e Estado 
 
Isoladamente o vocábulo latino status expressa mais de uma sinonímia. Vejamos 
algumas destas definições dicionarizadas. 
Até hoje, por exemplo, o status de uma pessoa significa algo associado às suas 
condições, como à condição honorífica (situação no quadro das classes sociais: rica, 
pobre, classe média etc.), ou à sua condição jurídica (situação no rol legal das 
capacidades: menor de idade, maioridades civil e penal, relativamente incapaz, solteira, 
casada, nascida com vida, natimorta, em estado de coma etc.), ou ainda às suas 
condições física, psicológica, religiosa (situação clínica de apta ou inapta medicamente 
para certas atividades, estado de graça/beatitude etc.) etc. 
No mundo das mídias do século XXI, os navegantes têm perfis nos quais há menções 
nominais a seus status, completados muitas vezes com informações da seguinte 
natureza: “em relacionamento sério” etc. 
Há também o status das coisas, como, por exemplo, os estados físicos da matéria (sólido, 
líquido e gasoso). 
O antigo Direito Romano fazia menção a status como sinônimo da situação do ser 
humano. Em apostila de estudos por mim elaborada, fiz este destaque: 
➢ Da INSTITUTAS, de Justiniano, lê-se que: “vejamos antes as pessoas, 
pois é conhecer pouco o direito, se desconhecemos as pessoas, em 
razão das quais ele foi constituído” (Et prius de personis videamus. 
Nam parum est jus nosse, si personae, quarum causa constitutum est 
ignorentur). 
 
➢ Tipos de pessoas a luz do Direito: 
 → referindo-se a pessoa humana: pessoa física 
 → referindo-se a ente moral: pessoa jurídica 
 
Obs- Quase-pessoas jurídicas – Art. 75. Serão representados em 
juízo, ativa e passivamente: V - a massa falida, pelo administrador 
judicial; VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador 
➢ A expressão “ter pessoa” significa ter personalidade. Ter personalidade é 
ter aptidão ou capacidade. “Ser pessoa” é estar apta, estar capaz. Quem está 
apta ou capaz é apta ou capaz para direitos e deveres na ordem civil, isto é, no 
e/ou para os negócios da cidade (= para os negócios da civilis). São os cidadãos: 
homens com cidadania. 
✓ PESSOA FÍSICA 
 
→ em tese, bastaria ser homem para ser reconhecido como pessoa. Mas 
nem sempre foi assim. Na cidade de Roma nem todo homem era pessoa. Existiam várias 
classes de homens, e a nem todas elas serão atribuídas “pessoa”, isto é, capacidade civil. 
→ capacidade: 
▪ de gozo (ou personalidade): aptidão para adquirir direitos, isto é, 
adquirir “coisas” (coisa é o que pode ser possuído, bem é o que é 
possuído), e ficar sujeito a obrigações (= deveres). 
▪ de exercício (capacidade pp. dita): ter atributos para exercer os 
próprios direitos. 
 
- Status é o nome que os romanos davam para a condição civil da capacidade. 
- Em Roma para “ter” ou “ser” pessoa, isto é, ter personalidade, o homem se submetia 
a 2 ESPÉCIES DE CONDIÇÕES: 
 
Primeira: condição natural (status naturalis): nascimento perfeito X 
monstriparidade: formas monstruosas não eram filhos. 
O monstro romano ou da antiguidade (muitas vezes apontados como 
resultado do coito humano com animais, demônios disfarçados) se referia aquele tipo 
anormal pela grandeza da deformidade física. Era uma espécie de “erro da natureza”, 
uma transgressão a ordem natural. Foi substituído pelo “monstro da modernidade”, ou 
seja, aquele que comete erro de conduta, o transgressor da ordem civil. São de dois 
tipos: 
- Pessoa com profundo distúrbio de comportamento, que não poderia ser 
reconhecida como ser humano de “comportamento normal” (ex: estupradores, 
pedófilos, assassinos etc.), 
- Aquele patológico:comete crime sem motivo algum (“monstro jurídico”). 
Em Roma o nascituro tinha direitos assegurados. Obs. O Art. 2º do CCB 
também resguarda os direitos do nascituro. Naciturus pro iam nato habetur si de eius 
commodo agitur: o nascituro já se considera nascido para o que lhe traz vantagem 
(Paulo, Dig. 1.5,7). 
Segunda : condição artificial (3 status não-naturais). São eles: 
 
❖ Status libertatis: “A suma divisão do direito das pessoas é esta, a saber: 
todos os homens ou são livres ou são escravos” (GAIO). 
A escravidão foi abolida no Brasil pela Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888, 
conhecida por “Lei Áurea”. 
 
❖ Status civitatis: “politicamente considerado o primeiro estado do homem 
é de nacional (cidadão romano) ou estrangeiro”. Obs: estrangeiro = peregrino 
(aquele que não tinha regalias na “cidade” de Roma). 
 
 A CRFB discrimina no Art. 12 quem são os brasileiros natos e 
naturalizados, quais são os cargos privativos de brasileiros natos, e as 
hipóteses da perda de nacionalidade. A Lei 6.815/80 (Estatuto do 
Estrangeiro) define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil e cria o 
Conselho Nacional de Imigração. A Lei de XII Tábuas alertava: “Adversus 
hostem aeterna auctoritas” (Contra o estrangeiro, eterna garantia). 
 
❖ Status familiae: família romana é o conjunto de pessoas colocadas sob o 
poder de um chefe – o paterfamilias (difere da família moderna, constituída pelo 
casamento do chefe). A unidade familial romana era de base patriarcal (mulher 
não a chefiava), e era composta de 2 classes de pessoas: 
 
• o detentor da capacidade plena de direitos, o sui iuris: o 
paterfamílias. 
• os subordinados ao paterfamilias (alieni juris), que eram de duas 
classes: 
➢ os de parentesco natural ou sanguíneo (cognatio) 
➢ os de parentesco civil (agnatio) = adotados (filhos e filhas, 
mulheres, escravos). 
 
A CF no § 6º do Art.227 e o Art. 1.596 do CCB - na mesma linha do direito 
romano - prescrevem que os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por 
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações 
discriminatórias relativas à filiação. 
 - Em resumo: 
Em Roma para que um ser humano pudesse ser considerado como uma pessoa natural 
apta a titularidade plena de direitos e obrigações na vida da cidade, necessário era, 
além, é claro, do nascer fisicamente perfeito, que nascesse do sexo masculino e não 
feminino, que fosse livre e não escravo, que fosse cidadão romano e não estrangeiro, e 
que fosse paterfamilias. Isto é que era ter as “três cabeças” dos 3 status. 
No Brasil “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil” – Art.1º do CCB. Até 
porque a “DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANO”, aprovada em 
10/12/1948, pela Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é 
signatário, ter estabelecido nos Arts. I, IV, VI, XVI que: 
Art. I – Todos os seres humanos nascem livres e iguais, em 
dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e 
devem agir em suas relações com espírito de fraternidade. 
 
Art. IV – Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a 
escravidão e o tráfico de escravos são proibidos em todas as suas 
formas. 
 
Art.VI - Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, 
reconhecido como pessoa perante a lei. 
 
Art. XVI – 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer 
restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de 
contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais 
direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno 
consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo natural e 
fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade 
e do Estado. 
 
b.1 - Quem estabeleceu mais palpavelmente a conexão entre “status” e “governo e 
circunscrição governada” foi o filósofo e diplomata italiano Nicolau Maquiavel (1469-
1527), a quem se diz ter sido ele o “fundador da ciência política moderna”. Na sua obra 
O Príncipe, de 1513, registrou que: 
“Todos os estados que existem e já existiram são ou foram sempre 
repúblicas ou monarquias” 
Ou com a seguinte tradução: “Todos os estados, todos os domínios que tiveram e têm 
poder sobre os homens, são estados, e são ou repúblicas ou principados”. 
Para Maquiavel, sob a rubrica “estado”, governa-se de duas maneiras ou modos: as 
repúblicas são governadas por mais de uma pessoa (como uma espécie de vontade 
coletiva), e os principados/monarquias têm a sua regência na vontade de uma só pessoa. 
 O filósofo e historiador italiano Norberto Bobbio (1909-2004) ensina: 
“...Maquiavel substitui a tripartição clássica, aristotélica polibiana, por uma 
bipartiação. As formas de governo passam de três a duas: principados e 
repúblicas. O principado corresponde ao reino; a república, tanto a aristocracia 
como à democracia”. Disponível em: < https://www.studocu.com/pt-
br/document/universidade-do-vale-do-itajai/ciencia-politica/teoria-politica-de-
maquiavel-norberto-bobbio/4869320> Acesso 01 Jan 2022. 
https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-do-vale-do-itajai/ciencia-politica/teoria-politica-de-maquiavel-norberto-bobbio/4869320
https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-do-vale-do-itajai/ciencia-politica/teoria-politica-de-maquiavel-norberto-bobbio/4869320
https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-do-vale-do-itajai/ciencia-politica/teoria-politica-de-maquiavel-norberto-bobbio/4869320
Para Aristóteles existiam seis formas de governos: a monarquia, a aristocracia e a 
politeia ou democracia, as quais, respectivamente, se degeneravam por meio da tirania, 
da oligarquia e da demagogia ou olocracia: 
 
• Monarquia - rei tem poder supremo X Tirania - poder supremo obtido de forma 
corrupta 
• Aristocracia - alguns nobres detém o poder X Oligarquia - poder detido por um 
grupo que o exerce de forma injusta 
• Democracia ou Politeia - povo detém o controle político X Demagogia ou 
Olocracia - poder exercido por multidões/turbas/ classes ou facções populares 
 
Políbio é um historiador grego. Para ele, rigorosamente, também seriam seis as formas 
de governo: realeza ou reino, tirania, aristocracia, oligarquia, democracia e oclocracia. A 
título de curiosidade: 
“Políbio - Formas de governo 
Realeza - Primeira forma de governo, que surge naturalmente 
Tirania - Forma degenerada associada à realeza 
Aristocracia - Surge após a queda da tirania, distribuindo o poder para um grupo 
de pessoas 
Oligarquia - Degeneração da aristocracia, cujo grupo busca o benefício próprio 
Democracia - Resultado da evolução da oligarquia, deixando o poder nas mãos 
da maioria 
Oclocracia - Degeneração da democracia, quando a turba passa a cuidar da vida 
política com ilegalidade 
Governo misto - Forma de governo que é uma junção da realeza, aristocracia e 
democracia” . Gallo, Rodrigo Fernando. A teoria das formas de governo na Antiguidade 
in RÓNAI: REVISTA DE ESTUDOS CLÁSSICOS E TRADUTÓRIOS – 2013 V1.N2 pp. 79 - 93 – 
ISSN: 2318-3446 - UFJF – JUIZ DE FORA. 
 
Verifica-se, pois, no particular do conceito de ESTADO, o relevante contributo de 
Maquiavel que, ao estabelecer a conexão entre “status” e “governo e circunscrição 
governada”, facilitou a popularização do vocábulo status como equivalente de entidade 
que interliga poder e política. 
Na compreensão conceitual de Estado há algumas noções que poderíamos predicar de 
tormentosas na medida em que, embora sejam elementos fundantes do conceito [de 
Estado] - e por isso nele [conceito de Estado] noções sempre consideradas -, são noções 
variáveis, haja vista as multíplices formas de suas concepções, suscitando por 
conseguinte debate interminável sobre a extensão conceitual destas noções. 
Quando nos referimos a multíplices formas de concepções estamos tratando de 
cosmovisões, isto é, da maneira de uma pessoa se colocar numa determinada posição 
sobre as questões filosóficas políticas. 
https://www.todamateria.com.br/monarquia/https://www.todamateria.com.br/aristocracia/
Quando nos referimos a extensão conceitual estamos considerando a “pluralidade de 
coisas que está contida sob um conceito”, como o concebe Kant. Cf. Renato Duarte 
Fonseca, Predicação e extensão conceitual em Kant: problemas. Disponível em 
<https://www.scielo.br/j/man/a/vsfvbtR4DQvwgQqNKwwdfgJ/?lang=pt> Acesso: 01 Jan 
2022. 
As noções variáveis - e por esta razão tormentosas - envolvendo Estado e fenômeno 
político são resumidamente as cosmovisões sobre as relações: estado e poder, poder e 
liberdade, liberdade e legitimidade, legitimidade e legalidade etc. 
Para ilustramos estas problemáticas selecionaremos alguns textos, ainda que não 
tenhamos estudado até esta altura do curso as teorias estatais (serão estudadas nesta 
disciplina nas próximas aulas). 
Uma destas doutrinas é a contratualista. Para o momento, baste que se tenha em mente 
algo simples assim: contratualistas são aqueles que acreditam que a sociedade humana 
e o Estado foram originados por um acordo ou contrato estabelecido entre cidadãos 
autônomos. Uma espécie de super reunião. Fica interessante imaginarmos este 
momento de criação. 
Os contratualistas de modo geral (Hobbes, Spinoza, Grotius, Puffendorf, Tomasius, 
Locke e Rousseau) concebiam um estado natural da vida humana antecedente ao estado 
social desta vida humana (o estado social é também chamado de estado civil), algo 
apreendido teoricamente pela razão. 
O jusfilósofo estadunidense John Rawls (1921- 2002), tal qual os contratualistas, 
considerava este estado natural uma abstração imaginativa: 
“Rawls deixa claro, quanto à natureza dessa abstração, que não se trata de um 
ponto de vista transcendente à vida humana concreta, mas antes imanente a 
ela. É neste ponto que a posição originária de Rawls supera as abstrações 
contratualistas em torno ao estado natural: somente é possível orientar a 
conduta humana neste mundo a partir de paradigmas surgidos deste mundo, 
ainda que por via de um raciocínio hipotético. Nessa posição originária, os 
indivíduos são imaginados em sua essência puramente humana, i.e., 
despojados de caracteres secundários como raça, cor, gênero, idade, religião, 
profissão etc., mantendo somente sua capacidade de distinguir entre o que lhes 
seja benéfico ou maléfico – o que Rawls chama de racionalidade – e a 
capacidade de orientar suas ações de acordo com essa percepção básica e com 
as ilações morais que dela derivam...”. VASCONCELOS, Fernanda Sousa; 
CHAVES, Raphael Ayres de Moura. Teorias clássicas e contemporâneas da 
justiça: de Platão a John Rawls. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, 
Teresina, ano 21, n. 4638, 13 mar. 2016. Disponível em: 
https://jus.com.br/artigos/46469. Acesso em: 8 maio 2020. 
Continua o autor, em outros parágrafos de seu artigo: 
 
https://jus.com.br/artigos/46469/teorias-classicas-e-contemporaneas-da-justica
https://jus.com.br/artigos/46469/teorias-classicas-e-contemporaneas-da-justica
https://jus.com.br/revista/edicoes/2016
https://jus.com.br/revista/edicoes/2016/3/13
https://jus.com.br/revista/edicoes/2016/3/13
https://jus.com.br/revista/edicoes/2016/3
https://jus.com.br/revista/edicoes/2016
 “Nessa circunstância imaginária, em que os indivíduos desconhecem suas 
diferenças – encontrando-se submetidos, portanto, ao que Rawls chama de 
VÉU DA IGNORÂNCIA, se tivessem que elaborar uma legislação para si 
próprios, que tipo de norma elaborariam ou deixariam de elaborar? Ora, 
normas que privilegiassem os mais ricos, em detrimento dos mais pobres, 
decerto não seriam aceitas com unanimidade – afinal, no estado de 
ignorância, todos desconheciam suas condições econômicas reais. Os mais 
ricos, imaginando-se pobres, não legislariam em detrimento destes, nem vice-
versa. O mesmo raciocínio aplica-se a todas as outras diferenças (de opinião, 
crença, raça, gênero etc.). Rawls conclui, portanto, que se o conceito de 
justiça deve necessariamente – como resulta inconteste ao longo de toda a 
tradição filosófica – apresentar certa unidade e universalidade (não podendo 
se reduzir a opinião parciais ou a preferências ou interesses particulares), 
somente a igualdade satisfaz essa exigência. A própria noção de justiça, 
conclui Rawls, pressupõe a igualdade substancial entre os seres humanos”. 
 
 E ainda: 
 
 “A partir desta descrição da posição originária da humanidade, RAWLS 
EXTRAI DOIS PRINCÍPIOS BÁSICOS – ambos inspirados, em última análise, pela 
garantia da igualdade - que devem ser respeitados por toda e qualquer ordem 
jurídica ou política que se pretenda justa. O PRIMEIRO diz respeito à igualdade 
de direitos e deveres fundamentais perante a lei. Trata-se, pois, da igualdade 
formal do Estado Liberal clássico, tal como enuncia o artigo 5º da Constituição 
Federal em sua expressão literal. Rawls entendia, porém, que os membros da 
sua sociedade imaginária não se contentariam com essa garantia igualitária: 
ainda que desconheçam, devido ao véu da ignorância, as características que 
os diferenciam uns dos outros, a existência dessas diferenças não lhes escapa 
de todo. Por essa razão, admitir uma sociedade inteiramente igualitária seria 
atentar contra essas particularidades, dentre as quais se incluem diferenças 
de talento e capacidade que, em uma ordem realmente justa, resultariam em 
diferenças de lucro econômico e posição social. É neste ponto que vem à tona 
a necessidade de um SEGUNDO PRINCÍPIO, além da igualdade formal, para 
alcançar uma melhor definição da justiça: o respeito às diferenças 
consideradas benéficas para a própria coletividade. Rawls entendeu, no 
entanto, que este segundo princípio precisava atender a dois requisitos sem 
os quais o primeiro restaria inviabilizado: em primeiro lugar, seria necessário 
garantir a igualdade de oportunidades a todos. Não há qualquer impedimento 
à existência de cargos políticos e econômicos distintos, mas desde que 
observada a condição sine qua non de que esses cargos sejam acessíveis a 
todos. Em segundo lugar, observa Rawls que as diferenças sociais permitidas 
não poderiam, em hipótese alguma, colocar os indivíduos menos favorecidos 
em uma situação de penúria na qual estivessem privados dos bens mais 
básicos, e que os mais favorecidos recusariam terminantemente. O que 
justifica a existência de diferentes cargos e funções políticas ou econômicas é 
o sopesamento entre os direitos e obrigações de cada cargo ou função: se, 
por um lado, os ocupantes das esferas econômicas mais altas têm ao seu 
dispor maior diversidade e qualidade de bens e serviços, têm, por outro, 
maior carga de obrigações e deveres a cumprir, e dos quais os indivíduos de 
classe média ou baixa estão livres. Isso significa que as diferenças são aceitas, 
mas desde que resultem em um benefício geral para a coletividade. 
 Em outras palavras: o segundo princípio de Rawls desenvolve, através de 
preceitos práticos, o conceito de igualdade material, tão caro aos cientistas 
políticos contemporâneos. A importância deste conceito, no sentido 
desenvolvido magistralmente por John Rawls, para a caracterização Estado 
Democrático de Direito é que é precisamente nele que reside o ponto de 
superação dialética das experiências políticas anteriores - o Estado Liberal e o 
Estado Social. No Estado Liberal, o princípio da igualdade formal – o primeiro 
princípio de Rawls – vigorava, ou devia vigorar, de forma irrestrita. Pouco 
tardou para que viessem à tona as flagrantes injustiças sociais a que a 
aplicação ilimitada desse princípio pode gerar, o que tornou necessária a sua 
complementação por outros princípios políticos. O problema é que o modelo 
seguinte – o Estado Social – malogrou igualmente na tentativa de impedir as 
injustiças sociais. À custa de igualar as classes, acabou por violar gravemente 
a liberdade individual, dando origem aos regimes autoritários ou mesmo 
totalitários no início do século XX. O equilíbrio entre a igualdade 
exclusivamente formal doEstado Liberal e a igualdade exclusivamente 
substancial ou material do Estado Social veio através do Estado Democrático 
de Direito que começou a se impor, gradativamente, após a Segunda Guerra 
Mundial (1939 – 1945). E esse equilíbrio foi alcançado precisamente através 
do método de Rawls: assegurando aos indivíduos iguais deveres e liberdades, 
na medida em que essa igualdade seja realmente benéfica para a coletividade 
e desde que as diferenças sociais admitidas não prejudiquem os menos 
favorecidos”. 
 
Interessante compararmos os estratagemas do “Véu da Ignorância” com a tática 
advocatícia empregada no filme “Tempo de Matar”: 
 
“Cada vez mais, obras cinematográficas vêm sendo utilizadas no meio 
acadêmico para fomentar discussões jurídicas. Dentre as tendências de 
caráter interdisciplinar que despontaram no meio acadêmico jurídico de 
diversos países ocidentais na segunda metade do século XX, “Direito e 
Literatura” e “Direito e Cinema” assemelham-se pela ousada proposta de 
aproximar o mundo do Direito a universos ficcionais, na busca por novos 
espaços de reflexão e compreensão do fenômeno jurídico e de sua complexa 
e dinâmica relação com outras manifestações culturais. (OLIVO, MARTINEZ, 
2014). Baseado no livro de John Grisham, o filme de 1996, Tempo de matar, 
permanece atualíssimo pela sua temática que mistura racismo, violência 
sexual contra crianças e as falhas da Justiça. O filme começa com um crime 
bárbaro: dois homens brancos estupram uma criança negra, uma garota de 
seus dez anos, em Canton, Mississipi, região com a herança racista que 
caracteriza ainda nos dias atuais o sul dos E.U.A.A violência do ato a deixa 
hospitalizada por dias, com seu pequeno útero dilacerado. Com a comoção 
causada pelo crime, os dois criminosos são presos. No entanto, a mera 
possibilidade de os agressores serem soltos sob fiança deixa o pai da criança 
transtornado. Ele invade o Tribunal armado e mata os dois homens, ferindo 
ainda um terceiro. No Mississipi, Carl, o pai da criança agredida, Tonya, corre 
ainda o risco de ser condenado à pena de morte pelos homicídios. Sem muita 
saída, o homem contrata um advogado branco, seu velho conhecido, para sua 
defesa. O advogado contratado era o que alguém com as condições 
financeiras de Carl poderia pagar. Seu escritório vivia às moscas. Mesmo 
assim, o advogado Jake Tyler compra a causa, mergulhando de cabeça a fim 
de salvar a vida de seu cliente. (...) Seu cliente tem pouquíssimas chances de 
ser absolvido e corre risco de parar na “milha verde”, eufemismo para o 
corredor da morte, local onde os que são condenados à pena de morte 
aguardam a execução. Para a população e para a mídia, a questão racial 
pesava mais que a violência sofrida pela criança. A mídia estava mais 
preocupada com o assassinato de dois homens “de bem” por um homem 
negro e pobre, do que a violência sexual sofrida por Tonya, que convalescia 
no hospital. Jake sofre ataques em seu escritório e em sua casa. Sua estagiária 
é sequestrada por homens supostamente ligados ao Ku Klux Klan. Tudo faz 
parte de uma estratégia de pessoas da cidade ligadas a movimentos de 
supremacia branca para que Jake abandone a causa. Jake tira sua família da 
cidade e prossegue na causa. Carl, mesmo sem estudo, entende que a questão 
é mais racial do que jurídica. Jake deve convencer o Júri que a vida da pequena 
Tonya valia mais do que a vida dos homens que a agrediram e por isso foram 
mortos por seu pai. É assim que Jake ganha a sua causa: pede aos jurados 
fecharem os olhos e pensarem que o que aconteceu com Tonya poderia ter 
acontecido com uma menina branca. A empatia dos jurados só é despertada 
para absolverem o réu se o considerarem como um igual a eles, não como um 
homem negro acusado de um crime”. Artigo de Ramos, advogada especialista 
em Ciências Penais. Disponível em < 
https://canalcienciascriminais.com.br/tempo-de-matar-2/ > Acesso: 
22.Jan.2022. 
 
 
 
c) ORIGEM DA SOCIEDADE 
 
 
Muitos estudiosos sustentam que há um binômio incontestável, qual seja: “ser 
humano e sociedade” (apresentado geralmente como binômio “homem-
sociedade”). E que isto se afirma tomando em conta que “ser humano” e 
“sociedade”, embora possam ser considerados em si, são, em realidade, exigentes 
(se reclamam como necessários) e, por isso são inseparáveis, impartíveis, 
indecomponíveis. Destarte, não se poderá isolá-los como elementos formadores 
desta relação indissolúvel que é a sociedade. 
 
 
 
O prefixo “co” é uma abreviação da expressão latina “cum” (com) que expressa o 
sentido de companhia. Então, poderemos dizer que o ser humano e a sociedade se 
coexigem. Ulpiano (150-223) foi um jurista com atuação em Roma (atuação com 
forte contribuição para os direitos romano e bizantino). A seguinte máxima é 
atribuída a ele: “Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus, "Onde há homem, há 
sociedade; onde há sociedade, há Direito. 
 
De acordo com este raciocínio, o ser humano - por naturalmente não viver sozinho 
-, será um ser relacional, um ser de essência convivial. Estes estudiosos dizem que 
o ser humano “convive”. Aristóteles, com outras palavras, disse que “o homem é 
um animal político”, ou seja, um homem da convivência na cidade. A palavra polis, 
de onde deriva o termo política, é o conjunto de habitantes da urbe (= a cidade, daí 
utilizarmos o vocábulo urbano como sinônimo de cidade). 
 
Várias são os processos de adaptações sociais conhecidos (religião, família, escola, 
associações etc.). Todos estes grupos têm regras de conduta com influência no 
comportamento social. Ensina Eugen Ehrlick: “Um grupo social é uma pluralidade 
de seres humanos que, em suas relações mútuas, reconhecem certas regras de 
conduta como obrigatórias e, em geral pelo menos, regulam de fato sua conduta de 
acordo com elas. Essas regras são de vários tipos e têm vários nomes: regras de 
direito, de moral, de religião, de costume ético, de honra, de decoro, de tato, de 
etiqueta, de elegância... Essas regras são fatos sociais, resultantes das forças que 
operam na sociedade, e não podem ser consideradas separadas e à parte da 
sociedade, na qual são operantes, assim como o movimento das ondas não pode ser 
computado sem se considerar o elemento em que elas se movem...”. (“Os Grandes 
Filósofos do Direito”, por Clarence Morris, trad. Reinaldo Gurany, SP: Martins 
Fontes, 2002, pág. 448). 
A “ordem”, portanto, estará na base conceitual de qualquer processo de adaptação 
social (DENTRE ELES, O DIREITO, seja em sentido objetivo – complexo de leis -, ou 
subjetivo - faculdade de fazer algo, concedida ou permitida pelas leis). Certifiquemo-nos 
desta afirmação: 
“O homem (homo sapiens) não é um produto simples da natureza, 
mas o resultado do convívio com outros homens. Por isso, apesar da 
sua sociabilidade, há nele, sempre, algo de próprio, tipicamente 
individual, que não se dissolve no social nem se torna comum. Assim, 
não é possível negar que o homem jamais se despe, por completo, de 
seus instintos egoístas, motivo pelo qual não se consegue apagar, nem 
mesmo superar, a sua inclinação, muito natural, de fazer prevalecer os 
seus interesses quando em confronto com os seus semelhantes. (...) 
Disto decorre, evidentemente, a imperiosa exigência da comunidade 
de estabelecer normas de conduta que tenham um caráter obrigatório 
em decorrência do qual a sua impositividade ao homem seja 
incondicional e independente da adesão das pessoas”. (“Teoria do fato 
jurídico”, por Marcos Bernardes de Mello, SP: Saraiva, 1995, p. 4/5). 
 
“O direito é essencial ao homem enquanto homo socialis, isto é, ao homem 
considerado integrante da sociedade. O homem sozinho não necessita de 
Direito ou de qualquer norma de conduta social. Por isso o Direito não está 
na natureza do ser humano, sendo-lhe estranho e dispensável. Somente 
quando o homem se vê diante de outro homem ou da comunidade e 
condutas interferem entre si, é que exsurge a indispensabilidade das 
normas jurídicas, diante da indefectível possibilidade dosentrechoques de 
interesses que conduzem a inevitáveis conflitos. Daí ser imperiosa e 
irremovível a necessidade que tem a comunidade de manter sob controle o 
comportamento de seus integrantes, contendo-lhes as irracionalidades e 
traçando-lhes normas obrigatórias de conduta, com o sentido de 
estabelecer uma certa ordem capaz de obter a coexistência pacífica no 
meio social”. (“Teoria do fato jurídico, por Marcos Bernardes de Mello, 
1995, SP: Saraiva, pág. 6 e 7). 
 
“O direito, em sentido objectivo, ensina Van Wetter, é o conjunto das 
regras prescriptas ás acções humanas e cuja observancia é garantida 
pelo poder social (Droit romain, Vol. I, pág. 6).O domínio da moral é 
muito mais vasto do que o do direito, e entre as suas regras grande 
numero existe que não são preceitos de direito, “porque á sociedade 
não interessa que a observancia seja assegurada por meio de coerção 
externa”. Não ha auctoridade externa que possa exigir o cumprimento 
de obrigações puramente da consciencia. Ao contrario, o caracter 
distinctivo das regras de direito consiste na sua execução obrigatoria, 
que pode ser determinada pelos Tribunaes e executada pela força 
publica. Assim, o preceito que me aconselha a dar esmolas é um 
preceito de caridade, ao passo que a obrigação de pagar as dividas é 
um preceito de justiça e, portanto, de direito”. (“Elementos do direito 
romano, por Antônio Bento de Faria, 1907, RJ: J. Ribeiro dos Santos, 
pág.14 – grafia da época). 
 
“Na sua finalidade de ordenar a conduta humana, obrigatoriamente, 
o direito valora os fatos e, através das normas jurídicas, erige à 
categoria de fatos jurídicos aqueles que têm relevância para o 
relacionamento inter-humano”. (...)Exemplo: “Na verdade, somente o 
fato que esteja regulado pela norma jurídica pode ser considerado um 
fato jurídico, ou seja, um fato gerador de direitos, deveres, pretensões, 
obrigações ou de qualquer outro efeito jurídico, por mínimo que seja. 
As meras relações de cortesia, por exemplo, não criam situações 
jurídicas, com a de A poder exigir que seu vizinho B o cumprimente, 
toda manhã, sob pena de ser constrangido a fazê-lo ou punido por não 
o fazer. Esse mesmo fato do cumprimento, em outras situações, pode 
acarretar resultados jurídicos – é o que acontece com os militares, e.g, 
em que pode ser punido o subordinado que não prestar continência ao 
seu superior – porque há norma jurídica que assim estabelece”. 
(“Teoria do fato jurídico, por Marcos Bernardes de Mello, 1995, SP: 
Saraiva, pág. 9). 
A sociedade, portanto, seria uma relação, um vínculo que procede 
espontaneamente. É uma ligação voluntária entre homens, um encadeamento que, 
por ser espontâneo, não poderá ser desatado, tornando, por conseguinte, 
indissolúvel a relação “ser humano-sociedade”. 
 
Cabe nesta altura a leitura do seguinte texto: 
 
“Convém esclarecer, desde logo, que a palavra sociedade é empregada aqui 
em seu mais amplo conceito, do ponto-de-vista sociológico, para incluir-se, 
neste sentido universal ou genérico, toda relação voluntária entre os 
homens. E por isso a preferimos – orientado pelo esquema de Robert M. 
Maclver – aos termos COMUNIDADE, ASSOCIAÇÃO E INSTITUIÇÃO, o 
primeiro considerado como uma área da vida comum, um foco de vida 
social, o viver comum; o segundo catalogado como um corpo de seres sociais 
organizados ou uma organização de seres sociais para a persecução de um 
interesse ou interesses comuns; e o terceiro qualificado como formas 
estabelecidas de relação entre os seres sociais a respeito de si mesmo ou a 
respeito de um objeto exterior, isto é, formas organizadas de atividade 
social, com aspecto exterior, no tempo e no espaço. Então, o homem, que 
faz parte permanentemente de uma COMUNIDADE, integra 
simultaneamente ou sucessivamente ASSOCIAÇÕES de diferentes espécies 
e das mais variadas finalidades, em cujos seios existem e se modificam 
INSTITUIÇÕES, dissolvendo-se umas e criando-se outras. Nasce 
naturalmente no ambiente familiar, onde, além de cuidados especiais, é 
alimentado, vestido, educado e protegido, passando desde aí pela escola e 
pela igreja, até que atinge condições de conduta própria, para ingressar na 
decantada ‘luta pela vida’, participando sempre de processos associativos e 
procurando alcançar o seu destino humano por intermédio de processos 
institucionais. Assim, para exemplificar, sendo a associação um ser vivo e a 
instituição uma forma ou meio, a família se enquadra naquele gênero e o 
casamento neste. Mas a vida social do homem, além de intensa, é 
profundamente variada, apresentando-se com diversas matizes. E ele se 
agrupa a outras pessoas para novos fins, em empreendimentos 
profissionais, econômicos, intelectuais, recreativos, filantrópicos etc. Esse 
conjunto de organismos sociais é o que forma, entre as espontâneas 
relações humanas, a sociedade em geral, oscilando ainda a extensão 
significativa do vocábulo, porque pode o mesmo compreender desde os 
grupos sociais de uma cidade (sociedade urbana) até a humanidade toda 
(sociedade humana), compreendendo nessa escala o elemento humano de 
um Estado ( sociedade nacional) , que, emoldurada pela ordem jurídica, 
recebe a vulgarizada denominação de sociedade política. Esta passa a 
constituir o Estado que, sem ser a maior de todas as sociedades, possui 
sobre as outras uma supremacia indisfarçável, decorrente especialmente da 
compulsoriedade que lhe é privativa e que se bifurca em dois fatores 
positivos: a obrigação de em sua jurisdição o homem permanecer e, em aí 
ficando, não poder resistir à sua força coercitiva. Tal atributo é inerente ao 
Estado, dele não dispondo as demais sociedades, cujas atividades, de resto, 
se organizam e desenvolvem dentro do Estado, que, com sua sanção, as 
regula e disciplina, podendo favorecê-las ou não, suprimindo-as, inclusive”. 
(Menezes, Aderson de. Teoria geral do estado. Rio de Janeiro: Forense, 3ª 
edição, 1972, págs. 49/50, grifos e destaques nossos). 
 
Obs. Robert Morrison MacIver, escocês (1882-1970), professor de Ciência 
Política. 
 
 
 
 
 
c.1 - OUTRA FORMA DE NARRAR A ORIGEM DA SOCIEDADE: 
 
1-Enquanto “NÔMADE” a associação humana não requeria demarcação territorial. 
2-Tornando-se “SEDENTÁRIO” o homem se fixa no solo e constrói a sua casa. Surge o 
grupo familiar fixado ao solo. 
3-Ensina Fustel de Coulanges: “Quando se constrói o lar é com pensamento e a 
esperança de que continue sempre no mesmo lugar. O deus ali se instala não por um dia, 
nem pelo espaço de uma vida, mas por todo o tempo em que dure essa família, e 
enquanto restar alguém que alimente a chama do sacrifício. Assim o lar toma a posse 
da terra; essa parte da terra torna-se sua, é sua propriedade”. Constava da Tábua 
Décima, Art.16, da Lei das XII Tábuas: “Que o vestíbulo de um túmulo jamais possa ser 
adquirido por usucapião, assim como o próprio túmulo”. 
Nos fragmentos não-classificados da Lei das XII Tábuas (os de Hotomano), Art.1: “Que 
os sacrifícios religiosos domésticos sejam perpétuos”. Obs. Vestíbulo= câmaras. 
 
4-O solo inicialmente era coletivo, isto é, de todos e de ninguém ao mesmo tempo, já 
que ninguém podia aliená-lo (= vender, transferir). Com a fixação do grupo familiar, o 
solo deixará de ser propriedade coletiva para ser propriedade privada sagrada daquele 
lar, ou seja, “propriedade privada familiar”. 
5- A família ocupava a terra e a ocupação era por tempo indefinido já que o solo era 
sagrado. O Professar César Fiúza ensina: “Cada família cultuava seus próprios deuses, 
chamados ‘lares’ ou manes. Nada mais eram que seus antepassados. Os romanos não 
acreditavam em céu. Os mortos continuavam vivendo, mas no território que haviam 
ocupado enquanto vivos. O termo manes é oriundo do verbo ‘maneo,-re” que significa 
permanecer. Deuses manes eram aqueles que permaneciam; eram deuses domésticos, 
os antepassados falecidos”. 
6- A família detentora da propriedade privada a que se refere é a “patriarcal”, cujo chefe 
era o homem, único capaz de determinar as relaçõesde parentesco entre os membros 
da associação familial. Só para recordar: antes a família era em regime matriarcal, o 
macho raptava a fêmea e a fecundava, tudo em regime de promiscuidade sexual, 
gerando a incerteza da prole. Mas como os filhos nasciam e os pais não se 
responsabilizam, a mulher cuidava dos filhos que sabiam seus, embora de vários pais. 
Entre o regime matriarcal e patriarcal observou-se a “couvada”, um rito em que o 
homem assumia a mulher e o seu grupo familiar. 
7-O grupo familiar romano é composto por duas classes de pessoas: o chefe - o 
paterfamilias – ou seja, o ascendente masculino vivo mais idoso, e os membros a ele 
subordinados (mulher,filhos,parentes, escravos, isto é, todos os membros da casa). Era 
uma família agnatícia (parentes sanguíneos e não-sanguíneos), pois se a natureza 
negasse filhos, a descendência masculina não poderia acabar já que também era 
responsável pelo Altar (religião e cerimônias fúnebres). Em Roma a família englobava os 
sanguíneos e os adotados porque se fosse família cognatícia (aquela por exclusiva 
consanguinidade natural dos membros) o culto poderia ser interrompido. 
8-Cada família ocupava uma parte da terra por tempo indefinido. O chefe da cada 
família, ou seja, o paterfamilias, tinha o sagrado dever de conservar a propriedade e a 
família até a morte. Após a morte do paterfamilias, o filho varão mais velho assumia o 
seu lugar. 
 Constava da Tábua Quinta, Art.2, da Lei das XII Tábuas: “Se o pai de família morre 
intestado, não deixando herdeiro seu (necessário), que o agnado mais próximo seja o 
herdeiro”. O Art. 7 dispunha: “Se o pai de família morre sem deixar testamento, ficando 
um herdeiro seu impúbere, que o agnado mais próximo seja o seu tutor”. Apesar da 
redundância é importante dizer que a chefia da família romana recaia ordinariamente 
no varão mais velho, e que este, como herdeiro, não podia jamais alienar o solo sagrado 
da família de seus ancestrais. 
 
9- Observa-se até agora três modalidades de propriedade: 
- a propriedade coletiva, 
- a propriedade privada familiar, 
- e a propriedade dos tempos modernos: propriedade privada individual, sem 
restrições religiosas, podendo o proprietário aliená-la, caso queira. 
 Reza o Art. 1.228 do CC: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da 
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou 
detenha”. 
 
10 - Walter Vieira do Nascimento, acerca da origem da propriedade, tem excelente 
página: 
 "... O ALTAR E O SOLO. (...) passemos ao exame da propriedade desde suas origens. 
Nesse sentido, esclarece Fustel de Coulanges: 'Quando se constrói o lar, é com o 
pensamento e a esperança de que continue sempre no mesmo lugar. O deus ali se 
instala, não por um dia, nem pelo espaço de uma vida, mas por todo o tempo em que 
dure essa família e enquanto restar alguém que alimente a chama do sacrifício. Assim 
o lar toma a posse da terra; essa parte da terra torna-se sua, é sua propriedade'. (...) 
Como se observa, estando a família ligada ao altar e a este solo, estabeleceu-se uma 
estreita relação entre a religião e a terra. Fixada a família no solo, aí se erguia o lar, 
que era também a morada dos deuses, erigindo-se nele o altar para a prática do culto. 
Portanto, através do lar, como entidade sagrada, o homem tomou a posse da terra e 
fez dela propriedade sua. Não seria, porém, a causa religiosa a única a concorrer para 
consolidar todo um processo de vida sedentária. Como consequência dessa 
transformação, pode-se apontar ainda uma solidariedade entre os membros de 
grupos que se foram organizando. Ligados por laços de parentesco e de vizinhança, 
eles puderam sustentar uma ajuda mútua, não somente do ponto de vista de 
segurança e defesa, como também de cooperação econômica (...). Na concepção que 
vem desde John Locke a respeito de um suposto estado de natureza anterior à 
sociedade, no sentido de que 'a propriedade era uma instituição humana justificada 
pelo direito natural', já se encontrava uma explicação para a sua origem, assim 
sintetizada por Michael Tigor & Madeleine Levy: 'No estado de natureza, o homem 
penetrava na floresta e começava a plantar. Misturava seu trabalho com a terra e 
produzia uma colheita. Outro abatia um cervo e combinava seu trabalho com a carne 
e o couro para fazer alimentos e vestuário. Os dois, graças a seu trabalho, criavam 
valores que não haviam existido antes e, por conseguinte, tinham direito natural a 
seu produto. O que poderia ser mais naturalmente certo do que eles negociarem suas 
propriedades como iguais?' (...). Em suma, abstraída a suposição do estado de 
natureza, a origem da propriedade móvel ou imóvel encontra-se igualmente em 
Locke o mesmo suporte de cooperação econômica. Portanto, nos dois elementos - o 
religioso e o econômico - podemos distinguir a fonte primordial dos bens 
patrimoniais". (Lições de História do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 11ª ed., 1999, 
págs. 60/61). 
 Obs.: Dos fragmentos não classificados (Lei XII Tábuas), de Hotomano:"1. Que os 
sacrifícios religiosos domésticos sejam perpétuos". (Cic. De Leg. lib. 2). 
 
Prossegue Walter Vieira do Nascimento analisando o processo evolutivo da 
propriedade (de coletiva a individual): 
 
 
".... PROPRIEDADE COLETIVA E INDIVIDUAL. É de se considerar a família vinculada 
a um grupo. Formado da reunião de famílias de um mesmo tronco, esse grupo 
aparece, pois, como um todo familiar. São exemplos mais recentes entre os povos 
antigos a fratria grega, a gens romana e a sippe germânica. Mas, por força de um 
processo de evolução, o vínculo grupal foi se tornando mais flexível e a 
propriedade, coletiva que era, começou a adquirir caráter individual. Resultou, 
conforme salienta Pontes de Miranda, que 'à formação histórica da propriedade 
individual presidiu o princípio do interesse da cada um. De modo que ficou esse em 
frente ao interesse grupal, mais antigo. Depois, com a quase absorção do interesse 
grupal pelo individual, o interesse grupal reagiu como antítese' (...). Em outras 
palavras, trata-se do processo pelo qual a propriedade fundiária obedeceu a uma 
evolução dividida nas seguintes fases: a) a da propriedade grupal; b) a da 
propriedade privada familial; c) a da propriedade privada individual. Na primeira 
fase, a terra em que se fixava a tribo era posta à disposição das famílias que a 
compunham, tendo sobre ela gozo temporário e não podendo aliená-la. Na 
segunda fase, cada família ocupava uma parte da terra por tempo indefinido, 
cumprindo ao chefe conservá-la até a morte, quando se transmitia aos herdeiros, 
que também não podiam aliená-la. Na terceira fase, desaparecendo quaisquer 
restrições, o proprietário pôde dispor livremente da sua terra, quando então se 
consolida a propriedade individual". (Lições de História do Direito, Rio de Janeiro: 
Forense, 11ª ed., 1999, págs. 61/62). 
 
11- Esclarecidos a respeito da fixação das famílias ao solo, avança-se para uma segunda 
etapa: a reunião em vizinhança destas várias famílias e o surgimento de comunidades 
mais amplas abrangendo estas famílias (poder-se-ia compará-las as cidades e até 
mesmo ao Estado de hoje). 
. Primeiro surgem as unidades familiares descendentes do mesmo tronco (vinculadas 
biologicamente + não-sanguíneos) e cultuadoras dos mesmos deuses. 
. Em seguida surgem as reuniões de unidades familiares diferentes para a proteção de 
interesses comuns, cultuando deuses ancestrais e outros novos deuses comuns ao grupo 
maior (deuses estaduais e posteriormente nacionais). 
Na Grécia são as gens ou genes: genes + genes = fátria. 
Em Roma são as gens ou genes: genes + genes = cúria. 
A cúria romana equivale a fátria grega. 
 
O crescimento das famílias (e dos grupos sociais ligados por interesses comuns levará a 
edificação da cidade-estado, isto é, da polis. A segurança dos cidadãos que inicialmente 
dependia mais do grupo a que pertencia passará a depender do Estado (polis).Por isso a 
história da “cidade”, ou seja, a históriado “Estado” ou de um “povo” deverá ser 
elaborada tomando-se em consideração quatro aspectos principais ligados a formação: 
• PRIMEIRO: A CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL- ADMINISTRATIVA (organização 
espacial da polis e seus equipamentos urbanísticos: ruas, bairros, cidade, região 
geográfica etc); 
• SEGUNDO: A CONSTITUIÇÃO SOCIAL (classes sociais da polis); 
• TERCEIRO: A CONSTITUIÇÃO POLÍTICA (formas de Estado e Governo e autoridades 
da polis); 
• QUARTO: AS FONTES DO DIREITO E O MODO DE DISTRIBUIR A JUSTIÇA. A 
respeito deste 4º aspecto, vale a leitura do seguinte texto: 
 
Presença do Direito na Sociedade: “Nem todos têm ideia de quanto o Direito se 
faz presente no meio social, de como está entrosado com quase tudo que se 
passa na sociedade, participando das mais simples às mais complexas relações 
sociais. É difícil praticarmos um ato que não tenha repercussão no mundo do 
direito. Como lembrou Ruggiero (Inst. de Direito Civil, vol. I, pp. 11/12), o 
camponês que, semeando o seu campo, deixa cair algumas sementes sobre o 
campo vizinho, pratica, embora ignore, um ato jurídico, pois dá origem a uma 
figura de acessão, a satio, tornando o vizinho proprietário da semente lançada e 
dos seus eventuais frutos. O fumante, que deita fora o resto do seu cigarro ou 
charuto, realiza um ato de derelicto, abandonando uma coisa sua. O banhista, 
que apanha na praia a concha preciosa trazida pelas ondas, pratica uma 
ocupatio, adquirindo a propriedade duma res nullius. Tenha ou não consciência 
disso, a dona de casa, quando adquire uma simples caixa de fósforo no quiosque 
ou gêneros alimentícios no supermercado, realiza um contrato de compra e 
venda. Diariamente, quando milhares de pessoas tomam o trem, ônibus, o metrô, 
ou outro qualquer transporte público, realizam, até inconscientemente, um 
contrato de transporte, através do qual, mediante o simples pagamento da 
passagem, a transportadora se obriga a levá-los incólumes ao ponto de destino. 
E se por infelicidade ocorrer um acidente do qual resulte lesão ou morte para 
alguém, segundo as regras do direito, será a transportadora obrigada a indenizar 
os prejuízos, envolvendo danos emergentes e lucros cessantes, isto é, tudo aquilo 
que a vítima efetivamente perder e aquilo que deixar de ganhar em razão do 
acidente, pelo restante de sua sobrevida. Como se vê, o Direito invade e domina 
a vida social desde as mais humildes às mais solenes manifestações, quer se trate 
de relações entre indivíduos, quer entre o indivíduo e o grupo social, como a 
família e o Estado, quer se trate ainda de relações entre os próprios grupos.” 
(Filho, Sérgio Cavalieri. “Programa de Sociologia Jurídica”, 11ª ed., RJ: Ed. 
Forense, pág. 11/12). Obs: compra e venda: Art. CC, contrato de transporte: Art. 
730 do CC, acessão: Art. 1255/CC, ocupação: Art. 1263/CC, abandono: Art. 1275, 
III/CC). 
 
d) Principais teorias acerca da origem e justificativa do Estado (anotações 
próprias do professor, mais citações a partir de Aderson de Menezes (AM) e 
Quintão Soares (QS) e outros: principais marcos teóricos da teoria do Estado. 
 
Atenção: uma coisa é o surgimento fenomênico do Estado (o provir do Estado) e outra 
coisa são os fenômenos estatais pós-surgimento, os quais ocorrem a posteriori do provir 
estatal. Portanto, não confundir as teorias de origem do Estado com a formação 
histórica dos Estados (como iremos estudar a seguir). Aderson de Menezes a este 
respeito precatou: 
 
“O assunto de que se vai tratar, nem sempre posto nas devidas condições, diz 
respeito ao aparecimento primário, à gênese primitiva do Estado, cujo poder 
deve ser legitimado, desde aí, em jurisdição razoável, pela própria concepção de 
sua origem. Não se, pois, confundir a presente matéria, como o fazem alguns, 
com as transformações posteriores da sociedade política, nem mesmo que estas 
se relacionem com a formação histórica, através dos tempos, de novas entidades 
estatais. Aqui tem-se em vista saber como surgiu o Estado pela vez primeira, de 
que maneira e quando se originou a realidade política, justificando-se, por via 
desse conhecimento, a sua autoridade incontestável sobre os respectivos 
súditos, que a ela se amoldam e submetem, sem discutir mesmo se se cuida de 
um bem ou de um mal. Quanto às modificações que, na organização dos estados, 
possam ocorrer e que de fato ocorrem, constitui isso outra questão, fixada mais 
próxima a nós e a ser objeto de estudo à parte, sob o foco luminoso de outras 
doutrinas, também explicativas, do começo, do desenvolvimento e da extinção, 
modernamente, das sociedades estatais, bem como dos efeitos dessas 
alterações estruturais, referentemente à situação e aos interesses dos 
respectivos jurisdicionados” (AM, op. cit., pág.78, grifos nossos). 
 
Estas são as 5 principais teorias da origem do Estado. 
 
1ª - Teorias da origem natural do Estado (O Estado decorre da ordem 
natural das coisas, isto é, da própria necessidade humana da vida em 
conjunto). 
Aderson de Menezes cita Darci Azambuja que cita Aristóteles compondo, lapidarmente, 
a explicação desta doutrina: “Para viver fora da sociedade, o homem precisava estar 
abaixo dos homens ou acima dos deuses, como disse Aristóteles, e vivendo em 
sociedade ele natural e necessariamente cria a autoridade e o Estado”. (AM, op. cit., 
pág.99). 
Esclarece ainda: 
“É que a noção exata do Estado, implicando a integração 
de três elementos: população, território e governo, ajuda 
o raciocínio segundo o qual a entidade estatal se originou 
quando um grupo humano, já comandado por uma 
autoridade definida e permanente, se fixou com ânimo 
definível e ainda permanente em uma área geográfica 
definitiva e também permanente, de sorte a adquirir sua 
existência nova e característica feição, já então não 
somente social, mas, ao mesmo tempo, jurídico-política. 
Existiram, em verdade, nas sociedades primitivas, tribos 
errantes que, apesar de conduzidas por chefias 
perfeitamente configuradas, não chegaram a constituir 
Estados, justamente porque lhes faltava o terceiro 
elemento, o territorial, embora gozassem da presença do 
núcleo populacional e da expressão governamental. Quer 
isso dizer que o nomadismo impediu a formação do 
Estado, que sendo como um produto da civilização, só 
apareceu no seio de coletividades sedentárias”. (AM, op. 
cit., pág.98). 
 
2ª - Teorias teológicas da criação do Estado (Há duas principais doutrinas 
disputando provar que o Estado é obra de Deus). 
 
✓ Doutrina do direito divino sobrenatural. 
 
Expoente desta doutrina: o religioso francês Bossuet (1627-1704). 
“... o estado é obra imediata de Deus, uma manifestação direta de seu 
poder no universo, designando o próprio Deus a pessoa ou família que, 
assim divinizada, vai exercer a autoridade estatal”. (AM, op. Cit., pág.81). 
 - A autoridade estatal (o/a monarca) era o representante de Deus na 
terra, sendo ungido em cerimônia religiosa. Por isso detinha autoridade 
absoluta, prestando contas unicamente a Deus, pois segundo dizia o “rei 
sol “Luiz XIV, rei da França ... “está em Deus, e não no povo, a fonte de 
todo o poder”. 
- "O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio 
Deus. Os reis são deuses e participam de alguma maneira da 
independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; deve 
acreditar-se que ele vê melhor..." (Bossuet). Disponível em 
<https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-
historia/exercicios-sobre-formacao-dos-estados-nacionais-
modernos.htm> Acesso: 04 Jan 2022 
- Esta doutrina, na prática, procurava dar justificativa a forma de governo 
monarquista absolutista, na qual a superioridade do monarca o faz 
independente de outros órgãos do Estado. 
 
✓ Doutrina do direito divino providencial 
 
Expoente desta doutrina: na verdade dois, os franceses De Maistre (1753-
1821) e De Bonald (1754-1840). 
“... o Estado é instituído pela graça da Providência divina, que o conduz 
indiretamente, isto é, pela direção providencialdos acontecimentos e 
das vontades, porque os homens, dotados de livre-arbítrio, praticam seus 
atos e se organizam entre si, respondendo, no entanto, à onipresença de 
Deus”. (AM, op. cit., pág.81). 
- Também defendem a legitimidade monárquica. A diferença para a 
doutrina do direito divino sobrenatural é que para esta última a obra de 
Deus é imediata, direta, ou seja, é decretiva (Deus decide sem o uso de 
instrumentos secundários), e pela doutrina providencial a obra de Deus 
é mediata, indireta, ou seja, a vontade de Deus é prescritiva (aqui os 
homens, como elementos racionais secundários, ligam as vontades Deus-
Homem). Poderíamos destacar o papel da classe sacerdotal (colegiado de 
sacerdotes) nesta mediação. 
 
 3ª - Teorias contratualistas da fundação do Estado 
 
Precisamos obter algumas noções para entendermos o contratualismo 
social (vale retornar ao texto sobre o véu da ignorância, uma metáfora 
de John Rawls). 
 
Consideram-se duas espécies de Estado, nominalmente tratados como 
“Estado da natureza” e como “Estado social” (equivalente a Estado civil, 
civil por ser da civitas). 
 
https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-historia/exercicios-sobre-formacao-dos-estados-nacionais-modernos.htm
https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-historia/exercicios-sobre-formacao-dos-estados-nacionais-modernos.htm
https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-historia/exercicios-sobre-formacao-dos-estados-nacionais-modernos.htm
“Estado Natural, também chamado Estado de Natureza, é 
o estado anterior à constituição da sociedade civil. Todos os autores 
contratualistas admitem, de certa forma, um "estado de natureza". 
Alguns dos autores contratualistas, apesar de descreverem um "estado 
de natureza", admitem que ele possa nunca ter vindo a existir, mas que 
era preciso fazer essa construção para entender a formação da sociedade 
civil. É a ausência de sociedade. O que difere a sociedade humana das 
sociedades formadas por outras criaturas é a necessidade de regras para 
que haja organização dos interesses. A cultura faz com que o homem se 
emancipe dos outros animais. O ser humano, sendo dotado de razão 
torna-se livre. 
 
Estado Natural para Thomas Hobbes - No estado de natureza, segundo 
Hobbes, os homens podem todas as coisas e, para tanto, utilizam-se de 
todos os meios para atingi-las. Conforme esse autor, os homens são maus 
por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um 
poder de violência ilimitado. Um homem só se impõe a outro homem 
pela força; a posse de algum objeto não pode ser dividida ou 
compartilhada. Num primeiro momento, quando se dá a disputa, a 
competição e a obtenção de algum bem, a força é usada para conquistar. 
Não sendo suficiente, já que nada lhe garante assegurar o bom usufruto 
do bem, o conquistador utiliza-se da força para manter este bem (recorre 
à violência em prol da segurança desse bem). 
 
Estado Natural para John Locke - Para John Locke, o Estado de Natureza 
não é apenas uma construção teórica, ele sempre existiu. Locke entendia 
que no Estado de Natureza as pessoas eram submetidas à Lei da Natureza 
o que era possível porque elas eram dotadas de razão. Nesta Lei da 
Natureza cada indivíduo poderia fazer o papel de juiz e aplicar a pena que 
considerasse justa ao infrator. Esta arbitrariedade individual é um dos 
principais motivos das pessoas buscarem entrar num Estado Civil. Ao 
contrário de Hobbes, na teoria de Locke não haveria uma guerra 
generalizada. De acordo com o Direito Natural, o ser humano tem direito 
sobre sua vida, liberdade e bens. A propriedade privada era definida no 
momento em que o ser humano misturava seu trabalho com a natureza: 
"Quando começaram a lhe pertencer? Quando os digeriu? Quando os 
comeu? Quando os cozinhou? Quando os levou para casa? ou quando os 
apanhou? E é evidente que se o primeiro ato de apanhar não os tornasse 
sua propriedade, nada mais poderia fazê-lo. Aquele trabalho estabeleceu 
uma distinção entre eles e o bem comum”, mas por que o Estado de 
Natureza continua existindo? Para Locke, "não é toda convenção que põe 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Civil
https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_Natural
https://pt.wikipedia.org/wiki/Propriedade_privada
fim ao estado de natureza entre os homens, mas apenas aquela pela qual 
todos se obrigam juntos e mutuamente a formar uma comunidade única 
e constituir um único corpo político; quanto às outras promessas e 
convenções, os homens podem fazê-las entre eles sem sair do estado de 
natureza. 
 
Estado Natural para Rousseau - Diferentemente de Locke e 
Hobbes, Rousseau não acreditava que o estado de natureza seria uma 
etapa da história humana caracterizada por inconveniências que 
deveriam ser substituídas pela sociedade civil. Na verdade, Rousseau é 
conhecido por ser o filósofo do bom selvagem por atribuir 
características positivas ao estado de natureza. Na concepção de 
Rousseau, o ambiente natural seria como se fosse criado para servir as 
necessidades do homem. Por isso ele havia de ter poucas preocupações, 
tais como preservação, reprodução e alimentação. Outro ponto 
importante é o fato de que em estado de natureza, o homem primitivo 
vive em isolamento. A ausência de comunidades era consequência da 
falta de necessidade que um tinha do outro. A propriedade privada de 
qualquer espécie não existia, esporadicamente os machos e as fêmeas se 
encontrariam com fins reprodutivos e os filhos deixariam suas mães 
assim que estivessem aptos a se alimentarem por conta própria. Esse 
isolamento teria favorecido o surgimento de qualidades positivas ao 
homem natural, como a bondade, que é relacionada ao amor de si 
mesmo e a piedade. Da mesma forma, o isolamento teria inibido 
aspectos negativos como a ânsia de poder e glória, uma vez que estes 
dependem das opiniões alheias. Rousseau adiciona que essas 
características apenas fazem sentido para os que estabelecem algum tipo 
de relação social, logo elas não são uma realidade aos selvagens 
justamente pela falta de uma relação moral entre eles. A instituição da 
propriedade privada seria o marco do fim da liberdade natural 
encontrada no estado de natureza. Quando o homem cercou um terreno 
e definiu o que seria somente seu, ele é coibido a pensar em necessidades 
que não possuía. A coletividade sufocaria as qualidades naturais e 
despertaria paixões e vícios, que empobreciam e infelicitavam a vida em 
sociedade. Seria então um estado de guerra generalizada” (grifos e 
destaques nossos). Disponível em 
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_natural> Acesso: 07 Jan 2022. 
Com estes esclarecimentos, as teses seguintes serão mais bem compreendidas: 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_natural
✓ Do inglês THOMAS HOBBES (1588-1679), autor da obra “Leviatã 
...”: 
- Na Bíblia há menções alegóricas a um monstro marinho 
devorador (uma espécie de serpente ou crocodilo): Cap. 41 do 
Livro de Jó e em Livro do profeta Isaías (cap. 27). Hobbes 
compara o Estado ao Leviatã e os súditos as escamas desta 
criatura aquática. 
- Hobbes sustenta que o Estado é como que o Leviatã, monstro 
cuja criação se deve ao fato de que os seres humanos acabaram 
por reconhecer esta necessidade organizativa como apta para a 
promoção do bem comum. 
- A ideia de “bem comum” está conectada com a de “poder 
comum”. Quintão Soares - com mira na figura do Leviatã - 
ensina: “Tal figura metafórica está intimamente ligada à imagem 
de alienação dos direitos e da própria vontade dos súditos 
(outorga de poder através de contrato social) em favor do 
soberano. Embora de tendência absolutista ... Constrói o 
fundamento de sua compreensão autocrática de poder, em 
perspectiva laica, ao estabelecer como paradigma para

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