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2012 Processos de recursos Humanos Prof. Jorge André Santos da Costa Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Prof. Jorge André Santos da Costa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 658.3 C837p Costa, Jorge André Santos da Processos de recursos humanos /Jorge Ándré Santos da Costa. Indaial: Uniasselvi, 2012. 195 p. : il ISBN 978-85-7830- 575-8 1. Administração – Recursos humanos. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. III aPresentação Caro acadêmico! A estratégia empresarial com seu mainstream nas ciências econômicas não dá mais conta de explicar sozinha o sucesso das organizações. Mesmo os estudos sobre a estrutura dos mercados de Joe Bain e Michael Porter não são capazes de explicar a complexa trama que compõe a movimentação dos mercados, muito menos as reações de seus integrantes. A teoria das organizações, com seu mainstream nas ciências sociológicas, também não é capaz de descrever as relações econômicas que influenciam as estratégias organizacionais. Assim cada uma delas, separadamente, só consegue enxergar “uma pequena parte do elefante” (termo utilizado por Henry Mintzberg, em seu livro Safári de Estratégia). É claro que esse gap na ciência não poderia durar muito tempo. Áreas como a RBV (resource base view – visão baseada em recursos) reúnem olhares sobre recursos chamados intangíveis. Então termos como “conhecimento” e “inovação” começam a ser utilizados pela estratégia das organizações. A ideia dos pesquisadores que trabalham nessa área é promover estudo sobre a estratégia competitiva sustentável (durável). Eles acreditam numa espécie de “tecido” que é constituído por uma trama entre recursos tangíveis (tecnologia) e intangíveis (conhecimento). Uma trama difícil de ser imitada pelos concorrentes, garantindo assim a competitividade sustentável da organização. Então, a partir dessas e outras constantes mudanças ambientais, a gestão de pessoas revela-se não apenas uma área de apoio operacional ou tática, mas uma área preponderantemente estratégica para as organizações. É condição sine qua non que consideremos as pessoas como ativadores inteligentes de recursos e que, através de processos de recursos humanos, possamos criar ambiente propício à atração, criação e manutenção de talentos. Então, não devemos esquecer a importância do autodesenvolvimento das pessoas e a prosperidade das organizações que se tornam, cada vez mais, ícones do desenvolvimento social. Sendo assim, para que você perceba a evolução da área de recursos humanos, criamos este Caderno de Estudos como uma espécie de manual introdutório que serve de base para questões mais profundas sobre a aplicação dos Processos de Recursos Humanos. Para isso, resolvemos dividir nossos estudos em três unidades didáticas: (1) planejamento dos recursos humanos, (2) recompensando e retendo pessoas, (3) desenvolvendo e monitorando pessoas. IV Na Unidade 1 falaremos sobre os desafios da área de recursos humanos e o importante papel de gestão de pessoas na composição da estratégia empresarial, principalmente nos processos de mudança organizacional. Discutiremos o fluxo de processos necessários para atender os requisitos da área (recrutamento e seleção). Fomentaremos discussões sobre o ambiente organizacional relacionado, principalmente, às nuances da cultura organizacional e suas influências na estrutura de cargos e avaliações de desempenho. Já na Unidade 2 discorreremos sobre o processo de reter talentos em um ambiente repleto de oportunidades. Para isso, levantaremos o debate sobre as influências da nova perspectiva de se ter colaboradores como parceiros e como essa nova perspectiva influencia a estrutura de recompensas. Estrutura de recompensas que já inclui ambientes de trabalho mais saudáveis, levantando questões atuais sobre QVT (qualidade de vida no trabalho) e suas influências nos índices de acidentes e, por que não dizer, também nos índices de turnover. Não menos importante, a terceira e última unidade deste caderno trará à tona questões sobre ambientes que promovam o autodesenvolvimento dos colaboradores. A proposta é a criação de ambientes que promovam uma estrutura organizacional mais flexível e, assim, que essa estrutura de processos de recursos humanos possa atender mais rapidamente os requisitos ambientais necessários para a gestão estratégica competitiva da organização. Prof. Jorge André Santos da Costa V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 – PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS ............................................... 1 TÓPICO 1 – DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS ..................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 GLOBALIZAÇÃO DOS MERCADOS ............................................................................................. 3 2.1 A EVOLUÇÃO DO OLHAR DA ADMINISTRAÇÃO ............................................................... 4 2.2 A EVOLUÇÃO DA COMPETIÇÃO ENTRE NAÇÕES ............................................................. 4 2.3 O SEGREDO DA ADMINISTRAÇÃO DE UMA EMPRESA .................................................... 7 3 GERENCIAR MUDANÇAS ............................................................................................................... 8 3.1 CARACTERIZAÇÕES DA MUDANÇA ...................................................................................... 8 3.2 A IMPORTÂNCIA DA CULTURA E DO CLIMA ORGANIZACIONAL NO PROCESSO DE MUDANÇA .......................................................................................................... 11 3.3 OS ESTÁGIOS DA MUDANÇA .................................................................................................... 12 4 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS ......................................................................................... 13 4.1 O NOVO PAPEL DA GESTÃO DE PESSOAS ............................................................................. 13 4.2 DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL HUMANO ..................................................................... 14 4.3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE GESTÃO DE PESSOAS ..............................................16 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 19 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 – ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS ............................ 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 RECRUTAMENTO ............................................................................................................................... 21 2.1 MERCADO DE TRABALHO ......................................................................................................... 21 2.2 DESVENDANDO O RECRUTAMENTO ..................................................................................... 23 2.3 AVALIAÇÃO DO RECRUTAMENTO .......................................................................................... 26 3 SELEÇÃO ............................................................................................................................................... 27 3.1 O PAPEL DA SELEÇÃO DE PESSOAS ........................................................................................ 27 3.2 PROCESSO DE SELEÇÃO.............................................................................................................. 28 3.3 TÉCNICAS DE SELEÇÃO DE PESSOAS ..................................................................................... 31 3.4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA SELEÇÃO DE PESSOAS ............................................ 32 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 34 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 35 TÓPICO 3 – AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL .......................................... 37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37 2 AS INFLUÊNCIAS DO AMBIENTE ................................................................................................. 37 2.1 CULTURA E SEUS COMPONENTES .......................................................................................... 37 2.2 A SOCIALIZAÇÃO ORGANIZACIONAL .................................................................................. 39 2.3 PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO .................................................................................................. 40 3 ESTRUTURAÇÃO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL ........................................................ 41 3.1 ESTRUTURAS E MODELOS .......................................................................................................... 42 3.2 ESTRUTURAÇÃO COMO PROCESSO CONTÍNUO ................................................................ 45 3.3 ANÁLISE DE CARGOS .................................................................................................................. 47 sumário VIII 4 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO .................................................................................................... 49 4.1 AS CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ............................................ 49 4.2 PONTOS FRACOS DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO .............................................................. 51 4.3 NOVAS ABORDAGENS DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ............................................ 52 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 54 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 57 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 58 UNIDADE 2 – RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS ....................................................... 59 TÓPICO 1 – RECOMPENSANDO PESSOAS ................................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61 2 REMUNERAÇÃO ................................................................................................................................. 61 2.1 CARACTERIZANDO REMUNERAÇÃO .................................................................................... 62 2.2 PLANO DE REMUNERAÇÃO ...................................................................................................... 65 2.3 AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE CARGOS ....................................................................... 67 3 PROGRAMA DE INCENTIVO .......................................................................................................... 71 3.1 RECOMPENSAS E PUNIÇÕES ..................................................................................................... 71 3.2 REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIA ................................................................................... 74 3.3 COMO DESENHAR UM PLANO DE INCENTIVO .................................................................. 77 4 BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ................................................................................................................ 78 4.1 CARACTERIZANDO BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ..................................................................... 79 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 83 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84 TÓPICO 2 – RETENDO PESSOAS ...................................................................................................... 85 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85 2 FORMAS DE ADMINISTRAR .......................................................................................................... 85 2.1 PREMISSAS ESTRUTURAIS DA ORGANIZAÇÃO .................................................................. 85 2.2 ADMINISTRAÇÃO QUANTO À NATUREZA DAS PESSOAS .............................................. 87 2.3 ADMINISTRAÇÃO QUANTO AO MODELO DE AUTORIDADE ......................................... 88 3 RELAÇÕES COM EMPREGADOS ................................................................................................... 92 3.1 PROGRAMAS DE RELAÇÕES COM EMPREGADOS .............................................................. 92 3.2 DISCIPLINA ..................................................................................................................................... 95 4 ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS ............................................................................................. 98 4.1 CARACTERIZANDO O CONFLITO ............................................................................................ 98 4.2 GESTÃO DE CONFLITOS ............................................................................................................100 4.3 ESTILOS DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS .................................................................102 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................107 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................108 TÓPICO 3 – AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL ...............................................................109 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................109 2 SAÚDE OCUPACIONAL ..................................................................................................................109 2.1 HIGIENE NO TRABALHO ..........................................................................................................110 2.2 ESTRESSE NO TRABALHO.........................................................................................................112 3 SEGURANÇA DO TRABALHO ......................................................................................................114 3.1 PREVENÇÃO DE ACIDENTES ...................................................................................................114 3.2 CAUSAS DOS ACIDENTES NO TRABALHO..........................................................................117 3.3 COMO PREVENIR ACIDENTES ................................................................................................119 IX 4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) .......................................................................121 4.1 COMPONENTES DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO .........................................122 4.2 MODELOS DE QVT ......................................................................................................................123 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................125 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126 UNIDADE 3 – DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS ........................................127 TÓPICO 1 – PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS ...................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 TREINAMENTO .................................................................................................................................129 2.1 O PROCESSO DE DESENVOLVER PESSOAS ..........................................................................129 2.2 DIAGNÓSTICO DAS NECESSIDADES DE TREINAMENTO ...............................................133 2.3 DESENHO DO PROGRAMA DE TREINAMENTO ................................................................136 2.4 AVALIAÇÃO DE PROGRAMA DE TREINAMENTO .............................................................139 3 DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS E DA ORGANIZAÇÃO ............................................141 3.1 CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO ..................................................................................................141 3.2 MUDANÇA ORGANIZACIONAL ............................................................................................144 3.3 DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS .........................................................................................147 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................151 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................152 TÓPICO 2 – PREPARANDO PARA A MUDANÇA .......................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL .............................................................................153 2.1 CARACTERIZANDO O DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL ..............................153 2.2 PROCESSOS E TÉCNICAS DE DO .............................................................................................155 2.3 DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL NA PRÁTICA................................................158 3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL .....................................................................................161 3.1 A NATUREZA DO CONHECIMENTO .....................................................................................161 3.2 CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL ................................................................................165 3.3 PROCESSO DE APRENDIZAGEM .............................................................................................168 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................172 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................173 TÓPICO 3 – MONITORANDO PESSOAS.......................................................................................175 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175 2 REVELANDO AS NECESSIDADES DE INFORMAÇÃO .........................................................175 2.1 ACESSO E USO DA INFORMAÇÃO .........................................................................................175 2.2 NECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO ......................................................................................177 2.3 BANCO DE DADOS DE RH ........................................................................................................178 3 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DE RH ........................................................................................181 3.1 CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DE RH .......................................181 3.2 SISTEMA DE MONITORAÇÃO DE RH ....................................................................................185 4 O BALANÇO SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES .........................................................................188 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................190 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................193 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................194 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................195 X 1 UNIDADE 1 PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • reconhecer a importância de gestão de pessoas; • compreender a importância da cultura organizacional para o processo de mudança; • compreender o novo papel de gestão de pessoas na administração de talentos; • perceber a importância de gestão de pessoas como fonte de vantagem competitiva sustentável. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos. TÓPICO 1 – DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS TÓPICO 2 – ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS TÓPICO 3 – AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS 1 INTRODUÇÃO Com a queda dos limites mercadológicos entre nações, é necessário que as organizações possuam um alto grau de flexibilidade de suas estruturas físicas, processos e relações de trabalho. O grau de adaptabilidade às constantes inovações tecnológicas exige grande empenho da área de gestão de pessoas para, de um lado, acelerar a criação e/ou absorção das inovações e, de outro, diminuir as consequências danosas advindas dos constantes processos de mudança. É fato que os novos tempos baratearam a informação, ela ficou disponível a todos. Então, não leva muito tempo para o concorrente adquirir a mesma tecnologia de empresaslíderes de mercado. Essa percepção leva inúmeros estudiosos da estratégia empresarial (antes céticos da área econômica) a se voltar para pesquisas em ciências que justifiquem empresas com a mesma estrutura patrimonial, mas com desempenhos tão discrepantes. Então, sabendo que as pessoas são ativadores inteligentes de recursos, cabe à área de gestão de pessoas elaborar estratégias para circunstâncias ambientais favoráveis a essa sinergia produtiva entre colaboradores e organização. 2 GLOBALIZAÇÃO DOS MERCADOS Toda estrutura organizacional precisa adquirir mais flexibilidade para o processo de adaptação (mudança). Essa nova perspectiva amplia os horizontes das organizações, tornando, assim, os processos de gestão cada vez mais complexos. Com a Administração de Recursos Humanos (ARH) não é diferente. Imagine o esforço despendido na coordenação de grupos compostos por pessoas de diversas culturas e normas sociais. As atividades de treinamento e desenvolvimento humano devem ser completamente adaptadas a essa nova realidade. UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 4 2.1 A EVOLUÇÃO DO OLHAR DA ADMINISTRAÇÃO As primeiras teorias sobre administração tinham seu foco no “fazer”. Os processos eram estudados e reformulados para alcançar a melhor maneira de se fazer as coisas. Assim o processo produtivo era minuciosamente descrito e posteriormente seguido à risca por todos – a quantidade de capital determinava o tamanho da preocupação com a eficiência dos processos. Seguindo na evolução dos estudos em administração, a Teoria Neoclássica traz mais objetividade para os processos. Com o surgimento de inúmeras indústrias produzindo pouca variedade de bens de consumo, a competição se torna mais acirrada e, agora, não era mais apenas a quantidade de capital que determinava a eficiência dos processos, mas os objetivos gerados pelo administrador da empresa. Isto é, antes as preocupações giravam apenas em torno dos custos (variáveis internas da indústria), agora outras são somadas a essas, como a relação entre compradores e produtores ou ainda preços e quantidades (variáveis externas). Assim pode-se perceber que a relação entre capital e trabalho ficou mais complexa. Muitos estudos se seguiram para analisar a influência da “mão invisível do mercado” que agora determinava o sucesso ou insucesso das organizações. Nesta época, a variedade de produtos ofertados começa a aumentar. No início do século XX os estudiosos percebem que os modelos econômicos, agora mais complexos, não conseguem mais determinar o futuro das organizações com tanta precisão como antes. Schumpeter (1982) revela que um dos principais fatores de subsistência das organizações estava na sua capacidade de inovação. Essa ideia vai, de certa forma, trazer para as mãos da organização a capacidade de permanecer ou não no mercado escolhido por ela. 2.2 A EVOLUÇÃO DA COMPETIÇÃO ENTRE NAÇÕES Vamos retomar um pouquinho da história. Antes da Revolução Industrial as práticas comerciais, em sua maioria, eram de escambo. Predominava na maioria das regiões o trabalho artesanal, e não estava dissociada a relação entre o trabalho e o prazer. Além disso, não havia a preocupação do acúmulo de bens, isto é, confeccionava-se apenas o necessário para a utilização imediata. Com o advento da Revolução Industrial a estrutura comercial sofre severas mudanças. A acumulação de bens torna-se algo necessário à sobrevivência das indústrias – as matérias-primas são estocadas para um processo de produção veloz que consumia grandes quantidades de recursos e, na outra ponta do processo, a pouca variedade dos produtos possuía um grande consumo. O centro da economia recém-formada eram as máquinas contendo tecnologia rara para a época, em parques fabris imensos, dentro de cidades ainda pequenas. Quanto aos trabalhadores, trabalhavam em condições muito duras, com um expediente de mais de 12 horas diárias, separava-se o trabalho do prazer – começava a luta por melhores condições de trabalho e a busca por algum prazer muito longe daquele ambiente hostil. TÓPICO 1 | DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS 5 NOTA Escambo é a transação ou contrato em que cada uma das partes entrega um bem ou presta um serviço para receber da outra parte um bem ou serviço em retorno. NOTA Hostil: agressivo, invasivo e ofensivo. Os investimentos em proteção das inúmeras unidades industriais da época eram grandes, cercas de arame farpado e até cães eram usados para guardar o que era o mais valioso na época. Entretanto, como era de se esperar, o mercado consumidor ficou abarrotado de algumas poucas variedades produzidas. Inevitavelmente a variedade desses produtos aumentou e o centro da economia começou a se deslocar novamente. Com o crescimento da competição por fatias de mercado, surge o gerencialismo, que tinha como principal característica a especialização generalista dos líderes que deveriam controlar sua produtividade não apenas pelo volume de seus estoques, mas pelo mercado consumidor – passou-se a fazer mais contas para se calcular a produção da semana. A produção era afetada diretamente pelo mercado e suas inconstantes necessidades. NOTA Gerencialismo: base de poder que deixa de ser propriedade e busca a necessidade da aprovação daqueles sobre quem é exercida a autoridade (o trabalhador). UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 6 Assim o novo centro de competitividade passa a ser a inovação. Para isso eram necessárias máquinas que pudessem ser configuradas para trabalhar com diversos tipos de manufatura – a atividade de ferramentaria nunca foi tão valorizada (técnicos responsáveis por reconfigurar as máquinas para a produção de itens de produção diferentes). Mesmo assim, máquinas com essa flexibilidade teriam que ser planejadas e confeccionadas exclusivamente para cada segmento de mercado a “portas fechadas” na tentativa de impedir o concorrente de imitá-las. Durante algum tempo a “melhor tecnologia” era foco de grande competitividade. Entretanto, com o advento da internet e a globalização dos mercados, a informação se transformou em algo muito barato, tornando quase impossível a exclusividade por qualquer tecnologia inovadora. NOTA Manufatura: trabalho manual e/ou processo de produção de bens em série padronizada, ou seja, são produzidos muitos produtos iguais e em grande volume. E agora? Você pode estar se perguntando, qual será o fator principal de competitividade dos mercados? Isso mesmo, as empresas de primeiro mundo já perceberam que o único fator de competitividade está na capacidade inovadora, na velocidade que as organizações levam para se adaptar às mudanças ambientais (as novas regras de mercado). Essa adaptação pode vir através de novos produtos ou até novas alianças com stakeholders. NOTA Stakeholder: designa uma pessoa, grupo ou entidade com legítimos interesses nas ações e no desempenho de uma organização. Assim, pode-se pressupor que a prosperidade de uma nação não é determinada por indicadores econômicos ou valor de sua moeda, como insistem em dizer os economistas clássicos. A competitividade de uma nação depende da capacidade inovadora de seus setores industriais. (PORTER, 1989). Então, a competição entre as empresas não se dá mais por recursos disponíveis a todos, mas por criação e assimilação de conhecimento. TÓPICO 1 | DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS 7 2.3 O SEGREDO DA ADMINISTRAÇÃO DE UMA EMPRESA Nessa altura você já percebeu que os estudos da economia tradicional não dão mais conta de caracterizar os motivos que levam ao sucesso das organizações. Isto é, quais seriam os atributos econômicos (de mercado) responsáveis pelo sucesso das organizações. Para Coase (1937 apud WILLIAMSON; WINTER, 1993), uma organização ao entrar em um mercado sofre diversos “atritos” provenientes dos concorrentes, da cultura, do perfil do cliente, da regulamentação de mercado, dos fornecedores, dos produtos substitutos etc. A essa quantidade de “atritos” o autor deu o nome de custosde transação. Ora, você deve saber também que em mercados muito competitivos não se pode mexer nos preços finais, já que todos trabalham próximos de seus custos. Então o papel do administrador-gestor seria de encontrar maneiras de diminuir ao máximo esses custos de transação, utilizando para isso a análise dos recursos tangíveis (mensuráveis pela ciência da economia tradicional) e recursos intangíveis (conhecimento) necessários à adaptação da organização ao novo mercado. Quanto maior o grau de adaptação da empresa, menores seriam os custos de transação. Pense comigo, se a organização conseguir “tecer um tecido” entrelaçando recursos tangíveis e intangíveis, isto é, a melhor tecnologia manipulada por equipes criativas, terá um “emaranhado” difícil de ser imitado pela concorrência. Essas e outras reflexões já vistas nessa seção devem levar você a algumas conclusões (CHIAVENATO, 2004): • o benchmarking deixou de ser local ou regional. A nova perspectiva demanda o pensar global e ação local; • a gestão de pessoas deve estar centrada em educar, treinar, motivar – proporcionar autodesenvolvimento através de ideias de empreendedorismo; • com relação aos clientes deve apostar na constante interpretação das mutáveis aspirações do mercado consumidor. Sua empresa deverá antecipar-se às necessidades dos consumidores; • os produtos/serviços devem focar a diferenciação: seja em estrutura (tecnologia), seja em atendimento; • os recursos financeiros não garantem competitividade sustentável, haja vista grandes companhias de aviação com um patrimônio imenso que, mesmo assim, passam por grandes dificuldades – não adianta o melhor equipamento do mundo se não existem pessoas competentes para operá-lo; • no processo de escolha de um novo mercado de atuação, deve-se fazer um estudo sobre os recursos tangíveis e intangíveis que a empresa possui, na intenção de reduzir os custos de transação. UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 8 Enfim, o administrador-gestor deve ser capaz de diminuir os custos de transação para garantir a sua permanência no mercado. Assim a competitividade sustentável está na capacidade de adaptação das organizações. NOTA Benchmarking: instrumentos de gestão para melhorar o desempenho das empresas e conquistar a superioridade em relação à concorrência. 3 GERENCIAR MUDANÇAS Com o crescimento constante das organizações, era de se esperar que seu ambiente ficasse mais complexo. Consequentemente a administração das constantes adaptações às mudanças ambientais levou os estudiosos a darem início a uma abordagem que recebeu o nome de Desenvolvimento Organizacional (DO). DICAS Uma boa leitura sobre desenvolvimento organizacional está em CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 3.1 CARACTERIZAÇÕES DA MUDANÇA Perceba que os processos que garantem a qualidade daquilo que é entregue ao cliente ficam cada vez mais difíceis de compreender, pois é grande o emaranhado de recursos necessários para manter toda essa estrutura em funcionamento. Assim, a ideia do homem ultrassimplificado ou “aperta-botões” é substituído pelo homem baseado em conhecimento e em suas mutáveis e complexas necessidades. A relação de poder baseada na coação e na ameaça perde lugar para a colaboração e a razão. TÓPICO 1 | DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS 9 NOTA Coação: ato ou efeito de coagir, constranger e forçar. Essas novas relações entre capital e trabalho promoveram um novo olhar sobre toda a forma de administrar: Quanto à estrutura – você lembra a estrutura promovida no início da industrialização? Uma estrutura com muitos níveis hierárquicos que, quando desenhados, se pareciam muito com uma pirâmide. Com tantas mudanças, essa estrutura se aperfeiçoa através de um processo chamado downsizing (um processo que reduz os níveis hierárquicos). Isto é, linhas inteiras de supervisores e gerentes são retiradas do organograma, tornando o desenho da pirâmide mais achatado como mostra a figura a seguir: FIGURA 1 – MUDANÇA ESTRUTURAL DA NOVA ORGANIZAÇÃO ANTES DEPOIS FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2005, p. 131) NOTA Organograma é um quadro representativo de organização ou de serviço e que indica as relações entre suas unidades, as atribuições de cada uma. UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 10 Essa estrutura mais leve (horizontalizada) promove uma percepção menos alienada sobre a relação do capital e trabalho. Os colaboradores (novo termo utilizado para os funcionários que usam a razão e colaboram com a organização) são convidados a participar de forma racional do processo produtivo – colaborando com a melhor forma “de se fazer o que se tem para fazer”. Quanto às mudanças tecnológicas – as constantes inovações na área de automação industrial foram responsáveis por inúmeras demissões – as máquinas precisavam cada vez menos da força motriz do homem. Por outro lado, o novo aparato exigia grande capacidade lógica (raciocínio lógico) do novo colaborador. Poucos foram aqueles que percebiam as mudanças tecnológicas e corriam para cursos de capacitação no intuito de prolongar sua permanência na organização. Além da automação, a informatização trouxe grande poder de coordenação para as lideranças – a capacidade de prever a produtividade aumentava. A cada colaborador é permitido saber quanto contribuiu para os resultados da organização como um todo. Quanto ao comportamento – além das revoluções tecnológicas, outra “onda de mudança” impunha desafios aos gestores de Recursos Humanos. A prática de unir forças para aumentar o marketshare transforma-se em uma estratégia bastante comum. Ações como a formação de alianças, fusões e aquisições juntam culturas com valores e crenças muitas vezes antagônicas (LUZ, 2006). Então, como se não bastasse a preocupação com capacitação técnica, o choque entre culturas também passa a consumir grandes esforços da gerência de RH. NOTA Marketshare, participação de mercado, é a quota de mercado que uma empresa tem no seu segmento. Serve para avaliar a força e as dificuldades de uma empresa, além da aceitação dos seus produtos. Enfim, não é difícil compreender os desafios enfrentados pela gerência de Recursos Humanos: uma estrutura mais horizontalizada que transfere, de certa forma, maior autonomia para os colaboradores. Por outro lado, essa “autonomia” transfere para eles, os colaboradores, maior responsabilidade na formação de um clima organizacional sadio. Entretanto, fica cada vez mais difícil sustentar um clima organizacional favorável, visto que as estratégias de alianças, fusões e aquisições colocam à prova nossa capacidade de “adaptação” no mais profundo sentido da palavra. TÓPICO 1 | DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS 11 3.2 A IMPORTÂNCIA DA CULTURA E DO CLIMA ORGANIZACIONAL NO PROCESSO DE MUDANÇA Tentando acompanhar as mudanças ambientais, diversos programas são elaborados pela gestão de RH. Entretanto, a maioria deles não dá conta de desenvolver competências necessárias a tempo de serem implementadas para geração de resultados. Então a iniciativa de mudar não pode vir apenas de um “Centro Administrativo” ou ainda do gestor de RH, mas de cada indivíduo, do grupo, de todos. Para esclarecer melhor este novo conceito de organização baseada em estruturas formais e informais que se autodesenvolvem, temos que estabelecer algumas premissas: Quanto à conceituação – a organização ganha uma definição menos mecanicista e mais orgânica. Mecanicista quando utiliza o termo da administração clássica “coordenação de diferentes atividades”, mais orgânica quando usa o termo “contribuintes” revelando a importância de se considerar a vida fora do ambiente de trabalho e a vontade do trabalhador em contribuir para o alcance dos objetivos preestabelecidos. Além disso, as contribuições de cada participante à organização dependem das suas diferenças individuais e do sistema de recompensase contribuições da organização. (CHIAVENATO, 2005). Cultura organizacional – maneira tradicional de pensar e agir compartilhada por todos os componentes de uma organização. Ou ainda, de forma mais completa descrita por Chiavenato (2005, p. 323): “O conjunto de hábitos, crenças, valores e tradições, interações e relacionamentos sociais típicos de cada organização”. Esse jeito de se comportar influencia as formas de recompensas, as punições e as relações com seus stakeholders. Analisando as organizações à sua volta, poderá encontrar culturas mais conservadoras e inflexíveis, entretanto é importante que a organização lute por uma cultura mais adaptativa ou flexível, para que seus componentes possuam grande capacidade de adaptação às constantes mudanças ambientais (internas e externas). São inúmeras as influências geradoras da cultura organizacional, entre elas estão: seus fundadores – que deixam referências na formação histórica da organização; seu ramo de atividade – dependendo do tipo de produto e do mercado que operam, são influenciados pela tecnologia, pela qualidade dos recursos humanos etc.; dirigentes atuais – os líderes recém-chegados podem trazer novas perspectivas sobre a relação capital e trabalho e; área geográfica na qual a empresa atua – trazendo fortes influências regionais para dentro da cultura organizacional (LUZ, 2006). É importante que você saiba que a cultura é formada por aspectos formais (“visíveis”) e, de forma muito mais intensa, por aspectos informais (“invisíveis”). UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 12 Assim você pôde constatar que o clima é, principalmente, resultante da cultura organizacional e está ligado ao moral e às necessidades dos participantes. Mesmo sendo um fenômeno intangível, é possível observar as consequências de um clima saudável ou doentio e promover mudanças estruturais e comportamentais, sancionando ou encorajando atitudes que interfiram nesse processo de interação entre indivíduos e grupos. NOTA Sancionado: confirmar, aprovar e/ou ratificar: sancionar as decisões de um mandatário. 3.3 OS ESTÁGIOS DA MUDANÇA Até aqui percebemos as diversas perspectivas da mudança, seja estruturais, tecnológicas e principalmente comportamentais. Por serem principalmente comportamentais, as mudanças envolvem aspectos da cultura e, consequentemente, do clima organizacional que, mesmo sendo um fenômeno intangível, é possível diagnosticar. Com toda essa bagagem informacional, é possível analisarmos os estágios da mudança e compreendermos melhor como acontece todo esse processo. Segundo Chiavenato (2005), o processo de mudança acontece em três etapas distintas: O descongelamento do padrão atual de comportamento – nesta fase fica evidente a todos a necessidade de mudança. Se não há descongelamento, a tendência será o retorno ao padrão habitual e rotineiro de comportamento. O descongelamento significa que as velhas ideias e práticas são derretidas e desaprendidas para serem substituídas por novas ideias e práticas aprendidas. A mudança – inicia-se a adoção de novas atitudes, valores e comportamentos. O agente de mudança conduz pessoas, grupos ou toda a organização no sentido de promover novos valores, atitudes e comportamentos por meio de processos de identificação e internalização. Os membros da organização se identificam com os valores, atitudes e comportamentos do agente de mudança para então internalizá-los, desde que percebam a eficácia no seu desempenho. Recongelamento – significa a incorporação de um novo padrão de comportamento por meio de mecanismos de suporte e de reforço, de modo que ele se torne a nova norma. Passa a ser a nova maneira que a pessoa conhece e faz o seu trabalho. Conhecer apenas a nova prática não é suficiente. É preciso incorporá-la ao comportamento. TÓPICO 1 | DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS 13 Além dessas três fases, é importante analisarmos também a perspectiva de Lewin (apud CHIAVENATO, 2004) que descreve que o processo de mudança ocorre em um campo com forças concorrentes. Isto é, de um lado forças endógenas e exógenas impulsionam todos para a mudança (forças de apoio e suporte). De outro lado forças negativas impulsionam no sentido contrário à mudança (forças de oposição e resistência), fazendo com que tudo fique como está. Para que a mudança ocorra, é preciso haver um desequilíbrio a favor das forças geradoras da mudança. NOTA Força endógena: que se forma no interior e força exógena, no exterior. Enfim, organizações que adotam o desenvolvimento constante possuem características bem peculiares. Chiavenato (2004) resume essas características em: conhecimento profundo de si próprio e de suas capacidades; conhecimento realístico do meio ambiente em que elas operam; planejamento das relações com o meio ambiente e seus participantes; estrutura flexível com alto grau de adaptação às mudanças ambientais. 4 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS Se você acompanhou as transformações da economia até aqui, percebeu a movimentação de suas bases: desde a industrialização (com a economia baseada em ativos tangíveis) até os dias atuais, com a economia e competitividade baseada em conhecimento ou na capacidade de adaptação das organizações. 4.1 O NOVO PAPEL DA GESTÃO DE PESSOAS Para ajudar a organização a cumprir seus objetivos e, a partir deles, criar vantagem competitiva sustentável, a gestão de pessoas tem assumido papéis múltiplos. Segundo Chiavenato (2005), esses papéis resumem-se em: Administração de estratégias de recursos humanos – tem como função ajudar a organização a alcançar seus objetivos estratégicos. O RH executará diagnósticos para monitorar as forças e fraquezas das organizações. Administração da infraestrutura da empresa – tem o objetivo de construir uma infraestrutura eficiente que ofereça serviços à organização. Formar grupos de UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 14 coordenadores capazes de aumentar a eficiência e reduzir custos, e se necessário, a reengenharia dos processos para oferecer serviços que promovam a melhoria contínua. Administração da contribuição dos funcionários – construir ambiente de colaboração interpessoal e intergrupal. Sob a nova perspectiva de parceria, convidar a todos para uma postura mais empreendedora na relação com os recursos e stakeholders da organização. Administração da transformação e da mudança – deve colocar-se como agente de mudança e inovação, trabalhar para aumentar a capacidade de adaptação da organização, garantindo a solução de eventuais problemas. Na prática, podemos perceber que a gestão de pessoas: • participa ativamente da elaboração das estratégias para utilização eficiente de recursos tangíveis e intangíveis; • assume a postura de órgão de staff, prestando assessoria para os gestores de linha na coordenação dos esforços humanos; • monitora as relações de trabalho zelando por um clima organizacional saudável; • deve garantir o alinhamento das competências ao negócio da organização com o objetivo de gerar valor sob a perspectiva do cliente. Conclui-se então que o papel da gestão de pessoas ficou muito mais abrangente e complexo e a execução eficiente de todos esses objetivos só seria possível se a gestão de pessoas fosse “pulverizada” por toda a organização. Isso significa que a cultura organizacional deve ser impregnada com atitudes mais autônomas e empreendedoras para que os processos de mudança aconteçam de forma organizada e sistêmica. 4.2 DESENVOLVIMENTO DO CAPITAL HUMANO A essa altura você já percebeu a importância das pessoas para o sucesso da organização. Ficou evidente que a competitividade sustentável vem do processo de inovação. Então é preponderante que você compreenda que esse capital humano não pode ser gerenciado da mesma forma que estruturas tangíveis como produtos, máquinas e/ou tecnologias. Perceba que, na saída de um colaborador, ele leva consigo tudo que aprendeu durante sua experiência na empresa (capital humano). Isto é, seus conhecimentosestabelecidos durante anos de relacionamento com o mercado e todo o investimento da empresa em treinamento e capacitação. Assim, para desenvolver o capital humano nas empresas, os gerentes devem estar preparados para desenvolver estratégias para gerir esse bem tão precioso: TÓPICO 1 | DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS 15 • o processo de recrutamento e seleção deve ser criterioso no levantamento das necessidades da organização e fornecer pessoas talentosas para essas funções – a agilidade, flexibilidade, dinamismo e proação devem estar entre as características mais desejadas; • os programas de treinamento devem complementar os conhecimentos para gerar as competências esperadas; • a cultura organizacional deve ser influenciada com um clima de abertura entre líderes e liderados enfatizando a liberdade e a participação (empowerment) – para captação das experiências de ambas as partes. Além disso, a cultura deve ser de recompensas por competências adquiridas durante as práticas funcionais; • por outro lado, os líderes devem promover tarefas desafiadoras que promovam o desenvolvimento dos colaboradores; • para que esse desenvolvimento aconteça, é importante saber que o conhecimento pode ser explícito – facilmente encontrado em manuais e normas da empresa; é mais fácil de armazenar. Entretanto o conhecimento tácito não é nada fácil – ele é o que as pessoas sabem, mas não conseguem explicar, passar adiante facilmente. Por exemplo, não existe manual que explique como andar de bicicleta. Esse tipo de conhecimento é armazenado através da convivência, no dia a dia. Assim, para capturar esse conhecimento tácito, são traçadas estratégias de socialização ou de compartilhamento de experiências. NOTA Preponderante: que tem mais importância, mais autoridade, mais peso em relação a outro. NOTA Empowerment significa a descentralização de poderes pelos vários níveis hierárquicos da organização, o que permite a criação de maior motivação nos trabalhadores. Existem inúmeros procedimentos para tentar absorver os conhecimentos gerados pela prática. Podemos citar aqui o processo de job-rotation que promove UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 16 a troca sistemática de funções dentro de um mesmo setor – a oportunidade de conhecer todas as funções aumenta a visão sistêmica sobre todo o processo criando um ambiente favorável à inovação (a criatividade para aperfeiçoar o processo). É importante ressaltar que a criação de mecanismos para a captura do conhecimento não é tão importante quanto as estratégias para sua utilização. Isto é, criar sistemas de informação para guardar as melhores práticas é importante, mas não tão importante quanto a cultura de consultar e utilizar o conhecimento ali armazenado. NOTA Job-rotation: rotação de trabalho, que implica a experiência que o trabalhador pode ter ao alternar as atividades de seu dia a dia, com as atividades que pode aprender em outros setores ou cargos. 4.3 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE GESTÃO DE PESSOAS Atender as expectativas de mercado não é tarefa fácil. Adaptar e readaptar a infraestrutura sem causar danos à cultura ou clima organizacional é uma atividade que precisa ser planejada. Mas para isso é necessário estabelecer algumas premissas: Identificação formal da missão – estabelece, de forma clara, os motivos da existência da organização, qual a sua principal incumbência perante os stakeholders (clientes, acionistas, fornecedores, governo, sociedade etc.). Segundo Chiavenato (2005), a missão deve responder a três perguntas básicas: Quem somos nós? O que fazemos? Por que fazemos o que fazemos? A missão deve servir como arcabouço para toda a tomada de decisão, formal ou informal. Além disso, toda missão deve ser objetiva, clara, alcançável e inspiradora. Como “credo” a ser seguido, deve estar presente na abertura e fechamento das reuniões e no discurso de qualquer líder que se pronuncie. Não é difícil imaginar que no texto da missão vai estar presente a perspectiva cultural da empresa. Estará expresso nas entrelinhas o que a organização preza e o que despreza – usamos essa percepção para listar os valores da organização que deverão estar na cabeça de cada componente da instituição e de seus parceiros. Identificação formal da visão – anseios e perspectiva de futuro da organização. Vai identificar os objetivos organizacionais – será a força que TÓPICO 1 | DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS 17 mantém todos unidos em prol de um sonho alcançável, por isso real. Em empresas de primeiro mundo não se controlam pessoas pelo cumprimento de regras e normas, mas pelo alcance de resultados. A identificação da visão deve eliminar a necessidade de coerção, pois as pessoas já sabem para onde devem conduzir seus trabalhos. Análise ambiental – análise do ambiente interno e externo. Para elaborar o planejamento estratégico, é preciso conhecer as forças e fraquezas internas e as ameaças e oportunidades externas à organização. A ideia é utilizar os pontos fortes, minimizando as fraquezas para aproveitar as oportunidades de driblar as ameaças. NOTA Coerção: ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça. Fatores que interferem no planejamento estratégico de RH, segundo Chiavenato (2005): Absenteísmo – as ausências, faltas ou atrasos ao trabalho dos empregados provocam algumas distorções na mensuração do volume e disponibilidade da força de trabalho (Figura 2). Pesquisas mostram que as ausências são ocasionadas pela capacidade profissional das pessoas e pela sua motivação para o trabalho. A capacidade de assiduidade pode ser reduzida por barreiras como doenças, acidentes, responsabilidades familiares e particulares, problemas com transporte para o local de trabalho. Outro fator importante é como a cultura da organização encara as ausências: com recompensas e punições ou simplesmente as considera aceitáveis. FIGURA 2 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE ABSENTEÍSMO Índice de absenteísmo = Total de Pessoas horas perdidas Total de Pessoas horas de trabalho FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2005, p. 86) O índice de absenteísmo pode ser mensal ou anual. Se o índice de absenteísmo mensal é de 10%, por exemplo, a organização conta, na realidade, com 90% de sua força de trabalho no período. UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 18 Rotatividade de pessoal – tecnicamente chamado de turnover, esse índice revela a razão entre número de funcionários desligados e o efetivo médio da organização. Como qualquer outro sistema, a organização também busca a homeostase. Esse equilíbrio dinâmico é afetado toda vez que um colaborador é demitido ou admitido. Então esse índice deve ser acompanhado de perto pelos líderes. DICAS Uma boa leitura sobre homeostase (equilíbrio dinâmico) está em CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. FIGURA 3 – CÁLCULO DO ÍNDICE DE ROTATIVIDADE Nº de funcionários desligadosÍndice de rotatividade = Efetivo médio da organização FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2005, p. 88) O índice de turnover não é a causa, mas a consequência de algumas variáveis externas (conjuntura econômica, política governamental etc.) e internas (estilo de liderança, política salarial, política de cargos e salários etc.). Uma das formas de detectar o problema antes que tome proporções desastrosas é a entrevista de desligamento. Chiavenatto (2005) apresenta um modelo de critérios para investigarmos através desse instrumento: • motivo que determinou o desligamento (por iniciativa da organização ou do funcionário); • opinião do funcionário a respeito da empresa, do gerente e dos colegas; • opinião a respeito do cargo, horário de trabalho e condições de trabalho; • opinião a respeito do salário, benefícios sociais e oportunidades e progresso; • opinião a respeito do relacionamento humano, moral e atitude das pessoas; • opinião a respeitodas oportunidades existentes no mercado trabalho. Todos esses dados devem ser tabulados e tratados estatisticamente para termos uma pista sobre as causas do turnover e agirmos proativamente. 19 Neste tópico você estudou que: • Os modelos econômicos, agora mais complexos, não conseguem mais determinar o futuro das organizações com tanta precisão como antes. • A competição entre as empresas não se dá mais por recursos disponíveis a todos, mas por criação e assimilação de conhecimento. • O administrador-gestor deve ser capaz de diminuir os custos de transição para garantir a sua permanência no mercado. Assim a competitividade sustentável está na capacidade de adaptação das organizações. • Fica cada vez mais difícil sustentar um clima organizacional favorável, visto que as estratégias de alianças, fusões e aquisições colocam à prova nossa capacidade de “adaptação” no mais profundo sentido da palavra. • Mesmo a cultura organizacional sendo um fenômeno intangível é possível observar as consequências de um clima saudável ou doentio e promover mudanças estruturais e comportamentais, sancionando ou encorajando atitudes que interfiram nesse processo de interação entre indivíduos e grupos. • A cultura organizacional deve ser impregnada com atitudes mais autônomas e empreendedoras para que os processos de mudança aconteçam de forma organizada e sistêmica. • Criar sistemas de informação para guardar as melhores práticas é importante, mas não tão importante quanto a cultura de consultar e utilizar o conhecimento ali armazenado. RESUMO DO TÓPICO 1 20 Mãos à obra agora! Vamos trabalhar o conteúdo respondendo às questões a seguir: 1 Descreva a evolução das bases da economia desde a Revolução Industrial até os dias de hoje. 2 Qual a relação de importância entre os conceitos de “guardar” as melhores práticas e utilizá-las efetivamente? 3 O turnover é a causa ou consequência? 4 O que pode provocar distorções na mensuração do volume de disponibilidade da força de trabalho, segundo os fatores que interferem no planejamento estratégico de RH? 5 Qual o índice de turnover deste ano nesta organização? (Dados: número de funcionários desligados: 134 funcionários e o efetivo médio é de 757 funcionários). AUTOATIVIDADE 21 TÓPICO 2 ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Sob a nova perspectiva, o processo de agregar pessoas adquiriu grande importância na geração de competitividade sustentável. Com um processo macro-orientado, planeja suas ações para longo prazo e, através de programas e objetivos bem definidos, promove o desenvolvimento do capital intelectual da organização. Mas tudo isso começa no estudo minucioso dos processos de recrutamento e seleção que atraem e selecionam as pessoas que possuem expectativas semelhantes às da organização. 2 RECRUTAMENTO Você perceberá grandes evoluções no processo de recrutamento. Ele sai de uma visão processual burocrática para uma perspectiva muito mais estratégica. Seus programas de recrutamento não atendem a simples procedimento sazonal da organização, mas à preparação para ações estratégicas coordenadas na área de provisão de talentos. 2.1 MERCADO DE TRABALHO Empresas e pessoas compartilham o desejo de crescimento. Talvez sob perspectivas diferentes, mas compreendem que precisam uma da outra para alcançar seus objetivos. Em uma abordagem mais atual, pessoas escolhem as empresas e as empresas escolhem as pessoas. Entretanto, a área de recursos humanos é influenciada pelas circunstâncias de mercado: se temos oferta de muitas oportunidades de trabalho e poucos candidatos, o aprovisionamento de pessoas fica mais difícil. Por outro lado, se a situação se inverte, muitos candidatos para poucas ofertas de trabalho, pressupõe uma situação de mercado favorável para a área de RH (Quadro 1). UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 22 Ao longo da história o emprego tomou muitas formas, mas a principal transformação foi a migração dos trabalhadores da indústria para a área de serviços com empregos menos permanentes e estáveis, resultado de uma automação industrial arbitrária que demitiu boa parte dos trabalhadores da época. Aqueles que ficaram ganharam grande capacidade técnica, inclusive com formação no exterior. Não demorou muito para eles, os colaboradores, perceberem que o conhecimento adquirido era precioso para seu mercado de atuação. Assim, na era do conhecimento, as circunstâncias são propícias para o trabalho autônomo, ampliando a capacidade de mobilidade desse novo trabalhador. QUADRO 1 – O IMPACTO DO MERCADO DE TRABALHO SOBRE OS CANDIDATOS Mercado de trabalho em oferta Mercado de trabalho em procura Excesso de vagas e de oportunidades de emprego no mercado de trabalho. Escassez de vagas e de oportunidades de emprego no mercado de trabalho. Os candidatos escolhem e selecionam as organizações que ofereçam melhores oportunidades, salários e benefícios. Os candidatos concorrem entre si para conseguir as poucas vagas que surgem, apresentando propostas salariais mais baixas ou candidatando-se a cargos inferiores às suas qualificações. As pessoas se predispõem a deixar seus empregos atuais para tentar melhores oportunidades em outras organizações, aumentando a rotatividade de pessoal. As pessoas procuram fixar-se nos atuais empregos, com medo de engrossar as filas de candidatos desempregados. Os funcionários sentem-se donos da situação e fazem reivindicações de melhores salários, benefícios e tornam- se mais indisciplinados, faltam e atrasam mais, aumentando o absenteísmo. Os funcionários passam a não criar atritos em seus empregos, nem a propiciar possíveis desligamentos; tornam-se mais disciplinados, procuram não facilitar e nem atrasar ao serviço. FONTE: Chiavenato (2005, p. 110) Com alto nível de produtividade, as indústrias enxugam seus quadros e, muitas delas, terceirizam serviços especializados. Cresce o setor de serviços com melhores salários e grandes perspectivas de conseguir mais da “moeda de mercado” – o conhecimento tácito –, advindo da experiência adquirida nas diversas organizações que prestam serviços. Outro aditivo importante está na revolução tecnológica dos últimos tempos. Softwares do tipo GroupWare permitem um mesmo especialista fornecer seus conhecimentos a diversas pessoas ao mesmo tempo. As inovações tecnológicas possibilitam o trabalho de equipes multidisciplinares, mesmo que seus membros estejam geograficamente distantes, o que permite às organizações utilizarem mais eficientemente a expertise de seus colaboradores talentosos. Outra consequência dessa mesma tecnologia é o surgimento de uma nova modalidade de emprego, que é o home-office – colaboradores que trabalham em suas casas. TÓPICO 2 | ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS 23 Geralmente são atividades com alto teor técnico: programadores de software, arquitetos e engenheiros ou qualquer outra atividade que passa a não ter sua presença necessária dentro da estrutura física da organização. NOTA GroupWare é um software que apoia o trabalho em grupo, coletivamente. 2.2 DESVENDANDO O RECRUTAMENTO A área de recrutamento tem enfrentado muitos desafios. Salas se enchem com pessoas candidatas, mas pouquíssimas se enquadram verdadeiramente no perfil desejado. A principal função do recrutamento é atrair candidatos para o processo seletivo. O processo deve conter a divulgação de oportunidades de trabalho para a organização em questão. Chiavenato (2005 p. 110) complementa: “[...] conjunto de atividades desenhadas para atrair candidatos qualificados para uma organização” ou ainda [...] “conjunto de técnicas e procedimentos que visa a atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização”. Existem dois tipos de recrutamento (CHIAVENATO, 2005): a) recrutamento interno – atua sobre os candidatos que estão trabalhando dentro da organização – a intenção é promovê-los ou transferi-los; b) recrutamentoexterno – atua sobre os candidatos que estão no MRH (Mercado de Recursos Humanos) para submetê-los ao processo de seleção de pessoal. As principais diferenças também são apontadas por Chiavenato (2005): QUADRO 2 – AS DIFERENÇAS ENTRE RECRUTAMENTO INTERNO E EXTERNO Recrutamento Interno Recrutamento Externo Os cargos vagos são preenchidos por funcionários, que são selecionados e promovidos dentro da organização. Os cargos vagos são preenchidos por candidatos externos que são selecionados e ingressam na organização. Os candidatos são recrutados internamente dentro dos quadros da própria organização. Os candidatos são recrutados externamente no mercado de recursos humanos. UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 24 Os candidatos já são conhecidos pela organização, passaram por teste de seleção, passaram por programas de treinamento e foram avaliados quanto ao seu desempenho. Os candidatos são desconhecidos pela organização e precisam ser testados e avaliados pelo processo seletivo. As oportunidades de emprego melhor são oferecidas aos próprios funcionários, que podem subir a postos melhores e desenvolver sua carreira profissional dentro da organização. As oportunidades de emprego são oferecidas ao mercado, cujos candidatos podem disputá-las. FONTE: Chiavenato (2005, p. 115) Além de motivar e encorajar o desenvolvimento profissional, o recrutamento interno incentiva a permanência e apresenta mais chance de acertar a vaga mais adequada para o melhor candidato. Entretanto, essa espécie de recrutamento “afasta” a organização das mudanças ambientais externas, deixando intacta a rotina atual com poucas chances de aperfeiçoamento da cultura organizacional, já conceituada em seções anteriores. Quanto ao recrutamento externo, temos um campo de atuação muito mais abrangente. O MRH é imenso e requer um procedimento ativamente constante para aproveitar oportunidades e seduzir talentos para trabalhar na organização. Esse processo só termina quando o candidato preenche uma proposta de emprego ou entrega seu curriculum vitae (CHIAVENATO, 2005). Assim, o recrutamento externo possibilita que a organização atualize sua cultura e fomente o incremento de seu capital intelectual. Entretanto, não promove a motivação entre os colaboradores e aumenta os custos operacionais, pois se faz necessário um bem elaborado processo de seleção com menos chances de acertar a vaga adequada ao melhor candidato. Além disso, você não pode esquecer que o novo colaborador precisará participar do processo de integração com os colegas que vai encontrar, e sempre se corre o risco da não adaptação ao ambiente de trabalho. Existem algumas técnicas de recrutamento, aqui adaptadas, enumeradas por Chiavenato (2005): anúncios em jornais e revistas especializadas; agências de recrutamento; contatos com escolas, universidades e agremiações; cartazes ou anúncios em locais visíveis; apresentação de candidatos por indicação de funcionários; consulta aos arquivos de candidatos; banco de dados de candidatos. a) Anúncios em jornais e revistas especializadas – processo indicado para funcionários de escritório, gerentes e supervisores; para cargos com alto nível técnico, as revistas especializadas também são indicadas. Uma dica para o anúncio pode ser o modelo de Elmo Lewis (apud CHIAVENATO, 2004), estudioso do comportamento do consumidor: • saber da existência do produto ou serviço (atenção) – nesse tópico a localização do anúncio de vaga e o seu tamanho podem atender esse requisito; TÓPICO 2 | ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS 25 • estar interessado o suficiente para prestar atenção nas características, especificações e benefícios do produto (interesse) – para despertar o interesse, devemos analisar a natureza do cargo. Se um dos requisitos é o aspecto de liderança, coloque frases do tipo: “deve estar preparado para enfrentar desafios”. Esse tipo de argumento desperta o interesse desse perfil de função; • ter um desejo de obter os benefícios que o produto oferece (desejo) – mencione a possibilidade de desenvolvimento da carreira profissional, ou ainda participação nos resultados. Dessa forma criará expectativas de alcance dos objetivos pessoais; • comprar o produto (ação) – geralmente concluímos o anúncio convencendo o leitor a tomar alguma atitude para participar do processo, geralmente enviando um currículo para determinado endereço. b) Agências de recrutamento – quando a organização não está preparada para atrair um grande número de candidatos ou a oferta da vaga deve ser sigilosa, você pode utilizar o serviço terceirizado das agências de recrutamento ao invés de ir direto ao MRH. Segundo Chiavenato (2005), temos três tipos de agência: operadas pelo governo (SINE – Sistema Nacional de Empregos); associadas com organizações não lucrativas (CIEE – Centro de Integração Empresa- Escola); agências privadas de recrutamento. Chiavenato (2005) recomenda alguns cuidados na utilização das agências de recrutamento: • descrever minuciosamente os requisitos do cargo; • especificar as ferramentas utilizadas para a seleção dos candidatos; • dar feedback para a agência dos aceitos e rejeitados pela organização; • desenvolver bons relacionamentos com pelo menos duas agências de recrutamento. c) Contratos com escolas, universidades, agremiações – a organização deve se aproximar de instituições educacionais e divulgar suas oportunidades de trabalho. Algumas organizações utilizam eventos para divulgar suas políticas de RH. d) Cartazes ou anúncios – indicados para contratação de cargos com baixo nível técnico. Colocados em lugares estratégicos, podem ser um meio de divulgação com boa relação de custo-benefício. e) Candidatos por indicação – nesta opção o anúncio da oportunidade é divulgado pelo próprio funcionário que indica um amigo, parente ou vizinho. Um recrutamento de baixo custo que, na maioria dos casos, faz o colaborador sentir-se importante no processo de continuidade da organização. f) Consulta aos arquivos de candidatos – banco de dados composto por candidatos que aparecem espontaneamente para deixar seu curriculum. Ou ainda candidatos de outro processo de recrutamento que não foram considerados. UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 26 g) Agências de trabalho temporário – os temporários são usados para serviços de curto prazo, por exemplo, no caso de os gerentes não poderem justificar a contratação de mais um funcionário em caráter permanente. Com o custo de demissão reduzido, as empresas contratantes desses serviços devem verificar o devido registro da empresa fornecedora no Sistema de Registro de Empresas de Trabalho Temporário – SIRETT. O processo de recrutamento deve ser minuciosamente planejado. E de forma proativa deve estar inserido e alinhado com a estratégia do negócio. Mas, na prática, imprevistos acontecem, e temos que adaptar nossos planos. Assim como todo plano de ação, o processo de recrutamento deve ser constantemente monitorado para garantir o atingimento dos objetivos. 2.3 AVALIAÇÃO DO RECRUTAMENTO Para garantir o atingimento dos objetivos, é preponderante inserir no processo de recrutamento o monitoramento ou avaliação. Lembre-se de que o processo de recrutamento deve satisfazer as duas partes: a realização dos objetivos da empresa e do colaborador iniciante. É importante salientar que, mais importante que atrair um número grande de pessoas, é garantir a qualidade dos profissionais participantes. Mesmo assim, o parecer é unânime entre os especialistas: é impressionante os poucos que conseguem passar para a fase de seleção. Adaptando os conceitos propostos por Chiavenato (2005) sobre os critérios de avaliação, podemos classificá-los em três níveis: medidas de critérios globais, critérios sobre a eficiência do recrutador e critérios orientados para a metodologia utilizada para o recrutamento. QUADRO 3 – MEDIDAS PARA AVALIAR O RECRUTAMENTO Medidas de Critérios Globais (%) • Cargos preenchidos• Cargos preenchidos no prazo estipulado • Pessoas que permaneceram por mais de um ano na empresa • Pessoas satisfeitas com sua função Medidas sobre a eficiência do Recrutador (%) • Número de entrevistas feitas • Qualidade profissional dos entrevistados na percepção do entrevistador • Candidatos recomendados que são admitidos • Candidatos recomendados e admitidos que tenham um bom desempenho no ambiente de trabalho TÓPICO 2 | ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS 27 Medida sobre a eficiência da metodologia utilizada no Recrutamento (%) • Número de candidatos apresentados • Número de candidatos qualificados apresentados • Qualidade dos candidatos admitidos (desempenho e rotatividade) FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2005, p. 122) Além desses critérios é necessário que você também compreenda os custos financeiros dessa atividade. Assim, calcule também: custos por entrevista, custos por candidato e custos por admissão. As organizações são cada vez mais exigentes, seus numerosos critérios são para poucos. As causas estão na complexidade dos problemas enfrentados no dia a dia das organizações. A complexidade é tanta que uma ou duas pessoas não são suficientes para achar a solução. Só equipes multidisciplinares que aprendem e se desenvolvem juntas são capazes disso. 3 SELEÇÃO Assim, para formação de equipes multidisciplinares, tanto o recrutamento quanto o processo de seleção precisam ser minuciosamente planejados (Figura 4). Então uma das mais importantes tarefas da gestão de pessoas é o processo seletivo que, a partir de metodologias específicas, garante aos líderes maior expectativa no alcance da sinergia que todo grupo deve ter. 3.1 O PAPEL DA SELEÇÃO DE PESSOAS Para tornar o processo de seleção mais eficiente, é preponderante especificar as reais necessidades da organização e seus departamentos. Uma das formas de levantar as necessidades específicas da organização é por intermédio da análise de cargos. Um processo de análise constante vai atualizar as competências necessárias para cada função (conhecimentos, habilidades e atitudes – CHAs). Assim, os gerentes podem utilizar métodos de seleção como: entrevistas; referências; testes psicológicos e outros para medir os CHAs referentes às competências necessárias para a organização. Além disso, as pesquisas demonstram que a descrição de cargos bem especificada e sem ambiguidades reduz as influências raciais e de sexo dos entrevistadores. UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 28 FIGURA 4 – RECRUTAMENTO E SELEÇÃO COMO PARTE DO PROCESSO DE AGREGAR PESSOAS Mercado de candidatos (MRH) Recrutamento Seleção Organização FONTE: Chiavenato (2005, p. 131) Segundo Chiavenato (2005, p. 132), a definição de seleção é: “[...] o processo de escolher o melhor candidato para o cargo” ou “[...] a obtenção e uso da informação a respeito de candidatos recrutados externamente para escolher qual deles deverá receber a oferta de emprego”. Além disso, a seleção é um processo contínuo que deve constantemente se adaptar às necessidades da organização. O número de etapas no processo de seleção irá variar, pois irá depender do tipo e o nível de cargos a serem preenchidos. 3.2 PROCESSO DE SELEÇÃO Com o objetivo de manter o capital intelectual apesar do alto turnover das organizações, o processo de agregar pessoas deve ser minuciosamente planejado. Segundo Chiavenato (2005), o processo de seleção se divide em: processo de comparação, processo de decisão ou escolha e processo de colocação, seleção e classificação de candidatos. a) Processo de comparação – esse processo é baseado na comparação entre duas variáveis: requisitos dos cargos, de um lado e, do outro, o perfil das características do candidato. Os requisitos dos cargos são obtidos através da análise de cargos, já o perfil do candidato é obtido através das técnicas de seleção (Figura 5). TÓPICO 2 | ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS 29 FIGURA 5 – SELEÇÃO DE PESSOAL COMO UMA COMPARAÇÃO Versus O que o candidato oferece O que o cargo requer ou competências desejadas Características do candidato Especificações do cargo ou competências desejadas Análise e descrição do cargo para saber quais os requisitos que o cargo exige de seu ocupante ou definição da competência Técnicas de seleção para saber quais as condições pessoais para ocupar o cargo ou preencher a competência desejada FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2005, p. 132) Tanto a descrição de cargos como as competências oferecidas pelo candidato devem ser transformadas em um conjunto de critérios para que, ao final do processo, tenhamos um instrumento de medida. b) Processo de decisão e escolha – depois da comparação entre as duas variáveis, pode acontecer que vários candidatos apresentem condições para prosseguir no processo de seleção. Mas o órgão de seleção não pode impor ao requisitante a aceitação dos selecionados do processo de comparação. Pode apenas prestar o serviço especializado. Então a decisão final de aceitar ou rejeitar fica com o órgão requisitante (chamamos de responsabilidade de linha). c) Modelo de colocação, seleção e classificação de candidatos – a relação entre o número de candidatos e o número de oportunidades oferecidas pela organização pode nos remeter a três tipos de “tratamento” (Figura 6). Esse modelo é o mais indicado, pois o participante do processo de seleção não é candidato de apenas uma oportunidade, mas candidato da organização. UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 30 FIGURA 6 – MODELOS DE COLOCAÇÃO, SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE CANDIDATOS Modelo de Colocação Um candidato para uma vaga Modelo de Seleção Vários candidatos para uma vaga Modelo de Classificação Vários candidatos para várias vagas FONTE: Chiavenato (2005, p. 134) d) Identificação das características pessoais do candidato – identificar características pessoais do candidato requer conhecimentos sobre a natureza humana e que tipo de consequências pode acarretar o convívio com a tarefa que ele irá executar. No processo de identificação das características pessoais, vejamos algumas fontes de informação sobre os candidatos (BOHLANDER, 2003): ● Formulários de solicitação de emprego – na apresentação do currículo muitos candidatos exageram em suas qualificações então mesmo assim requisitam seu preenchimento. O formulário de solicitação de emprego carrega muitas informações que podem ajudar no processo de escolha do candidato mais adequado. Vale a pena ressaltar que sua complexidade é diretamente proporcional ao conjunto de competências necessárias ao cargo, e esse formulário deve ser constantemente atualizado. ● Formulário de informações biográficas – nesse formulário o candidato deve relatar suas experiências de vida: família, hobbies, clubes aos quais é associado, experiências profissionais anteriores e como se sentiu em cada uma delas. ● Investigação dos antecedentes – quando o entrevistador está satisfeito com as qualificações dos candidatos pode-se iniciar a investigação das informações fornecidas: informações sobre o emprego anterior, histórico escolar, possíveis registros criminais etc. TÓPICO 2 | ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS 31 ● Grafologia – resume-se na utilização de uma variedade de sistemas de análise de letra. Os grafologistas obtêm uma amostra da escrita cursiva dos candidatos e examinam características como, por exemplo, o tamanho e inclinação da letra e distribuição da escrita na página etc. Através desta análise conseguem determinar traços de personalidade, inteligência, energia etc. ● Exames médicos – uma das últimas etapas por ser onerosa: a empresa avalia as condições de saúde e sua predisposição para executar as funções do cargo pretendido. Esta avaliação é de extrema importância, já que os danos à saúde causados pela futura função devem ser devidamente indenizados. É preciso perceber que o processo de seleção deve objetivar a satisfação de ambos os lados. O candidato deve enxergara oportunidade de autodesenvolvimento através da dedicação e comprometimento com os objetivos organizacionais. NOTA Grafologia: conjunto de estudos teóricos e práticos sobre a escrita. 3.3 TÉCNICAS DE SELEÇÃO DE PESSOAS Após a caracterização dos cargos e a identificação das competências que se pretendem agregar, você terá que escolher a técnica de seleção mais adequada. As técnicas de seleção devem identificar características técnicas e comportamentais dos candidatos através de amostras de comportamento. Segundo Chiavenato (2005), elas podem ser agrupadas em cinco categorias: entrevistas, provas de conhecimento, testes psicológicos, testes de personalidade e técnicas de simulação. Vejamos algumas considerações sobre elas, ainda conforme o autor: a) entrevista de seleção – processo elaborado para buscar entre os candidatos atributos predefinidos que foram julgados como importantes para o cumprimento das funções do futuro colaborador. Com procedimentos padronizados, identifica a intensidade dos atributos buscados. Vale ressaltar que existe modelo de entrevista não estruturada que, apesar de possibilitar maior profundidade, é bastante criticada por possibilitar influências tendenciosas do entrevistador que podem aumentar a margem de erro desta técnica; b) provas de conhecimentos – essa técnica irá se concentrar nos conhecimentos e habilidades necessárias à futura função do candidato. Elas podem adotar diversas metodologias de aplicação (provas orais/escritas e até tarefas UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 32 dirigidas). Quanto às provas escritas, as variações metodológicas podem ser inúmeras (objetivas, dissertativas, utilizando escalas e ordenamentos etc.); c) testes psicológicos – através de diferentes metodologias são capturadas amostras de comportamento que servirão para diagnosticar aptidões. Esses testes psicológicos podem ser agrupados da seguinte forma: preditor (prevê o desempenho do colaborador); validade (atestar a relação entre a variável mensurada pelo teste e a variável de desempenho); precisão (capacidade de generalização do modelo de relações mensuradas); d) testes de personalidade – são utilizados para identificar traços de personalidade. Eles podem identificar características gerais ou específicas. Os testes específicos só são utilizados para cargos que necessitem de alguma característica de personalidade específica; e) técnicas de simulação – são aplicadas através de dinâmicas de grupo. Tentam criar uma realidade que será encenada pelos candidatos, colocando-os em situações muito semelhantes ao dia a dia da sua função. Os métodos aplicados podem ser inúmeros, desde entrevistas, testes e exames até investigações sobre a formação psicológica dos candidatos. Entretanto, independentemente do método utilizado, é condição sine qua non que as informações sejam confiáveis e válidas. Além disso, devem seguir padrões éticos que respeitem a privacidade e a confidencialidade das informações. 3.4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA SELEÇÃO DE PESSOAS Perceba que o processo de seleção deve também ser mensurado quanto à sua eficiência e eficácia. Mas como fazê-lo? Um dos índices mais utilizados, segundo Chiavenato (2005), é o Quociente de Seleção de Pessoal (Figura 7). FIGURA 7 – QUOCIENTE DE SELEÇÃO DE PESSOAL Número de candidatos admitidos QS = x100 Número de candidatos examinados FONTE: Chiavenato (2005, p. 154) TÓPICO 2 | ATENDENDO OS REQUISITOS DE RECURSOS HUMANOS 33 Você perceberá que quanto menor for o QS maior a eficiência e seletividade do processo. Trocando em miúdos, um processo seletivo com baixo índice de aprovação pode ser julgado como um processo com muitos critérios seletivos. Em contrapartida, um QS alto pode significar um processo seletivo com critérios mais abrangentes (comuns à maioria dos candidatos) com menos chances de atender as especificidades da função a ser exercida. O processo de seleção também traz inúmeros benefícios para os colaboradores. A identificação correta de suas habilidades, conhecimentos e atitudes (características advindas de um perfil psicológico) pode colocar ou realocar colaboradores em funções em que se sintam mais satisfeitos e motivados. Utilizando algumas considerações, adaptadas de Chiavenato (2005), identificamos os atributos mais procurados pelas organizações: a) pessoas orientadas para os resultados – o pragmatismo e o comprometimento com o alcance de metas pessoais e organizacionais; b) capacidade de trabalhar em equipe – a complexidade dos problemas organizacionais se dá em um nível multidisciplinar. Isto é, nenhuma pessoa ou área de conhecimento específica é capaz de resolvê-los. Assim, fica evidente que ter conhecimento e habilidades não dá mais conta do complexo mundo organizacional. É preciso ter a atitude de compartilhar e formar equipes com conhecimentos e habilidades complementares; c) pensamento sistêmico – pessoas capazes de perceber que a organização faz parte e, ao mesmo tempo, é composta por sistemas e subsistemas interdependentes. E uma das mais importantes características da abordagem sistêmica é que qualquer ação sobre uma das partes afetará todo o sistema. Enfim, ao final do processo seletivo teremos pessoas talentosas posicionadas em cargos adequados às suas principais competências. Como consequência da criteriosa adequação dos objetivos pessoais e organizacionais, espera-se maior produtividade pelo aumento da capacidade das pessoas. 34 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou que: • A seleção é um processo contínuo que deve constantemente se adaptar às necessidades da organização. • Ao final do processo seletivo teremos pessoas talentosas posicionadas em cargos adequados às suas principais competências. • É preciso perceber que o processo de seleção deve objetivar a satisfação de ambos os lados. O candidato deve enxergar a oportunidade de autodesenvolvimento através da dedicação e comprometimento com os objetivos organizacionais. • Os métodos de seleção podem ser inúmeros. Entretanto, independentemente do método utilizado, é condição sine qua non que as informações sejam confiáveis e válidas. Além disso, devem seguir padrões éticos que respeitem a privacidade e a confidencialidade das informações. 35 Mãos à obra! Vamos trabalhar o conteúdo respondendo às questões a seguir: 1 Qual a importância da análise de cargos para o processo seletivo? 2 Como devemos interpretar o Quociente de Seleção de Pessoal? 3 Por que as organizações precisam de pessoas com visão sistêmica? 4 Qual das técnicas de seleção possui modalidade criticada por sua imprecisão? 5 O processo de seleção deve beneficiar exclusivamente a empresa? AUTOATIVIDADE 36 37 TÓPICO 3 AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como já sugerido em seções anteriores, a organização é um sistema formado de subsistemas. Ela mesma, a organização, é um subsistema de sistemas sociais maiores. Assim, a função de RH que aplica pessoas deve manter integrantes, iniciantes ou não, envolvidos em uma sinergia constante que leve todos a objetivos predefinidos (objetivos pessoais e organizacionais). 2 AS INFLUÊNCIAS DO AMBIENTE Mesmo já convictos das influências geradas pela abordagem sistêmica, é importante que você perceba que o colaborador participa de inúmeras organizações (grupos sociais). Cada uma delas exige do indivíduo respostas comportamentais diferentes – os chamados “papéis”. 2.1 CULTURA E SEUS COMPONENTES Até aqui você já percebeu que a organização não é o único ambiente de convivência dos colaboradores. Na verdade a organização não possui seus colaboradores por completo, eles participam de inúmeros grupos sociais. Assim, apenas algumas potencialidades são utilizadas pela organização – aquelas que interessam para o alcance dos objetivos predefinidos. O cerne da questão está em fazer com que os colaboradores cumpram seu papel com a máxima eficácia possível. Dentro do grande processo de aplicar pessoas, aatividade que tem essa missão é o de orientação de pessoas. A atividade de orientação de pessoas deve se preocupar com algumas premissas: 38 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS A missão e a visão da organização: a orientação das pessoas deve seguir as premissas que revelam os objetivos organizacionais. A visão declara seus objetivos e a missão esclarece como irá alcançá-los. Toda orientação de pessoas deve perseguir esses ideais. A cultura organizacional: como já explanado em seções anteriores: é a maneira tradicional de pensar e agir compartilhada por todos os componentes de uma organização (CHIAVENATO, 2005). Esse jeito de se comportar influencia as formas de recompensas, as punições e as relações com seus stakeholders. Como mostra a Figura 8, a cultura organizacional é composta por aspectos formais (conhecidos por todos) e aspectos informais (ocultos) de difícil identificação. FIGURA 8 – O ICEBERG DA CULTURA ORGANIZACIONAL Aspectos formais e abertos Aspectos informais e ocultos FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2003, p. 127) Aspectos formais da cultura organizacional: estrutura de cargos e funções (organograma), normas e procedimentos, perspectivas de metas e objetivos, enfim, aspectos da cultura que podem ser acompanhados por qualquer observador. Aspetos informais da cultura organizacional: relações de poder, comportamentos comuns perante as adversidades do dia a dia, relações afetivas, expectativas e normas grupais – tudo que fica difícil de observar e caracterizar, haja vista a subjetividade do comportamento das pessoas. De forma geral podemos classificar a cultura organizacional de duas formas: flexíveis ou não flexíveis. Vejamos algumas características adaptadas de Chiavenato (2005) para cada um desses tipos: a) cultura flexível: a administração é centrada nas necessidades dos clientes. As mudanças são rapidamente iniciadas em prol dos verdadeiros objetivos organizacionais; TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 39 b) cultura não flexível: a administração se detém em controlar processos e aumento de produtividade com baixo risco. Você pode estar pensando que o ideal é ter uma empresa completamente flexível. Não é bem assim. Uma empresa em mudança constante não concluiria nada que começasse, assim é necessário que as organizações tenham sua fase de estabilidade. Na verdade deve haver um equilíbrio entre a adaptabilidade e a homeostase. 2.2 A SOCIALIZAÇÃO ORGANIZACIONAL Para os novos colaboradores o choque cultural é inevitável. A organização deve possuir processos de integração para recepcionar esse novo colaborador. O processo de socialização organizacional tem a proposta de receber os novos colaboradores e integrá-los à cultura da empresa. Durante esse processo, o colaborador terá que renunciar a hábitos e adaptar preconceitos, pois deve concordar em obedecer às novas regras e seguir orientações básicas vindas de uma estrutura hierárquica preestabelecida. Por outro lado, é inevitável que a cultura da organização, de certa forma, também seja influenciada pelo novo colaborador – uma “via de mão dupla”. Os métodos de socialização mais utilizados, segundo Chiavenato (2005), são: a) Processo seletivo – no processo de seleção já se pode iniciar a apresentação das características culturais da empresa. Revelam-se ao candidato peculiaridades sobre as atividades e comportamentos do seu possível grupo de trabalho. b) Conteúdo do cargo – os novos colaboradores devem receber tarefas suficientemente desafiadoras para que experimentem o sucesso pelo bom desempenho. c) Supervisor como tutor – o superior imediato deve cuidar do novo colaborador sugerindo formas de entrosamento aos grupos sociais já existentes dentro da organização. Algumas empresas de primeiro mundo adotam o termo “anjo da guarda” (um apelido para aquele que é ponto de referência para quaisquer dificuldades que o novo colaborador possa enfrentar). d) Grupo de trabalho – um dos maiores responsáveis pela integração. É capaz de passar para o novo colaborador a composição informal da cultura organizacional. O grupo deve se empenhar para acomodar o novo integrante às atividades sociais do departamento, responsabilizando-se pela impressão positiva (sobre a organização) que deve ser passada para o novo membro da equipe. 40 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS e) Programa de integração – é composto por diversas atividades que têm a intenção de revelar ao novo colaborador aspectos sobre a missão, visão e, principalmente, os valores da organização. Características sobre o público- alvo, nível de qualidade e produtos oferecidos também fazem parte desse programa. Podemos perceber que as atividades de orientação são de grande importância para o processo de aplicar pessoas. Percebidas como processo contínuo, têm a finalidade de integração no menor prazo possível. 2.3 PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO Este programa tem a proposta de proporcionar informação a respeito da cultura organizacional, do cargo e expectativas em relação ao trabalho. O programa de orientação, segundo Chiavenato (2004), visa alcançar os seguintes objetivos: a) reduzir a ansiedade das pessoas – a ansiedade é gerada pela incerteza sobre a capacidade de realizar o trabalho. Com o acompanhamento de funcionários experientes dando apoio adequado aos novatos, a ansiedade diminui; b) reduzir a rotatividade – a rotatividade é maior nos primeiros meses de atuação. Assim é importante o acompanhamento e a distribuição adequada de metas que sejam gradativamente desafiadoras; c) economizar tempo – o processo de adaptação para os novos integrantes é complexo. Se não houver apoio integrado de todos os envolvidos, o tempo despendido para a integração dos novos participantes será grande, causando assim baixa produtividade; d) para desenvolver expectativas realísticas – de forma objetiva deixar claras as expectativas com relação ao desempenho esperado dos dois lados (empresa/ colaborador). DICAS Para conhecer um pouco mais sobre Chiavenato, acesse <http://www. chiavenato.com/>. Acesso em: 23 abr. 2012. TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 41 A tendência do processo de orientação é promover a clareza das relações no trabalho. Os ruídos de comunicação devem ser dirimidos, pois a qualidade da tarefa de integração é mensurada pelo tempo que se leva para um novo colaborador alcançar o nível de produtividade da equipe em que ele foi alocado. Parece que as pesquisas sobre os altos índices de turnover também revelam a importância sobre a clareza das relações de trabalho. Os aspectos que mais influenciam nas demissões (ou pedidos de demissões) não são bens duráveis como salário, benefícios, mas a falta de comunicação. A comunicação está diretamente ligada aos índices de satisfação do colaborador dentro da organização. Desde o mais qualificado ao trabalhador mais humilde é preponderante a clareza e objetividade nos diversos níveis das relações de trabalho. A área do conhecimento que privilegia tais preocupações é a gestão da comunicação. Resumindo algumas das principais premissas dessa área de estudo, as pessoas precisam se sentir seguras para expressar sua opinião (mesmo que seja contrária aos seus superiores hierárquicos) com a garantia de que não serão demitidas por isso; a comunicação vai além da simples divulgação de uma informação – ela deve se preocupar em adequar a informação e os meios de transmissão às peculiaridades de cada grupo de receptores. DICAS Leia o artigo “Comunicação empresarial versus comunicação organizacional: novos desafios teóricos”, disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0034-76122006000600010>. Acesso em: 12 fev. 2012. 3 ESTRUTURAÇÃO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Vimos na seção anterior a importância de orientar pessoas. Uma de suas preocupações básicas está em dirimir os atritos dos previstos choques culturais entre a pessoa que entra e a organização, ou seja, sua estrutura. Você podeestar se perguntando: e a estrutura, como ela afeta as relações de trabalho? Quais as preocupações na formulação da estrutura de cargos? Veremos a seguir premissas e modelos que podem servir de arcabouço para quem pretende criar ou aperfeiçoar a estrutura organizacional. 42 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 3.1 ESTRUTURAS E MODELOS Para o processo de aplicação de pessoas, o conteúdo do cargo é uma das peças principais – a descrição do cargo irá deixar claro o que a organização espera de seu ocupante. Assim é preponderante compreender que sua descrição não só deve conter as almejáveis competências técnicas, mas também competências humanas de postura e convívio. Permita-me lembrar que a organização, por definição, é um sistema complexo que possui muitos outros subsistemas interdependentes e que, por isso, exige não apenas a descrição das funções de um ou outro cargo isoladamente. É preciso descrever minuciosamente as correlações do cargo com o resto da estrutura, sua participação na composição do processo engajado (horizontalmente) e sua relação de poder ou subserviência (verticalmente). Assim o desenho do cargo deve descrever não apenas o conteúdo e os métodos de trabalho. Deve também descrever o tipo de relação com os demais cargos. Segundo Chiavenato (2005), a descrição de cargos deve atender quatro condições básicas: 1. conteúdo do cargo – as tarefas devem ser descritas com clareza e objetividade; 2. como as tarefas deverão ser executadas – descrever a importância do método a ser utilizado na execução de cada tarefa; 3. a quem o ocupante do cargo deverá se reportar – seu superior imediato; 4. quem o ocupante do cargo deverá supervisionar – quem serão seus subordinados. Por outro lado, Chiavenato (2005) nos dá pistas de competências básicas necessárias a qualquer local de trabalho: ● recursos – identifica, organiza, planeja e aloca recursos. Essa competência permite ao trabalhador desempenhar suas funções otimizando a utilização dos recursos; ● interpessoal – trabalha com outras pessoas. Além da persuasão capaz de reunir pessoas em torno de um propósito, essa competência é responsável pela capacidade de aprender e se aperfeiçoar, de compartilhar, enfim, de conviver; ● informação – obtém e utiliza informação. Aliada à capacidade de interpretação, sabe selecionar e promover inferências capazes de auxiliar na tomada de decisão; ● sistemas – compreende inter-relações complexas. O desenvolvimento dessa competência cria circunstância ideal para ampliar a capacidade de absorver o novo ou, ainda, sua capacidade de adaptação; TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 43 ● tecnologia – trabalha com uma variedade de tecnologias. Com conhecimentos atualizados sobre diversas tecnologias, consegue selecionar e aplicar ao processo otimizando a utilização dos recursos. Vale ressaltar que nenhuma dessas competências existe isoladamente, pois você deve ter percebido a ligação entre elas. O que temos é a presença maior ou menor de algumas delas. Essa diferença é importante, pois ela reforça a individualidade necessária de cada ser humano e, ainda, a ideia da necessidade de montarmos equipes multidisciplinares. Resgatando o conceito da abordagem sistêmica que classifica a organização como sistema aberto, podemos afirmar que a estrutura organizacional é constantemente afetada pelas mudanças ambientais externas. Assim, não seria diferente com a estrutura de cargos. Segundo Chiavenato (2004), existem três modelos de desenho de cargos: clássico, humanístico e contingencial. a) Modelo clássico – apoiado na teoria da administração científica baseia seu design nos princípios de racionalização do trabalho padronizando o máximo de tarefas. Em seguida promove o treinamento para obter a máxima eficiência. O foco é na superespecialização. Vantagens: ● redução de custos – operários com qualificação mínima, mas com custos menores, facilidade na seleção e poucos gastos com treinamento; ● padronização das atividades – a padronização facilita a função de supervisão que, por causa disso, pode ter um número maior de subordinados; ● apoio à tecnologia – a facilidade da aplicação da linha de montagem apoia a tecnologia daquela época. Desvantagens: ● cargos com tarefas simples – a monotonia das tarefas leva ao desânimo e à insatisfação do operário que, em pouco tempo, fadiga trazendo um clima negativo para o ambiente de trabalho; ● trabalho individualizado – não há incentivos para a socialização do trabalhador. O trabalho isola os trabalhadores do convívio social. A atomização das tarefas irá condená-lo ao desemprego, pois a tarefa específica que executa é tão específica que não encontra outra organização com a mesma necessidade; ● falta de visão sistêmica – o “chefe” é o único contato do colaborador com a organização. A responsabilidade pelo processo de produção é exclusividade do “chefe”. O operário deverá ser controlado e fiscalizado durante todo o processo. 44 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS Importantes estudos têm revelado os mais diversos movimentos sociais. Nas relações de trabalho não foi diferente, com jovens mais bem preparados, com uma educação voltada para a era da informação, a estrutura de cargos com um desenho pouco desafiador não consegue atrair o novo colaborador. As relações de poder não se baseiam mais na coerção, mas na argumentação de convencimento. b) Modelo humanístico – esse modelo não se concentrou no conteúdo do cargo, mas nas relações de trabalho. O conteúdo do cargo continua repetitivo, mas esse modelo promove maior número de intervalos e interações sociais fora do ambiente de trabalho. Características: ● ênfase no grupo social; ● foco na dinâmica do grupo; ● busca da eficiência através da satisfação e interação entre as pessoas; ● preocupação com o entorno do cargo; ● baseado em comunicações; ● o trabalhador participa das decisões; ● conceito do homo social; ● recompensas sociais e simbólicas. Assim, os autores que defendem esse modelo se preocupam com o contexto do cargo e as condições sociais dos trabalhadores. c) Modelo contingencial – considerado o modelo mais completo, estrutura o cargo levando em conta: a pessoa, a tarefa e a organização. Além disso, a atividade de desenhar o cargo não é pontual, mas transforma-se em um processo contínuo que garante a flexibilidade e capacidade de adaptação da organização e seus componentes. Fazendo uma adaptação um pouco mais usual de Chiavenato (2004) sobre as características que a descrição de cargo deve ter, vejamos: ● variedade e significado – as tarefas são inúmeras e variadas que exigem do colaborador diversas habilidades técnicas e comportamentais. A ideia é fugir da monotonia e promover atividades desafiadoras. Além disso, a descrição deve conter o significado (importância) do cargo para outros cargos e para o contexto da organização; TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 45 ● autonomia e identidade – aqui a ideia é que entre as tarefas estejam também atividades de planejamento e organização, promovendo, assim, a autonomia de seus participantes. Essa autonomia deve reduzir o tempo de supervisão sobre esses colaboradores, pois teremos equipes mais autogerenciáveis. Complementando a ideia de autonomia, temos o conceito de identidade, que deve ser promovida através de tarefas que completem o ciclo de um processo. Isto é, deve-se evitar distribuir entre os colaboradores tarefas fragmentadas, a ideia é deixar com apenas um colaborador a execução completa de um processo. Por exemplo: incumbir apenas um trabalhador de montar um guarda-roupa, ao invés de incumbi-lo de aparafusar uma das portas; ● retroação – a descrição do cargo deve revelar a metodologia de feedback sobre o desempenho do seu ocupante. A ideia de autonomia e identidade deve ser acompanhada de responsabilidade sobre os resultados. Isso só é viável se o trabalhador souber o quão distante está de suas metas. Essas característicaspromovem a satisfação e o autodesenvolvimento dos trabalhadores. Como consequência desse constante processo de autodesenvolvimento, é natural que, especialmente sob essa abordagem, as descrições desses cargos também sofram alterações. 3.2 ESTRUTURAÇÃO COMO PROCESSO CONTÍNUO Acompanhando a abordagem contingencial, você percebeu que, por possuir dimensões que promovem o autodesenvolvimento constante do ocupante do cargo, é necessário que o design dos cargos também se adapte a essas mudanças. Para essas mudanças damos o nome de enriquecimento de cargos. Esse constante aperfeiçoamento da descrição de cargos pode acontecer essencialmente de duas formas: verticalmente – são acrescentadas ao cargo tarefas administrativas como planejamento, organização e controle, enquanto tarefas mais simples são transferidas para cargos mais inferiores; horizontalmente – são acrescentadas tarefas de mesma complexidade com a intenção de oferecer novos desafios ao integrante do cargo (CHIAVENATO, 2004). Por outro lado, aliados a essas mudanças, os resultados são melhores quando o indivíduo possui algumas características psicológicas como: enxerga significado naquilo que faz; sente-se responsável pelos resultados do seu trabalho e conhece os resultados que obtêm fazendo seu trabalho. Segundo Chiavenato (2005), existem seis conceitos que devem permear o enriquecimento de cargos: 46 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS • tarefas combinadas – ao invés de particionar como queria a teoria clássica, aglutinar tarefas e responsabilizá-los pelos resultados do processo inteiro; • formação de unidades naturais de trabalho – a ordem é combinar e aumentar o sentido de realização na construção de algo através do trabalho; • relações diretas com o cliente ou usuário – a ideia é dar a cada cargo um cliente (saída) e um fornecedor (entrada). Ou seja, aproximar todos os cargos da busca prioritária de satisfazer clientes internos ou externos; • carga vertical – enriquecimento dos cargos no intuito de aumentar a autonomia e, consequentemente, a responsabilidade por seus resultados; • abertura de canais de retroação – sistematiza o feedback entre os participantes do processo em execução. Os clientes e fornecedores enviam e recebem sistematicamente o parecer sobre os resultados produzidos; • criação de grupos autônomos – atribuir ao grupo a responsabilidade pelo processo, com as tarefas e seus resultados sob a tutela do grupo. Assim, proporcionaremos circunstâncias ideais para a construção de grupos autogerenciáveis. Se esses conceitos forem implementados, os especialistas garantem considerável aumento do envolvimento por parte dos colaboradores. FIGURA 9 – ATITUDE DO COLABORADOR PERANTE O CARGO E DIANTE DA EMPRESA Atitude diante da empresa Atitude do colaborador Atitude perante o cargo • Atividades variadas • Identificação com as tarefas • Compreensão do significado • Autonomia e independência • Retroação dos resultados • Percepção da responsabilidade • Satisfação com o cargo • Trabalho em equipe • Boa remuneração • Benefícios adequados • Qualidade de vida no trabalho • Participação nos resultados • Clima organizacional positivo • Cultura democrática e participativa • Reconhecimento e status • Ambiente psicológico agradável • Receptividade a sugestões e ideias • Liberdade e autonomia • Comunicação intensa • Oportunidades de crescimento • Liderança inovadora • Orgulho da empresa • Qualidade de vida • Participação nos resultados FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2003, p. 204) TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 47 Essa perspectiva de grupos autogerenciáveis vai dar sustentação conceitual para a formação de grupos multifuncionais. As variações de aplicação desse conceito são inúmeras: célula de produção, círculos de controle de qualidade (CCQ) e trabalho por projetos. Todos esses conceitos ajudam a formar o constructo sobre o design do cargo. Agora vamos para um exemplo de como construir a descrição de um cargo: O conteúdo do cargo deve responder às seguintes questões (CHIAVENATO, 2005): a) o que faz? – tarefas e atividades a executar; b) quando faz? – periodicidade (diária, semanal, mensal, anual ou esporádica); c) como faz? – recursos que serão utilizados (pessoas, máquinas e equipamentos, materiais, dados e informações); d) onde faz? – local e ambiente de trabalho; e) por que faz? – objetivos do cargo, metas e resultados a atingir. Podemos dizer então que a descrição do cargo formaliza as expectativas da organização em relação ao seu futuro integrante. Ela deve ser clara e objetiva sob a perspectiva de seu futuro ocupante. DICAS Para conhecer melhor o CCQ (Círculos de Controle de Qualidade), acesse <http:// www.sato.adm.br/rh/circulos_de_controle_de_qualidad.htm>. Acesso em: 23 abr. 2012. 3.3 ANÁLISE DE CARGOS Vimos até aqui todas as ferramentas necessárias para a construção da estrutura de cargos. Entretanto, nem sempre temos a oportunidade de participar da elaboração dessa estrutura em nossa empresa. Assim, para que o design dos cargos acompanhe as constantes mudanças do ambiente, é necessário compreender a formatação atual dessa estrutura e promover as devidas adaptações. O objetivo da análise de cargos é rever a adequação entre o cargo e seu ocupante. Já vimos que tanto a organização quanto os colaboradores estão em 48 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS constante mudança. O colaborador adquiriu novas competências e, do outro lado, a organização também tem novas necessidades para atender ao mercado. A primeira etapa para o estudo da estrutura atual é a colheita de dados sobre os cargos. Existem três formas de colheita de dados: entrevista, questionário e observação. Vejamos cada uma delas. a) A entrevista – deve ser estruturada com perguntas previamente formuladas. As perguntas se seguem enquanto o entrevistador vai preenchendo de acordo com o respondido. Tecnicamente falando, o questionário que é preenchido pelo entrevistador chamamos de formulário, e não de questionário. De preferência a entrevista deve ser individual, entretanto, para reduzir o custo desse processo, muitas empresas optam pela entrevista coletiva (grupo que ocupa o mesmo cargo). b) Questionário – a utilização do questionário reduz bastante o custo da coleta de dados. Em pouco tempo, é possível obter informação sobre o cargo de muitos colaboradores. Por outro lado, para que ele atinja seus objetivos, geralmente se gasta um tempo considerável para sua elaboração. c) Observação – considerado o método mais antigo da investigação científica, possui vantagens sobre os outros em relação aos custos. Entretanto, para que o custo reduzido se mantenha, esse método é mais frequentemente utilizado para cargos com tarefas simples e repetitivas. Esse método deve utilizar roteiro para garantir a padronização das variáveis observadas. O processo de análise de cargos deve ser planejado minuciosamente. Para isso, ele deve seguir alguns preceitos básicos: 1. Levantamento preliminar sobre o cargo – levantamento documental para determinar as principais características e objetivos dos cargos. 2. Investigação sobre a execução do cargo – utilizar metodologia investigativa (entrevista, questionário ou observação) na prática do dia a dia do cargo. Vale ressaltar que os colaboradores escolhidos para participar dessa etapa devem ser aqueles que ocupam a posição (cargo) por mais tempo. 3. Consolidação da colheita de dados – concatenar os dados que vieram de diversas fontes. Utilizar colaborador experiente para emitir parecer sobre as conclusões (chamamos essa etapa de validação). Além disso, devemos checar se os dados consolidados respeitam as premissas e objetivos do cargo. 4. Implementação – os resultados da análise são colocados “à prova”. Integrantes experientes que ocupam o cargo há algum tempo discutem cada aspecto da análise. Enfim, a descrição e análise dos cargos servirão de arcabouço para outros processos da gestão de recursos humanos.Entre eles, o recrutamento TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 49 e seleção fornecem parâmetros de requisitos; para determinar as necessidades de treinamento e capacitação dos colaboradores; para fornecer subsídios ao processo de avaliação do desempenho e, além disso, pode se transformar em um bom guia para as lideranças no planejamento da gestão do capital humano. 4 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO Criando estrutura de cargos conveniente para organização e colaboradores, precisamos elaborar dispositivos que monitorem essas relações. A proposta é nos certificarmos da relação sadia entre líderes e liderados, na esperança de uma coordenação de recursos que nos leve em direção aos objetivos organizacionais. Então, não é mais suficiente compor um quadro de profissionais talentosos, mas nos certificarmos de criar processos de monitoramento que garantam a melhor combinação entre o autodesenvolvimento dos colaboradores e o alcance das necessidades organizacionais. 4.1 AS CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO Então a avaliação de desempenho tem a função de medir o desempenho do funcionário em relação ao grau de cumprimento dos requisitos do seu cargo. Seu objetivo é: a) Proporcionar julgamento sistemático para fundamentar recompensas – isto é, além de alimentar a cultura da autoavaliação, legitima, através de critérios claros, a prática da meritocracia (promover por merecimento). b) Proporcionar “balizamento” para o alcance de metas pessoais – ou seja, promove o constante sentimento de realização pelo cumprimento de pequenas metas em direção a um grande objetivo pessoal. c) Proporcionar a consonância através do clima de abertura entre líderes e liderados – assim, promove o diálogo entre líderes e liderados sob as premissas do bom desempenho de todos. Entretanto, para que haja garantias de um sistema de avaliação imparcial, é preciso adotar alguns critérios para a constituição desse instrumento. Esses critérios podem seguir as seguintes premissas: • Critérios para medir as habilidades, capacidades, necessidades e traços – isso significa avaliar o conhecimento do cargo, conhecimento do negócio, pontualidade, assiduidade, lealdade, honestidade, apresentação pessoal, bom senso, capacidade de realização, compreensão de situações e facilidade de aprender. 50 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS • Critérios para medir o comportamento – desempenho da tarefa, espírito de equipe, relacionamento humano, cooperação, criatividade, liderança, hábitos de segurança, responsabilidade, atitude e iniciativa, personalidade e desembaraço. • Critérios de mensuração através do cumprimento de metas e alcance de resultados – podem ser utilizados: a quantidade de trabalho, qualidade do trabalho, atendimento ao cliente, satisfação do cliente, redução de refugo, ausência de acidentes, manutenção do equipamento, atendimento do prazo e foco em resultados. De acordo com o tipo de avaliador, esse processo pode enfatizar diversos aspectos das relações de trabalho. Vejamos: • o gerente – assessorado pelo órgão de staff (RH) desenvolve avaliação com seus liderados utilizando critérios elaborados pelo RH. Enfatiza a hierarquia; • o indivíduo e o gerente – a avaliação acontece nos dois sentidos. O gerente fornece os recursos para que o colaborador alcance os resultados, e o colaborador exige recursos adequados do gerente. Há um interesse mútuo por uma avaliação sempre positiva; • avaliação 360º – o colaborador é avaliado por todos que têm contato direto com ele: clientes, fornecedores, os colegas e até a gerência; • a equipe de trabalho – nesse caso a equipe avalia o desempenho de seus componentes. É uma tendência de avaliação com intuito de criar circunstâncias favoráveis para equipes autogerenciáveis; • o setor de RH – responsabiliza o departamento de RH pela avaliação dos colaboradores. É uma perspectiva que vem sendo abandonada pela maioria das empresas; • avaliação para cima – os subordinados avaliam seus líderes com a intenção de promover novas formas de liderança. Esse tipo de avaliação cria circunstâncias para uma liderança mais democrática e participativa; • comissão de avaliação de desempenho – nesse tipo de avaliação é constituída uma comissão formada por alguns membros fixos e outros circulantes que ficam responsáveis por avaliar o desempenho dos colaboradores. A função dos integrantes permanentes é garantir o equilíbrio dos julgamentos. Esses integrantes fixos podem ser compostos por representantes do RH e/ou da presidência. Inúmeros são os modelos de avaliação de desempenho, cabe aos gestores de recursos humanos a escolha e as devidas adequações às necessidades TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 51 organizacionais. Além disso, para se obterem melhores resultados na aplicação dessas metodologias, devem-se considerar aspectos que podem ser influenciados pela cultura e clima organizacional. 4.2 PONTOS FRACOS DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO Como você já pôde perceber em todo esse trajeto até aqui, as ciências humanas possuem inúmeras ferramentas para coordenar esse emaranhado de recursos intangíveis. Entretanto, mesmo conhecendo ferramentas tão poderosas, é importantíssimo reconhecer a responsabilidade que o gestor deve ter quando as utilizar. A utilização indiscriminada dessas ferramentas promove danos ao clima organizacional muitas vezes quase irreparáveis. Assim atente para alguns cuidados na utilização da avaliação de desempenho quando: • se resume no preenchimento de um formulário – uma disfunção bastante comum de se encontrar. Perceba que a avaliação deve ser um processo protegido por todos e não uma ação pontual de “mão única”; • é percebida apenas como instrumento de recompensa ou punição – a avaliação de desempenho deve ser encarada como processo de aperfeiçoamento constante, ou seja, de desenvolvimento profissional; • os critérios de avaliação não estão alinhados com o negócio ou a cultura da empresa – a avaliação faz parte do processo de coordenação que por sua vez tem a função de manter todos em direção aos objetivos da organização. Então, toda vez que um grupo ou indivíduo se afasta das premissas instituídas pela organização, a avaliação de desempenho deve orientá-lo no caminho de volta ao foco; • os comentários do avaliador levam a uma reação negativa do avaliado – o momento da avaliação deve ser um momento de orientação e/ou congregação. Muitas vezes avaliadores e avaliados usam o momento para comentários preconceituosos sem relação com o desempenho profissional; • é percebido como um processo injusto e tedioso – quando esse processo de avaliação não segue metodologia legitimada por todos, cria-se ambiente propício para interpretações das mais variadas, ou seja, a forma de aplicação das avaliações deve ser planejada e compartilhada com todos. É imprescindível que os líderes promovam uma cultura de feedback constante. Pode-se perceber que o valor dessa ferramenta não está apenas na composição dos critérios de avaliação, mas também na metodologia de utilização. Se me permite uma metáfora, caro acadêmico, “o bom carpinteiro não é determinado apenas pela qualidade de suas ferramentas, mas por sua habilidade em utilizá-las”. 52 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 4.3 NOVAS ABORDAGENS DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO Cientes da importância da coordenação entre o processo de construção e a aplicação da ferramenta de avaliação de desempenho, as novas abordagens concentram-se em uma perspectiva mais sistêmica. Vejamos os resultados dessa nova abordagem, sob o olhar de Chiavenato (2004): 1 os indicadores devem ser sistêmicos – devem partir do planejamento estratégico e perseguir objetivos e metas setoriais; 2 os indicadores devem ser desenvolvidos em conjunto para eliminar distorções. Veja os tipos de indicadores: a) financeiros - fluxo de caixa, lucratividade, retorno sobre o investimento, relação entre custo e benefício; b) ligados ao cliente - satisfaçãodo cliente, entrega de pedidos, competitividade em preço ou qualidade; c) indicadores internos - tempo de processo, índices de segurança, índice de retrabalho, ciclo do processo; d) indicadores de inovação - como desenvolvimento de novos processos; de novos produtos. 3 deve haver índices objetivos de referência: a) indicadores de desempenho global; b) indicadores de desempenho grupal (da equipe); c) indicadores de desempenho individual. 4 devem-se comparar indicadores da empresa com o mercado; 5 deve proporcionar autoavaliação e autorredirecionamento; 6 aspectos modernos de avaliação: a) competência pessoal - capacidade de aprendizagem, absorção de novos e diferentes conhecimentos; b) competência tecnológica - capacidade de absorver novas técnicas necessárias ao desempenho de multifuncionalidades; c) competência metodológica - solucionador espontâneo de problemas, espírito empreendedor; d) competência social - capacidade de relacionamento humano. 7 avaliação em relação aos objetivos; TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 53 8 avaliação relacionada à noção de expectância, isto é, o grau de expectativa que o colaborador possui sobre o crescimento da produtividade, pois percebe os incentivos relacionados com esse crescimento. A avaliação de desempenho é uma das ferramentas mais versáteis. Seu principal objetivo é averiguar quem está fazendo um bom trabalho. Por outro lado, esta ferramenta beneficiará também o trabalhador que poderá acompanhar seu autodesenvolvimento. DICAS Para saber mais sobre os benefícios da avaliação de desempenho, acesse o site: <http://www.hsm.com.br/editorias/rh/avaliacao-de-desempenho-o-que-esperar-dos- resultados-0>. Acesso em: 12 fev. 2012. 54 UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS LEITURA COMPLEMENTAR O QUE É A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO? Avaliar é apreciar, estimar, fazer ideia de, ajuizar, criticar ou julgar. Desempenho é o comportamento real do empregado em face de uma expectativa ou de um padrão de comportamento estabelecido pela organização. Assim, avaliação de desempenho é a crítica que deve ser feita na defasagem existente no comportamento do empregado entre a expectativa de desempenho definida com a organização e o seu desempenho real. A análise do gap ou da distância entre o comportamento ideal e o real é o foco essencial da avaliação de desempenho. Os valores da crítica à defasagem existente entre o comportamento real e o ideal incluem: aprendizagem a partir da experiência; identificação de problemas; definição de causas e alternativas de correção por meio de soluções acordadas ou, melhor ainda, estabelecidas por consenso entre o avaliador e o avaliado; estímulo ao empenho do avaliado e à capacidade do avaliador em dar feedback. Assim, o gerente age como avaliador, mentor, educador, conselheiro e consultor dos colaboradores e de sua equipe, e não como um juiz, que julga os bons e os maus comportamentos do réu e prolata a sentença. A ação do gerente na avaliação de desempenho tem por objetivo dar consequência a uma estratégia planejada de intervenção no comportamento manifesto do avaliado, visando a melhorar o seu desempenho, reduzindo a defasagem existente entre as expectativas desejadas e os resultados reais. O processo de avaliação de desempenho inclui, entre outras, as expectativas desejadas e os resultados reais; apreciação diária do comportamento do colaborador, seus progressos e limitações, êxitos e insucessos, com oferecimento permanente de feedback instantâneo; identificação e equacionamento imediato dos problemas emergentes, procurando manter continuamente um alto padrão de motivação e de obtenção de resultados; entrevistas formais periódicas de avaliação de desempenho, em que avaliador e avaliado analisam os resultados obtidos no período considerado e redefinem novas orientações, compromissos recíprocos e ações corretivas, se for o caso. A avaliação de desempenho foca a sua atenção tanto sobre “o que” quanto sobre “o como” se processa o desempenho do colaborador. Considera igualmente as necessidades e possibilidades do colaborador e da própria organização para a consecução das metas, padrões e expectativas definidas de parte a parte, procurando compatibilizá-las. Portanto, para extrair o máximo de benefícios de um programa de avaliação de desempenho, o gerente deve identificar as fraquezas e limitações do sistema – será que ele não confere demasiada atenção aos resultados e à aferição de metas, e não ao processo em como eles são alcançados? Ou, pelo contrário, será que o sistema não enfatiza por demais a dimensão comportamento e ignora a análise dos resultados, privilegiando dessa forma as intenções e os desejos mesmo diante de ações ineficazes? O sistema adequado de avaliação de desempenho busca equilibrar resultados com os comportamentos praticados para a sua obtenção. Se o sistema minimiza a importância dos resultados, o avaliador deve ajudar o avaliado a fixá- los, corrigindo o desequilíbrio entre ambos. Se o sistema minimiza a importância dos resultados, o avaliador deve ajudar o avaliado a fixá-los, corrigindo o desequilíbrio entre ambos. Se o sistema for concebido de molde a enfatizar privilegiadamente os resultados, o avaliador deve corrigir essa outra forma de distorção, atribuindo TÓPICO 3 | AS RELAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL 55 a devida importância tanto aos meios quanto aos fins. Em qualquer situação, o avaliador deve propiciar feedback instantâneo e permanente apoio educacional ao avaliado durante todos os dias do ano, subsidiariamente às entrevistas formais que, periodicamente, manterá para proceder às fases do programa – comunicação ao subordinado, preparação para as entrevistas, avaliação do desempenho satisfatório ou do insatisfatório, estabelecimento de metas e padrões de desempenho, e acompanhamento dos resultados. A avaliação de desempenho presta-se ao exercício de diferentes funções administrativas, motivacionais e de comunicação, como citados a seguir: identificação de pontos fortes e fracos dos colaboradores e, consequentemente, da organização; identificação de diferenças individuais; estímulo à comunicação interpessoal; desenvolvimento do conceito “equipe de dois”, formada por chefe e subordinado; informação ao colaborador de como o seu desempenho é percebido; estímulo ao desenvolvimento individual do avaliador e do avaliado; indicações de promoções e de aumentos salariais por mérito; indicações de necessidade de treinamento; gestão de crises nas equipes e nos processos operacionais (sistemas técnicos e sociais); auxílio na verificação de aprendizagens; identificação de problemas de trabalho em geral, no relacionamento individual, intraequipe ou interequipes; registro histórico suplementar para ações administrativas de gestão e apoio às pesquisas de clima organizacional. As pessoas diferem entre si no que se refere às atitudes, hábitos, práticas, disposição para realizar as suas atividades, cumprimento de prazos e compromissos, presteza, interesse, assimilação de novas atribuições, posturas diante dos superiores, colegas e subordinados, zelo pessoal e em uma série infindável de outros fatores. A avaliação de desempenho tem por finalidade apreciar, de modo sistemático e formal, as diferenças individuais de desempenho na situação de trabalho. A otimização dos resultados formais da avaliação de desempenho pressupõe uma permanente interação entre avaliador e avaliado, de sorte que nas funções de trabalho do dia a dia haja uma livre troca de informações, de avaliações críticas e de correções de rumos, quando necessárias. O propósito de avaliação de desempenho é fechar o círculo de interação das diversas funções da administração de recursos humanos. Vale-se também do feedback obtido nas entrevistas de avaliação para redefinir e aprimorar os objetivos, padrões e expectativas de trabalho de parte a parte, visando a que ambos alcancem a melhora desejada de desempenho. Os contatos diários entreavaliador e avaliado, decorrentes da interação normal de trabalho, propiciam um sistema preventivo de aviso necessário à antecipação de crises. A avaliação sistemática e periódica, as entrevistas para o estabelecimento de metas e de acompanhamento de resultados asseguram uma perspectiva de longo prazo na análise e na reorientação de como o trabalho é realizado e o do que precisa ser modificado, não só em relação a um só colaborador, mas no universo de toda a equipe. Um clima adequado de participação e contribuição, franqueza e autenticidade estabelecido no relacionamento do dia a dia do trabalho contribui decisivamente para produzir melhores resultados para a organização, gerando oportunidades, sem conta, de ajuda e suporte para que o avaliado alcance simultaneamente maior satisfação no trabalho além de crescimento pessoal e profissional. O processo de UNIDADE 1 | PLANEJAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS 56 avaliação fornece uma base racional e um conjunto lógico de referências para a aplicação de critérios de remuneração praticados na organização e de implementação de outras formas de reconhecimento e recompensa que diferencie o desempenho individual do coletivo. As informações fornecidas pelo programa garantem uma preocupação mais abrangente e específica com o crescimento de todos os funcionários, respeitando as diferenças individuais de contribuição e desempenho. As decisões de promoção sustentam-se na análise de dados e de fatos objetivamente coletados ao longo das diversas avaliações realizadas e não mais sob a exclusiva inspiração de eventos recentes que, na maioria das vezes, obscurecem a adequada percepção da trajetória comportamental do candidato à nova função. Mesmo as decisões frequentemente desagradáveis de transferência ou de demissão de funcionários de desempenho insatisfatório são bem mais fáceis, já que se fundamentam na legitimidade de um processo decisório sustentado pela evidência documentada dos resultados obtidos nas avaliações anteriores e das tentativas e esforços realizados para a solução dos problemas então constatados. É preciso que a área de recursos humanos seja capaz de perceber o que realmente os avaliadores querem saber e se são capazes de aferir o desempenho de seus subordinados, de sorte que possam efetivamente distinguir e avaliar o peso das diferentes contribuições de cada um. As avaliações normalmente indicam as dimensões de desempenho que precisam ser aprimoradas, os insumos requeridos indispensáveis ao desenvolvimento de planos de capacitação, de reciclagem e de treinamento. Pode-se inferir que um programa de avaliação de desempenho é bem- sucedido quando os seus resultados são de fato utilizados. O volume maior ou menor de reclamação, queixas ou ressentimentos dos funcionários é um outro indicador da adequada utilização da avaliação de desempenho. Percebe-se um melhor ajustamento dos funcionários aos cargos, às funções e às responsabilidades que desempenham? Eles compreendem o que de fato deles se espera no trabalho? As entrevistas de avaliação geram desnecessariamente frustrações, estresse e tensão, ou são momentos de rever o que passou, de fixar novos propósitos, de retemperar vontades, de aprofundar solidariedades e de maior engajamento e motivação? Há compatibilidade entre os resultados da organização ou os da equipe e a distribuição das aferições de desempenho? Ou será que todos apresentam alto desempenho num negócio em decadência, à semelhança dos membros da orquestra do Titanic quando estava à deriva? A diversidade das aplicações de um programa de avaliação de desempenho certamente contribui para a organização evitar a sequência confusa da utilização de artifícios e de subterfúgios que objetivam a melhora da performance dos funcionários com base, muitas vezes, em esperanças infundadas e desilusões sem conta. Oferece também a contribuição de um arcabouço metodológico que reduz sensivelmente o impacto da subjetividade e do palpite na apreciação da ação humana no trabalho. FONTE: Disponível em: <http://cra-rj.org.br/site/cra_rj/espaco_opiniao_artigos/index.php/2011/07/07/ o-que-e-avaliacao-de-desempenho/>. Acesso em: 12 fev. 2012. 57 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou que: • Podemos verificar que existem inúmeros modelos de avaliação de desempenho e cabe aos gestores e suas equipes a escolha e as devidas adequações às necessidades organizacionais. Além disso, pode-se perceber que o valor dessa ferramenta não está apenas na composição dos critérios de avaliação, mas também na metodologia de aplicação. • A avaliação de desempenho é uma das ferramentas mais versáteis. Seu principal objetivo é averiguar quem está fazendo um bom trabalho. Por outro lado, esta ferramenta beneficiará também o trabalhador que poderá acompanhar seu autodesenvolvimento. Entretanto, para se obter melhores resultados na aplicação dessas metodologias, devem-se considerar aspectos que caracterizam a cultura e o clima organizacional. 58 AUTOATIVIDADE Mãos à obra! Vamos trabalhar o conteúdo respondendo às questões a seguir: 1 Seria correto afirmar que uma das propostas do processo de avaliação de desempenho é estreitar a relação entre líderes e liderados? Justifique sua resposta. 2 Como o processo de avaliação de desempenho pode promover o autodesenvolvimento dos colaboradores? 3 Como se legitima o processo de avaliação de desempenho? 4 Quais são as modernas competências avaliadas na nova abordagem de avaliação de desempenho? 5 Qual dos tipos de avaliação promove no colaborador uma visão sobre o que todos acham dele profissionalmente? 59 UNIDADE 2 RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • reconhecer formas de recompensas; • conhecer as características de um plano de remuneração; • conhecer o processo de administração de conflitos; • conhecer a perspectiva da QVT (qualidade de vida no trabalho) Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos. TÓPICO 1 – RECOMPENSANDO PESSOAS TÓPICO 2 – RETENDO PESSOAS TÓPICO 3 – AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL 60 61 TÓPICO 1 RECOMPENSANDO PESSOAS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Analisando a organização sob a perspectiva sistêmica, você já compreende que ela é um complexo sistema de conversão de vários recursos. Uma espécie de sistema integrado que tem o objetivo principal de gerar resultados. Esse sistema complexo que define a organização é composto pela combinação ótima entre diversos recursos. Os economistas agrupam esses recursos em: recursos naturais, recursos de capital e recursos da força de trabalho. Assim, para a obtenção desses recursos é preciso considerar a colaboração de parceiros que aqui podem ser agrupados em fornecedores, acionistas e colaboradores. Sob a perspectiva da organização, cada stakeholder possui seu custo e benefício. 2 REMUNERAÇÃO Agora você percebe que cada componente participante da organização tem seu custo e benefício. A força de trabalho, considerada aqui como a mais relevante, é composta por pessoas que se comprometem com a organização e seus resultados. Entretanto, é importante ressaltar que o grau de comprometimento dos colaboradores está intimamente ligado às suas expectativas de resultados ou de retornos significativos. Ou seja, está ligado ao grau de reciprocidade percebido. NOTA Reciprocidade: responder uma ação positiva com outra ação positiva ou responder uma ação negativa com outra negativa. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 62 2.1 CARACTERIZANDO REMUNERAÇÃO Com o alcance dos resultados, a organização distribuirá os ganhos com seus stakeholders. Para os fornecedores são repassados os custos da matéria- prima, para os acionistas os dividendos equivalentes ao empréstimo e, para os colaboradores, outra parte chamada de salário. NOTA Stakeholders são as partes interessadas que devem estarde acordo com as práticas de governança corporativa executadas pela empresa. Essa remuneração total de um funcionário é constituída de três componentes principais: remuneração básica, incentivos salariais e benefícios. FIGURA 10 – OS TRÊS COMPONENTES DA REMUNERAÇÃO TOTAL Remuneração Total Remuneração Básica Incentivos Salariais Benefícios • Salário mensal ou • Salário por hora • Seguro de vida • Seguro de saúde • Refeições subsidiadas etc. • Bônus • Participações nos resultados etc. FONTE: Chiavenato (2005, p. 257) Enquanto a remuneração básica é o salário mensal recebido em troca da força de trabalho, os incentivos salariais são destinados ao bom trabalhador com desempenho acima da média. Já os benefícios, chamados de remuneração indireta, são aplicados para atrair e manter colaboradores, tornando a organização atraente no mercado de recursos humanos. TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 63 As recompensas podem ser classificadas em financeiras e não financeiras. Por sua vez as financeiras podem ser diretas ou indiretas (Figura 11). A remuneração direta é a contraprestação do empenho dedicado à produção, já a indireta é relacionada às cláusulas da convenção coletiva de cada categoria ou, ainda, aos encargos sociais que devem ser pagos pela participação do colaborador em uma instituição social (princípio de toda organização). Assim, a soma do salário direto e do salário indireto constitui a remuneração. FIGURA 11 – OS DIVERSOS TIPOS DE RECOMPENSAS Não Financeiras Recompensas Organizacionais Financeiras Diretas Indiretas • Salário direto • Prêmios • Comissões • DRS (para horistas) • Férias • Gratificações • Gorjetas • Horas extras • 13º Salário • Adicionais • Decorrências financeiras dos benefícios concedidos • Oportunidade de desenvolvimento • Reconhecimento e autoestima • Segurança no emprego • Qualidade de vida no trabalho • Orgulho da empresa e do trabalho • Promoções • Liberdade e autoestima no trabalho FONTE: Chiavenato (2005, p. 259) Quanto ao significado do salário – todos nós recebemos salário, e esse assunto sempre foi tema de inúmeras discussões. É importante perceber que essa remuneração afeta nossas vidas sob pelo menos três aspectos: econômico, social e psicológico. Econômico porque afeta nosso poder de compra (poder aquisitivo) e toda a economia local; social porque ele determina nosso status através do estilo de vida que essa remuneração proporciona à nossa família e psicológico porque proporciona o sentimento de satisfação ou frustração com relação à estrutura de nossos objetivos ou nossas necessidades – fonte de prestígio e, consequentemente, precursor da autoestima. Entretanto, para a organização, representa custo e investimento ao mesmo tempo. Custo porque ele é incluso no custo total do produto final, investimento porque representa aplicação de dinheiro em um dos fatores de produção que é a força de trabalho, logo, agrega valor ao produto final gerando retornos a curto ou médio prazo. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 64 Quanto aos tipos de salários – seguindo Chiavenato (2005), os tipos de salário dividem-se em: • salário por unidade de tempo: é pago de acordo com o tempo que a pessoa fica à disposição da empresa, e a unidade de tempo pode ser dimensionada em horas, semanas, quinzena ou mais; • salário por resultado: refere-se à quantidade ou número de peças ou obras produzidas pela pessoa. Abrange os sistemas de incentivos (comissões ou porcentagens) e prêmios de produção (gratificações pela produtividade alcançada ou pelos negócios efetuados); • salário por tarefa: é uma fusão dos dois tipos anteriores. A pessoa está sujeita a uma jornada de trabalho e, ao mesmo tempo, a um salário que é determinado pela quantidade de peças produzidas. Quanto à sua atualização – fica evidente a importância do salário como fator recompensador do esforço do colaborador. Entretanto, o salário é apenas o meio para trazer satisfação ao trabalhador. Assim é preponderante a garantia de que o montante recebido mantenha o poder aquisitivo do colaborador. Então, podemos classificar o salário como nominal e real. O nominal é o valor constante no contrato de trabalho, e o salário real é esse valor atualizado com a intenção de manter o poder aquisitivo do trabalhador. FIGURA 12 – O COMPOSTO SALARIAL Composição dos salários Fatores Internos (organizacionais) Fatores Externos (ambientais) • Tipologia dos cargos na organização • Política de RH da organização • Política salarial da organização • Desempenho e capacidade financeira da organização • Competitividade da organização • Situação do mercado de trabalho • Conjuntura econômica (inflação, recessão, custo de vida, etc.) • Sindicatos e negociações coletivas • Legislação trabalhista • Situação do mercado de clientes • Concorrência no mercado FONTE: Chiavenato (2005, p. 261) Além dessas caracterizações ainda temos o salário mínimo que é a menor remuneração permitida por lei para trabalhadores de um país ou ramo de atividade econômica. TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 65 Quanto à composição dos salários – a construção da política salarial de uma empresa leva em consideração diversos fatores. Podemos separá-los em fatores: os fatores internos, como o desempenho e capacidade financeira da organização e política de RH adotada pela empresa; e os fatores externos, que levam em conta fatores como a situação de mercado, legislação trabalhista etc. Analise a Figura 12 e perceba o conjunto de fatores responsáveis pela política salarial das organizações. 2.2 PLANO DE REMUNERAÇÃO Você já percebeu que inúmeros fatores influenciam a política salarial das organizações. Esses fatores são variáveis interdependentes que, quando juntas, criam uma trama como a de um tecido que vai sendo formado para atender expectativas da organização e do colaborador. Para tanto, é preciso compreender os critérios básicos para a composição de um plano de remuneração. Vejamos uma adaptação do que diz Chiavenato (2005). FIGURA 13 – OS FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO DE SALÁRIOS Estruturas Saláriais Equilíbrio interno Equilíbrio externo Avaliação de cargos Classificação de cargos Pesquisa salarial Política de RH da organização Política salarial da organização FONTE: Chiavenato (2005, p. 265) UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 66 a) Equilíbrio interno versus equilíbrio externo – a organização precisa balancear os dois tipos de equilíbrio para manter consistência em sua estrutura salarial. Além da satisfação por receber compensação justa pelo bom trabalho desempenhado, a perspectiva psicossocial revela que as pessoas tomam como referência outros membros de seu convívio social. Isto é, estão sempre comparando entre seus pares (dentro ou fora da organização) a relação trabalho/resultado. O papel do RH é fazer essa relação parecer justa aos olhos dos colaboradores. b) Remuneração fixa ou remuneração variável – a remuneração pode ser paga em uma base fixa através de salários mensais ou por hora, ou ainda variar conforme critérios previamente definidos como metas e lucros da organização. Embora a grande maioria dos trabalhadores prefira as duas primeiras – isto é, uma remuneração desatrelada ao desempenho da organização no mercado em que atua. É importante perceber que quanto maior for sua capacidade técnico- administrativa (não aquela que você pensa que tem, mas aquela que o mercado reconhece como rara), maiores serão as chances de ter sua remuneração atrelada ao desempenho da organização. NOTA Desatrelada: separada. c) Desempenho ou tempo de casa – a remuneração pode enfatizar o desempenho e remunerá-lo de acordo com as contribuições individuais ou grupais ou pode enfatizar o tempo de casa dos funcionários na organização. d) Remuneração do cargo ou remuneração da pessoa – a compensação pode focalizar como um cargo contribui para os valores da organização ou como os conhecimentos e habilidades da pessoa contribuem para o cargoou para a organização. e) Igualitarismo ou elitismo – a remuneração pode incluir o maior número possível de funcionários sob o mesmo sistema de remuneração (igualitarismo) ou pode estabelecer diferentes planos, conforme os níveis hierárquicos ou grupos de funcionários (elitismo). f) Remuneração abaixo do mercado ou acima do mercado – os funcionários podem ser remunerados em um nível percentual abaixo ou acima do mercado. Essa escolha afeta os custos da organização e a satisfação dos funcionários. g) Prêmios monetários ou prêmios não monetários – os prêmios monetários são dados em dinheiro e reforçam o comprometimento com a organização. Eles TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 67 predominam nas organizações que atuam em mercados voláteis com pouca segurança no emprego, que valorizam mais as vendas do que o serviço ao consumidor. h) Remuneração aberta ou remuneração confidencial – os funcionários podem ter acesso aberto à informação sobre remuneração de outros funcionários e como as decisões salariais são tomadas (remuneração aberta) ou esse conhecimento é evitado entre os funcionários (remuneração confidencial). i) Centralização ou descentralização das decisões salariais – no sistema centralizado, as decisões são tomadas e controladas em um órgão central, normalmente o DRH (departamento de recursos humanos). Já no sistema descentralizado, as decisões são delegadas aos gerentes de linha (líderes de cada departamento). É claro que você percebeu que a administração de salários é preponderante para a constituição de um ambiente motivador e produtivo. Para isso é importante considerar o plano de remuneração um processo dinâmico que deve ser a garantia de estruturas de salários equitativas e justas. Além disso, eles devem perseguir os seguintes objetivos: a) atrair e reter talentos; b) colaborar para a motivação e comprometimento do pessoal; c) aumento da produtividade e qualidade no trabalho; d) controle de custos laborais; e) tratamento justo e equitativo às pessoas; f) cumprimento da legislação trabalhista. Vale ressaltar que os planos de remuneração das organizações devem estar alinhados com a estratégia de mercado adotada por cada organização. NOTA Laborar: trabalhar. 2.3 AVALIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE CARGOS Muito se falou até aqui sobre a preocupação de salários justos. É necessário que sejamos capazes de criar um plano de remuneração que siga critérios transparentes quanto ao reconhecimento da qualificação profissional de cada colaborador. Assim, quando há essa legitimação pelos participantes da organização, chamamos de equilíbrio interno. Entretanto, você já percebeu que esse equilíbrio não é estático, mas dinâmico. Isto é, precisamos criar processos que garantam os ajustes constantes para que esse plano não caia em descrédito. Deste modo a avaliação e classificação de cargos são instrumentos que zelam por essa integridade. Segundo Chiavenato (2005), a avaliação é o processo através UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 68 do qual se aplicam critérios de comparação dos cargos para se conseguir uma valoração relativa interna dos salários de diversos cargos. Já a classificação de cargos é o processo de comparar o valor relativo dos cargos, a fim de colocá- los em uma hierarquia de classes que podem ser utilizadas como base para a estrutura de salários. Para o constante monitoramento dessa distribuição equitativa de salários, é preciso criar métodos de avaliação de cargos. Um deles é o método de escalonamento simples, que é composto por três passos: NOTA Equitativo: justo. a) padronização da descrição dos cargos – a informação sobre os cargos deve ser montada em um formato padronizado; b) criação do critério de comparação – o critério pode ser formado por composição de características como “complexidade”, “responsabilidade”, “conhecimento técnico” etc. Então, define-se o limite mínimo e o limite máximo dessas características; c) classificação de todos os cargos utilizando o novo critério. Então, comparamos e classificamos todos os cargos utilizando tais critérios. FIGURA 14 – MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE CARGOS PELO ESCALONAMENTO FONTE: Chiavenato (2005, p. 268) Limite superior (Ls) Limite inferior (Li) Salário (R$) Critério de escalonamento TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 69 Como resultado desse método, teremos uma tabela com os cargos e seus respectivos salários de acordo com os critérios escolhidos para o limite máximo e o limite mínimo de presença dessas variáveis em cada cargo. Existe outro método muito parecido com esse, chamado de método de categorias predeterminadas. Poderia ser denominado método de escalonamento simultâneo, pois requer a divisão e separação dos cargos em categorias predeterminadas, como cargos mensalistas e cargos horistas, por exemplo. Em muitas organizações os cargos são separados em três categorias predeterminadas: cargos não qualificados, cargos qualificados e cargos especializados. Dessa forma podemos dispor dentro de cada categoria uma estrutura lógica que coloca cada salário em uma posição relativa. NOTA Escalonamento: dar a forma de escada a. O salário deve obedecer ao equilíbrio interno (organização) e externo (mercado), garantindo a compatibilidade entre salários. Uma das ferramentas utilizadas para isso é a pesquisa salarial. A pesquisa salarial é construída através de amostras retiradas do ambiente externo e de cargos que representem o ambiente interno. Essa procura por “cargos-padrão” é chamada de benchmarks jobs. FIGURA 15 – MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE CARGOS POR CATEGORIAS PREDETERMINADAS Critério de escalonamento Salário (R$) Cargos não qualificados Cargos qualificados Cargos especializados FONTE: Chiavenato (2005, p. 269) UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 70 Esses cargos de referência tomados dentro da estrutura organizacional devem possuir três características, a saber: • devem representar os vários níveis da composição salarial da organização; • devem representar os vários setores de atividade da organização; • devem ser facilmente identificáveis no mercado. Com relação ao mercado, devemos encontrar os cargos de referência em organizações escolhidas como representantes do mercado em que atuamos. Para isso é necessário selecionar as empresas amostrais utilizando os critérios a seguir: • localização geográfica: empresas que operam na mesma área territorial da organização; • ramo de atividade: empresas que atuam no mesmo ramo de negócio da organização; • tamanho: empresas do mesmo tamanho ou características da organização; • política salarial: empresas cuja política salarial (mais ousada ou mais conservadora) seja interessante para a organização. Mas, o que é política salarial? É o conjunto de decisões organizacionais tomadas a respeito de assuntos relacionados com a remuneração e benefícios concedidos aos funcionários. Com o objetivo de criar um sistema de recompensas justo para organização e funcionários, a política deve atender os seguintes critérios: • Adequada - a compensação deve distanciar-se dos padrões mínimos estabelecidos pelo governo ou pelo acordo sindical. • Equitativa - cada pessoa deve ser paga proporcionalmente de acordo com seu esforço, habilidades e capacitação profissional. • Balanceada - salário, benefícios e outras recompensas devem proporcionar um pacote total de recompensas que seja razoável. • Eficácia quanto a custos - os salários não podem ser excessivos e, sim, em função do que a organização pode pagar. • Segura - os salários devem ser suficientes para ajudar os empregados a sentir- se seguros e a satisfazer as suas necessidades básicas. TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 71 • Incentivadora - os salários devem motivar eficazmente o trabalho produtivo. • Aceitável para os empregados - as pessoas devem compreender o sistema de salários e sentir que ele representa um sistema razoável para eles e também para a organização. Esses critérios devem fornecer adequação ambiental à estruturasalarial. Vale lembrar que a política salarial deve ser um processo dinâmico. Isto é, devem- se estabelecer períodos para a atualização estratégica das políticas salariais. 3 PROGRAMA DE INCENTIVO Você já deve ter sentido na pele as consequências de um ambiente penoso de se trabalhar. Um ambiente que, apesar do salário justo, não nos incentiva a voltar no outro dia para o trabalho. A ideia de recompensar o trabalhador com apenas um salário não dá mais conta de todas as necessidades existentes nas organizações e nem das expectativas do novo colaborador. Assim, é necessário elaborar um sistema dinâmico de incentivos que promovam comportamento benéfico para ambas as partes. 3.1 RECOMPENSAS E PUNIÇÕES Para que a organização funcione, é necessário promover certos padrões de comportamento favoráveis a um ambiente mais produtivo. Sendo assim, para que isso funcione, as organizações precisam adotar sistema de recompensas e punições a fim de promover comportamentos mais relacionados à eficiência. Segundo Chiavenato (2005), o sistema de recompensas é um pacote total de benefícios que a organização coloca à disposição de seus membros. As recompensas vão além de salários, férias, prêmios, promoções para posições mais elevadas. Elas envolvem outras menos visíveis como: garantia de segurança no emprego, transferências de cargos para posições mais desafiantes ou para posições que levam ao crescimento. Para a garantia desse ambiente saudável, existe a punição e uma série de medidas disciplinares que a organização aplica para evitar que seus colaboradores se desviem dos padrões esperados. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 72 FIGURA 16 – RECOMPENSAS COMO PRECURSORES DE EFEITOS POSITIVOS Recompensas Efeitos 1- Realização empresarial - o colaborador participa dos resultados anuais ou semestrais da organização. 2- Tempo de serviço - o colaborador recebe uma recompensa por um bom desempenho em um determinado período. 3- Desempenho claramente excepcional - o colaborador recebe uma recompensa motivacional, se destacando perante os demais. 4- Resultados departamentais, divisionais ou globais quantificáveis - remuneração varável, de acordo com o resultado oferecido e distribuídos em igual porcentagem em relação à base salarial de cada um. 1- Aumenta o senso de responsabilidade; incentiva um espírito de comprometimento com a empresa. 2- Amplia a dependência do indivíduo com o grupo, e o grupo para com toda a organização, isto é, incentiva o trabalho em quipe. 3- Ajuda a enfatizar a criação de valores dentro da organização, ou seja, a pessoa recebe uma bonificação pelas suas ações dentro da empresa. FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2004, p. 289) O sistema de recompensas e punições deve ter como premissa a realimentação (retroação), isto é, deve contribuir e reforçar o desempenho excelente e relacionar a recompensa com os resultados estabelecidos ou desejados. Sendo assim o reforço positivo, ressaltado nas várias publicações de Skinner, reforça essa ideia com as seguintes premissas básicas: NOTA Premissa: proposição, conteúdo, informações essenciais. • As pessoas procuram desempenhar suas atividades de maneira que se obtêm maiores benefícios e recompensas. • As recompensas obtidas ajudam no sentido de reforçar, cada vez mais, a melhoria do desempenho. Em uma espécie de intercâmbio as pessoas tomam a decisão de participar de uma organização e contribuir com esforço, tempo e ou outros recursos pessoais para, em troca, receber incentivos. Para a organização, os incentivos representam investimento, que devem apresentar retornos na forma de contribuição das pessoas. Nesse constante intercâmbio, cada uma das partes investe para obter resultados da outra, comparando custos e benefícios e decidindo o melhor caminho. TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 73 FIGURA 17 – RECOMPENSAS COMO PRECURSORES DE EFEITOS POSITIVOS FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2004, p. 291) Agora vejamos alguns dos principais modelos de remuneração: Plano de bonificação anual – remuneração anual feita em função do desempenho do colaborador. O desempenho pode ser mensurado através da lucratividade alcançada, melhoria da produtividade etc. NOTA Mensurado: medido, calculado. Distribuição de ações da empresa aos funcionários – limitada a alguns funcionários como resultado de sua contribuição à empresa. Neste caso, o dinheiro do bônus é substituído por papéis da companhia. Opção de compra de ações da companhia – chamada também de stock options (um modelo comum nos Estados Unidos), ela dá direito ao funcionário comprar uma quantidade de ações da empresa por um determinado preço (por preço subsidiado). O objetivo é fazer com que o funcionário se torne também sócio da organização através de seus próprios méritos, mas com a ajuda da organização. Participação nos resultados alcançados – relacionada com o alcance de metas e resultados desempenhados pelo funcionário em um determinado período. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 74 Para que os programas de incentivos funcionem, é necessário o comprometimento de todos. Os programas devem ser elaborados com a participação de todos – para isso, na maioria dos casos, é necessário revelar dados financeiros (ganhos e perdas) para os colaboradores. Nem sempre essa é uma ideia bem recebida pelos gestores. Mesmo assim, vai ao encontro das inovadoras perspectivas sobre as relações de trabalho. 3.2 REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIA Os níveis de competitividade dos mercados exigem um novo pensar sobre os recursos utilizados pelas organizações. O bom administrador percebe que esses recursos devem ser bem administrados. Esse novo cenário revela novas relações de trabalho e, consequentemente, novas formas de remuneração. Assim, perceba que é quase inevitável o relacionamento lógico entre o desempenho e a remuneração compensatória. A remuneração por competência é uma remuneração variável e altamente relacionada com o autodesenvolvimento do trabalhador e como ele utiliza esse desenvolvimento pessoal para gerar resultados para a organização. Então, sai na frente aquele colaborador que desempenha inúmeras funções (multifuncional). As empresas entendem que atributos como capacidade técnica, personalidade, criatividade e inovação, aplicados no ambiente de trabalho, devem ser mais vigorosamente recompensados. Seguindo essa perspectiva, na remuneração por competência, várias pessoas podem desempenhar uma mesma função, mas com salários diferentes de acordo com a competência de cada uma. O objetivo é gratificar cada pessoa de acordo com a sua competência pessoal. Para isso é necessário considerar três passos para implementação: O primeiro passo é uma conversa entre o gerente e o funcionário, para que se estabeleçam as competências necessárias para o trabalho, e a respeito dos pontos fortes e fracos de cada um. Esta abordagem não tem como objetivo nenhum caráter impositivo ou repressivo, ao contrário, seu objetivo é localizar e corrigir os pontos negativos. O segundo passo é a programação conjunta entre gerente e funcionário em relação ao treinamento necessário para integrar o processo. Cada funcionário fica responsável em se autodesenvolver e se qualificar profissionalmente. A motivação vem em seguida, pois cada funcionário se sente envolvido, responsabiliza-se mais e consequentemente ajuda mais a empresa. O terceiro passo é a remuneração personalizada, ou seja, cada funcionário receberá uma recompensa de acordo com a sua contribuição na empresa. É importante que você perceba que a remuneração por competência surgiu da necessidade de diferenciar as pessoas de acordo com suas habilidades. As pessoas ganham pelo que sabem e pela colaboração no sucesso da empresa. TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 75 FIGURA 18 – DIFERENÇAS ENTRE REMUNERAÇÃO TRADICIONAL E POR COMPETÊNCIA FONTE: Chiavenato (2004, p. 301) A remuneração por competência éuma maneira simples de recompensar cada membro da organização de acordo com a sua contribuição pessoal na empresa e, além disso, incentiva a participação e o envolvimento das pessoas na condução dos negócios. FIGURA 19 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DA REMUNERAÇÃO POR COMPETÊNCIA FONTE: Chiavenato (2004, p. 303) Distribuição do lucro aos funcionários – um tipo de remuneração baseada na participação nos resultados alcançados. A participação nos lucros é um método pelo qual a organização distribui anualmente uma parte do lucro da empresa aos seus funcionários. É uma forma de remuneração variável. A participação nos lucros e resultados (PLR) é regulamentada pela Medida Provisória (MP) nº 794, de 1994. A partir da MP nº 794, as empresas passaram a implantar a participação nos lucros e resultados para atender a ordem legal. Questões que você deve considerar na implementação da remuneração por competência, segundo Chiavenato (2005): UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 76 Cada empresa deve ter o seu sistema próprio – cada empresa deve enfatizar metas e resultados próprios, considerando a cultura da empresa e atendendo as suas peculiaridades. Enfatizar os resultados e não os lucros – o sistema deve estar voltado para os resultados que são objetivos a ser alcançados; podem ser denominados metas, indicadores de produtividade ou de qualidade. A condição é básica, se os resultados previamente estabelecidos forem alcançados e a empresa obtiver lucro, então haverá participação das pessoas em uma parcela do lucro. Definir metas estratégicas, táticas e operacionais – o sistema deve envolver todos os funcionários através das metas. As metas corporativas referem- se ao comportamento geral da empresa, enquanto as metas táticas ou setoriais são exclusivas para cada área ou departamento. As metas operacionais são relacionadas à atividade de cada funcionário. Utilizar indicadores usuais, simples e confiáveis – o programa é uma novidade para todos, então, devem-se usar indicadores simples e confiáveis para ganhar credibilidade. Com o passar do tempo, deve ser aprimorado e renovado. Estabelecer uma periodicidade adequada – a empresa deve manter uma periodicidade anual para depois passar a semestral, e não o contrário, pois pode demonstrar que a empresa não tem saúde financeira para bancar o programa. A MP 794 veta o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição dos resultados com periodicidade inferior a semestral. Proporcionar clareza e simplicidade – o programa deve ser claro, objetivo e sem muitas regras. Como é destinado a todos os membros da organização, ele deve ser feito em linguagem simples e clara, com poucas páginas e que não gere dúvidas. Ressaltar a objetividade – deve ter o mínimo de subjetividade. Os indicadores devem ser quantificáveis, como a frequência, pontualidade, redução do número de acidentes etc. Abrangência do programa – o programa deve envolver todos os funcionários, do presidente ao faxineiro, sendo dividido igualmente para cada pessoa. No entanto, as metas setoriais não podem ser iguais para todos. Diferenciação das recompensas – o programa deve recompensar as pessoas de acordo com o seu desempenho na organização. Não se devem dividir os lucros igualmente para cada funcionário, pois assim não se dará valor ao funcionário que mais se destacou e mais se empenhou durante um determinado tempo. Manter o programa sempre em alta – é preciso que o programa esteja sempre em alta. Os funcionários devem estar sempre motivados em função dos TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 77 desafios estabelecidos pela empresa. Devem estar cientes dos resultados conforme forem sendo conquistados. A empresa deve sempre achar uma forma diferente de aplicar o programa, para que seja bem lembrado pelos seus funcionários. 3.3 COMO DESENHAR UM PLANO DE INCENTIVO Os especialistas em RH concordam que, embora planos salariais funcionem melhor que os planos de incentivos, os gestores de RH devem levar em consideração alguns aspectos fundamentais na implantação de um plano desses: • O maior empecilho está na falta de capacidade de mensuração dos resultados. Geralmente são ocasionados pelo processo de automação que, na maioria dos casos, não permite a distinção dos resultados por colaborador. Em alguns casos a contagem por unidade produzida é incrementada pela unidade tempo. NOTA Empecilho: que apresenta um obstáculo, que impede, estorva. • Quando há demora no trabalho devido ao controle humano, tona-se irrealizável pagar os funcionários conforme o seu resultado. • A implantação do plano de incentivo requer investimento em processamento de dados e na metodologia para analisar os custos. Se não há um controle detalhado de custos, sugere-se não instalar o plano. Então as condições favoráveis à implantação de um plano de incentivos estão relacionadas à capacidade de facilmente mensurar a relação entre o esforço do colaborador e os resultados produzidos. Isto é, os processos são minuciosamente controlados ao ponto de produzirem resultados relacionados à quantidade e qualidade produzida por cada colaborador. Além desses cuidados, Chiavenato (2005) contribui com mais alguns aspectos fundamentais: • assegurar que os esforços são diretamente relacionados; • fazer o plano compreensível e facilmente calculável pelos funcionários; • formular padrões eficazes; • garantir os padrões; UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 78 • garantir um padrão de base horária; • proporcionar apoio ao plano. Como não podia deixar de ser, a adoção de plano de incentivos irá influenciar o clima organizacional. Então vejamos mais algumas dicas sob essa perspectiva: • A estrutura de incentivos não é a única responsável pelos resultados apresentados pelos colaboradores. A gestão deve ser eficiente e ser referência no cumprimento dos critérios preestabelecidos. • Perceba que as recompensas devem privilegiar o grupo e não o individual, pois a luta por recompensas individuais pode promover o desmantelamento das equipes. Além disso, é importante perceber que o não recebimento também é uma forma de punição (como efeito colateral). • Assim, toda competição que premia um contingente muito pequeno é um mau negócio para a organização como um todo. • A ideia não é premiar quem produz mais, mas aqueles que alcançam a meta ou a superaram. Além disso, não existe competição justa, quando alguém ganha irremediavelmente alguém perde. • Tente variar os prêmios, pois eles perdem seu encanto. Não dê apenas recompensas em dinheiro, você pode variar com viagens, estadias, parques de diversão, ingressos para teatro etc. Enfim, antes de preparar um plano de incentivos, planeje com calma todos os detalhes e aproveite para rever objetivos estratégicos e realinhar as ações de recompensas e punições. A intenção deve ser incrementar ainda mais o comprometimento de seus colaboradores. 4 BENEFÍCIOS E SERVIÇOS Atrair e reter talentos continuam sendo desafios para a gestão de recursos humanos. Se por um lado esses talentos são considerados ativadores inteligentes de recursos, por outro, os gestores se desdobram para criar, ao mesmo tempo, um ambiente acolhedor e estimulante o suficiente para mantê-los saudáveis e produtivos. Entretanto, essa não é uma tarefa fácil. As estratégias utilizadas estão muito além das compensações diretas (salário), elas enveredam para benefícios e serviços que têm a intenção de facilitar a vida dos participantes da organização. TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 79 4.1 CARACTERIZANDO BENEFÍCIOS E SERVIÇOS Nesse ambiente mais compensador, a organização espera um grande comprometimento de seus colaboradores que, agora felizes, usam todo seu talento para ativar recursos de forma empreendedora e criativa. Assim, a remuneração não visa apenas recompensar os funcionários pelo seu trabalho e dedicação, mas tornar a sua vida mais fácil e agradável. Essa perspectiva promove um alto nível de qualidade de vida no trabalho. Assim, existeuma variedade de facilidades e vantagens concedidas pelas organizações, como assistência médico-hospitalar, seguro de vida, alimentação subsidiada, transporte, pagamento de tempo não trabalhado, planos de pensão ou aposentadoria. Em caso de pessoal em cargos mais elevados, os benefícios incluem fornecimento de automóvel (desde o leasing de veículo até o pagamento de todas as despesas, inclusive motorista), casa, escola para os filhos, clube para toda a família, passagens e estadias no período de férias, cartões de crédito e planos especiais de saúde e seguro de vida (CHIAVENATO, 2005). NOTA Subsidiado: ajudado, auxiliado financeiramente. Os benefícios sociais estão intimamente relacionados com aspectos da responsabilidade social da organização. Sendo assim, essa perspectiva possui as seguintes origens: • a disputa acirrada por talentos humanos; • a predileção dos trabalhadores por empresas que oferecem melhores condições de trabalho através de benefícios; • exigências da legislação trabalhista e previdenciária e, em muitos casos, pode representar um dos meios lícitos de deduções de suas obrigações tributárias; • necessidade de contribuir para o bem-estar dos trabalhadores e da comunidade. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 80 NOTA Lícito: que está de acordo com a lei; permitido. Na realidade, os planos de benefícios são intensamente avaliados e discutidos quanto aos seus propósitos, custos e valores, responsabilidade pela administração, critérios de avaliação etc. Vamos agora estudar alguns tipos de benefícios. Eles podem ser classificados quanto à sua exigibilidade legal, quanto à sua natureza e quanto aos seus objetivos. Vejamos cada um deles a seguir: FIGURA 20 – PLANO DE BENEFÍCIOS QUANTO À SUA EXIGIBILIDADE LEGAL FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2004, p. 316) Os benefícios monetários não podem ser os únicos compensadores do esforço e empenho do trabalhador, até porque são inúmeras as variáveis que envolvem os altos índices de turnover. Cabe à organização promover ambientes promotores da tão esperada fidelidade de seus talentosos colaboradores. TÓPICO 1 | RECOMPENSANDO PESSOAS 81 FIGURA 21 – PLANO DE BENEFÍCIOS QUANTO À SUA NATUREZA FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2004, p. 316) FIGURA 22 – PLANO DE BENEFÍCIOS QUANTO AOS SEUS OBJETIVOS FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2004, p. 316-317) Essas e outras premissas garantem a importância de um bom ambiente de trabalho. Além disso, é fato consumado, por diversas pesquisas na área, que a decisão de ficar na empresa é influenciada pelos diversos grupos sociais frequentados pelo colaborador. Segundo Chiavenato (2005), os benefícios e serviços oferecidos aos funcionários visam satisfazer vários objetivos individuais, econômicos e sociais: UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 82 Objetivos individuais – buscam proporcionar uma vida saudável e produtiva aumentando sua concentração nas tarefas diárias. Nesse sentido, o plano de benefícios é oferecido para atender um leque diferenciado de necessidades dos funcionários. Objetivos econômicos – os benefícios devem funcionar como um elemento de atração e de retenção de pessoal. Nesse sentido os benefícios visam a: • reduzir a fadiga física e psicológica das pessoas; • apoiar o recrutamento de pessoal e atrair candidatos; • reduzir a rotatividade do pessoal e fixar as pessoas na empresa; • reduzir o absenteísmo; • melhorar a qualidade de vida das pessoas; • minimizar o custo de horas trabalhadas. Objetivos sociais – os benefícios procuram preencher deficiências, lacunas ou carências da previdência social, do sistema educacional e dos demais serviços prestados pelo governo ou pela comunidade, como transporte, segurança etc. Para atender a um ou mais desses objetivos, cada organização desenha e planeja o seu plano específico de benefícios. De um modo geral, os planos de benefícios sociais são desenhados e planejados para ajudar o colaborador em seu cargo – com gratificações e prêmios de produção; fora do cargo, mas dentro da organização – envolvendo lazer, transporte etc. e não menos importante, fora da organização, ou seja, na comunidade – envolvendo recreação e atividades esportivas comunitárias. 83 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você estudou que: • Analisando a organização sob a perspectiva sistêmica, você já compreende que ela é um complexo sistema de conversão de vários recursos. Uma espécie de sistema integrado que tem o objetivo principal de gerar resultados. Esse sistema complexo que define a organização é composto pela combinação ótima entre diversos recursos. Assim, para a obtenção desses recursos, é preciso considerar a colaboração de seus stakeholders. • Além disso, o bom administrador percebe que esses recursos devem ser bem administrados e que esse novo cenário exige novas relações de trabalho e, consequentemente, novas formas de remuneração. A remuneração por competência é uma delas e está relacionada com o autodesenvolvimento do trabalhador e como ele utiliza esse desenvolvimento pessoal para gerar resultados na organização. • Notoriamente, atrair e reter talentos continuam sendo desafios para a gestão de recursos humanos. Se por um lado esses talentos são considerados importantíssimos ativadores inteligentes de recursos, por outro, os gestores se desdobram para criar, ao mesmo tempo, um ambiente acolhedor e estimulante o suficiente para mantê-los saudáveis e produtivos. Entretanto, essa não é uma tarefa fácil. As estratégias utilizadas estão muito além das compensações diretas (salário), elas enveredam para benefícios e serviços que têm a intenção de facilitar a vida dos participantes da organização. Assim, é necessário elaborar um sistema dinâmico de incentivos que promovam comportamento benéfico para ambas as partes. 84 AUTOATIVIDADE Mãos à obra! Vamos trabalhar o conteúdo respondendo às questões a seguir: 1 A remuneração total de um funcionário é constituída de três componentes principais. Quais são eles? 2 Quais critérios são necessários para encontrar os cargos de referência em organizações escolhidas como representantes do mercado de trabalho? O que significa cada um deles? 3 Cite três exemplos de modelos de remuneração e os explique. 4 Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) nas questões que, segundo Chiavenato (2005), devem-se considerar na implementação da remuneração por competência. ( ) Enfatizar os lucros e não os resultados – a organização deve pensar apenas no quantitativo e não no qualitativo. ( ) Proporcionar clareza e objetividade – as regras devem ser claras e objetivas. Como é destinada a todos, a linguagem deve ser adequada a todos. ( ) Cada empresa deve ter o seu próprio sistema – deve enfatizar metas e resultados próprios, visando à cultura da empresa e suas peculiaridades. ( ) A empresa não precisa seguir uma periodicidade – o plano pode ser aplicado quando a empresa desejar, seja semanalmente, mensalmente, semestralmente ou anualmente. 5 Os planos de benefícios são intensamente avaliados e discutidos quanto aos seus propósitos, custos e valores, responsabilidade pela administração, critérios de avaliação etc. Eles são classificados em três tipos. Quais são eles? 85 TÓPICO 2 RETENDO PESSOAS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Você já se deu conta que, das entidades sociais que frequentamos, a empresa em que trabalhamos é onde depositamos a maior parte de nosso tempo? É verdade, a empresa é uma complexa estrutura com uma função social muito importante – ela traz a solução para diversos problemas sociais à sua volta. Então, é necessário que compreendamos essa estrutura para usufruirmos ao máximo dessas relações sociais. É preciso líderes que conduzam essas relações em direção a objetivos predefinidos, só assim poderemos compor uma estrutura empresarial que atenda aos interesses de seus stakeholders. 2 FORMAS DE ADMINISTRAR Em um processo contínuo de mudança, a estrutura organizacional precisa ser constantemente adaptadaàs alterações ambientais. Você mesmo já deve ter tido que aprender novos modelos de gestão impostos pelos dirigentes de sua organização. Com certeza eles contavam com sua capacidade de aprender e adaptar a sua rotina ao novo modelo de gestão. Perceba que toda organização depende da capacidade de adaptação de seus integrantes (colaboradores). Então, uma estrutura mal-elaborada, com processos de trabalho redundantes, gera circunstâncias ideais para conflitos que podem comprometer todo o processo produtivo. Esta parte do estudo se concentrará na compreensão das influências do administrador no funcionamento da estrutura organizacional. 2.1 PREMISSAS ESTRUTURAIS DA ORGANIZAÇÃO A principal função da organização é a função social. Nela estão inseridos processos que vão atender os diversos interesses dos stakeholders. Então, é preponderante a compreensão de algumas premissas básicas para o entendimento deste universo: UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 86 • A organização é um ser vivo – ou seja, existe troca constante com o ambiente e, além disso, se desenvolve a partir das interações que sofre com o ambiente. Assim, a organização precisa investir no seu desenvolvimento, e boa parte desse desenvolvimento é decorrência do desenvolvimento das pessoas que dela participam. • A organização está em constante mudança – as constantes mudanças são resultado de um contínuo processo de aprendizado. A aprendizagem depende do clima organizacional, pois, havendo motivação, aprende-se continuamente. Toda organização juntamente com seus participantes necessitam aprender cada vez mais e com mais agilidade. A aprendizagem é o mecanismo vital que proporciona saúde e longevidade à organização. Embora a longevidade faça parte dos objetivos de toda empresa, não é uma tarefa fácil. Entretanto, algumas empresas já conseguem descrever algumas características básicas para dominá-la: • Sensibilidade às mudanças ambientais – possuem grande capacidade de antecipar as necessidades de mudança. São construídas com base no conhecimento (como inovações tecnológicas que agregam valor à vida dos clientes) e permanecem em harmonia com o mundo à sua volta e regem de maneira oportuna as condições da sociedade que as cerca. • Possuem um forte senso de conjunto e/ou identidade – independentemente de seu grau de diversificação, seus colaboradores (incluindo fornecedores) sentem-se parte de uma só “causa”. Essa sensação de fazer parte de uma comunidade e de ser capaz de se identificar com suas ações e realizações é que permite uma forte vinculação emocional e psicológica dos funcionários com a empresa, o que é essencial para a sua sobrevivência em meio à mudança. A prioridade máxima e principal preocupação da administração é a saúde da instituição como um todo. São organizações em que vale a pena trabalhar e investir pesadamente. • Alto grau de tolerância – são tolerantes quanto às atividades exploratórias desenvolvidas às margens dos negócios (dentro dos limites de uma organização coesa). Estão sempre ampliando possibilidades e abrindo novos horizontes para o futuro, concentrando-se na criatividade e inovação. • Maturidade na gestão financeira. Não arriscam o seu capital gratuitamente, o fato de possuírem dinheiro lhes dá maior independência de ação permitindo buscar novas opções. Sua autonomia financeira lhes dá segurança, estabilidade e liberdade. Os administradores compreendem que os recursos, em sua maioria escassos, devem ser minuciosamente bem administrados na busca da competitividade sustentável. TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 87 2.2 ADMINISTRAÇÃO QUANTO À NATUREZA DAS PESSOAS A gestão de pessoas é muito influenciada pelas pressuposições implícitas ou explícitas em relação à natureza das pessoas. McGregor identificou dois conjuntos de pressuposições as quais designou: teoria X e teoria Y. A teoria X – a abordagem tradicional – envolve convicções negativas das pessoas e influencia o estilo de administração dos gerentes, forçando um estilo com características mais autocráticas e impositivas. No entanto, a teoria Y – a abordagem moderna – envolve convicções positivas que levam os gerentes a um estilo mais democrático de administração. Na teoria X predomina a manipulação das pessoas, o constrangimento e o temor. As pessoas são consideradas preguiçosas e indolentes, então, precisam ser mandadas e ameaçadas para trabalhar. Elas representam recursos inativos que necessitam ser explorados pela administração. Nesta teoria, o trabalho é imposto e precisa ser motivado através de pagamento e medidas de controle e segurança. A monitoração deve ser rígida e as pessoas não podem ser deixadas sem supervisão. Além disso, os subordinados não podem ser entregues às próprias decisões. No geral, as pessoas são consideradas interesseiras, incompetentes e tentarão tirar vantagens das situações. O trabalho deve ser esquematizado e claro em relação à autoridade e comando hierárquico. Na teoria Y, o respeito às pessoas e às suas diferenças individuais é que predomina. As pessoas gostam de trabalhar em um ambiente agradável, mas principalmente que elas possam expressar suas opiniões na organização. Cada pessoa representa uma riqueza que pode ser explorada por uma apropriada administração. Nesta teoria, é predominante uma visão mais humana, em que as recompensas abrangem todas as necessidades. A ordem é a democracia. O reconhecimento é um grande estímulo, e a contribuição é o resultado esperado. FIGURA 23 – AS PRESSUPOSIÇÕES DAS TEORIAS X E Y A RESPEITO DA NATUREZA HUMANA FONTE: Chiavenato (2005, p. 401) UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 88 Além dessa classificação do comportamento humano, temos, a todo o momento, novas perspectivas sobre as recentes gerações. Dizem os estudiosos que os jovens que nasceram na década de noventa estão sendo chamados de “Geração Z”. Influenciados pela globalização e pela grande evolução tecnológica, possuem características bem peculiares. Com um comportamento definido como “integrado” e/ou “antenado”, devido à evolução das redes sociais (Orkut, Facebook, Linkedin etc.), esse novo trabalhador é multitarefa e percebe a organização como uma rede conectada a um sistema muito maior. A fidelidade não está centrada na organização, mas no mercado em que atua. Uma das formas de adaptar a organização a essas mudanças é convencer os líderes a contratarem estagiários para que ambos os lados se adaptem a essas mudanças comportamentais. Existem muitas instituições que podem auxiliar na procura do perfil ideal de estagiário para tarefas específicas dentro das organizações. 2.3 ADMINISTRAÇÃO QUANTO AO MODELO DE AUTORIDADE Agora é hora de pensarmos um pouquinho sobre esse assunto. Perceba que a organização influencia e é influenciada pelo ambiente que a cerca. Então essas influências vão moldando o estilo de administração adotado pela organização. Vejamos dois estilos muito adotados pelas organizações em diversos momentos de sua existência. A centralização e a descentralização estão intimamente ligadas à distribuição do poder pela estrutura hierárquica da empresa. A centralização reserva o poder de decisão nas camadas mais superiores da organização, já no caso da descentralização, a autoridade de tomar decisões é colocada para os níveis mais baixos da organização. FIGURA 24 – ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA VERSUS DESCENTRALIZADA – A INTENSIDADE DA COR ESCURA INDICA O GRAU DE AUTORIDADE PARA DECIDIR Organização Centralizada Organização Descentralizada FONTE: Chiavenato (2003, p. 132) TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 89 A centralização destaca a cadeia de comando, a organização é desenhada destacando que o cargo no topo possui a mais alta autoridade e a autoridade dos demais cargos é destacada para baixo de acordo com sua posição no organograma. NOTA Organograma: conforme já vimos, é um gráfico que representa a estrutura formal de uma organização. Vejamos algumas vantagens da centralização, adaptadas de Chiavenato(2005): • As decisões são tomadas por administradores que possuem visão global da empresa. • Os tomadores de decisão no topo são melhor treinados e preparados do que os que estão nos níveis mais baixos. • As decisões são consistentes com os objetivos empresariais globais. • A centralização elimina esforços duplicados de vários tomadores de decisão e reduz custos operacionais. • Certas funções como compras e tesouraria permitem maior especialização e vantagens com a centralização. Por outro lado é importante que você considere as desvantagens de uma estrutura de poder centralizada. Vejamos: • As decisões são tomadas na cúpula que está distanciada dos fatos e das circunstâncias. • Os tomadores de decisão no topo têm pouco contato com as pessoas e situações envolvidas. • As linhas de comunicação da cadeia escalar provocam demoras e maior custo operacional. • As decisões passam pela cadeia escalar, envolvendo pessoas intermediárias e possibilitando demoras, distorções e erros pessoais no processo de comunicação. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 90 Outro modelo considerado oposto ao centralizado é o descentralizado – utilizado em organizações com um ambiente favorável a essa modalidade de estrutura. A descentralização faz com que as decisões sejam transferidas a níveis mais baixos da organização. A intenção é proporcionar melhor utilização dos recursos humanos. A autoridade para tomar ou iniciar a ação deve ser delegada tão próxima da cena quanto possível. Vejamos algumas características do ambiente que promovem a descentralização: • Imprevisibilidade e constantes mudanças – quanto maior o ritmo das mudanças ambientais, maior a necessidade de inovação. Consequentemente aumenta a necessidade de descentralização para aumentar a autonomia das áreas, acelerando os processos de adaptação, aperfeiçoando suas idiossincrasias. NOTA Idiossincrasias: comportamento particular de agir perante estímulos externos. • Complexidade dos problemas organizacionais – quanto mais a organização cresce mais complexa fica sua estrutura – principalmente as interações com o ambiente externo e interno. Assim, os novos problemas requerem soluções multidisciplinares. Ou seja, geralmente envolvem inúmeros departamentos com conhecimento de áreas distintas. • O domínio do mercado de atuação – em épocas de certeza e previsibilidade, a descentralização é preferida. Em situações de risco, de crise ou dificuldade, a autoridade é centralizada no topo enquanto durar a emergência, e a descentralização somente voltará quando o perigo já tiver sido ultrapassado. Seguindo essa perspectiva, você já deve ter ouvido falar do modelo de organizações em rede, um exemplo extremo do modelo descentralizado. Assim, cada unidade da rede tem a liberdade a ajustes que devem ser feitos de acordo com as peculiaridades do ambiente em que está localizada. Existem inúmeras vantagens na descentralização, vejamos algumas delas, adaptadas de Chiavenato (2005): • Os chefes ficam próximos do ponto onde se devem tomar as decisões – a descentralização corta atrasos nas decisões causadas pelas consultas à matriz ou aos supervisores distantes. As pessoas que vivem os problemas são mais indicadas para resolvê-los. TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 91 • Aumenta a eficiência e motivação, aproveitando o tempo e aptidão dos funcionários, evitando que fujam à responsabilidade. • Melhora a qualidade das decisões à medida que seu volume e complexidade se reduzem, aliviando os chefes do excesso de trabalho decisório. Os chefes podem concentrar-se nas decisões de maior importância. • Reduz-se a quantidade de papelório dos escritórios centrais e os gastos respectivos. Além disso, ganha-se tempo: toma-se na hora a decisão que levaria vários dias para aprovação do escritório central. • Os gastos de coordenação são reduzidos devido à maior autonomia para tomar decisões. Isto vai exigir uma estrutura organizacional e políticas bem definidas. • Permite a formação de executivos locais ou regionais, agora mais motivados e conscientes dos seus resultados operacionais. A estrutura descentralizada forma gerentes gerais em vez de simples especialistas. Mesmo sendo um modelo com muitas vantagens, existem alguns cuidados que devem ser tomados quanto à sua operação: • Falta de uniformidade nas decisões – a padronização e a uniformidade trazem a vantagem da redução de custos operacionais. A descentralização provoca a perda de uniformidade nas decisões. Reuniões de coordenação entre os escritórios centrais e o pessoal regional que desempenha a mesma função podem reduzir tal problema. • Insuficiente aproveitamento dos especialistas – geralmente, os maiores especialistas estão concentrados nos escritórios centrais. Com a descentralização, a tendência é pensar que já não se necessita da assessoria da matriz. • Falta de equipe apropriada ou de funcionários no campo de atividades – a descentralização exige treinamento para a designação paulatina de funções. Estudamos muito até aqui. Lembre-se de que não existe teoria certa ou errada. Todas elas possuem pontos fortes e fracos. O sucesso na gestão de pessoas não está na utilização específica de um modelo ou outro, mas na habilidade do gestor em analisar as circunstâncias, escolher o modelo apropriado e adaptá-lo às variáveis ambientais. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 92 3 RELAÇÕES COM EMPREGADOS É um fato histórico, compartilhar o mundo nunca foi o atributo mais nobre da raça humana. Entretanto, estudiosos do comportamento revelam métodos que podem aumentar muito essa capacidade. Aliás, coisas incríveis podem ser realizadas quando trabalhamos juntos, não é? 3.1 PROGRAMAS DE RELAÇÕES COM EMPREGADOS Dizem os estudiosos que grande parte do comprometimento das pessoas está relacionada ao propósito. As organizações se dedicam em criar ambientes saudáveis e produtivos com o pretexto de envolver as pessoas em torno de uma “causa”. Esperam, com isso, um alto nível de comprometimento de seus colaboradores. Vejamos a caracterização de um ambiente saudável em uma adaptação de Chiavenato (2005): • Comunicações – devem ser de mão dupla, solicitando sempre sugestões e opiniões sobre assuntos do trabalho, fazendo assim a organização se comunicar e deixar clara sua filosofia aos colaboradores. • Cooperação – todo processo decisório e todo controle de atividades deve ser compartilhado com os colaboradores para assim obter cooperação e comprometimento. • Proteção – todo local de trabalho acaba afetando o bem-estar do colaborador. Assim todo trabalhador deve se sentir seguro em um ambiente livre de perseguições. • Assistência – a organização deve oferecer assistência a todo funcionário, respondendo pelas suas necessidades especiais, dando-lhe apoio e suporte. • Disciplina e conflito – a organização necessita estabelecer regras claras e convencer seus colaboradores da importância de segui-las para dirimir os possíveis conflitos. Fica evidente que a cooperação dos trabalhadores está relacionada a um ambiente saudável e seguro e, além disso, à necessidade de uma eficiente gestão da comunicação que preestabeleça princípios mínimos de conduta legitimados por todos. A legitimação é importante para um ambiente que atraia o comprometimento de todos. Como parte desse processo, o programa de sugestão revela-se uma ferramenta bastante eficiente. É utilizado para solicitar, estimular, avaliar e implementar sugestões dos funcionários e recompensar as que tenham aplicações práticas e gerem resultados para a organização. Quase sempre essas TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 93 recompensas são monetárias junto com o reconhecimento público, podendo incluir outros benefícios especiais e férias extras. As linhas básicas de um programa de sugestões são as seguintes: • devem-se avaliar as sugestões (criar uma comissão de avaliação com pessoas de diversas áreas e níveis da organização) analisando-as objetivamente e proporcionando uma razoávelexplicação ao funcionário por que suas ideias foram rejeitadas; • a implementação de sugestões aceitas e a recompensa ao funcionário deve se fazer em público aos funcionários e publicando também em murais ou jornais o resultado da melhoria sugerida; • deve ser avaliado o valor do benefício ou economia proporcionada à organização decorrentes da sugestão oferecida. Algumas organizações chegam a dar 10% da vantagem ou economia conquistada pela sugestão do funcionário. Outros programas seguem a mesma linha: o objetivo é satisfazer as necessidades dos colaboradores na intenção de motivar o seu maior comprometimento com a causa defendida por todos os stakeholders. Programa de reconhecimento: os prêmios de reconhecimento são pagamentos ou créditos concedidos a empregados ou equipes que proporcionam contribuições extraordinárias à organização. O prêmio de reconhecimento pode ser indicado pelo gerente e pode envolver uma cerimônia de celebração a respeito do sucesso do colaborador ou equipe, com a intenção de encorajar todos os demais a trabalhar em direção aos objetivos da organização e fornecer uma retroação altamente positiva aos trabalhadores. Programas de assistência ao funcionário: assistência aqui se refere a apoio com relação a possíveis problemas de convívio ou comportamento. Uma das medidas tomadas é proporcionar circunstâncias para que o trabalhador resolva por si só seus entreveros. Outra forma é a indicação de assistência profissional que ajudará o colaborador a dirimir as consequências de um eventual conflito. Enfim, os PAEs (Programa de Assistência aos Empregados) são programas que ajudam os funcionários a lidar com seus problemas pessoais que venham a interferir no ambiente de trabalho. Mas, como podemos detectar colaboradores com problemas? Os principais sintomas são: • elevado absenteísmo às segundas e sextas-feiras, antes e após feriados; • faltas frequentes não justificadas e/ou atrasos e saídas antecipadas; UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 94 • altercações com colegas; • negligências que provocam problemas a outros funcionários; • julgamento precário de situações e decisões erradas no trabalho; • muitos acidentes estranhos no trabalho; • danos e paradas de máquinas devido a negligências; • envolvimento com a lei, como multas no trânsito, embriaguez etc.; • má aparência pessoal. NOTA Entreveros: desacordos; absenteísmo: ausência premeditada; altercações: disputar acaloradamente, provocar polêmica. Quase sempre, os PAEs apresentam dois componentes fundamentais: • Uma política escrita – serve para demonstrar o apoio total da organização. Numa empresa os primeiros a tomar conhecimento dos problemas das pessoas são os colegas e supervisores, porém muitas vezes os mesmos nem sempre estão motivados ou até mesmo preparados para auxiliar ou apoiar emocionalmente; para isso a empresa necessita de uma política escrita. • Um coordenador para o programa – o coordenador promoverá a assessoria com os gerentes, irá encorajá-los a lidar com funcionários com problemas. Todo programa precisa de um coordenador que faça com que os procedimentos e políticas sejam aplicados no ambiente de trabalho. TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 95 FIGURA 25 – ÁRVORE DE DECISÕES DE UM PAE (PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA AOS EMPREGADOS) Identificar funcionários problemáticos: • Autoidentificação • Identificação do supervisor Aconselhamento do PAE O funcionário se recusa a buscar ajuda e é desligado se o problema tem impacto negativo sobre o trabalho. O problema é resolvido e o funcionário continua no trabalho. Tratamento O problema é resolvido e o funcionário retorna ao trabalho. O tratamento é malsucedido e o funcionário é desligado. ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 ETAPA 4 FONTE: Chiavenato (2005, p. 406) 3.2 DISCIPLINA É o enquadramento do comportamento a padrões culturais preestabelecidos. Em uma perspectiva antiga, a organização criava controles rígidos para garantir que nenhum trabalhador burlasse esses padrões. Em uma perspectiva mais atual, o colaborador deve zelar por permanecer dentro desses padrões – é o que chamamos de autodisciplina, e a organização concentra- se nos resultados de cada participante. No entanto, não são todas as pessoas que aceitam esse condicionamento, então, a organização tem a necessidade de impor ação disciplinar externa para esclarecer os limites do comportamento aceitável pela organização, frequentemente denominada de punição, ou seja, é a apresentação de uma consequência indesejável do comportamento. A punição pode ser verbal ou a remoção de consequências desejáveis, como o aumento de salário, por exemplo. Contudo, as punições podem trazer efeitos negativos, como rotatividade e alto nível de absenteísmo. Devem-se levar em conta vários fatores importantes da disciplina: • Gravidade e duração do problema – é a seriedade ou severidade do problema, e o tempo pelo qual o mesmo permanece acontecendo. • Frequência e natureza do problema – pode ser um problema novo ou a continuidade de alguma infração disciplinar. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 96 • Fatores condicionais – são as circunstâncias ou condições relacionadas ao problema. • Grau da socialização – é o grau de conhecimento que o violador tem em relação às regras e procedimentos da organização e o grau de formalização das regras e procedimentos divulgados e escritos. Quando as regras são informais e pouco claras, a situação é diferente. • História das práticas disciplinares da organização, quais as infrações cometidas no passado e o tratamento justo a ser dado. • Apoio gerencial – os gerentes devem apoiar totalmente a ação disciplinar e aplicar na administração de seus subordinados. Existem alguns padrões básicos da disciplina que devem ser aplicados a todos os descumprimentos de regras da organização, sejam graves ou leves. Devem seguir os seguintes procedimentos padrões: • Comunicação das regras e critérios de desempenho – os colaboradores devem ser avisados em relação às regras e padrões da companhia e as suas consequências, caso haja violação. Cada pessoa e cada supervisor devem entender perfeitamente as políticas e os procedimentos de disciplina. • Documentação dos fatos – o supervisor deve registrar as evidências que justifiquem a ação disciplinar. Essas evidências devem ser cuidadosamente documentadas para evitar qualquer dúvida, subjetividade ou arbitrariedade. Pode-se usar o cartão ponto ou de presença se o fato for atraso. Uma filmadora pode arquivar um roubo. Toda pessoa tem a oportunidade de contestar e apresentar documentos em sua autodefesa. • Resposta consistente à violação das regras – o empregado deve sentir que a aplicação da disciplina é previsível, consistente e sem nenhuma forma de favoritismo ou discriminação. Isto não significa que todo funcionário terá que ser tratado igual. Um colaborador com vários anos de empresa, uma ótima folha de serviço, viola uma regra, pode ser punido mais suavemente do que um novo funcionário que viola a mesma regra. Mas se dois recém-contratados violarem a mesma regra, a punição deve ser a mesma para ambos. A ação de disciplina deve seguir três linhas fundamentais: • A ação corretiva deve ser preferida ao invés da ação punitiva – o objetivo da ação disciplinar não é simplesmente punir, mas, sim, corrigir o comportamento indesejado do funcionário. A punição deve ser a ação final e última de qualquer ação disciplinar. A ação corretiva é relacionada ao futuro desempenho, enquanto a punitiva é relacionada com o passado que já foi. TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 97 • A ação disciplinar deve ser progressiva – embora toda ação disciplinar deva ser variável de acordo com a situação, ela deve ser progressiva, ou seja, a punição deve começar mais leve e, se necessário, aumentar até que, se necessário, haja a demissão. • A ação disciplinar deve ser imediata, consistente, impessoal e afirmativa – a ação corretiva deve ser também preventiva.Sua resposta deve ser rápida, considerável com a infração cometida, em termos impessoais e de impacto direto. A disciplina progressiva é a forma mais utilizada de procedimento disciplinar. Composta de uma série de intervenções progressivas e lentas, dão ao funcionário o direito de corrigir seu comportamento antes de ser desligado da empresa. A conduta de disciplina progressiva tem vários passos de advertência, cada qual envolve uma punição, que aumenta conforme o problema persista. Caso o funcionário não responda adequadamente a essas advertências, a penalidade será demiti-lo por justa causa. O procedimento de disciplina progressiva mais comum é o de quatro etapas e inclui: advertência verbal, advertência escrita, suspensão e demissão, como vemos na figura a seguir: FIGURA 26 – QUATRO ETAPAS PARA DISCIPLINA PROGRESSIVA FONTE: Chiavenato (2004, p. 411) UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 98 4 ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS Coordenar diversos sistemas e subsistemas, guiados por diretrizes que nos levem a objetivos estratégicos predeterminados, é uma tarefa complexa. São centenas de interações interpessoais por minuto, dezenas intergrupais e muitas interorganizacionais. Mesmo com objetivos estratégicos claros (missão, visão e valores) é quase impossível evitar o choque entre interesses. 4.1 CARACTERIZANDO O CONFLITO Considerado como um momento quase sempre improdutivo, o conflito é caracterizado como discórdia, desacordo, divergência, controvérsia. Se analisado de forma geral ou sistêmica, pode trazer crescimento para a estrutura de processos. Entretanto, estudaremos formas de dirimir as consequências negativas dessas desavenças. Os conflitos podem ser caracterizados como: conflito interno (intrapessoal), que envolve dilemas de ordem pessoal, e o conflito externo, envolvendo vários níveis como interpessoal, intergrupal, intraorganizacional e interorganizacional, podendo ocorrer em três níveis de gravidade: NOTA • Intergrupal: envolve a relação de um mesmo grupo de pessoas relacionando- se entre si. • Intraorganizacional: relações entre grupos e unidades de uma organização. • Interorganizacional: relações entre organizações. • Conflito percebido: quando as pessoas envolvidas percebem que possuem objetivos diferentes e que existe a oportunidade de intervenção dos mesmos. É o chamado conflito latente porque ambas as partes percebem que ele existe potencialmente. • Conflito dissimulado: quando desperta sentimentos como hostilidade, raiva, medo, descrédito, inveja entre as partes. É chamado de conflito velado, quando fica encoberto e não manifestado externamente com clareza. • Conflito manifestado: quando é expresso por meio de comportamentos de interferência consciente ou inconsciente por pelo menos uma das partes. É chamado de conflito aberto quando manifestado sem acobertamento. TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 99 Como os conflitos são inevitáveis, cabe ao administrador procurar formas de solucioná-los. Quase sempre a solução de um conflito examina os motivos que o provocaram. Assim, vejamos algumas circunstâncias que tendem a gerar conflitos: • ambiguidade de papel – quando as pessoas sentem que estão trabalhando para alcançar objetivos incompatíveis, isto é, os colaboradores não possuem clareza quanto aos objetivos de suas tarefas; • objetivos concorrentes – geralmente resultado das constantes especializações individuais e grupais, os colaboradores com profunda compreensão dos processos que executam começam a trabalhar para atender seus próprios objetivos que, por sua vez, começam a se distanciar dos interesses do grande grupo (organização); • recursos compartilhados – os recursos de capital são limitados e devem ser distribuídos eficientemente. O desequilíbrio dessa distribuição pode revelar discrepâncias entre interesses e objetivos; • interdependência de atividades – na organização as pessoas e grupos dependem uns dos outros para desenvolver suas atividades e chegar aos seus objetivos; é a partir daí que acontece a interdependência. Um alto grau de interdependência pode permitir que um grupo ajude ou prejudique os demais. O conflito se desenrola em um processo dinâmico que gera resultados comportamentais diferenciados. Os resultados devem ser analisados em uma espécie de processo que amadurece a cada discussão sobre as causas. FIGURA 27 – AS CONDIÇÕES ANTECEDENTES DO CONFLITO E AS PERCEPÇÕES RESULTANTES Ambiguidade de papel Objetivos concorrentes Recursos compartilhados Interdependência das atividades Percepção da incompatibilidade de objetivos Percepção da oportunidade de interferência Conflito Resultado Condições antecedentes Processo de conflito Resultado FONTE: Chiavenato (2005, p. 417) UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 100 FIGURA 28 – O PROCESSO DE CONFLITO Condições antecedentes Percepção do conflito Comportamento de conflito de uma das partes Resolução Resultado Comportamento da outra parte Episódio de conflito FONTE: Chiavenato (2005, p. 418) 4.2 GESTÃO DE CONFLITOS Com um funcionamento semelhante ao de um ser vivo, os processos estão cheios de interações sujeitas a conflitos. O administrador deve ser capaz de identificá-los antes que ofereçam risco à saúde dos fluxos que compõem cada processo. Vejamos o que diz Chiavenato (adaptado, 2005): a) Abordagem estrutural: conflito gerado pelas condições de diferenciação, de recursos limitados e escassos e, ainda, de interdependência. Sendo modificados estes elementos, os conflitos podem ser controlados. Então bastaria trabalhar sobre as condições geradoras de tais distorções: ● Reduzir a diferenciação dos grupos – identificar objetivos que possam ser compartilhados entre os grupos minimiza as diferenças existentes, mostrar que a ameaça externa e o inimigo comum podem ser utilizados para focalizar um objetivo comum. Fazer um reagrupamento de indivíduos também ajuda a reduzir a diferenciação. O pessoal de produção e de vendas (que quase sempre vive em disputa nas organizações) pode ser colocado junto em uma equipe de produto, com a responsabilidade de produzir e vender determinado produto e ser recompensado na base do desempenho individual. Além disso, TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 101 rodando entre si, os indivíduos adquirem uma melhor compreensão de outras perspectivas, visualizando objetivos comuns existentes entre as partes. ● Interferir nos recursos compartilhados – o sistema de recompensas formais e de incentivos para recompensar o desempenho conjunto e combinado de dois ou mais grupos e criar um objetivo comum é outro mecanismo estrutural. Se os recursos distribuídos não são fixos, cada grupo pode ganhar recursos sem prejudicar o outro, tornando este processo vantajoso, pois assim todos os grupos teriam bom desempenho e cooperariam entre si. ● Reduzir a interdependência – os grupos devem ser separados física e estruturalmente. Percebendo a incompatibilidade de seus objetivos, o baixo nível de interdependência das atividades torna a interferência distante, reduzindo assim a possibilidade de conflito. b) Abordagem de processo: procura reduzir os conflitos modificando o processo no episódio do conflito. Pode ser utilizada por uma das partes em conflito, por pessoas de fora ou por uma terceira parte (consultor, administrador neutro ou um diretor da organização). Pode ser realizada de três maneiras diferentes: ● Desativação de conflito – quando uma parte reage cooperativamente e não agressivamente ao comportamento de conflito da outra, desarmando o conflito. Enquanto a reação conflitante de uma parte provoca idêntico comportamento da outra, a reação cooperativa tende a provocar idêntica reação cooperativa da outra. ● Reunião de confrontação entre as partes – serve para reunir frente a frente as partes conflitantes, exteriorizar suas emoções, identificar as áreas de conflitos e localizar soluções do tipo ganhar/ganhar antes de qualquer solução beligerante. ● Colaboração – é utilizada depoisde ultrapassada a oportunidade de desativação e de reunião de confrontação. Na colaboração, as partes trabalham juntas para solucionar problemas, identificar soluções integrativas capazes de conjugar os objetivos de ambas as partes. c) Abordagem mista: significa administrar o conflito em aspectos estruturais e incluir intervenções sobre a situação estrutural e sobre o episódio conflitante. Existem duas maneiras de fazer isso acontecer: ● Adição de regras para resolução de conflitos – utiliza meios estruturais para influenciar o processo de conflito, determinando previamente os procedimentos e os limites para trabalhar o conflito para que seja contido e controlado, conduzindo as partes para a solução do problema. ● Criação de papéis integradores – consiste em criar equipes de papéis integradores dentro da organização de modo que os mesmos sempre estejam disponíveis para ajudar a solucionar no tipo ganhar/ganhar dois conflitos que UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 102 surgem. Uma parte em conflito pode se comunicar com a outra através dessas equipes responsáveis pela tarefa de comunicação entre as partes conflitantes. São os chamados “papéis de ligação” realizada através de pessoal de ligação ou equipe de trabalho intergrupal, cuja tarefa é coordenar o esforço dos grupos potencialmente conflitantes em direção aos objetivos globais da organização. NOTA Beligerante: que ou quem está em guerra. FIGURA 29 – AS TRÊS ABORDAGENS DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS Abordagens estruturais Abordagens mistas Abordagens de processo • Objetivos comuns • Sistemas de recompensas grupais • Reagrupamento • Separação • Rotação • Regras e regulamentos • Grupos e equipes de trabalho • Papéis de ligação • Papéis integradores • Desativação • Confrontação direta • Colaboração FONTE: Chiavenato (2005, p. 420) 4.3 ESTILOS DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS Existem vários estilos de administração de conflitos: alguns dão ênfase ao desejo de satisfazer os próprios interesses (assertividade) e outros levam em conta os interesses da outra parte (cooperação). Sob essas duas dimensões, a assertiva e a cooperativa, vejamos cinco estilos de administração de conflitos: Estilo de abstenção: atitude de fuga por parte do administrador que procura evitar o conflito, buscando outra saída ou dando tempo ao tempo para que o conflito se torne menos intenso, refletindo uma postura nem assertiva nem cooperativa. É utilizado quando o conflito é de conhecimento de todos e não se consegue ganhar tempo para obter informações, pois um desacordo pode ser perigoso, a melhor solução é se fechar em copas. TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 103 Estilo de acomodação: ocorre quando as pessoas têm conhecimento do que é errado, mas preferem ir “levando com a barriga”. Este estilo pode revelar um alto grau de cooperação, entretanto consiste em resolver os pontos menores de discordância deixando os problemas maiores para frente. Estilo competitivo: é um estilo que implementa uma forma coercitiva de comando sobre as pessoas. Ele é utilizado quando a ação deve ser rapidamente implementada. Esse estilo se encaixa em uma relação ganha/perde, forçando o uso da autoridade. Estilo de compromisso: reflete uma combinação de ambas as características de assertividade e de cooperação. É utilizado quando uma parte aceita ganhos e perdas na solução. Ocorre quando os componentes têm igual poder e ambos os lados querem reduzir as diferenças ou quando as pessoas precisam chegar a uma solução temporária sem pressão de tempo. O negócio é ter jogo de cintura. Estilo de colaboração ou de solução de problemas: reflete elevado grau de assertividade e de cooperação. O estilo colaborativo habilita ambas as partes a ganhar, enquanto utiliza a negociação e o intercâmbio para reduzir diferenças. É utilizado quando os interesses de ambos os lados são importantes, quando os pontos de vista das partes podem ser combinados para uma solução mais ampla e quando o compromisso requer consenso. O negócio é que ambas as partes ganhem e se comprometam com a solução encontrada. NOTA Assertividade: habilidade social de fazer afirmação dos próprios direitos e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, clara, honesta e apropriada ao contexto, de modo a não violar o direito das outras pessoas. Os estilos de administração dos conflitos podem criar diferentes resultados: • Abstenção ou acomodação - pode criar um conflito do tipo perder/perder, no qual nenhuma parte alcança aquilo que pretende e as razões do conflito permanecem intactas. Embora o conflito pareça desaparecer, na realidade ele voltará no futuro; a abstenção é uma forma extrema de não atenção. • Acomodação ou suavização - destaca as diferenças, similaridades e as áreas de possível acordo. A coexistência pacífica e o reconhecimento de interesses comuns é o seu objetivo. Na prática, a suavização pode ignorar a essência real do conflito. UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 104 • Competição ou comando autoritário - tende a criar um conflito do tipo ganhar/ perder. Uma das partes ganha à custa da outra. Em casos extremos, uma parte alcança o que deseja com a completa exclusão da outra. Os métodos de ganhar/perder podem não atingir as causas profundas do conflito e possíveis conflitos futuros podem vir a ocorrer. Uma parte domina a outra, como o gerente que dá ordens aos subordinados. • Compromisso - tende a criar um conflito do tipo ganhar/perder. Ocorre quando cada parte dá algo e ganha algo de valor. Nenhuma parte fica totalmente satisfeita, criando, assim, antecedentes para futuros conflitos. • Colaboração ou solução de problemas - tende a reconciliar diferenças entre as partes. É o estilo mais eficaz de administração de conflitos. É uma forma de ganhar/ganhar, onde os assuntos são discutidos e resolvidos para benefício mútuo das partes conflitantes. É alcançada através da confrontação dos assuntos e da vontade dos envolvidos em reconhecer o que está errado e que merece atenção. Os assuntos relevantes são discutidos abertamente. FONTE: Adaptado de: <http://pt.scribd.com/doc/47631837/gestao-de-conflitos>. Acesso em: 24 maio 2012. FIGURA 30 – OS CINCO ESTILOS DE ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS Cooperativo Não cooperativo Acomodação ou suavização Deixando fora o conflito e buscando harmonia entre as partes Colaboração ou solução de problemas Buscando uma solução que satisfaça as necessidades das partes envolvidas Abstenção ou fuga Negando a existência do conflito e ocultando os verdadeiros sentimentos Competição ou comando autoritário Forçando uma solução que imponha a vontade de uma das partes Não assertivo Assertivo Compromisso Negociando para obter ganhos e perdas para cada uma das partes Grau de cooperação Não assertivo FONTE: Chiavenato (2005, p. 422) TÓPICO 2 | RETENDO PESSOAS 105 O conflito pode gerar resultados positivos e negativos. Entre os resultados positivos e construtivos do conflito, estão: • o conflito desperta sentimentos e energia dos membros do grupo que estimulam interesse em descobrir meios eficazes de realizar as tarefas, bem como soluções criativas e inovadoras; • o conflito estimula sentimentos de identidade no grupo, aumentando a coesão intragrupal; • o conflito é um meio de chamar atenção para os problemas existentes e funciona como mecanismo de correção para evitar problemas mais sérios. Entre os resultados negativos e destrutivos do conflito estão: • o conflito apresenta consequências indesejáveis para o bom funcionamento da organização, pois indivíduos e grupos veem seus esforços bloqueados, desenvolvendo sentimentos de frustração, hostilidade e tensão. Isso prejudica tanto o desempenho das tarefas como o bem-estar das pessoas; • grande parte da energia criada pelo conflito é dirigida e gasta nele mesmo, prejudicando a energia que poderia ser utilizada no trabalho produtivo, pois ganhar o conflito passa a ser mais importante do que opróprio trabalho; • a cooperação passa a ser substituída por comportamentos que prejudicam o funcionamento da organização e influenciam a natureza dos relacionamentos existentes entre pessoas e grupos; • o conflito pode trazer resultados construtivos ou negativos para pessoas e grupos e, sobretudo, para a organização como um todo. A questão primordial é como administrar o conflito de forma a aumentar os efeitos construtivos e a minimizar os efeitos destrutivos. Esta tarefa cabe ao gerente. Embora muitas vezes seja um ator envolvido até o pescoço em muitos conflitos, o gerente deve sempre buscar uma solução construtiva. Para tanto deve saber escolher as estratégias de resolução para cada caso. As abordagens estruturais são mais fáceis de utilizar e exigem menos habilidades humanas do que as abordagens de processo. FONTE: Adaptado de: <http://pt.scribd.com/doc/47631837/gestao-de-conflitos>. Acesso em: 24 maio 2012. Então podemos pressupor que a organização encarada como ser vivo pela grande maioria dos estudiosos é definitivamente um sistema aberto que, por isso, possui as mesmas características universais de qualquer sistema: a) entropia porque todo sistema tende à falência e, por causa disso, deve constantemente UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 106 sofrer ajustes para promover o prolongamento de sua existência; b) influencia e é influenciado pelas relações ambientais; c) todo sistema é composto por subsistemas (partes interdependentes que se influenciam), revelando que: mesmo o mais ínfimo problema em qualquer uma das partes do organismo é sentido por todo o sistema que o compõe. NOTA Entropia: medida da desordem de um sistema. DICAS Uma boa dica de leitura sobre gestão de conflitos é o site <http://www.rhportal. com.br/artigos/wmview.php?idc_cad=x3era4lbt>. 107 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você estudou que: • A organização é uma complexa estrutura com função social muito importante – ela traz a solução para diversos problemas sociais à sua volta. Então, é necessário que compreendamos essa estrutura para que todos usufruam ao máximo dessas relações sociais. Em um processo contínuo de mudança, a estrutura organizacional precisa ser constantemente adaptada às alterações ambientais. Perceba que toda organização depende da capacidade de adaptação de seus integrantes (colaboradores). Então, uma estrutura mal-elaborada com processos de trabalho redundantes pode gerar conflitos que comprometam o processo produtivo. Então, todos compreendem que os recursos, em sua maioria escassos, devem ser minuciosamente bem administrados na busca da competitividade sustentável. • A organização, considerada como ser vivo, influencia e é influenciada pelo ambiente que a cerca. Assim, adota estilos de administração que atendam os requisitos ambientais. A centralização e a descentralização que estão intimamente ligadas à distribuição do poder pela estrutura hierárquica da empresa são exemplos dessa adaptação. Além disso, os gestores devem considerar que toda organização é um sistema aberto e, sendo um sistema, também está em constante processo de entropia. Então, para protelar as consequências desse processo, é preciso o monitoramento constante na intenção de dirimir os possíveis conflitos nos diversos níveis da estrutura organizacional. 108 AUTOATIVIDADE Mãos à obra! Vamos trabalhar o conteúdo respondendo às questões a seguir: 1 A gestão de pessoas é muito influenciada pelas pressuposições implícitas ou explícitas em relação à natureza das pessoas. McGregor identificou dois conjuntos de pressuposição. Quais são eles? O que eles envolvem? 2 Assinale V para vantagem ou D para desvantagem em relação à centralização adaptada. ( ) As decisões são tomadas na cúpula que está distanciada dos fatos e das circunstâncias. ( ) As linhas de comunicação da cadeia escalar provocam demoras e maior custo operacional. ( ) Certas funções como compras e tesouraria permitem maior especialização e vantagens com a centralização. ( ) A centralização elimina esforços duplicados de vários tomadores de decisão e reduz custos operacionais. 3 As organizações se dedicam a criar ambientes saudáveis e produtivos com o pretexto de envolver as pessoas em torno de uma “causa”. Quais são as características de um ambiente saudável? 4 Quais fatores importantes da disciplina devem-se levar em conta? 5 Caracterize conflito. 109 TÓPICO 3 AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Talvez você já tenha passado pela função de liderança e percebido que seus pedidos aos liderados nem sempre repercutiam como o desejado. Na maioria desses casos, o problema está no ambiente frequentado por todos. Ambientes saudáveis são “supercondutores” dos bons hábitos e, consequentemente, de ações produtivas. Sob outra perspectiva, também é importante percebermos que apesar de o líder ter uma boa parcela de responsabilidade na composição desse ambiente, sabemos que o clima organizacional é complexo e dele participam inúmeras variáveis que se inter-relacionam de forma complexa. Mesmo assim, podemos todos contribuir para um ambiente saudável no sentido mais profundo do termo. Embora as pessoas não possam fazer as flores crescerem, elas podem criar as condições necessárias para que o crescimento se dê. Assim, seguindo a mesma perspectiva, podemos criar circunstâncias para que as pessoas se desenvolvam de forma saudável. Ou seja, quanto melhor for o ambiente, mais saudáveis serão os colaboradores de uma organização. 2 SAÚDE OCUPACIONAL Um jeito de definir saúde é ausência de doença. No entanto, os riscos de saúde como riscos físicos e biológicos, tóxicos e químicos, bem como condições estressantes de trabalho podem provocar riscos de trabalho. O ambiente de trabalho em si também pode provocar doenças. Uma definição de saúde seria: saúde é um estado físico, mental e social de bem-estar. Isto enfatiza as relações entre corpo, mente e padrões sociais. 110 UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS 2.1 HIGIENE NO TRABALHO Embora composta por uma complexa estrutura, a organização deve fornecer condições ambientais favoráveis à saúde e, consequentemente, ao bom desempenho das atividades de seus colaboradores. Os principais itens de qualquer programa de higiene do trabalho estão relacionados com perspectivas físico-comportamentais: FIGURA 31 – RELAÇÃO ENTRE HIGIENE E SAÚDE OCUPACIONAL FONTE: O autor O ambiente físico de trabalho é geralmente composto por: • iluminação – a iluminação deve atender as necessidades da operação. Existem algumas atividades que requerem iluminação especial; • ventilação – muito relacionada à qualidade do ar respirado pelos trabalhadores. Muitas atividades vão precisar de filtros especiais; • temperatura – equipamentos e máquinas juntas podem influenciar a temperatura ambiente. Em muitos casos é preciso equipamentos especiais para garantir temperatura adequada às pessoas que trabalham ao entorno; • ruídos – ambientes com muitos equipamentos produzem ruídos que podem prejudicar os frequentadores de algum local específico. É importante perceber que a altura do som não é o único fator a ser considerado, mas também o tempo de exposição. • quanto à relação Homem x Máquina – perceba que muitos equipamentos aparentemente bem regulados devem ser reajustados para cada pessoa. Mesmo dentro de atividades mais burocráticas, equipamentos como cadeiras, mesas e computadores podem causar sérios danos físicos. Também aqui deve se considerar o tempo de utilização para os devidos ajustes. TÓPICO 3 | AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL 111 O ambiente psicológico pode ser caracterizado por: • relacionamentos humanos agradáveis – a organização deve zelar por um ambiente que preserve padrões mínimos de comportamento. É claro que esses padrões são na maioria culturais, mas devem ser alimentados constantemente pelas lideranças; • estilo de liderança participativa – o impacto de mudanças ambientais são menosdanosas quando as pessoas participam dos novos modelos que irão ser implementados. Assim é condição sine qua non uma gestão participativa onde todos contribuem para as futuras adaptações estruturais; • eliminação de possíveis fontes de estresse – lideranças atentas aos grupos sociais devem garantir relações saudáveis. Deste modo o tempo de reação das lideranças na eliminação das fontes de insatisfação deve ser imediato. IMPORTANT E Sine qua non é uma expressão que se originou do termo legal em latim que pode ser traduzido como “sem a/o qual não pode deixar de ser”. Refere-se a uma ação cuja condição ou ingrediente é indispensável e essencial. Em tempos recentes passou de um termo meramente usado nos meios legais para uma expressão generalizada usada em várias línguas, incluindo o inglês, alemão, francês, italiano etc. O seu plural é sine quibus non. A saúde dos colaboradores tornou-se uma das principais fontes de preocupação das empresas. Considerada uma das principais fontes de competitividade, altos índices de turnover, licenças médicas e afastamentos prejudicam as organizações que precisam de alta performance. A saúde de um colaborador pode ser afetada por doenças, acidentes ou estresse. Os gerentes devem assumir a responsabilidade de cuidar da saúde e bem-estar geral. Um funcionário competente, mas com baixa autoestima, pode ser tão improdutivo quanto um funcionário doente e hospitalizado. A saúde ocupacional está relacionada com a assistência médica preventiva. A Lei nº 24/94 estabeleceu o Programa do Controle Médico de Saúde Ocupacional, que exige o exame médico pré-admissional, o exame médico periódico, o de retorno ao trabalho (no caso de afastamento superior a 30 dias), o de mudança efetiva de função, antes da transferência e o exame médico demissional, nos 15 dias que antecedem o desligamento definitivo do funcionário. 112 UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS O programa de medicina ocupacional envolve os exames médicos exigidos legalmente, além de realizar programas de proteção da saúde dos funcionários, palestras de medicina preventiva, elaboração do mapa de riscos ambientais, relatório anual e arquivos de exames médicos com avaliação clínica e exames complementares, visando à qualidade de vida dos funcionários e maior produtividade da organização. Entre os principais problemas de saúde nas organizações estão: alcoolismo e dependência química de fumo, drogas, medicamentos; aids: é a síndrome de deficiência imunológica adquirida que ataca o sistema que protege o organismo de doenças; estresse no trabalho; exposição a produtos químicos perigosos, como ácidos, asbestos; exposição a condições ambientais frias, quentes, contaminadas, secas, úmidas, barulhentas, pouco iluminadas; hábitos alimentares inadequados: obesidade ou perda de peso; vida sedentária, sem contatos sociais e sem exercícios físicos; automedicação sem cuidados médicos adequados. FONTE: Adaptado de: <http://www.cursosnocd.com.br/recursos-humanos/saude-ocupacional. htm>. Acesso em: 24 maio 2012. NOTA Asbestos: substância mineral filamentosa e incombustível, flexível, da natureza do amianto. Os programas de saúde começaram a atrair a atenção muito recentemente. As consequências de programas inadequados são perfeitamente notáveis: aumento de pagamentos por indenizações, aumento dos afastamentos por doença, aumento dos custos de seguros, aumento do absenteísmo e rotatividade do pessoal, baixa produtividade e baixa qualidade, além de pressões sindicais. 2.2 ESTRESSE NO TRABALHO É preciso reconhecer que trabalhar com outras pessoas exige preparação para lidar com situações estressantes, conflitos de ideias ou opiniões e mesmo pressões. Soma-se a isso a necessidade de ter equilíbrio emocional para agir bem, contornar situações conflituosas e até mesmo tirar proveito e aprendizado delas. A tensão constante pode levar o colaborador a um diagnóstico de “estresse”. Mas o que é estresse? É um conjunto de reações físicas, químicas e TÓPICO 3 | AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL 113 mentais de uma pessoa decorrente de estímulos ou estressores que existem no ambiente. Alguns exemplos desses estressores são: o autoritarismo do chefe, a desconfiança, a pressão das exigências e cobranças, a monotonia de certas tarefas, o baixo astral dos colegas, a falta de perspectiva de progresso profissional e a insatisfação pessoal. Assim, o estresse é a soma das perturbações orgânicas e psíquicas provocadas por diversos agentes agressores, como: traumas, emoções fortes, fadiga, exposição a situações conflitivas e problemáticas etc. Existem duas fontes principais de estresse no trabalho: ambiental e pessoal. Primeiro, uma variedade de fatores externos e ambientais pode conduzir ao estresse no trabalho. Pesquisas revelam que o ruído ambiental, decorrente de máquinas funcionando, pessoas conversando e telefones tocando, contribui para o estresse em quase 50% das atividades de trabalho. Por outro lado é importante lembrar que cada pessoa reage de maneira diferente na mesma situação aos fatores ambientais que levam ao estresse. O estresse no trabalho provoca sérias consequências para o empregado e para a organização. As consequências humanas do estresse incluem depressão, angústia, ansiedade e várias consequências físicas como distúrbios cardiovasculares e gástricos, dores de cabeça, nervosismo e acidentes. Por outro lado, o estresse também afeta negativamente a organização, ao interferir na quantidade e qualidade do trabalho, no aumento do absenteísmo e da rotatividade. É importante que você saiba que um nível modesto de estresse conduz à maior criatividade quando uma situação competitiva conduz a novas ideias e soluções. Como regra geral, a maioria dos empregados não se preocupa com uma pequena pressão, desde que ela possa mostrar resultados positivos. FIGURA 32 – COMO REDUZIR O ESTRESSE NO TRABALHO COMO REDUZIR O ESTRESSE • Relações cooperativas, recompensadoras e agradáveis com os colegas e líderes. • Não tentar obter mais do que cada um pode fazer. • Compreender os problemas do chefe e ajudá-lo a compreender os seus. • Negociar com o gerente metas realísticas para o seu trabalho. Esteja preparado para propor metas, apesar daquelas que lhe foram impostas. • Estude o futuro e aprenda como se defrontar com eventos possíveis. • Encontre tempo para desligar-se das preocupações e relaxar. • Ande pelo escritório para manter sua mente tranquila e aberta. • Verifique os ruídos em seu trabalho e busque meios para reduzi-los. • Saia do escritório algumas vezes para mudar de cena e esfriar a cuca. • Limite interrupções: programe períodos de isolamento e outros de reuniões. • Não fique muito tempo lidando com problemas desagradáveis. • Liste os problemas prioritários e as providências sobre cada um para que não fiquem rondando a sua memória. FONTE: Chiavenato (2004, p. 435) 114 UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS Outro conselho dos especialistas é que o ambiente de trabalho requer pessoas que confiem umas nas outras. A união e a confiança contribuem para aumentar o comprometimento com resultados. Por mais curioso que possa parecer, as pessoas não nascem sabendo conviver com as outras pessoas. É preciso aprender a conviver nesse ambiente, entendendo que ele não é a extensão da sua casa. É outro espaço social que tem regras, direitos, obrigações e responsabilidades compartilhadas. Além disso, a organização, os gerentes de linha e os especialistas de RH podem ajudar na identificação e redução do estresse no trabalho. Para o gerente de linha inclui monitorar cada subordinado para identificar sintomas de estresse e informar os “remédios” organizacionais possíveis, como transferências de cargo ou aconselhamento. Os especialistas de RH podem fazer pesquisas de atitudes para identificar fontes organizacionais de estresse, para assegurar uma adequação entre pessoa e cargo, bem como propor um planejamento de carreiras em termos de atitude. 3 SEGURANÇADO TRABALHO O sentimento de segurança auxilia na permanência e motivação dos colaboradores. Afinal de contas quem quer trabalhar em um ambiente perigoso? As principais áreas de atividade envolvidas na segurança do trabalho são: prevenção de acidentes, prevenção de incêndios e prevenção de roubos. A segurança no trabalho está relacionada com a prevenção de acidentes e com a administração de riscos ocupacionais. Sua finalidade é prevenir, antecipar-se para minimizar os riscos de acidentes. 3.1 PREVENÇÃO DE ACIDENTES Acidente é um fato não premeditado do qual resulta um dano considerável. O acidente pode ser considerado como um fato súbito, inesperado, imprevisto (embora algumas vezes previsível) e não premeditado ou desejado e ainda sendo causador de dano considerável, embora não se especifique se trata de dano econômico (prejuízo material) ou de dano físico às pessoas (dor, sofrimento, invalidez ou morte). Os acidentes de trabalho, segundo Chiavenato (2005), são classificados em: TÓPICO 3 | AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL 115 1. acidente sem afastamento - ocorre quando o acidentado continua trabalhando sem nenhuma sequela ou prejuízo considerável, deve ser investigado e anotado em relatório além de exposto nas estatísticas mensais; 2. acidente com afastamento - acidente que afasta o trabalhador das atividades da empresa, podendo ser classificado em três tipos: a) incapacidade temporária: provoca a perda temporária de capacidade para o trabalho e as sequelas se prolongam por um período menor que um ano. No retorno ao trabalho, o empregado assume sua função sem qualquer redução da sua capacidade de trabalho; b) incapacidade parcial permanente: provoca a redução parcial e permanentemente para o trabalho e as sequelas se prolongam por período maior que um ano. É geralmente motivada por: ● perda de qualquer membro ou parte do mesmo; ● redução da função de qualquer membro ou parte do mesmo; ● perda da visão ou redução funcional de um olho; ● perda da audição ou redução funcional de um ouvido; ● quaisquer outras lesões orgânicas, perturbações funcionais ou psíquicas que resultem, na opinião do médico, em redução de três quartos da capacidade de trabalho. c) incapacidade permanente total - provoca a perda total, em caráter permanente da capacidade de trabalho. É geralmente motivada por: ● perda da visão de ambos os olhos; ● perda da visão de um olho com redução em mais da metade da visão do outro; ● perda anatômica ou impotência funcional de mais de um membro de suas partes essenciais (mão ou pé); ● perda da visão de um olho, simultânea à perda anatômica ou impotência funcional de uma das mãos ou de um pé; ● perda da audição de ambos os ouvidos ou ainda redução em mais da metade de sua função; ● quaisquer outras lesões orgânicas, perturbações funcionais ou psíquicas permanentes que ocasionem, sob opinião médica, a perda de três quartos ou mais da capacidade para o trabalho. 3. morte - o acidente provoca a morte do empregado. 116 UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS FIGURA 33 – OS ACIDENTES NO TRABALHO E SUA CLASSIFICAÇÃO Acidente no trabalho Acidente sem afastamento do trabalho O acidente não deve ser registrado Acidente com afastamento do trabalho Incapacidade temporária Incapacidade parcial permanente Incapacidade total permanente MORTE O acidente deve ser registrado FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2005, p. 439) Em 1947 a VI Conferência Internacional de Estatística do trabalho estabeleceu dois coeficientes para medir, controlar e avaliar os acidentes no trabalho, o coeficiente de frequência e o coeficiente de gravidade. Os dois coeficientes são utilizados em todos os países, permitindo comparações internacionais: a) Coeficiente de frequência (CF): significa o número de acidentes com afastamento ocorrido em cada milhão de homens/horas trabalhadas durante o período de tempo considerado. Período, que pode ser mensal ou anual, é um índice que relaciona o número de acidentes com cada um milhão de homens/ horas trabalhadas a fim de proporcionar comparações estatísticas com todos os tipos e tamanhos de organizações. O cálculo do CF é baseado nas seguintes informações: número médio de empregados de todas as áreas e níveis; homens/ horas trabalhadas – é a multiplicação do número médio de empregados pelo total de horas de trabalho do período considerado. São as horas em que os empregados estão sujeitos a acidentes no trabalho. No número de horas/ homens trabalhadas devem ser incluídas as horas extras e excluídas as horas remuneradas não trabalhadas, tais como as decorrentes de faltas abonadas, licenças, férias, enfermidades e descanso remunerado. Em geral, 8 horas é o número de horas de um dia de trabalho. A fórmula do CF é a seguinte: TÓPICO 3 | AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL 117 CF = Número de acidentes com afastamento X 1.000.000 Números de homens/horas trabalhadas FIGURA 34 – CÁLCULO DO COEFICIENTE DE FREQUÊNCIA FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2005, p. 440) b) Coeficiente de gravidade (CG): é o número de dias perdidos e computados em cada milhão de homens/horas trabalhadas, durante o período de tempo considerado. Esse período também pode ser mensal ou anual. É um índice que relaciona o tempo de afastamento em cada um milhão de homens/horas trabalhadas, a fim de permitir comparações com outros tipos e tamanhos de organizações. O cálculo do CG se baseia nas seguintes informações: ● Número de dias perdidos por afastamentos: é o total de dias nos quais os acidentados ficam incapacitados para o trabalho em consequência de acidentes com incapacidade temporária. Os dias perdidos são dias contados a partir do dia imediatamente seguinte ao do acidente até o dia da alta médica inclusive. Na contagem dos dias perdidos incluem-se os domingos, feriados e quaisquer dias em que não haja trabalho na organização. ● Dias perdidos transportados: é o total dos dias perdidos por afastamentos durante o mês anterior ou meses anteriores, quando o CG abrange o período anual. ● Dias computados e debitados: é o total dos dias computados por redução da capacidade ou morte dos acidentados. Há uma tabela convencional e de uso universal que transforma a morte ou incapacidade permanente, total ou parcial em dias de trabalhos perdidos. A fórmula do CG é a seguinte: CG = Número de dias perdidos + número de dias computados X 1.000.000 Números de homens/horas trabalhadas FIGURA 35 – CÁLCULO DO COEFICIENTE DE GRAVIDADE FONTE: Adaptado de: Chiavenato (2005, p. 440) 3.2 CAUSAS DOS ACIDENTES NO TRABALHO Em todo acidente no trabalho estão presentes os seguintes elementos: 118 UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS • Agente: é definido como o objeto ou substância (a máquina, o local, os equipamentos que poderiam ser adequadamente protegidos ou ainda diretamente relacionados com a lesão, como a prensa, a mesa, o martelo, a banheira etc.). • A parte do agente: é a parte do agente que está diretamente associada ou relacionada com a lesão, como o volante, o pé da mesa, o cabo do martelo, o piso da banheira etc. • A condição insegura: é a condição física ou mecânica existente no local, na máquina, no equipamento ou na instalação (que poderia ter sido protegida ou corrigida), e que leva à ocorrência do acidente como o piso escorregadio, oleoso, molhado, com saliência ou buraco, máquina desprovida de proteção ou com polias ou partes móveis desprotegidas, instalação elétrica com fios descascados, motores sem fio terra, iluminação deficiente ou inadequada. • O tipo de acidente: é a forma ou o modo de contato entre o agente do acidente e o acidentado ou, ainda, o resultado desse contato como as batidas, tombos, escorregões, choques etc. • O ato inseguro: é violação de procedimento aceito como seguro, ou seja, deixar de usar equipamento de proteção individual, distrair-se ou conversar durante o serviço, fumar em área proibida, lubrificar ou limpar máquina ligada ou em movimento. • O fator pessoalde insegurança: é qualquer característica, deficiência ou alteração mental psíquica ou física acidental ou permanente, que permite o ato inseguro. São problemas como visão defeituosa, audição deficiente, fadiga ou intoxicação, descuido, desatenção, problemas particulares, desconhecimento das normas e regras de segurança. Existem duas causas básicas de acidentes no local de trabalho: as condições inseguras e os atos inseguros: vejamos as características de cada um deles em uma adaptação de Chiavenato (2005): a) condições inseguras: constituem as principais causas dos acidentes no trabalho. Incluem-se fatores como: • equipamento sem proteção ou defeituoso; • procedimentos arriscados em máquinas ou equipamentos; • armazenamento inseguro, congestionado ou sobrecarregado; • iluminação deficiente ou imprópria; • ventilação imprópria, mudança (renovação) insuficiente de ar ou fonte de ar impuro; • temperatura elevada ou baixa no local de trabalho; • condições físicas ou mecânicas inseguras que constituem zonas de perigo. TÓPICO 3 | AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL 119 b) atos inseguros: eliminar apenas as condições inseguras é insuficiente, pois as pessoas também causam acidentes. Os atos inseguros dos funcionários são: • carregar materiais pesados de maneira inadequada; • trabalhar em velocidades inseguras, muito rápidas ou lentas; • utilizar esquemas de segurança que não funcionam; • usar equipamento inseguro ou usá-lo inadequadamente; • não usar procedimentos seguros; • assumir posições inseguras; • subir escadas ou degraus depressa; • distrair, negligenciar, brincar, arriscar, correr, pular, saltar, abusar etc. NOTA Negligenciar: descuidar, descurar, desleixar. 3.3 COMO PREVENIR ACIDENTES Todo programa de prevenção de acidentes focaliza duas atividades básicas: eliminar as condições inseguras e reduzir os atos inseguros. 1. Eliminação das condições inseguras: é o papel dos funcionários da primeira linha de defesa. Engenheiros de segurança desenham cargos para remover ou reduzir os riscos físicos dos ocupantes. Os supervisores e gerentes da linha assumem importante papel na redução das condições inseguras. • Mapeamento de áreas de risco: trata-se de uma avaliação constante e permanente das condições ambientais que podem provocar acidentes dentro da empresa. Deve haver um mutirão de esforços dos gerentes, funcionários e especialistas de RH, no sentido de mapear e localizar as possíveis áreas de perigo potencial, sugestões e ações no sentido de neutralizar ou minimizar tais condições. • Análise profunda dos acidentes: todo relatório de acidente, com e sem afastamento do trabalho, deve ser submetido a uma profunda análise para descobrir possíveis causas, como condições ou atos inseguros. A partir daí, deve-se fazer a indicação de providências no sentido de eliminar essas causas para prevenir novos e futuros acidentes. • Apoio irrestrito da alta administração: todo programa bem-sucedido de prevenção de acidentes repousa no compromisso da alta direção. Esse 120 UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS compromisso é importante para ressaltar a importância que a alta direção coloca no programa de profilaxia contra acidentes na empresa. 2. Redução dos atos inseguros: os acidentes são similares a outros tipos de desempenho pobre. Estudos psicológicos sugerem que se devem selecionar as pessoas que apresentam tendências para acidentar-se em cargos específicos. • Processos de seleção de pessoal: as técnicas de seleção procuram identificar certos traços humanos (como habilidade visual ou coordenação motora) relacionados com acidentes em certos cargos. Pesquisas sugerem testes sobre traços relacionados com acidentes, como: • Estabilidade emocional e testes de personalidade. • Medidas de coordenação muscular. • Testes de habilidade visual. • Testes de maturidade emocional, desempenho seguro e cuidadoso. • Susceptibilidade à exposição a produtos tóxicos. É evidente a relação entre a predisposição a acidentes e a competência do trabalhador. A seleção de pessoas baseada em testes de não predisposição a acidentes permite que os gerentes possam reduzir acidentes e melhorar a qualidade dos colaboradores ao mesmo tempo. • Comunicação interna: a propaganda e cartazes sobre segurança no trabalho podem ajudar a reduzir atos inseguros. É importante que você perceba que os cartazes não substituem os programas de segurança, mas podem ser combinados com eles e com outras técnicas, como o treinamento, para reduzir condições e atos inseguros. • Treinamento: o treinamento de segurança reduz acidentes, principalmente quando envolve novos empregados, no sentido de instruí-los em práticas e procedimentos para evitar potenciais riscos e trabalhar desenvolvendo suas predisposições em relação à segurança no trabalho. • Reforço positivo: os programas de segurança baseados no esforço positivo podem melhorar a segurança no trabalho. Objetivos de redução de acidentes devem ser formulados em conjunto com os funcionários e com ampla divulgação e comunicação dos resultados. Muitas empresas adotam o lema zero de acidentes e passam a adotar cartazes com o número de dias sem acidentes. Com ações efetivamente coordenadas os componentes da organização vão paulatinamente absorvendo a cultura da autopreservação. Não apenas o cuidado consigo, mas também com o grupo. Assim, vejamos algumas ações para promover essa nova cultura: TÓPICO 3 | AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL 121 NOTA Paulatinamente: de maneira lenta, devagar, pouco a pouco, por fases ou etapas. Educação. Criar uma consciência de segurança através da participação de todos: na sinalização com slogans em locais de passagem; artigos sobre segurança na correspondência; na comunicação de dias sem acidentes. Treinamento em habilidades. Incorporar as medidas de prevenção em processos de aprendizagem. Líderes e liderados devem ser treinados. Todos os membros da organização devem ser multiplicadores do processo. Engenharia. Prevenir acidentes através do desenho de equipamentos ou de tarefas, incluindo a prevenção contra fatores que promovam fadiga, sono ou monotonia. Mapeamento de riscos. Localização de áreas de riscos, inspeções periódicas, diagnósticos frequentes e atenção da alta administração são imprescindíveis. Proteção. Proporcionar equipamentos com proteção. Isso inclui todos os equipamentos de proteção individual como sapatos ou botas de segurança, luvas, capacetes, óculos, máscaras, aventais, protetores de ouvido etc. Regras de reforço. Os melhores regulamentos e regras são ineficientes na redução de acidentes se não forem continuamente reforçados e aplicados. Enfim, é preciso que você reconheça, caro acadêmico, que a segurança no trabalho é tarefa de todos. Assim, não basta a sua conscientização sobre o tema, mas considere que deve ser uma ação coletiva onde cada colaborador percebe que a segurança de todos depende do seu estado de vigília. Isto é, cada um cuidando de si e dos seus colegas de trabalho. 4 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) As origens dos estudos sobre qualidade de vida no trabalho voltam-se para o aumento da produtividade. Werther e Davis sempre reforçaram a ideia de que os estudos sobre a qualidade de vida do trabalhador deveriam atender as necessidades da organização. Por outro lado, Rodrigues (1994) compreende a qualidade de vida no trabalho como um modelo de gestão que satisfaz o indivíduo e a organização. Assim, ela assimila duas posições antagônicas: por um lado os empregados reivindicam o bem-estar e satisfação no trabalho, por outro, o interesse da organização quanto aos seus efeitos potencializadores sobre a produtividade e a qualidade do que é produzido. 122 UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS NOTA Antagônicas: opiniões opostas sobre o mesmo assunto, contrárias, em oposição. 4.1 COMPONENTES DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO A QVT tem sido usada como indicador das experiências humanas no local de trabalho e o grau de satisfação docolaborador. Perceba que a produtividade está diretamente ligada ao bem-estar do trabalhador. Para isso é preciso atentar para as seguintes perspectivas sobre a atividade da organização: a) compensação adequada e justa em condições seguras e salutares de trabalho – a organização deve oferecer horários razoáveis de trabalho, preferencialmente por períodos padronizados e condições físicas de trabalho que minimizem potencialmente doenças. Além disso, a atividade deve ter uma relação coerente com o salário recebido, obtendo-se uma compensação justa e uma renda adequada ao convívio social de seus pares funcionais; b) oportunidade imediata para a utilização e desenvolvimento da capacidade humana – ao contrário de promover a dependência e o simples conhecimento de uma parte do todo, deve-se desenvolver a autonomia no trabalho, múltiplas habilidades, informações, tarefas completas e planejamento; c) integração social na organização de trabalho – é preciso desenvolver uma cultura com ausência de preconceito de cor, raça, sexo, religião, nacionalidade, estilo de vida, aparência física, mobilidade ascendente, sensação de comunidade e sinceridade interpessoal; d) o constitucionalismo na organização do trabalho – desenvolver a consciência de que o colaborador é o integrante ativo mais importante da organização e, por isso, deve tomar consciência de alguns aspectos significativos: direito à privacidade, direito de posicionamento, de liberdade de palavra e de tratamento adequado e justo para os assuntos pertinentes ao trabalho; e) o trabalho e o espaço total da vida – refere-se à relação de equilíbrio que deve haver entre o trabalho e os outros níveis da vida do indivíduo, no que diz respeito aos horários e dias de trabalho, exigências da carreira, tempo para lazer e para a família, assim como um desenvolvimento profissional que não produza efeitos negativos na vida pessoal. TÓPICO 3 | AMBIENTE DE TRABALHO SAUDÁVEL 123 Enfim, você já percebeu que o sentimento que permeia as perspectivas da QVT é a de profundo respeito pelas pessoas. Ficou evidente também que há uma estreita relação entre o bem-estar dos colaboradores e a ênfase no cumprimento de metas e/ou resultados. 4.2 MODELOS DE QVT Sem dúvida nenhuma, você já percebeu que promover a qualidade de vida no trabalho é bom para os negócios. Trabalhador comprometido com resultados é aquele que se sente bem executando suas funções. Entretanto, você pode criar mecanismos para se certificar desse nível de qualidade. Vejamos agora mais dois modelos que podem ser usados na elaboração de instrumentos de aferição desse clima organizacional: Para Nadler e Lawler (apud CHIAVENATO, 2004), a QVT está fundamentada em quatro perspectivas: • Participação dos funcionários nas decisões. • Reestruturação do trabalho através do enriquecimento das tarefas e de grupos autônomos de trabalho. • Inovação no sistema de recompensas para influenciar o clima organizacional. • Melhoria no ambiente de trabalho quanto às condições físicas e psicológicas, horário de trabalho etc. Esse modelo deixa de lado a perspectiva do funcionário como simples executor de tarefas e prospecta a perspectiva do colaborador ativamente participativo das funções organizacionais. Corroborando essa perspectiva, podemos complementar com a visão de Chiavenato (2005) que revela a importância do conteúdo do cargo na promoção da qualidade de vida no trabalho: • variedades de habilidades: o cargo deve exigir diversas habilidades e conhecimentos. A proposta é promover a busca constante pelo autodesenvolvimento e, além disso, evitar a monotonia; • identidade da tarefa: descarta o particionamento exagerado da tarefa. O trabalho deve ser realizado do início ao fim, para que não se perca o sentido de realização da construção de algo; • significado da tarefa: o colaborador percebe a importância do que faz. Compreende a sua participação no processo como um todo (visão sistêmica); 124 UNIDADE 2 | RECOMPENSANDO E RETENDO PESSOAS • autonomia: promove a independência na execução de suas funções. Possui certo nível de participação, não apenas na execução, mas também no planejamento de suas tarefas; • feedback: o clima de abertura entre líderes e liderados promove um ambiente sadio de crescimento mútuo. O monitoramento das atividades é baseado em resultados, líderes e liderados trocam percepções sobre as atividades diárias. O bom desempenho no cargo e o clima organizacional sadio são preponderantes na determinação da QVT. Se a qualidade do trabalho for ruim, acarretará a alienação do empregado e o declínio da produtividade. 125 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você estudou que: • Embora composta por uma complexa estrutura, a organização deve fornecer condições ambientais favoráveis à saúde e, consequentemente, ao bom desempenho das atividades de seus colaboradores. Os principais itens de qualquer programa de higiene do trabalho estão relacionados com perspectivas físico-comportamentais. Então é preponderante o investimento em programas que promovam a saúde e higiene no trabalho. Por outro lado, as consequências de programas inadequados são perfeitamente notáveis: aumento de pagamentos por indenizações, aumento dos afastamentos por doença, aumento dos custos de seguros, aumento do absenteísmo e rotatividade do pessoal, baixa produtividade e baixa qualidade, além de pressões sindicais. • Não menos importante é a prevenção de acidentes, que começa com ações relacionadas ao processo de administração de riscos ocupacionais. Sua finalidade é prevenir, antecipar-se para minimizar os riscos. Fique atento(a), acidente é um fato não premeditado do qual resulta um dano considerável. O acidente pode ser considerado como um fato súbito, inesperado, imprevisto (embora algumas vezes previsível). Sendo assim, é preciso que você reconheça que a segurança no trabalho é tarefa de todos. • Mesmo sabendo disso tudo, é preciso reconhecer que trabalhar com outras pessoas exige preparação para lidar com situações estressantes, conflitos de ideias ou opiniões e, até, pressões. Soma-se a isso a necessidade de ter equilíbrio emocional para agir bem, contornar situações conflituosas e até mesmo tirar proveito e aprendizado delas. Esse espírito de zelar por um ambiente saudável corrobora o conceito de qualidade de vida no trabalho, que tem sido usado como indicador das experiências humanas no local de trabalho e o grau de satisfação do colaborador. Com ênfase no cumprimento de metas e/ou resultados, a QVT (Qualidade de Vida no Trabalho) promove o profundo respeito pelas pessoas. O bom desempenho no cargo e o clima organizacional sadio são preponderantes na determinação da QVT. Se a qualidade do trabalho for ruim, acarretará a alienação do empregado, o declínio da produtividade. Assim, ambientes saudáveis são “supercondutores” dos bons hábitos e, consequentemente, de ações produtivas. A saúde é um estado físico, mental e social de bem-estar. Isto enfatiza as relações entre corpo, mente e padrões sociais. 126 1 A organização deve fornecer condições ambientais favoráveis à saúde e, para isso, precisa proporcionar um bom ambiente físico e psicológico aos seus colaboradores. O que compõe cada ambiente? 2 O que é estresse? 3 Quais são as etapas que um programa de segurança no trabalho requer? 4 Cite três maneiras de promover a cultura de autopreservação em uma organização e explique cada um. 5 O que significa “compensação adequada e justa em condições seguras e salutares de trabalho” em relação à QVT? AUTOATIVIDADE 127 UNIDADE 3 DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • reconhecer o processo de treinamento e desenvolvimento de pessoas baseado nas necessidades organizacionais; • reconhecer o processo de mudança como parte do desenvolvimento organizacional (DO); • perceber o processo de aprendizagem como um potencializador do processo deadaptação da estrutura organizacional; • reconhecer nos Sistemas de Informação uma ferramenta de monitoramento da estrutura organizacional. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos abordados. TÓPICO 1 – PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS TÓPICO 2 – PREPARANDO PARA MUDANÇA TÓPICO 3 – MONITORANDO PESSOAS 128 129 TÓPICO 1 PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Embora tenhamos processos de recrutamento e seleção eficientes, é necessário reconhecer que ambientes instáveis e tão competitivos exigem colaboradores com grande capacidade de adaptação. Perceba que a área de treinamento evoluiu para uma perspectiva de médio e longo prazo. Agora o foco não está apenas na capacitação técnica para utilização imediata, mas principalmente para o desenvolvimento de competências mais profundas, que aperfeiçoam a percepção do colaborador sobre a realidade contextual ou trabalham a sua capacidade de absorver o novo, de se adaptar. Sendo assim, nas últimas décadas a área de treinamento torna-se cada vez mais parte integrante da estratégia empresarial. 2 TREINAMENTO Essa nova perspectiva mostra que a organização não dá mais conta de capacitar o colaborador para um futuro muitas vezes imprevisível. Então a postura estratégica de médio a longo prazo é fazer com que o colaborador perceba a necessidade de se autodesenvolver no intuito de aumentar sua capacidade de adaptação às mudanças, consequentemente, sua eficiência no que faz. 2.1 O PROCESSO DE DESENVOLVER PESSOAS Você já percebeu que todos temos a capacidade de aprender? Todos nós nascemos com essa capacidade, faz parte de nossa natureza – é o que nos faz sobreviver às intempéries desde o início dos tempos. Perceba, também, que o processo de aprendizagem está intimamente ligado à educação. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 130 Por sua vez, a educação deve partir das potencialidades, inatas ou não, do indivíduo. É como se antes de dizer qualquer coisa o treinador ou educador (onisciente) estudasse minuciosamente as potencialidades de seu aluno (neófito) antes de conduzir os estudos. Então desenvolver pessoas deixou de ser a simples transmissão da informação para que as pessoas se tornem mais eficientes naquilo que fazem. É preciso desenvolver sua capacidade de compreensão do contexto, na intenção de promover a ação proativa através de novas atitudes, ideias, soluções, conceitos – enriquecendo sua compreensão sobre a personalidade humana e seu papel no contexto social. Os processos de desenvolvimento envolvem vários estratos, que se superpõem: os estratos menores – como o treinamento e o desenvolvimento de pessoal (T&D) – tratam da aprendizagem no nível individual e como as pessoas aprendem a se desenvolver. O desenvolvimento organizacional (DO) é o estrato mais amplo e abrangente e refere-se a como as organizações aprendem e se desenvolvem através da inovação e mudança. Por um lado, os processos de desenvolvimento podem receber uma abordagem tradicional, na medida em que surgem. Observe: a) o modelo casual (treinar apenas quando surge alguma necessidade ou oportunidade); b) um esquema onde as pessoas são escolhidas aleatoriamente, em uma atitude reativa (apenas quando existe um problema ou necessidade); c) em uma visão de curto prazo (visando apenas ao problema imediato); d) baseado na imposição (as pessoas não são consultadas); e) em uma condição de estabilidade, onde nada muda; f) e de conservação, que visa manter o status quo. Mas, por outro lado, os processos de desenvolvimento podem receber uma abordagem moderna, na medida em que seguem: a) um modelo planejado (treinar como parte da cultura); b) em um esquema intencional (treinando todas as pessoas); c) em uma atitude proativa (antecipando-se às necessidades); d) em uma visão de longo prazo (visando ao futuro); e) um modelo baseado no consenso (as pessoas são consultadas e participam); f) em uma condição de mudança e instabilidade (tudo deve mudar para melhor) e de inovação e criatividade (para construir um futuro melhor) e visando ao provisório e mutável. Hoje em dia, percebe-se que há uma forte tendência de as organizações migrarem da abordagem tradicional para a abordagem moderna. Participantes de ambientes tão mutáveis, a compreensão das inúmeras variáveis que compõem os mercados torna-se essencial para o processo de sobrevivência da organização. Na era da informação o conhecimento passa a ser o recurso mais importante. Então o treinamento intimamente ligado à velocidade de adaptação da estrutura organizacional constitui a chave do desenvolvimento. O conhecimento é bom quando é útil, ou seja, o conhecimento somente será produtivo se for aplicado para criar uma diferença sensível: melhorar processos, produzir resultados, adicionar valor e gerar riqueza. Em um mundo informatizado, onde todos têm acesso à informação, sobressaem-se as pessoas capazes de acessá-la, interpretá-la e transformá-la rapidamente, antes dos outros, em um novo produto, aplicação, inovação, serviço ou oportunidade. TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 131 As pessoas constituem o principal patrimônio das organizações. O capital humano da organização (seus funcionários, do mais simples operário ao principal executivo) passou a ser uma questão de suma importância para o sucesso do negócio, o principal diferencial competitivo das organizações. Em um mundo de constantes mudanças, as organizações precisam preparar-se para os desafios da concorrência. Para serem bem-sucedidas, as organizações necessitam de pessoas ágeis, espertas, empreendedoras e dispostas a assumir riscos. São as pessoas que conduzem os negócios, produzem produtos e prestam os serviços de maneira excepcional. Para que isso aconteça, é indispensável o treinamento e o desenvolvimento das pessoas. Treinamento - pode apresentar diferentes significados. No passado era considerado um meio para adequar cada pessoa a seu cargo e desenvolver a força de trabalho da organização a partir dos cargos ocupados. Recentemente, o conceito foi reformulado, considerando-se o treinamento como uma maneira de alavancar o desempenho no cargo. Quase sempre o treinamento tem sido entendido como o processo pelo qual a pessoa é preparada para desempenhar de maneira excelente as tarefas que deve exercer. Modernamente, o treinamento é considerado uma maneira de desenvolver competências nas pessoas para que elas se tornem mais produtivas, criativas e inovadoras, com o intuito de contribuir mais para o bom desempenho da organização e se tornarem cada vez mais valiosas. Assim, o treinamento é uma fonte lucrativa, pois permite que o colaborador contribua para os resultados do negócio. O treinamento, portanto, é uma maneira eficaz de adicionar valor às pessoas, à organização e aos clientes. Ele enriquece o patrimônio humano das organizações. É o responsável pelo capital intelectual das organizações. Há uma diferença entre treinamento e desenvolvimento de pessoas. Embora os seus métodos sejam parecidos para efetuar a aprendizagem, a perspectiva de tempo é diferente: o treinamento é orientado para o presente, busca habilidades e capacidades para o cargo atual. Por outro lado, o desenvolvimento de pessoas focaliza, em geral, cargos a serem ocupados futuramente e novas habilidades que serão requeridas. Mesmo assim, ambos constituem processos de aprendizagem. A maioria dos programas de treinamento está concentrada em transmitir informações ao funcionário sobre a organização, suas políticas e diretrizes, regras e procedimentos, missão e visão organizacional, seus produtos/serviços, seus clientes, seus concorrentes etc. Outros programas de treinamento estão concentrados em desenvolver as habilidades das pessoas, para melhor capacitá- las no seu trabalho. Outros visam ao desenvolvimento de novos hábitos e atitudes para lidar com clientesinternos e externos, com o próprio trabalho e com a organização. Por fim, outros programas estão preocupados em desenvolver conceitos e elevar o nível de concentração das pessoas para que elas possam pensar e agir em termos mais amplos. Uma espécie de treinamento que visa à mudança de comportamento. Boa parte deles procura mudar as atitudes proativas e inovadoras para melhorar seu espírito de equipe e sua criatividade. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 132 Treinamento por competência - além da preocupação com informações, habilidades, atitudes e conceitos, o treinamento está sendo fortemente inclinado a desenvolver algumas competências desejadas pela organização. O treinamento por competência se baseia em uma prévia análise das competências essenciais necessárias ao sucesso organizacional. Essas competências são desdobradas por áreas da organização e em competências individuais. Todas as competências – no nível organizacional, divisional e individual – são definidas de maneira clara e objetiva para serem entendidas por todos os parceiros. A partir disto estabelecem- se os programas de treinamento para todas as pessoas envolvidas. Conforme Chiavenato (2004, adaptado), o processo de treinamento é um movimento cíclico e contínuo composto de quatro etapas: 1 Diagnóstico – é o levantamento das necessidades de treinamento a serem satisfeitas. Essas necessidades podem ser passadas, presentes ou futuras. 2 Desenho – é a elaboração do programa de treinamento. 3 Implementação – é a aplicação e condução do programa de treinamento. 4 Avaliação – é a certificação dos resultados obtidos com o treinamento. FIGURA 36 – AS QUATRO ETAPAS DO PROCESSO DE TREINAMENTO 1 Levantamento de necessidades de treinamento a serem satisfeitas 2 Desenho do programa de treinamento 3 Aplicação do programa de treinamento 4 Avaliação dos resultados do treinamento FONTE: Chiavenato (2004, p. 342) TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 133 As quatro etapas do treinamento envolvem o diagnóstico da situação, a decisão quanto à estratégia para a solução, a implementação da ação e da avaliação e o controle dos resultados das ações de treinamento. O programa de treinamento não é uma corriqueira programação de cursos, muito menos palestras que oferecem apenas informações. Deve, sim, proporcionar o nível de desempenho almejado pela organização, através do desenvolvimento das pessoas que nela trabalham. Para isso, é desejável criar e desenvolver uma cultura interna favorável ao aprendizado e comprometida com as mudanças na organização. No entanto, o processo de treinamento deve ser visualizado com cuidado. Na verdade ele pode ser um ciclo vicioso no sentido de zerar carências e poder voltar ao estágio inicial. Em tempos de mudança e inovação, ele deve ser acrescentado de novas habilidades e competências para garantir a sobrevivência e competitividade da organização para o futuro. Não basta apenas repor tais carências, tem de agregar valor continuamente. FIGURA 37 – O PROCESSO DE TREINAMENTO Necessidade a satisfazer Desenho do treinamento Condução do treinamento Avaliação dos resultados Diagnóstico da situação Decisão quanto à estratégia Implementação ou ação Avaliação e controle • Objetivos da organização • Competências necessárias • Problemas de produção • Problemas de pessoal • Resultados da avaliação do desempenho Programa do treinamento: • Quem treinar • Como treinar • Em que treinar • Onde treinar • Quando treinar Condução e aplicação do Programa de Treinamento através de: - gerente de linha - assessoria de RH - por ambos - por terceiros Monitoração do processo • Avaliação e medição de resultados • Comparação da situação atual com a situação anterior • Análise do custo/ benefício FONTE: Chiavenato (2004, p. 343) 2.2 DIAGNÓSTICO DAS NECESSIDADES DE TREINAMENTO A primeira etapa do treinamento é o levantamento das necessidades de treinamento que a organização apresenta. Nem sempre são evidenciadas facilmente, precisam ser diagnosticadas a partir de determinados levantamentos e pesquisas internas capazes de localizá-las e descobri-las. Necessidades de UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 134 treinamento são as carências de preparo profissional das pessoas, isto é, a diferença entre o que uma pessoa deveria saber e fazer e o que ela realmente sabe e faz. Significa um desacerto entre o que é e o que deveria ser. Uma necessidade de treinamento é uma área de informação ou de habilidade que uma pessoa ou grupo precisa desenvolver para melhorar ou aumentar a sua eficácia, eficiência e produtividade no trabalho. Assim, com o treinamento focado nas necessidades e carências (que serão eliminadas), ele se torna benefício para os funcionários, para a organização e, sobretudo, para o cliente. Caso contrário, mostrará um desperdício ou perda de tempo. O treinamento das pessoas na organização deve ser uma atividade ininterrupta. Mesmo quando as pessoas apresentam excelência no trabalho, é necessário sempre introduzir alguma orientação e melhoria nas habilidades ou incentivo. A principal base para os programas de melhoria contínua é a capacitação constante das pessoas para níveis cada vez mais elevados de desempenho. O treinamento funciona como o principal acelerador dessa mudança. As necessidades de treinamento se referem a carências no desempenho passado e atual para o alcance de novo patamar de desempenho futuro que se pretende atingir. Métodos de levantamento de necessidades de treinamento - existem vários métodos para determinar quais habilidades devem ser priorizadas para estabelecer a estratégia de treinamento. Um dos métodos é avaliar o processo produtivo dentro da organização, localizando fatores como produtos rejeitados, barreiras, pontos fracos relacionados com o desempenho de pessoas, custos laborais altos etc. Outro método para determinar as necessidades de treinamento é a retroação direta daquilo que as pessoas acreditam serem necessidades de treinamento na organização. As pessoas verbalizam objetivamente que tipo de informação, atividade ou habilidade necessitam para executarem melhor as suas atividades. Um terceiro método para determinar as necessidades de treinamento envolve a visão do futuro. A aplicação de novas tecnologias ou equipamentos, novos processos para produzir os produtos ou serviços da organização, novos produtos e serviços, ou desenvolvimento dos atuais produtos e serviços são sinais de que novas habilidades e agilidade deverão ser adquiridas pelas pessoas. O levantamento de necessidades de treinamento pode ser feito em quatro níveis de análise: TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 135 FIGURA 38 – OS PASSOS NO LEVANTAMENTO DE NECESSIDADES DE TREINAMENTO Análise organizacional Diagnóstico organizacional Determinação da missão e visão dos objetivos estratégicos da organização. Análise dos recursos humanos Determinação de quais os comportamentos, atitudes e competências necessários ao alcance dos objetivos organizacionais. Análise dos cargos Exame dos requisitos exigidos pelos cargos, especificações e mudanças nos cargos. Análise do treinamento Objetivos a serem utilizados na avaliação do programa de treinamento. FONTE: Chiavenato (2004, p. 345) QUADRO 4 – INDICADORES DE NECESSIDADES DE TREINAMENTO INDICADORES DE NECESSIDADES DE TREINAMENTO Além dos métodos de levantamento de necessidades, existem indicadores que apontam necessidades futuras e passadas, a saber: Indicadores a priori. São eventos que, se acontecerem, provocarão futuras necessidades de treinamento, facilmente previstas, como: 1. expansão da empresa e admissão de novos empregados; 2. redução do número de empregados; 3. mudança de métodos e processos de trabalho; 4. substituição ou movimentação de pessoal; 5. absenteísmo, faltas, licenças e férias de pessoal; 6. mudanças nos programas de trabalho ou de produção; 7. modernização dos equipamentose novas tecnologias; 8. produção e comercialização de novos produtos ou serviços. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 136 Indicadores a posteriori. São os problemas provocados por necessidades de treinamento ainda não atendidas, como: 1. problemas de produção, como: • baixa qualidade de produção; • baixa produtividade; • avarias frequentes em equipamentos e instalações; • comunicações deficientes; • elevado número de acidentes no trabalho; • excesso de erros e de desperdício; • pouca versatilidade dos funcionários; • mau aproveitamento do espaço disponível. 2. problemas de pessoal, como: • relações deficientes entre o pessoal; • número excessivo de queixas; • mau atendimento ao cliente; • comunicações deficientes; • pouco interesse pelo trabalho; • falta de cooperação; • erros na execução de ordens. FONTE: Chiavenato (2004, p. 346) Sabe-se que é preciso muita atenção perante a organização para saber se há ou não necessidades de treinamento. Caso seja necessário, então a organização deve providenciar treinamentos adequados para cada situação destacada, e, para que se alcance uma meta, é importante lembrar que o treinamento deve ser mantido, mesmo que, depois de um período, o colaborador apresente alguma eficiência, é necessário lembrar a ele constantemente o que deve ser feito. 2.3 DESENHO DO PROGRAMA DE TREINAMENTO Para que se ponham em prática as diretrizes organizacionais, é preciso a elaboração de planos de ação. Então, para se colocar em prática os objetivos relacionados ao autodesenvolvimento dos colaboradores, é preciso elaborar programa de treinamento correspondente ao que se almeja. A primeira parte se dá com o levantamento das necessidades dos colaboradores. O desenho do programa de treinamento é a segunda etapa do processo. Ele refere-se ao planejamento das ações de treinamento. Desde que as necessidades de treinamento foram identificadas e localizadas, torna-se necessário unir o atendimento a essas necessidades em um programa integrado e coeso. Programar o treinamento significa definir seis ingredientes básicos: quem deve ser treinado, como deve ser treinado, em que, por quem, onde e quando, a fim de atingir os objetivos do treinamento. TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 137 O programa de treinamento deve estar associado com as necessidades estratégicas da organização. É preciso avaliar as necessidades da organização, fixar critérios precisos para estabelecer o nível de desempenho desejado. Além disso, a organização precisa estar disposta a dar espaço e oferecer oportunidades para que as pessoas possam aplicar as novas competências e conhecimentos adquiridos no treinamento. O modo de conciliar o investimento com o retorno é chamado de treinamento voltado para resultados, por mais difícil que seja mensurar. É indispensável estabelecer resultados para o treinamento e compará- los posteriormente. FIGURA 39 – A PROGRAMAÇÃO DE TREINAMENTO Quem deve ser treinado Treinados ou instrumentos Métodos de treinamento ou recursos instrucionaisComo treinar Em que treinar Por quem Quando treinar Para que treinar Assunto ou conteúdo do treinamento Local do treinamento Época ou horário do treinamento Objetivos do treinamento FONTE: Chiavenato (2004, p. 347) Condução do programa de treinamento - a condução, aplicação e implementação do programa de treinamento é a terceira etapa do processo. Existem várias técnicas para transmitir as informações necessárias a desenvolver as habilidades solicitadas no programa de treinamento. As duas principais técnicas para transmitir e divulgar informações são: • Leituras: a técnica mais utilizada para transmitir informação em programas de treinamento é a leitura. A leitura é um meio de comunicação que envolve uma situação na qual um instrutor apresenta verbalmente informação a um grupo de ouvintes. O instrutor apresenta a informação nessa situação de treinamento, enquanto os treinados participam ouvindo e não falando. Uma vantagem da leitura é que o instrutor expõe aos treinados uma quantidade máxima de informação dentro de um determinado período de tempo. Por ser um meio de UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 138 mão única, a leitura apresenta desvantagens, pois os treinados adotam uma postura passiva. Então, há pouca ou nenhuma maneira para esclarecer dúvidas ou significados ou verificar se os treinados compreenderam o material de leitura. Não existe oportunidade para prática, reforço, retroação ou conhecimento dos resultados. O melhor seria tornar o material mais significativo ou essencialmente motivacional para os treinados. Essas limitações fazem com que a leitura tenha pouco valor para promover mudanças comportamentais. • Instrução programada: é uma técnica usada para transmitir informação em programas de treinamento. A aprendizagem programada é uma técnica para instrução sem a presença ou intervenção de um instrutor humano. Pequenas partes da informação que necessitam de respostas relacionadas são apresentadas individualmente aos treinados. Estes podem determinar suas respostas, sabendo se compreenderam a informação obtida. Como o método de leitura, a aprendizagem programada tem suas vantagens e desvantagens. Entre as vantagens é que pode ser computadorizada e os treinados absorvem o conhecimento em suas casas, sabem imediatamente se estão certos ou errados e participam ativamente do processo. A desvantagem principal é que não apresenta as respostas ao treinando. As técnicas para desenvolver habilidades em programas de treinamento são divididas em duas categorias: treinamento no cargo e treinamento em classe. Treinamento no cargo é uma técnica de treinamento que ministra informação, conhecimento e experiência relacionados ao cargo. Podem incluir condução e rotação de cargos e atribuições de projetos especiais. A condução representa uma avaliação crítica a respeito de como a pessoa está desempenhando o seu cargo. A rotação de cargos, ou job-rotation, envolve a movimentação de uma pessoa de um cargo para outro a fim de ter melhor compreensão da organização como um todo. A atribuição de projetos especiais significa entregar uma tarefa específica para que a pessoa utilize sua própria experiência em determinada atividade. Técnicas de classe usam a sala de aula e um instrutor para desenvolver habilidades, conhecimentos e experiências relacionadas com o cargo. As habilidades podem variar desde habilidades técnicas (como programação de computador) ou habilidades interpessoais (como liderança ou trabalho em grupo). As técnicas de classe têm a proposta de desenvolver habilidades sociais e incluir atividades como dramatização (role playing) e jogos de negócios (business games). O modo mais comum de jogos administrativos é o de pequenos grupos de treinados para avaliar e tomar decisões administrativas. O modo de dramatização envolve atuação como determinado personagem ou a resolução de problemas orientados para pessoas e que precisam ser resolvidos dentro da organização. As técnicas de classe encorajam a interação e provocam um ambiente de discussão, o qual não ocorre com os modelos de mão única, como a situação de leitura. TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 139 Elas desenvolvem um clima no qual treinados aprendem o novo comportamento realizando as atividades, atuando como pessoas ou equipes, atuando com a informação e facilitando a aprendizagem através do conhecimento e experiência relacionados com a execução do cargo. As diferenças entre o papel instrucional usado na divulgação da informação e o usado no desenvolvimento das habilidades são grandes. FIGURA 40 – CLASSIFICAÇÃO DA TECNOLOGIA EDUCACIONAL DE TREINAMENTO Técnicas de treinamento Quanto ao uso Quanto ao tempo (época) Quanto ao local Orientadas para o conteúdo Leitura, instrução programada, instrução assistida por computador. Dramatização, treinamento da sensitividade, desenvolvimento de grupos Estudo de casos, jogos e simulação,conferências e várias técnicas on-the-job Programa de indução ou de integração à empresa Treinamento no local (em serviço) ou fora do local de trabalho (fora do serviço) Treinamento em tarefas, rodízio de cargos, enriquecimento de cargos Aulas, filmes, painéis, casos, dramatização, debates, simulações, jogos Orientadas para o processo Mistas (conteúdo e processo) Antes do ingresso na empresa Após o ingresso na empresa No local de trabalho Fora do local de trabalho FONTE: Chiavenato (2004, p. 351) Vimos então, que o desenho do programa de treinamento deve ser minuciosamente pensado e, ainda, considerar diversos aspectos da operação da organização. A intenção é promover o autodesenvolvimento dos colaboradores e o alcance dos objetivos organizacionais. Então para garantir a perenidade desse processo é preciso criar processos que monitorem a eficiência desses programas. 2.4 AVALIAÇÃO DE PROGRAMA DE TREINAMENTO Depois de ter visto quais são as necessidades de treinamento e ter desenhado o programa, é necessário avaliar se o programa teve resultados positivos de desempenho, ou seja, ver se ele realmente atendeu as necessidades da organização, das pessoas e dos clientes. Como os programas de treinamento representam um “investimento em custo” – incluem materiais, tempo de instrutor, perdas de produção enquanto as pessoas estão sendo treinadas e não desempenham seus cargos – precisa-se de um retorno razoável desse investimento. Então, deve-se avaliar se o programa de treinamento atende as necessidades pelas quais foi desenhado. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 140 O importante é fixar os objetivos propostos para o treinamento e, em função deles, avaliar os resultados. A avaliação do retorno do investimento (ROI) em treinamento exige definições prévias de indicadores e medidas objetivas. QUADRO 4 – AVALIAÇÃO DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO COMO AVALIAR PROGRAMA DE TREINAMENTO Alguns dados podem ser utilizados como indicadores para avaliação dos resultados do treinamento: 1. Dados concretos, como: • Economias de custo • Melhoria da qualidade • Economias de tempo • Satisfação dos funcionários 2. Medidas de resultados, como: • Clientes atendidos • Tarefas completadas • Produtividade • Processos completados • Dinheiro aplicado 3. Exemplos de economias de custo: • Custos variáveis • Custos fixos • Projetos de redução de custos • Custos operacionais • Custos administrativos 4. Exemplos de dados sobre melhorias da qualidade: • Índices de erros e de refugos • Volume de retrabalho • Porcentagem de tarefas bem- sucedidas • Variância ao redor de padrões organizacionais preestabelecidos 5. Possibilidades de economias de tempo, como: • Tempo para completar um projeto • Tempo de processamento • Tempo de supervisão • Tempo de equilíbrio para novos funcionários • Tempo de treinamento • Eficiência • Dias de tempo perdido FONTE: Chiavenato (2004, p. 353) Segundo Chiavenato (2005), a avaliação dos programas de treinamento pode ser executada em quatro níveis: 1 Avaliação do nível organizacional: • melhoria do clima da organização; • melhor atendimento ao cliente; • aumento da eficácia organizacional; • melhoria da imagem da empresa; • envolvimento dos gerentes nos treinamentos; • aumento da eficiência; • melhor relacionamento entre empresa e funcionários; • facilidade de mudanças e inovação. TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 141 2 Avaliação no nível de recursos humanos: • melhoria da qualidade de vida no trabalho (QVT); • aumento da eficácia individual e grupal dos empregados; • mudanças de comportamentos e atitudes das pessoas; • aumento da competência das pessoas; • elevação dos conhecimentos das pessoas; • redução da rotatividade e faltas do pessoal. 3 Avaliação no nível dos cargos: • redução do índice de manutenção de equipamentos e máquinas; • adequação das pessoas aos requisitos exigidos pelos cargos; • redução do índice de acidentes no trabalho; • melhoria do espírito de grupo e da cooperação; • melhoria da qualidade; • aumento da produtividade. 4 Avaliação no nível de treinamento: • retorno dos investimentos efetuados em treinamento; • alcance dos objetivos do treinamento. Sabe-se que existem várias maneiras de se avaliar um programa de treinamento, no entanto todas têm o mesmo objetivo, saber se o programa obteve resultado positivo ou não para a organização. 3 DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS E DA ORGANIZAÇÃO Nos tempos de hoje, não basta ser eficiente no que se faz dentro da empresa, pois o que as empresas querem são funcionários criativos e inovadores, que trazem ideias melhores para o bom funcionamento e lucratividade da organização. Veremos, então, como um processo inovador pode melhorar a organização. 3.1 CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Algum tempo atrás as organizações mecanísticas exigiam um comportamento burocrático, repetitivo das pessoas. Então, fazer as coisas exatamente de acordo com as regras, métodos e procedimentos da organização era o foco. As pessoas deviam apenas executar as ordens dadas, sem sequer pensar. Agora, as organizações orgânicas estão impondo um padrão de comportamento diferenciado, um comportamento centrado na criatividade e inovação. Não basta mais a eficiência, muito menos a repetição nas tarefas. Com a instabilidade dos mercados, a mudança é inevitável para produtos e serviços, métodos e processos, equipamentos e tecnologia, estrutura organizacional, cargos e, sobretudo, comportamento das pessoas. A criatividade está na base de tudo. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 142 Criatividade, aplicação da engenhosidade e imaginação proporcionam uma ideia nova, uma nova abordagem ou uma solução para um problema. A criatividade é um fator essencial para a organização que enfrenta demandas de um ambiente instável e mutável. Hoje em dia uma das mais importantes responsabilidades gerenciais é a habilidade de encorajar a criatividade e tolerar erros. Para que isso aconteça, os gerentes necessitam utilizar todas as vantagens da participação, envolvimento das pessoas no intuito de estimular a criatividade individual e grupal. A criatividade se torna a base para a mudança sendo a inovação o seu aspecto mais importante. Inovar requer criatividade que nada mais é do que o processo de criar novas ideias e colocá-las em prática. É o ato de convergir novas ideias para aplicações concretas. Essas aplicações concretas ocorrem de duas maneiras: inovação de processos, com a criação de novas maneiras de fazer as coisas; e a inovação de produtos resultante da criação de produtos ou serviços novos ou melhorados. NOTA Convergir: tender, inclinar-se, dirigir-se, para um ponto comum. Concorrer ao mesmo ponto. Tender para o mesmo fim. A invenção se relaciona com o desenvolvimento de novas ideias, assim os gerentes da organização tendem a criar ambientes que estimulem a criatividade e o surgimento de ideias através das pessoas. Isso implica utilizar as invenções para extrair e tirar vantagem de seu valor. Assim os gerentes asseguram a implementação de novas ideias para novos ou diferentes processos de trabalho. Devem também assegurar o potencial comercial de ideias de novos produtos ou serviços para que eles sejam totalmente realizados. FIGURA 41 – O IMPACTO DA CRIATIVIDADE E DA INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES Criatividade Geração de ideias novas e criativas Inovação Aplicação das novas ideias para criar Uma nova empresa (Apple Computer) Um novo produto (Walkman da Sony) FONTE: Chiavenato (2005, p. 364) TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 143 DICAS Como criar uma estrutura de criatividade na organização: 1. implantar e incentivar um programa de sugestões na organização; 2. desenvolver grupos de geração de ideias; 3. criar oficinas de criação ou de gerenciamento de conceitos; 4. criar centros de criatividade na organização; 5. desenvolver círculos de qualidade e criatividade; 6. elaborar programas de treinamento em criatividade;7. implantar um programa de melhoria contínua e incremento da inovação; 8. fazer pesquisa e desenvolvimento de ideias com as pessoas; 9. criar sessões criativas regulares; 10. desenvolver pessoas que atuem como facilitadoras na criatividade. FONTE: Chiavenato (2005) Devido às profundas mudanças tecnológicas, econômicas, políticas e sociais que influenciam fortemente as organizações, os gerentes devem estimular, apoiar e alcançar a inovação através das pessoas. Conforme Chiavenato (2005), o processo de inovação ocorre em quatro etapas. 1. Criação de ideias: proporciona novas formas de conhecimento através de descobertas, extensões de conhecimento atuais ou criatividade espontânea pela inventividade das pessoas e comunicação com outras. 2. Experimentação inicial: as ideias são testadas inicialmente em seus conceitos através de discussões com outras pessoas, clientes, consumidores, técnicos ou na forma de protótipos e amostras. NOTA Protótipo: primeiro exemplar, primeiro modelo, original. 3. Determinação da viabilidade: a praticidade e o valor financeiro das ideias são examinados em estudos formais de viabilidade que identificam custos e benefícios potenciais assim como mercados e aplicações potenciais. 4. Aplicação final: ocorre quando o novo produto é finalmente comercializado e posto à venda no mercado aberto ou o novo processo é implementado como parte da rotina operacional normal. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 144 FIGURA 42 – CARACTERÍSTICAS DAS PESSOAS E ORGANIZAÇÕES CRIATIVAS A pessoa criativa 1. Fluência conceitual Abertura mental 2. Originalidade 3. Menor autoridade Maior independência 5. Persistência Comprometimento Abordagem focalizada A organização criativa 1. Canais abertos de comunicação Interação com fontes externas Territórios sobrepostos Sistemas de sugestões, técnicas grupais 2. Atribuição de problemas a não especialistas Atribuições excêntricas Utilização intensiva de equipes 3. Descentralização Posições pouco definidas Controle frouxo Aceitação de erros Normas para assumir riscos 4. Alegria no trabalho Curiosidade Exploração não disciplinada 4. Liberdade de escolha e busca de problemas Cultura descontraída e mais flexível Liberdade para discutir ideias 5. Recursos alocados ao pessoal criativo e a projetos sem retorno imediato Sistema de recompensas para a inovação Atribuição de responsabilidades periféricas FONTE: Chiavenato (2005, p. 366) Com ações que promovem processos mais criativos, a organização precisa de uma estrutura mais flexível que atenda as constantes mudanças ambientais. Assim, são necessários estudos aprofundados para que possamos acompanhar as consequências ambientais de tantas intempéries. 3.2 MUDANÇA ORGANIZACIONAL As constantes mudanças ambientais revelam a necessidade de estudos sobre o comportamento estrutural das organizações. Um conjunto de forças atuantes influencia e modifica sistemas estruturais em diversos níveis. TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 145 O processo de mudança promove: transformação, suspensão, ruptura. Dependendo da intensidade, significa a passagem de um estado para outro diferente. Segundo Chiavenato (2005), ela constitui um processo composto de três etapas: descongelamento, mudança e recongelamento. 1 Descongelamento - fase inicial da mudança em que as velhas práticas e ideias são abandonadas e desaprendidas. Representa a renúncia ao atual padrão de comportamento sendo substituído por um novo padrão. Caso não haja o descongelamento, a tendência será retornar ao padrão habitual de comportamento. O descongelamento significa a cobrança da necessidade de mudança. 2 Mudança - fase em que as novas ideias e práticas serão experimentadas, exercitadas e aprendidas; ocorre quando há a descoberta e adoção de novas atitudes, valores e comportamentos. Essa mudança envolve dois aspectos: a identificação (processo pelo qual as pessoas percebem a eficácia da nova atitude ou comportamento e a aceitam) e a internalização (processo pelo qual as pessoas passam a desempenhar novas atitudes e comportamentos como parte de seu padrão normal de comportamento). A mudança é a fase em que novas ideias e práticas são aprendidas, de modo que as pessoas passam a pensar e a executar de uma nova maneira. Esta etapa chama-se implementação da mudança. 3 Recongelamento - fase final onde as novas ideias e práticas são incorporadas definitivamente ao comportamento; significa a implementação do novo padrão de comportamento de modo que ele se torne a nova norma. O recongelamento significa que o novo padrão de comportamento aprendido foi incorporado à prática atual e passa a ser a nova maneira que a pessoa adota no seu comportamento. O recongelamento requer dois aspectos: o apoio (é o suporte através de recompensas que mantêm a mudança) e o reforço positivo (é a prática proveitosa que torna a mudança bem-sucedida). Essa é a etapa de estabilização da mudança. Em todas as fases está presente o agente de mudança, que é a pessoa responsável por conduzir ou guiar o processo de mudança em uma situação organizacional dentro ou fora da organização. O agente de mudança assume o papel de quem inicia o processo e ajuda a fazer acontecer a mudança. Os especialistas de RH estão se tornando consultores internos enquanto os gerentes de linha estão se tornando agentes de mudança dentro das organizações. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 146 FIGURA 43 – AS FASES DO PROCESSO DE MUDANÇA Descongelamento Mudança Recongelamento Tarefa do gerente: Criar um sentimento de necessidades de mudança. Tarefa do gerente: Implementar a mudança. Tarefa do gerente: Estabilizar a mudança. Através de: • Incentivo à criatividade e inovação, a riscos e erros. • Boas relações com as pessoas envolvidas. • Ajuda as pessoas com comportamento pouco eficaz. • Minimização das resistências manifestadas à mudança. Através de: • Identificação de comportamentos novos e mais eficazes. • Escolha de mudanças adequadas em tarefas, pessoas, cultura, tecnologia e/ou estrutura. • Ação para colocar as mudanças na prática. Através de: • Criação da aceitação de continuidade dos novos comportamentos. • Estímulo e apoio necessário às mudanças. • Uso de recompensas contingenciais de desempenho e do reforço positivo. FONTE: Chiavenato (2005, p. 360) O processo de mudança ocorre dentro de um campo de forças que atuam dinamicamente em vários sentidos: de um lado existem forças positivas de apoio e suporte à mudança e, de outro, forças negativas de oposição e resistência à mudança. A mudança passa a sofrer pressões positivas (de apoio e impulso) e pressões negativas (de oposição e resistência), criando um campo de forças. Assim, quando as forças positivas são maiores que as negativas, a tentativa de mudança é bem-sucedida. Porém, quando as forças negativas são maiores que as forças positivas, a tentativa de mudança acaba sendo malsucedida, não ocorre a mudança e prevalece a velha situação. FIGURA 44 – AS FORÇAS POSITIVAS E NEGATIVAS NO PROCESSO DE MUDANÇA Forças positivas (de apoio e de suporte) Forças negativas (de oposição e resistência) • Necessidade dos clientes • Oportunidades do mercado • Novas tecnologias mais sofisticadas • Concorrência feroz • Novas demandas sociais e culturais • Culturas organizacionais adaptativas • Acomodação dos funcionários • Hábitos e costumes da organização • Dificuldades de aprender novas técnicas • Miopia e falta de percepção do ambiente • Velhos paradigmas culturais • Culturas organizacionais conservadoras FONTE: Chiavenato (2005, p. 369) TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 147 O agente de mudança deve tentar maximizar o efeito das forças positivas e minimizar o efeito das forças negativas para poder conduzir o processo de mudança com eficácia. Toda mudança rompe a rotina e impõe uma ruptura com relação ao passado. Na verdade o processo de mudança organizacionalé um pouco mais complicado e segue um padrão comum. Ele surge a partir de um estímulo interno ou externo na forma de pressão sobre a administração e que incentiva a ação de mudança como mostra a figura a seguir. A mudança traz novas práticas e novas soluções. Mas para que elas possam funcionar a contento, torna-se necessário mudar também as pessoas, este é o papel do desenvolvimento de pessoas. FIGURA 45 – AS SEIS FASES DA MUDANÇA ORGANIZACIONAL Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4 Fase 5 Fase 6 Estímulo sobre a estrutura de poder Pressão sobre a administra- ção Intervenção da cúpula Diagnóstico das áreas com problemas Invenção de novas soluções Experimen- tação com novas soluções Reforço dos resultados positivos Reação da estrutura de poder Estímulo para a ação Reorientação para problemas internos Reconheci- mento de problemas específicos Acordo quanto a novos cursos de ação Busca de resultados Aceitação de novas práticas FONTE: Chiavenato (2005, p. 370) Mudança nada mais é do que uma prática relacionada com a intenção de melhorias dentro de uma organização. Para que isso aconteça, porém, são necessárias algumas atitudes a fim de que, ao final delas, se obtenha um resultado gratificante. Por isso é tão importante seguir os passos descritos anteriormente porque, mesmo que houver falhas, será possível resolvê-las em menor quantidade de tempo. 3.3 DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS O desenvolvimento hoje está mais focado no crescimento pessoal do empregado visando à carreira futura e não apenas ao cargo atual. O desenvolvimento gerencial era reservado apenas para uma pequena fatia do pessoal, ou seja, para os níveis mais elevados. Com a redução de níveis hierárquicos UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 148 e a formação de equipes de trabalho, os funcionários passaram a ter maior participação nos objetivos de seus cargos e maior preocupação com qualidade e clientes. O envolvimento de todos os funcionários passou a se formar devido à exigência de habilidades, conhecimento e competências das organizações. NOTA Desenvolvimento de RH: conjunto de experiências organizadas de aprendizagem proporcionadas pelas organizações dentro de um específico período de tempo para oferecer a oportunidade de melhoria do desempenho. Existem vários métodos de desenvolvimento de pessoas e várias técnicas para desenvolver habilidades pessoais e fora do cargo. Habilidades pessoais podem ser adquiridas através da rotação de cargos, posições de assessoria, aprendizagem técnica, atribuições de comissões, participação em cursos e seminários externos, exercícios de simulação, treinamento (outdoor) fora da empresa, estudo de caso, jogos de empresas, centros de desenvolvimento internos e coaching. Já fora do cargo, pode ser através da tutoria ou do aconselhamento de funcionários. Veremos cada um a seguir, conforme Chiavenato (2005, adaptado). a) Rotação de cargos - movimentação de pessoas em várias posições na organização, para ocorrer a expansão de habilidades, conhecimentos e capacidades. Pode ser vertical, promoção provisória da pessoa para uma posição mais complexa, ou horizontal, funciona como uma transferência lateral de curto prazo para a absorção de conhecimentos e experiência da mesma complexidade. A rotação de cargos permite aumento das experiências individuais e estimula o desenvolvimento de novas ideias, proporcionando oportunidades para uma avaliação de desempenhos. b) Posições de assessoria - significa dar oportunidade para a pessoa de elevado potencial trabalhar provisoriamente sob a supervisão de um gerente bem- sucedido em diferentes áreas da organização, assim a pessoa pode desempenhar diferentes tarefas sob a condução apoiadora de um gerente. c) Aprendizagem prática - técnica de treinamento em que o treinado se dedica a um trabalho em tempo integral para analisar e resolver problemas em certos projetos ou em outros departamentos. d) Atribuições de comissões - significa uma oportunidade para a pessoa participar de comissões de trabalho compartilhando da tomada de decisões, aprender pela observação dos outros e pesquisar problemas específicos da organização. TÓPICO 1 | PROMOVENDO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS 149 Atribuições temporárias são interessantes e desafiadoras, pois aumentam a exposição da pessoa aos outros membros da organização, ampliam sua compreensão e proporcionam oportunidades de crescimento. e) Participação em cursos e seminários externos - é uma forma de desenvolvimento através de cursos formais de leitura e seminários. Oferece a oportunidade de adquirir novos conhecimentos e desenvolver habilidades conceituais e analíticas. f) Exercícios de simulação - técnica de treinamento e desenvolvimento, os exercícios de simulação incluem exercícios, estudos de caso, jogos de empresas e simulação de papéis. O estudo de caso proporciona discussões estimulantes entre os participantes, bem como excelentes oportunidades para que a pessoa defenda suas habilidades analíticas e de julgamento. Os jogos de empresas e os exercícios de dramatização colocam a pessoa no papel de ator ou participando de problemas gerenciais. Os exercícios de simulação criam um ambiente similar em relação às situações reais em que a pessoa trabalha, contudo é difícil simular todas as situações reais da vida cotidiana. g) Treinamento (outdoor) fora da empresa - o treinamento externo busca novos conhecimentos, atitudes e comportamentos que não existem dentro da organização e precisam ser obtidos fora dela. O treinamento fora da empresa é feito por organizações especialistas em “treinamento e desenvolvimento”, que oferecem esquemas integrados tendo como prioridade ensinar aos treinados a importância de trabalhar em equipe. h) Estudo de caso - método de desenvolvimento que permite a pessoa se defrontar com uma descrição de um problema organizacional para ser analisado e resolvido. Trata-se de uma técnica que permite diagnosticar um problema real e apresentar alternativas de solução, desenvolvendo habilidades de análise, comunicação e persuasão. i) Jogos de empresas - também são denominados management games ou business games. São técnicas de desenvolvimento nas quais equipes de funcionários competem umas com as outras tomando decisões computadorizadas a respeito de situações reais ou simuladas na empresa. j) Centros de desenvolvimento internos - são métodos baseados em centros localizados na empresa para expor os gerentes e as pessoas a exercícios realísticos para desenvolver e melhorar habilidades pessoais, é o caso das universidades corporativas. k) Coaching - conjunto de todas as facetas, o gerente pode integrar vários papéis como líder renovador, preparador, orientador e impulsionador para se transformar em um coach. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 150 NOTA Coach: orientação profissional. Segundo Chiavenato (2005), existem dois métodos de desenvolvimento de pessoas fora do cargo que são: a tutoria e o aconselhamento. a) Tutoria - assistência de executivos da cúpula oferecida às pessoas que aspiram subir a níveis mais elevados dentro da organização. Dá-se o nome de tutoria (mentoring) quando um gerente exerce um papel ativo em guiar e orientar uma pessoa em sua carreira: o tutor proporciona orientação na hierarquia corporativa, guia, aconselha, dá críticas e sugestões para ajudar o crescimento do funcionário. Tutores ou mentores são executivos que se oferecem para assistir os funcionários juniores de outras áreas da empresa para lhes proporcionar um sistema de apoio e suporte profissional e político. A tutoria pode acontecer em qualquer nível da organização. Todavia, uma pessoa pode ser um excelente executivo sem que haja a criação de um ambiente de aprendizagem e de suporte para tanto. b) Aconselhamento de funcionários - o gerente proporciona o aconselhamento no sentido de assessorar as pessoas no desempenho de suas atividades. Ocorre quando surge algum problema de desempenhoe o foco da discussão é relacionado com o processo de disciplina. Quando o funcionário apresenta um comportamento anômalo em relação ao ambiente de trabalho (ausências, atrasos, irritação, insubordinação) ou é incapaz de desempenhar o cargo satisfatoriamente, o gerente pode intervir. Contudo, antes que aconteça a intervenção, é necessário que o gerente identifique claramente o problema. O processo de aconselhamento de funcionários exige do gerente grande habilidade de ouvir e de persuasão. Então a participação da liderança nesses processos parece ser decisiva. Em consequência disso deve se ter um cuidado especial na preparação dos “comandantes” das operações. Eles devem estar preparados para guiar seus liderados em direção aos objetivos organizacionais sem deixar de promover o autodesenvolvimento de seus colaboradores. 151 Neste tópico, você viu que: • É necessário reconhecer que, embora tenhamos processos de recrutamento e seleção eficientes, temos que desenvolver colaboradores com grande capacidade de adaptação. E por isso a área de treinamento evoluiu para uma perspectiva de médio a longo prazo. Agora o foco não está apenas na capacitação técnica para uma utilização imediata, mas principalmente para o desenvolvimento de competências mais profundas, que aperfeiçoam a percepção do colaborador sobre a realidade contextual. Assim, essa nova perspectiva mostra que a organização não dá mais conta de capacitar o colaborador para um futuro muitas vezes imprevisível. A postura estratégica de médio a longo prazo é fazer com que os componentes da organização percebam a necessidade de se autodesenvolver no intuito de aumentar sua capacidade de adaptação às mudanças. • Nos tempos de hoje, as empresas querem funcionários criativos e inovadores. Então a participação da liderança nesses processos parece ser decisiva. Em consequência disso, as lideranças devem estar preparadas para guiar seus liderados em direção aos objetivos organizacionais sem deixar de promover a flexibilidade de sua equipe. RESUMO DO TÓPICO 1 152 1 O processo de treinamento é um movimento cíclico e contínuo, composto de quatro etapas. Determine cada uma destas etapas. 2 Cite um método para determinar quais habilidades devem ser priorizadas para estabelecer a estratégia de treinamento. 3 Por que há necessidade de criar um programa de treinamento? 4 Cite alguns métodos que promovam o desenvolvimento de pessoas. 5 Como método que promove o desenvolvimento, a rotação de cargos é a movimentação de pessoas em várias posições nas organizações, trazendo inúmeros benefícios. Cite dois ou mais destes benefícios. AUTOATIVIDADE 153 TÓPICO 2 PREPARANDO PARA A MUDANÇA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO As constantes mudanças ambientais promovem flexibilidade estrutural das organizações nunca antes vistas. Estudos se intensificam para propor modelos que revelem uma solução para a relação dicotômica entre a homeostase e a adaptabilidade das organizações. Sendo assim tornam-se predominantemente importantes estudos que revelem segredos sobre como aumentar a velocidade de adaptação às idiossincrasias em torno de cada organização. 2 DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL O movimento de Desenvolvimento Organizacional (DO) surgiu como um conjunto de ideias a respeito do homem, da organização e do ambiente, no sentido de proporcionar o crescimento e o desenvolvimento segundo as suas potencialidades. O DO é um esforço de longo prazo que visa melhorar os processos de resolução de problemas e de renovação organizacional, particularmente através de um eficaz e colaborativo diagnóstico e administração da cultura organizacional com a assistência de um consultor-facilitador e a utilização da teoria e tecnologias das ciências do comportamento, incluindo ação e pesquisa. 2.1 CARACTERIZANDO O DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL A teoria de Desenvolvimento Organizacional caracteriza-se com a aplicação das ciências comportamentais, no esforço de longo prazo de ampliar a capacidade da organização de confrontar mudanças ambientais, aumentando ainda mais suas habilidades na solução de problemas. É um conjunto de intervenções planejadas, de mudanças construídas sobre valores humanísticos e democráticos, que procuram aumentar a eficácia organizacional e o bem-estar dos colaboradores. É uma abordagem especial de mudança organizacional em que os próprios colaboradores formulam a mudança necessária e a colocam em prática, muitas vezes, através da assistência de um consultor interno ou externo. 154 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS Conforme Chiavenato (2003), as origens do DO podem ser atribuídas a vários fatores: a) a dificuldade em que se operacionalizam os conceitos das diversas teorias administrativas; b) os estudos sobre motivação humana; c) a criação do National Training Laboratory; d) a publicação de um livro de um grupo de psicólogos do National Laboratory, expondo suas pesquisas; e) a pluralidade de mudanças no mundo; f) a fusão de duas tendências no estudo das organizações; g) inicialmente o DO limitou-se ao nível de conflitos interpessoais; h) os diversos modelos de DO consideram quatro variáveis básicas: ambiente, organização, grupo e indivíduo. Perceba algumas características do DO, que surgiram a partir de 1962, conforme Chiavenato (2005). • O DO é baseado na pesquisa e na ação - significa coletar dados sobre uma unidade e expô-los aos funcionários, para que eles analisem e desenvolvam hipóteses sobre como essa unidade seria se ela fosse excelente. Em outros termos, o DO utiliza um diagnóstico da situação (pesquisa) e uma intervenção para alterar a situação (ação) e, então, um reforço para estabilizar e manter a nova situação. • O DO aplica os conhecimentos das ciências comportamentais - com o propósito de melhorar a eficácia da organização, ou seja, sua velocidade de adaptação. • O DO muda atitudes, valores e crenças dos funcionários - para que eles mesmos possam identificar e implementar as mudanças necessárias para melhorar o funcionamento da organização. • O DO muda a organização rumo a uma determinada direção - como a flexibilidade, melhoria na solução dos problemas, reatividade e aumento da eficácia. Diga-se de passagem, características inovadoras para a época: atribuir a todos os colaboradores a responsabilidade de se tornar um agente de mudança, no intuito de ampliar o grau de adaptação às intempéries ambientais. TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 155 2.2 PROCESSOS E TÉCNICAS DE DO Os processos de DO são divididos em três fases: diagnóstico, intervenção e reforço. As técnicas são divididas em: treinamento da sensitividade, análise transacional (AT), desenvolvimento de equipes, consultoria de procedimentos, reunião de confrontação, retroação de dados (feedback de dados). Segundo Chiavenato (2005), o DO utiliza um processo dinâmico composto de três fases distintas: Diagnóstico - pesquisa a partir da situação atual. Geralmente, o diagnóstico é uma percepção a respeito da necessidade de mudança na organização ou uma parte dela. O diagnóstico deve ser obtido através de entrevistas com as pessoas ou grupos envolvidos. Intervenção - uma ação para alterar a situação atual. Geralmente, a intervenção é definida e planejada através de workshop e discussões entre pessoas e grupo envolvidos para determinar as ações e os rumos viáveis para a mudança. Reforço - um esforço para estabilizar e manter a nova situação, através de reuniões e avaliações periódicas que servem de retroinformação a respeito da mudança alcançada. Na verdade, o DO funciona como um processo planejado e negociado de mudança organizacional. A mudança é um processo de descongelamento, mudança e recongelamento. FIGURA 46 – O PROCESSO DE DO COM UM PROCESSO DE MUDANÇA Diagnóstico Intervenção Reforço Obter e analisar dados sobre a situação e definir objetivos de mudança Buscar ação colaborativa para implementar a mudança desejada Acompanhamento para apoiar e reforçar a mudançaDescongelamento Mudança Recongelamento Processo de mudança Processo de DO FONTE: Chiavenato (2004, p. 381) 156 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS O DO utiliza uma variada tecnologia. As principais técnicas de DO, segundo Chiavenato (2005), são: 1 Treinamento da sensitividade: ou treinamento da sensibilidade constitui a técnica mais antiga e ampla de DO. Consiste em reunir grupos chamados T-groups (grupos de treinamento) e que são orientados por um líder treinado para aumentar a sensibilidade quanto às suas habilidades e dificuldades de relacionamento interpessoal. O resultado baseia-se em maior criatividade (menos temor dos outros e menos posição de defesa), menos hostilidade quanto aos outros (devido à melhor compreensão dos outros) e maior sensitividade às influências sociais e psicológicas sobre o comportamento em trabalho. Isso favorece a flexibilidade do comportamento das pessoas em relação aos outros. Em geral é aplicado de cima para baixo, iniciando nos níveis altos da organização até os níveis mais baixos. 2 Análise transacional (AT): é uma técnica que foca no autodiagnóstico das relações interpessoais. As relações interpessoais ocorrem através de transações. Uma transação significa qualquer forma de comunicação, mensagem ou de relação com os demais. A AT é uma técnica direcionada a indivíduos e não a grupos, pois se concentra nos estilos e conteúdos das comunicações entre as pessoas. Ela ensina as pessoas a enviar mensagens que sejam claras e ágeis e a dar respostas que sejam razoáveis e naturais. O objetivo é reduzir os hábitos destrutivos de comunicação, nos quais a intenção ou o significado das comunicações fica obscuro ou distorcido. A AT se assemelha a uma terapia psicológica para melhorar o funcionamento interpessoal, permitindo a cada indivíduo autodiagnosticar sua inter-relação com os outros para mudá-la e melhorá-la gradativamente. 3 Desenvolvimento de equipes: é uma técnica de modificação comportamental em que várias pessoas de vários níveis e áreas da organização se reúnem sob a coordenação de um consultor ou de um líder e criticam-se mutuamente, procurando um ponto de encontro em que a colaboração seja mais produtiva, eliminando-se as barreiras interpessoais de comunicação pelo esclarecimento e compreensão de suas causas. A ideia principal é construir equipes através da abertura de mentalidade e de ação das pessoas. No trabalho em equipe, são eliminadas as diferenças hierárquicas e os interesses específicos de cada departamento ou especialidade, oferecendo uma predisposição sadia para a interação e, consequentemente, para a criatividade e inovação. Atualmente, as organizações estão praticando a departamentalização funcional em redes integradas de equipes com intuito de aumentar a flexibilização, inovação e mudança. Para que isso aconteça, equipes eficazes requerem a definição clara da filosofia e missão da organização, uma estrutura organizacional flexível e participativa, sistemas organizacionais adequados, políticas organizacionais que permitam o comprometimento das pessoas e funcionários treinados com habilidades técnicas e interpessoais. TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 157 FIGURA 47 – COMO ADEQUAR O DESENHO ORGANIZACIONAL PARA EQUIPES Equipes eficazes Bases para o desenvolvimento de equipes Filosofia e missão da organização Estrutura organizacional Sistemas organizacionais Políticas organizacionais Habilidades dos funcionários - Envolvimento do pessoal - Estrutura plana - Trabalho organiza- do em equipes - Alto envolvimento e delegação das tarefas - Participação nos resultados - Procedimentos - Sistemas de informação - Estabilidade no emprego - Tratamento equânime - Relacionadas com o trabalho - Interpessoais - Baseadas em equipes - Administrativas FONTE: Chiavenato (2004, p. 382) 4 Consultoria de procedimentos: é uma técnica em que cada equipe é coordenada por um consultor, e sua atuação varia enormemente. A coordenação permite determinadas intervenções para tornar a equipe mais sensível aos processos internos de estabelecer metas e objetivos, de participação, de sentimentos, de liderança, de tomada de decisões, confiança e criatividade. O consultor trabalha com os membros da equipe para ajudá-los a entender a dinâmica de suas relações de trabalho em situações de grupo e a desenvolver o diagnóstico de barreiras e as habilidades de solução de problemas. Assim se melhora o senso de unidade entre seus membros, aumentam as relações interpessoais, melhora o cumprimento das tarefas e aumenta a sua eficácia. 5 Reunião de confrontação: é uma técnica de alteração comportamental com a ajuda de um consultor interno ou externo (denominado terceira parte). Dois grupos antagônicos em conflito (desconfiança recíproca, discordância, antagonismo, hostilidade etc.) podem ser resolvidos através de uma reunião de confrontação que dura um dia, e cada grupo se autoavalia, bem como avalia o comportamento do outro, como se estivesse de frente a um espelho. Nessa reunião, cada grupo apresenta ao outro os resultados daquelas avaliações e é interrogado no que se refere a suas percepções. O consultor facilita a confrontação, considerando as críticas, moderando os trabalhos, orientando a discussão para a solução construtiva do conflito e eliminando as barreiras intergrupais. A reunião de confrontação é uma técnica de enfoque socioterapêutico para melhorar a saúde da organização, incentivando as comunicações e relações entre diferentes departamentos ou equipes e planejar ações corretivas ou preventivas. 158 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 6 Retroação de dados (feedback de dados): é uma técnica de mudança de comportamento que parte do princípio de que quanto mais dados informativos o indivíduo recebe, maior será a sua possibilidade de organizar os dados e agir criativamente. A retroação de dados proporciona aprendizagem de novos dados a respeito de si mesmo, dos outros, dos processos grupais ou da dinâmica de toda a organização. A retroação refere-se às atividades e processos que refletem e espelham a maneira pela qual uma pessoa é percebida ou visualizada pelas outras pessoas. Requer intensa comunicação e um fluxo adequado de informações dentro da organização para atualizar os membros e permitir que eles próprios possam se conscientizar das mudanças e explorar as oportunidades que geralmente se encontram ocultas dentro da organização. O ponto de partida das técnicas de DO é melhorar inicialmente a sensibilidade intrapessoal para depois melhorar e incentivar os seus relacionamentos interpessoais. Em seguida, inicia-se a formação e desenvolvimento de equipes, às quais se seguem as técnicas intergrupais necessárias para integrar as diferentes equipes entre si, e depois, as técnicas intraorganizacionais para definir os objetivos organizacionais a serem alcançados mediante o trabalho conjunto e coordenado das diferentes equipes envolvidas. No fundo, o DO representa um verdadeiro mutirão de esforços conjuntos para mudar a organização através da transformação de atitudes e comportamentos. 2.3 DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL NA PRÁTICA As aplicações de DO são para melhorar o ambiente organizacional, onde há a valorização do colaborador, a melhora no ambiente de trabalho e, por consequência, a melhor satisfação do cliente. A variedade de aplicações do DO, também chamadas de intervenções ou técnicas do DO, aumentou nos últimos anos. O DO começou com intervenções em processos humanos, no intuito de ajudar as pessoas a compreender melhor a modificação de suas próprias crenças, valores, atitudes e, como consequência, melhorar a organização como um todo. A amplitude de aplicações do DO é espantosa em relação à variedade das mudanças necessárias. Todas elas estão direcionadas para proporcionar aos colaboradores soluções necessárias a fim de criar condições de autoavaliação do progresso almejado. O DO está relacionadocom mudanças que buscam agregar valor ao negócio da organização, às pessoas e aos clientes. Então, o DO pode ser usado para uma reavaliação da estrutura organizacional, dos processos e tecnologias utilizados, dos produtos e serviços produzidos e da cultura organizacional. TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 159 FIGURA 48 – AS MUDANÇAS PARA AGREGAR VALOR AO NEGÓCIO Estrutura organizacional Cultura/ pessoas Produtos/ serviços Processos e tecnologia • Como está estruturada sua empresa? • Para a permanência ou para a mudança? • Qual o esquema hierárquico existente? • Como funcionam as comunicações? • E o processo decisório? • Qual a importância das pessoas? • Como funcionam os processos? • Como é o ciclo operacional? • Como é a rede de informações? • E a matriz tecnológica? • Como é o desenho de cargos? • Qual a função das pessoas? • Quem é o cliente interno e externo? • Qual é o seu perfil e quais as suas características? • O que a empresa oferece a ele? • Quais são as caraterísticas dos P/S? • Conservadores ou inovadores? • Qual a missão da empresa? • Quais os valores? • Como é a cultura? • Qual o papel das pessoas? • Existem equipes? • E a administração? • E os gerentes? • Como funciona o sistema de motivação e recompensas? • E a participação das pessoas? FONTE: Chiavenato (2004, p. 387) O DO tem um grande potencial para complementar e incentivar os programas de qualidade total nas organizações, já que ambos têm vários aspectos em comum. Além dos fatores já destacados, devem-se incluir alguns fatores que melhoram a competência individual dos colaboradores no programa de qualidade. Segundo Chiavenato (2005), são eles: a) educação e treinamento; b) supervisão e liderança desenhadas para desenvolver os talentos de cada pessoa; c) um processo seletivo capaz de alinhar personalidade, educação, conhecimentos e experiência com os requisitos de cargo; d) sistema de promoções e progressão profissional bem definido; e) métodos de trabalho estabelecidos para assegurar o melhor uso dos recursos; 160 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS f) condições de trabalho com segurança e estabilidade; g) oportunidade para trabalhar em cargos multifuncionais e desenvolver novas habilidades. Embora seja um grande impulsionador da mudança e da inovação organizacional, o DO apresenta algumas limitações. Os programas de DO são geralmente muito caros. Com algumas adaptações, vejamos o que Chiavenato (2005) nos diz: 1. A eficácia dos programas de DO é difícil de ser avaliada. 2. Os custos totais de um programa de DO são difíceis de avaliar. 3. Os programas de DO requerem muito tempo. 4. Os objetivos de DO são geralmente muito vagos. FIGURA 49 – OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA QUALIDADE TOTAL Estrutura organizacional Desenvolvimento e utilização de métodos confiáveis Valor agregado Integração funcional cruzada Alinhamento organizacional para a melhoria Melhoria Contínua (Identificação, qualificação, eliminação de desperdícios) Qualidade em primeiro lugar Foco no cliente Parceria das pessoas Liderança da direção de cúpula Qualidade incorporada ao produto/serviço FONTE: Chiavenato (2004, p. 388) TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 161 Mesmo com essas limitações não se devem eliminar os esforços de DO. Elas indicam as fragilidades onde o programa precisa ser aperfeiçoado. Segundo Chiavenato (2005), os administradores podem melhorar a qualidade dos esforços de DO através das seguintes ações: a) Modificar os sistemas de recompensas da organização para premiar os membros que mudam o seu comportamento de acordo com o programa. b) Ajustar sistematicamente os programas de DO às necessidades específicas da organização. c) Demonstrar como as pessoas podem mudar seus comportamentos como parte do programa organizacional. O DO representa um dos mais promissores campos de atuação na melhoria das organizações e no desenvolvimento de pessoas, e, sem dúvida, o papel da Administração de Recursos Humanos (ARH) e dos gerentes de linha pode ser amplamente alavancado através dos esforços de DO. 3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Em toda essa restruturação promovida pelo DO o comportamento das pessoas ganha grande atenção. Podemos pressupor então certa valorização de recursos intangíveis na constituição da vantagem competitiva sustentável. Assim, torna-se preponderante a compreensão dos processos que cercam a aprendizagem organizacional. 3.1 A NATUREZA DO CONHECIMENTO O conhecimento pode ser adquirido através de várias maneiras: pode ser adquirido ao longo da vida ou através de programas de treinamento dentro da organização. O importante é sempre usar os dois para que haja um equilíbrio e, por isso, não ocorra uma prevalência de apenas uma maneira só, pois nem sempre um estará sempre certo. Segundo Chiavenato (2010), a vontade de dominar o conhecimento vem desde os primórdios da longa trajetória humana. Nos últimos 600 anos, é a existência de uma sociedade aberta focalizada no trabalho e no conhecimento que explica o fato de muitos países terem ficado muito mais ricos a partir de suas dimensões ou do seu poder militar. 162 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS Assim, o conhecimento constitui a base estruturante das sociedades. Com a economia baseada em conhecimento, fica evidente que a gestão apropriada é fato condicionante para as sociedades, organizações e pessoas aperfeiçoarem sua relação com o ambiente em crescente complexidade. Melhorar tal competência é vital para que os países e organizações possam acelerar o ritmo de seu desenvolvimento. Então, o que é conhecimento? Por que ele está se tornando a maior riqueza na era da informação? A resposta não é simples. Segundo Chiavenato (2010), o termo epistemologia – teoria do conhecimento – provém da palavra grega episteme, que significa verdade absolutamente certa. Em nossa língua, a palavra conhecimento pode ter vários e diferentes significados. Pode significar cognição, informação, saber, percepção, qualificação, sapiência, ciência, experiência, habilidade, conscientização, competência, capacidade, sabedoria, aprendizado, certeza etc. A definição depende do contexto em que o termo é empregado. O conhecimento possui quatro características. Vejamos quais são, segundo Chiavenato (2010): 1. o conhecimento é tácito: o conhecimento é algo pessoal, isto é, formado dentro de um contexto social e individual. Não é de propriedade de uma organização ou coletividade. No entanto, o conhecimento não é privado; embora pessoal, ele é construído de forma social. Vale ressaltar que as novas experiências são sempre assimiladas por meio dos conceitos que um indivíduo possui, uma espécie de tratamento feito a partir de modelos mentais preestabelecidos; 2. o conhecimento é orientado para a ação: o ser humano está sempre desenvolvendo novos conhecimentos por meio da análise das impressões sensoriais que recebe (e quanto mais sentidos ele usa no processo, melhor). Essa qualidade dinâmica do conhecimento é refletida em verbos como esquecer, aprender, lembrar e compreender. Isso significa que damos sentido à realidade categorizando-a em teorias, métodos, sentimentos, valores e habilidades que podemos usar de forma tradicionalmente válida; 3. o conhecimento é sustentado por regras: com o passar do tempo, criamos em nosso cérebro inúmeros padrões que agem como regras inconscientes de procedimento para mexer com todo o tipo de situação concebível. Esses modelos mentais nos poupam muita energia e nos permitem agir com mais eficácia, sem termos de parar para pensar no que estamos fazendo. Além disso, essas regras de procedimentos moldam a aquisição e aperfeiçoamento de habilidades. Quando praticamos uma atividade, testamos essas regras e procuramos aprimorá-las. As regras também estão ligadas ao resultado das ações. Além do mais, as regras agem como filtros para novos conhecimentos. Assim, quando estamos tacitamente envolvidos em um processo desaber, agimos de forma involuntária, não refletimos, e damos as coisas por certo. Em nossas mentes sempre ficam alguns vestígios daquilo que um dia aprendemos, pois o ser humano nunca esquece tudo; TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 163 4. o conhecimento está em constante mutação. O conhecimento é dinâmico, continuamente reconstruído na mente das pessoas através das diversas interações sociais. Intensamente subjetivo, o conhecimento tácito está constantemente em transformação. Com tantos significados, o seu uso normalmente não é prático. Por este motivo, muitos autores preferem trabalhar com o conceito de competência. A competência das pessoas consiste em cinco elementos mutuamente dependentes (CHIAVENATO, 2010): a) conhecimento explícito: envolve conhecimento dos fatos e é adquirido principalmente pela informação, quase sempre pela educação formal; b) habilidade: é a arte de saber fazer; envolve alguma capacidade prática – física ou mental – e é adquirida sobretudo por treinamento e prática. Inclui o conhecimento de regras de procedimento e habilidade de comunicação; c) experiência: é adquirida principalmente pela reflexão sobre erros e sucessos passados; d) julgamentos de valor: são percepções do que o indivíduo acredita que está certo. Agem como filtros conscientes e inconscientes para o processo de saber de cada indivíduo; e) rede social: é formada pelas relações do indivíduo com outras pessoas dentro de um ambiente e uma cultura transmitida pela tradição. A competência está intimamente relacionada ao ambiente. Isto é, se mudamos para um novo ambiente perdemos a competência. Daí o termo competência (que tende a se limitar à habilidade prática) ser uma noção mais ampla do que o conceito popular de conhecimento. A relação entre competência e conhecimento precisa ser melhor esclarecida sobre sua real importância para as organizações. Primeiro vamos diferenciar os dois tipos de conhecimento (CHIAVENATO, 2010): a) Conhecimento tácito: ou conhecimento inconsciente é o conhecimento que está na cabeça das pessoas e é originado de suas experiências e vivências pessoais. Pode ser transmitido de uma forma vaga e não estruturada através da conversa, e-mail ou “mão na massa”. Representa o conhecimento do que sabemos, mas devido à sua subjetividade, pressupõe-se grande dificuldade de ser verbalizado ou escrito em palavras. É o conhecimento mais comum dentro da organização e está relacionado com a cultura organizacional. O custo de compartilhar o conhecimento tácito é elevado porque ele repousa na comunicação direta face a face. Além disso, sua transferência é de longo prazo e pouco eficiente. 164 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS b) Conhecimento explícito: é o conhecimento visível em documentos, manuais, livros ou programas de treinamento que são estruturados e documentados. O conhecimento explícito representa geralmente a acumulação de políticas, procedimentos e processos de negócio que formam a base das operações da organização. O custo de compartilhar o conhecimento explícito através de meios eletrônicos e meios gráficos é baixo, mas o custo de pegar o conhecimento tácito e transformá-lo em conhecimento explícito é muito elevado. Em muitas organizações, o conhecimento explícito tem uma vida curta. A informação torna-se ultrapassada à medida que o ambiente muda. A medida de inovação das organizações é mensurada através da relação entre a presença de conhecimento tácito e explícito. Uma organização com percentual maior de conhecimento explícito revela colaboradores que seguem regras específicas, ou seja, com alto grau de formalização. Por outro lado, uma organização com uma proporção maior de conhecimento tácito revela a valorização da socialização: um ambiente cheio de circunstâncias que propiciam a criatividade e inovação nos processos organizacionais. Mesmo assim, as organizações precisam determinar o quanto de conhecimento tácito deve ser sistematicamente convertido em conhecimento explícito para balancear as necessidades de criar uma força de trabalho ao mesmo tempo produtiva e inovadora. Assim, o conhecimento é criado por meio da interação entre conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Segundo Chiavenato (2010), existem quatro modos de conversão do conhecimento. ● Socialização: do conhecimento tácito para o conhecimento tácito. Trata-se de um processo de compartilhamento de experiências e, a partir daí, a criação do conhecimento tácito, como modelos mentais ou, ainda, habilidades técnicas compartilhadas. Um aprendiz pode adquirir conhecimento tácito diretamente de outros, muitas vezes sem usar a linguagem, mas por meio da observação, imitação e prática. Com grande poder de mudar o comportamento das pessoas através de processos muito semelhantes ao “mimetismo” (imitação), é obtido através da convivência social. Um exemplo prático da socialização também ocorre quando há interações e diálogos com os clientes. ● Externalização: do conhecimento tácito para o conhecimento explícito. É a capacidade de articular o conhecimento em conceitos explícitos, muitas vezes sob a forma de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos. A escrita é uma forma de converter o conhecimento tácito em conhecimento explícito. A externalização é um processo de criação de conceitos explícitos, provocada pelo diálogo ou pela reflexão coletiva. ● Combinação: do conhecimento explícito para o conhecimento explícito. É caracterizado pelo processo de formalização do que foi explicitado. Uma espécie de concatenação de conhecimentos expostos à crítica de todos. Uma construção feita a partir dos conceitos preestabelecidos. Os instrumentos usados são inúmeros (documentos, reuniões, conversas ao telefone ou redes TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 165 de comunicação computadorizadas). Na prática, podemos citar a educação e o treinamento formal nas escolas que assumem esta forma. O ensino em um curso de pós-graduação em administração é outro exemplo. ● Internalização: do conhecimento explícito para o conhecimento tácito. É o processo de incorporação do conhecimento explícito. Nesse momento os modelos mentais são aperfeiçoados, ou ainda reconstruídos. Então, a visão sistêmica sobre determinado assunto é incrementada com novas variáveis que se articulam para a montagem da nova compreensão. Mas, para proporcionar a criação do conhecimento organizacional, o conhecimento tácito acumulado precisa ser socializado com os outros membros da organização iniciando assim uma nova espiral de criação do conhecimento. FIGURA 50 – A ESPIRAL DO CONHECIMENTO Socialização Externalização Internalização Combinação Aprender fazendo Diálogo Co ns tr uç ão do C am po A ss oc ia çã o do co nh ec im en to ex pl ic ito FONTE: Chiavenato (2010, p. 157) Como já visto, o processo de aprendizagem está intimamente ligado ao comprometimento de todos. Assim, no processo de inovação, os líderes têm papel importante, principalmente na criação de um ambiente que favoreça a participação de todos. Um clima organizacional sadio e preparado para as constantes mudanças ambientais. 3.2 CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL Os estudos sobre a competitividade dos mercados são unânimes, a capacidade de adaptação da estrutura organizacional é preponderante para a sobrevivência das organizações. Sem dúvida nenhuma, as estatísticas apontam 166 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS para a relação positiva entre desempenho e flexibilidade. Assim, embora o conhecimento seja o recurso mais disputado, a velocidade em absorvê-lo e aperfeiçoar processos está em primeiro lugar. A boa notícia é que a aprendizagem organizacional pode ser planejada. Entretanto, a organização não pode criar conhecimento por si mesmo sem a iniciativa dos indivíduos e da interação que ocorre dentro dos grupos. Assim, o conhecimento pode ser ampliado no nível de grupo, através de debates, compartilhamento de experiências e observação.Para Nonaka e Takeuchi (1997 apud CHIAVENATO, 2005), a criação do conhecimento organizacional é uma interação contínua e dinâmica entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito, formando uma espiral do conhecimento, que depende de quatro aspectos. Primeiro, o modo de socialização desenvolve interação, facilitando assim, o compartilhamento de experiências e modelos mentais dos membros. Segundo, a externalização é estimulada através do diálogo ou pela reflexão coletiva, nos quais o uso de uma metáfora ou analogia significativa ajuda as pessoas a articularem o conhecimento tácito. Terceiro, o modo de combinação é estimulado através de argumentações que questionam o conhecimento recém-criado utilizando, para isso, conhecimento já existente. Quase como resultado das outras fases surge o quarto aspecto do modelo chamado “espiral do conhecimento”, o “aprender fazendo”, que promove a internalização do conhecimento. Segundo Chiavenato (2005), a aprendizagem refere-se à aquisição de competências (conhecimentos, habilidades, atitudes) ao longo da vida do ser humano. Cada abordagem da psicologia trata a aprendizagem de maneira diversa. Os comportamentalistas se apegam às relações entre os comportamentos e suas consequências. A aprendizagem social tenta criar um mapa mental da situação e aproveitá-lo para alavancar a aprendizagem por imitação, conseguida principalmente através da convivência (socialização). Os administradores se preocupam em criar processos (protocolos) de aprendizagem que incluam os princípios de todas essas abordagens. O treinamento e o desenvolvimento (T&D) de pessoas nas organizações constitui uma amostra de aplicação desses princípios de aprendizagem. Na verdade, cada pessoa aprende por meio de uma ampla variedade de meios, de acordo com as necessidades do momento e do conteúdo a ser aprendido. Para entendermos esse processo, é importante que consideremos disposições inatas de um repertório de movimentos; uma capacidade de aprendizagem que lhe permitirá modificar o seu comportamento adaptando-a gradativamente ao meio ambiente cultural ou social onde desenvolverá a sua maturação biológica. Essa evolução cultural significa uma forma de adaptação rápida às condições mutáveis do meio ambiente. A capacidade de aprender tem a sua predisposição em receber informações, o que facilita a transmissão das normas culturais e, consequentemente, o processo de adaptação à sociedade. As pessoas ajustam TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 167 continuamente seu comportamento ao meio ambiente por meio da predisposição inata conhecida como aprendizagem. Isso permite que os seres humanos possam transformar constantemente os seus modelos de comportamento. Segundo Chiavenato (2010), a aprendizagem é uma solução evolutiva à insuficiência do sistema de respostas inatas. Isto é, a velocidade de adaptação genética não é suficiente para acompanhar as mudanças ambientais, então a capacidade de aprender e se adaptar promove a subsistência dos seres humanos. Darwin que o diga. Ademais, o comportamento adquirido ou aprendido é alavancado pelos estímulos posteriores e não pelo que ocorre antes. Segundo Chiavenato (2005), dentro desse contexto, uma nova conduta ocorre quando é: • Provocada: isto é, reforçada na filogênese, é o comportamento inato. • Aprendida: isto é, reforçada na ontogênese. É o comportamento aprendido ou produto do processo permanente de adaptação do sujeito ao meio que o rodeia e que está em constante mudança, especialmente o ambiente social. NOTA Filogênese: história evolucionária da espécie. NOTA Ontogênese: desenvolvimento do ser humano desde a fecundação até a maturidade. Assim, é certo afirmar que o ser humano pode adaptar-se às contínuas e intensas modificações do ambiente em que vive. O aprendizado envolve mudanças de comportamento tão diferentes como a resposta diferenciada a um estímulo. Isso frequentemente ocorre sem que o indivíduo o procure de forma deliberada e mesmo sem estar consciente disso. A luta pela sobrevivência requer constantes ajustes e adaptações. 168 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS Para aprendizagem a experiência (know-how) é o arcabouço dos modelos mentais. A maturação constitui o aparecimento de pautas de comportamento que dependem do desenvolvimento de estruturas do sistema nervoso. Assim, apresentam-se em determinados momentos e não dependem de nenhuma ação específica. Um recém-nascido pode pegar qualquer coisa com o toque dos dedos sem nenhum treinamento prévio, porque é um reflexo inato, mas existem outras respostas que exigem amadurecimento e aprendizagem, como falar, caminhar, sorrir etc. As consequências últimas da aprendizagem ultrapassam o próprio indivíduo – como as diferentes formas de expressão, idiomas, religiões, culturas, leis e costumes – como produtos diretos de modificações praticadas pela experiência humana. Além disso, a aprendizagem nunca é observada diretamente. Ela é uma consequência derivada da observação de uma mudança ou de uma série delas na conduta das pessoas, ou ainda uma resposta específica que surge mais frequentemente ou mais rapidamente quando se apresenta um determinado estímulo. Por esta razão, a aprendizagem provoca um aumento da probabilidade de que uma resposta específica apareça sempre que se apresente um determinado estímulo. As mudanças de conduta permitem medir a aprendizagem e são denominadas de execução. A execução constitui a manifestação visível do processo de mudança que se produz no interior do organismo, que é a aprendizagem. No entanto, boa parte da aprendizagem ocorre sem que haja alguma conduta observável, pois somente se manifesta quando se apresenta uma oportunidade de utilizá-la. É o que chamamos de aprendizagem latente. Considerando os meios de aprendizagem, descobrimos que ela pode ocorrer no local de trabalho ou fora dele. Os administradores estão interessados em como ensinar seus subordinados a se comportar para alcançar os objetivos organizacionais. Quando se trata de modelar pessoas, guiando sua aprendizagem a passos graduais, está se modelando o comportamento humano. 3.3 PROCESSO DE APRENDIZAGEM O processo de aprendizagem é explicado por meio de várias maneiras: condicionamento clássico, condicionamento operante e aprendizagem por observação. Vejamos cada uma dessas abordagens, segundo Zanelli (2004): Condicionamento clássico – um dos casos famosos dos livros de psicologia é o do fisiologista russo Ivan Pavlow que foi o primeiro a pesquisar a aprendizagem por reflexo condicionado, e é considerado o pai da psicologia aplicada. Ele percebeu que ao conjugarmos o colocar de alimentos na boca de um cão, juntamente com um toque de campainha, ele começava a segregar um fluxo de saliva procedente de determinadas glândulas. Após inúmeras repetições diárias, o cão condicionou o som da campainha (estímulo neutro) ao alimento TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 169 (estímulo incondicionado) e passou a salivar somente ao toque da campainha ou na presença da pessoa que lhe dava a comida. A salivação do cachorro diante de uma comida é uma resposta incondicionada, enquanto a salivação após ouvir a campainha é uma resposta condicionada. O estímulo neutro criado no início pelo som da campainha converteu-se em estímulo condicionado, como um sinal de que o estímulo incondicionado (comida) está prestes a aparecer. O processo de condicionamento é aplicável às pessoas e a todo tipo de animal. Todavia, quando se apresenta repetidamente um estímulo condicionado, mas sem associá-lo a um estímulo incondicionado, aquele deixa de provocar a resposta. Quando o estímulo condicionado já não provoca uma resposta, é porque o reflexo condicionado se extinguiu. Por outro lado, a reaparição de uma resposta condicionada extinta previamente após um período de descanso é conhecida como recuperação espontânea. Também a generalização de estímulos faz com que a resposta condicionada se produza diante deestímulos similares ao condicionado. Condicionamento operante – Edward Thorndike descobriu o condicionamento operante, também denominado aprendizagem por tentativa e erro. Trata-se também de uma aprendizagem por associação. O pesquisador coloca um rato faminto em uma jaula de teste, onde existe uma alavanca em um dos lados. Quando o rato percebe que recebe pontualmente comida quando pressiona a alavanca, a pressão seguinte sobre ela vai aumentando acima da média. Enquanto o condicionamento clássico é uma formação de uma relação de previsão entre dois estímulos – o condicionado e o incondicionado –, o condicionamento operante é a formação de uma relação de previsão entre uma resposta e um estímulo. Enquanto o condicionamento clássico modifica as propriedades de respostas reflexas a determinados estímulos, o condicionamento operante modifica a frequência de conduta – denominadas operantes – que ocorrem, seja de forma espontânea ou sem que haja estímulos identificáveis. Em geral, as condutas que são recompensadas tendem a se repetir, enquanto as condutas que têm consequências adversas – mesmo que não sejam necessariamente dolorosas – não se repetem. Aparentemente, o condicionamento operante e o clássico são opostos, uma vez que implicam relações completamente diferentes entre o estímulo e a resposta. O condicionamento clássico representa o relacionamento de dois estímulos, enquanto o condicionamento operante significa o relacionamento de um estímulo com uma resposta. Deve haver um intervalo ótimo entre a resposta e o reforço e pode variar dependendo do tipo de tarefa envolvida. No condicionamento clássico, o sujeito aprende que um certo estímulo prevê um acontecimento posterior. No condicionamento operante, o animal aprende a prever as consequências da sua própria conduta. A aprendizagem por observação – ou por imitação, moldagem ou aprendizagem social – é mais complexa que os condicionamentos anteriores. Ela é adquirida através de análise da conduta de outro sujeito. Tanto os animais como os seres humanos tendem a imitar comportamentos. 170 UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS Albert Bandura realizou várias pesquisas sobre a aprendizagem social. Chegou à conclusão de que nesta intervém uma série de processos básicos. Para a aquisição de determinada conduta, primeiro se expõe um modelo ao observador com o comportamento que se pretende instaurar. Na primeira fase, o observador presta atenção nessa conduta e reconhece as suas prioridades diferenciadoras. Na segunda fase de retenção, a conduta desejada é armazenada ativamente na memória. Em terceiro lugar, guiado pela memória, o observador executa a conduta que aceitou como própria. Por fim, uma vez reproduzida essa conduta, habitua-se mediante princípios de condicionamento operante, ou seja, a conduta é confrontada com consequências que aumentam ou diminuem a sua frequência. Como vemos, o Comportamento Organizacional (CO) reflete a profunda e intensa interação que ocorre entre o ambiente organizacional – o ambiente interno que existe dentro da organização – e os participantes da organização. O CO é uma característica ligada ao comportamento das pessoas na organização. De um lado, a organização influencia os seus membros afetando seus comportamentos, suas formas de pensar e suas atitudes. Em contrapartida, as pessoas influenciam as organizações em que atuam afetando sua administração, estrutura e cultura organizacional. Essa influência recíproca dinamiza, energiza e provoca mudanças no Comportamento Organizacional. Aprendizagem emocional – as emoções constituem parte integrante da natureza humana. Ensinar emotividade ajuda a melhorar a inteligência emocional. A aprendizagem emocional não consiste apenas em deixar os sentimentos fluírem, mas aprender a compreendê-los e melhorá-los. A inteligência emocional está ligada ao conhecimento das emoções próprias e alheias, em sua importância e suas causas. A habilidade emocional significa saber dirigir as emoções a partir do seu conhecimento. Isso permite conduzir as próprias emoções de maneira que melhore o desenvolvimento pessoal e a qualidade de vida. A aprendizagem emocional permite saber como, onde e quando expressar os sentimentos e como eles afetam os outros. Também ajuda as pessoas a serem responsáveis pelos efeitos dos seus sentimentos, além de facilitar o sentimento de comunidade. Segundo Zanelli (2004), essa aprendizagem ajuda a compreensão das emoções e a conscientização da importância dessa sensibilidade, permitindo que as habilidades racionais trabalhem em conjunto com as emocionais, melhorando a capacidade de relacionamento humano e interpessoal. Aprendizagem em equipes – embora se use o termo criação do conhecimento organizacional, a organização não pode criar conhecimento em si sem a iniciativa dos indivíduos e das interações que ocorrem no grupo. Aprendizagem organizacional – as organizações aprendem somente por intermédio de indivíduos que aprendem. O aprendizado individual não garante o aprendizado organizacional. Mas, sem ele, o aprendizado organizacional não acontece. A aprendizagem organizacional é a capacidade de gerar novas ideias TÓPICO 2 | PREPARANDO PARA A MUDANÇA 171 alavancadas pela capacidade de generalizá-las por toda a organização. É a maneira pela qual as organizações constroem, mantêm, melhoram e organizam o conhecimento e a rotina em torno da atividade e culturas, a fim de usar as aptidões e habilidades de sua força de trabalho de modo cada vez mais eficiente. Como vimos, o processo de aprendizagem possui diferentes maneiras de ser aplicado, basta uni-las ou usá-las de maneira correta, de acordo com a necessidade, para que os resultados sejam os melhores. 172 Neste tópico, você viu que: • A velocidade com que as mudanças ambientais vêm acontecendo promove uma luta constante pela flexibilidade estrutural das organizações. Sendo assim, tornam-se predominantemente importantes estudos que revelem segredos sobre como aumentar a velocidade de adaptação às idiossincrasias em torno de cada organização. • Neste cenário o movimento de Desenvolvimento Organizacional (DO) surgiu como um conjunto de ideias a respeito do homem, da organização e do ambiente, no sentido de proporcionar o crescimento e o desenvolvimento segundo as suas potencialidades. • Em toda essa restruturação promovida pelo DO, o comportamento das pessoas ganha grande atenção. Podemos pressupor então certa valorização de recursos intangíveis na constituição da vantagem competitiva sustentável. Assim, torna- se preponderante a compreensão dos processos que cercam a aprendizagem organizacional – socialização, externalização, combinação e internalização. A ideia é aumentar a capacidade de adaptação das equipes. Assim, embora o conhecimento seja o recurso mais disputado, a velocidade em absorvê-lo e aperfeiçoar a estrutura organizacional está em primeiro lugar. RESUMO DO TÓPICO 2 173 AUTOATIVIDADE 1 Quais são as principais técnicas de DO (Desenvolvimento Organizacional)? 2 Há três fases distintas utilizadas pelo DO num processo dinâmico. Cite cada uma delas. 3 Segundo Chiavenato (2010), existem quatro modos de conversão do conhecimento. Sendo o conhecimento criado por meio da interação do conhecimento tácito e explícito, cite os modos de conversão que formam a espiral do conhecimento. 4 O que é aprendizagem latente? 5 Cite as diversas maneiras de explicar o processo de aprendizagem. 174 175 TÓPICO 3 MONITORANDO PESSOAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Em ambientes tão complexos como os que cercam as organizações, fica quase impossível administrar recursos tão escassos. Os requisitos para coordenar um número tão grande de variáveis são quase sobre-humanos. Então para conduzir ambientes tão complexos em direção a objetivos organizacionais tão claros, torna-se necessário um sistema de informação que municie o processo decisório de forma eficiente. 2 REVELANDO AS NECESSIDADES DE INFORMAÇÃOA informação é muito importante para que se obtenha um resultado gratificante, desde que ela seja usada de forma correta. Ela pode ser usada de várias maneiras, mas, dentro de uma organização, o meio principal é através de reunião onde podem ser adquiridas as informações, consultas, decisões, soluções de problemas ou inovações. 2.1 ACESSO E USO DA INFORMAÇÃO Tendo como base o processo decisório, a informação pode tomar diferentes formatos. A origem do problema tende a influenciar o meio de interpretar a informação. Assim, o acesso e uso da informação constituem uma vantagem competitiva estratégica em um mundo extremamente competitivo. Contudo, não basta apenas um sistema de informação. É preciso que na outra ponta existam pessoas capazes de transformar rapidamente a informação em ações. A existência de informações é a base para a tomada de decisões. Se o assunto é de natureza estratégica, as decisões terão fatalmente um impacto sobre toda a organização. Se o assunto é de natureza tática ou operacional, seu impacto é mais restrito. O consumo da informação depende da capacidade da organização de utilizar a informação como componente crítico para sua vantagem competitiva, reduzindo em todos os níveis a incerteza nos seus processos de tomada de UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 176 decisão. Para tanto, uma informação pode ser caracterizada de várias formas de acordo com sua aplicação. Como a informação degrada com o passar do tempo, a dimensão tempo determina sua utilidade. Ou seja, quanto mais demorada a passagem da informação, menor a probabilidade de sua utilidade. Assim, as reuniões são ferramentas indispensáveis na comunicação organizacional. Fazendo parte do cotidiano das organizações, representam uma forma de intercâmbio de ideias e assuntos entre as pessoas. Segundo Chiavenato (2010), as reuniões podem ser utilizadas para alcançar vários objetivos: a) Informações: o objetivo de uma reunião pode ser transmitir informações a respeito de assuntos ou decisões a serem tomadas, como as reuniões de diretoria, de treinamento ou de transmissão de dados e informação. FIGURA 51 – AS CARACTERÍSTICAS DA INFORMAÇÃO Origem Interna Externa Amplitude Restrita Ampla Formato Detalhada Global Tempo Histórica Preditiva Atualidade Atualizada Não atualizada Precisão Muita Pouca Utilização Frequente Rara Característica da Informação Operacional Nível Gerencial Estratégico FONTE: Chiavenato (2010, p. 338) b) Consulta: o propósito de uma reunião pode ser conhecer a opinião de várias pessoas a respeito de determinados assuntos ou problemas, colher informações e sugestões, pontos de vista e pareceres pessoais. c) Decisão: o propósito de uma reunião pode ser envolver várias pessoas no processo de tomar decisões em relação a algum assunto, reunir diferentes cabeças para chegar a um consenso sobre determinadas decisões. d) Solução de problemas: o propósito de uma reunião pode ser, apresentado um problema, solicitar que todos participem de sua solução. Cada um dos participantes da reunião traz o seu conhecimento e especialidade técnica para juntos solucionar problemas complexos e que envolvem diferentes áreas da organização. TÓPICO 3 | MONITORANDO PESSOAS 177 e) Inovação: o propósito de uma reunião pode ser estimular a criatividade das pessoas, liberando-as para que possam apresentar ideias e sugestões inovadoras e criativas. QUADRO 5 – AS CARACTERÍSTICAS DA INFORMAÇÃO Tipo de comunicação Tamanho da audiência Duração da mensagem Consumo Exemplos Interpessoal Pequeno Curta Variável Conversas, reuniões informais, fofocas, assuntos de família, conselhos, instruções administrativas etc. Acadêmica/ educacional Grande Longa Longo Classes, aulas teóricas, workshops, treinamento, cursos etc. Cultura Variado Longa Curto Concertos, recitais, teatro, literatura, poesia etc. Entretenimento Variado Curta Curto Esportes, cinema, shows, televisão etc. Informação Grande Curta Longo Jornais, notícias econômicas, informações gerenciais, revistas etc. FONTE: Chiavenato (2010, p. 338) Para obter uma informação, existem várias metodologias, como está explicado no quadro anterior: a pessoa que está procurando saber algo não se prende a um determinado tipo de informação, e pode ver a informação de maneiras diferentes. 2.2 NECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO A comunicação é a base para um bom relacionamento na organização, por isso é tão importante. A necessidade de informação é grande em relação às pessoas, principalmente para que sejam tomadas as melhores decisões. Hoje em dia não basta a estrutura de hierarquia e autoridade para se manter a harmonia tão necessária a ambientes organizacionais. Toda organização deve ser construída sobre uma sólida base de informação e de comunicação. Todas as pessoas da organização devem assumir suas responsabilidades através UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 178 da propagação da informação. Em plena era da informação, cada vez mais as organizações precisam de sistemas informacionais adequados para lidar com a complexidade ambiental e para transformar seus funcionários em parceiros e agentes ativos da inovação e da mudança. Uma das mais importantes estratégias para a gestão de pessoas consiste na intensa comunicação e retroação com os colaboradores. O sistema de informação proporciona visibilidade adequada principalmente para os gerentes de linha. Assim, os líderes podem navegar e trabalhar perante as metas e objetivos. Como as necessidades de RH da organização mudam conforme os imperativos que a organização recebe do ambiente, ele depende da tecnologia da informação para tomar suas decisões. Essa tecnologia está se desenvolvendo rapidamente para suportar o sistema. Os avanços tecnológicos permitem que os sistemas de informação de RH sejam sofisticados e abertos para todos os clientes internos e externos. Como regra geral, os gerentes de linha devem enfatizar a comunicação com os demais membros da organização, não somente porque a comunicação é o meio primário de conduzir as atividades da organização, mas também porque ela é a ferramenta básica para satisfazer as necessidades humanas dos funcionários. Existe necessidade de informação – com ambientes organizacionais tão dependentes dos recursos humanos –, torna-se preponderante o processamento de muitas informações a respeito das pessoas. Assim os especialistas de staff e os gerentes de linha podem tomar decisões eficazes e adequadas. O sucesso de um programa de RH depende basicamente de como o sistema informacional é planejado e desenhado. Inicialmente, os sistemas de informação sobre as pessoas eram privativos da área de RH, quando ela monopolizava todas as decisões a respeito dos colaboradores. Depois, os sistemas de informação de RH foram descentralizados e passaram a incluir os gerentes de linha, para que esses pudessem tomar suas decisões a respeito dos subordinados. Chiavenato (2005) revela que os sistemas de informação estão se abrindo também para os funcionários, a fim de que eles recebam informação e retroação a respeito de seu próprio desempenho e situação na organização – esse processo se chama e-employer. A informação, como já dito, deve ser enfatizada através dos gerentes para os demais funcionários, para que isso ajude na boa relação interpessoal dentro da organização e, consequentemente, no bom desempenho da empresa. 2.3 BANCO DE DADOS DE RH A tecnologiaaliada a uma administração com ênfase na comunicação forma um arsenal de ferramentas que podem ampliar muito a eficiência do processo de decisão. O banco de dados possui dados interligados que permitem obter informações de diferentes áreas da organização. E ainda mais, com a evolução dos sistemas computacionais, o cruzamento de informações TÓPICO 3 | MONITORANDO PESSOAS 179 possibilita fazer inferências sobre diversas perspectivas ambientais. Isso porque, segundo Chiavenato (2005), o banco de dados funciona como um sistema de armazenamento e acumulação de dados devidamente codificados e disponíveis para o processamento e obtenção de informações. Dados são os elementos que servem de base para a formação de juízos ou para a resolução de problemas. Um dado é apenas um índice ou um registro. Todavia, quando classificados, armazenados e relacionados entre si, os dados permitem a obtenção de informação. Assim, os dados isolados não são significativos e não possuem informação. Os dados exigem processamento (classificação, armazenamento e relacionamento) para que possam ganhar significado e consequentemente informar. Assim, a informação apresenta significado e intencionalidade, aspectos fundamentais que a diferenciam do dado simples. Do ponto de vista da teoria das decisões, a organização pode ser visualizada como uma série estruturada de redes de informação que ligam as necessidades de informação de cada processo decisório às fontes de dados. Isso só é possível porque os dados estão logicamente interligados e, por isso, permitem uma atualização e processamento integrados e simultâneos. Isso reduz incertezas e erros ocorridos em razão de arquivos duplicados. É muito comum existir vários bancos de dados relacionados logicamente entre si por meio de um software (programa) que executa as funções de criar e atualizar arquivos, recuperar dados e gerar relatórios. Conforme Chiavenato (2005), a gestão de pessoas requer a utilização de vários bancos de dados interligados que permitem obter e armazenar dados a respeito de diferentes estratos ou níveis de complexidade, a saber: a) Cadastro de pessoal: com dados pessoais sobre cada funcionário. b) Cadastro de cargo: com dados sobre os ocupantes de cada cargo. c) Cadastro de seções: com dados sobre os funcionários de cada seção, departamento ou divisão. d) Cadastro de remuneração: com dados sobre os salários e incentivos salariais. e) Cadastro de benefícios: com dados sobre os benefícios e serviços sociais. f) Cadastro de treinamento: com dados sobre programas de treinamento. g) Cadastro de candidatos: com dados sobre candidatos a emprego. h) Cadastro médio: com dados sobre consultas e exames médicos de admissão, exames periódicos etc. i) Outros cadastros: dependendo das necessidades da organização, da ARH, dos gerentes de linha e dos próprios funcionários. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 180 FIGURA 52 – EXEMPLO DE BANCO DE DADOS DE RH Entrada de dados Saída de informações Banco de dados Cadastro de pessoal Cadastro de cargos Cadastro de seções Cadastro de remuneração Cadastro de benefícios Cadastro médico FONTE: Chiavenato (2004, p. 466) O termo “processamento de dados” mostra a variedade de atividade que ocorre nas organizações, nos grupos sociais e entre as pessoas. Assim, o processamento de dados é a atividade que consiste em acumular, agrupar e cruzar dados para obter outros dados ou transformá-los em informações. A manutenção e atualização dos bancos de dados é responsabilidade dos seus usuários, isto é, dos especialistas de RH, dos gerentes de linha e dos próprios colaboradores. Todos estão envolvidos na tarefa de manter os bancos de dados devidamente atualizados. Quando centralizam a administração dos bancos de dados na ARH, muitas empresas precisam fazer recadastramento ou recenseamentos periodicamente para atualização dos dados pessoais de seus funcionários, principalmente em relação a cursos externos, estado civil, mudança de endereço, participação em eventos sociais etc. TÓPICO 3 | MONITORANDO PESSOAS 181 FIGURA 53 – INSUMOS BÁSICOS PARA O BANCO DE DADOS Identificação pessoal: Nome Endereço Data e local de nascimento Nacionalidade Filiação Estado Civil Nome da esposa e filhos Data e local de nascimento da esposa e filhos Dados de admissão: Data de admissão Cargo inicial Salário inicial Nº de dependentes Empresas onde trabalhou Nº de registros Nº de conta bancária Equipe de trabalho Dados pessoais: Empresas onde trabalhou Data de admissão e demissão Endereços Cargos ocupados Salários percebidos Dados de progresso: Cargos ocupados Progresso na carreira Avaliação do desempenho Cursos internos efetuados Cursos externos efetuados Resultados nos testes de seleção Conhecimentos Habilidades e capacidades FONTE: Chiavenato (2004, p. 467) 3 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DE RH Trazendo a possibilidade de integração entre as áreas (departamentos) de uma organização, possibilita-se o monitoramento e aprovisionamento de recursos, uma função necessária haja vista a escassez de recursos e a alta competitividade dos mercados. 3.1 CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DE RH Como já relatado, para a teoria das decisões, a organização é uma série estruturada de redes de informação que ligam as necessidades de informação de cada processo às fontes de dados. Dentro de cada organização existem vários sistemas de informações que, por sua vez, são compostos de bancos de dados. Inevitavelmente o conceito de sistema de informação está intimamente relacionado com a tecnologia da informação e, necessariamente, a presença do computador ou rede de microcomputadores e seus programas específicos para processar dados e informações. Assim, existem dois tipos de sistemas de informação quanto ao tipo de processamento: o sistema centralizado em mainframe e o sistema descentralizado em redes integradas de micros. A UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 182 tendência caminha para a distribuição de redes locais de micros que preservem a independência de cada unidade organizacional assegurando, assim, o acesso a grandes volumes de dados. Segundo Chiavenato (2005), existem dois objetivos básicos para o sistema de informação sobre os funcionários. Um dos objetivos é administrativo, isto é, reduzir os custos e tempo de processamento da informação. O outro é proporcionar suporte para a decisão, ou seja, assistir os gerentes de linha e funcionários para que tomem as melhores decisões. Assim, o sistema de informação de RH pode estar dedicado aos especialistas de RH, à alta direção, aos gerentes de linha e aos funcionários em geral. Quase sempre são dedicados a todos esses usuários, simultaneamente, geralmente por intermédio de terminais distribuídos pela organização. A montagem de um sistema de informação deve levar em consideração o conceito de ciclo operacional usado tradicionalmente em contabilidade. O conceito de ciclo operacional localiza cadeias de eventos temporários dentro da organização e permite identificar um ponto inicial e um ponto final que são ligados entre si por cadeias de eventos. Especificados os pontos inicial e final, evita-se o risco de projetar um sistema de informação apenas para uma parte dos fluxos de informações, uma vez que a dimensão do processo decisório é perfeitamente definida. Sendo assim, o sistema de RH constitui a abordagem mais abrangente a respeito da força de trabalho e serve para análises e ações da área de gestão de pessoas. Então, atende às necessidades dos especialistas de RH. O primeiro passo baseia-se em saber exatamente quais as necessidades de informação que a gestão de pessoas tem. Geralmente, o sistema de informação para a ARH, segundo Chiavenato (2005), cobre os seguintes aspectos: a) Total alinhamento com o planejamento estratégico de RH, como base informacional para que ele possa ser devidamente implementado. b) Formulação de objetivos e programas de ação em RH. c) Registros e controlesde pessoal para efeito operacional de folha de pagamento, administração de férias, 13º salário, faltas e atrasos, disciplina etc. d) Relatório sobre remuneração, incentivos salariais, benefícios, dados de recrutamento e seleção, planos de carreiras, treinamento e desenvolvimento, higiene e segurança do trabalho, como base para o processo decisório gerencial. e) Relatórios sobre cargos e seções. f) Outras informações gerenciais relevantes para a organização e para as pessoas. TÓPICO 3 | MONITORANDO PESSOAS 183 Algumas organizações mais conservadoras limitam certas informações exclusivamente ao órgão de ARH, enquanto outras mais inovadoras abrem totalmente as informações para todos os usuários, inclusive aos colaboradores. FIGURA 54 – BANCO DE DADOS PARA UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO PARA ARH Entradas Saídas Inclusões no cadastro Folha de pagamento Relatórios contábeis Relatórios legais (INSS, IR, RGTS) Relatório de absenteísmo Relatório de férias Outras informações Exclusões no cadastro Alterações do cadastro Frequência ou cartões de ponto Vales e adiantamentos Outras entradas Banco de dados Cadastro de pessoal Cadastro de cargos Cadastro de seções Cadastro de remuneração Cadastro de benefícios Cadastro de treinamento FONTE: Chiavenato (2004, p. 469) O sistema de informação gerencial (SIG) é um sistema planejado de colher, processar, armazenar e disseminar informação, de modo a permitir a tomada de decisões eficazes pelos gerentes de linha envolvidos. As necessidades de informação gerencial em uma organização são amplas e exigem a participação de especialistas de RH, dos próprios gerentes de linha e dos funcionários. O sistema de informação gerencial ocupa um papel importante no desempenho dos gerentes na condução de seus subordinados. Para a montagem do SIG, a primeira providência é saber exatamente quais as informações que os gerentes de linha precisam para assumir a responsabilidade de linha de cuidar de seus subordinados. A segunda providência é adaptar o sistema às necessidades dos gerentes de linha. A terceira é verificar quais informações devem ser prestadas através de relatórios escritos e quais as que devem ser acessadas nos terminais de computadores. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 184 FIGURA 55 – SISTEMA DE INFORMAÇÃO GERENCIAL DE RH Acesso do gerente Saída de informações Sistema de informação gerencial • Quanto ganha o funcionário? • Quando foi admitido na empresa? • Quando deverá entrar em férias? • Qual é o cargo do funcionário? • Qual é a sua experiência profissional? • Quais são as habilidades e conhecimentos? • Quais os programas de treinamento feitos? • Quais suas avaliações de desempenho? • Quais os cargos já ocupados na empresa? • Quais as metas e objetivos a alcançar? • Quais os progressos já feitos? • Quanto falta para completar as metas? • Quais as características pessoais? • Pode receber novas responsabilidades? • Deve receber supervisão mais estreita? • Quais as tarefas já executadas pelo funcionário? • Que tarefas poderia receber no futuro? • Qual o potencial de desenvolvimento? Acesso do funcionário Saída de informações Sistema de informação aos funcionários • Qual o meu salário ? • Quanto deverei ganhar este mês? • Quantas horas de trabalho já fiz? • Qual é o meu cargo? • Qual é a minha faixa salarial? • Quais são minhas possibilidades de carreira? • Quais os programas de treinamento a fazer? • Quais são minhas avalizações de desempenho? • Quais são os cargos que já ocupei na empresa? • Quais as minhas metas e objetivos a alcançar? • Quais os progressos que ja fiz? • Quanto falta para completar as metas? • Quanto eu tenho de depósito de FGTS? • Como está minha situação previdenciária? • Quanto eu tenho de depósito no PIS? • Quanto eu tenho na minha conta corrente bancária? • Qual a minha situação na empresa? • Qual o meu potencial de desenvolvimento? FONTE: Chiavenato (2004, p. 470) Os funcionários também precisam acessar e receber informações a seu respeito, sobre seu trabalho, cargo, divisão e sobre a organização. Para isto, o sistema de informação precisa também ser ajustado às suas necessidades e conveniências. FIGURA 56 – SISTEMA DE INFORMAÇÃO AOS FUNCIONÁRIOS FONTE: Chiavenato (2004, p. 470) TÓPICO 3 | MONITORANDO PESSOAS 185 Avaliação de sistemas de informação de RH - o sistema de informação de RH representa altos investimentos em termos de software, equipamentos, instalações, treinamento e custos de manutenção. Devido à infinidade de informações a serem colhidas e processadas a respeito dos funcionários, os especialistas de RH devem avaliar cuidadosamente o valor da informação a ser incluída no sistema. A questão é saber exatamente o que manter nos termos atuais e o que transferir para o sistema. O sistema computadorizado aumenta o valor da informação para o gerente de linha na medida em que a fornece de maneira mais fácil e rápida. Muitas organizações avaliam formalmente os efeitos de seus sistemas de informação sobre RH. Frequentemente, as avaliações se baseiam em comentários informais dos gerentes e funcionários recebidos pelo staff de RH. Outro método de avaliação consiste em monitorar os níveis de utilização do sistema. Quanto mais o sistema é utilizado, mais ele se aproxima dos objetivos de eficiência. Um tipo de monitoramento do sistema é o registro da frequência da utilização pelos usuários e quais as utilidades que ele proporciona. Segundo Chiavenato (2005), existem duas medidas para avaliar o sistema de informação de RH. A primeira relaciona-se com as economias de custo decorrentes da redução das atividades administrativas, como redução de níveis de staff, tempo de espera dos gerentes para obter informação, custos de malote. A segunda envolve o acompanhamento dos efeitos das informações do sistema para os tomadores de decisão. Embora mais difícil de implantar, esta medida mostra os reais benefícios do sistema. Na verdade, as organizações podem ser divididas em duas classes, em relação aos seus investimentos em tecnologia: aquelas que criam ativos de conhecimento (como sistemas ágeis que incorporam técnicas de solução de problemas) e aquelas que simplesmente automatizam funções de suporte, como a folha de pagamento. Os retornos das primeiras representam três vezes os retornos da segunda. 3.2 SISTEMA DE MONITORAÇÃO DE RH Com o foco nas pessoas e no clima organizacional sadio, não há mais espaço para um regime autoritário que utiliza o sistema de “vigiar e punir”. Embora os sistemas de gestão tenham evoluído, é necessário o monitoramento das informações tão necessárias para uma administração focada em uma visão mais sistêmica. Assim, com as organizações partindo para o empoderamento (empowerment) das pessoas e colocando em suas mãos e cabeças responsabilidade pelas decisões sobre seu trabalho, a ARH não podia ficar de fora. Adaptando algumas argumentações de Chiavenato (2005), a jornada de trabalho é o número de horas diárias ou semanais ou mensais que o funcionário deve cumprir para atender o seu contrato individual de trabalho e satisfazer o acordo coletivo de trabalho. A jornada prevê um determinado horário de entrada e de saída nos dias úteis, com certa tolerância de atrasos ou de antecipações. Prevê também um determinado intervalo para refeições e intervalos para descanso. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 186 Geralmente, esses horários devem ser rigidamente seguidos para que o sistema produtivo seja adequadamente coordenado e não perca eficiência pela ausência de pessoas que o integram. Assim, na maioria das organizações, as pessoas precisam se adaptar à rigidez da jornada de trabalho. Quando não conseguem, sofrem descontos ou punições pelo não cumprimento do horário de trabalho. Muitas organizações negociam com os sindicatos algumas alternativas para adequar a jornada de trabalho às suas necessidades e às conveniências de seus funcionários. Segundo Chiavenato (2005), entreessas alternativas de jornada de trabalho estão as seguintes: a) Calendário anual: o calendário anual de trabalho estabelece os dias de trabalho e as chamadas pontes (dias úteis que ficam entre os feriados e os sábados ou domingos em que não se trabalha). Como nesses dias a ausência é bastante elevada, a ideia é não trabalhar nessas pontes e compensar as horas desses dias. A compensação pode ser feita em alguns sábados ou estendendo a jornada nos dias das diversas semanas, trabalhando alguns minutos para pegar a folga negociada. Com isso, os funcionários podem aproveitar o feriado, a ponte e o final de semana em um período de descanso mais prolongado. A empresa lucra pelo fato de evitar o absenteísmo e ter a sua força de trabalho aplicada. b) Férias coletivas: funcionam como meio de simplificação do calendário e como redução de custos laborais. Como cada funcionário tem direito a 30 dias de férias por ano, cada 12 funcionários requerem um funcionário adicional para cobertura de sua ausência de férias para manter a programação de trabalho. Além disso, existem programas de trabalho alternativos e flexíveis oferecidos pelas organizações, principalmente quando os funcionários apresentam variedade de necessidades e de interesses. As três razões que suportam esses programas alternativos são: resposta da organização às necessidades de seus funcionários, o apoio para melhorar a imagem da organização e a adoção de programas de assistência trabalho-família. Os principais programas alternativos e flexíveis, segundo Chiavenato (2005), são: a) Semana de trabalho reduzida. A jornada semanal de 5 dias de 8 horas, por exemplo, é programada para ser realizada em menor número de dias. A forma mais comum é de 4 dias de 10 horas, totalizando 40 horas de trabalho semanais. A vantagem do sistema é permitir que o funcionário tenha 3 (três) dias consecutivos de descanso semanal, beneficiando-se com mais tempo de lazer e reduzindo custos operacionais da empresa com ônibus, refeitórios etc. Há consistente redução do absenteísmo e melhoria do desempenho. A desvantagem potencial reside no aumento da fadiga no trabalho e possíveis problemas de ajustamento familiar, possíveis queixas do cliente e problemas sindicais. TÓPICO 3 | MONITORANDO PESSOAS 187 b) Horário flexível de trabalho. O trabalho é realizado em um programa ajustável de horas diárias que cada funcionário faz a seu modo. É denominado flextime ou ainda horário móvel. Trata-se de uma programação de trabalho que permite ao funcionário certa escolha no seu padrão de horas diárias. Existe um horário núcleo que é um bloco central imutável de tempo em que todos os funcionários devem estar presentes no trabalho. Fora desse horário, eles escolhem livremente as horas de trabalho diário, isso é, suas entradas e saídas. O horário flexível permite maior autonomia às pessoas e maior responsabilidade pelo trabalho, pois os madrugadores podem chegar mais cedo e sair mais cedo, enquanto os que gostam de dormir mais poderão ingressar mais tarde e sair mais tarde. Permite também atender os compromissos pessoais e da família, desde que se cumpram 40 horas semanais e se realize o trabalho. Para isso, é necessário um banco de horas para acumular as horas trabalhadas de cada funcionário. • Melhora a atitude e moral das pessoas • Acomoda o trabalho dos pais • Diminui os atrasos ao trabalho • Reduz os problemas do tráfego: as pessoas podem evitar períodos de con- gestionamentos • Acomoda aqueles que desejam chegar mais cedo ao trabalho • Aumenta a produção • Facilita a programação pessoal de com- promissos, como médicos e dentistas • Acomoda os programas de lazer das pessoas • Diminui o absenteísmo • Diminui a rotatividade • Falta de supervisão durante algum tempo do trabalho • Pessoas-chave não estão presentes em alguns momentos • Problemas de acomodação de pessoas, cujas saídas são entradas para outras • Pessoas que abusam do programa • Dificuldade em planejar programas de trabalho • Problemas para controlar as horas trabalhadas ou acumuladas • Dificuldade de programar reuniões em momentos mais convenientes • Dificuldade de coordenar projetos • Poucas pessoas disponíveis em alguns momentos Vantagens Desvantagens FIGURA 57 – AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS PROGRAMAS DE FLEXTIME FONTE: Chiavenato (2004, p. 475) c) Trabalho compartilhado. Duas ou mais pessoas compartilham ou executam um mesmo cargo. Um mesmo cargo de tempo integral é dividido entre duas pessoas, cada qual trabalhando meia jornada de trabalho. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 188 d) Trabalho remoto. O trabalho é realizado em casa e o funcionário não precisa comparecer na organização. É o chamado trabalho em casa (home office) e está ganhando muitos adeptos no mundo todo. Inclui uma variedade de alternativas, indo desde o autoemprego e atividade empreendedora baseada no lar, até o trabalho para um empregador externo com liberdade para passar parte ou totalidade do tempo de trabalho em casa. A tecnologia da informação e o computador permitem interligar o escritório de casa com os computadores centrais da empresa e transacionar dados e informações com facilidade. O trabalho doméstico libera a pessoa do trânsito, de roupas adequadas, de ocupar uma sala com toda a infraestrutura de secretaria, telefone etc. As vantagens trazidas por esse sistema apontam para maior produtividade, menos distrações, a sensação de ser o próprio chefe e dispor de mais tempo para si mesmo. O lado negativo está na dificuldade em separar o trabalho da vida pessoal e tempo dedicado à família. O isolamento e a perda de visibilidade pelos outros também podem acontecer. Mas a sensação de autonomia e independência é muito grande. e) Trabalho parcial. O trabalho é regular, mas não é realizado em tempo integral. Nesse sistema, o trabalho semanal é realizado em tempo menor que as 40 horas. Engloba os chamados funcionários contingenciais – os de tempo parcial, os temporários e os autoempregados. As pessoas são convocadas e contratadas em determinados períodos em resposta a necessidades variáveis das organizações. No entanto, essa flexibilidade pode redundar em menor produtividade e em implicações sociais e econômicas, como menores benefícios sociais. 4 O BALANÇO SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES Inúmeras organizações gastam rios de dinheiro em investimentos sociais para beneficiar seus empregados e patrocinar projetos sociais para as comunidades onde atuam. Recentemente, algumas delas perceberam que publicar seus balanços sociais constitui uma excelente maneira de melhorar sua imagem perante os clientes e a sociedade em geral. Alguns setores defendem a obrigatoriedade de publicação do balanço social, alegando que a comunidade deve saber quem está comprometido com a melhoria das condições de vida. Seguindo esse pensamento, em alguns países da Europa, o balanço social é obrigatório por lei. Outros setores acham que as organizações têm o direito de decidir se publicam ou não o seu balanço social. O importante é que muitas organizações se adiantaram e estão publicando espontaneamente os seus balanços sociais, mas mesmo assim temos muito que evoluir nesse aspecto. TÓPICO 3 | MONITORANDO PESSOAS 189 Responsabilidade social das organizações - o balanço social põe em evidência a responsabilidade social da organização. A responsabilidade social não significa simplesmente a atuação socialmente responsável da organização e de seus membros, nem atividades de beneficência, mas, sobretudo, os compromissos da organização com a sociedade em geral e, de forma mais intensa, com a comunidade com a qual está em contato mais íntimo. O balanço social - é um documento que recapitula os principais dados que permitam apreciar a situação da organização no domínio social, registrar as realizações efetuadas e medir as mudanças ocorridas no curso do ano em referência e dos anos anteriores. Em geral, o balanço social inclui informações sobre o emprego,remuneração, encargos sociais, condições de higiene e segurança, produtividade do pessoal, disfunções (como rotatividade, absenteísmo, conflitos trabalhistas), relações trabalhistas etc. O balanço social, no entanto, não deve retratar apenas as relações entre a organização e seus membros, mas, sobretudo, as relações entre a organização e a sociedade em seu conjunto. Segundo Chiavenato (2005), o balanço social deve constituir um avanço da contabilidade tradicional e envolver necessariamente um ativo social e um passivo social. No entanto, o ser humano e a sociedade não podem ser reduzidos a uma simples equação de igualdade entre um ativo e um passivo. Mas, se a organização gasta algo com o chamado fator humano, ela deve ter uma remuneração compensatória por isso, ou seja, a cada custo organizacional deve corresponder um benefício em contrapartida. Assim, surgem duas ideias básicas: de um lado, a de que as pessoas constituem um ativo para a organização; e de outro, que se torna necessário conhecer o custo de obtenção e manutenção desse ativo e da sua lei de amortização e de retorno. Daí, a noção capitalista de que todo ativo deve ser rentável, tendo em vista o objetivo da organização, que é o lucro. Todavia, no mundo moderno o capital financeiro está cedendo lugar ao capital intelectual. Esse é um ativo intangível e de difícil mensuração e avaliação, mas constitui o ativo que mais traz retornos à organização e é indiscutivelmente o principal motor que garante o sucesso organizacional. Vale a pena investir nele. Então, o que é o capital intelectual? É a soma de tudo o que você sabe. Em termos organizacionais, o maior patrimônio de uma organização é algo que entra e sai pelas suas portas todos os dias, isto é, são os conhecimentos que as pessoas trazem em suas mentes – sejam sobre produtos, serviços, clientes, processos, técnicas etc. Então esse capital intelectual, que é algo que não se vê, que não é físico e nem ocupa lugar, não é contabilizado pelas tradicionais partidas dobradas e nem equacionado em números quantificáveis, mas que está transformando rapidamente o mundo dos negócios. Isso significa que ter as pessoas certas e saber aplicá-las, mantê-las, remunerá-las, desenvolvê-las e monitorá-las é vital para as organizações de hoje e de amanhã. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 190 LEITURA COMPLEMENTAR EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL Luciano Satler Desenvolver novas formas de aprendizado é um dos resultados que a convergência digital trouxe para os novos modelos de educação A capacidade de aprender é essencial em tempos de transformação. Isso é válido desde a época em que a sociedade evoluiu para a atividade agropastoril, deixando a incerteza da coleta e da caça como únicas possibilidades de alimentação. As tribos que mais rapidamente dominaram as técnicas envolvidas com a agricultura e a domesticação de animais foram as que avançaram com maior sucesso. Em tempos de transição de um modelo de sociedade para outro, aprender mais e mais rapidamente é o único caminho possível para não ser dominado ou substituído por alguém com melhor capacidade de aprendizagem. Isso vale para indivíduos e organizações, sejam elas órgãos governamentais, empresas ou instituições sem fins de lucro. No caso das empresas, vários empreendedores estão descobrindo, não sem sofrimento, que a perda da competitividade pode acontecer muito rapidamente, seja pela introdução de novas tecnologias, seja pelo surgimento de novos players no mercado, com maior competência em processos ou na gestão da marca. Investir na aprendizagem organizacional é a melhor forma de encarar esses tempos de mudanças abruptas. O problema que os departamentos de Recursos Humanos enfrentam hoje é que as demandas por aprendizagem se aprofundaram e foram aceleradas num nível inédito. Os programas tradicionais de treinamento e capacitação já não são suficientes, especialmente os que se baseiam no modelo anterior de difusão do conhecimento: hierarquizado, centralizado e dissociado do cotidiano dos colaboradores. A chamada web 2.0 chega num tempo sem precedentes, em que a informação é criada e difundida em volume e velocidade antes inimagináveis, ultrapassando fronteiras geográficas e culturais antes intransponíveis. Essa avalanche informacional exige que as pessoas aprendam novas maneiras de se comunicar, de acessar informações e desenvolvam padrões de raciocínio. O novo livro de Don Tapscott (A hora da geração digital, Editora Agir Negócios, 2010) demonstra quão radical é a transformação trazida pela convergência digital, em todos os âmbitos da sociedade. TÓPICO 3 | MONITORANDO PESSOAS 191 A Educação a Distância (EAD) entra nesse bojo como uma das mais adequadas formas de se promover a aprendizagem hoje em dia. A EAD está ainda em seus primórdios, em termos de metodologias e tecnologias. No entanto, pode colaborar com a construção de contextos que valorizem a criatividade e promovam a inovação. Na prática, é irreal planejar um programa empresarial de capacitação atualmente sem incluir a EAD e, como parte fundamental dessa estratégia, a adoção da filosofia e dos recursos da web 2.0 como caminhos para a aprendizagem organizacional. Fica mais complexo, porque o conteúdo torna-se menos importante que a relação humana. E bons relacionamentos se constroem com base na confiança mútua, integridade, abordagem participativa e colaboração. A EAD tem alguns fundamentos para ser bem-sucedida, a saber: ● Flexibilidade de tempo, ou seja, posso me dedicar a aprender quando quero. ● Flexibilidade de espaço, que eu possa me dedicar a aprender onde achar melhor. ● Flexibilidade de ritmo, poder escolher o que aprender e no momento em que considerar mais adequado. ● Personalização, ter alguém (não uma máquina ou software) com quem me relacionar sobre os assuntos que desejo aprender. ● Acesso, ter disponível o conteúdo necessário, adequadamente indicado, filtrado e priorizado. ● Administrar o pêndulo entre flexibilidade e rigidez, personalização e massificação, acesso e segredo é o que demonstra a competência da gestão que adota a EAD focada na aprendizagem organizacional. Uma nova cultura de aprendizagem está rapidamente se estabelecendo. Isso afeta as empresas, na medida em que se tornar um ambiente propício à aprendizagem organizacional, é fundamental para a competitividade e perenidade. Cultivar a imaginação, a criatividade e a transparência tem como princípio acreditar que a liberdade deve ser priorizada. Portanto, se a EAD é o caminho da Educação Corporativa, a web 2.0 incorpora a filosofia e as ferramentas necessárias para o pleno desenvolvimento de programas eficazes de capacitação. UNIDADE 3 | DESENVOLVENDO E MONITORANDO PESSOAS 192 Adotar esses novos rumos pede uma visão empresarial que entenda as pessoas como cerne, princípio e finalidade de tudo que se faz. Luciano Satler (É membro do Comitê de Qualidade da ABED - Associação Brasileira de Educação a Distância.) FONTE: Disponível em: <http://www.hsm.com.br/editorias/gestao/educacao-distancia-e- aprendizagem-organizacional. Acesso em: 18 jul. 2012. 193 Neste tópico, você viu que: Com recursos tão escassos fica muito difícil atender todos os requisitos ambientais. Então para conduzir ambientes tão complexos em direção a objetivos organizacionais tão claros, torna-se necessário um sistema de informação que municie o processo decisório de forma eficiente. Existem muitas metodologias que promovem a comunicação participativa. Sendo assim, a correta manipulação da informação é preponderante para o processo de flexibilização da estrutura organizacional. As reuniões empresariais parecem contribuir para as decisões na solução de problemas, ou ainda, para o pensar sobre a renovação dos processos. Como consequência desse processo de pensar em uma estrutura mais flexível, as organizações estão partindo para o empoderamento (empowerment) das pessoas e colocandoem suas mãos e cabeças a responsabilidade pelas decisões sobre seu trabalho; a ARH não podia ficar de fora. Assim, embora os sistemas de gestão tenham evoluído, é necessário o monitoramento das informações tão necessárias para uma administração focada em uma visão mais sistêmica. Vimos também que a implementação de sistemas de informação contribui para integração entre as áreas (departamentos) de uma organização. Possibilita o monitoramento e aprovisionamento de recursos. Uma função primordial, haja vista a escassez de recursos e a alta competitividade dos mercados. Com essa nova percepção, já se sabe que a organização como sistema aberto influencia e é influenciada por inúmeras variáveis ambientais. Como consequência inúmeras organizações gastam rios de dinheiro em investimentos sociais para beneficiar seus empregados e patrocinar projetos sociais nas comunidades onde atuam. Recentemente, algumas delas perceberam que publicar seus balanços sociais constitui uma excelente maneira de melhorar sua imagem perante a sociedade em geral. RESUMO DO TÓPICO 3 194 AUTOATIVIDADE 1 A comunicação é a base para um bom relacionamento na organização, por isso ela é tão importante. Cite os diversos tipos de comunicação. 2 No que consiste uma das maiores estratégias para a gestão de pessoas? 3 O que é um banco de dados? 4 O que é o balanço social? 5 Existem dois objetivos básicos para o sistema de informação sobre os funcionários, segundo Chiavenato (2010). Cite estes dois objetivos e suas funções. 195 REFERÊNCIAS BOHLANDER, George W. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. ______. Gestão de pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. ______. Gestão de pessoas. São Paulo: Campus, 2005. ______. Comportamento organizacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. COASE, Ronald. 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