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1. Para que um cidadão seja punido pela prática de uma conduta delituosa, é preciso que o fato incriminado se produza no intervalo que separa essas duas datas: 1) momento em que a lei que define o fato se torna obrigatória pela sua entrada em vigência; 2) momento em que deixa de ser obrigatória por ter cessado a sua vigência. 2. Entre estes dois limites, entrada em vigor e cessação de sua vigência, pela revogação, situa-se a sua eficácia. Assim, não alcança os fatos ocorridos antes ou depois dos limites extremos: não retroage nem tem ultra-atividade. 3. Ultra-atividade é quando a lei tem eficácia mesmo depois de cessada a sua vigência. Princípio da irretroatividade da lei penal mais severa 1. Diz o Código Penal: Art. 2º. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.” 2. Ou seja, a lei penal só retroage se for pra beneficiar o réu. 3. Fundamento da irretroatividade da lei penal mais severa: sem o princípio não haveria nem segurança nem liberdade na sociedade, uma vez que se poderiam punir fatos lícitos após sua realização. 4. Fundamento da retroatividade da lei mais benéfica: se o próprio Estado reconhece que a pena antiga era muito severa, havendo necessidade de atenuá-la, demonstra renúncia ao direito de aplicá-la. 6. A obrigação civil de reparação do dano causado pelo delito constitui efeito secundário da condenação (CP, art. 91, I). A lei nova descriminante exclui essa obrigação? Não. Diz o art. 2º que, em virtude dela, cessam “os efeitos penais da sentença condenatória”, perdurando, evidentemente, os de natureza civil. Competência para aplicação da lei mais benéfica 1. Se a lei nova mais benigna, nas hipóteses do art. 2º, e seu parágrafo único, do CP, surge antes de o juiz proferir a sentença, o caso não oferece dificuldade, cabendo a ele fazer, na decisão, a adequação penal. 2. Quando, entretanto, a sentença condenatória já transitou em julgado, a quem cabe a nova adequação penal: ao juiz de primeiro grau ou ao Tribunal? Nesse caso, a competência é do juiz de primeiro grau (da execução penal), segundo o que dispõe o art. 66, I, da Lei de Execução Penal (Súmula 611 do STF). Lei intermediária 1. Pode acontecer que o sujeito pratique o fato sob o império de uma lei, surgindo, depois, sucessivamente, duas outras, regulando o mesmo comportamento, sendo a intermediária a mais benigna. Analisando os efeitos das três leis, veremos que a primeira é ab-rogada pela intermediária e, sendo mais severa, não tem ultra-atividade; a intermediária, mais favorável que as outras duas, retroage em relação à primeira e possui ultra-atividade em face da terceira; esta, mais severa, não retroage. Combinação de leis 1. É possível combinar várias leis para favorecer o sujeito? Mais comum a tese da impossibilidade de combinação, mas muitos doutrinadores consideram ser possível. 2. Fazendo alusão a problemática tem-se a Súmula 501 do STJ: Súmula 501, STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. Referências: JESUS, Damásio de. Parte geral – arts. 1 ao 120 do CP. Vol 1. Atualizador: André Estefam. 37 ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
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