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Unidade 1
Princípios do Direito Penal 
Direito Penal
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial 
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autoria 
FERNANDA SILVEIRA COSTA
AUTORIA
Fernanda Silveira Costa
Olá! Sou formada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de 
Minas Gerais, advogada criminalista, pós-graduanda em Direito Público, 
mestre em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Coimbra. 
Tenho experiência técnico-profissional em educação não formal pelo 
programa Erasmus Plus da União Europeia e trabalho como professora 
para a Modular Acadêmico, empenhada cada dia mais em contribuir para 
a educação do nosso país. Foi com grande alegria que aceitei o desafio de 
participar e dar o meu contributo para esse maravilhoso projeto da Editora 
Telesapiens, fazendo parte do elenco de autores independentes. Me sinto 
muito grata por poder contribuir para o seu aprendizado. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
OBJETIVO:
para o início do 
desenvolvimento de 
uma nova compe-
tência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de se apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando forem 
necessários obser-
vações ou comple-
mentações para o 
seu conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundamen-
to do seu conheci-
mento;
REFLITA:
se houver a neces-
sidade de chamar a 
atenção sobre algo 
a ser refletido ou dis-
cutido sobre;
ACESSE: 
se for preciso aces-
sar um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
se fazer um resumo 
acumulativo das últi-
mas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de au-
toaprendizagem for 
aplicada;
TESTANDO:
quando o desen-
volvimento de uma 
competência for 
concluído e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
Princípios constitucionais Penais..........................................................12
Introdução ........................................................................................................................................... 12
Princípio da Reserva Legal ..................................................................................................... 15
Princípio da Anterioridade da Lei Penal .......................................................................... 16
Princípio da Individualização da Pena ............................................................................. 17
Princípios da Intervenção Mínima, da Subsidiariedade e da 
Fragmentariedade .......................................................................................................................... 18
Princípio da Insignificância ou da Criminalidade de Bagatela ....................... 19
Princípio da Adequação Social ............................................................................................. 20
Princípio Ne bis in idem ..................................................................................20
Princípio da Intranscendência da Pena ou da Personalidade ........................ 21
Princípio da limitação das penas ou da humanidade .......................................... 21
Princípio da Presunção de Inocência ou Presunção de Não 
Culpabilidade ..................................................................................................................................... 21
Teoria da Lei Penal ..................................................................................... 24
Interpretação da lei penal .........................................................................................................28
Analogia ................................................................................................................................................ 30
Lei penal no tempo, no espaço e em relação às pessoas .............................. 30
Conflito aparente de leis penais ...........................................................................................32
Teoria do Crime ............................................................................................34
Fato típico ............................................................................................................................................. 36
Fato ilícito ............................................................................................................................................. 39
Fato culpável...................................................................................................................................... 39
Etapas da realização do crime ............................................................................................. 40
Concurso de crimes e concurso de pessoas .............................................................42
Causas de Exclusão da Tipicidade, Ilicitude e da Culpabilidade ...45
9
UNIDADE
01
Direito Penal
10
INTRODUÇÃO
Por vezes, a primeira indagação feita pelo aluno quanto à disciplina 
de Direito Penal diz respeito à sua denominação. Por que Direito Penal? 
Por que não Direito Criminal ou outra denominação qualquer, já que as 
medidas dessa área jurídica têm em vista evitar os crimes? Para responder 
essa pergunta temos, primeiro, que esclarecer que essa discussão não 
se encontra pacificada na doutrina e que ambas as denominações são 
utilizadas em nosso sistema jurídico. A nossa Constituição, por exemplo, 
difunde a expressão Direito Penal, entretanto, o local onde tramitam 
as ações penais é denominado Vara Criminal, e o advogado que milita 
nessa área é chamado de advogado criminalista. O Brasil, desde sua 
independência, sempre utilizou a expressão Direito Penal, exceto no 
período de vigor do Código de 1830, chamado de Código Criminal do 
Império, como bem coloca Greco (2012, p. 2). Os autores que defendem 
essa nomenclatura afirmam que a pena é o conceito central dessa 
disciplina, bem como a condição de existência jurídica do crime, como nos 
ensina Batista (2003, p. 116). Entendeu? Se não entendeu completamente, 
tenha calma! Ao longo desta Unidade você vai mergulhar neste universo 
e, juntos, iremos conhecer os principais conceitos trabalhados no âmbito 
do Direito Penal, sua historicidade, função, princípios, institutos e muito 
mais! 
Direito Penal
11
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no 
desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término 
desta etapa de estudos:
1. Compreender qual o papel dos princípios em Direito Penal e quais 
são os princípios penais constitucionalmente previstos. 
2. Entender em que consiste a lei penal, como se classificam, quais 
são as suas limitações e as técnicas utilizadas para interpretá-las. 
3. Identificar os elementos técnicos de uma conduta criminosa. 
4. Reconhecer quais são as causas de exclusão da tipicidade, 
ilicitude e culpabilidade. 
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? 
Ao trabalho! 
Direito Penal
12
Princípios constitucionais Penais
OBJETIVO:
Ao final deste capítulo, você será capaz de entender como 
funciona o ordenamento jurídico brasileiro, no qual se 
insere as normas de Direito Penal, bem como os princípios 
fundamentais que regem a presente matéria jurídica. 
Isso será fundamental para que você compreenda como 
se estrutura o Direito em tela e o limite de sua aplicação. 
Estudar o Direito Penal sem perpassar por essas questões 
introdutórias tornará extremamente dificultosa a nossa 
tarefa de compreender como funciona e como se aplica 
seus institutos na prática. E então? Animado para começar 
a entender o que é o Direito Penal e como elese estrutura? 
Avante!
Introdução 
É sabido por todos que o Direito Penal é o ramo do Direito que aplica 
pena de prisão às pessoas que cometem crimes. Mas em que consiste o 
Direito Penal? Qual é a sua função? Há limites para a edição das normas 
penais? E para sua aplicação? Iremos tratar de todas essas questões ao 
longo da nossa caminhada. 
Direito Penal
13
Figura 1 – O Direito Penal pode ser entendido como um conjunto de normas que nos orienta 
sobre o que é crime e o que não é, bem como quais as penalidades que iremos incorrer 
caso seja escolhido enveredar pelos caminhos criminosos
Fonte: Freepik 
Iniciaremos nossos estudos sobre o Direito Penal trazendo um 
conceito muito utilizado pela doutrina:
“Direito Penal é o conjunto de regras e princípios destinados a 
combater o crime e as contravenções penais, mediante a imposição de 
sanção penal” (MASSON, 2019, p. 3).
A partir desse conceito, podemos extrair que o Direito Penal se ocupa 
das leis e dos princípio que resguardam bens jurídicos fundamentais para 
a sociedade, criminalizando as condutas que atentem contra um desses 
bens jurídicos de forma relevante. 
Além de garantir a proteção dos bens jurídicos fundamentais 
para o convívio em sociedade, ao Direito Penal também é reservado o 
Direito Penal
14
controle social, ou seja, a manutenção da paz, portanto, suas regras são 
direcionadas a todos; e a função de proteger o cidadão de eventuais 
excessos e arbitrariedades cometidas pelo Estado no exercício do seu 
direito de punir (jus ou ius puniendi).
Enquanto ciência, a dogmática penal tem como objeto a 
interpretação, sistematização e aplicação lógica-racional das regras e dos 
princípios destinados ao combate dos crimes e das contravenções penais. 
Isso posto, veremos agora os princípios essenciais ou valores 
fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema jurídico 
penal. A esses princípios daremos o nome de “princípios constitucionais 
penais”, cuja principal função é a de orientar o legislador e o aplicador do 
Direito, no sentido de limitar o poder punitivo estatal face à imposição dos 
direitos e das garantias fundamentais dos cidadãos. 
Antes de entrar propriamente no tema, você sabe a diferença 
entre regras e princípios? Segundo Reale (2011, p. 59), “as regras regem 
situações específicas de forma objetiva”, ou seja, a norma é válida ou não, 
se aplica ou não ao caso concreto, bem como produz seus efeitos de 
forma universal, respeitando uma ordem hierárquica. Já os princípios são 
normas estruturantes, de caráter geral, ou seja, não se aplicam a situações 
específicas, mas regem as estruturas a partir das quais as regras podem ser 
constituídas. Nesse sentido, os princípios são gerais e abstratos, regidos 
por pesos e contrapesos, de modo que mais de um princípio pode ser 
aplicado a uma situação específica ou a um vasto campo de situações. 
Portanto, é possível afirmar que não há hierarquia entre os princípios, eles 
coexistem no ordenamento jurídico.
Desse modo, podemos concluir que os princípios constitucionais 
penais são normas constitucionais com alto grau de abstração que 
estruturam a forma como o nosso ordenamento jurídico deve prever e 
aplicar as normas de Direito Penal. A quantidade e a denominação desses 
princípios variam entre os autores da doutrina especializada. Portanto, nas 
seguintes seções veremos em espécie apenas os principais princípios.
Direito Penal
15
Princípio da Reserva Legal 
REFLITA:
Quem decide o que é crime? E como isso é feito?
A resposta para o questionamento é encontrada no princípio da 
reserva legal, previsto no o art. 5°, inciso XXXIX, da Constituição Federal, 
que preceitua que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena 
sem prévia cominação legal. 
O presente princípio estabelece que somente a lei poderá criar 
crimes e cominar as suas respectivas penas. É daí que surge a conhecida 
expressão “nullum crimen nulla poena sine praevia lege”, o que significa 
dizer que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia 
cominação legal.
VOCÊ SABIA?
O marco histórico mais antigo do princípio da reserva legal 
é a Constituição de João sem Terra, de 1215, que, no seu 
art. 39, estabelecia que nenhum homem livre poderia ser 
submetido à pena sem antecedente lei em vigor naquela 
terra (FRAGOSO, 2003).
No Direito brasileiro, tanto os crimes quanto as contravenções 
penais são instituídos por leis ordinárias, que podem ser propostas 
pelo presidente da República, deputados, senadores, Supremo Tribunal 
Federal (STF), tribunais superiores, procurador-geral da República e pelos 
cidadãos, desde que preenchidos os requisitos legais (art. 59 e 61 da 
Constituição Federal).
O fundamento jurídico do princípio da reserva legal é a taxatividade, 
certeza ou determinação (MASSON, 2019). Nesse sentido, o referido 
princípio exige do legislador que ele seja claro quanto ao conteúdo do 
tipo penal e da sanção penal a ser aplicada, ou seja, os crimes e as penas 
Direito Penal
16
devem estar previstos de forma taxativa no ordenamento, da forma mais 
precisa possível; e do juiz exige-se que suas decisões estejam vinculadas 
ao mandamento legal.
NOTA:
Quanto à nomenclatura desse princípio, boa parte da 
doutrina defende que são corretos os termos “reserva 
legal” ou “estrita legalidade”, pois assim limitam a criação 
de normas penais tão somente às leis ordinárias, que é a 
regra geral; e às leis complementares de forma excecional. 
O termo “princípio da legalidade” permite que qualquer 
diploma entre os elencados no art. 59º da Constituição 
possa criar normas em matéria penal e não apenas a lei, 
o que seria incorreto. É o que elucida Greco (2012, p. 104).
Princípio da Anterioridade da Lei Penal
Do princípio da reserva legal, ao instituir que o crime e a pena devam 
estar definidos em lei anterior ao fato que se pretende punir, advém um 
outro princípio, você sabe qual? 
É o princípio da anterioridade da lei penal, pois o referido princípio 
determina que a lei produz seus efeitos somente a partir da data em que 
entra em vigor, sendo, inclusive, proibida a aplicação da lei penal aos fatos 
praticados durante o período de vacatio legis.
É esse o princípio que deriva a irretroatividade de lei penal, prevista 
no art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal, que determina que não se 
aplica a lei penal a comportamentos pretéritos, salvo para beneficiar o réu. 
Direito Penal
17
EXPLICANDO MELHOR:
Vacatio legis é uma expressão latina que significa “vacância 
da lei” e corresponde ao período entre a data de publicação 
de uma nova lei e o início de sua vigência, que, por sua vez, 
corresponde ao tempo que uma lei dura ou produz os seus 
efeitos. Geralmente, o tempo de duração de uma lei inicia 
com a sua publicação, se assim for posto expressamente, 
ou após decorrido o prazo da vacatio legis, e tem seu fim 
imposto quando determinada lei é revogada ou extinta.
Princípio da Individualização da Pena
Nosso senso comum de justiça nos impele a afirmar que cada 
sujeito deve receber aquilo que lhe cabe, ou seja, cada sujeito deve 
receber a pena que merece. Mas o que isso significa em matéria penal? 
Significa que, transpondo o princípio da justiça, segundo o qual 
se deve distribuir a cada indivíduo aquilo que lhe cabe, conforme as 
circunstâncias do seu comportamento. A Constituição Federal estabeleceu 
no seu art. 5º, inciso XLVI, que no que toca a lei penal, sua aplicação 
deve ter em conta não a norma penal em abstrato, mas sim os aspectos 
objetivos e subjetivos do crime, ou seja, deve-se observar o que o sujeito 
realmente fez, a sua conduta propriamente dita, como matar alguém; e 
a vontade ou a real intenção do agente, como se ele quis, de fato, matar 
alguém ou se foi um acidente. Entendeu? Se você não entendeu muito 
bem, não há com o que se preocupar, voltaremos a tratar dessa questão 
quando formos estudar o dolo e a culpa. Essa questão será melhortratada 
quando formos estudar a teoria do crime no item 3 dessa Unidade. 
Por hora, é preciso que você tenha em mente que o princípio 
da individualização da sanção penal exige do legislador que ele 
estabeleça sanções adequada a cada tipo de conduta criminosa, 
indicando seu limite mínimo e máximo, e as circunstâncias nas quais 
o agente terá sua pena aumentada ou diminuída; do juiz, que ele, ao 
aplicar a lei penal, prolatando uma sentença, determine a pena mais 
Direito Penal
18
adequada, observando as características pessoais de cada réu, bem 
como as circunstâncias do crime.
NOTA:
Vejamos o inteiro teor do art. 5º, inciso XLVI, da Constituição 
Federal que prevê o princípio da individualização das penas 
e nos apresenta os tipos de sanções aplicáveis pelas leis 
penais: “A lei regulará a individualização da pena e adotará, 
entre outras, as seguintes: a)  privação ou restrição da 
liberdade; b)  perda de bens; c)  multa; d)  prestação social 
alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos” (BRASIL. 
1988, p. 13). 
Princípios da Intervenção Mínima, da 
Subsidiariedade e da Fragmentariedade
Os três princípios que estudaremos agora são distintos, porém com 
a mesma razão. O princípio da intervenção mínima (também chamado 
de princípio da necessidade) tem como premissa a natureza drástica da 
intervenção penal exercida pelo Estado, pois este aplica ao cidadão as 
mais agressivas formas de punição previstas no ordenamento jurídico. 
Nesse sentido, o referido princípio estabelece que o Direito Penal deve 
ser aplicado de forma excepcional, ou seja, a criminalização de um fato 
somente será legítima se constituir meio indispensável para a proteção 
de determinado bem ou interesse jurídico relevante para a sociedade, 
que não pode ser tutelado por outro ramo do direito (MASSON, 2019). É 
o princípio que fundamenta a corrente do Direito Penal mínimo e dele 
decorrem o princípio da subsidiariedade e da fragmentariedade, que 
veremos a seguir.
O princípio da subsidiariedade institui que o Direito Penal deve 
atuar como um executor de reserva, como elucida Masson (2019, p. 47). 
Nesse sentido, as leis penais serão necessárias somente quando outros 
ramos do Direito ou os demais meios estatais de controle social restarem 
insuficientes ou impotentes. Portanto, o princípio da subsidiariedade 
Direito Penal
19
assume a premissa de que o Direito Penal deve ser o último recurso do 
Estado, ou seja, a ultima ratio.
NOTA:
Interpretando a norma penal em conformidade com os 
princípios da reserva legal e do princípio da intervenção 
mínima, podemos afirmar que ela deve ser escrita, estrita, 
prévia e necessária.
E, por fim, temos o princípio da fragmentariedade, que estabelece 
que nem todos os ilícitos são infrações penais. A infrações penais são 
somente aqueles atos que atentem contra valores fundamentais para a 
manutenção e o progresso da sociedade. Portanto, segundo o referido 
princípio, o Direito em tela é a última etapa de proteção do bem jurídico, 
portanto deve incidir sobre um reduzido número de condutas humanas, 
ou seja, os tipos penais devem proteger bens jurídicos que nenhum outro 
ramo do Direito se mostre capaz de proteger (ASSUMPÇÃO, 2019, p. 28).
Princípio da Insignificância ou da 
Criminalidade de Bagatela
O referido princípio estabelece que, uma vez que o Direito Penal é 
a mais violenta e agressiva forma de atuação do Estado, ele não deve ser 
aplicado quando determinada conduta, apesar de ser típica, não for capaz 
de lesar ou de colocar em perigo o bem jurídico tutelado pela norma 
penal incriminadora. Nesse sentido, o princípio da insignificância tem 
como finalidade a interpretação da lei penal de forma restritiva, ou seja, 
assume-se aqui o tipo penal como amplo e abrangente, de modo que o 
postulado da criminalidade de bagatela limita a sua aplicação prática.
Portanto, apesar do crime de furto está previsto no art. 155 do Código 
Penal, é evidente que o Direito Penal não irá mover o aparato estatal para 
prender quem subtrair para si ou para outrem uma caneta de um colega. 
Não há que falar em crime nesse tipo de situação. Assim sendo, quanto à 
sua natureza jurídica, podemos afirmar que o princípio da insignificância 
Direito Penal
20
é causa de exclusão da tipicidade, como veremos ao estudar a teoria do 
crime na terceira seção da presente Unidade.
IMPORTANTE:
A insignificância deve ser valorada de acordo com cada 
caso concreto, observando os posicionamentos do Superior 
Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF), 
bem como deve conter de forma cumulativa o requisito 
da mínima ofensividade da conduta e da ausência de 
periculosidade social (ASSUMPÇÃO, 2019).
Princípio da Adequação Social
O princípio da adequação social estabelece que, apesar de o agente 
ter realizado um ato tido como conduta criminosa, o Direito Penal não 
deve considerá-lo como um criminoso se tal comportamento não afrontar 
o sentimento social de justiça. Dito de outra maneira, se determinada 
conduta, apesar de ser tipificada como crime pelo Direito Penal, não pode 
ser tida como tal, se essa conduta for socialmente aceita, como o caso 
dos camelôs e a venda de produtos “piratas”, dos trotes acadêmicos ou o 
caso da circuncisão realizada pelos judeus. A adequação social também é 
causa de exclusão da tipicidade.
Princípio Ne bis in idem
Imaginemos a seguinte situação: um agente confere inúmeros 
golpes de faca contra uma pessoa, em um mesmo contexto, com intenção 
de matá-la; e, após a décima facada, a vítima foi a óbito. Nessa situação o 
réu será acusado dez vezes pelo crime de lesão corporal e uma vez por 
homicídio? Será acusado conjuntamente pelo crime de lesão corporal e 
homicídio ou será acusado somente pelo crime de homicídio?
Segundo o princípio do ne bis in idem, o réu seria acusado somente 
do crime de homicídio. Sabe por quê? Porque o referido princípio institui 
de forma absoluta que é vedada a dupla punição pelo mesmo fato. 
Direito Penal
21
Nesse sentido, é vedado que uma pessoa seja processada, julgada e 
condenada mais de uma vez pela mesma conduta, ou que, o mesmo fato 
seja enquadrado em mais de um tipo penal incriminador. No exemplo, as 
circunstâncias do crime, como as dez facadas, podem agravar a pena do 
agente, mas ele não pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato.
Princípio da Intranscendência da Pena ou 
da Personalidade
Previsto no art. 5º, inciso XLV, da Constituição Federal, o referido 
princípio, institui que somente o agente pode ser responsabilizado 
pelo fato criminoso cometido. Dito de outra forma, ninguém pode ser 
responsabilizado por fato cometido por terceira pessoa e a pena não 
pode passar da pessoa do condenado. Nesse sentido, o STF reconhece 
que “o postulado da intranscendência impede que sanções e restrições 
de ordem jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator” 
(STF, 2006, p. 6).
Princípio da limitação das penas ou da 
humanidade
O princípio da humanidade das penas, decorre do princípio da 
dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da Constituição Federal) e 
apregoa que será inconstitucional o tipo penal ou a cominação de pena 
que viole a integridade física ou moral de alguém. A título ilustrativo, 
podemos citar a decisão do STF de fevereiro de 2006, que declarou 
inconstitucional o regime integralmente fechado para o cumprimento de 
pena privativa de liberdade nos crimes hediondos e equiparados (STF, 
2009).
Princípio da Presunção de Inocência ou 
Presunção de Não Culpabilidade
O princípio da presunção de inocência talvez seja o mais conhecido 
no âmbito de senso comum. Você provavelmente já deve ter ouvido a 
Direito Penal
22
expressão: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado 
de sentença penal condenatória”. Esse é o teor do art. 5º, inciso LVII da 
nossa Constituição. O que talvez você não saiba é que a origem desse 
princípio remete ao artigo 9° da Declaração dosDireitos do Homem e 
do Cidadão, do século XVIII; e, posteriormente, ao art. 11 da Declaração 
Universal de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), 
como resposta aos horrores cometidos pelo regime fascista na Segunda 
Guerra Mundial. 
Autores como Lopes Júnior (2011, p. 177) defendem que esse 
princípio é o reitor do processo penal, de modo que, embora recaia sobre 
alguém a acusação de prática criminosa, ele deve ser tratado como 
inocente até que transite em julgado sentença penal que o condene, ou 
seja, até que restem esgotadas as possibilidades de recurso da referida 
decisão. 
Várias são as questões que giram em torno dos institutos processuais 
penais quando confrontados com esse princípio, a mais recente delas, 
por exemplo, gira em tono da possibilidade de o réu ser preso após 
decisão judicial em segunda instância. Em decisão proferida no dia 7 
de novembro de 2019, o Supremo Tribunal Federal reverteu seu próprio 
entendimento, sedimentado em 2016, de que deveria ser autorizada a 
prisão dos réus condenados em segunda instância. O principal motivo 
que fundou tal reversão foi justamente a observância do princípio da 
presunção de inocência, prevalecendo no STF que ninguém poderá dar 
início ao cumprimento de sua pena até o julgamento de todos os recursos 
cabíveis, incluindo, quando cabíveis, nos tribunais superiores. 
SAIBA MAIS:
Para entender melhor a decisão do STF que reverteu seu 
próprio posicionamento acerca da prisão após condenação 
em segunda instância, leia o artigo Princípio constitucional da 
presunção de inocência e a prisão em segunda instância: o 
STF e a estabilidade jurídica no país. Clique aqui para acessar.
Direito Penal
https://www.unigran.br/dourados/revista_juridica/ed_atual/artigos/artigo12.pdf
23
RESUMINDO:
E então? Tudo bem até aqui? Compreendeu bem os 
princípios constitucionais penais e a função de cada um 
deles? O mais importante até aqui é que você tenha em 
mente que o Direito Penal é o conjunto de regras e princípios 
destinados a combater o crime e as contravenções penais, 
mediante a imposição de sanção penal; e suas principais 
finalidades são: resguardar os bens jurídicos fundamentais 
para a sociedade, controle social e proteção do cidadão 
face a eventuais excessos e arbitrariedades cometidas 
pelo Estado no exercício do seu direito de punir. Entre os 
vários princípios que orbitam em torno da seara penal, 
temos os princípios constitucionais penais que são normas 
constitucionais com alto grau de abstração que estruturam 
a forma como o nosso ordenamento jurídico deve prever e 
aplicar as normas de direito penal. Entre os vários princípios 
apontados pela doutrina destacam-se o princípio da reserva 
legal, anterioridade da lei penal, individualização da pena, 
princípios da intervenção mínima, da subsidiariedade e da 
fragmentariedade, da insignificância ou da criminalidade de 
bagatela, adequação social, ne bis in idem, intranscendência 
da pena ou da personalidade, limitação das penas ou da 
humanidade e o princípio da presunção de inocência ou 
presunção de não culpabilidade.
Dito isso, passaremos agora ao estudo da lei penal 
propriamente dita, posto que a partir do momento que uma 
norma jurídica é considerada norma penal ela será sujeita 
a um regime próprio. Animado? Vamos dar continuidade 
aos nossos estudos analisando agora a chamada Teoria 
da Lei Penal.
Direito Penal
24
Teoria da Lei Penal
OBJETIVO:
Neste capítulo, iremos nos ater ao estudo da lei penal, 
abrangendo a sua classificação, os critérios de interpretação, 
o concurso aparente entre elas e os princípios penais 
que devem ser analisados para a solução de conflitos 
relativos à sua aplicação. O estudo da teoria da lei penal é 
imprescindível para que se interprete, integre e aplique a 
lei penal da melhor maneira possível nos casos concretos. 
Motivado para começar a entender todo o universo que 
gira em torno da aplicação de uma lei penal? Vamos juntos!
Como vimos anteriormente, a lei penal é uma espécie de norma 
jurídica penal. A norma penal é o conjunto de regras e princípios que 
estabelecem condutas proibidas, advindas de um sentido de justiça, 
contendo um segmento social; já a lei penal ela é a regra escrita, elaborada 
pelo legislador, com o objetivo de positivar aquelas condutas, específicas, 
tidas como nocivas à sociedade (SALIM; AZEVEDO, 2019). Dito de outra 
forma, é a partir da lei que a norma se manifesta e torna-se obrigatória.
Figura 2 – A lei penal deve ser entendida como a forma escrita pela qual a norma penal é 
revelada aos cidadãos, uma vez que é uma fonte de direito de aplicação imediata
Fonte: Freepik
Direito Penal
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Antes de estudar a lei penal propriamente dita, devemos trabalhar 
as fontes do Direito Penal, entendidas como tudo aquilo que impulsiona o 
surgimento da norma jurídica, ou seja, tudo aquilo que se relaciona com a 
própria gênese da lei (SALIM; AZEVEDO, 2019).
A doutrina em muito diverge acerca da classificação das fontes de 
Direito Penal. Uma grande parte dela distingue as fontes do Direito Penal 
em materiais e formais. As fontes materiais são aquelas relacionadas à 
produção da norma penal, observando as competências dos órgãos 
encarregados por sua elaboração. Segundo o art. 22, inciso I, da 
Constituição Federal, compete somente à União legislar sobre o Direito 
Penal. Assim sendo, somente a vontade do povo, representado pelos 
deputados, juntamente com a vontade dos Estados, representados pelos 
seus senadores, e com a sanção do presidente da República é que se 
pode inovar em matéria penal. Portanto, o único órgão que pode criar leis 
penais no Brasil é a União. 
NOTA:
Entretanto, a doutrina salienta que, conforme o parágrafo 
único do mesmo artigo, a lei complementar pode autorizar 
os Estados a legislar em matéria penal sobre questões 
específicas de cada Estado. Embora ainda não tenhamos 
nenhum exemplo dessa prática (SALIM; AZEVEDO, 2019).
As fontes formais, por seu turno, são aquelas que exteriorizam 
o Direito Penal, é a forma pela qual uma norma penal é revelada aos 
cidadãos. A doutrina majoritária as divide em fonte formal, imediata e 
mediata. A imediata é aquela de aplicação direta, aquela que recorremos 
para saber se determinada conduta é proibida ou não pelo Direito Penal. 
Portanto, a única fonte formal imediata que temos no Direito brasileiro é 
a lei, pois somente a lei ordinária, via de regra, é que pode criar crimes e 
cominar penas (SALIM; AZEVEDO, 2019). 
Direito Penal
26
NOTA:
A possibilidade de lei complementar exercer a mesma 
função não é pacífica na doutrina, apesar de termos o art. 
10 da Lei Complementar n° 105, de 10 de janeiro de 2001, 
que institui o crime de quebra de sigilo fora das hipóteses 
autorizadas na mesma lei. 
As fontes formais mediatas são aquelas que não exercem a função 
de criar crimes; tampouco criam ou revogam leis, pois para isso há todo 
um processo legislativo. As fontes formais imediatas são os costumes; 
princípios gerais de direito; o ato administrativo, quando complementa 
uma norma penal em branco; os tratados e as convenções internacionais; 
a equidade; a doutrina e a jurisprudência. Sua função é a de integrar a 
norma penal e auxiliar o intérprete na sua aplicação. 
Isso posto, passaremos ao estudo da lei penal propriamente dita. 
REFLITA:
Você sabe me dizer se toda lei penal cria crime e comina 
sua respectiva sanção? 
Pois bem, a reposta correta é não. Há leis penais que exercem outra 
função dentro do Direito Penal, como as leis penais que estabelecem 
os casos em que, apesar de o fato ser criminoso, não será aplicada a 
sanção ao seu autor, como a lei que determina a inimputabilidade do 
sujeito quando este for doente mental (art. 26, caput, do Código Penal). 
Entendeu? Muito bem! Vamos agora ver todos os tipos de leis penais, 
conforme aclassificação majoritária da doutrina:
a. Leis penais incriminadoras: são aquelas que criam crimes e 
impõem sanções, como as contidas na parte especial do Código 
Penal.
b. Leis penais não incriminadoras: são aquelas que não criam crimes 
e não cominam penas. As leis não incriminadoras podem ser:
Direito Penal
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b.1) leis penais permissivas: autorizam a prática de determinadas 
condutas tidas como criminosas, como agir em legítima defesa ou 
estado de necessidade (art. 23 do Código Penal).
b.2) leis penais exculpantes: estabelecem a não culpabilidade do 
agente ou a inimputabilidade de determinadas condutas típicas e 
ilícitas, como o art. 26º do Código Penal, que determina que é isento 
de pena o menor de idade.
b.3) leis penais interpretativas: explicam ou esclarecem o conteúdo 
de outras leis, como a lei que determina o conceito de funcionário 
público (art. 327 do Código Penal).
b.4) leis penais complementares ou de aplicação: delimitam o 
âmbito de incidência de outra lei penal ou estabelece os princípios e 
orientações para sua aplicação, como os artigos 2º ao 12º do Código 
Penal, que devem ser orientados pelo princípio da reserva legal.
c. leis penais de ampliação, extensão ou de aplicação: 
complementam a descrição legal dos elementos de um crime, ou 
seja, complementam a tipicidade do fato criminoso, como a lei 
que descreve quando um crime será tentado (art. 14, inciso II, do 
Código Penal).
Quanto à completude dos elementos de uma norma penal, ela 
pode ser das seguintes formas:
d. Lei penal completa: prevê todos os elementos do fato criminoso, 
como o tipo penal do homicídio (art. 121 do Código Penal).
e. Lei penal incompleta: aquelas que necessitam de outra norma, 
ato normativo ou da interpretação do juiz, para completar a 
descrição dos elementos do fato criminoso, como a Lei de Drogas 
(Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006), que vale-se do preceito 
administrativo (Portaria SVS-MS n° 344, de 12 de maio de 1998) 
para definir o que é droga. Essa espécie de lei penal é também 
conhecida como lei penal em branco ou tipo penal aberto, pois 
apesar de prever crimes e suas respectivas sanções, utilizam 
proibições genéricas, devendo estas serem completadas por 
outra norma, ato administrativo ou pelo magistrado.
Direito Penal
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Até aqui ficou claro o que é lei penal e quais são as suas espécies? 
Ótimo! Agora vamos dedicar uma parte da nossa Unidade para analisar as 
formas de interpretação da lei penal.
Interpretação da lei penal
REFLITA:
Em que consiste o ato de interpretar? 
A interpretação é necessariamente feita por um sujeito que, ao 
empregar determinado modo de análise de algo, chega a algum resultado. 
Nesse sentido, temos que a interpretação da lei penal consiste em uma 
atividade mental, cujo objetivo é buscar o conteúdo e o significado contido 
na lei, tendo em vista a resolução do caso concreto.
NOTA:
A interpretação não pode ser confundida com hermenêutica. 
Esta trata do ramo da ciência jurídica responsável por 
formular e sistematizar princípios que substituirão a 
interpretação, já o ato de interpretar é uma atividade prática 
que objetiva a determinação do sentido e do alcance dos 
enunciados trazidos pelo preceito normativo; seu objetivo 
é o de aflorar a vontade da lei (CUNHA JÚNIOR, 2008). 
A hermenêutica, portanto, é a ciência que disciplina a 
interpretação da lei, já a atividade prática de interpretação 
desta é intitulada de exegese (MASSON, 2008). 
De uma maneira geral, a doutrina divide e classifica os métodos de 
interpretação da lei penal em três diretrizes: conforme o sujeito (autêntica, 
judicial e doutrinária); os meios de interpretação (gramatical ou teleológica) 
e o resultado obtido (declarativa, extensiva e teleológica). 
Quanto ao sujeito, a classificação cuida do sujeito ou do órgão 
que realiza a interpretação. Nesse sentido, a interpretação autêntica 
Direito Penal
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ou legislativa é aquela fornecida pelo próprio legislador ao editar uma 
lei com o objetivo de estabelecer o alcance e o significado de outra lei, 
portanto, tem força cogente. A doutrinária ou científica é aquela posta 
pelos doutrinadores, os comentadores do texto legal, sem qualquer 
força vinculante ou obrigatória. A interpretação judicial ou jurisprudencial 
é aquela executada pelo Poder Judiciário na decisão do caso concreto, 
sua reiteração constitui a jurisprudência e sua força obrigatória será 
estabelecida quando fizer coisa julgada material, constituir súmula 
vinculante ou nas hipóteses do art. 927 do Código de Processo Civil.
Em relação ao meio, a classificação da interpretação cuida do 
meio que serve o intérprete para descobrir o significado da lei penal. A 
interpretação gramatical, literal ou sintática busca o significado da lei a 
partir da acepção literal das palavras contidas nela. A interpretação lógica 
ou teleológica observa a lei além da singela leitura do texto legal, ou seja, 
sua leitura considera o contexto histórico da norma, o sistema jurídico que 
se insere, o tratamento do assunto em outros países e outros elementos 
extrajurídicos, quando o significado de determinados institutos está fora 
do âmbito do Direito. 
A classificação quanto ao resultado obtido, por sua vez, diz 
respeito à conclusão extraída pelo intérprete, podendo ser: declaratória, 
declarativa ou estrita, quando resulta da sintonia entre o texto da lei e sua 
vontade; e extensiva, quando destinada a corrigir uma disposição legal 
excessivamente estreita, objetivando ampliar o texto da lei para moldá-lo 
à sua real vontade.
IMPORTANTE:
Analogia não se confunde com interpretação da lei. Na 
analogia não há sequer lei para ser interpretada, pois ela 
cuida das situações em que não há lei que trate de um caso 
concreto. 
Isso posto, agora, iremos tratar da analogia no Direito Penal.
Direito Penal
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Analogia
Como dito anteriormente, ante uma situação na qual não haja lei 
penal que suficientemente preveja determinado caso, o aplicador do 
direito deverá resolvê-la por analogia. Esta consiste em um processo de 
integração do ordenamento jurídico que aplica ao caso concreto, não 
previsto em lei, uma outra lei reguladora de caso semelhante. 
Ante o princípio da reserva legal, a analogia só pode ser utilizada 
em relação às leis não incriminadoras, e funda-se no preceito de que 
os casos similares devem ser tratados da mesma maneira. As espécies 
de analogia são: analogia legal, quando se aplica ao caso omisso uma 
lei que trata de caso semelhante; analogia jurídica, quando se aplica ao 
caso omisso um princípio geral do direito; in malam partem, aquela que 
aplica-se ao caso omisso uma lei que preveja caso semelhante que seja 
maléfica para o réu; e a analogia in bonam partem, que aplica ao caso 
omisso uma lei que preveja caso semelhante e seja benéfica para o réu. 
Também, por respeito ao princípio da reserva legal, o Direito Penal não 
admite a analogia in malam partem, como estabelece o Supremo Tribunal 
Federal (STF, 2006).
Lei penal no tempo, no espaço e em 
relação às pessoas
Depois de cumprir todas as fases do processo legislativo previsto 
na Constituição Federal, a lei penal ingressa no ordenamento jurídico e, 
assim como as demais leis, ao entrar em vigor, qual é o seu alcance? 
Quais são as pessoas que ela atinge e por quanto tempo ela vigorará?
Todas essas questões suscitadas estão relacionadas às limitações 
da lei, impostas pela própria legislação penal e por seus princípios. 
Estudaremos cada uma delas na presente seção. 
Quanto ao tempo de vigor de uma lei penal, por observância do 
que se convencionou chamar de princípio da continuidade de lei, uma vez 
em vigor, a lei penal irá vigorar até ser revogada por outro ato normativo 
de igual natureza (MASSON, 2019). Essa é uma regra geral do Direito, 
Direito Penal
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mas no Direito Penal há exceções: as leis temporárias e excepcionais são 
autorrevogáveis, portanto, não precisam ser revogadaspor outra lei. 
A atividade legislativa, como decorrência da soberania popular, 
é irrenunciável, desse modo, nem os costumes, por mais consagrados 
que sejam em uma sociedade, nem uma decisão judicial, ainda que 
promulgada pelo Supremo Tribunal Federal, tem o poder de revogar uma 
lei. A revogação da lei por outra pode ser absoluta ou total, conhecida por 
ab-rogação, ou pode ser parcial, conhecida por derrogação. 
Em relação ao tempo de vigor de uma lei penal, temos que tecer as 
seguintes considerações:
 • Retroatividade da lei mais benéfica: se uma lei posterior for mais 
benéfica ao agente, em comparação àquela que estava em vigor 
no momento do ilícito criminal, a lei mais benéfica será retroativa e 
deverá ser aplicada ao caso, mesmo que editada posteriormente 
ao crime ou contravenção penal.
 • Ultratividade da lei mais benéfica: se o ilícito penal for cometido 
durante a vigência de uma lei, posteriormente revogada por outra 
que venha a ser mais prejudicial ao agente, deverá subsistir, nesse 
caso, os efeitos da lei anterior, mais favorável, pois a lei penal mais 
grave não deverá retroagir.
Quanto ao campo de validade de uma lei penal, o Código Penal o 
limita observando dois vetores: a territorialidade e a extraterritorialidade 
(previstos, respectivamente, nos art. 5 e 7 do referido diploma).
A territorialidade é a regra. Excepcionalmente são admitidos outros 
princípios para o caso da extraterritorialidade, que são: personalidade, 
domicílio, defesa da justiça universal e representação. O princípio da 
territorialidade institui que, sem prejuízo do estipulado em convenções 
e tratados internacionais, a lei penal brasileira deverá ser aplicada em 
todo território nacional, território nacional por extensão e nos casos de 
crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de 
propriedade privada, na forma da lei. 
Direito Penal
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A extraterritorialidade da lei penal brasileira; observando o princípio 
da personalidade, autoriza a submissão à lei brasileira dos crimes 
praticados no estrangeiro por autor brasileiro ou contra vítima brasileira; 
observando o princípio do domicílio, institui que o autor do crime deve ser 
julgado pela lei do país em que for domiciliado, independentemente da 
sua nacionalidade; observando o princípio da defesa da justiça universal, 
estabelece que qualquer Estado da comunidade internacional pode 
punir os autores de determinados crimes, em conformidade com as 
convenções e tratados internacionais, pouco importando a nacionalidade 
do agente; e, por fim, observando o princípio da representação, aplica a 
lei penal brasileira aos crimes cometidos em aeronaves ou embarcações 
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território 
estrangeiro e aí não sejam julgados.
Quanto às pessoas ou em relação a elas, ao instituir, no art. 5º do 
Código Penal, que aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, 
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território 
nacional, o Direito Penal brasileiro mitiga o princípio da territorialidade 
com a possibilidade de tais diplomas internacionais criarem imunidades 
diplomáticas e de chefes de governos estrangeiros. Ao mesmo tempo, 
o referido princípio também é mitigado pelas regras constitucionais que 
instituem as imunidades parlamenteares. 
Conflito aparente de leis penais
Para finalizarmos o estudo da lei penal, trataremos de responder 
a seguinte pergunta: como proceder, quando em tese, a um único fato 
criminoso se revela possível a aplicação de mais de uma lei penal apta a 
ser aplicada ao caso?
Quando estamos diante de um conflito de preceitos penais, 
situação em que um único fato punível se enquadra sob a aplicação de 
mais de uma lei, estamos, na verdade, diante de um conflito aparente de 
leis penais, pois este desaparecerá com a correta utilização dos princípios 
adequados. Uma vez que, em se tratando de uma única conduta, afigura-
se injusto e desproporcional a incidência de mais de uma sanção penal, 
Direito Penal
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razão pela qual dever-se-á escolher o dispositivo penal que melhor se 
adequa ao fato criminoso. 
A doutrina indica, no geral, os seguintes princípios para sanar 
eventuais conflitos aparente de leis penais: especialidade (lei especial 
prevalece sobre a lei geral); subsidiariedade (lei primária prevalece sobre 
lei subsidiária); consumação (o fato mais amplo e grave consome ou 
absorve os demais fatos menos amplos e graves); e alternatividade (a 
aplicação de uma norma a um fato exclui a aplicabilidade de outra que 
também o prevê como delito).
RESUMINDO:
E então? Gostou do que vimos até aqui? Vamos agora 
entender melhor os conceitos que envolvem a tipicidade, 
ilicitude e culpabilidade de um fato criminoso. Para tanto, 
precisamos ter em mente o que foi trabalhado até agora 
em relação à lei penal, principalmente no que toca a sua 
classificação, a forma como elas são sobrepostas no nosso 
ordenamento jurídico, bem como os limites que lhe são 
impostos em relação ao tempo, espaço e às pessoas. 
Também é importante compreender que a interpretação 
de uma norma deve sempre buscar o seu conteúdo 
e o significado, visando à resolução do caso concreto, 
independentemente de qual diretriz essa interpretação 
parta; bem como que em um conflito aparente de leis 
penais, deve ser aplicado os princípio da especialidade; 
subsidiariedade; consumação e alternatividade, posto que 
em se tratando de uma única conduta afigura-se injusto e 
desproporcional a incidência de mais de uma sanção penal, 
razão pela qual dever-se-á escolher o dispositivo penal que 
melhor se adequa ao fato criminoso.
Direito Penal
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Teoria do Crime
OBJETIVO:
Até o presente momento, vimos que o Direito Penal é 
o conjunto de regras e princípios que lhe são próprios; 
destinados a combater o crime e as contravenções penais, 
mediante a imposição de sanção penal. Mas o que é um 
crime e o que é uma contravenção penal? Como identificar 
perante o caso concreto se ali ocorreu um fato criminoso 
ou não? É disso que iremos tratar agora. Ao término desse 
Capítulo você será capaz de entender que para definir se 
um fato é criminosos ou não ele deverá preencher três 
requisitos: tipicidade ilicitude e culpabilidade, requisitos 
esses trabalhados pela teoria do crime, objeto de nosso 
estudo no presente Capítulo. Isso será fundamental para 
que você, enquanto operador do Direito, possa identificar 
de forma técnica a constituição de uma conduta criminosa. 
E então? Motivado para desenvolver essa competência? 
Então vamos lá!
Figura 3 – Para que um juiz possa condenar um sujeito pela prática de um crime, deve ser 
provada a tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade da sua conduta
Fonte: Freepik
Direito Penal
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Como dito anteriormente, a corrente majoritária na doutrina brasileira 
estabelece que o fato criminoso é aquele que tem tipicidade, ilicitude a 
culpabilidade. Porém, devemos salientar que o conceito de crime não se 
resume a tais elementos. A doutrina especializada elucida que o crime 
pode ser conceituado considerando três aspectos: material, legal, formal 
ou analítico. Vejamos cada um deles:
Como elucida Masson (2019, p. 160), de acordo com o critério 
material ou substancial, crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou 
expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Esse critério 
tem em conta a relevância do mal produzido por determinadas condutas, 
e funciona como vetor do legislador para que a ele seja incumbido a 
tipificação exclusiva das condutas que causarem danos ou que coloquem 
em perigo bens jurídicos penalmente relevantes. Segundo o critério da 
legalidade, crime é aquela conduta posta pelo legislador como tal. Nesse 
sentido, institui o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei 
n° 3.914, de 9 de dezembro de 1941) que crime é aquela infração penal 
que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, isolada, alternativaou 
cumulativamente com a pena de multa; e contravenção e infração penal é 
aquela conduta que a lei comina isolada, alternativa ou cumulativamente 
pena de prisão simples ou de multa. O critério formal ou analítico, ou 
ainda, dogmático, tem em conta os elementos que compõem a estrutura 
do crime e a corrente majoritária adota a posição tripartida do conceito de 
crime, segundo a qual crime é todo fato típico, ilícito e culpável. 
Ante o exposto, passaremos agora à análise de cada um desses 
elementos fundamentais do crime, uma vez que sua função consiste 
na facilitação da averiguação da presença ou ausência de um delito no 
caso concreto. No entanto, antes disso, é importante ter em mente que a 
tipicidade, ilicitude e culpabilidade convertem uma ação ou omissão em 
um crime e que cada um desses elementos, como foram apresentados, é 
um antecedente lógico da apreciação do elemento seguinte.
A culpabilidade, enquanto responsabilidade pessoal por um fato 
antijurídico, pressupõe a antijuridicidade do fato; da mesma forma, a 
antijuridicidade pressupõe a sua concretização em tipos penais (GRECO, 
2012, p. 135).
Direito Penal
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Fato típico
O fato típico é o praticado por pessoa natural, ou também o 
praticado por pessoa jurídica, em relação aos crimes ambientais previstos 
na Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; que se enquadra perfeitamente 
aos elementos descritos pelo tipo penal. Nesse sentido, será atípico o 
fato decorrente de uma conduta sem previsão em nenhum tipo penal. 
A doutrina aponta, majoritariamente, quatro elementos do fato típico: 
conduta, resultado naturalístico, relação de causalidade ou nexo causal 
e tipicidade.
IMPORTANTE:
No tipo penal que acomoda uma conduta e um resultado 
naturalístico (uma modificação do mundo exterior 
decorrente do comportamento do agente), exigindo a 
produção do resultado para que o crime seja consumado, 
pode-se afirmar que os quatro elementos da tipicidade do 
fato estarão presentes quando o crime for consumado. Já 
nos crimes tentados, suprime-se o resultado naturalístico e 
o nexo causal. No tipo penal que acomoda o crime formal, 
no qual o resultado naturalístico não é necessário para a 
consumação do crime; e no tipo penal que acomoda o crime 
de mera conduta, no qual não há resultado naturalístico, 
suprimem-se o resultado naturalístico e o nexo causal 
(MASSON, 2019).
Nesse sentido, podemos afirmar que não há crime sem conduta. 
A delimitação do conceito de conduta, por sua vez, é uma das maiores 
discussões do Direito Penal, atualmente. Portanto, tratemos aqui apenas 
da teoria majoritária, qual seja, a teoria finalista. Segundo tal teoria, conduta 
é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a uma 
finalidade específica, a fim de que se produza um resultado tipificado ou 
previsto em lei como crime ou contravenção penal. 
A ação deve ser entendida como todo movimento corporal exterior, 
ou seja, um fazer algo. A omissão, por seu turno, constitui a conduta de 
não fazer aquilo que podia e deveria ter feito em termos jurídico; desse 
Direito Penal
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modo, pode desdobrar-se tanto na situação do indivíduo que nada fez 
devendo ter feito algo, ou na situação do indivíduo que fez algo diferente 
daquilo que o dever jurídico lhe impunha.
No âmbito da conduta, sob uma ótica finalista do Direito Penal, 
analisa-se também se determinada conduta é dolosa ou culposa. 
IMPORTANTE:
O dolo consiste na vontade e na consciência de realizar os 
elementos do tipo penal e a culpa, por sua vez, consiste na 
conduta voluntária, desprendida pelo agente que deixa de 
observar o dever de cuidado, por imprudência, negligência 
ou imperícia, produzindo um resultado naturalístico 
criminoso, objetivamente previsível ou que com a devida 
atenção poderia ser evitado. 
O dolo pode ser direito (a vontade do agente é voltada para um 
resultado específico); indireto (a vontade do agente não é dirigida a um 
resultado específico); alternativo (o agente deseja de forma indistinta um 
ou outro resultado); eventual (embora o agente não queira o resultado, ele 
assume o risco de produzi-lo). Há também o preterdolo, situação na qual 
a conduta dolosa acarreta a produção de um resultado mais grave do que 
o desejado pelo agente.
A culpa pode ser inconsciente (o agente não prevê o resultado 
objetivamente previsível); consciente (o agente prevê o resultado 
objetivamente previsível, mas realiza a conduta acreditando que ele não 
será produzido); própria (quando o agente não quer o resultado e não 
assume o risco de produzi-lo); imprópria (aquela em que, o sujeito, após 
prever o resultado e desejar sua produção, realiza a conduta por erro 
inescusável quanto à ilicitude do fato); e indireta ou mediata (quando o 
agente produz o resultado indiretamente a título de culpa).
O resultado é a consequência da conduta do agente. Em Direito 
Penal temos duas espécies de resultado: resultado jurídico ou normativo, 
que é a lesão ou exposição a perigo de lesão do bem jurídico penalmente 
tutelado; e o resultado naturalístico ou material, que é a modificação 
Direito Penal
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do mundo exterior em decorrência de um ato de vontade do agente 
criminoso. Nesse sentido:
Há crime sem resultado?
Resposta: Depende. Como vimos anteriormente, não há que se 
falar em crime sem resultado jurídico, pois será crime somente aquela 
conduta que lesiona ou expõe a perigo de lesão um bem jurídico 
penalmente tutelado. Em contrapartida, podemos afirmar que há crime 
sem resultado naturalístico, pois nosso Código Penal prevê a possibilidade 
de ocorrência dos crimes tentados, ainda que material, e crimes de mera 
conduta, nos quais o resultado naturalístico não será produzido; e prevê 
ainda a modalidade de crime formal, no quais, ainda que seja possível a 
ocorrência de resultado naturalístico, este é dispensável para que o crime 
seja consumado. 
A relação de causalidade ou o nexo causal é o elemento do tipo 
que impõe uma ligação entre a conduta e o resultado. Nesse sentido, o 
art. 13 do Código Penal estabelece que o resultado, de que se depende a 
existência do crime, somente será imputável a quem lhe deu causa. Insta 
destacar que prevalece na doutrina brasileira o entendimento de que o 
resultado ligado à conduta do agente deve ser entendido como resultado 
naturalístico, ou seja, o estudo da relação de causalidade alcança apenas 
os crimes materiais. Tal constatação funda-se no fato de que nos crimes 
de mera atividade o resultado naturalístico pode acontecer ou não, 
portanto, o nexo de causalidade é dispensável, uma vez que o crime se 
consuma com a simples prática da conduta. 
Por fim, como afirmado anteriormente, não há crime sem tipicidade. 
A tipicidade penal consiste na presença simultânea da tipicidade formal 
e da tipicidade material. A tipicidade formal é a operação pela qual é 
analisado se o fato praticado pelo agente tem correspondência em 
uma conduta prevista como crime ou contravenção penal. A tipicidade 
material ou substancial analisa a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico 
penalmente tutelado em razão da conduta praticada pelo agente, pois 
nem toda conduta que se encaixa perfeitamente na tipicidade formal 
do dispositivo penal acarreta dano ou perigo ao bem jurídico de forma 
relevante.
Direito Penal
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Fato ilícito
O fato será ilícito quando praticado contra alguém e contra o 
ordenamento jurídico, capaz de lesionar ou expor a perigo bem jurídico 
penalmente tutelado. Insta salientar que a ilicitude, no Direito Penal brasileiro, 
é meramente objetiva, ou seja, as características pessoais do agente, como 
a sua capacidade de discernimento, em nada afetam a ilicitude. 
EXPLICANDO MELHOR:
Os inimputáveis por qualquer que seja a causa de sua 
ausência de culpabilidade, praticam condutas ilícitas, 
muito embora as penas não possam lhe ser imputadas 
por ausência de culpabilidade. A ilicitude se mantém 
independentemente da culpabilidadedo agente.
Dito isso, em que consiste a culpabilidade de uma pessoa e qual a 
sua implicação na teoria do crime? Responderemos a presente questão 
na seção a seguir.
Fato culpável
Desde que se adote um conceito tripartido de crime, a culpabilidade 
é o elemento do crime que incide sobre a formação e exteriorização da 
vontade do responsável pela prática de um fato típico e ilícito, exercendo 
um juízo de censura e reprovabilidade, com o propósito de aferir a 
necessidade de imposição da lei penal. Em um Estado Democrático de 
Direito deve imperar um direito penal do fato, ou seja, deve-se punir os 
fatos praticados pelos agentes, e não o agente do fato, ou seja, deve 
desconsiderar a particular forma de ser do agente, deve punir o fato e não 
rotular as pessoas (MASSON, 2019, p. 376). Nesse sentido, a culpabilidade 
recai sobre o autor para analisar se ele deve suportar ou não uma 
pena em razão do fato cometido. Nos moldes da concepção finalista, 
a culpabilidade é composta pela imputabilidade; potencial consciência 
sobre a ilicitude do fato; e da exigibilidade de conduta diversa. Veremos 
cada um desses elementos da culpabilidade no Capítulo 4, para que não 
fujamos do tema proposto no presente Capítulo.
Direito Penal
40
Etapas da realização do crime
As etapas de realização do crime ou iter criminis, ou ainda, “caminhos 
do crime” corresponde aos passos percorridos pelo agente para a prática 
de um fato previsto em lei como infração penal.
Assim sendo, as etapas da realização do crime são assim dispostas:
A primeira fase é chamada de fase interna e consiste na cogitação, 
primeira etapa da realização do crime, na qual o agente forma a ideia 
de enveredar pela empreitada criminosa. É chamada de interna porque 
repousa no íntimo do agente, ou seja, na sua mente. A segunda fase é 
chamada da fase externa e consiste, respectivamente, na etapa da 
preparação, execução e consumação do crime. Na preparação, o agente 
realiza os atos indispensáveis à prática da infração penal. Na execução, o 
agente dá início à agressão ao bem jurídico. A execução, por seu turno, é 
a etapa na qual consuma-se o fato criminoso, ou seja, momento em que 
são reunidos todos os elementos da definição legal do crime. 
O crime exaurido ou crime esgotado é o delito em que, após a sua 
consumação, subsistem efeitos lesivos derivados da conduta criminosa. 
A título ilustrativo podemos citar o crime de extorsão mediante sequestro, 
pois se consuma com a privação da liberdade destinada à troca por 
vantagem indevida. O exaurimento não integra as etapas do crime, mas 
sim influi na dosimetria da pena.
IMPORTANTE:
É importante saber as fases de um crime para identificar 
a sua punibilidade, uma vez que a lei penal determina 
que o crime será punível apenas quando iniciada sua 
execução, ou seja, a cogitação e os atos preparatório 
não são puníveis. A delimitação das etapas de um crime 
é de fundamental importância, ainda, para que possamos 
verificar se determinado crime chegou a ser consumado ou 
não passou de mera tentativa. 
Direito Penal
41
Nesse sentido, em que consiste o crime tentado? Quais são os seus 
elementos? Vejamos!
O art. 14, inciso II, do Código Penal, conceitua a tentativa como o 
início da execução de um crime que não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente, o que culmina na tipicidade não finalizada, 
ou seja, o crime não é concluído por forças estranhas à vontade e ao 
propósito do agente. Ante o exposto, é possível afirmar que os elementos 
para que um crime seja tido como tentado são: a) início da execução do 
crime; b) ausência de consumação por circunstâncias alheias à vontade 
do agente; c) deve existir o dolo da consumação pelo agente.
A punibilidade da tentativa, por sua vez, é instituída pelo parágrafo 
único do art. 14 do Código Penal, segundo o qual a pena da tentativa deve 
ser correspondente à pena do crime que seria consumado, diminuída de 
um a dois terços.
NOTA:
Atualmente, prevalece no Direito Penal brasileiro o 
entendimento de que é cabível a tentativa nos crimes 
cometidos com dolo eventual, por equiparação ao art. 18º, 
inciso I, do Código Penal, no que tange o seu tratamento ao 
dolo direto (STJ, 2012).
Até aqui vimos que para que um fato seja considerado como crime 
exige-se que ele tenha correspondência a uma conduta prevista em lei 
como tal ou como contração penal. Entretanto, como proceder nos casos 
em que duas ou mais pessoas colaboram reciprocamente para a prática 
de um mesmo crime? E nos casos em que uma só pessoa pratica dois 
ou mais crimes, por meio de uma só conduta? Pois bem, as situações 
descritas são tratadas pela doutrina como situações de concurso de 
pessoas e concurso de crimes, respectivamente. A solução dada pelo 
Direito Penal a esses casos será estudada na próxima seção. E aí? Vamos 
juntos?
Direito Penal
42
Concurso de crimes e concurso de pessoas
O concurso de crimes é doutrinariamente dividido em concurso 
material, concurso formal e crime continuado. O concurso material de 
crime está previsto no art. 69 do Código Penal e ocorre quando o agente, 
ao realizar mais de uma conduta, seja ela uma ação ou omissão, realiza 
a prática de dois ou mais crimes, sejam eles idênticos (concurso material 
homogêneo) ou não (concurso material heterogêneo). Na presença da 
referida modalidade de concurso, o agente deverá ser acusado pela prática 
de todos os crimes cometidos, somando as suas respectivas penas.
EXEMPLO: o agente A pega um revólver e mata B. Em seguida, 
aponta a arma para C e o rouba. No presente caso, estamos diante de um 
concurso de crime heterogêneo.
O concurso formal de crimes, por sua vez, ocorre quando através 
de uma só conduta (ação ou omissão) o agente pratica dois ou mais 
crimes idênticos (concurso formal homogêneo) ou não (concurso formal 
heterogêneo). A presente modalidade de concurso está prevista no art. 70 
do Código Penal e, nesse caso, será aplicada a pena do crime mais grave, 
aumentada de um sexto até a metade; se as penas forem as mesmas, 
deverá ser aplicada somente uma das penas, aumentada de um sexto até 
a metade. As penas serão aplicadas de forma cumulativa se a conduta 
for dolosa e os crimes praticados ocorrerem por desígnios distintos e 
autônomos. 
EXEMPLO: o agente A, ao desrespeitar o sinal vermelho da 
sinalização de trânsito, atropela e mata duas pessoas. Nesse caso, 
estamos diante de um concurso formal homogêneo, devendo o agente 
ser acusado de homicídios culposos. 
O crime continuado está previsto no art. 71 do Código Penal e ocorre 
quando o agente, por meio de uma só ação ou omissão, pratica dois ou 
mais crimes da mesma espécie, nas mesmas condições de tempo, lugar, 
maneira e outras semelhantes, de modo que os crimes subsequentes 
são continuações do primeiro crime. Nesse caso, cumpridos os requisitos 
do caput do referido artigo, os fatos serão tidos como um só crime e ao 
agente deverá ser aplicada a pena de um só crime se todos eles forem 
Direito Penal
43
idênticos; ou a pena mais grave, se os crimes forem distintos. Em ambos 
os casos, a pena aplicada será aumentada de um sexto a dois terços.
EXEMPLO: o agente A que comete 15 furtos, agindo sempre da 
mesma maneira e de forma sucessiva, deverá ser punido pela prática do 
crime como se fosse um só, tendo sua pena aumentada.
O concurso de pessoas, por sua vez, ocorre quando duas ou mais 
pessoas concorrem para a prática de uma mesma infração penal. Essa 
colaboração recíproca para a prática de um ou mais crimes pode ocorrer, 
tanto nos casos em que são vários os autores quanto no caso de autoria e 
participação. Segundo o art. 29 do Código Penal, aquele que, de qualquer 
modo, concorrer para a prática de um crime, incide nas penas a este 
cominadas, na medida da sua culpabilidade. 
A doutrina destaca que para que se constate o concurso de 
pessoas é preciso verificar a presença de quatro requisitos: pluralidade de 
agentes;relevância causal da conduta de cada agente para que o crime 
seja realizado; liame subjetivo ou vínculo psicológico unindo os agentes; 
e identidade da infração penal, ou seja, os agentes devem objetivar, com 
suas condutas, o cometimento da mesma infração penal. 
Direito Penal
44
RESUMINDO:
Tudo bem até aqui? Ao longo de tudo que foi exposto, 
esperamos que você tenha compreendido que, 
majoritariamente, no Direito Penal brasileiro, tem se 
adotado a teoria tripartida do crime, segundo a qual será 
tida como infração o fato resultado de uma conduta que 
for típica, ilícita e culpável. É importante lembrar que 
a doutrina distingue a realização do crime em etapas 
sequenciais, sendo elas a cogitação, preparação, execução 
e preparação, e que tal distinção é imprescindível para 
que se possa verificar a punibilidade de um fato, uma vez 
que a lei penal determina que o crime será punível apenas 
quando iniciada sua execução, ou seja, a cogitação e atos 
preparatórios não são puníveis. E, por fim, vale lembrar 
que o concurso de crimes é doutrinariamente dividido em 
concurso material, concurso formal e crime continuado; e o 
concurso de pessoas verifica-se na presença dos seguintes 
requisitos: pluralidade de agentes, relevância causal, liame 
subjetivo e identidade da infração penal.
Direito Penal
45
Causas de Exclusão da Tipicidade, 
Ilicitude e da Culpabilidade
OBJETIVO:
Será crime o fato típico ilícito e culpável. Entretanto, o Direito 
Penal regula situações em que um fato típico será lícito e 
situações em que um fato típico e ilícito não será punível 
porque o agente que o cometeu não é imputável. Ao final 
desse Capítulo, você será capacidade de identificar cada 
uma dessas situações, pois passaremos agora ao estudo 
das excludentes de tipicidade, ilicitude e culpabilidade dos 
fatos típicos.
O elemento tipicidade é indispensável para que o fato seja tido como 
crime, pois se o fato praticado pelo agente não tem correspondência em 
uma conduta prevista como crime ou contravenção penal, ou se o fato 
praticado não culmina em lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico 
penalmente tutelado, não há que se falar em crime, o crime nunca existiu.
Como vimos anteriormente, a tipicidade do fato depende da conduta 
voluntária e consciente do agente; bem como que tal conduta venha a 
lesionar ou expor a perigo de lesão a um bem jurídico penalmente tutelado. 
Portanto, haverá excludente de tipicidade quando ausente qualquer um 
desses elementos típicos. Nesse sentido, a doutrina defende que haverá 
exclusão da tipicidade de um fato quando: a) haver coação física irresistível; 
b) incidência do princípio da insignificância; c) incidência do princípio da 
adequação social; d) incidência da teoria da tipicidade conglobante, 
segundo a qual não basta apenas a tipicidade legal (contrariedade do fato 
à lei penal), também é necessário que determinada conduta viole todo o 
sistema normativo, ou seja, que ela seja antinormativa.
Direito Penal
46
NOTA:
Quanto à teoria conglobante, Zaffaroni e Pierangeli (2007, 
p. 395) elucidam que o Estado cairia em contradição se 
considerasse típica uma conduta que é, por ele, tida como 
tolerada. Nesse sentido, o que é permitido por uma norma, 
não pode ser proibida por outra.
Por outro lado, o Direito Penal antevê que embora o agente tenha 
praticado uma conduta típica, há situações em que ele não será punido 
por ausência de ilicitude na sua conduta ou pelo fato de o agente ser 
penalmente inimputável.
Vejamos a seguinte situação: um senhor idoso que mora sozinho 
em uma propriedade rural, ao perceber que está prestes a ser assaltado, 
recebe o invasor com um tiro de revólver e o mata. Esse senhor será 
preso por crime de homicídio? A princípio, a resposta seria negativa, 
pois constatado que o senhor, apesar de ser perfeitamente imputável 
penalmente, agiu em legítima defesa, sua conduta apesar de ser típica 
será ilícita, portanto, não houve crime. É sobre essas questões que nos 
debruçaremos agora. 
Ao excluir a ilicitude de um fato típico, determinada conduta, apesar 
de típica, é tida como lícita. O Código Penal brasileiro, no seu art. 23, 
determina três causas expressas de exclusão da ilicitude, quais sejam: 
estado de necessidade, legítima defesa e estrito cumprimento de dever 
legal ou no exercício regular de direito. Desse modo, há ação que pela 
peculiar posição na qual se encontra o agente ao praticá-la, apresenta-
se perante o Direito como lícitas e essa peculiar posição em que os 
agentes atuam impende que elas sejam tidas como antijurídicas. Essas 
excepcionais situações de licitude são também chamadas de exclusão da 
antijuricidade, justificativas ou descriminantes (BRUNO, 1984).
Direito Penal
47
IMPORTANTE:
Greco (2012) salienta que além dos elementos objetivos de 
exclusão da ilicitude (aqueles definidos no art. 26 do Código 
Penal), também deve ser identificado na conduta do 
agente o elemento subjetivo de antijuridicidade, qual seja, 
o animus ou a vontade do agente ao realizar sua conduta, 
pois o agente dever saber ou pelo menos acreditar que 
atua em estado de necessidade, legítima defesa ou em 
estrito cumprimento de um dever legal ou no exercício 
regular de direito.
A título ilustrativo temos a seguinte situação: A dirige à casa de B 
para matá-lo. A, ao encontrar B dentro do seu carro na porta da sua casa, 
dispara vários tiros em direção ao carro e o mata. Entretanto, B estava 
dentro do carro com uma arma apontada para C com a intenção de matá-
lo para acertar umas dívidas, portanto, A mata B, salvando a vida de C sem 
saber. Nesse caso, A será indiciado pelo homicídio de B, pois sua intenção 
sempre foi a de matar B e não de salvar a vida de C.
Quanto aos elementos objetivos, o Código Penal trouxe os conceitos 
de estado de necessidade e legítima defesa, no caso do cumprimento 
do dever legal e do exercício regular do Direito, suas definições ficaram 
a cargo da doutrina e da jurisprudência. Iniciaremos o estudo desses 
elementos trazendo o conceito de estado de necessidade. Segundo o 
art. 24 do Código Penal: “Considera-se em estado de necessidade quem 
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua 
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo 
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se” (BRASIL, 2017, p. 
17). Cabe destacar que não pode alegar estado de necessidade quem 
tinha o dever legal de enfrentar o perigo (art. 24, parágrafo 1º).
No estado de necessidade a doutrina afirma que a regra é que 
ambos os bens jurídicos em conflito devam estar amparados pelo 
ordenamento jurídico, pois é daí que se extrai a justificativa da licitude 
da conduta, ou seja, é o conflito de bens jurídicos tutelados que levará, 
em virtude da situação que se encontravam, à prevalência de um sobre 
Direito Penal
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o outro (GRECO, 2012). Nesse sentido, se A mata B por acreditar que B 
irá matar C, prevalecerá o bem jurídico, vida de C sobre o bem jurídico, 
vida de B. Quanto aos bens jurídicos tutelados, o Código Penal brasileiro 
adota a teoria unitária, na qual todo estado de necessidade será causa de 
exclusão da ilicitude, pouco importando se o bem jurídico protegido pelo 
agente é de valor superior, igual ou inferior àquele que está sofrendo a 
ofensa.
A legítima defesa é assim definida pelo art. 25 do Código Penal: 
“entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos 
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu 
ou de outrem” (BRASIL, 2017, p. 17). O parágrafo único do mesmo artigo 
prevê que, tendo em conta os requisitos acima descritos, “considera-se 
também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele 
agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática 
de crimes”(BRASIL, 2017, p. 17). O Estado legitima que, em determinadas 
situações e de forma limitada, seus cidadãos possam agir em sua própria 
defesa,vez que não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo 
para protegê-los. 
Figura 4 – A legítima defesa ocorre sempre em reação a uma injusta agressão da vítima e 
desde que ocorra com proporcionalidade no uso dos meios empregados para reagir ao 
dano ou ao perigo de dano sofrido
Fonte: Freepik
Direito Penal
49
IMPORTANTE:
Feitas essas considerações, a doutrina tem entendido que 
qualquer bem jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico 
pode ser protegido pelo instituto da legítima defesa, desde 
que presente seus requisitos: a) meios necessários; b) 
moderação no uso dos meios; c) atualidade e iminência da 
agressão; d) defesa de direito próprio ou alheio; e) injusta 
agressão; bem como que para ser passível de legítima 
defesa o bem jurídico tutelado deve estar posto em perigo 
em uma situação na qual seja impossível socorrer-se do 
Estado (MASSON, 2019).
No estrito cumprimento de um dever legal compreende os 
deveres de intervenção do funcionário na esfera privada para assegurar 
o cumprimento da lei (de natureza penal ou não) ou de ordens de 
superiores da administração pública, que podem determinar a realização 
justificada de tipos legais; desde que o cumprimento desse dever se dê 
nos termos impostos pela lei (SANTOS, 2000). Portanto, destacamos que 
a excludente em análise pressupõe no executor um funcionário público, 
agente público, o particular que exerça função pública e o particular que 
atua em cumprimento de um dever imposto por lei (MASSON, 2020).
NOTA:
Com o advento da Lei n° 13.964, de 24 de dezembro de 
2019, a Lei do Pacote Anticrime, exclui-se a ilicitude do 
caso previsto no art. 10-C da presente lei: “não comete 
crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio 
da internet, colher indícios de autoria e materialidade dos 
crimes previstos no art. 1º desta Lei” (BRASIL, 2019, p. 7).
O exercício regular de direito autoriza a prática de ato, reputado 
pela ordem jurídica como exercício de um direito, sendo a palavra direito, 
nesse caso, empregada de forma ampla. Nesse sentido, se um civil, que 
presencia um assalto, efetua a prisão em flagrante do autor, não pode a ele 
Direito Penal
50
ser imputado o crime de constrangimento ilegal em razão da permissão 
contida no art. 301 do Código de Processo Penal. Nesse sentido, prevalece 
na doutrina o entendimento de que o direito, que autoriza a exclusão da 
ilicitude de uma conduta, deve estar previsto na lei (MASSON, 2019).
Insta salientar que o excesso é punível em todos os casos vistos de 
exclusão da ilicitude. Uma vez que, para a excludente, a lei penal impõe 
seus exatos limites, e aquele que os ultrapassar deverá ser punido. Seja a 
título de dolo ou de culpa, a excludente da ilicitude desaparece em face 
do agente que desrespeita os seus limites legalmente previstos, devendo 
suportar a punição pelas abusivas lesões provocadas ao bem jurídico 
penalmente tutelado. 
Quanto à culpabilidade, tem-se que seus elementos são a 
imputabilidade, potencial, consciência da ilicitude e a exigibilidade de 
conduta diversa. Portanto, a culpabilidade tem o condão de diferenciar a 
conduta do homem normal, maior de idade, plenamente apto ao convívio 
social, dotado de conhecimento do caráter ilícito do fato livremente 
cometido; do comportamento realizado por portadores de doenças 
mentais ou desenvolvimento mental incompleto ou retardo, de pessoas 
que não têm plena capacidade de discernimento, ou de pessoas que 
não têm como agir de forma diversa. Desse modo, pode-se afirmar que 
a culpabilidade se funda no perfil subjetivo do agente. O maior ou menor 
grau de culpabilidade do agente constitui-se em circunstâncias judiciais 
destinadas à quantidade de penas concretamente aplicadas, como 
preceitua o art. 59 do Código Penal.
O conceito de imputabilidade não foi trazido pelo nosso Código 
Penal, de modo que apenas temos previstos quais são os casos de 
inimputabilidade (artigos 26, 27 e 28 do referido diploma). Sobre a análise 
dos referidos artigos é, contudo, possível afirmar que imputabilidade 
consiste na capacidade mental, inerente ao ser humano de, no tempo 
da conduta penalmente defesa, entender o caráter ilícito do fato e de 
determinar-se de acordo com esse entendimento (MASSON, 2019). 
Assim sendo, a inimputabilidade depende da ausência de um desses 
elementos: elemento intelectivo (perfeita saúde mental do indivíduo) e 
volitivo (domínio da vontade). 
Direito Penal
51
NOTA:
A culpabilidade é pressuposto de aplicação da lei penal. 
Sem a imputabilidade o agente deverá ser submetido 
normalmente à justiça penal, deverá ser processado e 
julgado pelo ilícito penal cometido, contudo não poderá ser 
condenado (MASSON, 2019).
A menoridade (art. 27 do Código Penal) como causa de exclusão 
da culpabilidade é absoluta (art. 228 da Constituição Federal), ou seja, 
independe da inteligência, expertise e do desenvolvimento mental do 
menor de 18 anos. O menor emancipado civilmente continua inimputável 
penalmente, pois predomina o entendimento de que a capacidade civil 
não se confunde com a capacidade penal.
Figura 5 – Algumas pessoas não são passiveis de sofrer a aplicação de uma sanção penal, 
como as crianças enquanto menores de idade
Fonte: Freepik
A inimputabilidade por doença mental (art. 26, caput, do Código 
Penal) deve ser interpretada no sentido amplo, englobando os problemas 
patológicos e os de origem toxicológica. O crucial é que seja detectável 
qualquer alteração mental ou psíquica que suprima no agente a sua 
capacidade de entender o caráter ilícito de um fato e de determinar-se 
de acordo com esse entendimento, independentemente dessa alteração 
ser permanente ou transitória, como um delírio febril ou os decorrentes 
de grave pneumonia. 
Direito Penal
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A inimputabilidade por desenvolvimento mental incompleto (art. 
26, caput e art. 27 do Código Penal) abarca os menores de 18 anos e os 
indígenas. Os índios, entretanto, somente serão inimputáveis quando 
uma perícia demonstrar que ele é completamente incapaz de viver em 
sociedade, desconhecendo as regras que lhe são inerentes. 
A inimputabilidade por desenvolvimento mental retardado diz 
respeito ao indivíduo que não se mostra em sintonia com os demais 
indivíduos com a mesma idade cronológica, resultante de alguma condição 
que lhe seja peculiar. O desenvolvimento mental retardado é um condição 
de desenvolvimento interrompido ou incompleto da mente, portanto, se 
ao tempo da ação ou omissão, o agente for um sujeito acometido por tal 
desenvolvimento retardado da mente, e, por consequência, for incapaz 
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme esse 
entendimento, ele será tido como inimputável para o Direito Penal.
Partindo do pressuposto de que sem imputabilidade (elemento da 
culpabilidade) ao agente não pode ser imposta um pena, o Direito Penal 
brasileiro prevê que, embora demonstrado em juízo o envolvimento de 
um inimputável em um fato típico e ilícito, ele deverá ser absolvido (pela 
chamada sentença de absolvição imprópria), contudo lhe será aplicada 
umas das medidas de segurança previstas no art. 386 do Código de 
Processo Penal. A justificativa para a aplicação dessas medidas, por sua 
vez, reside no fato de que o juízo de culpabilidade desses indivíduos é 
substituído pelo juízo de periculosidade (MASSON, 2019). 
NOTA:
O Código Penal, no art. 28, incisos I e II, prevê que a paixão 
ou emoção e a embriagues, voluntária ou culposa, não 
excluem a imputabilidade penal.
Isso posto, para finalizarmos o presente Capítulo, iremos repassar 
os elementos que compõem a infração penal por meio da seguinte figura:
Direito Penal
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Figura 6 – Elementos que compõem a infração penal 
Crime
Fato típico
 • Conduta.
 • Resultado.
 • Nexo de 
causalidade.
 • Tipicidade. 
Antijurídico
 (Quando o agente não 
atua em):
 • estado de 
necessidade. 
 • legítima 
defesa.
 • exercício 
regular de 
direito.

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