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1 DIREITO CIVIL – OBRIGAÇÕES - DN3 CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES (Modalidades- tipos de obrigações) CLASSIFICAÇÃO BÁSICA: (principal) OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA: (arts. 233 a 242 do CC) Situações em que o devedor se obriga a dar uma coisa individualizada, móvel ou imóvel, cujas características foram acertadas pelas partes, geralmente em um instrumento negocial. A determinação do objeto justifica a denominação obrigação específica. Na obrigação de dar coisa certa, o credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa, conforme consta no art. 313 do CC: Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. As obrigações de dar podem se concretizar pela transferência da propriedade (Ex.: compra e venda) ou por entrega em que se cede a posse ou a guarda temporária da coisa que deve ser posteriormente restituída (Ex.: locação, depósito etc.). Oito regras da obrigação de DAR COISA CERTA: 1.ª Regra – Na obrigação de dar coisa certa, perdendo-se a coisa sem culpa do devedor (antes da tradição ou pendente condição suspensiva), resolve-se a obrigação para ambas as partes, sem o pagamento das perdas e danos (art. 234, primeira parte, do CC). *resolver significa que as partes voltam à situação primitiva, anterior à celebração da obrigação. Ex.: Se na venda de um cavalo com pagamento antecipado do preço, no dia anterior à entrega, o cavalo morre atingido por um raio. Nesse caso, o preço pago deverá ser devolvido, sem qualquer indenização suplementar. 2 2.ª Regra – Se ocorrer a perda da coisa com culpa do devedor, na obrigação de dar coisa certa, o credor poderá exigir o equivalente à coisa, mais perdas e danos (art. 234, segunda parte, do CC). * Entendendo-se culpa em sentido amplo (lato sensu): o dolo (intenção de descumprimento) e a culpa em sentido estrito ou stricto sensu (descumprimento por imprudência, negligência ou imperícia). Ex.: Se o cavalo morrer por um golpe do devedor, que se encontrava em estado de embriaguez, além de devolver o preço recebido deverá indenizar o comprador por lucros cessantes e outros prejuízos suportados. 3.ª Regra – Na obrigação de dar coisa certa, se a coisa se deteriorar sem culpa do devedor, o credor terá duas opções: resolver a obrigação, sem o direito a perdas e danos, já que não houve culpa genérica da outra parte ou ficar com a coisa, abatido do preço o valor correspondente ao perecimento parcial (art. 235 do CC). Ex.: Se o cavalo ficar cego porque foi atingido no seu olho por um inseto, o comprador poderá ficar com o cavalo, abatido no preço o valor da desvalorização; ou exigir a devolução do preço integral, sem perdas e danos. 4.ª Regra – Nos termos do art. 236 do CC, na obrigação de dar coisa certa, havendo deterioração da coisa, com culpa do devedor: poderá o credor exigir o valor equivalente à coisa ou ficar com ela no estado em que se encontrar, nos dois casos com perdas e danos. Ex.: Se o vendedor cegar o cavalo de forma intencional, o comprador poderá ficar com o animal deteriorado ou exigir o seu equivalente, nos dois casos com direito à indenização suplementar pelos prejuízos suportados. 5.ª Regra – Na obrigação de restituir coisa certa, ocorrendo a perda da coisa sem culpa do devedor e antes da tradição, aplica-se a máxima pela qual a coisa perece para o dono (res perit domino), suportando o credor o prejuízo, conforme determina o art. 238 do CC. Porém, o credor, proprietário da coisa que se perdeu, poderá pleitear os direitos que já existiam até o dia da referida perda. Ex.: No caso de locação, em que há o dever de devolver o imóvel ao final do contrato. Se ocorrer um incêndio causado por caso fortuito ou força maior e que destrói o imóvel, o locador (credor da coisa) não poderá pleitear um novo imóvel do locatário (devedor da coisa) que estava na posse do bem, ou o seu valor correspondente; mas terá direito aos aluguéis vencidos e não pagos até o evento danoso. 6.ª Regra – Determina o art. 239 do CC/2002 que, na obrigação de restituir, se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. Ex.: Se o locatário for o responsável pelo incêndio que causou a perda total do imóvel, provado o seu dolo ou a sua culpa, o locador poderá pleitear o valor correspondente ao bem acrescido de perdas e danos. 7.ª Regra – Havendo deterioração sem culpa do devedor na obrigação de restituir, o credor somente pode exigir a coisa no estado em que se encontrar, sem direito a qualquer indenização (art. 240, primeira parte, do CC). * Isso porque se a coisa perece para o dono totalmente, por igual perece parcialmente. Ex.: se na locação o imóvel for destruído parcialmente por uma enchente, o credor (locador) somente poderá pleitear a coisa, no estado em que se encontrar. 3 8.ª Regra – Por fim, na obrigação de restituir coisa certa, havendo deterioração da coisa com culpa do devedor, o credor passa a ter o direito de exigir o valor equivalente à coisa, mais as perdas e danos que o caso determinar (conforme o art. 240, segunda parte, que manda aplicar o art. 239 do CC). Na verdade, como o caso é de deterioração, o comando deveria mandar aplicar o art. 236, que traz regra equivalente. Diante desse equívoco do legislador, complementando a norma, prevê o Enunciado n. 15 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na I Jornada de Direito Civil, que “as disposições do art. 236 do novo Código Civil também são aplicáveis à hipótese do art. 240, in fine”. Resumindo, se o credor quiser, poderá ficar com a coisa no estado em que se encontrar ou exigir o seu equivalente, mais perdas e danos, como consta do art. 236 do CC. Além das regras relativas ao inadimplemento da obrigação específica, outras devem ser estudadas. - art. 237 do Código Civil: até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Os frutos, também são considerados melhoramentos (cômodos obrigacionais): bens acessórios que são retirados do principal sem lhe diminuir a quantidade. Dispõe o parágrafo único do art. 237 do CC que os frutos percebidos – já colhidos – pertencem ao devedor, enquanto os pendentes (ainda não colhidos) pertencem ao credor. - o art. 241 do CC enuncia que se sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, o credor as lucrará, ficando desobrigado ao pagamento de indenização. (vedação ao enriquecimento sem causa) Se para o melhoramento ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas do CC referentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa ou de má-fé (art. 242 do CC). Também em respeito a vedação do enriquecimento sem causa e com a eticidade, prevendo que: - o devedor deverá ser indenizado pelas benfeitorias úteis e necessárias, conforme dispõe o art. 1.219 CC: Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. O parágrafo único do art. 242 dispõe em relação aos frutos percebidos, no caso de terem sido colhidos pelo devedor, deverão ser observadas as regras que constam dos arts. 1.214 a 1.216 do mesmo Código Civil. Desse modo, sendo o devedor possuidor de boa-fé – terá direito aos frutos percebidos, porém, se o possuidor tiver agido de má-fé, não haverá qualquer direito, além de responder por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como por aqueles que, por culpa sua, deixou de perceber o credor (art. 1.216 do CC). (TARTUCE, Flávio Manual de direito civil: volume único. 10. ed.rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020. P. 534 a 545 - adaptado) 4 TÍTULO I DAS MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES CAPÍTULO I DAS OBRIGAÇÕES DE DAR Seção I Das Obrigações de Dar Coisa Certa Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos. Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes. Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239. Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização. Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má- fé.
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