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Regionalização do Brasil Processo de Ocupação da Amazônia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Flavio Bezerra da Silva Revisão Textual: Profa. Esp. Natalia Mendonça Conti 5 • Processo de Ocupação e Planos Para a Amazônia • A ocupação do espaço na Amazônia pós 1953 • O Período Neoliberal Pós Anos 1990 Para que haja um aproveitamento dos objetivos propostos para esta disciplina, é importante que os textos sejam lidos e refletidos com atenção e os respectivos exercícios, bem como as atividades propostas, devidamente realizados Nesta unidade, é essencial perceber que há diferentes formas de definir o que seja a Amazônia, bem como reconhecer os períodos de sua ocupação mais recente, com as políticas dos governos militares e dos governos neoliberais. Desse modo, perceber que há diferentes territorialidades na Amazônia e inúmeras contradições espaciais na região. Processo de Ocupação da Amazônia 6 Unidade: Processo de Ocupação da Amazônia Contextualização Leia com atenção o texto produzido pelo IBGE sobre a Amazônia Legal: Mapa da Amazônia Legal - Fronteira Agrícola Apresentando grande diversidade natural, social, econômica, tecnológica e cultural, a Amazônia Legal constitui uma região em crescente processo de diferenciação que contraria, em muito, a imagem difundida pelo mundo de um espaço homogêneo caracterizado pela presença de uma cobertura florestal que o identifica tanto interna quanto externamente. Na atualidade, esse espaço regional consolida sua participação no processo geral de transformação territorial do Brasil e, especificamente, naquele afeto às mudanças ocorridas no uso da terra, no qual a expansão/intensificação da agropecuária acaba determinando, em grande parte, a dinâmica econômica e demográfica desta imensa região, esta última revelada, no Mapa, pelos indicadores de densidade demográfica. Assim, ao invés de reproduzir, como nas antigas áreas de incorporação agrícola, estruturas produtivas preexistentes, a expansão recente da fronteira agropecuária na Amazônia constitui, antes de mais nada, uma fronteira tecnológica na qual a inovação científica é o elemento central de explicação do novo perfil produtivo do agro regional. Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/mapas_doc3.shtm Ao longo da história do século XX-XXI houve diversos discursos sobre o que é a Amazônia, bem como diversas políticas públicas dos governos federais que induziram à ampliação da ocupação da região. A concepção apresentada no texto do IBGE dá ênfase à concepção de Amazônia Legal, definida em 1953. Ao mesmo tempo, num discurso político governamental aponta a diversidade existente dentro da Amazônia. Podemos afirmar que há muitas regiões dentro da própria Amazônia, que esta possui diversas territorialidades ou diversos usos do território. O estado do Amazonas, por exemplo, tem uma ocupação e densidades maiores em torno da cidade de Manaus, com seu polo industrial na Zona Franca de Manaus; já o Pará, principalmente em sua porção leste-sudeste, teve, pós anos 1960, sua inserção na economia internacional, com a criação de grandes projetos agropecuários e principalmente minerais. O texto do IBGE aponta as inovações tecnológicas que foram incorporadas ao território amazônico. Contudo, será que tais inovações são para o uso social de toda a população ou só para alguns segmentos e territórios? http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/mapas_doc3.shtm 7 Processo de Ocupação e Planos Para a Amazônia Ao tratarmos da Amazônia, cabe lembrar que há diferentes regionalizações que a definem. Nesta unidade usaremos duas: a primeira refere-se a uma regionalização formal, criada pelo Estado brasileiro, denominada Amazônia Legal e a outra definida por Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001). Para o governo brasileiro a Amazônia Legal é uma unidade regional de política pública. Foi criada em 1953, com a criação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), como explica as informações do site1 da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM): Em 1953, através da Lei 1.806, de 06.01.1953,(criação da SPVEA), foram incorporados à Amazônia Brasileira, o Estado do Maranhão (oeste do meridiano 44º), o Estado de Goiás (norte do paralelo 13º de latitude sul atualmente Estado de Tocantins) e Mato Grosso ( norte do paralelo 16º latitude Sul). Com esse dispositivo legal (Lei1.806 de 06.01.1953) a Amazônia Brasileira passou a ser chamada de Amazônia Legal, fruto de um conceito político e não de um imperativo geográfico. Foi a necessidade do governo de planejar e promover o desenvolvimento da região. Atualmente, os estados que compõem a Amazônia Legal são: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão (oeste do meridiano 44˚). Já na definição de Milton Santos e Maria Laura Silveira (2001) para a regionalização do Brasil, dos “quatro brasis”, a Amazônia é composta dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, definindo-a como a última região brasileira a ampliar a mecanização do território, ou seja, de dotar infraestruturas que buscam dar fluidez ao capital das empresas. Ao longo da história da formação socioespacial do Brasil a Amazônia foi alvo de diferentes interesses. É importante lembrar que originalmente pelo Tratado de Tordesilhas (1494) a região não pertencia a terras do governo português e sim da Espanha. No período da União Ibérica (1580-1640) no qual os governos de Portugal e Espanha ficaram unidos, houve certo afrouxamento nesta ocupação realizada pelos portugueses. Roberto Lobato Corrêa (2006) propõe uma periodização da região, usando principalmente de critérios da ocupação e da formação de redes urbanas, nas quais aponta os seguintes eventos principais e seus respectivos períodos: • Um período inicial da implantação da cidade de Belém em 1616, com o início da conquista do território; • A posterior expansão dos fortes e criação de aldeias missionárias, geralmente aldeias que futuramente tornaram-se vilas e depois cidades nos séculos XVII-XVIII. Estes fortes e aldeias situados às margens e confluências do rio Amazonas, caso de Santarém, no rio Tapajós; Óbidos, no rio Trombetas; Tefé no Rio Japurá, bem como as aldeias missionárias de Alenquer, Gurupatiba (Monte Alegre), Mariuá (Barcelos) etc.; 1 http://www.sudam.gov.br/amazonia-legal. http://www.sudam.gov.br/amazonia-legal 8 Unidade: Processo de Ocupação da Amazônia • No século XVIII, em 1755, com a fundação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, por Marquês de Pombal, buscando monopolizar o comércio da região, mediante a exploração dos produtos tropicais- chamados de “drogas do sertão”; • A estagnação urbana nos séculos XVIII-XIX, relacionadas principalmente ao fim da Cia. Geral do Grão Pará e Maranhão e do interesse pelos produtos tropicais que arrefeceram; • Da metade século XIX ao final da Primeira Guerra Mundial, o período de fundamental importância da região, com o boom da borracha, com grande expansão urbana. Este período foi o de inserção da região na divisão internacional do trabalho e da criação de duas centralidades mais importantes: Belém e Manaus, cidades por onde era exportada a borracha; • Posterior estagnação urbana com a crise da borracha, após anos 1920; • Por fim, pós 1960, com novos processos de urbanização, sobretudo com a indução das políticas governamentais de integração territorial e a implantação das rodovias. Optamos por discutir o período pós 1953, com a criação da Amazônia Legal, e acrescentar uma nova fase pós anos 1990 até hoje. A ocupação do espaço na Amazônia pós 1953 Ao longo do século XX foram comuns discursos em prol da necessidade de “povoar” a região. Os discursos de governos e do meio acadêmico geralmente relacionavam-se aos seguintes aspectos: a necessidade de ocupar e povoar a região; a Amazônia era vista como um imenso vazio, uma extensa área de fronteira,ocupada pela Floresta Amazônica e pouco povoada, com o extrativismo vegetal como principal atividade econômica. Como se não houvesse povos na região. A criação da SPVEA (atual SUDAM), ainda no governo Vargas (1950-1954) e também a formalização da Amazônia Legal, são eventos ou marcos importantes na política voltada ao planejamento regional. Segundo o geógrafo Orlando Valverde e o pesquisador Tácito Lívio Reis de Freitas a Amazônia Legal já começou como uma região gigante e cujos interesses políticos ampliaram-na. Conforme dizem os autores em 19822: Desde o nascedouro, problemas de politicagem, do plano local até o nacional, atormentaram o desempenho das atividades da SPVEA. A simples área de sua atuação se compreendesse somente os estados do Pará, Amazonas, Acre e os Territórios do Amapá, Roraima e Rondônia, abrangeria 3.581.180 km², equivalentes a 42% do território nacional. Não satisfeitos com isso os legisladores, vários deles desejosos de beneficiar seus estados ou áreas de seu eleitorado, dilataram brutalmente os limites oficiais da região, criando a chamada “Amazônia Legal”, com 5.035.070 km², isto é 59% da área do Brasil. Jamais, em qualquer país do mundo, um departamento de planificação regional teve a seu encargo uma superfície tão vasta (VALVERDE, FREITAS, 1982, p. 106). 2 Importante lembrar que em 1982 ainda havia territórios federais no Brasil, caso do Amapá e Roraima 9 No governo JK (1956-1961), o Plano de Metas optou pela integração da Amazônia com o território brasileiro mediante construção de rodovias, caso, por exemplo, da Belém-Brasília. Já nos governos militares a lógica da integração se faz primeiramente pelo Programa de Integração Nacional (PIN) e outros 3 Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND). O PIN (1970) era um programa de integração nacional que tinha a Amazônia como seu alvo principal. Tal programa tinha como mote projetos de colonização agropecuária ao longo das rodovias Cuiabá-Santarém e Transamazônica (BR 230). A Transamazônica cortava a floresta no sentido Oeste-Leste (ver figura 1) e posteriormente foi estendida ao Nordeste. A rodovia começa a ser planejada e construída durante o governo Médici (1969-1974) com intuito principal de ocupar faixas em torno de 10 km para cada lado da rodovia, com projetos agropecuários, com propriedade familiar, denominada módulo, com trabalho de pequenos agricultores. Figura 1: Transamazônica (BR 230) Atualmente. Fonte: Ministério dos Transportes Houve grandes equívocos nesta proposta apontados por vários pesquisadores, entre eles citamos: • Os colonos contemplados nem sempre tinham conhecimento de agricultura em região como a amazônica, o que acarretou na devastação da floresta, por meio do rocio e queimadas, intensificando o processo de lixiviação do solo; • Não havia infraestrutura urbana adequada para que houvesse atendimento aos migrantes que se deslocaram para estas regiões e a própria Transamazônica carecia de condições para circulação de pessoas e mercadorias, já que não era pavimentada; • O apoio técnico aos agricultores foi precário, bem como houve falta de insumos e capital para que houvesse um bom retorno econômico aos agricultores. 10 Unidade: Processo de Ocupação da Amazônia “Integrar para não entregar” e “terra sem gente para gente sem terra” eram os lemas dos governos militares, buscando atrair colonos do Sul-Sudeste e os excedentes e/ou expropriados do Nordeste do Brasil, bem como fazendo um discurso ufanista de integração nacional. Conforme explica Daniel Huertas: A abertura das polêmicas rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém – cujas diretrizes eram a criação de facilidades de acesso às áreas em condições de exploração econômica e às faixas de solos mais favoráveis à implantação e desenvolvimento da agropecuária – simbolizava não apenas a integração física e mental da hiléia ao resto do país, mas o gigantismo intrínseco à idéia do “Brasil potência” desenhada pelos mentores do plano geopolítico do governo militar como elemento crucial da psicosfera do regime (HUERTAS, 2009, p. 120). Novamente cria-se um discurso – uma psicosfera – de que estes projetos “colonizadores” e depois, numa segunda fase, os grandes projetos minerais iriam alavancar o desenvolvimento da Amazônia; esquecendo-se, no entanto, dos povos tradicionais da Amazônia, caso dos ribeirinhos e indígenas, bem como da dinâmica natural da floresta e das diversas paisagens existentes. A geógrafa Bertha Becker resume a concepção dos motivos de levar migrantes a colonizarem a Amazônia: As motivações das políticas regionais na Amazônia, entretanto, diferem em relação ao Nordeste. Para a Amazônia tais políticas eram vistas como soluções para as tensões sociais internas decorrentes da liberação de mão de obra no campo devido à modernização da agricultura no Nordeste e no Sudeste; para evitar o surgimento de focos revolucionários no meio da floresta; e para reforçar a influência brasileira na região por meio de um maior povoamento e integração com o coração da economia brasileira (BECKER, 2012, p. 82). Com o fracasso da política de colonização rural no entorno da Transamazônica e também em Rondônia, o governo no II PND optou por grandes projetos agropecuários e minerais, denominados de POLOAMAZÔNIA. Foram 15 grandes polos instalados em diversas regiões da Amazônia. Houve a entrada de capital estrangeiro, bem como a chegada de atores sociais hegemônicos da Região Concentrada do Brasil na Amazônia, com apoio do governo brasileiro. Sobre isso, a geógrafa Neli Aparecida Mello explica: A utilização dos mecanismos de incentivos fiscais gerenciados pela SUDAM foi dirigida aos projetos agropecuários e industriais, marcando fundamentalmente o tipo de ocupação e uso das terras amazônicas. Entre 1966 e 1977, a SUDAM aprovou 549 projetos para a implantação e modernização de empresas, dos quais 335 eram relativos ao setor agrícola e 214 ao setor industrial com investimentos de 7,2 bilhões de cruzeiros dos quais 5,5 bilhões na agricultura. Entre pagar impostos ou beneficiar- se de incentivos, o momento foi propício ao envolvimento de grandes empresas nacionais ou transnacionais: Camargo Corrêa, Liquigás, Nestlé, Goodyear, Ultra, Volkswagen, etc. (MELLO, 2005, p. 42). Um destes projetos foi o projeto Jari, instalado entre o Amapá e o Pará. O empresário e bilionário norte-americano, Daniel Keith Ludwig, com o apoio dos governos militares, adquire em 1967 aproximadamente três milhões e trezentos mil hectares (ha.) em plena floresta, na divisa do Pará com o Amapá, numa área maior do que o estado do Sergipe (OLIVEIRA, 1987). 11 Tratava-se de um megaprojeto agropecuário para a produção de gado e arroz, e também para a exploração mineral de caulim e bauxita. Além disso, havia a produção de celulose por meio do reflorestamento, que destruiu a flora e a fauna regional para plantar eucaliptos para a produção de celulose, trazendo uma planta exótica à Amazônia, a chamada gmelina arborea. Para isso, houve a importação diretamente do Japão, via marítima, de uma fábrica de celulose, que foi rebocada até o local em 1978. Por outro lado, foi necessário dinheiro público para a construção de portos e vias para que pudessem escoar a produção. Formaram-se ocupações sem infraestrutura com trabalhadores braçais do projeto, uma delas conhecida como “beiradão”, que hoje é o município de Laranjal do Jari, no Amapá. Em 1981, quando o governo do General Figueiredo não autorizou a construção de uma usina hidrelétrica particular nas terras do Jari, Ludwig abandona o projeto e o governo do Brasil assume as dívidas e repassa o projeto a um grupo brasileiro, que é associado a grandes grupos internacionais de mineração. O geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira comenta como os interesses de grandes corporações e empresariado estrangeiro se apossou de terras brasileiras com o apoio e anuência dos governos militares: O curioso a esse respeito é que os termos gerais do DecretoLei permitiam que todo e qualquer outro projeto aprovado por “órgão competente” (SUDAM, INCRA etc.) tivesse suas terras liberadas das malhas da lei, desde que, evidentemente, fosse considerado de interesse para a economia nacional, o que quer dizer que o projeto Jari, destinado a derrubar a floresta amazônica para plantar gmelina numa extensão total de 200.000 ha., necessitava da propriedade de mais de 3,5 milhões de hectares de terras. Esse mesmo caminho foi percorrido pela GEORGIA PACIF para escapar da nova legislação sobre a venda de terras para estrangeiros, uma vez que também ela havia sido citada na CPI, e, em 20/03/70, o governo militar do então General Médici, aprovou seu projeto na SUDAM, através da Cia. Amazonas Madeiras e Laminados. Assim, esta empresa foi reconhecida como indústria madeireira e de reflorestamento, passando a gozar, como o Jari, da isenção de impostos de importação, passando esta multinacional a ser também “empreendimentos industriais considerados de interesse para a economia industrial”; logo suas terras estavam “legalizadas” perante a nova lei e os resultados da CPI. O regime militar mais uma vez revelava sua intenção de proteger os interesses norte-americanos no Brasil a qualquer custo. Fonte: Extraído de OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino, 1987, p. 24. Desse modo, os grandes projetos da Amazônia ao longo dos governos militares e mesmo atualmente fazem parte do interesse das grandes empresas nacionais e internacionais. Houve também garimpos que não foram destinados a grandes companhias, caso do ouro de Serra Pelada, no sudeste do Pará, que na década de 1980 levou a uma verdadeira corrida do ouro, sendo explorada diretamente por garimpeiros, estimados em mais de 80 mil. O quadro a seguir mostra um pouco desta expropriação dos recursos minerais na Amazônia nas décadas de 1970-80: 12 Unidade: Processo de Ocupação da Amazônia Quadro 1: Alguns minerais explorados na Amazônia - Décadas 1970-1980 Minerais Localização Exploração Cassiterita –Minério de Estanho Rondônia Grupos Econômicos: Itaú, Paranapanema, Patiño; Englardt, Brascan e Dramin. Manganês Amapá ICOMI de propriedade da CAEMI do grupo Antunes e da Bethlehem Steel Corporation, que teve autorização do governo de explorar as jazidas até 2003, por 50 anos. Bauxita Vale do Rio Trombetas e Barcarena-Pará Região do Poloamazônia; com da Alcan Aluminium Ltda, empresa canadense no Vale do Rio Trombetas; e de grupos japoneses, com a Nippon Amazon Aluminium Co. (Nalco), para o projeto Albrás-Alunorte em Barcarena. Ferro, Manganês e Cobre Serra dos Carajás -Pará No início de 1970, com a companhia Amazônia Mineração S.A., com participação da Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD) e da Cia. Meridional de Mineração (US.STEEL) para explorar o ferro. Em 1977, a CVRD compra a parte americana. Fonte: Informações obtidas in OLIVEIRA, 1987, p. 36-58. Atualmente, algumas dessas jazidas minerais encontram-se ainda em exploração, caso da bauxita em Barcarena e do ferro de Carajás (fig. 2). Contudo, há casos das jazidas terem sido exploradas e não terem mais produção que a tornem importante economicamente, caso, por exemplo, do manganês na Serra do Navio, no Amapá, região hoje abandonada. Figura 2: Minério de Ferro - Carajás - Pará Fonte: NASA Earth Observatory, 2009 Dessa forma, houve a expropriação de minerais em território brasileiro com a complacência dos governos brasileiros, com concessões às empresas nacionais e estrangeiras. 13 Neli Aparecida de Mello explica como se deu na época o projeto Grande Carajás: A CVRD serviu-se de todos seus meios técnicos e científicos para implementar o projeto Grande Carajás (1985-1991) e de investimentos externos. O governo brasileiro ofereceu vantagens para que o projeto pudesse ser viabilizado: matéria-prima (ferro, manganês, níquel, bauxita e cobre), energia e mão-de- obra barata, transportes eficientes e controle de poluição pouco rigoroso. O projeto envolveu siderurgia na transformação do ferro-manganês, ferro-níquel e alumínio e valorizou a descoberta de jazidas que se encontravam em suas proximidades, além da articulação com projetos de exploração agropecuária e agroflorestal, explorando-se áreas de reflorestamento. Além dos incentivos fiscais já existentes na política de ocupação amazônica, o Tesouro Nacional podia avalizar empréstimos internacionais necessários ao desenvolvimento dos projetos pelas empresas (MELLO, 2005, p. 45). Tais megaprojetos foram responsáveis por criar cidades no interior da Amazônia em função da existência das empresas, o que Roberto Lobato Corrêa (2006) denominou de company towns, ou seja, as cidades companhias. É o caso de Parauapebas, cidade próxima a Marabá que foi construída com intuito de abrigar trabalhadores de Carajás. Por outro lado, os diversos atores sociais da região entram em conflitos por disputas por terras, minerais etc., são eles principalmente: as comunidades tradicionais (indígenas, ribeirinhos, caboclos etc.), os garimpeiros, as companhias mineradoras, os produtores do agronegócio, posseiros, entre outros. O Período Neoliberal Pós Anos 1990 Com o final dos governos militares em 1985 o Brasil passa por um período de transição política e com a nova Constituição Federal em 1988 estabelecem-se novas políticas no governo federal. As influências do processo de globalização da economia induzem um discurso da pró- globalização proveniente dos atores sociais hegemônicos, sobretudo proveniente das grandes empresas, requerendo menor intervenção do Estado na política, ao mesmo tempo, contraditoriamente, ganham os discursos ambientalistas, colocando novas temáticas na agenda nacional, caso da concepção de desenvolvimento sustentável. Neste período, denominado de neoliberal, a participação do Estado na gestão do território vai diminuir, num primeiro momento com uma onda de privatizações e criação de agências reguladoras e fiscalizadoras das empresas privadas. Por outro lado, contraditoriamente, há várias normatizações da Política de Meio Ambiente que serão revistas e/ou aprofundadas neste período e que têm relação especialmente com a Amazônia. 14 Unidade: Processo de Ocupação da Amazônia Houve também a morte, por assassinato, do ambientalista e seringueiro Chico Mendes em 1988, que foi líder sindical dos seringalistas em Xapuri no Acre, lutando pela posse da terra dos seringalistas. Chico Mendes entrou em conflito com os interesses de grandes proprietários - sobretudo criadores de gado, de madeireiras e donos de seringais. Este tipo de conflito, embora comum na Amazônia, tornou-se mundialmente conhecido, já que Chico Mendes tornou-se uma pessoa símbolo pela luta na Amazônia pela criação das reservas extrativistas para preservar terras e a territorialidade indígena e das comunidades tradicionais de seringueiros. Outro evento fundamental pós 1990 foi a “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento”, realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992, conhecida como “Rio 92”. Neste evento levantam-se questões tais como: o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), usando políticas ambientais, caso do crédito de carbono, da certificação de madeiras; a diminuição da emissão de gás carbônico; bem como a Convenção da Diversidade Biológica; entre outras, que levaram à necessidade do cumprimento de políticas provenientes do mundo também no território nacional. Trata-se de verticalidades provenientes do mundo, mas cuja política nacional territorial brasileira vai procurar atender, mediante políticas de preservação e/ou conservação da natureza, por exemplo. No Brasil, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente é o responsável pela definição das unidades de conservação e seus diferentes tipos e formas de uso, sejam elas federais, estaduais ou municipais. Nestas unidades, há a classificação inicial em dois subtipos: as unidades de Proteção Integral, as quaistêm necessidade de maior proteção e as de Uso Sustentável, que podem ter ocupação humana. Figura 33: Unidades de Conservação e Territórios Indígenas na Amazônia Legal Fonte: Imazon.org.br - junho de 2012 3 Segundo o SNUC, são unidades de conservação de Proteção Integral as seguintes categorias: estação ecológica, reserva biológica, parque nacional, monumento natural, refúgio de vida silvestre. As unidades de conservação de Uso Sustentável engloba as seguintes categorias: área de proteção ambiental, área de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva extrativista, reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentável, reserva particular do patrimônio natural. 15 Como observamos no mapa da Amazônia Legal (figura 3), a região tem inúmeras unidades de conservação e também terras indígenas. No entanto, isto não significa que não haja inúmeros problemas socioambientais, decorrentes de disputas territoriais, diversificadas intencionalidades dos atores sociais que estão na região. Há, por exemplo, madeireiras clandestinas, bem como queimadas que induzem à ocupação do solo, sobretudo para criação de gado. O Estado de Rondônia foi um dos que mais desmatou com a pavimentação da BR 364 (Cuiabá-Porto Velho). Em relação às terras indígenas, estas são unidades territoriais constituídas formalmente pelo governo brasileiro e na Amazônia está a maioria delas. Modalidades de Terras Indígenas Nos termos da legislação vigente (CF/88, Lei 6001/73 – Estatuto do Índio, Decreto n.º1775/96), as terras indígenas podem ser classificadas nas seguintes modalidades: • Terras Indígenas Tradicionalmente Ocupadas: São as terras indígenas de que trata o art. 231 da Constituição Federal de 1988, direito originário dos povos indígenas, cujo processo de demarcação é disciplinado pelo Decreto n.º 1775/96. • Reservas Indígenas: São terras doadas por terceiros, adquiridas ou desapropriadas pela União, que se destinam à posse permanente dos povos indígenas. São terras que também pertencem ao patrimônio da União, mas não se confundem com as terras de ocupação tradicional. Existem terras indígenas, no entanto, que foram reservadas pelos estados-membros, principalmente durante a primeira metade do século XX, que são reconhecidas como de ocupação tradicional. • Terras Dominiais: São as terras de propriedade das comunidades indígenas, havidas, por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos da legislação civil. • Interditadas: São áreas interditadas pela Funai para proteção dos povos e grupos indígenas isolados, com o estabelecimento de restrição de ingresso e trânsito de terceiros na área. A interdição da área pode ser realizada concomitantemente ou não com o processo de demarcação, disciplinado pelo Decreto n.º 1775/96. Fonte: Texto disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas. Neste período, continuaram vários problemas decorrentes das frentes de expansão capitalista na Amazônia, que ocasionou mais disputas territoriais com territórios indígenas. Um conflito que se tornou conhecido recentemente foi o “Território Indígena Raposa Serra do Sol”, em Roraima. Embora em 2005 tenha sido definida por Decreto presidencial a retirada dos arrozeiros do território delimitado aos grupos indígenas em 1993, num processo que se arrastava por décadas. As comunidades indígenas Barro, Maturuca, Jawari, Tamanduá, Jacarezinho e Manalai reivindicavam seu território, que havia sido delimitado formalmente, mas que apesar disso foi ocupado por produtores de arroz. Em 2009, a questão foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e uma indígena, representando os demais grupos, deu o seguinte depoimento: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas 16 Unidade: Processo de Ocupação da Amazônia Excelentíssimos senhores Ministros, nós como comunidades indígenas do Barro, Maturuca, Jacarezinho, Tamanduá, estamos esperando que esse julgamento bote um ponto final em toda violência que os povos indígenas da Raposa Serra do Sol têm vivido pela disputa sobre suas terras. Esperamos que nossos valores espirituais, nossos valores culturais sejam considerados na aplicação dos artigos da nossa Constituição Federal de 1988. [...] Há mais de 30 anos estamos esperando que o processo de regularização fundiária de nossa terra seja concluído. Durante esses 30 anos, tivemos 21 lideranças indígenas assassinadas, várias casas queimadas, muitas ameaças feitas e registradas na Polícia Federal. [...] Muitas pessoas não sabem que as casas indígenas não se resumem apenas nas moradias, mas incluem os lugares onde se pesca, caça, caminha, onde se mantém os locais sagrados, a espiritualidade, a nossa cultura. Estes são pontos fundamentais para que nós tenhamos garantida a nossa importância, da nossa terra, não só para agora, mas para amanhã também. Nós queremos isso! Estas e outras questões de disputas continuam a ocorrer na Amazônia e demonstram as tensões das diversas territorialidades existentes na região. Com o período neoliberal, a fluidez para o desenvolvimento do grande capital, sobretudo o relativo ao agronegócio e aos projetos mineradores, vai ocupando novas regiões da Amazônia ou consolidando as antigas regiões. Em 1993, com a nova lei de modernização dos portos (Lei n. 8.630), e com a criação da figura dos Terminais de Uso Privativo (TUP), os portos brasileiros passaram a ter terminais portuários privativos para suas empresas, de uso misto ou especialmente para algumas empresas. Isto facilita o transporte das cargas portuárias, privilegiando os atores sociais hegemônicos em detrimento dos usos sociais do transporte de passageiros. Há maior densidade de projetos agropecuários e minerais na Amazônia Oriental ou especificamente no leste-Sudeste do Pará (vide figura 4), cuja principal centralidade é a cidade de Marabá. Esta região é mais dotada de densidade técnica, com rodovias, portos e ferrovias que visam a facilitar o transporte de mercadorias da região. Há também a maior usina hidroelétrica totalmente nacional que é Tucuruí, situada no rio Tocantins, no município de Tucuruí no sudeste do Pará. Este conjunto de sistemas de objetos e sistemas de engenharia no leste-sudeste do Pará tem relação com os grandes empreendimentos da região, caso da região de Carajás, explorada pela Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD), privatizada, dentro da política neoliberal dos anos 1990. Atualmente o ferro de Carajás é transportado pela E.F. Carajás, interligando a província mineral de Carajás, no Pará, com o Terminal de Uso Privativo (TUP) da CVRD em Ponta da Madeira, adjacente ao Porto de Itaqui, em São Luís, Maranhão. Já na porção oeste-noroeste do Estado do Pará a dinâmica territorial está ainda muito atrelada aos rios, ao regime fluvial, do rio Tapajós e Rio Amazonas. Desse modo, nesta região inserida na mesorregião do Baixo Amazonas, cuja principal centralidade é a cidade de Santarém (vide figura 4) há inúmeras empresas de mineração e do agronegócio que se apropriam dos portos existentes em detrimento do uso da população. 17 Figura 4: Imagem de Região do Pará e Entorno - Usina de Tucuruí Fonte: Reprodução Google Maps, 2014. Em Oriximiná, próximo a cidade de Santarém, existe a exploração da bauxita por um grupo - “A Mineração Rio do Norte (MRN)”, maior produtora de bauxita do Brasil – matéria prima do alumínio – e opera na região de Oriximiná desde 1979. A MRN é composta por oito empresas acionistas: Vale do Rio Doce, BHP Billiton, Rio Tinto Alcan, Companhia Brasileira de Alumínio, Alcoa Alumínio, Alcoa World Alumina, Hydro e Alcoa Awa Brasil Participações. Sobre o uso do território na Amazônia Daniel Huertas comenta: Em Santarém, a instalação do terminal porturário da Cargill alterou profundamente a paisagem da orla da cidade e incrementou a infra-estrutura do porto organizado. Por outro lado, os barcos regionais com destino a Óbidos, Juruti, Monte Alegre, Prainha, Oriximiná, Itaituba,Curuá, Alenquer, Terra Santa e Faro continuam utilizando o “Porto” da Praça Tiradentes, na verdade uma balsa flutuante em péssimas condições estruturais atada à margem do rio Tapajós por cordas e acessada pelos usuários por pranchas de madeira (HUERTAS, 2009, p. 283). Desse modo, verifica-se que as modernizações no território são disponibilizadas para o uso das grandes empresas, caso da Cargill (empresa alimentícia), enquanto a população local tem dificuldades para se locomover ou usar o transporte fluvial de passageiros com transporte adequado. Nos anos 1990, houve dois planos federais, denominados de “Brasil em Ação” (1996- 1999) e “Avança Brasil” (2000-2003), que não eram específicos para a Amazônia, mas tratavam de eixos de desenvolvimento, voltados à consolidação da integração amazônica, bem como da integração regional com a América do Sul. 18 Unidade: Processo de Ocupação da Amazônia Os projetos do programa “Brasil em Ação” priorizaram a recuperação das estradas BR-164 (Brasília-Acre) e BR-163 (Cuiabá-Santarém); o asfaltamento da BR-174 (Manaus-Boa Vista), bem como com a implantação das vias navegáveis Araguaia-Tocantins a Altamira e Itaituba. Já o programa “Avança Brasil” se concentrava nos investimentos previstos para a Amazônia Legal em quatro corredores multimodais de transportes. Mais recentemente, houve avanços de dotar o território da Amazônia de infraestruturas, caso de novos gasodutos, novos terminais portuários, entre outros, mas que significaram novos problemas ambientais e geralmente desconsideraram as territorialidades das comunidades tradicionais e nem sempre são por eles usados. Mais recentemente, em 2008, houve a criação do “Plano Amazônia Sustentável”, com propostas como turismo sustentável, exploração de recursos da biodiversidade, regularização fundiária, zoneamento ecológico-econômico, monitoramento e controle ambiental, entre outros segmentos definidos no Plano, usando como referência a Amazônia Legal (figura 4), chamada de Amazônia brasileira. Figura 5: Amazônia Legal - 2008 Fonte: Ministério do Meio Ambiente, 2008. São avanços do ponto de vista das políticas e planos, mas ainda há muito a avançar concretamente. Estas questões apontadas no texto desta unidade evidenciam que este novo período da história brasileira não tem conseguido coibir as pressões do grande capital na região e tampouco diminuir os conflitos no campo, embora tenha havido avanços do ponto de vista das políticas ambientais propostas. 19 Material Complementar Para aprofundamento dos temas discutidos nesta unidade sugerimos: BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Plano Amazônia Sustentável: diretrizes para o desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira. Brasília, MMA, 2008. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/ sca/_arquivos/plano_amazonia_sustentavel.pdf. HUERTAS, Daniel Monteiro. Da fachada atlântica à imensidão amazônica: fronteira agrícola e integração territorial. São Paulo: Annablume, 2009. Documentário: projeto Jari. 5min, Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=SC9xn04eBT0 Filme: Xingu, 1h42min, mostra a criação do Parque Nacional do Xingu. Filme de Cao Hamburguer, 2002, conta a história dos irmãos Villas-Boas. Filme: Amazônia em Chamas (1994), filme americano sobre Chico Mendes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DI6mhtMgr_o http://www.mma.gov.br/estruturas/sca/_arquivos/plano_amazonia_sustentavel.pdf http://www.mma.gov.br/estruturas/sca/_arquivos/plano_amazonia_sustentavel.pdf https://www.youtube.com/watch?v=SC9xn04eBT0 https://www.youtube.com/watch?v=SC9xn04eBT0 https://www.youtube.com/watch?v=DI6mhtMgr_o 20 Unidade: Processo de Ocupação da Amazônia Referências BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Plano Amazônia Sustentável: diretrizes para o desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira. Brasília, MMA, 2008. Disponível em: http://www.mma.gov.br/estruturas/sca/_arquivos/plano_amazonia_ sustentavel.pdf. BECKER, Bertha. Manual do candidato: geografia. Bertha Becker; apresentação do Embaixador Georges Lamazière. – Brasília: FUNAG, 2012. Disponível em: http://funag.gov.br/ loja/download/1014-Manual_do_candidato_-_Geografia.pdf. BECKER, Bertha. Redefinindo a Amazônia: o vetor tecno-ecológico. In: CASTRO, Iná Elias de. (orgs). Questões atuais da reorganização do território. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1996, p. 223-244. CORRÊA, Roberto Lobato. A periodização da rede urbana da Amazônia. In: CORRÊA, Roberto. Estudos sobre a rede urbana. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2006, p. 181-253. HUERTAS, Daniel Monteiro. Da fachada atlântica à imensidão amazônica: fronteira agrícola e integração territorial. São Paulo: Annablume, 2009. MELLO, Neli Aparecida de. Políticas territoriais da Amazônia. São Paulo: Annablume, 2005. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Amazônia: monopólio, expropriação e conflitos. Campinas: Papirus, 2000. SANTOS, Milton. & SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. São Paulo: Ed. Record, 2001. VALVERDE, Orlando; FREITAS, Tácito Lívio Reis de Freitas. O problema florestal da Amazônia brasileira. Petrópolis: Vozes, 1980. 21 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 http://www.cruzeirodosulvirtual.com.br
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