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Catequista_ Vocação, ministério e missão - Humberto Robson de Carvalho

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2
SUMÁRIO
Capa
Folha de rosto
Agradecimentos
Apresentação
Introdução
1. A catequese na vida e na história da Igreja
1.1. Idade Antiga: do século I ao século IV
1.2. Idade Média: século V ao século XIV
1.3. Idade Moderna: século XV ao século XIX
1.4. Idade Contemporânea: século XX
2. Os serviços e os ministérios na Igreja
2.1. O que são os serviços e os ministérios
2.2. Ministérios ordenados e não ordenados
2.3. O ministro não ordenado e sua relação com a Igreja
2.4. Uma Igreja toda ministerial
3. Catequista: vocação, ministério e missão
3.1. A vocação dos catequistas
3.2. A Igreja e suas orientações sobre os ministérios
3.3. As características do ministério do catequista
3.4. O ministério do catequista como serviço reconhecido e instituído pela Igreja
3.5. A missão dos catequistas na Igreja e no mundo
Conclusão
Bibliografia
Coleção
Ficha catalográfica
Notas
3
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AGRADECIMENTOS
Aos nossos pais, nossos primeiros catequistas;
a todos os catequistas;
e aos nossos amigos colaboradores:
Alexandre Lima Vittorazzi,
Altierez Sebastião dos Santos,
Gabriel Trettel da Silva,
P. Luiz Alves de Lima,
Marlene Maria Silva,
P. Paulo Cesar Gil,
Roberta Natalia Biagio Bossi,
Ricardo Giombelli,
Romeo Prior.
In memoriam:
D. Joaquim Justino Carreira,
D. Joel Ivo Catapan,
D. Paulo Evaristo Arns,
P. Gaetano Tarquizio Bonomi,
Diác. Otto Luiz Martins Nunes.
4
APRESENTAÇÃO
A Igreja, a serviço do Evangelho, mistério de Deus Pai na história humana,
guiada e sustentada pelo Espírito Santo, centra-se no ser e no agir de Jesus Cristo. O
caminho que ela é chamada a percorrer é o caminho do humano. Estar a serviço da
humanidade constitui a sua missão fundamental. É o serviço, portanto, que deve
fundamentar todas as suas opções, estruturas e projetos.
A Igreja, comunidade de fé e de serviço, encontra sua inspiração e modelo em seu
Senhor e Mestre, que “esvaziou-se a si mesmo e tomou a forma de servo” (Fl 2,7).
Servo dos servos, Jesus assumiu a doação de si mesmo como caminho de realização e
salvação do humano. Esvaziando-se a si mesmo, Ele nos enriqueceu com sua Graça
Salvadora.
Por meio do total despojamento de si, o Senhor fez-se “Poder e Sabedoria”
revelados no amor serviçal e na doação da própria vida. Foi assim que o Senhor nos
salvou. É assim que a Igreja continua sua obra de salvação no mundo: servindo a
Deus e aos seus filhos e filhas, para que todos participem da comunhão de vida que
existe entre o Pai, o Filho e o Espírito.
Como membros vivos da Igreja, os catequistas estão mergulhados no mistério do
Senhor e da Igreja. Junto à mesa de Cristo, que em toda Eucaristia nos serve a sua
Palavra, o seu Corpo e o seu Sangue, os catequistas são “discípulos amados” (Jo
13,23) que, “reclinando-se ao coração de Cristo” (Jo 13,25), escutam sua voz a
palpitar: “Eu lavei os pés de vocês... Eu, o Senhor e o Mestre... Eu lhes dei o
exemplo” (Jo 13,14.15.17).
Os catequistas, suscitados pelo Espírito Santo, são na Igreja ministros de Cristo e
da sua Palavra, chamados a despertar a fé pelo anúncio do Evangelho e a acompanhar
seus irmãos e irmãs no processo de amadurecimento da fé e da inserção na
comunidade.
Este livro quer ser um instrumento eficaz para que a comunidade ame e valorize
ainda mais o ministério do catequista, e para que os próprios catequistas, filhos
prediletos da Igreja, reflitam sobre a grandeza de sua vocação, ministério e missão, e
façam seu coração arder de amor por Cristo, pela Igreja e por todos a quem se
dedicam com laboriosa generosidade.
D. Sergio de Deus Borges
Bispo Auxiliar de São Paulo
Vigário Episcopal para a Região Episcopal Santana
5
INTRODUÇÃO
Jesus, em sua missão profética, deixa sua casa e percorre diferentes lugares para
evangelizar e catequizar. Ele sabe que o tempo é escasso e que a missão é árdua. Para
esse trabalho vocacional, catequético e missionário convida alguns homens e algumas
mulheres para segui-lo mais de perto e ajudá-lo na missão (Lc 8,1-3), e escolhe
também um grupo de doze para que pudesse assumir alguns ministérios (Mc 3,13-
18). Após a sua morte e ressurreição, particularmente após a vinda do Espírito Santo,
nos deixa a sua Igreja como sinal de sua presença entre nós.
A catequese é parte fundamental da missão da Igreja. Ela inicia o cristão na vida
comunitária eclesial, lugar onde vai viver e aprofundar a sua adesão de fé por meio de
um processo de iniciação na vida da Igreja. Assim expressou o Papa Bento XVI no
Discurso de Abertura da V Conferência de Aparecida: “Um grande meio para
introduzir o povo de Deus no mistério de Cristo é a catequese. Nela se transmite de
forma simples e substancial a mensagem de Cristo”.[1]
Para tão importante serviço, a Igreja conta com a ajuda de muitas mulheres e
homens de boa vontade que, chamados por Deus, assumem na comunidade a missão
de evangelizar ou anunciar, de serem catequistas.
É sobre essa figura essencial para o processo de iniciação à vida cristã que iremos
tratar neste livro. Os catequistas, por serem discípulos missionários de Cristo a
serviço da evangelização, são, na Igreja, mistagogos e pedagogos de Deus, e têm uma
função de confiança dentro da comunidade, pois são fundamentais para que a Igreja
garanta o direito de seus fiéis conhecerem a Boa-Nova do Reino, o Evangelho de
Cristo.
A Igreja é enriquecida pelos diversos dons e carismas infundidos nela pelo
Espírito Santo. Ao reconhecer o ministério dos catequistas que assumem com mais
dedicação a tarefa indispensável de iniciar novos membros na vida cristã, a própria
Igreja estará fortalecendo de maneira dinâmica a sua ação evangelizadora. Assim, ela
atinge os seus objetivos de maneira organizada, planejada e com recursos adequados,
para que os cristãos encontrem a pessoa de Jesus Cristo e conformem a sua vida à
vida dele, sendo autênticos discípulos missionários.
A pessoa do catequista pode ser abordada sob vários aspectos. Neste livro,
trataremos especificamente da sua vocação, do seu ministério e da sua missão na
Igreja e no mundo. Catequistas foram sempre fundamentais em todas as etapas da
história da Igreja. Com seu serviço, possibilitaram, ao longo dos séculos, um processo
de construção permanente de educação da fé. As dificuldades presentes nos mais
diversos momentos histórico-culturais provocaram-lhes situações difíceis, mas
sempre estiveram fiéis ao seu compromisso de formar a comunidade cristã,
alicerçando a resposta de fé de seus membros.[2]
6
Os catequistas sempre se dedicaram de modo específico ao serviço da Palavra de
Deus, tornando-se porta-vozes da experiência cristã em suas comunidades. Sem a
força atuante e testemunhal de tantos catequistas, talvez muitas pessoas não fizessem
a experiência da vida cristã. A Igreja, para cumprir boa parte de sua ação missionária
evangelizadora, sempre contou com catequistas conscientes da missão de ensinar e
evangelizar.
Conhecer os catequistas e o seu trabalho no seio da comunidade é muito
importante para perceber e reconhecer que eles são, antes de tudo, pessoas que
escutaram e atenderam ao chamado de Deus. Os catequistas são ministros chamados
por Jesus para despertar e cultivar a fé daqueles que estão iniciando a sua caminhada
de vida cristã. Ao serem chamados e enviados, os catequistas se tornam humildes
servidores da comunidade, tendo a autoridade do serviço e do testemunho, longe de
qualquer esquema de poder e de dominação, mas com espírito de fraternidade
comunitária.
No primeiro capítulo, abordaremos tópicos da história da Igreja, especialmente da
catequese, a atuação dos catequistas e como se dava a catequese nos dois milênios de
sua história. Contemplaremos de maneira mais expressiva o período após o Vaticano
II, que deu à Igreja um novo dinamismo, principalmente no que tange à questão
ministerial, com a sua insistência ao retorno às fontes do início do cristianismo.
No segundo capítulo, apresentaremos de maneira geral o que são os ministérios
na Igreja, sua origem, seu ideal cristão e as diferenciações entre ministériosordenados e ministérios não ordenados. Compreendendo ministério como um serviço
diaconal, veremos que a Igreja é convocada a tomar consciência da sua natureza
servidora do ministério da salvação, para se tornar integralmente ministerial.
No terceiro capítulo, descreveremos a vocação e o ministério dos catequistas e as
suas características próprias no âmbito da missão da Igreja, pois todo ministério visa
à construção do povo de Deus e relaciona-se intimamente com a identidade
missionária da Igreja, que existe para continuar a missão de Jesus Cristo. O ministério
catequético será apresentado como um serviço reconhecido e instituído pela Igreja
para realizar e expressar o ser missionário, para colaborar na sua ação evangelizadora.
Desejamos de todo coração que a leitura deste livro ajude você, querida irmã e
querido irmão catequista, a amadurecer a sua vocação, o seu ministério e o sentido de
pertença à Igreja e à sua missão, e a aprofundar o seu compromisso com o
crescimento da fé e a evangelização das pessoas que buscam a iniciação à vida cristã
na comunidade paroquial da qual fazem parte. Coragem!
7
1
A CATEQUESE NA VIDA E NA HISTÓRIA DA IGREJA
8
“O que nós ouvimos e conhecemos, o que nos contaram nossos pais, não os
esconderemos a seus filhos, nós contaremos à geração seguinte” (Sl 78,3-
4).
A Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, do Papa João Paulo II, afirma que
a catequese é “uma experiência tão antiga como a Igreja”. Por consequência, o
catequista também é um personagem tão antigo quanto ela, já que está intimamente
ligado ao fazer catequético na Igreja.[1]
O objetivo deste capítulo é explicar como a catequese foi se fazendo na história
da Igreja e, consequentemente, quem é o catequista e como exercia seu ministério nas
várias etapas da evangelização. Um primeiro dado que surge da reflexão histórica da
catequese é que, mesmo sendo sempre o educador da fé, as expressões do modo de
ser catequista variam conforme os arranjos históricos e culturais nos quais está
inserido, assumindo diversas realidades.[2]
Não pretendemos aprofundar a história da catequese. De acordo com esses
diversos contextos, vamos apenas delinear, nas etapas da história, como era feita a
catequese e quem eram os catequistas.
É interessante mencionar que a catequese enquanto disciplina é relativamente
nova. Embora, em 399, Santo Agostinho escreva o famoso tratado Instrução aos
Catecúmenos e, em 1406, Jean Gerson escreva Como conduzir os jovens a Cristo,
não se pode afirmar que esses escritos são considerados “obras propriamente
catequéticas”. Podemos dizer que a disciplina enquanto tal aparece em 1774, quando
o monge beneditino Rautenstrauch oferece um projeto bem elaborado de Catequética
à imperatriz Maria Tereza da Áustria, e ela introduz nas escolas de Teologia do
Império Austro-Húngaro o ensino da catequética como disciplina. Porém, somente no
final do século XIX é que vai consolidar-se como estudo teológico-pastoral.
A catequese, nesse período, assume o caráter escolar, isto é, a interação entre
aluno, livro e os catequistas como mestres. Os catecismos tidos como manuais de
perguntas e respostas colaboravam com essa maneira de fazer catequese. Além do
mais, a instrução religiosa também acontecia na escola, dada pelos professores aos
seus alunos.
A periodização da história, isto é, a divisão do conjunto da história em fases ou
períodos, é objeto de controvérsia, pois pode haver tantas outras divisões possíveis
quanto houver pontos de vista diferentes, sejam eles culturais, etnográficos ou
ideológicos. Por isso, não há como definir um padrão único de períodos históricos.
No entanto, a periodização ajuda na compreensão do processo histórico,
ordenando os acontecimentos segundo uma sequência sistemática, lógica e objetiva.
A periodização da catequese que utilizaremos está baseada nas notas históricas do
9
livro A catequese na vida da Igreja, de dois sacerdotes italianos, Antonio Bollin e
Francesco Gasparini.
A obra apresenta os quatro momentos de evangelização que vamos chamar de
“Idade”, para se evitar algum conflito conceitual entre catequese e evangelização.
Partindo desses autores, podemos periodizar a catequese na Igreja de acordo com as
quatro idades históricas: Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Exploraremos as
peculiaridades de cada uma delas nas seções a seguir.
10
1.1. Idade Antiga: do século I ao século IV
O início da catequese cristã está enraizado nos três primeiros séculos, quando,
pela pregação dos apóstolos, o cristianismo se difundiu rápida e silenciosamente pelo
Império Romano. Foi um período marcado por prisões e martírios. Particularmente,
os anos de 70-130 foram de intensa perseguição para os cristãos, mas isso não
impediu que a mensagem de Cristo fosse além do Império Romano, chegando à
Mesopotâmia, ao Egito e à Armênia.
O martírio é visto como “a perfeição da vida cristã”, exatamente por ser a prova suprema da
caridade pela qual alguém chega a identificar-se plenamente com Cristo [...]. Nas primeiras
comunidades, os mártires gozavam de grande estima. Seu exemplo de vida era um poderoso
estímulo para a vivência do Evangelho, e sua vitória, uma certeza de proteção celeste.[3]
Os catequistas desses primeiros séculos são os apóstolos e discípulos de Jesus
que, por meio do anúncio do querigma e da pregação litúrgica, evangelizavam os
povos, conquistando novos seguidores de Cristo. Nesse início de evangelização,
podemos destacar alguns escritos que foram muito importantes: Didaqué ou Doutrina
dos Apóstolos, as sete Cartas de Santo Inácio de Antioquia e a Epístola de São
Clemente de Roma. No início do cristianismo, como relatam os Atos dos Apóstolos
(At 13,1), aqueles que eram denominados doutores representaram o que chamamos
hoje de catequistas.
Dentre esses escritos, sobressai a Didaqué. É um documento catequético do fim
do primeiro século, elaborado pelos cristãos das origens, praticamente na mesma
época em que foram compostos os livros do Novo Testamento. É uma fonte primeira
para a pesquisa e o estudo das origens do cristianismo. Nele encontram-se
informações preciosas sobre a iniciação cristã, as celebrações, a organização e a vida
das primeiras comunidades cristãs.[4]
O núcleo principal da catequese dessa época é o querigma, isto é, o anúncio da
morte e ressurreição de Cristo para a libertação do pecado e da morte, sustentado pelo
testemunho dos discípulos. A história da salvação também integra o trabalho
catequético juntamente com os ensinamentos morais da vida nova em Cristo e a
progressiva compreensão e inserção na comunidade eclesial, por meio da iniciação
sacramental e a vivência do mistério eucarístico.
Nos séculos terceiro e quarto, em consequência dos dois séculos anteriores,
surgiu uma das experiências mais ricas da Igreja, no que se refere à catequese: o
catecumenato, caracterizado pela forte experiência catequético-litúrgica, orientada à
vivência do mistério cristão em profunda comunhão entre a fé e a vida. Outra nota
importante do catecumenato é o acompanhamento pessoal e a preparação processual
com vistas ao mergulho do candidato adulto no mistério de Cristo e da Igreja. Esse
processo se desenvolve especialmente nos sacramentos da iniciação cristã. O
catecumenato é expressão dos ricos dinamismos e experiências do cristianismo das
origens, e permanece como critério inspirador para a catequese.
11
Os catequistas nesse período eram chamados de doutores (seja padre ou leigo),
aqueles que ministram a instrução. A figura do bispo marca essa catequese
catecumenal, pois ele, como o sucessor dos apóstolos, acolhe na comunidade cristã os
catecúmenos. A catequese mobilizava gradualmente o candidato para participar da
vida cristã na comunidade eclesial, cuja vida de testemunho de fé e de experiência do
mistério pascal de Cristo era parte essencial dos conteúdos catequéticos,
proporcionando uma íntima relação entre a catequese e a comunidade.
Porém, no final do século IV, o catecumenato entrou em decadência, devido à
grande procura pelo batismo, que passoua ser um direito. O tempo de preparação foi
reduzido, perdendo-se o significado dos sinais litúrgicos (a mistagogia). Nesse
período, ou até um pouco antes, iniciou-se o batismo de crianças, abandonando-se
cada vez mais o processo catecumenal.
Esses primeiros séculos foram fundamentais para toda a história que se seguiu,
pois neles encontramos os fundamentos teológicos e, consequentemente, catequéticos
para todo processo de evangelização posterior. No final desse período e início da
Idade Média, encontramos a elaboração doutrinal das verdades de fé do cristianismo
e sua defesa contra os ataques dos “pagãos” e contra as heresias. Nos primeiros
séculos do cristianismo, estão as bases de todo o ensino da Igreja. É às fontes das
primeiras comunidades cristãs que a Igreja é convocada a voltar sempre, para
revitalizar-se e continuar sua missão.
12
1.2. Idade Média: século V ao século XIV
O Ocidente assistiu, em 476, ao desabamento do Império Romano que, sendo
cada vez mais dominado pelos “povos do Norte”, vai se modificando com a presença
de soldados e camponeses “migrantes do Norte”, os quais vão ascendendo na escala
social do Império. Ocorre um novo movimento evangelizador voltado para essa
população. Nesse movimento, quando um dos chefes ou príncipes convertia-se à fé
cristã, todo o seu povo o acompanhava. O cristianismo sofreu também essa
consequência, pois alguns povos invasores, como os francos, os anglos e os saxões,
eram pagãos. Outros, como os visigodos, ostrogodos, vândalos e burgúndios,
professavam a fé cristã ariana.
Nesse cenário, a Igreja católica teve uma dupla missão: evangelizar os “povos do
Norte” e converter os arianos. Isso foi feito pela catequese dos monges beneditinos. O
encontro da Igreja com os “povos do Norte” proporcionava um novo salto no
processo de inculturação da fé cristã na Europa Ocidental. Pode-se dizer que trata-se
de uma terceira cultura a estabelecer um diálogo com o Evangelho: a primeira é a
cultura do povo judeu, matriz cultural onde nasce o cristianismo; a segunda é a
cultura do mundo greco-romano; e a terceira é a cultura dos povos germânicos.
Com a queda do Império Romano no Ocidente, inicia-se a Idade Média (476). A Igreja vai de
encontro aos povos migrantes do Norte (impropriamente chamados de bárbaros) com o Evangelho e
a obra evangelizadora. É um dos grandes momentos de inculturação da fé cristã no Ocidente: o
cristianismo, nascido e desenvolvido em ambiente semita, logo se incultura no mundo greco-
romano; agora vive e expressa o Evangelho também com a cultura germânica. Consolida-se a
cristandade, agora enriquecida com mais essa contribuição. Uma vez evangelizados, numa das
grandes ondas evangelizadoras da história, esses povos também não necessitam mais de querigma
ou catequese. Já se nasce numa sociedade cristã: reinos, príncipes, populações e famílias são todos
cristãos. É o esplendor da cristandade.[5]
A Igreja, a partir do século XI até o século XIV, teve uma grande influência sobre
o Estado e foi capaz de se apresentar como presença religiosa, cultural e social. A
vida acontecia num ambiente profundamente religioso e a catequese se fazia
naturalmente dentro desse contexto. As estruturas sociais, civis e religiosas
mesclavam-se, confundiam-se e identificavam-se, não havendo separação nem
oposição entre Igreja e Estado, sagrado e profano, cidades e dioceses. Não se sentia a
necessidade de uma catequese estruturada ou de um trabalho catequético organizado
pela Igreja. A evangelização e a catequese ocorriam na família, que assumia a
educação da fé de seus filhos. Assim, pode-se entender a instituição dos padrinhos,
que se responsabilizavam pela formação cristã dos afilhados, junto com os pais.
A educação religiosa continua sendo realizada na família e na comunidade, por
meio da homilia dominical e da pregação, da liturgia e da arte. Essas foram as
maneiras mais empregadas para fazer catequese. Na liturgia, o povo tem acesso aos
mistérios da fé, como também pela religiosidade popular ou devoções. A arte dos
13
vitrais com cenas bíblicas e as imagens dos santos e a arquitetura das catedrais
góticas traduziam os acontecimentos da fé cristã para um povo iletrado, permitiam
uma rica estética da fé que aguçava a percepção do mistério de Deus, moldavam e
transmitiam os valores da fé e da moral cristã. Outro aspecto importante na catequese
medieval são as orações, a disciplina da ascese e a contemplação mística da vida que
conduziam à experiência pessoal de Deus no ambiente da cristandade.
14
1.3. Idade Moderna: século XV ao século XIX
Esse período da história é marcado pelos avanços das ciências e por nova
mentalidade. Um Deus que era, no passado, o centro da vida humana, nesse novo
mundo deu seu lugar ao homem que demandava o seu espaço de liberdade para
descobrir e viver novas verdades. A catequese vai criar nos cristãos um novo
pensamento. A catequese passou, conforme as exigências do tempo, a realizar-se por
um processo que valorizava mais a aprendizagem individual e doutrinal, na qual já
não era tão marcante a ligação com a comunidade.
O rompimento da unidade da Europa baseada na unidade cristã, os emergentes
contextos sociais e culturais demandam da Igreja reformas e renovação. O Sínodo de
Tortosa, em 1429, na Espanha, chegou a estabelecer um roteiro de conteúdos, isto é,
um breve compêndio da doutrina cristã que deveria ser repetido ao longo do ano pelo
padre para todo o povo. O Concílio de Trento (1545-1563) acentua os meios da
pregação como mecanismo de formação do povo e recupera a catequese como uma
missão eclesial estruturada. Uma das contribuições de Trento foi dar continuidade ao
gênero catecismo, cujas raízes estavam já em Lutero (1483-1546) e alguns autores
católicos, como Pedro Canísio (1521-1597), Roberto Belarmino (1542-1621), Erasmo
de Roterdã (1469-1536), entre outros.
O Concílio de Trento, ao organizar a instituição religiosa católica, pede da Igreja
que assuma totalmente a responsabilidade da formação religiosa, que até então era
exclusividade dos pais. Nasce então a catequese paroquial, onde os párocos eram os
mediadores da catequese. Para orientar os párocos em seu trabalho catequético,
elaborou-se, sob a direção de São Carlos Borromeu, o catecismo para os párocos ou
Catecismo de Trento. Toda a catequese girava em torno do catecismo doutrinário, de
caráter moralizante, deixando-se em segundo plano elementos importantes, até
mesmo a Bíblia e a própria vida da Igreja, pois essa era a mentalidade daquele tempo.
Desde o princípio do Concílio de Trento (1545-63) que se fala em redigir um catecismo, mas é só na
última sessão que os padres aprovam o projeto geral do texto e remetem a sua compilação ao papa
[...]. Não é um catecismo para o povo, mas destina-se aos párocos, aos pregadores, aos agentes da
catequese. Não tem forma de perguntas e respostas, e sim a forma expositiva, com frequentes
chamadas para a Sagrada Escritura e para os Padres, em estilo sapiencial. Articula-se em quatro
partes: o símbolo apostólico, os sacramentos, o decálogo, o pai-nosso.[6]
Com a aplicação das determinações do Concílio de Trento, a catequese vai se
tornando uma das atividades principais da Igreja, tornando-se visível nas dioceses,
paróquias, pregações e escolas.
Multiplicam-se, então, do século XV ao XVI, os famosos Catecismos, livros que
continham de modo simples, essencial e completo a doutrina cristã, tudo aquilo que
os cristãos precisavam saber. Os catecismos, a partir de agora, tornam-se muito
importantes. É a partir deles que a catequese vai se desenvolver. O catecismo marca a
15
linguagem e o modo da catequese conceber a educação da fé por todo esse longo
período, centrando-a no aspecto doutrinário da fé.
Fechando esse período, temos o século XIX, época em que a Igreja experimenta
mudanças, transformações, crises da fé e da prática cristã. A Igreja, com dificuldades
de interpretar os sinais dos tempos, está entre a continuidade e a necessidade de
inovação.
Nesse momento histórico, a Igreja se preocupa com a juventude,mas não a
conquista, pois os textos e métodos usados eram os mesmos do passado. O esforço
por uma catequese inovadora foi muito grande, porém a repetição era mais forte e,
com isso, cresceu a descristianização da sociedade.
16
1.4. Idade Contemporânea: século XX
No final do século XIX e, sobretudo, na primeira metade do século XX ocorreram
transformações em diversas áreas da Igreja. Os estudos bíblicos, patrísticos,
litúrgicos, teológicos; as mudanças na forma da pregação, no entendimento sobre o
ecumenismo e na própria catequese conduzem à renovação da Igreja. Esse processo
de mudança recebe o nome de “movimentos” e muito colabora com a realização do
Concílio Vaticano II.
Alicerçado nos demais movimentos e assimilando os conhecimentos das ciências
humanas, especialmente da Psicologia e da Pedagogia, o movimento catequético,
mesmo sendo pouco conhecido entre nós, foi um dos mais intensos. A educação da fé
esteve no centro das discussões, debates, reflexões, como também dos
pronunciamentos e documentos do magistério, além de mobilizar a Igreja a uma
profunda renovação.
O movimento catequético é constituído por dois núcleos que permitem sua
operacionalização: o primeiro é formado pelos pensadores, estudiosos e
pesquisadores que definem a nova organização da catequese, proporcionando avanços
em relação a sua compreensão, atuação, identidade, métodos, destinatários e
responsáveis. O outro são os eventos, tais como congressos, semanas de formação e
assembleias que propagam e consolidam as novas tendências.
O movimento catequético desdobra-se em três: o movimento querigmático,
centrado no retorno bíblico-litúrgico e, principalmente, no mistério pascal; o
movimento antropológico-experiencial, centrado na pessoa que recebe o anúncio e na
sua experiência dos mistérios da fé; e o movimento profético-libertador, centrado nas
repercussões sociopolíticas da vida cristã.
No Brasil, o movimento catequético encontra na intensa atividade do padre
Álvaro Negromonte (1901-1964) sua maior expressão. Seu trabalho estende-se por
trinta anos, ao longo dos quais se dedicou à formação dos catequistas e à orientação
sobre a educação religiosa nas escolas; publicou diversas obras de cunho catequético,
especialmente A pedagogia do catecismo, e teve grande influência na organização da
catequese no país. Inspirado na denominada Escola ativa, introduziu na catequese o
método integral, isto é, visando a integração da fé e da vida. Realizou o primeiro
Congresso Nacional do Ensino da Religião. Com a fundação da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil), em 1952, foi o primeiro assessor do secretariado
nacional do ensino religioso. Fundou, junto com Dom Hélder Câmara, a Revista
Catequética (1953). Outra expressiva vertente do movimento catequético brasileiro
está na Ação Católica, que proporcionou a formação sólida de catequistas, bem como
intensa atividade pastoral no meio do povo de Deus, sobretudo de caráter
sociocaritativo.
A própria fundação da CNBB impulsionou a catequese, não só pela criação, em
sua estrutura, de um organismo de animação catequética, mas também pelo
17
incremento da organização e formação de catequistas populares, pela publicação de
subsídios para sua formação e para o trabalho de instrução da fé que realizam nas
comunidades.
Baseada na cultura do planejamento dos anos cinquenta e pressionada a responder
aos grandes desafios do trabalho evangelizador, a CNBB elaborou dois planos de
grande influência para o trabalho pastoral e catequético: o Plano de Emergência
(1962) e o Plano de Pastoral de Conjunto (1965). O Plano de Emergência tem, entre
os seus objetivos, transformar as paróquias em comunidades de fé. Para isso, foca na
pregação, na catequese e no estudo bíblico, temas ligados à educação da fé.
Os movimentos bíblico, litúrgico, catequético e ecumênico provocaram uma
grande necessidade de voltar às fontes da fé cristã para um diálogo aberto com a
sociedade. Voltar às fontes é voltar às primeiras motivações, intuições e princípios
que levaram os primeiros seguidores de Jesus a dar continuidade a sua missão.
Esses movimentos eclesiais prepararam a Igreja para viver o grande evento da sua
história no século XX: o Concílio Vaticano II (1962-1965), o novo Pentecostes, no
dizer do Papa São João XXIII, seu idealizador. Apesar de o Concílio não ter
elaborado entre os seus documentos um texto específico sobre a catequese, o
dinamismo a que ele deu impulso, como também suas inspirações desencadearam a
renovação da catequese.
Um primeiro dado importante foi a reviravolta na concepção da catequese. Os
Concílios de Trento (1545-1563) e o Concílio Vaticano I (1869-1870) consolidaram
na Igreja a ligação entre catequese e catecismo, isto é, catequese e doutrina. O
Vaticano II assumiu uma tendência nova, já presente no movimento catequético da
época, concebendo-a como processo de anúncio e transmissão da fé e, por outro lado,
dando especial atenção à pessoa que acolhe e deseja viver e crescer na fé. A pessoa
humana, suas experiências e suas histórias passam a integrar o conjunto da catequese.
Em consequência, a catequese adentra o horizonte pedagógico, fazendo suas as
preocupações com os métodos educativos mais apropriados para a transmissão e
vivência da fé e a seleção de conteúdos que sejam mais significativos e apropriados
para cada uma das fases e situações de vida de seus catequizandos. A atenção à
pessoa do catequista passa também a integrar o âmbito da catequese. Por isso, a Igreja
começa a dedicar-se à formação dos seus catequistas.
Um dos Documentos do Concílio, o Decreto Christus Dominus, sobre a missão
pastoral dos bispos na Igreja, descreve, no parágrafo 14, a preocupação que se deve
ter pela catequese. Transparece a preocupação pastoral de que a catequese aconteça e
se desenvolva com o objetivo de fazer da experiência de fé na comunidade eclesial
uma experiência transformadora e capaz de determinar a configuração de um novo
mundo. Pede que se leve em consideração não apenas os conteúdos e a doutrina, mas,
sobretudo, esteja focada na pessoa dos catequizandos, seu contexto social e familiar,
suas percepções, suas condições de vida, de cultura e sua realidade familiar. Em
outras palavras, trata-se de conhecer os catequizandos e as vicissitudes de suas
18
vivências no mundo, para poder estabelecer um diálogo fecundo e significativo entre
a fé e a vida e, assim, ocorrer o adequado anúncio e inculturação do Evangelho.[7]
O mesmo parágrafo do Decreto Christus Dominus apresenta alguns critérios para
guiar a formação dos catequistas, ressaltando a importância das ciências humanas,
especialmente a Psicologia e as ciências pedagógicas. Sublinha também a
necessidade de que os catequistas conheçam profundamente a doutrina da Igreja.[8]
Outro documento conciliar que se refere à catequese é a Declaração Gravissimum
Educationis em seu número 4. São destacados quatro elementos constitutivos da
missão catequética. O primeiro é sua contribuição para a consolidação da fé. O
segundo é sua colaboração para que as atitudes e a vida do crente sejam realizadas
segundo o Espírito de Cristo. O terceiro é a relevância da liturgia como momento
especial para a educação da fé e a específica ajuda que a catequese oferece aos
catequizandos a fim de poderem perceber, compreender, participar e viver o mistério
de Cristo. O quarto é que a catequese desperta todos os que creem para o
compromisso apostólico da Igreja.
Ainda do ponto de vista documental, o Concílio Vaticano II contribui para a
renovação da catequese ao determinar, por meio de um mandato estabelecido no
número 44 da Christus Dominus, a construção do Diretório Geral para a Catequese,
publicado em 1971, com a intenção de traçar os princípios gerais, os fundamentos e a
organização da catequese. Esse posicionamento do Concílio afasta de vez a catequese
como uma visão exclusivamente doutrinária dos catecismos e a concebe como
processo de amadurecimento da fé.
Ao fixar essa nova identidade e missão, a catequese também se descentra da ideia
de que é apenasatividade destinada a crianças e adolescentes e passa a adquirir
relevância para todos os membros da comunidade cristã. É nesse contexto novo que a
catequese recupera a instituição do catecumenato, entendido como iniciação de
adultos à vida cristã. Isso ocorre de maneira clara na segunda edição do Diretório,
feita em 1997. Concomitante a essa edição do Diretório, foi promulgado e publicado
o Catecismo da Igreja Católica, que é referência para um dos aspectos do processo
catequético: os conteúdos da fé.
O Concílio propicia outro impulso renovador para a catequese ao instituir o
restabelecimento do catecumenato no âmbito da renovação na liturgia da Igreja,
configurada na Constituição Apostólica Sacrosanctum Concilium, que ordena:
“restaure-se o catecumenato dos adultos dividido em etapas” (SC 64).
Nesse sentido, o decreto conciliar Ad Gentes proporciona avanços, pois define o
catecumenato e o articula com o processo catequético. O catecumenato é concebido
em termos iniciáticos e dá ao processo catequético uma característica mistagógica e
pedagógica com a finalidade de introduzir ou iniciar o fiel no mistério de Cristo e da
Igreja. Nesse processo, a comunidade assume papel fundamental, sendo a primeira
responsável pela iniciação cristã.[9]
19
A recuperação do catecumenato como instituição catequética primordial foi se
estruturando na vida da Igreja, obtendo uma organização própria. É expressão dessa
sistematização o livro litúrgico Rito de Iniciação Cristã de Adultos (RICA), que
estabelece os tempos, as etapas, os ritmos e os ritos do processo iniciático em sintonia
com a catequese. Outro reflexo importante, já determinado pelo Concílio, é o
ordenamento jurídico sobre os catecúmenos, explicitado pelo Código de Direito
Canônico, nos cânones 206, 788, 851, 1170 e 1183. A perspectiva do catecumenato
une a catequese à liturgia e acentua sua característica mistagógica.
Na América Latina, o Concílio toma forma no documento da Conferência
Episcopal Latino-Americana realizada em Medellin, na Colômbia, em 1968. Os
bispos assumem a forte dimensão antropológica da catequese latino-americana,
procurando manter-se fiéis à Revelação e também à situação histórico-social da
pessoa que crê. Outros elementos que se destacam são: a ênfase comunitária, a
catequese de adultos, a construção de uma nova linguagem, o cuidado com a
formação dos catequistas, a organização da catequese nos âmbitos nacional e
regional.
A catequese do imediato pós-Concílio no Brasil recolhe as orientações conciliares
e as assume em consonância com a realidade eclesial brasileira e latino-americana.
Pode-se apontar como resultados significativos a reorganização do Secretariado
Nacional de Ensino de Religião, a fundação do Instituto Superior de Pastoral
Catequética em 1963, agregado ao Instituto Nacional de Pastoral em 1968, voltado
para a formação dos catequistas. Destaca-se, nesse período, a atuação da Ação
Católica e também de D. Hélder Câmara, que esteve à frente da fundação da CNBB e
do planejamento das grandes estratégias da evangelização na Igreja.
Após amplo trabalho de participação, que se estendeu por três anos (1981-1983) e
envolveu todas as frentes da catequese e da Igreja no Brasil, a CNBB aprovou o
documento Catequese Renovada, referência atual para a catequese, juntamente com o
Diretório Nacional da Catequese, que assume suas linhas teológico-catequéticas.
A catequese deixa de ser somente ensino e transmissão de conteúdo, passando a
ser um processo permanente de fé para todos os cristãos. Redescobriu-se o valor da
iniciação cristã no processo de educação à fé e da comunidade mediadora desse
caminho. A catequese passa a ser o eixo central das preocupações e dos interesses da
Igreja, que empenha suas melhores energias na mobilização de um novo movimento
catequético para a nova evangelização, assumindo lugar prioritário em suas
iniciativas pastorais.
O envolvimento do leigo marca fundamentalmente o modo de fazer catequese. O
número dos que desempenham o desafio de serem catequistas aumenta
consideravelmente na Igreja. A vida local e a realidade de cada povo são levadas em
consideração. Por isso, a catequese torna-se cada vez mais evangelizadora.
Além dos subsídios conciliares, outros fatores levaram à renovação catequética: a
renovação teológica, as correntes do pensamento filosófico, o contexto das mudanças
20
socioculturais e a renovação psicopedagógica. O Concílio Vaticano II favoreceu
novas compreensões da revelação, da fé e da evangelização. Ao mesmo tempo,
estabeleceu uma concepção renovada da Igreja e da sua maneira de interpretar a
realidade, a humanidade, a educação, e de relacionar-se com o mundo. Esse novo
horizonte abriu caminhos mais viáveis de diálogo com um mundo complexo, e dá
condições para a catequese se lançar em um trabalho mais significativo, capaz de
sustentar o anúncio do Evangelho em um mundo desafiador e em constante mutação.
No passado, no tempo da cristandade, quando o cristianismo estava encarnado no
modo de vida da sociedade, os catequistas somente completavam o que a cultura
cristã local já havia transmitido. Um pouco mais tarde, os catequistas eram aqueles
que ensinavam o catecismo para as crianças, aquele manual de perguntas e respostas.
Tal modelo de catequese deu resultados no seu tempo. Hoje, as pessoas têm um
espírito mais questionador, a pedagogia exige mais participação, os meios de
comunicação e as redes sociais veiculam ideias e propostas que precisam ser levadas
em conta.
Os catequistas ganharam uma nova postura no campo da ação evangelizadora da
Igreja. A catequese é compreendida de forma mais ampla, como uma das três etapas
da missão evangelizadora da Igreja e como conjunto de atividades específicas de
educação sistemática da fé.
Os catequistas, por meio de uma interlocução com os catequizandos, educam
também para outros aspectos como: a participação na vida da comunidade e na
liturgia, a interação entre fé e vida, que faz tomar consciência das responsabilidades
na transformação social, desenvolve o espírito missionário e educa para o
ecumenismo e o diálogo inter-religioso.
Voltar às fontes é revisitar o primeiro milênio do cristianismo e encontrar lá a
centralidade da fé na Palavra de Deus e no mistério pascal de Cristo, explicitada pela
maior festa da Igreja que é a Páscoa. É também encontrar uma liturgia simples, porém
mistagógica, fonte principal de espiritualidade cristã, os sacramentos como
celebração da vida em Cristo e o caráter comunitário da Eucaristia, fonte e cume de
toda experiência cristã.
O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente,
sobre a preparação para o jubileu do ano 2000, dizia que a melhor maneira da Igreja
se preparar para o terceiro milênio era empenhar-se na aplicação e na vivência do
ensinamento do Vaticano II. Pensar um futuro próspero para a Igreja, nesse terceiro
milênio de história, só é possível tendo como parâmetro e meta as diretrizes do
Concílio Vaticano II.
O Vaticano II devolveu à catequese o seu caráter ministerial, ao enaltecer a figura
dos leigos na ação ministerial da Igreja. Os leigos se tornaram pouco a pouco
protagonistas da evangelização e da catequese, exercendo o seu ministério sem medir
esforços e colocando todas as suas possibilidades e capacidades no anúncio do
Evangelho. Aquela imagem de uma Igreja individualista e extremamente centrada na
21
hierarquia foi ganhando um caráter de participação e comunhão, fazendo com que
todos juntos formassem o povo de Deus.
Afirmando a participação de todos os cristãos na missão sacerdotal, profética e
pastoral de Cristo, o Vaticano II reafirma o sacerdócio comum dos fiéis (cf. LG 10-
11). Portanto, integra a identidade de todo cristão participar ativamente da missão da
Igreja no anúncio do Evangelho (cf. LG 12). Os cristãos são chamados a contribuir
com a ação evangelizadora da Igreja, em virtude do batismo que receberam, sendo,
portanto, chamados a colocar-se a serviço.
As necessidades pastorais da Igreja pós-Vaticano II fizeram nascer novos
ministérios.Ao abrir-se ao diálogo com o mundo, a Igreja precisou, em muitos
lugares, assumir um novo espírito, um novo jeito de ser e fazer Igreja. Com isso, os
cristãos assumem como verdadeiros ministérios as tarefas da ação pastoral de
animação da vida litúrgica, de serviço aos pobres, de luta pela justiça e direitos
humanos, de testemunho e anúncio do Evangelho, a missão além-fronteiras e tantas
outras ações às quais muitos se sentem chamados, por vocação, a assumir.
Os catequistas, dentro dessa abertura ao mundo, encontram no seu serviço
ministerial variadas situações: de pessoas que tiveram iniciação cristã na família e
outras que ainda não foram iniciadas na fé, pessoas que se afastaram da Igreja e
querem voltar, crianças e jovens que não recebem apoio familiar, pessoas em situação
irregular diante da lei da Igreja e em risco social, famílias que precisam aprender a
dialogar com parentes de Igrejas diferentes, pessoas com deficiências que necessitam
ser incluídas, utilizando métodos adequados, e até idosos que precisam de um
fortalecimento da fé.
22
2
OS SERVIÇOS E OS MINISTÉRIOS NA IGREJA
23
“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de
ministérios, mas o Senhor é o mesmo; diversos modos de ação, mas é o
mesmo Deus que realiza tudo em todos” (1Cor 12,4-6).
Os serviços e os ministérios existem em função e para o serviço da Igreja, e nela
encontram seu sentido, meio e fim. A Igreja, povo de Deus conclamado pela
Trindade, recebe do Pai, do Filho e do Espírito Santo o modelo de comunidade onde
haja comunhão e participação para ser o sinal visível da presença de Cristo entre nós.
[1]
Cada cristão recebe, pelos sacramentos do batismo e da confirmação, o convite de
se colocar a serviço de Deus na sua Igreja, a fim de continuar no mundo a construção
do Reino iniciada por Jesus. Não é um serviço qualquer, é um serviço que, além de
ser exigente, pede de quem o desempenha uma grande sensibilidade ao Espírito
Santo. Esse serviço na Igreja é chamado de ministério.
Serviços e ministérios estão fundamentados nos sacramentos do batismo e da crisma. Uma Igreja
toda ministerial oferece espaços de comunhão, corresponsabilidade e atuação dos leigos, e colabora
com a descentralização.[2]
Nesse sentido, ministério é o agir no qual um fiel cristão batizado empenha toda a
sua pessoa e seus dons para a realização da missão da Igreja, impulsionado, movido e
em sintonia obediente ao Espírito Santo, tendo por sentido último o Reino de Deus.
O ministério é, fundamentalmente, “o carisma que assume a forma de serviço à comunidade e à sua
missão no mundo e na Igreja” e “como tal é acolhido e reconhecido” pela Igreja.[3]
O ministério faz parte da ação da Igreja, na qual o Espírito Santo desperta e
confere aos fiéis os dons necessários e a orientação para a execução dos diversos
serviços para o bem do povo de Deus. Na origem de todo ministério está a pessoa do
Espírito Santo, que comunica os carismas aos filhos nascidos da nova aliança em
Cristo.
Os serviços e os ministérios na Igreja estão orientados para a construção da
unidade que é o Corpo de Cristo. Ao exercer um ministério, o batizado se torna
servidor da humanidade, respondendo ao convite de Jesus que disse: “que todos
sejam um, como tu, Pai, está em mim e eu em ti” (Jo 17,21).
24
2.1. O que são os serviços e os ministérios
Na Igreja, cada cristão pode oferecer diversos serviços de colaboração com a sua
comunidade paroquial, enquanto membro vivo e atuante. Esses serviços são
expressão da generosidade e do sentimento de pertencer e se sentir responsável pelo
bem material e espiritual da comunidade de fé. Colaborar com a festa do padroeiro,
participar das ações sociais desenvolvidas pela comunidade, oferecer trabalhos
voluntários para a manutenção ou administração dos bens materiais da comunidade,
entre outros, são exemplos desses serviços.
Tais serviços são diferentes dos ministérios, apesar de estarem intimamente
relacionados. O ministério é um serviço relacionado com a missão específica da
Igreja de anunciar o Evangelho, comunicar a salvação realizada por Jesus Cristo,
ensinar e educar na fé e colaborar na santificação dos fiéis cristãos. O ministério está,
portanto, relacionado à missão da Igreja. O Espírito de Deus suscita na Igreja diversas
formas de participação e colaboração dos fiéis para a realização da missão
evangelizadora.
O serviço compreendido como ministério não é qualquer atividade ou função na Igreja, mas um
serviço preciso, importante, relacionado com a missão da Igreja em um ou mais âmbitos de sua
missão (múnus profético, sacerdotal e real), assumido com estabilidade e como responsabilidade
própria, não como mera descentralização ou delegação.[4]
Etimologicamente, isto é, na origem da palavra, ministério deriva dos vocábulos
latinos ministerium, que significa “serviço”, e minister, “servidor”. Na língua grega,
significa serviço, indicando-nos a diaconia.[5]
Porém, não se trata de qualquer serviço. Refere-se ao serviço próprio da
identidade da Igreja enquanto servidora do mistério da salvação e do Reino de Deus,
e que se exprime em diversos modos, de acordo com a multiforme graça do Espírito
Santo, e se inspira na pessoa, nas atitudes e nas ações de Jesus Cristo Salvador.
Implica o dom gratuito de quem serve, envolvendo toda a sua pessoa, pois é um
serviço que se fundamenta na graça de Deus que oferece gratuitamente os dons, e de
seu Reino, dando-nos o seu Filho Unigênito que por nós se entregou.[6]
Ministério é, antes de tudo, um carisma, ou seja, um dom do Alto, do Pai, pelo Filho, no Espírito
Santo, que torna seu portador apto a desempenhar determinadas atividades, serviços e ministérios
em ordem à salvação.[7]
Nas Sagradas Escrituras, encontramos personagens que receberam de Deus e da
comunidade reconhecimento de sua vocação como ministros, sejam elas lideranças
ou pessoas simples do meio do povo. Elas recebiam uma missão dada por Deus e se
comprometiam com a causa assumida, a ponto de oferecer a própria vida em
sacrifício. No Antigo Testamento, percebemos o uso do termo ministério e suas
variações para designar um ofício religioso exercido pelos dirigentes do povo, sejam
25
eles: profetas, reis, sacerdotes (cf. Nm 1,50; Esd 8,16-20; Eclo 7,29-31; Is 61,5-7; Ez
44).[8]
No Novo Testamento, esse termo ganha um novo sentido. A palavra ministro
aparece com frequência e indica os sacerdotes do Antigo Testamento (leitourgos);
pessoas que prestam serviços como profissionais ou como servos (hyperetes); e os
cristãos que executam serviços na comunidade ou em seu nome (diáconos). O termo
diáconos, com o passar do tempo, estabeleceu-se como palavra própria da
comunidade cristã para exprimir os serviços da Igreja, e também para identificar o
ministro que provê os dons da caridade, da mesa eucarística e da Palavra. Os
diáconos eram, na Igreja nascente, aquelas pessoas que exerciam alguns serviços
necessários à comunidade, como o serviço das mesas (cf. At 6,1-7), a coleta para
ajudar os pobres e as outras comunidades (cf. 2Cor 9,1-12).[9]
O modelo para todas as ações da Igreja é a ação de Jesus. É a partir dele, de seu
testemunho e de sua presença salvadora, que a Igreja busca a sua identidade e o
sentido de sua vida e de sua missão, atualizando o Reino de Deus no mundo pelo seu
compromisso, fiel à mensagem de Jesus. Desse modo, todo ministério cristão é uma
continuidade do ministério do próprio Cristo.
Com a formação e a estruturação das comunidades eclesiais, a Igreja foi
instituindo formas para explicitar de maneira prática a sua vocação de servir a Deus e
a humanidade restaurada em Jesus Cristo. Movida pelo exemplo de Cristo, a
comunidade vai ao encontro dos que sofrem, despojando-se de si mesma para entrar
em comunhão com os que dela necessitam, oferecendo a todos os dons da redenção.
[10]
Encontramos um sólido fundamento bíblico da teologia dos ministérios no trecho
do Evangelho de Lucas, que relata a escolha dos doze apóstolos dentre os demais
discípulos, feita por Jesus, diante de muita gente do povo(cf. Lc 6,12-20). Identifica-
se nesse texto a formação de grupos distintos ao redor de Jesus: os apóstolos, os
discípulos comprometidos com o seguimento de Jesus e o povo que busca Jesus
Cristo e deseja acolher sua Palavra. Isso evidencia a existência de funções concretas e
específicas dentro da comunidade cristã desde os tempos dos apóstolos. Eles foram
enviados a fim de que os ensinamentos fossem transmitidos. Receberam também a
missão de expulsar os demônios e curar os doentes (cf. Mc 3,14-15).[11]
Os discípulos eram aqueles homens e mulheres que seguiam Jesus com certa
frequência (cf. Jo 19,38; Mc 15,40-41; Lc 8,1-3) e o auxiliavam com recursos de
todos os tipos para que a mensagem do Reino fosse anunciada. O povo é o grande
número de pessoas que acorriam a Jesus para escutá-lo, receber dele ensinamento ou
algum benefício, ou muitas vezes por curiosidade.
Diante da estrutura organizada desde a Igreja primitiva, podemos cair na tentação
de imaginar uma divisão de classes dentro da comunidade cristã. Não se trata de uma
divisão em dois níveis de classes: um modelo perfeito dos apóstolos e discípulos e um
menos perfeito para os demais membros da comunidade. As figuras dos apóstolos,
26
dos discípulos e do povo formam uma unidade que possibilitou as sementes do Reino
serem semeadas. Cada um a seu modo fez a experiência de estar com Jesus e ouvir
dele a Boa Notícia.
No Reino de Deus, não há espaço para competições entre o maior e o menor. Há,
sim, lugar e acolhida para todos aqueles que de alguma maneira se colocam a serviço,
seja anunciando a Boa-Nova, seja trabalhando para mantê-la, ou ainda, até mesmo,
como ouvinte.
Jesus, ao escolher doze para estar mais intimamente junto dele, nomeou-os como
apóstolos (cf. Lc 6,13). Ao serem enviados, receberam um mandato a ser exercido
com autoridade. Por meio desse ato, Jesus instituiu e qualificou os apóstolos como
ministros da nova aliança celebrada em seu sangue. Enquanto tais, os apóstolos
compreendem que foram por Deus qualificados, transformados em “ministros de
Deus” (2Cor 6,4), “embaixadores de Cristo” (2Cor 5,20), “servidores de Cristo e
administradores dos mistérios de Deus” (1Cor 4,1).[12]
Os apóstolos expressam a presença viva de Cristo que continua chamando,
suscitando e animando a sua Igreja. Ela está plenamente a serviço da missão, e todos
os batizados são chamados a exercer o grande ministério que a Igreja recebeu de
Cristo, exercendo-o com aquela mesma autoridade serviçal com que Jesus Cristo, o
ministro do Pai por excelência, exerceu.
Todos os ministérios na Igreja nasceram das necessidades das comunidades de fé,
pela ação do Espírito Santo, numa estreita relação com Jesus Cristo, que veio para
servir, e não para ser servido. Ele é o referencial para que vivamos numa Igreja
integralmente ministerial. Para isso, é necessária uma constante conversão.
Jesus, ao exercer o seu ministério serviçal (diaconal), mesmo sendo o Mestre e
Senhor de todos, fez-se o servo de todos. Ele despojou-se de sua glória de Filho
Unigênito de Deus para estar conosco de maneira pobre, simples, sem poder nem
honras, disponível ao serviço. Ele se ofereceu sem reservas (cf. Hb 9,11-28) ao
serviço do Pai, para a salvação da humanidade. O gesto simbólico maior desse
ministério é encontrado na cena do lava-pés, na última ceia, relatada no Evangelho de
João:
Levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois coloca água
numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava
cingido. Depois que lhes lavou os pés, retomou o seu manto, voltou à mesa e lhes disse:
“Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se,
portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros.
Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais. Em verdade, em verdade, vos
digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou.[13]
Lavar os pés dos convidados e servir a mesa em uma ceia, no tempo de Jesus, era
um serviço realizado pelos escravos, pelos serviçais e pelas mulheres. Jesus faz-se um
desses. Depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela e lava os pés dos
seus discípulos. Ao final, ele não deixou de ser servo, mas tomou seu lugar de Senhor
27
e Mestre, justamente para deixar claro que o mandamento do serviço atinge a todos.
Por isso, retomou o seu manto, voltou à mesa, pois Ele é o Senhor que está a serviço.
Seus seguidores farão o mesmo.[14]
A espiritualidade do “avental e da toalha” não pode ser só da Quinta-feira Santa, mas sim de todos
os dias. Somos chamados para servir. [...] Não há serviço sem se despir de todas as aparências de
poder, de força. Não é possível amar colocando-se longe do outro. O corpo é sacramento da
presença de Deus.[15]
Os ministérios na Igreja nunca devem ser exercidos com autoritarismo ou
subserviência. São sinais de fraternidade e de serviço recíproco entre irmãos e irmãs
na fé. A finalidade de todos os ministérios é o bem comum para o proveito de todos
(cf. 1Cor 12,7), com contínua preocupação uns com os outros (cf. 1Cor 12,25) e para
o crescimento de todo o corpo de Cristo e sua edificação no amor (cf. Ef 4,16).
No Evangelho escrito por João, encontramos a essência dos ministérios na Igreja:
“Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais” (Jo 13,15).
Jesus, com o seu exemplo, instrui seus discípulos a serem servos uns dos outros.
Devem entender o mandato de Cristo como serviço aos irmãos e às irmãs.
A cena da última ceia é o testemunho visível e sensível desse sentido ministerial
de toda a vida de Jesus, que se acentua na sua atitude de servo. Um ministério só tem
sentido se a sua ação se encarna na vida da Igreja com disposição de humildade
servidora. O Novo Testamento entende o ministério como carisma, dom proveniente
de Deus, comunicado pelo Espírito Santo e que capacita o fiel a realizar atividades e
serviços para a efetiva salvação de todos.
Em momento algum Cristo assumiu sua missão de forma autoritária ou como
alguém que fosse poderoso. Não, muito pelo contrário, ele adverte explicitamente
aqueles que se achavam mais elevados e poderosos por saberem interpretar as leis (cf.
Mt 23,1-12). A dinâmica de Jesus vai na contramão da dinâmica da sociedade. Para
Ele, só consegue exercer o poder e ter autoridade aquele que sabe servir a todos.
O ministério compreendido no âmbito da pessoa e do agir de Cristo não se
estabelece como um privilégio, honraria, prêmio, ou como um poder, nem deve ser
assumido para estar acima dos outros, mas, como carisma, está voltado para o serviço
da missão eclesial e para o bem de todos.
Ao exercer um serviço na Igreja, o batizado não pode confundi-lo com o poder,
pois ministério é diaconia, serviço amoroso e gratuito, suscitado e sustentado por
Deus, e não um prêmio dado pela Igreja, muito menos um título de superioridade.
28
2.2. Ministérios ordenados e não ordenados
Fala-se muito em ministérios e isso só é possível dizer, pensar e realizar a partir
da riqueza teológica do Concílio Vaticano II (1962-1965), quando a Igreja se
redescobre numa pluralidade de serviços. Essa pluralidade compõe dois tipos de
ministérios: os ministérios ordenados e os não ordenados.
O Vaticano II conseguiu recuperar elementos importantíssimos das Sagradas
Escrituras e da Tradição que possibilitaram a elaboração de uma excelente teologia
sobre o ministério ordenado. Além de recuperar esses elementos, o Vaticano II
também apresenta uma eclesiologia de comunhão e participação para superar um
modelo de Igreja organizada em uma hierarquia fechada, composta pelo papa, bispos
e padres, considerados pastores, e pelos fiéis leigos, que apenas os seguiam como
ovelhas.
Os leigos eram, por definição, excluídos do ministério, excluídos até mesmo da
Igreja, para se ocuparem das coisas do mundo. O Concílio Vaticano II, ao reconhecer
o apostolado dos leigos e necessitar dele, abriu a possibilidade de haverna Igreja
ministérios não ordenados. Inicia-se um processo de renovação que faz a Igreja
superar uma identidade clerical para ser uma Igreja mais aberta à participação de
todos os fiéis cristãos.
O ser ministerial do cristão, recebido pelo sacramento do batismo e confirmado
pelo sacramento da confirmação, abrange uma pluralidade de realizações.
Todo ministério não pode se acomodar em uma posição estática, nem
privilegiada, mas deve participar, de acordo com a sua índole e por meio de seu
serviço, da missão da Igreja. Os ministros ordenados são eleitos e consagrados pelo
Espírito Santo para agir na pessoa de Cristo, único e eterno sacerdote, e Pastor do
povo de Deus, servindo a todos os fiéis, especialmente presidindo a celebração da
Eucaristia e desempenhando todas as modalidades do encargo de apascentar,
governar, animar, santificar e ensinar o povo santo de Deus.[16]
Os ministérios ordenados foram instituídos por Jesus Cristo para o bem de todos e
são conferidos pela recepção do sacramento da Ordem em seus três graus:
episcopado, presbiterado e diaconato (cf. LG 28). Os ministérios ordenados são
entendidos à luz do episcopado, que é a plenitude do sacramento da Ordem, que por
sua vez está ligado à missão apostólica de anunciar o Evangelho, pastorear a
comunidade e dispensar os sagrados mistérios de Cristo. Dessa forma, os ministros
ordenados, revestidos do poder sagrado, servem à comunidade eclesial para o povo
eleito viver sua dignidade batismal, crescer em santidade, aumentar em número e,
juntos e em mútua colaboração de povos e pastores, atingir a salvação.[17]
Os ministérios ordenados conduzem a unidade de toda a Igreja na fé e no amor, a
fim de que a Igreja se mantenha na tradição dos apóstolos e, assim, fiel a Jesus Cristo;
portanto, os ministros ordenados desempenham o poder sagrado recebido para o
29
serviço dos irmãos, ensinando o povo de Deus, realizando o culto divino e
governando a comunidade eclesial.[18]
Nesse sentido, o ministério ordenado representa, no conjunto da ação
evangelizadora da Igreja, um serviço de unidade e de orientação, garantindo o êxito
do trabalho de evangelização. Unidade não é uniformidade. A unidade realizada pelo
ministério ordenado serve à diversidade de dons, de carismas e de serviços.
Os ministérios não ordenados não são estranhos ou intrusos na vida da Igreja, não
surgem do nada, nem nascem apenas de uma necessidade da própria comunidade,
mas pertencem à sua identidade ministerial. Compõem o ser da Igreja. Eles se
fundamentam num carisma especial recebido no batismo. São como uma força vital
que o cristão leigo possui e que não permite que o Evangelho de Cristo deixe de ser
anunciado por falta de pastores.
Os ministérios dos cristãos leigos e leigas podem ser “reconhecidos”, “confiados” e “instituídos”.
Várias Igrejas particulares no Brasil, a partir de suas necessidades e dos carismas dos seus membros,
desenvolveram e continuam desenvolvendo ministérios variados. Convém acatar integralmente e
valorizar a possibilidade de catequistas leigos e leigas presidirem alguns ritos previstos no processo
de Iniciação à Vida Cristã.[19]
Além do caráter ministerial da Igreja e da consagração batismal, os ministérios
não ordenados referem-se à ação do Espírito Santo, fonte dos carismas e dons. A
Constituição Dogmática Lumen Gentium frisa essa ação do Espírito, que distribui aos
fiéis de todas as condições graças especiais para que possam desenvolver os trabalhos
e funções que favoreçam o crescimento da Igreja e o cumprimento de sua missão de
anunciar o Evangelho. Afirma ainda que esses carismas são acolhidos com ação de
graças e satisfação pela Igreja e por cada fiel, pois visam suprir as necessidades da
Igreja em cada momento histórico.[20]
A liberdade e liberalidade do Espírito estão, portanto, na origem da existência dos
ministérios não ordenados na Igreja (cf. 1Cor 12,4-10; Rm 12,6-8; 1Pd 4,10-11). Por
meio dos ministérios e carismas, o Espírito capacita todos os membros da Igreja para
o bem comum e para a ação transformadora e evangelizadora. Essa ação do Espírito
repercute na identidade da Igreja ministerial, que abre espaços de comunhão,
corresponsabilidade e atuação dos fiéis leigos, e colabora com a descentralização e
com a ação missionária.
Sobre os ministérios não ordenados, o Documento 62 da CNBB destaca três
tipos: ministérios reconhecidos que estão ligados a um serviço significativo na
Comunidade, mas que não são permanentes; ministérios conferidos por um gesto
litúrgico, como o ministério extraordinário da sagrada comunhão e as testemunhas
leigas qualificadas do sacramento do matrimônio; ministérios instituídos, como o
leitorado e o acolitado.
A redescoberta da teologia do laicato e o progressivo protagonismo dos leigos na
vida da Igreja são, sem dúvida, sinais dos tempos que interpelam a Igreja a refletir
30
sobre a dignidade do leigo no exercício dos mistérios, o seu ativo direito e dever de
participação nas decisões e a sua corresponsabilidade na missão.[21]
O Papa Paulo VI, em sua Encíclica Evangelii Nuntiandi, apresentou
admiravelmente os ministérios leigos de catequistas, animadores da oração e do
canto, servidores da Palavra, assistência aos necessitados, líderes das pequenas
comunidades, responsáveis pelos movimentos apostólicos e outros serviços
semelhantes.[22]
A mudança da mentalidade eclesial de que apenas os clérigos são os protagonistas
na Igreja é um desafio que vem se arrastando na história da Igreja. Muitos leigos,
ainda de maneira passiva, entendem que o seu serviço na comunidade é apenas uma
ajuda, uma colaboração ou, pior ainda, uma mera participação junto aos padres.
Há também muitos padres que se acham superiores aos leigos e usam de seu
“autoritarismo” e “poderio” para desvalorizá-los em seus ministérios. Outros ainda
clericalizam os leigos, colocando-os para realizar estritamente os serviços de caráter
litúrgico ou intracomunitários, ignorando, por exemplo, a atividade missionária
própria do leigo na sociedade.[23]
Dentro dessa mentalidade, há situações em que um membro da comunidade se
proclama autossuficiente e passa a agir sem colegialidade com os demais, de forma
independente e até mesmo autoritária, ferindo o espírito comunitário dos ministérios.
As atitudes recomendadas para o exercício dos ministérios, sejam eles ordenados
ou não ordenados, são sempre a humildade, a simplicidade, o zelo e a alegria do
serviço a todos, sem considerar um mais do que o outro, mas amando-se mutuamente
(cf. Rm 12,3.8.10). Nessa atitude de serviço amoroso, nasce uma espiritualidade
ministerial, que merece ser meditada e vivida para que a Igreja seja, sobretudo, um
modelo evangélico de convivência e serviço.
31
2.3. O ministro não ordenado e sua relação com a Igreja
Os especialistas afirmam que a linguagem é uma realidade viva que se modifica
ao longo do tempo. Prova disso é a evolução das palavras que vão ganhando outros
significados e chegam a expressar coisas completamente diferentes do que
representavam antes.
A palavra ministro é um exemplo disso. Com o tempo, o seu sentido primeiro
mudou. O vocábulo ministro, de origem latina, indica aquele que servia as mesas, no
caso, o diácono, o escravo, os empregados da casa. Era aquele que cuidava das coisas
simples e talvez fizesse o trabalho mais pesado.
Progressivamente, a palavra foi perdendo essa conotação mais humilde e foi
evoluindo de forma crescente, a ponto de ser identificada atualmente como uma
posição privilegiada. Em um governo democrático, o ministro é aquele que está à
frente de um ministério, ou seja, um dos mais altos e privilegiados cargos que no
campo político o cidadão pode alcançar.
Trazendo para nossa realidade de Igreja, passou-se a enaltecer de maneira
privilegiada a figura do ministro. Entretanto, o ministro de Cristo continua a ter o seu
significado primeiro, isto é, de servo: aquele que está a serviço de Cristo. Ele é
instrumento para que a mensagem da salvação chegue aos confins da terra.[24]
Os cristãos, pelos sacramentos, são incorporadosa Cristo e a sua Igreja, e
participam da sua mesma missão, que se desdobra nas três dimensões de serviço
profético, sacerdotal e pastoral (cf. LG 10-12). Essa incorporação enriquecida por
uma inesgotável pluralidade de carismas assume a forma de ministérios. Portanto,
todos os batizados participam do ministério de Cristo e são inseridos na Igreja
ministerial. O exercício concreto de ministérios por parte dos batizados é, pois,
consequência natural do caráter sacramental e carismático da consagração batismal.
Conferir determinado ministério a uma pessoa batizada, segundo os costumes
históricos e as formas instituídas pela Igreja, é reconhecer a sua natureza ministerial
adquirida no batismo.[25]
Os ministérios de Cristo e o ministério do cristão têm como atitude primordial o
serviço: “Quanto a mim, estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27),
nos diz Jesus. São vivenciados na fraternidade e na dedicação generosa de si mesmos.
O ministério envolve o ser e o agir da pessoa por completo, não sendo uma mera
atividade secundária. Empenha toda a sua identidade de batizado, de filho ou filha de
Deus, num serviço generoso e dedicado à Igreja em nome do Senhor que amou sua
Igreja e por ela se entregou.[26]
A Igreja, sendo o corpo místico de Cristo, recebe dele esse dom, esse carisma. E é
dele mesmo que provêm para a Igreja todos os ministérios. E ele não abandona os
seus ministros, mas os assiste e está presente em suas palavras e ações, garantindo
que os gestos e as vozes daqueles que o anunciam reverberem sua Palavra e sua
sagrada ação salvífica (Lc 10,16; cf. Mt 10,40ss; 9,35ss; Lc 9,46ss; Jo 13,20).[27]
32
Os ministros leigos, no corpo místico que é a Igreja, perpetuam, por meio de seu
serviço, a ação de Cristo no mundo e na sociedade. É sua missão tornar viva a
presença da Igreja naquelas realidades que somente eles podem vivenciar como
membros vivos da Igreja, o ser “sal da terra e luz do mundo”.[28]
O Documento de Aparecida reconhece, na Igreja da América Latina e do Caribe, os “ministérios
confiados aos leigos e outros serviços pastorais, como ministros da Palavra, animadores de
assembleia e de pequenas comunidades, entre elas as comunidades eclesiais de base, os movimentos
eclesiais e um grande número de pastorais específicas”. E sugere que se abram aos leigos e leigas
“espaços de participação”, confiando-lhes “ministérios e responsabilidades em uma Igreja onde
todos vivam de maneira responsável seu compromisso cristão”.[29]
Enquanto peregrinar neste mundo, a comunidade cristã deve crescer e fortalecer a
sua comunhão com Cristo, para se reorientar constantemente em sua missão. As
dimensões da comunhão e da missão constituem a identidade da Igreja. Os ministros
leigos atuam simultaneamente nessas duas dimensões, permitindo a sustentação, o
dinamismo criativo e a existência da Igreja.
Para isso, é indispensável a presença de bons ministros, servidores, dispostos a
abrir novos caminhos, descortinar novos horizontes para continuar o projeto de Jesus
que está a serviço do Reino.
33
2.4. Uma Igreja toda ministerial
O apóstolo Paulo, em suas cartas, inspira-se na imagem do corpo humano para
descrever a Igreja como organismo vivo e dinâmico que, por meio dos diversos
membros unidos em um só corpo, faz com que a salvação de Deus chegue aos confins
da terra. Foi o próprio Deus que, por Jesus, no Espírito, chamou à existência a Igreja
e configurou-a como corpo místico de Cristo, unindo-a a seu mistério.
Esse corpo místico de Cristo, que é a Igreja, com o passar do tempo cresceu e se
desenvolveu. Cada etapa desse desenvolvimento exigiu desse corpo uma postura
frente às diversas situações impostas pela história. Tal postura é expressão existencial
da resposta de fé e da aceitação de Cristo por parte dos fiéis que confessaram o nome
do Senhor, aceitaram seu chamado e a ele se entregaram. Essa resposta fez a Igreja
crescer, se desenvolver e chegar ao que é e representa nos tempos atuais.
Quando o corpo humano cresce, acontecem nele muitas mudanças, algumas
muito significativas e marcantes, que vão definir a pessoa pelo resto da vida. Não é
diferente com o corpo-Igreja. Mudanças aconteceram e fizeram mudar o seu jeito de
ser, para responder aos anseios e aos apelos da sociedade e de si própria.
Tais mudanças estão acontecendo e exigem uma incessante evangelização e
conversão da própria Igreja, uma tomada de consciência coerente do seu caráter
ministerial como um serviço desinteressado e comprometido, para que, na teoria e na
prática, o ministério seja de fato uma realidade eclesial.
O serviço ministerial da Igreja no mundo faz superar a ideia de uma Igreja
autorreferencial, que se olha e se preocupa somente consigo mesma e se esquece de
que ela é, antes de tudo, um sacramento, um sinal da presença de Cristo e do Reino
no mundo. A natureza da Igreja é de comunhão e de participação, fazendo com que
ela se abra ao mundo sendo totalmente ministerial.[30]
Todos os membros do corpo de Cristo são chamados à unidade, ao mesmo tempo
em que se enriquecem pela diversidade. Unidade no mesmo Espírito que cria
comunhão, no mesmo Senhor, na mesma fé e no mesmo batismo. Diversidade de
dons recebidos pela vontade de Deus e na medida da graça de Cristo, para
desempenhar diversas funções a serviço do bem de todo o corpo eclesial.
Paulo, ao escrever da prisão à comunidade de Éfeso, deixou claro que os
ministérios são para edificar o corpo de Cristo (cf. Ef 4,12). A edificação do corpo de
Cristo pelos ministérios significa dar sentido e forma concreta à comunhão eclesial
dentro de uma estrutura de fraternidade comunitária. Essa edificação unida e
coordenada pelo Cristo-cabeça está fundada no amor (cf. Ef 4,16).
Entender a realidade do ministério eclesial como um serviço de amor e humildade
é um dos primeiros sinais de uma primavera na Igreja. Um modelo de Igreja
servidora, plenamente ministerial, enriquecida e potencializada pela comunhão
dinâmica dos diversos carismas e ministérios é o que mais se encaixa na conjuntura
histórica que vivemos. Tudo que ela recebeu da Santíssima Trindade e da generosa
34
entrega de seus membros, que vivenciam em si o mistério pascal do Senhor e dão
continuidade à missão recebida do Pai, tem como finalidade última não ela mesma,
mas a salvação da humanidade, a realização do desígnio salvador de Deus.
A Igreja, desde os primórdios, sempre foi uma comunidade organizada por
ministérios, mesmo seguindo certa ordem ou hierarquia, onde o anúncio da Palavra
de Deus era a sua meta (cf. At 6,1-6). Os ministérios sempre foram para toda a Igreja
uma riqueza imensurável e por eles a Igreja é obediente em cumprir a missão que
recebeu do próprio Deus.
O Concílio Vaticano II ajudou a Igreja a redescobrir seu papel no mundo e a
recordar que deve se compreender como servidora, seguindo o modelo revelado por
Jesus nos Evangelhos. Uma Igreja ministerial que se entenda como servidora do povo
de Deus e que, mesmo tendo autoridade, não utiliza o seu poder para dominar e para
alienar, mas para caminhar junto aos cristãos nas suas lutas diárias em busca de uma
vida digna e santa.
É pelo batismo que cada cristão se torna responsável pela comunhão e missão da
Igreja, desempenhando o ministério dado por Deus. Os catequistas, bem como toda a
comunidade eclesial, fazem parte desse corpo, que é a Igreja.
Ao explicarmos alguns aspectos dos ministérios na Igreja, vimos que eles são um
serviço diaconal que tem como parâmetro a vida do próprio Cristo, que veio a serviço
do Pai para a salvação da humanidade. Na Igreja pós-Vaticano II, com a distinção
clara entre os ministérios ordenados e ministérios não ordenados, a atuação dos leigos
ganha uma nova configuração no campo eclesial. Assim, a Igreja é convocada a ser
integralmente ministerial, tendo como cabeça e mestre Jesus Cristo, fonte e cume de
todo ministério.
Assim, buscaremos entender no próximo capítulo, percorrendo a história da
Igreja, a importância do ministério do catequista no processo de evangelização. A
catequese, através dos séculos,vem exercendo um verdadeiro serviço ministerial para
o povo de Deus. Conhecer a sua importância no coração da história da Igreja é
essencial para compreendê-la como ministério.
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3
CATEQUISTA: VOCAÇÃO, MINISTÉRIO E MISSÃO
36
“Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a
paz, do que proclama boas-novas e anuncia a salvação” (Is 52,7).
Após ter compreendido o sentido do ministério ordenado e não ordenado na
história da Igreja, podemos traçar algumas linhas sobre a vocação, a missão e,
principalmente, o ministério do catequista.[1]
Pensar hoje o ministério dos catequistas na Igreja é indispensável, pois resgata
algo que se perdeu ao longo dos séculos e que é próprio da pessoa do catequista: a
sua comunhão com Deus e com os irmãos por meio do serviço e do testemunho.
Sabemos que existiram e ainda existem muitos catequistas que atuam de modo
silencioso e ativo dentro das comunidades eclesiais, porém é necessário respeitar e
valorizar o seu serviço generoso, reconhecendo oficialmente no ministério.
Reconhecer os catequistas como ministros qualificados a serviço da Igreja é tão
importante quanto o reconhecimento dos ministros extraordinários da sagrada
comunhão, uma vez que todos, na diversidade de ministérios, formam a unidade da
Igreja. O ministério dos catequistas está intimamente ligado ao ministério da Palavra.
[2] Tal ministério é um agir “eclesial” que representa e compromete pública e
oficialmente a Igreja.
Um verdadeiro ministério assume a força de serviço cuidadoso, envolvido por um
conjunto de amplas funções que respondem às exigências permanentes da
comunidade. Quem abraça tal ministério assume uma grande responsabilidade e, por
isso, deverá ser acolhido e reconhecido pela comunidade eclesial, a qual assumirá a
garantia e a estabilidade do seu serviço aos fiéis.
A partir da eclesiologia do Concílio Vaticano II (1962-1965), é preciso
compreender que o catequista tem o seu lugar e importância dentro da Igreja e que
assume o seu trabalho como um ministério confiado e até mesmo instituído pela
própria Igreja, que está no mundo para ser sacramento de salvação. É o que está
previsto no Diretório Geral de Catequese (cf. DGC 221 e 231) e ressaltado no
Diretório Nacional de Catequese (cf. DNC 245).
A oficialidade proposta no Diretório Nacional de Catequese permite entrever que
a institucionalização desse ministério aqui defendida não só tem amplo respaldo nos
documentos da Igreja, mas também é expressão direta da urgência na tarefa de
evangelizar e educar a fé num contexto de crescente paganismo e de indiferença
diante do mistério da fé.
Receber um ministério é uma grande responsabilidade, é algo que não pode ser
realizado de qualquer maneira. Reconhecer o ministério dos catequistas ajudará muito
na superação da grande rotatividade de catequistas e lhes conferirá o merecido
reconhecimento e respeito da comunidade eclesial.
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A própria legislação da Igreja prescreve, no Código de Direito Canônico, que a
autoridade da Igreja pode atribuir oficialmente um ministério (ofício) ou serviço
eclesial aos leigos, prescindindo do fato de que aquele serviço seja ou não um
ministério não ordenado formalmente instituído como tal.[3]
Os motivos para o ministério dos catequistas ainda não ser oficializado na Igreja
surgem de uma má compreensão evangélica do poder, da autoridade e do seu
exercício na vida da Igreja. A questão do poder e do seu exercício é latente e dificulta
o reconhecimento oficial da função dos catequistas como um ministério dentro da
comunidade. O poder não é uma força neutra nem abstrata. É uma força que se
movimenta e age para a consecução de finalidades definidas por parte de um agente
ou de uma instituição.
Na vida comunitária, a todo instante, é preciso tomar decisões. O Magistério da
Igreja ensina que não se pode pensar em uma Igreja que não incentive, no processo
decisório e no exercício do poder, a participação e a corresponsabilidade. Ao
contrário, ensina que o poder seja exercido de maneira participativa, onde todos na
comunidade, leigos e clero, juntos, por meio do diálogo, decidam sobre a melhor
maneira de exercitar o caráter ministerial da Igreja.
Decidir é um exercício de poder, é atravessar o perigo, é pôr em movimento
forças, energias, recursos e pessoas, superando riscos e incertezas, por meio da
prudência, que requer planejamento, reflexão e cálculo.
O exercício da autoridade está intimamente ligado à prática do poder na Igreja.
Em relação aos leigos que assumem um ministério, entendemos que a sua autoridade
emana principalmente de sua idoneidade, do testemunho de sua fé, da sua abnegação
e dedicação e do seu compromisso com a comunidade, que evidenciam sua
qualificação e eleição.
Nesse sentido, a autoridade também tem o seu caráter relacional. A autoridade
remete-se às pessoas e aos grupos e destina-se à sua promoção, tendo em vista
facilitar a evangelização.
O poder e a autoridade, entendidos em uma linguagem cristã, só têm sentido se
estão a serviço de Deus, da humanidade e do mundo. Por isso, também a questão do
serviço precisa ser entendida. Em sua origem, denotava as tarefas realizadas pelo
escravo ou servo em favor do seu patrão, beneficiário exclusivo das vantagens
proporcionadas pelos esforços do servo que está sob o total domínio e dependência
do seu senhor. No sentido cristão, o serviço tem sua fonte em Deus, que consagra os
seus filhos e filhas no batismo, e esses, por sua vez, oferecem-se livre e totalmente a
ele na Igreja, doando-lhes todas as suas atividades e toda sua pessoa.[4]
O exemplo do servo por excelência é Jesus Cristo, que se entregou por amor. O
cristão cumpre integral, total e fielmente a sua consagração batismal de modo que a
sua vida se configure à vida de Cristo (cf. Gl 2,20).
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3.1. A vocação dos catequistas
Ninguém nasce catequista. Não existem catequistas perfeitos. Ao assumir essa
vocação específica, recebida no batismo dentro da Igreja, os catequistas vão se
construindo e se deixando construir, vão se capacitando e, ao mesmo tempo,
ajudando a outros catequistas nessa formação.
Os catequistas participam, como vocacionados, da mesma exigência, inerente a
todas as pessoas, de se constituir, de se formar, de responder à questão do sentido de
suas experiências no mundo, de unir a sua identidade pessoal e cristã no interior do
multiforme cenário da realidade em que estão inseridos e no contexto da sua
comunidade eclesial.
A vocação dos catequistas é gerada no coração do Pai, para que chegue ao
coração das pessoas a mensagem do Verbo Jesus Cristo. Nasce por iniciativa divina
(cf. Jo 15,16). É chamado de Deus e resposta positiva do escolhido. A sua identidade
vai se delineando no cotidiano onde se desenrolam os acontecimentos humanos e
divinos, onde se estabelecem relações entre o mistério do Evangelho e as inúmeras
facetas da vida humana. Os catequistas procuram, como sujeitos participantes da
história, movidos pelo Espírito e com o olhar da fé, forjar aí novos eventos e
oportunidades de redenção e libertação.
Isso implica o empenho de si em um compromisso que abarca suas pessoas e suas
vidas como um todo, num desvelamento constante de desafios propostos pelos apelos
de fé, pelas exigências do Evangelho e pelos questionamentos e barreiras inerentes
aos contextos humanos, tendo sempre como modelo a pessoa de Jesus Cristo, Mestre
e Senhor.[5]
Os vocacionados a serem catequistas fazem a experiência do encontro pessoal
com aquele que os escolheu. Essa experiência se faz por meio da prática, da reflexão,
da formação contínua e da conscientização de sua importância como educadores da
fé. Os catequistas são na Igreja os mistagogos e os pedagogos de Deus, que
apresentam o caminho e os meios necessários para que os seus catequizandos tenham
o seu encontro pessoal com Jesus e tornem-se cristãos alegres e capazes de dar
testemunho do Evangelho. Jesus Cristo é a força central que motiva, é o único capaz
de impulsionar e de dar sentido para esse fascinante caminho de discipulado, por
vezes cheio de desafios

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