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Colégio Macedo Soares 
Disciplina: Filosofia Bimestre: 1º Profª Michelle Gandos 
 
 
CULTURA CONCEITOS E SUAS DEFINIÇÕES 
 
Cultura e ideologia talvez sejam os conceitos mais amplos das ciências sociais, com diferentes definições. Vamos 
examinar os significados e usos desses dois conceitos de acordo com diferentes autores. 
 
Os significados de cultura 
 
O emprego da palavra cultura, no cotidiano, é objeto de estudo de diversas ciências sociais. Félix Guattari, pensador 
francês (1930-1992) interessado nesse tema, reuniu os diferentes significados de "cultura" em três grupos, por ele 
designados cultura-valor, cultura-alma coletiva e cultura-mercadoria. 
Cultura-valor é o sentido mais antigo e aparece claramente na ideia de "cultivar o espírito". É o que permite 
estabelecer a diferença entre quem tem cultura e quem não tem ou determinar se o indivíduo pertence a um meio culto 
ou inculto, definindo um julgamento de valor sobre essa situação. Nesse grupo inclui-se o uso do termo para identificar, 
por exemplo, quem tem ou não cultura clássica, artística ou científica. 
O segundo significado, designado cultura-alma coletiva, é sinônimo de "civilização". Ele expressa a ideia de que 
todas as pessoas, grupos e povos têm cultura e identidade cultural. Nessa acepção, pode-se falar de cultura negra, cultura 
chinesa, cultura marginal, etc. Tal expressão presta-se assim aos mais diversos usos por aqueles que querem dar um 
sentido para a ação dos grupos aos quais pertencem, com a intenção de caracterizá-Ios ou identificá-Ios. 
O terceiro sentido, o de cultura-mercadoria, corresponde à "cultura de massa". Ele não comporta julgamento de valor, 
como o primeiro significado, nem delimitação de um território específico, como o segundo. Nessa concepção, cultura 
compreende bens ou equipamentos, como os centros culturais, os cinemas, as bibliotecas e as pessoas que trabalham 
nesses estabelecimentos, e conteúdos teóricos e ideológicos de produtos, como filmes, discos e Iivros que estão à 
disposição de quem quer e pode comprá-Ios, ou seja, que estão disponíveis no mercado. 
As três concepções de cultura estão presentes em nosso dia-a-dia, marcando sempre uma diferença bastante clara 
entre as pessoas - seja no sentido mais elitista (entre as que têm e as que não têm uma cultura clássica e erudita, por 
exemplo), seja no sentido de identificação com algum grupo específico, seja ainda em relação à possibilidade de 
consumir bens culturais. Todas essas concepções trazem uma carga valorativa, dividindo indivíduos, grupos e povos 
entre os que têm e os que não têm cultura ou, mesmo, entre os que têm uma cultura superior e os que têm uma cultura 
inferior. 
 
Cultura segundo a Antropologia 
 
O conceito de cultura com frequência é vinculado à Antropologia, como se fosse específico dessa área do 
conhecimento. Por isso, vamos verificar como os antropólogos, partindo de uma visão universalista para uma visão 
particularista, definiram esse conceito. 
Uma das primeiras definições de cultura apareceu na obra do antropólogo inglês Edward B. Tylor (1832-1917). De 
acordo com esse autor, cultura é o conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral e direito, além de costumes 
e hábitos adquiridos pelos indivíduos em uma sociedade. Trata-se de uma definição universalista, ou seja, muito ampla, 
com a qual se procura expressar a totalidade da vida social humana, a cultura universal. 
Já o antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942), que desenvolveu a maior parte de seus trabalhos nos Estados 
Unidos, tinha uma visão particularista. Ele pesquisou as diferentes formas culturais e demonstrou que as diferenças entre 
os grupos e sociedades humanas eram culturais, e não biológicas. Por isso, recusou qualquer generalização que não 
pudesse ser demonstrada por meio da pesquisa concreta. 
Bronislaw Malinowski (1884-1942), antropólogo inglês, afirmava que, para fazer uma análise objetiva, era 
necessário examinar as culturas em seu estado atual, sem preocupações com suas origens. Concebia as culturas como 
sistemas funcionais e equilibrados, formados por elementos interdependentes que lhes davam características próprias, 
principalmente no tocante às necessidades básicas, como alimento, proteção e reprodução. Por ser interdependentes, 
esses elementos não poderiam ser examinados isoladamente. 
Duas antropólogas estadunidenses, Ruth Benedict (1887-1948) e Margareth Mead (1901-1978), procuraram 
investigar as relações entre cultura e personalidade. 
Benedict desenvolveu o conceito de padrão cultural, destacando a prevalência de uma homogeneidade e coerência 
em cada cultura. Em suas pesquisas, identificou dois tipos culturais extremos; o apolínico, representado por indivíduos 
conformistas, tranqüilos, solidários, respeitadores e comedidos na expressão de seus sentimentos, e o dionisíaco, que 
reunia os ambiciosos, agressivos, individualistas, com uma tendência ao exagero afetivo. De acordo com ela, entre os 
apolínicos e os dionisíacos haveria tipos intermediários que mesclariam algumas características dos dois tipos extremos. 
Mead, por sua vez, investigou o modo como os indivíduos recebiam os elementos de sua cultura e a maneira como 
isso formava sua personalidade. Suas pesquisas tinham como objeto as condições de socialização da personalidade 
feminina e da masculina. Ao analisar os Arapesh, os Mundugumor e os Chambuli, três povos da Nova Guiné, na 
Oceania, Mead percebeu diferenças significativas. Entre os Arapesh não havia diferenciação entre homens e mulheres, 
pois ambos eram educados para ser dóceis e sensíveis e para servir aos outros. Também entre os Mundugumor não havia 
diferenciação: indivíduos de ambos os sexos eram treinados para a agressividade, caracterizando-se por relações de 
rivalidade, e não de afeição. Entre os Chambuli, finalmente, havia diferença entre homens e mulheres, mas de modo 
distinto do padrão que conhecemos: a mulher era educada para ser extrovertida, empreendedora, dinâmica e solidária 
com os membros de seu sexo. Já os homens eram educados para ser sensíveis, preocupados com a aparência e invejosos, 
o que os tornava inseguros. Isso resultava em uma sociedade em que as mulheres detinham o poder econômico e 
garantiam o necessário para a sustentação do grupo, ao passo que os homens se dedicavam às atividades cerimoniais e 
estéticas. 
Baseada em seus achados, Mead afirmou que a diferença das personalidades não está vinculada a características 
biológicas, como o sexo, mas à maneira como em cada sociedade a cultura define a educação das crianças. 
Para Claude Lévi-Strauss, antropólogo que nasceu na Bélgica, mas desenvolveu a maior parte de seu trabalho na 
França, a cultura deve ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, entre os quais se incluem a linguagem, 
as regras matrimoniais, a arte, a ciência, a religião e as normas econômicas. Esses sistemas se relacionam e influenciam 
a realidade social e física das diferentes sociedades. 
A grande preocupação de Lévi-Strauss foi analisar o que era comum e constante em todas as sociedades, ou seja, as 
regras universais e os elementos indispensáveis para a vida social. Um desses elementos seria a proibição do incesto 
(relações sexuais entre irmãos ou entre pais e filhos), presente em todas as sociedades. Partindo dessa preocupação, ele 
desenvolveu amplos estudos sobre os mitos, demonstrando que os elementos essenciais da maioria deles se encontram 
em todas as sociedades ditas primitivas. 
 
Convivência com a diferença: o etnocentrismo 
 
Ter uma visão de mundo, avaliar determinado assunto de certa ótica, nascer e conviver em uma classe social, 
pertencer a uma etnia, ser homem ou mulher são algumas das condições que nos levam a pensar há diversidade humana, 
cultural e ideológica, e, conseqüentemente, na alteridade, isto é, no outro ser humano, que é igual a cada um de nós e, 
ao mesmotempo, diferente. 
Observa-se, no entanto, grande dificuldade na aceitação das diversidades em uma sociedade ou entre sociedades 
diferentes, pois os seres humanos tendem a tomar seu grupo ou sociedade como medida para avaliar os demais. Em 
outras palavras, cada grupo ou sociedade considera-se superior e olha com desprezo e desdém os outros, tidos como 
estranhos ou estrangeiros. Para designar essa tendência, o sociólogo estadunidense William G. Summer (1840-1910) 
criou em 1906 o termo etnocentrismo. 
Manifestações de etnocentrismo podem ser facilmente observadas em nosso cotidiano. Quando lemos notícias sobre 
crises enfrentadas por povos de outros países, por exemplo, com freqüência estabelecemos comparações entre a cultura 
deles e a nossa, considerando a nossa superior, principalmente se as diferenças forem muito grandes. Na história não 
faltam exemplos desse tipo de comparação: na Antiguidade os romanos chamavam de "bárbaros" aqueles que não eram 
de sua cultura; no Renascimento, após os contatos com culturas diversas propiciados pela expansão marítima, os 
europeus passaram a chamar os povos americanos de "selvagens", e assim por diante. 
O etnocentrismo foi um dos responsáveis pela geração de intolerância e preconceito - cultural, religioso, étnico e 
político -, assumindo diferentes expressões no decorrer da história. Em nossos dias ele se manifesta, por exemplo, na 
ideologia racista da supremacia do branco sobre o negro ou de uma etnia sobre as outras. Manifesta-se, também, num 
mundo que é globalizado, na idéia de que a cultura ocidental é superior, e os povos de culturas diferentes devem assumi-
Ia, modificando suas crenças normais e valores. Essa forma de etnocentrismo pode levar a conseqüências sérias em 
nossa convivência com os outros e nas relações entre os povos. 
 
Trocas culturais e culturas híbridas 
 
No mundo globalizado em que vivemos, tendo o nosso cotidiano invadido por situações e informações provenientes 
dos mais diversos lugares, é possível afirmar que haja uma cultura "pura"? Até que ponto chegou o processo de 
mundialização da cultura? 
Em seu livro Culturas híbridas, o pensador argentino Néstor García Canclini analisa essas questões. Lançando um 
olhar sobre a história, ele declara que, até o século XIX, as relações culturais ocorriam entre os grupos próximos, 
familiares e vizinhos, com poucos contatos externos. Os padrões culturais resultavam de tradições transmitidas 
oralmente e por meio de livros, quando alguém os tinha em casa, porque bibliotecas públicas ou mesmo escolares eram 
raras. Os valores nacionais eram quase uma abstração, pois praticamente não havia a consciência de uma escala tão 
ampla. 
Já no século XIX e início do século XX, cresceu a possibilidade de trocas culturais, pois houve um grande 
desenvolvimento dos meios de transporte, do sistema de correios, da telefonia, do rádio e do cinema. As pessoas 
passaram a ter contato com situações e culturas diferentes. As trocas culturais efetivadas a partir de então ampliaram as 
referências para avaliar o passado, o presente e o futuro. O mundo não era mais apenas o local em que um grupo vivia. 
Tornou-se muito mais amplo, assim como as possibilidades culturais. A cultura nacional passou a ter determinada 
constituição e os valores e bens culturais de vários povos ou países cruzaram-se, com a conseqüente ampliação das 
influências recíprocas. 
No decorrer do século XX, com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação, o cinema; a televisão e a internet 
tornaram-se instrumentos de trocas culturais intensas, e os contatos individuais e sociais passaram a ter não um, mas 
múltiplos pontos de origem. Desde então as trocas culturais são feitas em tal quantidade que não se sabe mais a origem 
delas. Elementos de culturas antes pouco conhecidas aparecem com força em muitos lugares, ao mesmo tempo. As 
expressões culturais dos países centrais, como os Estados Unidos e algumas nações da Europa, proliferam-se em todo o 
mundo. As culturas de países distantes ou próximos se mesclam a essas expressões, construindo culturas híbridas que 
não podem ser mais caracterizadas como de um país, mas como parte de uma imensa cultura mundial. 
Isso não significa que as expressões representativas de grupos, regiões ou até de nações tenham desaparecido. Elas 
continuam presentes e ativas, mas coexistem com essas culturas híbridas que atingem o cotidiano das pessoas por meios 
diversos, como a música, a pintura, o cinema e a literatura, normalmente fomentadas pela concentração crescente dos 
meios de comunicação. 
Alguém poderia perguntar: Por que essas formas particulares, grupais, regionais ou nacionais deveriam existir no 
universo cultural mundial, já que vivemos num mundo globalizado? Em seu livro Artes sob pressão: promovendo a 
diversidade cultural na era da globalização, o sociólogo holandês Joost Smiers responde que assim haveria a 
possibilidade de uma diversidade cultural ainda maior e mais significativa: haveria uma democracia cultural de fato à 
disposição de todos. Em suas palavras: “A questão central é a dominação cultural, e isso precisa ser discutido com 
propostas alternativas para preservar e promover a diversidade no mundo”. 
 
Cultura erudita e cultura popular 
 
A separação entre cultura popular e erudita, com a atribuição de maior valor à segunda, está relacionada à divisão da 
sociedade em classes, ou seja, é resultado e manifestação das diferenças sociais. Há, de acordo com essa classificação, 
uma cultura identificada com os segmentos populares e outra, superior, identificada com as elites. 
A cultura erudita abrangeria expressões artísticas como a música clássica de padrão europeu, as artes plásticas - 
escultura e pintura -, o teatro e a literatura de cunho universal. Esses produtos culturais, como qualquer mercadoria, 
podem ser comprados e, em alguns casos, até deixados de herança como bens físicos: 
A chamada cultura popular encontra expressão nos mitos e contos, danças, música - de sertaneja a cabocla -, 
artesanato rústico de cerâmica ou de madeira e pintura; corresponde, enfim, à manifestação genuína de um povo. Mas 
não se restringe ao que é tradicionalmente produzido no meio rural. Inclui também expressões urbanas recentes, como 
os grafites, o hip-hop e os sincretismos musicais oriundos do interior ou das grandes cidades, o que demonstra haver 
constante criação e recriação no universo cultural de base popular. Nesse universo quem cria é o povo, nas condições 
possíveis. A palavra folclore (do inglês folklore, junção de folk, "povo", e lore, "saber") significa "discurso do povo", 
"sabedoria do povo" ou "conhecimento do povo". 
Para examinar criticamente essa diferenciação, voltemos ao termo cultura, agora segundo a análise do pensador 
brasileiro Alfredo Bosi. De acordo com Bosi, não há no grego uma palavra específica para cultura; há, sim, uma palavra 
que se aproxima desse conceito, que é Paidéia, "aquilo que se ensina à criança", "aquilo que deve ser trabalhado na 
criança até que ela se transforme em adulta". A palavra cultura vem do latim e designa "o ato de cultivar a terra", "de 
cuidar do que se planta", ou seja, é o trabalho de preparar o solo, semear e fazer tudo para que uma planta cresça e dê 
frutos. 
Cultura está assim vinculada ao ato de trabalhar, a determinada ação, seja a de ensinar uma criança, seja a de cuidar 
de um plantio. Se pensarmos nesse sentido original, todos têm acesso à cultura, pois todos podem trabalhar. Para escrever 
um romance, é preciso trabalhar uma narrativa; para fazer uma toalha de renda, uma música, uma mesa de madeira ou 
uma peça de mármore, é necessário trabalhar. Para Bosi, isso é cultura. E é por essa razão que os produtos culturais 
gerados pelo trabalho se chamam obras, que vem de opus, derivado do verbo operar, ou seja, é o processo de fazer, de 
criar algo. 
Se uma pessoa compra um livro, um disco, um quadro ou uma escultura, vai ao teatro ou a exposições,adquire, mas 
não produz cultura, ou seja, ela pode possuir ou ter acesso aos bens culturais gerados pelo trabalho, sem produzi-las. 
Esses bens servem para proporcionar deleite e prazer, e são usados por algumas pessoas para afirmar e mostrar que 
"possuem cultura", quando são apenas consumidoras de uma mercadoria como qualquer outra. Não ter acesso a esses 
bens não significa, portanto, não ter cultura. 
Bosi chama a atenção para o fato de haver em muitos países órgãos públicos que procuram desenvolver ações para 
"conservar a cultura popular original", com certo receio de que ela não resista ao avanço da indústria cultural. Ora, os 
produtos culturais são criados em determinadas condições, remodelando-se continuamente, como ocorre com as festas, 
as músicas, as danças, o artesanato e outras tantas manifestações. Nesse sentido, é necessário analisar a cultura como 
processo, como ato de trabalho no tempo que não se extingue. A criação cultural não morre com seus autores, e basta 
que o povo exista para que ela sobreviva. Entenda-se aqui povo não como uma massa amorfa e homogênea de oprimidos 
submissos, mas como um conjunto de indivíduos, com idéias próprias e capacidade criativa e, produtiva, que resiste 
muitas vezes silenciosamente, sobretudo por meio da produção cultural, como seus cantos e festas. 
Para Bosi, a cultura é alguma coisa que se faz, e não apenas um produto que se adquire. É por isso que não tem 
sentido comparar cultura popular com cultura erudita. Quando afirmamos que ter cultura significa ser superior e não ter 
cultura significa ser inferior, utilizamos a condição de posse de cultura como elemento para diferenciação social e 
imposição de uma superioridade que não existe. Isso é ideologia. 
 
 
 RAÇA E ETNICIDADE 
 
As distinções entre os conceitos de raça e etnicidade envolvem a errônea noção de distinção biológica e a 
diferenciação cultural de grupos diversos. 
 
Diferenças biológicas não nos separam em raças, mas diferenças culturais nos distinguem em etnias 
 
Conceito de raça 
 
O conceito de raça é ainda muito usado pela grande maioria das pessoas, principalmente quando se referem à cor de 
pele. No entanto, a ideia de que existem raças biologicamente distintas entre os humanos é um engano. As teorias 
científicas dos séculos XVIII e início do século XIX, como as de Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), dedicavam-
se à criação de métodos para diferenciar raças entre grupos humanos por meio, principalmente, de traços fenótipos 
(cor de pele, cabelos, formato do crânio). Grande parte desses trabalhos teóricos utilizava como justificativa o grau 
“superior” de desenvolvimento dos países europeus, que enriqueciam graças à exploração das civilizações 
“inferiores”. 
 
Entretanto, as “ciências raciais” perderam força e passaram a ser completamente desacreditadas no meio científico 
após a Segunda Guerra Mundial. Trabalhos posteriores, como o projeto de mapeamento do genoma humano, 
provaram que as distinções genéticas entre diferentes grupos humanos, que apresentam diferentes características 
físicas, não são suficientes para justificar a separação em raças. As mais diversas pesquisas mostraram que a variação 
genética que existe entre grupos geograficamente separados é muito próxima à variação genética entre sujeitos de um 
mesmo grupo. 
 
Porém, ainda que o conceito biológico de raça esteja enganado, o impacto social ainda existe. Os fenômenos sociais 
que se fundamentam na noção de diferenciação racial por causa da cor da pele, por exemplo, ainda estão fortemente 
enraizados em nossas comunidades. Nesse sentido, o conceito de raça é ainda amplamente utilizado pela Sociologia 
para o entendimento das diferentes relações que se estabelecem em torno da noção valorativa que existe em respeito 
da cor. As distinções raciais vão além da diferenciação humana em função de características fisiológicas, elas estão 
inseridas na reprodução das desigualdades que existem em nosso meio social. 
 
 
Conceito de etnicidade 
 
Se o conceito de raça está ligado à distinção biológica de grupos humanos com base em diferenças físicas, o conceito 
de etnia está associado às práticas e construções culturais que diferenciam um grupo dos demais. Os grupos étnicos 
distinguem-se por características de cunho cultural, como a língua, religião, vestuário, entre outros aspectos. 
 
A etnicidade constitui-se como fenômeno essencialmente social, pois é um processo contínuo de transmissão cultural 
entre diferentes gerações a partir do contato e da participação no meio social em que a etnia se configura. Portanto, a 
ideia de traços étnicos inatos, como a noção de valor que define etnias indígenas como “preguiçosas”, não passa de um 
engano ancorado à ignorância e ao senso comum. 
 
Há um grande número de pessoas que veem em sua etnia uma parte enorme de sua identidade individual. É mais 
comum vermos exemplos desse fenômeno em comunidades de imigrantes que se estabelecem em outro país. A 
manutenção de tradições ou comemorações que exaltem características culturais do grupo serve como forma de 
manutenção de uma identidade étnica que, ao mesmo tempo que diferencia os indivíduos dos demais grupos, também 
os une mediante a familiaridade entre os traços culturais que compartilham. 
 
Multiculturalismo 
 
O multiculturalismo é um movimento que visa compreender diferentes identidades e pertencimentos no contexto do 
capitalismo tardio. O alargamento das fronteiras produzido pela globalização e o intenso contato entre diferentes 
culturas provocaram um reflexão sobre os limites entre as culturas e a forma como elas se relacionam entre si. Sob 
essas circunstâncias o debate sobre desagregação de culturas tradicionais, de dominância de uma cultura global, 
produzida pelo mercado capitalista, como uma “americanização do mundo”, da fixação e movimentação de 
populações pelo mundo e o constante fluxo de mudanças entrou na pauta do pensamento social. 
 
Além da globalização um outro fator influenciou de forma significativa as questões multiculturais, o pós-colonialismo. 
Esse outro movimento intelectual também forçou a reflexão sobre o lugar das diferentes culturas e a relação entre elas, 
buscando um olhar próprio, independente e crítico ao pensamento ocidental dominante. 
 
Um dos principais autores a refletir sobre este assunto foi Stuart Hall. Inicialmente a questão que mobilizou esse 
campo de estudos foi a questão racial, Hall se dedicou a compreender o que define a identidade negra, concluindo que 
ela é atravessada por outras identidades, como gênero. Um de seus trabalhos mais conhecidos sobre este tema é o livro 
“A identidade cultural na pós-modernidade” (HALL, 2011). Neste trabalho o autor discute diferentes concepções de 
identidade, o sujeito moderno, o impacto da globalização, dentre outros assuntos. 
 
 
Desta forma, a discussão foi ganhando força justamente pelas experiências práticas que o contato entre diferenças 
culturais trazia e ainda traz. Como o serviço público dos países deve tratar os imigrantes, ou como se constitui a 
identidade de um descendente de asiáticos nascido e criado nos Estados Unidos? O problema se torna mais complexo 
quando se pensa o modelo de democracia ideal para agregar de forma igualitária todas essas identidades. 
 
O multiculturalismo buscava, portanto, responder a questões como: “O que significa para os cidadãos com diferentes 
identidades culturais, muitas vezes baseadas em etnia, raça, gênero ou religião, reconhecer-nos como iguais na 
maneira como somos tratados na política? Na maneira como nossos filhos são educados em escolas públicas? No 
currículo e na política social das faculdades e universidades liberais?” (TAYLOR, et. al. 1994, pg. 3). 
 
A questão do multiculturalismo está diretamente relacionada com a os limites das democracias liberais, visto que elas 
defendem a igualdade de todos perante a lei, bem como o acesso aos direitos sociais e a defesa dosdireitos humanos. 
Mas como fazer valer tudo isso diante das diferenças? Por outro lado as teorias multiculturalistas se relacionam com 
as teorias sobre reconhecimento, já que refletem sobre questões identitárias, nacionalidade e cultura. 
 
 
Por fim, pode-se concluir que o multiculturalismo é muito importante porque obriga a reflexão sobre os estados 
democráticos, suas instituições, como a escola, as identidades construídas no mundo globalizado e os impactos das 
novas tecnologias, como a internet. Porém, é preciso ter em mente que apesar dessa flexibilização identitária, das 
fronteiras, da relação espaço e tempo, reconhecer o outro e seus direitos, continua sendo um problema atual.

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