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ENU005 Metodologia e Modelos de Planejamento Energético – Turma T005 - Prof. Carlos Eduardo Velasquez Cabrera Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Escola de Engenharia - Dep. de Engenharia Nuclear Belo Horizonte - 14/12/2021 Usinas Hidrelétricas João Vitor Silva Gama – 2019027709 Para compreendermos o funcionamento e a importância de uma usina hidrelétrica, primeiro necessitamos conhecer sua composição e subdivisões (figuras 1 e 2): Figura 1: Estágios e partes que compõem um UHE. Figura 2: Macroáreas que compõem um UHE. Basicamente, uma usina hidrelétrica compõe- se das seguintes partes: barragem (reservatório cuja função é além de estocar água, criar o desnível de queda d’água, regularizar a captação de água em volume adequado para a produção de energia, e a regulação da vazão dos rios em períodos de chuva e de estiagem), tomada d’água, vertedouro (permite a saída de água caso o nível do reservatório ultrapasse os limites recomendáveis), casa de força (parte do sistema que se encontram as turbinas, conectadas a um gerador) e subestação (transformador). Cada parte se constitui em um conjunto de obras e instalações projetadas harmoniosamente para operar eficientemente em conjunto. As principais variáveis utilizadas na classificação de uma usina hidrelétrica são: altura da queda d’água, vazão, capacidade ou potência instalada, tipo de turbina empregada, localização, tipo de barragem e reservatório. Todos são fatores interdependentes. Assim, a altura da queda d’água e a vazão dependem do local de construção e determinarão qual será a capacidade instalada - que, por sua vez, determina o tipo de turbina, barragem e reservatório. Diferentes turbinas podem ser utilizadas na casa de força, com a função de converter energia mecânica da água em energia elétrica: Turbinas Pelton (figuras 3 e 4) são adequadas para operar entre quedas de 350 m até 1100 m, sendo por isso, muito mais comuns em países montanhosos. Este modelo de turbina opera com velocidades de rotação maiores que os outros, e tem o rotor com características bastante distintas. Os jatos de água ao se chocarem com as "conchas" do rotor geram o impulso. Dependendo da potência que se queira gerar, podem ser acionados os seis bocais simultaneamente, ou apenas cinco, quatro etc. O número normal de bocais varia de dois a seis, igualmente espaçados angularmente para garantir um balanceamento dinâmico do rotor. Um dos maiores problemas destas turbinas, devido à alta velocidade com que a água se choca com o rotor, é a erosão provocada pelo efeito abrasivo da areia misturada com a água, comum em rios de montanhas. Figura 3: Funcionamento e fotografia de uma turbina do tipo Pelton. ENU005 Metodologia e Modelos de Planejamento Energético – Turma T005 - Prof. Carlos Eduardo Velasquez Cabrera Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Escola de Engenharia - Dep. de Engenharia Nuclear Belo Horizonte - 14/12/2021 Figura 4: Esquemático pormenorizado de uma turbina do tipo Pelton. Já turbinas tipo Francis possuem faixa de aplicação bem mais abrangente, sendo adequadas para operar entre quedas de 40 m até 400 m. Possuem uma caixa espiral em aço ligada em seu lado montante a um conduto forçado. Na periferia interna da caixa espiral, um anel rígido suporta as pás do pré-distribuidor. A variação da potência fornecida pela turbina é obtida com a abertura ou fechamento das palhetas diretrizes situadas na periferia interna do pré-distribuidor em um conjunto chamado distribuidor. A Usina hidrelétrica de Itaipu assim como a Usina hidrelétrica de Tucuruí, Furnas e outras no Brasil funcionam com turbinas tipo Francis com cerca de 100 m de queda d' água. Figura 5: Funcionamento de uma turbina do tipo Francis. Figura 6: Fluxo de água numa turbina do tipo Francis. Turbinas Kaplan por sua vez são adequadas para operar entre quedas até 60 m. A única diferença entre as turbinas Kaplan e a Francis é o rotor. Este assemelha-se a um propulsor de navio (similar a uma hélice). Novamente, deve-se salientar que a turbina mais apropriada para cada usina hidrelétrica depende da altura de queda e da vazão do rio. ENU005 Metodologia e Modelos de Planejamento Energético – Turma T005 - Prof. Carlos Eduardo Velasquez Cabrera Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Escola de Engenharia - Dep. de Engenharia Nuclear Belo Horizonte - 14/12/2021 Figura 7: Esquemático 3D de uma turbina do tipo Kaplan. Tipos de UHE: a) Com reservatório (figura 8): As usinas hidrelétricas com reservatórios de acumulação armazenam água e regulam seu funcionamento para atender as demandas de energia. A capacidade de armazenamento é obtida por meio de uma represa situada a montante da usina. Apesar do impacto ambiental, o modelo com reservatório ajuda a regularizar os sistemas nos períodos mais secos. Figura 8: Esquemático UHE com reservatório. b) A fio d’água (figura 9): O fluxo de água do rio, ou seja, sua vazão, determina a quantidade de energia gerada. O volume de chuvas tem impacto direto na geração de energia nas usinas hidrelétricas, aumentando sua produção. Toda a água que chega pelo rio é utilizada para a geração, por isso não há acúmulo nos períodos de cheia, nem desperdício. Este tipo de hidrelétrica tem como vantagem a redução de áreas alagadas e, por consequência, maior preservação das áreas de entorno do reservatório e a proteção da fauna e da flora. Figura 9: Esquemático UHE a fio d’água. Apesar de apresentar vantagens socioambientais, a usina a fio d’água diminui a segurança energética do país. Isso porque, em períodos de seca prolongada, essas estruturas podem ficar sem água para gerar eletricidade, uma vez que seus reservatórios com tamanho reduzido não permitem funcionamento por longos períodos. Segundo especialistas, uma alternativa para compensar a limitação do potencial dessas usinas é investir em fontes complementares. Desse modo, nos períodos em que hidrelétricas a fio d’água operam com baixa capacidade, pode-se recorrer à geração de energia através de fontes eólicas ou solares, garantindo o abastecimento e equilibrando os impactos causados por cada uma. ENU005 Metodologia e Modelos de Planejamento Energético – Turma T005 - Prof. Carlos Eduardo Velasquez Cabrera Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Escola de Engenharia - Dep. de Engenharia Nuclear Belo Horizonte - 14/12/2021 Há ainda as usinas de armazenamento que têm dois tanques em altitudes diferentes, um a montante e outro a jusante, este servindo como reserva de energia. Durante as horas ou horários de menor demanda de energia, a água é conduzida da bacia a jusante para a bacia a montante por meio de uma estação de bombeamento, permitindo, desta forma, lidar mais seguramente com os momentos de maior demanda de energia. Em alguns sistemas, é possível usar as características de reversibilidade das turbinas Francis para convertê-las em bombas e devolver a água ao tanque a montante. Potência da UHE A potência em (W) de uma turbina pode ser calculada pela seguinte expressão: 𝑃 = 𝜌𝑄𝐻𝑔𝜂 Sendo 𝜌 a densidade da água (kg/m³), Q a vazão da água que atravessa a turbina (m³/s), H a queda d’água em (m), e 𝜂 a eficiência total da turbina. Vemos assim que a potência de uma UHE depende diretamente do produto entre a queda bruta de água, e a vazão dela. Apesar de ser considerada uma fonte de energia limpa, a geração de energia hidrelétrica contribui para a emissão de dióxido de carbono e metano, dois gases que intensificam o aquecimento global. A emissão de gás carbônico (𝐶𝑂2) se dá devido à decomposição das árvores que permanecem acima do nível da água nos reservatórios, e a liberação de metano (𝐶𝐻4) ocorre pela decomposição da matériaorgânica presente no fundo do reservatório. A medida em que a coluna d’água aumenta, a concentração de metano também cresce. Quando a água atinge as turbinas da usina, a diferença na pressão causa a liberação do metano para a atmosfera. A implantação de tais empreendimentos também provocam os seguintes prejuízos para fauna e flora: destruição da vegetação natural, assoreamento do leito dos rios, extinção de espécies de peixes por interferência nos processos migratórios e reprodutivos (piracema), ocorrência de atividades sísmicas devido ao peso da água sobre o substrato rochoso subjacente, remoção de mata ciliar, e aumento da pesca predatória, por pescadores profissionais ou em atividades de lazer. Segundo o artigo que Dr. Philip M. Fearnside, do Instituto de Pesquisas da Amazônia, publicou sobre as emissões de gases na Usina de Tucuruí, no ano de 1990, as emissões de gases do efeito estufa (CO2 e CH4) da usina variaram entre 7 milhões e 10 milhões de toneladas naquele ano. O autor faz uma comparação com a cidade de São Paulo, que emitiu 53 milhões de toneladas de CO2 provenientes de combustíveis fósseis no mesmo ano. Ou seja, somente Tucuruí seria responsável pela emissão do equivalente de 13% a 18% da emissão de gases do efeito estufa da cidade de São Paulo, valor significativo para uma fonte de energia considerada por muito tempo como “livre de emissões”. Acreditava-se que, com o passar do tempo, a matéria orgânica sofreria total decomposição e, como consequência, deixaria de emitir esses gases. No entanto, os estudos mostraram que ocorre a alimentação do processo de produção de gases, através da chegada de novos materiais orgânicos trazidos pelos rios e pelas chuvas. Como vantagens a esse modelo de geração de energia, encontramos: produção de energia independente do consumo de combustíveis fósseis, produção energética de alto rendimento e grande vida útil, impactos localizados em uma área específica, e baixo custo final de energia elétrica, como mostrado na figura 10. ENU005 Metodologia e Modelos de Planejamento Energético – Turma T005 - Prof. Carlos Eduardo Velasquez Cabrera Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Escola de Engenharia - Dep. de Engenharia Nuclear Belo Horizonte - 14/12/2021 Figura 10: Custo médio em centavos de dólar por KWh de algumas fontes de energia. Como desvantagens, encontramos como principais problemas do sistema de geração, os relacionados ao represamento das águas: comprometimento da qualidade das águas, em razão do caráter lêntico do reservatório, dificultando a decomposição dos rejeitos e efluentes. Além disso, o aumento do volume de água no reservatório formado, com consequente sobrepressão sobre o solo e subsolo pelo peso da massa de água represada, em áreas com condições geológicas desfavoráveis (por exemplo, terrenos cársticos), provocando sismos induzidos; Apesar da energia hidrelétrica ser considerada uma fonte de energia renovável, o relatório da Aneel aponta que sua participação na matriz elétrica mundial é pequena e está se tornando ainda menor. Tal desinteresse crescente seria resultado das externalidades negativas decorrentes da implantação de empreendimentos de tal porte, segundo o relatório. As usinas hidrelétricas construídas até hoje no Brasil resultaram em mais de 34.000 km² de terras inundadas (equivalente a mais de 4.700.000 campos de futebol). para a formação dos reservatórios, e na expulsão – ou “deslocamento compulsório” – de cerca de 200 mil famílias, todas elas populações ribeirinhas diretamente atingidas. As obras promoveram o deslocamento forçado dessas populações, acompanhado por compensações financeiras irrisórias ou inexistentes; o processo de reassentamento, quando houve, não assegurou a manutenção das condições de vida anteriormente existentes. Na área das barragens, ocorreram diversos problemas de saúde pública, como o aumento de doenças de natureza endêmica, o comprometimento da qualidade da água nos reservatórios, afetando atividades como pesca e agricultura. É importante ressaltar que essas comunidades muitas vezes são grupos humanos identificados como populações tradicionais (povos indígenas, quilombolas, comunidades ribeirinhas amazônicas e outros), cuja sobrevivência depende da utilização dos recursos provenientes do local em que vivem, sobretudo dos rios, e que possuem vínculos de ordem cultural com o território. Além disso, a formação dos reservatórios das usinas hidrelétricas atinge geralmente solos mais férteis e terras agricultáveis, desintegrando a população local que perde suas características históricas, identidade cultural e suas relações com o lugar, além da alteração nos ecossistemas aquáticos e a destruição da flora e da fauna. Dos mercados regionais, 70% da energia encontra-se armazenada em reservatórios do sudeste (quadrilátero dos reservatórios), que importa energia boa parte do ano. A região nordeste contribui com cerca de 20% de energia armazenada e se mostra um grande importador de energia (estações secas muito intensas – precipitações mal distribuídas). Como exportadora, temos a região norte (vazios demográficos – baixo consumo). A região sul apresenta variabilidade hídrica bem maior, bem difícil de se prever o sentido do fluxo de energia. O potencial hidrelétrico da bacia do Amazonas é de cerca de 40%, sendo utilizado em apenas ¼ de ENU005 Metodologia e Modelos de Planejamento Energético – Turma T005 - Prof. Carlos Eduardo Velasquez Cabrera Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - Escola de Engenharia - Dep. de Engenharia Nuclear Belo Horizonte - 14/12/2021 sua capacidade total. Outras regiões apresentam potenciais menores, mais bem aproveitados. O parque hidrelétrico brasileiro localiza-se entre os 5 maiores do mundo, sendo que seu potencial aproveitado é de apenas 24%. Países como França, Alemanha, Japão, Noruega e EUA apresentam melhores índices de aproveitamento hidráulico. O Brasil é o primeiro país do mundo em presença de recursos hídricos, seja originado em seu território, como em territórios vizinhos. A capacidade instalada das usinas hidrelétricas atualmente em operação (cerca de 74 mil MW) representa não mais que 28,4% do potencial hidrelétrico total no Brasil, estimado em 260,1 mil MW. Essa situação é utilizada como argumento para aqueles que preconizam uma expansão mais vigorosa dos projetos de usinas hidrelétricas no Brasil. Praticamente a metade desse potencial (50,2%) encontra-se localizado na região amazônica, principalmente nos rios Tocantins, Araguaia, Xingu e Tapajós. As consequências sociais e ambientais da possibilidade de implantação dos empreendimentos hidrelétricos previstos na região, envolvendo questões como as relacionadas com reservatórios em terras indígenas ou a manutenção da biodiversidade, exigem atenção e cuidados muito além da retórica dos documentos oficiais. A média do índice de quantos quilômetros precisam ser alagados por MW no Brasil vem se elevando de 0,48km²/MW em 1989 para cerca de 0,52km²/MW em 2005. Isto acontece pois os rios de planalto, de melhor viabilidade econômica – e, que necessitam de menores reservatórios - já foram quase que, em sua maior totalidade, aproveitados. Além da região Norte, o significativo potencial hidrelétrico a aproveitar localizado nas bacias dos rios Paraná e Uruguai, representando cerca de 29% do restante total. Nessas regiões do Sul do país, caracterizadas por uma elevada densidade populacional nas áreas rurais, o processo de “deslocamento compulsório” dessas populações ribeirinhas para a formação dos reservatórios dos empreendimentos hidrelétricos previstos também exige toda a atenção e cuidados, para que não se reproduzam os problemas verificados no passado recente. Dessa forma, arepotenciação das usinas hidrelétricas com mais de vinte anos de operação surge como uma possível opção para aumentar a capacidade de geração hidrelétrica no país em cerca de 12%. Um estudo do IEE-USP para a WWF (Bermann, 2004a) indica que obras de repotenciação em 67 usinas nessas condições teriam potenciais de ganho de capacidade alcançando 868 MW para a repotenciação mínima, 3.473 MW para a repotenciação leve e 8.093 MW para a repotenciação pesada. Trata-se de otimizar o potencial das usinas existentes, e aumentar a eficiência na geração.
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