Buscar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AVA – UNIDADE 1 – PROFESSORA PEDRITA 
 
1.0 Introdução à Ciência Política e à 
Teoria do Estado 
Se você está se perguntando por que precisa estudar Ciência Política e Teoria 
do Estado no início de um curso de Direito, saiba que essa pergunta vem sendo 
feita há muito tempo, por inúmeros estudiosos. Historicamente, segundo 
Bonavides (2011, p. 48), a Ciência Política levou muito tempo para se tornar uma 
ciência autônoma na França, por exemplo. Antes disso, suas discussões e 
temáticas eram todas abarcadas pelo Direito, principalmente o Direito 
Constitucional (e essa aproximação ainda existe, como vocês vão perceber 
quanto mais se aprofundarem). 
Até mesmo o nome “Ciência Política” precisou de tempo para se firmar e ser 
por todos reconhecido como algo específico e determinado. Isso porque, na 
cultura anglo-americana, por exemplo, o que se chamava “Ciência Política” era, 
na verdade, um acúmulo de relatos e experiências vividas por instituições (casos 
em que os interesses em jogo eram sempre ditados pelas forças políticas 
competitivas) ou análises técnicas que se constituíam ignorando os 
desenvolvimentos teóricos. (BONAVIDES, 2011, p. 46). 
Já na Alemanha, os juristas que se dedicavam a esse estudo, sempre envolvidos 
com o culto e a superstição do poder, só recentemente passaram a reconhecer 
uma “Ciência Política” propriamente dita, com contribuições e construções 
próprias, independentemente do condicionamento jurídico, sob a influência de 
correntes americanas excessivamente pragmáticas. Antes disso, esses estudos 
eram todos abarcados pela “Teoria Geral do Estado”, que apenas reconhecia 
variações de método e conteúdo dentro de sua amplitude. (BONAVIDES, 2011, 
p. 46). 
A denominação “Teoria Geral do Estado”, que foi forte na Alemanha, não teve 
a mesma força na França e só chegou ao Brasil na década de 1940, durante a 
ditadura, ingressando nos currículos dos cursos de Direito, por imposição do 
regime ditatorial e não por pertinência temática ou pedagógica. À época, a 
Constituição da República de 1937 enfrentava grande resistência nas escolas 
pelos professores de formação democrática. (BONAVIDES, 2011, p. 46). 
O fato é que a evolução terminológica veio também acompanhada da evolução 
dos métodos e delimitações da Ciência Política enquanto ciência, ramo do 
saber. Assim, segundo Soares (2004, p. 5-7), a Ciência Política estuda “a 
realidade política, o fenômeno político, o mundo ou o universo político e a 
res publica” (expressão do latim que significa "coisa do povo" ou "coisa 
pública", e que deu origem à palavra “república”). Seu objeto de estudo, então, 
é “o conhecimento do universo político polarizado pelo fenômeno político do 
poder”, que ela analisa e transforma em um “conhecimento ordenado, racional, 
objetivo e metódico” que pode ser recepcionado pelos outros ramos do saber, 
inclusive a Teoria do Estado, que vai, a partir desse arcabouço de ideias, buscar 
entender se o Estado deve se colocar e atuar diante dos fenômenos atuais, além 
de como fazê-lo. Esse entendimento se dá a partir do conhecimento e da 
interpretação das relações de que eles possuem com a história e com a realidade 
global. 
 
1.1 Conceituação da Ciência Política e da 
Teoria do Estado 
Desde que Kant (em seu livro Elementos Metafísicos das Ciências da Natureza) 
definiu como “ciência” a “toda série de conhecimentos sistematizados ou 
coordenados mediante princípios”, a ação intelectual dos positivistas e dos 
evolucionistas desenvolveu esse conceito de forma a torná-lo cada vez mais 
preciso. Desenvolvimento esse que culminou na formulação de um conceito de 
“ciência” como sendo “o conhecimento das relações entre coisas, fatos ou 
fenômenos, quando ocorre identidade ou semelhança, diferença ou contraste, 
com existência ou sucessão nessa ordem de relações”. (BONAVIDES, 2011, p. 
26). 
Como vimos, a Ciência Política precisou de muito tempo para se desvencilhar 
do Direito e ser reconhecida como uma ciência autônoma, com seus próprios 
métodos e objetos. Uma vez reconhecida, no entanto, vamos ver como ela é 
conceituada enquanto área de conhecimento a partir desses critérios 
estabelecidos e desenvolvidos ao longo das décadas de estudo. 
 
1.2 Ciência Política 
Para conceituar “Ciência Política” e “Teoria do Estado”, Pinto (2013) faz uma 
escolha interessante e recorre à filologia e ao estudo da linguagem em fontes 
históricas escritas, de forma a entender melhor os significados dos termos que 
compõem essas expressões e produzir conhecimento a partir dessas 
nomenclaturas. 
Primeiramente, então, ele recorre ao conceito de “ciência” disposto no dicionário 
mais famoso e tradicional da língua portuguesa: 
 
“Atentos à objetividade desejada, lembramos que, para Aurélio Buarque de Holanda, 
ciência é “[...] saber que se adquire pela leitura e meditação; [...] Conjunto de 
conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente acumulados, 
dotados de universalidade e objetividade que permitem sua transmissão, e 
estruturados com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender e 
[...] orientar a natureza e as atividades humanas [...]”. (PINTO, 2013, p. 3).” 
Em seguida, para complementar essa análise, recorre à conceituação de um filósofo: 
“Para Régis Jolivet, o termo ciência pode ser encarado nos pontos de vista objetivo e 
subjetivo: “Objetivamente, a ciência é conjunto de verdades certas logicamente 
encadeadas entre si, de maneira que forme um sistema coerente [...]. Subjetivamente, 
a ciência é um conceito certo das coisas por suas causas ou por suas leis.” A ciência 
demanda, portanto, objeto, método e lei. (PINTO, 2013, p. 3).” 
Trabalhada a análise do termo “ciência”, o autor segue sua análise terminológica 
dedicando-se, então, ao termo “política”, que é uma expressão bastante conhecida 
e discutida pela filosofia: 
“Os autores, normalmente, separam o conceito clássico e conceito moderno de 
política. Assim é, por exemplo, no Dicionário de Política, de Norberto Bobbio, 
Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino. Para o conceito propagado por 
Aristóteles em sua obra Política, o termo significa a “Arte de Governar”, 
abrangendo a natureza, as funções e as várias formas de governo. O termo política 
consagrou-se classicamente no âmbito acadêmico como sendo estudo de 
atividades humanas referentes à existência do Estado, do poder soberano e de 
seu exercício. (PINTO, 2013, p. 4).” 
A este significado, o autor acrescenta considerações sobre a utilização 
atualizada do termo “política”, que tem hoje inúmeras outras acepções, 
podendo ser utilizado para denominar “um conjunto de atividades estatais”, 
como a atuação do Estado em busca de um resultado determinado. Acepção 
essa que dá origem às ideias de “política eleitoral”, “política partidária” ou até 
“políticas públicas”, por exemplo. Nesse sentido, a “política” assume um 
conceito bastante popularizado e amplamente utilizado em várias esferas e 
temáticas do Poder Estatal. (PINTO, 2013, p. 4). 
A partir, então, dessas reflexões, Pinto (2013, p. 4) passa a construir uma 
conceituação de “Ciência Política” que respeite a filologia dos termos que 
compõem a expressão e combine esses significados. A "Ciência Política”, 
assim, seria um estudo metódico (com a metodologia e os procedimentos 
sólidos e específicos que constituem uma ciência) cujo objeto seria a política 
enquanto conjunto de atividades do Estado em suas mais diversas atuações 
e ramificações ligadas ao exercício do poder soberano, na busca por 
abranger todo o fenômeno estatal. 
Definir a atuação estatal como objeto de estudo da Ciência Política, no 
entanto, pode parecer uma simplificação, mas não é. A força estatal é 
marcada pelo poder, e o poder perpassa todas as estruturas sociais. O poder 
é histórico e geral, esteve e está presente em todos os momentos e em todos 
os grupos sociais, mas se manifesta de formas variadas que precisam ser 
entendidas e discutidas. Nesse sentido, o autor destaca a amplitudedos 
objetos de estudo a partir da grande e dispersa presença do poder nas 
estruturas sociais: 
“Cabe à ciência política, portanto, o estudo de todo o processo histórico do 
exercício do poder, desde as estruturas mais rudimentares até as mais complexas 
e as mais modernas; do matriarcalismo instintivo ao patriarcalismo, como natural 
expressão de força. Cabe, do mesmo modo, a análise da estruturação ideológica do 
poder, dos pré-socráticos aos pensadores da atualidade. Cabe ainda o estudo 
detalhado da família como célula de poder, passando pelos clãs, tribos e as polis 
gregas, o Império Romano, o Império da China e as civilizações pouco conhecidas 
como os incas, astecas e maias, chegando mesmo ao Estado Moderno como hoje é 
conhecido. No campo filosófico, portanto, muito há o que se estudar em relação à 
política, e o mesmo se diga quanto aos campos sociológico, antropológico, 
econômico e até o religioso. Não serão poucos, desse modo, os objetivos deste 
estudo e não serão poucos os autores a serem consultados. (PINTO, 2013, p. 4).” 
2.0 Teoria do Estado 
Pinto (2013), ainda seguindo a linha da análise terminológica, conjuga dois 
significados para a palavra “teoria” a fim de construir um conceito para a 
“Teoria do Estado”. No mesmo dicionário brasileiro, ele descobre que: 
“O termo teoria significa, para Aurélio Buarque de Holanda, o “[...]Conhecimento 
especulativo, meramente racional [...] Conjunto de princípios fundamentais duma 
arte ou duma ciência [...]. Doutrina ou sistema fundado nesses princípios[...]”. 
(PINTO, 2013, p. 5).” 
E, mais uma vez, conjugando essa definição filológica com uma definição 
filosófica, acrescenta que: 
“Já no Dicionário da Filosofia Larousse do Brasil, teoria é conceituado como um 
conjunto sistemático de ideias ou conhecimentos sobre terminado tema. Completa 
R. Jolivet “[...] que tem por fim unificar ou mesmo sistematizar um grande número 
de hipóteses ou leis em uma lei bastante geral”. (PINTO, 2013, p. 5)” 
A partir daí, é possível compreender a Teoria do Estado como o ramo da 
ciência que investiga e analisa as principais características do 
Estado, bem como seus aspectos, contextos, estruturas, origens, etc. Tudo 
isso com a finalidade de possibilitar reflexão e aperfeiçoamento. 
2.1 A Ciência Política e suas três dimensões: a 
filosófica, a sociológica e a jurídica 
Inúmeros e reconhecidos teóricos e juristas acompanham a tendência 
universal de estudar a Ciência Política a partir de um aspecto tríplice ou 
tridimensional que compreenda as dimensões filosófica, sociológica e 
jurídica. (BONAVIDES, 2011, p. 45-46). 
Esse entendimento é consequência direta da multiplicidade e da grande 
abrangência do objeto de estudo da Ciência Política, que se detém, como 
vimos, sobre o Estado, o poder e as relações que deles decorrem em todas 
as suas esferas e âmbitos. Os fatos e realidades que se constroem e são 
discutidos pela Ciência Política são também apreendidos por outros ramos 
do saber e essas compreensões se alimentam. Aqui, vamos analisar como se 
constituem essas dimensões dentro da Ciência Política e de que forma elas 
se aproximam. 
2.2 Dimensão Filosófica 
Os assuntos políticos são temáticas que interessam os seres humanos desde 
os tempos mais remotos, principalmente desde Sócrates, Platão e 
Aristóteles. (BONAVIDES, 2011, p. 40). É natural, então, que a filosofia 
enquanto ciência tenha sempre acompanhado a sucessão de fatos históricos 
e a evolução da construção dos modelos que hoje naturalizamos na 
sociedade, na tentativa de discutir as origens, a ideologia e a justificação do 
Estado enquanto fenômeno político-cultural. Nesse sentido: 
A Filosofia conduz para os livros de Ciência Política a discussão de 
proposições respeitantes à origem, à essência, à justificação e aos fins do 
Estado, como das demais intuições sociais geradoras do fenômeno do poder, 
visto que nem todos aceitam circunscrevê-lo apenas à célula máter, 
embriogênica, que no caso seria naturalmente o Estado, acrescentando-lhe 
os partidos, os sindicatos, a igreja, as associações internacionais, os grupos 
econômicos, etc. 
Convive o debate filosófico ademais com a investigação sociológica com a 
fixação jurídica dos fatos, normas e instituições políticas... (BONAVIDES, 2011, 
p. 41) 
“Uma vez que a Ciência Política se proponha a analisar os acontecimentos, as 
instituições e as ideias políticas (bem como os seus históricos e desenvolvimentos), 
essas questões podem ser discutidas a partir da análise do passado (como foram 
ou deveriam ter sido), do presente (como são ou deveriam ser) ou do futuro (como 
serão ou deverão ser). (BONAVIDES, 2011, p. 40).” 
2.3 Dimensão sociológica 
Se a Ciência Política estuda fatos sociais, como vimos, sua aproximação com 
a Sociologia é inevitável e indiscutível. Sendo o fenômeno político um fato 
social por excelência, como ensina Durkheim, a análise de um fato político 
vai fundamentar uma Sociologia Política, que vai compartilhar com a Ciência 
Política noções e discussões sobre grupos, classes, ideologias, etc. 
E esses são aspectos fundamentais que precisam ser considerados em 
qualquer análise da evolução do Estado. Bonavides (2011, p. 42-43), citando 
a obra de Vierkandt, destaca o caráter classista do Estado e da sociedade, 
as dinâmicas de luta pelo poder nas sociedades, os partidos como 
representação de interesses e as tendências e movimentos reformistas que 
se constituem considerando as relações de trabalho, a educação, a saúde 
espiritual da juventude, e o papel da igreja, por exemplo. 
Também aproximam Sociologia e Ciência Política o forte caráter histórico 
necessário para a análise da evolução política. (BONAVIDES, 2011, p. 42). 
2.4 Dimensão jurídica 
A dimensão jurídica da Ciência Política tem como grande expoente o trabalho 
de Kelsen, considerado o “Pai do Positivismo”, para quem o Estado e o 
Direito seriam uma única coisa. O Direito, para Kelsen, seria a lei. E a lei 
seria o que definiria e constituiria o Estado. Nesse raciocínio, o papel do 
Estado seria o de realizar a positivação do Direito. Seguindo essa abordagem, 
Kelsen propõe também uma Teoria Geral do Estado com bases 
fundamentalmente jurídicas, que assimilam o Estado ao Direito. 
Ainda segundo Kelsen, o Estado pertenceria ao mundo do “dever-
ser” (que ele chama de “sollen”) e seria explicado pela “unidade das normas 
de direito de determinado sistema”. Assim, para o autor, “quem elucidar o 
direito como norma elucidará o Estado”, porque a força coercitiva do Estado 
é o mesmo que o grau de eficácia da norma jurídica. (BONAVIDES, 2011, p. 
44). Essa valorização do Direito é também o que faz com que a Ciência Política 
tenha sido (e ainda seja um pouco) reduzida a um simples corpo de normas, 
objeto de estudo do Direito Político (BONAVIDES, 2011, p. 43). 
O Estado, na teoria de Kelsen, é esvaziado de toda substantividade e de 
todas as implicações de ordem moral, ética, histórica, 
sociológica. Território e população, elementos materiais que compõem o 
Estado, assumem aqui as faces de “âmbito espacial” e “âmbito pessoal” de 
validade do ordenamento jurídico. O que resta é o Estado como puro 
conceito, retintamente jurídico. A valorização descomunal (e 
desproporcional) do poder (seu elemento formal) aproxima-o da “santidade 
inviolável de normas concebidas como direito puro”. (BONAVIDES, 2011, p. 
44). 
3.0 A Teoria do Estado e o Direito: a 
teoria monística, dualística e 
paralelística 
Não foi só Kelsen quem se dedicou a estudar e discutir a relação entre o 
Estado e o Direito. Essa é uma questão que há muito ocupa os pensadores. 
Maluf (2010, p. 1) inicia a sua obra já chamando atenção para essa questão: 
“O Estado é uma organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, as 
condições universais de ordem social. E o Direito é o conjunto das condições 
existenciais da sociedade, que ao Estado cumpre assegurar. 
Para o estudo do fenômenoestatal, tanto quanto para iniciação na ciência jurídica, 
o primeiro problema a ser enfrentado é o das relações entre Estado e Direito. 
(MALUF, 2010, p. 1).” 
Como se pode ver no trecho reproduzido, essa já é uma concepção bem 
moderna, que reconhece a separação entre as ideias de Estado e de Direito 
sem ignorar a relação de interdependência. O Estado, para Maluf, se orienta 
e se mantém pelas normas criadas pelo Direito, e ao mesmo tempo é 
responsável por garantir o seu cumprimento. É justamente por isso que a 
compreensão dessa relação é importante desde já, no início da formação 
jurídica. 
Os estudos que se dedicaram a compreender as relações entre Estado e 
Direito dividem-se principalmente em três teorias: a monística, a dualística e 
a paralelística, que vamos conhecer brevemente a seguir. 
 
A Teoria Monística é também chamada de “estatismo jurídico” e reúne os 
pensadores que acreditam que o Estado e o Direito se confundem em uma 
só realidade. Para os monistas, o Estado é a única fonte do Direito e não 
existe qualquer regra jurídica fora do Estado, somente o “direito estatal”. É o 
Estado quem dá vida ao Direito quando a ele empresta a “força coativa” de 
que detém o monopólio. Só o Estado pode agir por meio da coação e uma 
regra jurídica sem coação seria uma “contradição em si, um fogo que não 
queima, uma luz que não ilumina”. (MALUF, 2010, p. 1). 
A Teoria Dualística, também chamada de “Teoria Pluralística”, por sua vez, 
sustenta que o Estado e o Direito são duas realidades “distintas, 
independentes e inconfundíveis”. Para os dualistas, o Estado não se 
confunde com o Direito e nem mesmo é sua única fonte. O que o Estado 
detém é apenas o Direito Positivo (e o poder de positivar o Direito), mas o 
Direito não é e não pode ser visto como criação estatal. Trata-se de uma 
criação social que carrega em si os frutos do desenvolvimento e das 
mudanças que se operam na vida de cada povo sob a constante influência 
de fatores sociais, como as questões éticas, psíquicas, biológicas, e 
econômicas, por exemplo. (MALUF, 2010, p. 2). Nesse sentido: 
O direito, assim, é um fato social em contínua transformação. A função do Estado 
é a de positivar o Direito, isto é, traduzir em normas escritas os princípios que se 
firmam na consciência social. Normas jurídicas têm sua origem no corpo 
social. (MALUF, 2010, p. 2) 
 
A Teoria Monista, como vimos, é a que não vê separação entre Estado e 
Direito, já que os dois são tão próximos e dependentes que se confundem, e 
que acredita que o Estado é a única fonte do Direito. A Dualística, no sentido 
contrário, vê diferenças e separações claras entre o Direito e o Estado, 
reconhece outras fontes de Direito e concebe o Direito enquanto fato social. 
É nesse terreno que se desenvolve a Teoria Paralelística, uma corrente 
eclética, situada em uma posição de relativo equilíbrio entre os extremos e 
que, segundo Maluf (2010, p. 2-5), vê Estado e Direito como “realidades 
distintas, porém necessariamente interdependentes”. 
A Teoria Paralelística, então, reconhece a existência de Direito fora do Estado 
ao mesmo tempo que admite ser o Estado o detentor da “vontade social 
predominante” e, portanto, o único capaz de positivar o Direito. (MALUF, 
2010, p. 3). Assim: 
A teoria do pluralismo reconhece a existência do direito não estatal, sustentando 
que vários centros determinação jurídica surgem e se desenvolvem fora do 
Estado, obedecendo a uma graduação de positividade. Sobre todos estes centros 
particulares do ordenamento jurídico, prepondera o Estado como centro de 
irradiação da positividade. O ordenamento jurídico do Estado representaria 
aquele que, dentro de todos os ordenamentos jurídicos possíveis, se afirmaria 
como o “verdadeiramente positivo”, em razão da sua conformidade com a 
vontade social predominante. A teoria do paralelismo completa a teoria 
pluralista, e ambas se contrapõem com vantagem à teoria monista. Efetivamente, 
Estado de Direito são duas realidades distintas que se completam na 
interdependência. (MALUF, 2010, p. 3). 
 
4.0 A sociedade: origem e seus 
elementos característicos 
Soares (2004, p. 14), ao discutir os inúmeros conceitos de sociedade, começa 
pelo mais “genérico”, a sociedade como “o gênero humano, considerado o 
conteúdo abstrato e todas as formas de convivência humana ou a união 
entre os homens em geral”, ou, nas palavras de Bonavides (2011, p. 
57), “todo o complexo de relações do homem com seus semelhantes”. 
Esse conceito genérico, no entanto, é bastante primário, uma vez que as 
sociedades se constituem de formas cada vez mais complexas em razão do 
aperfeiçoamento de mecanismos como a divisão do trabalho humano, o 
aproveitamento e controle de recursos naturais, as descobertas e invenções. 
 
“Verifica-se que, no decorrer do processo histórico, grupos sociais passaram a 
executar tarefas específicas, atingindo um amplo e intricado pluralismo social, que 
exige que recorra o jurista à Ciência Política como condição para o desenvolvimento 
de estudo aprofundado dessas relações sociais e jurídicas. 
Assim, faz-se necessário estabelecer uma caracterização geral das complexas 
sociedades, delineando os pontos em comum por meio de análise do conjunto de 
regras de atuação de cada sociedade. (SOARES, 2004, p. 15).” 
Citando Dallari, Soares (2004, p. 15) elenca os elementos considerados 
necessários pelos estudos dessa natureza para que os agrupamentos 
humanos sejam reconhecidos como sociedades. os seguintes: 
• A finalidade ou valor social 
• As manifestações de conjunto ordenadas (ordem social e ordem 
jurídica) 
• O poder social 
 
Cada um destes tópicos poderá ser compreendido a seguir. 
 
 
4.1 Finalidade ou valor social 
Sobre a finalidade (ou valor social) da sociedade, é importante destacar que 
se trata de um elemento bastante discutido pelas mais diversas teorias (ou 
concepções). Pela concepção determinista, então, o homem é totalmente 
submetido às leis naturais e ao princípio da causalidade, não podendo 
escolher um objetivo ou orientar a sua vida social pois esta estará sempre 
condicionada a fatores que ele não pode controlar. (SOARES, 2004, p. 15). 
De acordo com a concepção finalista, o homem deve ser sujeito de sua 
própria história e, assim, contribuir para transformações sociais. Já a 
concepção tomista acredita que o homem tem consciência de que deve viver 
em sociedade e, por isso, busca fixar como objetivo da sua vida social uma 
finalidade condizente com o que lhe parece mais valioso e com as suas 
necessidades fundamentais. (SOARES, 2004, p. 15). 
Já Tomás de Aquino refere-se ao bonum commune (bem comum) como a 
finalidade principal da sociedade organizada. Nesse raciocínio, é 
responsabilidade do Estado garantir aos membros da sociedade as 
condições necessárias para que alcancem o bem-estar material e cumpram 
o instinto humano de conservação. A finalidade social escolhida pelo 
homem, então, seria o bem comum, que consistiria no “conjunto de todas as 
condições de vida que configurem e favoreçam o desenvolvimento integral 
da personalidade humana”. (SOARES, 2004, p. 15-16). 
 
4.2 Manifestações de conjunto ordenadas 
A simples reunião de um grupo de pessoas em busca de um mesmo objetivo 
não é suficiente para garantir que esse objetivo seja alcançado. Para isso, é 
preciso, antes, que esse grupo esteja organizado para agir em busca 
desse fim. É disso que se trata a manifestação de conjunto ordenada: a ação 
de um grupo em conjunto orientada para um fim específico. E, para isso, é 
preciso que essas ações tenham reiteração, ordem e adequação. 
A reiteração vem da ideia de que as manifestações de conjunto em busca 
de um objetivo devem ser realizadas permanentemente, e os atos individuais 
devem se conjugar em um todo coletivo. A ordem, que alguns autores 
dividem entre natural e humana e outros em social e jurídica, diz respeito à 
produção das manifestaçõespara que se alcance o objetivo planejado, seja 
por causalidade ou por imputação. E, por fim, a adequação é a necessária 
preocupação com as exigências e possibilidades da realidade social. 
4.3 Poder Social 
O poder social é uma realidade verificável em diversas modalidades de 
relacionamento humano e consiste na faculdade de alguém impor a sua 
vontade ao outro sem necessariamente precisar recorrer ao uso da 
força. (SOARES, 2004, p. 18). 
“O poder social sempre existiu na sociedade humana, apresentando, em qualquer 
grupo social, traços característicos de sociabilidade — o poder é um fenômeno 
social — e de bilateralidade — o poder é a correlação de duas ou mais vontades, 
sendo que uma predomina. (SOARES, 2004, p. 18” 
5.0 Teorias sobre os fundamentos da 
sociedade: a interpretação 
organicista e mecanicista da 
sociedade 
As sociedades organizam-se de formas variadas, que se distinguem pelos 
fins, pela amplitude e pelo grau de intensidade dos vínculos que envolvem 
os membros do grupo social aos tipos de associação existentes. Assim, a 
partir da análise das finalidades, pode-se distinguir dois tipos de sociedades: 
as de fins particulares, que possuem objetivos definidos voluntariamente 
escolhidos por seus membros, e as de fins gerais, que possuem objetivos 
indefinidos e genéricos que se destinam a possibilitar aos indivíduos que 
busquem atingir seus fins particulares. (SOARES, 2004, p. 19). 
O Estado é uma forma de sociedade que Soares (2004, p. 19) denomina 
como “sociedade política”, que é a que se ocupa da “totalidade das ações 
humanas, coordenando-as em função de um objetivo comum”, coexiste com 
outras estruturas sociais, tais como a família, as tribos e os clãs, delas se 
diferenciando pelo monopólio legítimo da coação física para fazer valer as 
suas determinações. 
A interpretação organicista compreende a sociedade como “o conjunto de 
relações por intermédio das quais vários indivíduos vivem e atuam 
solidariamente, de forma ordenada, visando estabelecer entidade nova e 
superior”. Os principais teóricos que se destacaram nessa corrente foram 
Aristóteles, Platão, Comte (organicismo materialista), Savigny (organicismo 
ético e idealista) e Del Vecchio. (SOARES, 2004, p. 13). 
Bonavides também relembra Aristóteles e Platão e os apresenta como o 
“tronco milenar da filosofia grega” de onde procedem os organicistas. E 
destaca já na produção aristotélica a ideia de que os homens são partes de 
um todo que é social. (BONAVIDES, 2011, p. 58). 
“Na doutrina aristotélica assinala-se, com efeito, o caráter social do homem. A 
natureza fez um homem um “ser político”, que não pode viver fora da sociedade. 
Se a sociedade é o valor primário fundamental, se a sua existência importa numa 
realidade superior, subsistente por si mesma, temos o organicismo. 
Reunião de várias partes que preenchem funções distintas e que, por sua ação 
combinada, concorrem para manter a vida do todo. (BONAVIDES, 2011, p. 58).” 
Mas é importante anotar a observação de Bonavides, que apontou que os 
organicistas apresentavam tendências a adotar posições ideológicas 
reacionárias em relação ao poder. (SOARES, 2004, p. 13). 
“Entende esta que o homem jamais nasceu na liberdade e, invocando o fato 
biológico do nascimento, mostra que desde o berço o princípio de autoridade o 
toma nos braços, rodeando-o, amparando-o, governando-o. Vinte e quatro horas 
fora da proteção dos pais bastariam para acabar com o ser que chega ao mundo 
tão frágil e desprotegido. Dependência, autoridade, hierarquia, desamparo, 
debilidade, eis já no núcleo familiar os vínculos primeiros que envolvem a criatura 
humana e dos quais jamais logrará desatar-se inteiramente. Fazem os organicistas 
a apologia da autoridade. Estimam o social porque veem na Sociedade o fato 
permanente, a realidade que sobrevive, a organização superior, o ordenamento 
que, desfalcado dos indivíduos na sucessão dos tempos, no lento desdobrar das 
gerações, sempre persiste, nunca desaparece, atravessando o tempo e as idades. 
Os indivíduos passam, a sociedade fica. (BONAVIDES, 2011, p. 59).” 
Os mecanicistas, por sua vez, atacam a Teoria Organicista sempre negando 
que exista alguma espécie de identificação entre os organismos biológicos e 
a sociedade, pois a sociedade experimenta fenômenos que não encontram 
equivalência na realidade do sujeito, tal como migrações, mobilidade social 
e suicídios, por exemplo. No organismo individual, as partes não vivem por 
si mesmas, nem podem estar fora do ser que integram ou em outra posição 
que não aquela que a natureza lhes determinou. (BONAVIDES, 2011, p. 60-
61). 
A teoria mecanicista é predominantemente filosófica, com especial destaque 
para os filósofos jusnaturalistas, segundo os quais a “sociedade é um grupo 
derivado de um acordo de vontades formalizado por seus próprios 
membros” que se unem por um “mesmo interesse comum”, que 
depende da conjugação de seus esforços para que seja alcançado. De acordo 
com essas ideias, o fundamento da sociedade é, então, o consentimento dos 
cidadãos firmado por meio do pacto social. (SOARES, 2004, p. 13-14). 
“A teoria mecânica é predominantemente filosófica e não sociológica. Seus 
representantes mais típicos foram alguns filósofos do direito natural desde o 
começo da idade moderna. Seus corolários, com rara exceção, e Hobbes é aqui uma 
dessas exceções, acabam, sob o aspecto político, na explicação e legitimação do 
poder democrático. 
Das teses contratualistas, da postulação que estas fazem, infere-se que a base da 
Sociedade é o assentimento e não o princípio de autoridade. 
A democracia liberal e a democracia social partem desse postulado único e essencial 
de organização social, de fundamento a toda a vida política: a razão, como guia da 
convivência humana, com apoio na vontade livre e criadora dos indivíduos. 
(BONAVIDES, 2011, p. 61).” 
De acordo com a Teoria Mecanicista, são três as hipóteses que podem 
explicar o surgimento da sociedade: 
1- a sociedade originou-se da vontade humana formulada por meio de 
pacto; 
2- a sociedade é resultado da última etapa de evolução da primeira hipótese, 
em perspectiva material ou espiritual; 
3- a sociedade teria nascido da predisposição e das necessidades da 
natureza humana. (SOARES, 2004, p. 14). 
 
Os organicistas, então, são os que “se abraçam ao valor Sociedade” e se 
esquecem das liberdades individuais e da autonomia. Assim, com base 
nessas crenças, os organicistas tendem a assumir posições 
antidemocráticas, autoritárias e de direita, bem como defender justificações 
reacionárias do poder e autocracia. Os mecanicistas, ao contrário, são os que 
não reconhecem a sociedade como uma realidade suscetível de subsistir fora 
ou acima dos indivíduos, mas apenas como uma soma de partes. 
(BONAVIDES, 2011, p. 59). 
Se o organicismo e o mecanicismo foram as duas mais importantes 
formulações históricas sobre os fundamentos da sociedade, qualquer 
conceito que se desenvolva sobre “sociedade” vai trazer maior influência de 
uma ou de outra concepção. Assim, quando se diz que “a sociedade é o grupo 
derivado de um acordo de vontades, de membros que buscam, mediante o 
vínculo associativo, um interesse comum impossível de obter-se pelos 
esforços isolados dos indivíduos”, trata-se, na verdade, de um conceito bem 
alinhado ao mecanicismo. Todavia, quando se define a sociedade como “o 
conjunto de relações mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam 
solidariamente em ordem a formar uma entidade superior”, estamos diante 
de um conceito fundamentalmente organicista. (BONAVIDES, 2011, p. 57-58).

Continue navegando