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CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1º Ano DISCIPLINA: CIÊNCIA POLÍTICA Código: ISCED11 – CPOLCFE003 Total Horas/1o Semestre: 125 Créditos (SNATCA): 5 Número de Temas: 17 I NSTITUTO SUPER INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Coordenação do Programa de Licenciaturas Rua Dr. Lacerda de Almeida. No 211, Ponta - Gea Beira - Moçambique Telefone: 23323501 Cel: +258 823055839 Fax: 23323501 E-mail: direcção@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Pela coordenação Direcção Acadêmica do ISCED Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED Financiamento e logística Instituto Africano de Promoção da Educação à Distância (IAPED) Pela revisão final Dr. Emílio Jovando Zeca Elaborado por: Dr. José Bernardo José Rafael – Licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS i Índice Visão geral 1 Bem vindo ao Módulo de Ciência Política ........................................................................ 1 Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 1 Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2 Ícones de actividade ......................................................................................................... 4 Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4 Precisa de apoio? .............................................................................................................. 7 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 8 Avaliação ........................................................................................................................... 8 TEMA – I: INTRODUÇÃO: CONSIDERAÇÕES GERAIS 11 UNIDADE Temática 1.1. ABORDAGEM CONCEPTUAL SOBRE A POLÍTICA E CIÊNCIA POLÍTICA: Introdução ...................................................................................................... 11 Introdução ....................................................................................................................... 11 Sumário ........................................................................................................................... 17 Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 19 Respostas ........................................................................................................................ 19 Exercícios ........................................................................................................................ 19 TEMA – II: PRINCIPAIS TEORÍCOS DA CIÊNCIA POLÍTICA 20 UNIDADE Temática 2.1. TEORÍCOS CLÁSSICOS DA CIÊNCIA POLÍTICA ........................... 20 Introdução ....................................................................................................................... 20 Sumário ........................................................................................................................... 42 Exercícios Auto Avaliação ............................................................................................... 43 Respostas ........................................................................................................................ 44 Exercícios ........................................................................................................................ 44 TEMA – III: A SOCIEDADE E O ESTADO 45 UNIDADE Temática 3.1. Sociedade e Estado .................................................................. 45 Introdução ............................................................................................................. 45 Sumário ........................................................................................................................... 62 Exercícios de Auto Avaliação .......................................................................................... 62 Respostas ........................................................................................................................ 62 Exercícios ........................................................................................................................ 63 TEMA – IV: O PODER DO ESTADO 64 UNIDADE Temática 4.1. O PODER O ESTADO: INTRODUÇÃO ........................................ 64 Introdução ............................................................................................................. 64 ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS ii Sumário ........................................................................................................................... 71 Exercícios de Auto Avaliação .......................................................................................... 71 Respostas ........................................................................................................................ 72 Exercícios ........................................................................................................................ 72 TEMA – V: LEGALIDADE E LEGITIMIDADE DO PODER 73 UNIDADE Temática 5.1. Legalidade e Legitimidade: Introdução. .................................. 73 Introdução ............................................................................................................. 73 Sumário ........................................................................................................................... 79 Exercícios de Auto Avaliação .......................................................................................... 79 Respostas ........................................................................................................................ 80 Exercícios ........................................................................................................................ 80 TEMA – VI: AS FORMAS DE GOVERNO E DE ESTADO 80 UNIDADE Temática 6.1. AS FORMAS DE GOVERNO E DE ESTADO: INTRODUÇÃO ........ 81 Introdução ............................................................................................................. 81 Sumário ........................................................................................................................... 89 Exercícios de Auto Avaliação.......................................................................................... 89 Respostas ........................................................................................................................ 89 Exercícios ........................................................................................................................ 90 TEMA – VII: OS SISTEMAS ELEITORAIS 91 UNIDADE Temática 7.1. OS SISTEMAS ELEITORAIS: INTRODUÇÃO ................................ 91 Introdução ....................................................................................................................... 91 Sumário ......................................................................................................................... 100 Exercícios de Auto Avaliação ........................................................................................ 100 Respostas ...................................................................................................................... 101 Exercícios ...................................................................................................................... 101 TEMA – VIII: A DEMOCRACIA E A PARTICIPAÇÃO POPULAR 102 UNIDADE Temática 8.1. A DEMOCRACAI E A PARTICAPAÇÃO POPULAR: Introdução. 102 Introdução ..................................................................................................................... 102 Sumário ......................................................................................................................... 117 Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 119 Respostas ...................................................................................................................... 119 Exercícios ...................................................................................................................... 120 Preparação para Exame ................................................................................................ 121 Bibliografias .................................................................................................................. 122 ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 1 Visão geral Bem vindo ao Módulo de Ciência Política Objectivos do Módulo Ao terminar o estudo deste módulo de Ciência Política deverás ser capaz de analisar os elementos que compõem o pensamento político identificando a aplicabilidade da disciplina na sua formação. Traçando um perfil histórico dos principais factos, autores e temas. As ciências sociais visam estimular o senso crítico e ampliar as ferramentas de análise social do educando. Objectivos Específicos Conhecer as principais correntes ideológicas do pensamento político; Entender a dinâmica das relações de poder inerentes à organização social; Apreender a traçar um olhar crítico sobre a história; Conhecer os principais pensadores do Pensamento Político; Compreender o papel das instituições e do Estado; Propiciar a reflexão, teórico e crítica para a intervenção nas expressões da questão social. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais do ISCED e outros como, Administração, etc. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 2 sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. Como está estruturado este módulo Este módulo de Ciência Política, para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades práticas algumas incluído estudo de casos. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 3 Outros recursos A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si, num cantinho, mesmo o recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza nas bibliotecas física e virtual do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 4 Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico- pedagógica, etc sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações, o próximo módulo venha a ser melhorado. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 5 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagemconfere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se existir. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando, estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 6 Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 7 Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 8 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: como é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 9 Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas,o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 11 TEMA – I: INTRODUÇÃO: CONSIDERAÇÕES GERAIS UNIDADE Temática 1.1. Abordagem Conceitual sobre a Política e a Ciência Política UNIDADE Temática 1.1.1. Política e a Academia UNIDADE Temática 1.2. EXERCÍCIOS UNIDADE Temática 1.1. ABORDAGEM CONCEPTUAL SOBRE A POLÍTICA E CIÊNCIA POLÍTICA: Introdução Introdução O interesse da unidade que segue é apresentar a Política enquanto uma ciência de cunho social. A política em seu sentido científico, académico, que se inter-relaciona com diversas áreas do saber: o direito, a filosofia, etc. Mantendo um objecto de análise específico acerca do qual só ela se debruça. O Estado é o objecto peculiar pelo qual nasce esta ciência com métodos, conceitos e perspectivas de análise que enriquecem o cenário contemporâneo. Fazendo-se preocupada com as relações de poder e com a condução do Estado, teorizando acerca deste e apresentando algumas consequências para o sistema de governo. A ciência política estuda as formas de governo e sua adequação às expectativas populares, às formas de soberania e às suas possibilidades dentro do regime democrático. Ao completar esta unidade, você será capaz de compreender o carácter da representatividade com o qual somos contemplados pela política partidária e pelos políticos eleitos. E assim, através das directrizes de estudo dessa área de conhecimento, acentuamos esse espelho que nos conforta e enriquece nas possibilidades abertas pela trama da estrutura social. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 12 1.1.1. Política e a Academia O nascimento da Ciência Política é associado a duas outras ciências: a sociologia e a antropologia. As três caracterizam as Ciências Sociais em vista de abranger tanto a integralidade do fenómeno social, quanto pelas especificidades que acompanham cada sector desse conhecimento que busca atender às microestruturas e suas especificidades. A Ciência Política detém-se no estudo de fenómenos sociais como organizações, processos políticos e nos sistemas que são gerados dentro das relações de poder. Estes fenómenos caracterizam o que geralmente chamamos de Política. Dois elementos são destacados para assentar as bases da sua pesquisa, o Estado e o poder. Cientistas políticos se dividem em considerações e análises para fundamentar suas posturas a partir de um ponto de origem, desdobrando diversas reflexões. Mas toda e qualquer instituição pode ser objecto de análise desta ciência. Objectivos Definir o conceito de Ciência Política; Definir o conceito de Política; Entender a Política como ciência; Identificar o objecto de estudo da Ciência Política; Aplicar os conhecimentos da Ciência Política e explicar a sua finalidade; Entender e aplicar os princípios da Ciência Política. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 13 Enquanto uma ciência social, a política visa uma intervenção directa na realidade. Possui um carácter prático que a acompanha e que conduz o pesquisador a desdobrar-se em meio a metodologias variadas, muito estudo de caso, diversas formas de pesquisa participante. O processo político e suas implicações tornam-se ponto de questionamento e análise. Mas a complexidade vai estar em presenciar e ao mesmo tempo descrever tais factos e acontecimentos. O envolvimento e o público pelo desfecho faz com que o cientista político se avalie sempre, em vista das consequências que sua análise possa apontar. Pois suas teorias são a base para reflexão e articulação de outros sectores ou profissionais que não lidam com esse fenómeno de forma directa. A preferência de percepção gera obstáculos que nos remete às possibilidades de neutralização que um cientista possui em relação ao seu objecto, podendo, assim, validar suas conclusões e afastar-se das concepções pré-concebidas. Daí a importância de uma metodologia bem estabelecida e dos processos interpretativos voltados para a realidade dos discursos. Segundo Bonavides (2010: 38), a Ciência Política possui algumas dificuldades terminológicas que precisam ser visualizadas para construirmos mais certezas em torno da sua constituição e aplicação. Destas dificuldades destacam-se: O carácter móvel e variável do vocabulário político; As variações semânticas dos termos de que se serve o cientista social de um país para outro; Os casos distintos, por exemplo, os vários sentidos de democracia, que gera um caos aos esforços de fixação conceitual. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 14 Parece que lhe falta uma nomenclatura que permita às pessoas de um modo geral inteirar-se, mesmo com dificuldades, em relação a certas definições conceituais inerentes, como quando se fala de governo, nação, liberdade, democracia, que não se fixam numa única terminologia. Facto que agrava uma compreensão mais usual para que as questões não recaiam apenas no meio académico. Bonavides (2010: 26-27) faz uma abordagem histórica encontrando em diferentes autores directrizes variadas para compreendermos o que é ciência. Traçando um percurso de definições significativas que vão de Aristóteles a Comte, ou seja, definições que se sucederam desde o séc. III a.C até o séc. XIX, com o positivismo. Assim, os autores e suas definições são esboçados do seguinte modo: Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C) considera ciência a análise que detinha os princípios e as causas por objecto. Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274) definiu-a como a assimilação da mente direccionada ao conhecimento do mundo. Wolff (1679 - 1754) compreendeu como aquilo que se liga a princípios certos e imutáveis, apresentado pelo hábito de demonstrar afirmativas e inferências. Kant (1724 – 1804) diz que a ciência é tudo que possa ser objecto de certeza apotídica2, ou seja, necessário e demonstrável. Age sistematizando conhecimentos a partir de princípios. Littré (1801 – 1881) a ciência é a generalização da experiência, e a filosofia, a generalização da ciência. Separando a ciência da filosofia, a segunda é caracterizada como conhecimento 2 Kant emprega-a no sentido dos juízos que estão acima de qualquer contradição, que são necessariamente verdadeiros. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 15 unificado dos fenómenos que servem de objecto a toda actividade cognoscitiva. Spencer (1820 – 1903) recorre à simplicidade. Segundo ele, há três variantes do conhecimento: empírico – não unificado; científico – parcialmente unificado; e filosófico – totalmente unificado. Comte (1798 – 1857) as ciências podem ser abstractas e concretas, Estas últimas consideradas como ciências fundamentais. Através da análise das políticas a Ciência Política apresenta teses que são caracterizadas como positivas, quando se detém no exercício de análise e normativas, quando alça previsões acerca de situações determinadas. Medir o grau de sucesso de um governo, das políticas implementadas, o grau de estabilidade, elementos como justiça, bem- estar social, paz, entre outros. São tarefas que requisitam ferramentas metodológicas e pesquisas bem incisivas sobre a realidade estudada. A pesquisa, dentro desta área pode ser desdobrada pelas seguintes perspectivas: Pela via teórica da política, enquanto opção de pesquisa de uma dada realidade, configurando-se através da identificação de certos fenómenos que são explicados em função dos elementos teóricos que norteiam a percepção do pesquisador. Pela pesquisa descritiva, de carácter apenas empírico tomando o fenómeno da política através dos acontecimentos, consequentemente procede de maneirabem mais detida a colecta de dados, assumindo-a como o seu ponto mais forte para aproximar-se o máximo possível da realidade. Pela pesquisa comparada, que possui como elemento positivo a delimitação necessária para o procedimento de análises comparativas. Sobressaem os elementos e as realidades sócio- históricas são mediadas para ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 16 que os dados empíricos sejam verdadeiramente compreendidos dentro das suas possibilidades, entrevistas no próprio sistema. Identificam-se elementos generalizáveis e os singulares. Bonavides (2001: 40-45) nos convida a compreender essa ciência por prismas diferenciados, para entendermos, para sua origem e sua abrangência. Identificando sentidos multidisciplinares que a envolvem. Sob o prisma filosófico: o seu estudo detém-se nos acontecimentos, instituições e ideias. Tanto em sentido teórico como em sentido prático. Abrangendo períodos históricos distintos, pois sua investigação não se restringe apenas a um tempo específico. Partindo de conceitos polémicos no que diz respeito ao método e à extensão de seus limites. A filosofia quando lança seu olhar sobre a Ciência Política traz a discussão de suas proposições, das afirmativas que lhe garantem um fundamento epistemológico. Polemiza sua origem, sua essência. Diversos filósofos se destacam na reflexão acerca da política desde os gregos antigos até os pensadores do século XVII, os filósofos da política que criaram as bases para o surgimento da ciência. Sob o prisma sociológico: dois autores são destacados pela iniciativa de sua análise, Max Weber (1864 – 1920) e Vierkandt (1867 – 1953). O primeiro, Max Weber, por iniciar estudos referentes à política científica, destacando a racionalização do poder e a legitimação das bases sociais. Identificando as nossas relações com os aparelhos burocráticos do Estado. Além do que, Weber descreve o interior dos partidos e sua organização, suas técnicas de combate e liderança, entre outros procedimentos. As formas de autoridade e a administração pública, que gozam de grande privilégio na literatura sociológica. O segundo, Vierkandt, expõe o carácter clássico do Estado e da sociedade, as lutas pelo poder na sociedade moderna. Explicita os ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 17 parâmetros nos quais se baseiam os partidos como representação de interesses, e os movimentos reformistas característicos do século XX. Sob o prisma jurídico: destaca-se Kelsen pelos estudos que realiza acerca da teoria do Estado. Este autor desenvolve uma tendência exclusivamente jurídica para o fenómeno da política. Para ele, o Estado se traduz como organização do poder e por isso o seu estudo deve se desfazer de toda a subjectividade. Reflecte sobre o Território e a população pelos elementos materiais que os compõe. Convertendo a problemática para o âmbito espacial e o âmbito pessoal de validade do ordenamento jurídico. Através da sua teoria, o normativismo jurídico e o escalonamento das leis dentro do sistema tornam-se o foco principal para o estabelecimento das relações de poder. Na actualidade uma das tendências que mais tem reflectido entre os teóricos da Ciência Política tem sido a perspectiva tridimensional. Nela está presente o interesse em construir uma visão unificada destes elementos que no decorrer da história pareciam não se ajustar nas suas tendências epistemológicas. Assim, em lugar de se falar de filosofia política ou sociologia política busca-se manter como parâmetro a teoria social jurídica e a teoria filosófica dos factos, das instituições e das ideias. Expostas numa ordem enciclopédica. Mantendo-se a possibilidade de uma mesma que tão mantenha enfoques distintos que não se anulam pela força do outro. Sumário No decorrer das nossas leituras conseguimos estabelecer algumas crenças acerca do problema da política. Identificamos que para falar desse assunto precisamos ampliar nossa percepção identificando que este fenómeno social representa algo muito maior que a participação neste ou naquele partido. O interesse comum revela sempre a política. Neste sentido, ela está ligada às coisas ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 18 mais quotidianas. A origem da ideia de política remonta aos gregos da antiguidade. É algo que aponta para a nossa condição de cidadãos, de participantes da cidade. Aqueles que geralmente não se interessam pela política, pensando que sua manifestação única é a institucional, esquecem-se que já estão desde o princípio previstos e formam um grupo selectivo aos olhos dos “políticos profissionais”. Quem pensa que política não lhe diz respeito aliena-se diante das suas possibilidades. A política é um exercício de sociabilização. Leva-nos a assumir papéis e valores que nos distinguem. Através da política compomos os movimentos sociais que representam a principal reacção ao tipo de mudança social provocada pela industrialização. Desse modo, os movimentos elegem seus interesses e propõem mudanças para a sociedade. No século XX temos uma multiplicação dos movimentos sociais que eclodem por todo o mundo. A descentralização é elemento primordial para construção de novas políticas. Por mais que se trate da política no seu sentido vulgar, sabemos que diversas pessoas se fascinam com a política em vista de ela oferecer oportunidades de controlo e manipulação. Por ela oferecer a condição de singularidade para o líder. O poder político é fonte de assédio e disputa. O facto de agir sobre os interesses comuns faz com que a acção política expresse um poder muito peculiar que se desdobra de diversos modos. Diríamos até que, em certos momentos, a política torna-se sinónimo de poder. Este promove a coesão do grupo, reforçando os laços de solidariedade necessários à manutenção de uma organização social. Duas formas de poder se destacam: o poder de fato, que diz respeito à força e o poder de direito, que diz respeito à competência. Também o poder aponta para dois princípios fundamentais: o da legalidade que revela o aspecto formal e o vínculo que o poder possui com as leis, e o da legitimidade. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 19 Exercícios de Auto-Avaliação 1. Defina Conceito de Ciência Política. 2. Defina o Conceito de Política. 3. Apresente as dificuldades terminológicas da Ciência Política. 4. Qual a finalidade da Politica enquanto Ciência Social. 5. Descreva o objecto de estudo de Ciência Política. 6. Apresente as teses positivas e normativas da ciência política. Respostas 1. Resposta de Exercício 1, página 12 2. Resposta de Exercício 2, página 12 3. Resposta de Exercício 3, página 15 4. Resposta de Exercício 4, página 13 5. Resposta de Exercício 5, página 12 6. Resposta de Exercício 6, página 15 Exercícios 1. Identifique os principais conceitos Ciência Política. 2. Reúna uns cinco conceitos, que fazem parte da Ciência Política. 3. Busque os significados da ciência política a partir de autores diferentes e perceba como cada autor se apropria de forma diferente para falar do mesmo assunto. 4. Identifique os princípios da Ciência Política. 5. Identifique as dificuldades terminológicas da Ciência Política. 6. Apresente as dificuldades terminológicas da Ciência Política. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 20 TEMA – II: PRINCIPAIS TEORÍCOS DA CIÊNCIA POLÍTICA UNIDADE Temática 2.1. Teóricos Clássicos da Ciência Política UNIDADE Temática 2.1.1. Maquiavel: A Política Moderna UNIDADE Temática 2.1.2. Hobbes: O Leviatã UNIDADE Temática 2.1.3. Locke: A Propriedade UNIDADE Temática 2.1.4. Rousseau: A Igualdade UNIDADE Temática 2.2. EXERCÍCIOS UNIDADE Temática 2.1. TEORÍCOS CLÁSSICOS DA CIÊNCIA POLÍTICA Introdução A leitura dos clássicos da política se impõe como uma forma de abranger as bases nas quais se consolidou o pensamentomoderno, tocando em temas e questões que repercutem até os dias actuais. Chamamos de clássicos aquelas leituras de formação pelas quais um conhecedor de determinada área, inevitavelmente, irá fazer referência. Atribuímos a estes uma riqueza muito peculiar porque compõem a base da nossa tradição. Não envelhecem, não são esquecidos, não caducam em vista das necessidades dos nossos dias. Calvino (1923-1985), ao deter-se sobre o tema, diz que toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira. A partir deles encontramos as análises que precederam a nossa e os vestígios de uma cultura, refeitos através dos sentidos expostos nas interpretações que se sucederam até o momento actual. Somos remetidos a uma árvore genealógica. E a cada nova descoberta um novo aprofundamento. Com os clássicos da política identificaremos os principais pensadores, “clássicos da modernidade”: Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau. Cujas teorias permanecem como fundamentais para a compreensão do tema da política. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 21 2.1.1. Maquiavel: A Política Moderna Aspectos biográficos: Nicolau Maquiavel (1469 - 1527) é um dos principais escritores do pensamento moderno. Nasceu em Florença, na Itália. Desde pequeno conviveu com os livros e, aos treze anos, dizem os biógrafos, já redigia em latim. Na idade adulta exerceu funções ligadas à diplomacia durante sua carreira pública, manifestando verdadeira vocação. Mas foi também preso e torturado quando seus opositores estiveram no poder. Por muito tempo ficou num exílio, esquecido por todos que leram suas obras. Figura 1: Nicolau Maquiavel (1469 - 1527) Fonte: www.biography.com/people/nicolau Objectivos Conhecer os principais pensadores do Pensamento Político clássico moderno; Identificar os principais conceitos apresentados pelos autores; Aplicar as teorias apresentadas pelos autores; http://www.biography.com/people/nicolau ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 22 Elaborou uma nova compreensão da questão política, tornando-se um divisor de águas entre o pensamento medieval e este, inaugurado a partir das suas considerações. Desvincula completamente as acções políticas das imposições religiosas, reinterpretando o verdadeiro significado do “bem” e do “mal” em vista da especificidade desta área. Ao despertar esta nova percepção contribui significativamente para a posteridade, tornando-se marco para a história do pensamento moderno. Foi um grande pesquisador do comportamento e das estruturas de poder, possuindo uma capacidade singular de associar situações da sua época a acontecimentos históricos, prevendo certas consequências necessárias através da sua vivência nos bastidores das instituições governamentais. O que lhe ofereceu a possibilidade de observar de forma clara e privilegiada as dicotomias com as quais sua época escolhia algo como elogio, ou ao contrário, desprezava certas iniciativas. Contexto Histórico: Encontra-se no período renascentista num momento de transição em que um governo de carácter medieval não consegue dar conta das expectativas da população em geral. No início do século XVI a Itália estava dividida em pequenos principados, que tentam superar a fragmentação do poder. Os governantes eram na sua maioria déspotas que não advinham de uma tradição, mas da usurpação do poder pela força e pelas armas. Grupos de mercenários se articulavam, sendo imprescindíveis para aqueles em ascensão. Dessa forma, tanto a conquista quanto a manutenção do poder são reflexos de uma condição instável. Promovia-se a rivalidade que repercutia na instauração de um caos na população. Maquiavel constata que o vazio que se instalava e crescia era fruto da ausência de um poder central. O caminho mais ajustado ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 23 para resolução desta condição era a reunificação do Estado. Mas, as articulações políticas implementadas para reaver a unificação não estavam repercutindo. O renascimento é caracterizado por um movimento cultural, mas também um período da história europeia. E enquanto limite da transição do período medieval para o moderno, desbrava percepções e posturas que não eram assumidas como costume. Atinge seu ponto alto na Itália, estimulando pensadores, poetas, pessoas que almejavam a liberdade de pensamento. Há uma gama de transformações que apontam para rupturas. Teoria Geral: Maquiavel inaugura uma espécie de realismo político, pelo qual justiça e moral não constituem factores de restrição à acção política. Suas teses são acompanhadas de uma compreensão de verdade efectiva, que se distingue da verdade metafísica. Através da verdade efectiva é que a busca do pesquisador se orienta pelo que está posto e não pelo que deveria ser. Nela encontra-se um certo pragmatismo que sempre acompanha as análises do autor. Há uma percepção muito bem marcada de que a bondade pode levar um governante à ruína, do mesmo modo que a maldade e a crueldade podem ser factores definitivos para se ascender ao poder. Deste modo, as conquistas na esfera política devem ser determinadas numa dimensão muito específica. Principal Obra: O Príncipe, destacado na literatura política porque inova quanto ao olhar acerca da realidade política. Esboça diversas situações que nos levam a entender como “os fins justificam os meios”. Seu autor apresenta de forma peculiar os conhecimentos que possuía da política, uma subtil conciliação entre a sabedoria dos antigos e as posturas dos chefes de Estado do seu tempo. Destaca que o objectivo do governo é perpetuar-se no poder, não restringindo os meios necessários para tal feito. O livro traz conselhos, reflexões e ponderações acerca de situações e acções que envolvem as teias do ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 24 poder. Segundo estudiosos do pensamento de Maquiavel, o interesse maior da sua obra é a reunificação da Itália. Por isso analisa os principados com aprofundamento e tenacidade, identificando suas características, destacando aqueles que são mais ou menos passíveis de dominação. Propõe formas de controlo e enfatiza as possibilidades de fortalecimento das leis. Embora a obra não tenha gozado de grande reconhecimento durante o período de vida do autor, torna-se posteriormente fonte de elogios ou controvérsias. No decorrer da história os nomes que estiveram ligados a regimes absolutistas e totalitários sempre foram associados às ideias e previsões já lançadas nas suas páginas. Principais Conceitos: O príncipe deve ser o sujeito principal no encaminhamento da acção política, porque é aquele que possui a virtude. E, por isso, conhece as situações, podendo transferi-las ao seu benefício, ao favor dos seus interesses. Ele não espera que a sorte, a fortuna, lhe agracie. Não se prende ao acaso, mas se este ocorre deve saber usar seu intento. Ser virtuoso significa direccionar a vontade para um objectivo definido e não se dispersar em possibilidades vagas. Todavia a virtude é mais do que simples interesse, é uma espécie de energia que impulsiona e motiva, o líder e os seus subordinados. A fortuna, que é sinónimo de sorte e acaso, termina sendo o verdadeiro momento em que a virtude se revela, pela sua aplicação, a direcção, ou melhor, o andamento para a obtenção dos objectivos. O governante, ainda que não se confie na sorte, usa-a em favor da sua causa. Maquiavel afirma que, dentre as qualidades inerentes a um governante, uma delas deve ser a generosidade. Mas com certa ponderação, porque sempre se calcula o prejuízo ou o benefício que certa reputação pode causar. Entre o amor e o medo dos súbditos, ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 25 mais vale ser temido, para que as condições de manutenção do poder não sejam abaladas. O amor oscila conforme ascircunstâncias, mas o temor mantém-se, destaca-se no mais das vezes o seu interesse pela manutenção do poder enquanto ponto crucial do seu pensamento político. O interesse do autor é o Estado, mas não como uma idealização que possa prover as condições perfeitas de existência. Reivindica aquele Estado capaz de impor a ordem e por isso analisa detalhadamente a realidade corrente, procurando ver as coisas como são e não como gostaríamos que fossem. Desse modo, o desafio do governante virtuoso é estabelecer a ordem diante de uma dada realidade, atingindo sua estabilidade. Esta é reivindicada não por uma questão de moralidade, ou seja, para simplesmente ajustar as coisas no seu devido lugar, mas para evitar a barbárie. Ele percebe que, mesmo alcançada uma vitória, esta não será definitiva, pois a acção política não se esgota na obtenção de um feito, mas somente na sua manutenção. O momento de êxito só pode ser garantido pela perspicácia do príncipe que se renova a cada novo momento. Maquiavel revoluciona sua época presa a dogmas que diziam respeito a crenças como predestinação, fatalidade. Sua contraposição o fez abarcar a ideia de política para demonstrar como esta é um espaço da liberdade. E que liberdade não corresponde a ter que fazer o bem, mas sim, o que for necessário, a partir da virtude de cada um. Desse modo deve-se ver os seres humanos como sujeitos da história, afastando-se das ideias que pregavam um destino. 2.1.2. Hobbes: O Leviatã Aspectos Biográficos: Thomas Hobbes (1588 - 1679), nasceu em Westport, Inglaterra. Filho de um vigário anglicano, formou-se na ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 26 Universidade de Oxford. Embora tenha tido uma educação presa aos princípios Escolar: metafísica e lógica, interessou-se sempre por questões de ordem social, o que reflectiu na publicação de suas obras políticas. Esteve sob o olhar severo das autoridades que o acompanhavam ao longe por suspeitas dos seus ataques sobre o poder do papado. Manteve politicamente convicções de cunho monarquistas e as imprimiu na elaboração das suas obras. É um dos pensadores do século XVII ligado ao jus-naturalismo, dedicando-se, entre outros conhecimentos, ao estudo do direito e à inserção deste na vida social do cidadão. Enfrentou as críticas da Universidade de Oxford ao seu pensamento, que consideravam ultrapassado. Figura 2: Thomas Hobbes (1588 - 1679), Fonte: www.biography.com/people/thomas-hobbes Contexto Histórico: No século XVII consolidam-se algumas percepções e posturas em relação à ciência e sua permanência na vida das pessoas de um modo geral. Mas ainda repercutem fortes exigências religiosas, resistindo considerações em torno da submissão do Estado à autoridade da Igreja. Hobbes pensa o contrário e não mede esforços para demonstrar a verdade na qual amparava seu pensamento. Para ele o Estado não é criação da vontade de Deus, é um artifício e deve ser tratado como tal. http://www.biography.com/people/thomas-hobbes ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 27 Teoria Geral: Sua teoria procura centrar-se numa visão realista da vida, insistindo em pensar o ser humano sem as ilusões habituais que lhe agregam. Buscando compreender a realidade social e política através da natureza humana e das possibilidades de construção de um direito que possa dar conta das verdadeiras necessidades sociais. Daí o carácter do seu racionalismo, que pretende perceber a sociedade através do mecanicismo, ou seja, através das leis mecânicas da natureza, que também são reveladoras das particularidades da natureza do ser humano. Sendo adepto do Empirismo, Hobbes elabora uma filosofia materialista e mecanicista. Detém-se por diversas vezes em considerações acerca da fisiologia e da acção de certos órgãos para explicar a origem do conhecimento, dos sentimentos. Partindo do pressuposto de que os seres humanos não possuem um instinto de sociabilidade, de que não somos sociáveis por natureza, senão por acidente, por artifício, é que se reivindica a necessidade de um contrato entre todos os indivíduos, em função do surgimento do Estado. O seu realismo lhe rende a fama de ateu e diversas interpretações distorcidas dos seus verdadeiros interesses. A tese que defende é uma construção hipotética, ou seja, não parte de uma situação real concreta, mas de uma apurada racionalização acerca da realidade, intuindo metáforas para que a mesma realidade possa ser compreensível. A ideia principal é de que a humanidade estaria dividida em dois momentos, um primeiro que seria o estado natural, em que o poder real de cada indivíduo demarca seu espaço e suas possibilidades. E o segundo momento que se estabelece com o Estado Político, em que cada qual passa a gozar da mesma medida de poder e de força, o que garante a todos as mesmas condições de conservação e manutenção dos interesses pessoais. Principal Obra: Sua obra principal é o Leviatã, na qual lança as bases de compreensão da formação da sociedade civil, estabelecendo a ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 28 melhor forma com a qual o Estado pode se manter absoluto e firme diante das adversidades. Hobbes é o teórico que através de suas considerações engendra a teoria segundo a qual o Estado originou-se do contrato, influenciando posteriormente diversos autores. A metáfora do corpo serve-lhe de auxílio para identificar funções e características inerentes aos órgãos, às instituições que compõem a estrutura do Estado. A soberania é a alma, os magistrados são os nervos, os indivíduos prósperos são a força, os conselheiros são a memória, as leis e a concórdia são a saúde, a sedição é a doença e a guerra civil, a morte. Eis o Leviatã, o grande monstro anunciado no livro da bíblia que serve de metáfora para se entender a sociedade organizada através do contrato social. Todo o texto lança a exigência de se conhecer de forma directa o género humano. Para que dessa forma se compreenda também o fim para o qual o Estado foi criado. Assim, o autor não se poupa em caracterizações de termos e definições minuciosas, conforme foi exposto na compreensão do Estado como um corpo em funcionamento. Neles há uma lógica pura e correctamente racional. Principais Conceitos: A constatação mais definitiva que este autor possui é a de que em Estado de Natureza todos os seres humanos são inimigos, pois as pessoas conviveriam sem a autoridade, onde tudo seria de todos e por isso não existiria a propriedade. De um modo geral as pessoas estariam procurando a sujeição do outro e em última instância, sua morte. Essa condição tem como consequência a infelicidade generalizada. Assim, “o homem é o lobo do próprio homem”. Frase célebre que nos impulsiona para sua teoria imediatamente. A guerra de todos contra todos. Os seres humanos em estado natural são iguais, o que pareceria positivo, repercute de outro modo a partir dessa compreensão de natureza humana. Somos iguais na nossa capacidade de ultrapassar o outro, nas predisposições ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 29 egoístas que mantemos em função da nossa própria preservação. A igualdade é que faz a nossa infelicidade porque repercute como igualdade para a guerra. A força é saudada como necessária à auto conservação de cada um dentro das suas necessidades. Mas nesta esfera não vale apenas ter maior força física, pois a astúcia tem grande valia para as situações de risco. No caso da política, as alianças e os conchavos fazem com que um indivíduo fraco fisicamente possa tornar-se muito forte. Por isso o direito também implica na força para exercício do ordenamento. Diante destas constatações cabe a renúncia mútua da sua condição natural e o encaminhamento para o contrato que se inicia com a promessa do cumprimento por parte de todos. Há um desdobramento em que a análise do Estadode Natureza nos conduz à compreensão da Natureza do Estado. Para Hobbes, o pacto de renúncia às liberdades individuais é o anúncio da acção que irá compor o contrato social. O pacto é a alienação de poderes, pelo qual o indivíduo delega ao Estado suas predisposições, cada qual deixando de ser um obstáculo para o outro para que todos possam manter intacta a sua auto preservação. O que obriga as pessoas a compactuarem e a legitimar a autoridade política do contrato social é, senão, o medo. A segurança e a paz só são estabelecidas diante da renúncia do direito que todos possuem sobre todas as coisas. Tal renúncia é em favor da constituição de um Estado e da liderança soberana de um governo. Hobbes pensa a soberania como um elemento primordial para a construção do Estado. Neste sentido, condena a divisão dos poderes, pois apenas um poder soberano seria necessário para evitar a guerra, o conflito e até as dissonâncias. Ainda que a soberania constitua uma forma de poder absoluto suas directrizes apontam para uma origem natural e não sobrenatural ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 30 como se justificou durante toda a idade média o privilégio do poder dos reis. Mesmo utilizando metáforas bíblicas na escrita de suas obras, o que se constrói é um discurso fora da dimensão religiosa. O soberano não tem qualquer compromisso em relação aos seus súbditos que o elegeram, não lhes devendo em absolutamente nada, ao contrário, os súbditos é que dependem deste para manter-se preservados. Seu direito é proporcional em extensão ao seu poder e à sua vontade. Pois o soberano é absoluto. O seu direito corresponde à sua força, monopolizando-a por ser o próprio Estado. O Estado é o Leviatã, um monstro bíblico que pela importância e força, submeteria todos ao seu controle. Ele é um artifício e nesta artificialidade se concentra o grau da sua monstruosidade. É a concretização de algo que excede a vontade e o poder dos homens de um modo geral e, por isso, encaminha todos para a paz, obrigando-os a tal condição. O Estado surge para afastar o medo e assegurar a auto preservação, estando acima dos interesses de cada cidadão e por isso podendo garantir a paz. 2.1.3. Locke: A Propriedade Aspectos Biográficos: John Locke (1632-1704) é outro pensador do século XVII. Aliás um século bem expressivo em número de pensadores e teorias, que lança as bases para o empirismo inglês e procura compreender o problema do surgimento do Estado. Nasceu na cidade de Wrington, Inglaterra em uma família de comerciantes. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 31 Fonte 3: John Locke (1632-1704) Fonte: www.biography.com/people/john-locke Dedicou-se não apenas à filosofia, mas às ciências naturais, à teologia, à medicina e à anatomia. Embora não tenha expressado interesse pelas matemáticas e pela ciência de Galileu, foi premiado com o título de Master of Arts. Membro da Royal Society de Londres, tornou-se médico de um nobre chamado Ashley Cooper, conde de Shaffesbury, com quem dividiu muitas das suas ideias políticas. Contexto Histórico: A modernidade se auto afirma no século XVII. Os autores, de um modo geral, dizem que é lá que se inicia propriamente a filosofia moderna. Algumas descobertas científicas e o predomínio da racionalidade educando as esferas sociais marcam este período. Embates entre empiristas e racionalistas fazem inaugurar o método e sua aplicabilidade nas esferas comuns do quotidiano. Abandona-se a figura excêntrica do sábio medieval e instaura-se o cientista e suas metodologias de aproximação da realidade. Tais transformações são acompanhadas de revoluções, como a revolução puritana, pela qual as atitudes do monarca são postas em cheque pelo parlamento, anunciando uma mudança definitiva na esfera política da Inglaterra. Outro grande facto presente neste período diz respeito à revolução http://www.biography.com/people/john-locke ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 32 gloriosa em 1688, que procurou a derrubada do governo absolutista que havia sido implantado, colocando em ascensão a política parlamentar. Foi a tomada de poder por Guilherme de Orange, que fez com que o parlamento promulgasse a Carta de Direitos, tornando este o órgão máximo da administração do Estado. A burguesia em ascensão liderava as campanhas pela mudança do regime, assumindo o partidarismo liberal. O liberalismo predominante implantava, assim, uma defesa explícita da liberdade individual em diversos sectores da vida humana. É o advento da livre iniciativa que se estenderá até os nossos dias desdobrando-se através da lógica do capital. Teoria Geral: Locke é um pesquisador atento, interessando-se pela condição humana, por desbravar os mistérios da natureza e do mundo, e desvendar o tipo de compreensão que se estende a Deus. Seus pensamentos vão ter permanência nos ideais iluministas do século posterior. Desenvolve uma teoria para melhorar o uso do intelecto, o entendimento do mundo e sua interpretação. Afirma que todo conhecimento deriva da prática e que a experiência constitui fonte e limite para o intelecto. Assim, aquilo que o espírito alcança é objecto imediato da percepção e nesta se pauta o pensamento. Diz os pensadores, que antes da experiência somos como uma folha em branco, uma tábua rasa, pois ela imprime nossas percepções da realidade. Há experiências que são internas e externas. As primeiras dizem respeito à reflexão e às articulações do entendimento. As segundas dirigem-se à identificação de elementos: cores, sons, sabores, o movimento, etc. A partir dessas experiências formulamos ideias e percepções distintas da realidade, as representações são obtidas via percepção, mas vinculadas em última instância à experiência. No fundo, nossas ideias originam-se daquilo que nos oferece os sentidos. As ideias advindas da experiência podem ser simples, complexas e ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 33 algumas que são combinações destas duas. O que se diferencia é a postura do engenho. Ele é passivo diante das ideias simples, ou activo com as complexas, produzindo sínteses, inspirando relações, desenvolvendo análises. Locke não admite que a origem das ideias seja algo inato ao ser humano, ou seja, que as ideias permaneçam nos indivíduos desde o seu nascimento. Para ele tudo advém da experiência. Assim, não nascemos com certas orientações, elas se constituem no contacto com o mundo. A capacidade inata é fonte de preconceito conduzindo ao dogma individual. Argumenta que é impossível existir algo inato sem que o indivíduo seja consciente disso. O conhecimento diz respeito a uma aplicabilidade prática que nos remete à experiência. Mesmo as ideias mais abstractas possuem uma validade no sentido de orientar as pessoas a se conduzirem na sua vida. Percebe a filosofia com um fim prático, num sentido moral oferecendo as regras racionais para a vida e a condução das acções. O autor destaca que nem mesmo a moral tem uma origem permanente nas pessoas. Ela advém do conhecimento, da lida racional que os indivíduos mantêm entre eles mesmos. Locke aborda a questão do surgimento do Estado por uma via bem específica, que é o direito natural. Para este autor o Estado nasce de um acordo no seio da sociedade civil. É uma tomada de decisão que advém da experiência, do contacto e da consciência constituída pelos seres humanos no decorrer do tempo. Através do seu empirismo a teoria do conhecimento e teoria política desfrutam do mesmo princípio. Suas ideias expressam a teoria do constitucionalismo liberal inglês. Principal Obra: Destacam-se entre seus escritos os dois Tratados sobre o Governo, nos quais critica a relação entre política e religião. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 34 Para este autor a política é verdadeiramente uma invenção humanae não possui relação com elementos divinos. Há neste sentido uma crítica à tradição dos reis e à condição na qual se preservava a política medieval. Ao situar a religião no seu devido lugar estabelece, em sua perspectiva racionalista, a tolerância como o limite entre as particularidades inerentes à dimensão da fé e o tipo de intervenção que estas devem exercer sobre os indivíduos na sua vida social. Ao mesmo tempo distingue e delimita o que lhes cabe e o que cabe ao Estado, dissociando-os profundamente. Os ideais de Locke incidem na fundamentação da teoria do Estado liberal e na necessidade da propriedade privada. Tais ideais fazem rejeitar qualquer forma de monarquia ou qualquer estabelecimento de um poder absoluto. Toda sua teoria política visa a conciliação da liberdade com a manutenção da ordem, fazendo com que o indivíduo se situe verdadeiramente enquanto cidadão. E tal obra só é possível através do direito, das leis bem regidas e fundamentadas no direito natural. Desse modo busca configurar as leis e os Estados em função de garantir o respeito aos direitos naturais, pensando assim estar garantindo a própria vida e a possibilidade da própria vida social, tornando-se este facto um único motivo de ser de um governo. Caso não se assuma tal meta, o povo pode derrubar o governo para substituí-lo por outro mais competente. Este carácter dos seus escritos sempre foi motivo e inspiração para os líderes revolucionários no decorrer da história. Principais Conceitos: O Estado natural é caracterizado antes de tudo pela abundância revelada na natureza. A terra, os frutos e tudo o mais supre e garante a sobrevivência de todos os seres humanos. A nossa relação directa com estes bens não apenas garante a auto preservação, mas também a liberdade, a igualdade e a independência, tão necessárias à vida, sendo a propriedade muito mais que a simples ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 35 posse de algo. Mas bens tanto materiais como imateriais: a vida, a saúde, a riqueza, a felicidade são alguns dos exemplos da propriedade. A relação do indivíduo para com esta é mediada pelo trabalho. A dedicação ao trabalho repercute na propriedade. E o direito ao fruto do trabalho é algo que nos deve ser assegurado. Tal condição está até hoje como princípio básico do capitalismo liberal. Em estado de natureza somos bons e vivemos em paz, diz Locke, porque estamos em posse da nossa propriedade. A natureza é sempre exemplar, demonstra leis que possuem virtude e sentido. Apresenta uma lógica calcada em causas e consequências e que podem ser apreendidas através da experiência do indivíduo. Desse modo, ela apresenta o sentido privilegiado para ilustrar o que deve ser a sociedade. Ou melhor, Locke percebe que as leis da natureza apresentam o modelo para elaboração e estabelecimento de preceitos para a vida social. O autor constata que as leis da razão condizem com as leis da natureza. Observando a própria racionalidade percebemos que na natureza já se encontra a experiência da qual necessitamos para a construção da vida social. Contudo, neste estado natural não possuímos a garantia de que todos os indivíduos vão se pautar por tais princípios. Se tivéssemos a garantia de que todos apenas se moveriam guiados pela recta razão, nossos direitos não sofreriam qualquer risco. Mas, a partir do momento que alguém se desvia deste sentido, de imediato temos o conflito. Embora seja extremamente optimista com o estado de natureza, Locke, identifica um aspecto que reivindica a presença da acção política. No estado natural não existe a certeza do compromisso, ou ao menos o estabelecimento de regularidades das acções. Não há a punição como consequência da infracção. Daí, a necessidade de institucionalização da defesa em prol do direito mútuo. ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 36 Aqueles que se desviariam das directrizes da razão estariam sujeitos à toda sorte de acção, sem qualquer compromisso com os limites das regras sociais, não havendo como se ter expectativas quanto aos seus procedimentos. Consequência inevitável dessa situação é a agressão, que surge como o abandono dos princípios que regem a natureza humana. A renúncia à razão gera, segundo Locke, a falta re regras, enquanto expressão de comportamentos pervertidos e acções criminosas. Diante desta constatação a política promove uma continuidade daquilo que já se possuiria de forma originária. Os direitos que constituem a própria natureza humana: a vida, a liberdade e os bens não podem ser alienados dos indivíduos sem prejuízo da sua própria condição. Com o pacto social e a instauração da sociedade política, renuncia-se a fazer justiça com as próprias mãos para que um corpo político o faça. Dessa condição surge a necessidade das leis, ou melhor, da efectividade de um órgão fiscalizador dos regulamentos e das decisões postas para limitar os excessos da transgressão. Há um carácter punitivo, mas principalmente regulativo no sentido disciplinador. O Estado se constitui, em especial, para fazer valer a lei da natureza. É preciso prender os criminosos, reparar os danos causados. Evidenciar para todos os cidadãos as consequências da transgressão e do crime através dos castigos e da punição. Ao surgir, o Estado retira do indivíduo a prestação do cumprimento das leis naturais, ou seja, as pessoas deixam de executar o direito natural por sua iniciativa própria e o fazem enquanto uma obrigação. Constitui-se um corpo político que pactua em prol da defesa da propriedade. Num único órgão passa a se concentrar o direito de julgar e de castigar. Esta centralidade torna o governo o mantendo das regras pertinentes aos direitos fundamentais do cidadão. Três poderes se constituem: o legislativo, o executivo e o federativo. Mas o primeiro seria o que mais ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 37 importância concentraria pela derivação às leis naturais. Desse modo, primando para que o direito de propriedade seja inalienável, o Estado institui nos indivíduos as directrizes legais nas quais estes devem ser amparados. 2.1.4. Rousseau: A Igualdade Aspectos Biográficos: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em genebra, na Suíça. Desde então a inconstância passou a prevalecer por toda sua juventude e boa parte da vida adulta. Mantém em suas obras uma forte crítica à propriedade privada, considerando esta a fonte das misérias na qual se prende a sociedade. Propõe uma vida simples em detrimento da complexidade da vida social. Foge das rodas sociais e da hipocrisia característica dos recintos de festa da sua época. Fonte 4: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) Fonte: www.biography.com/people/Jean-Jacques Rousseau Contexto Histórico: Encontra-se num período da história marcado pelo optimismo intelectual, o iluminismo, que proferia a razão como fonte de todos os benefícios da humanidade. O Século XVIII é um período de entusiasmo, de grandes intelectuais, de uma vida pautada na elegância da corte, consequentemente de vaidade e interesse pela posição social. A França é um dos ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 38 principais centros no qual tais ideais ajustam-se a uma condição revolucionária que pretendia desfazer-se do antigo regime para implantar uma nova ordem. Tais inovações configuram a visão de mundo da sociedade burguesa com seus lemas de Liberdade, igualdade e fraternidade. Grandes transformações tecnológicas estão a motivar comportamentos de transição. Difunde-se a ideia de que Deus está em todas as coisas, na natureza e na simplicidade da vida. O deísmo prevalece como uma forma de resistência à religião oficial. As injustiças e os sistemas de opressão são desfraldados para que as pessoas possam ter livre exercício da razão e dos benefícios que esta pode oferecer. Busca-se transformar a sociedade emprol da liberdade de expressão, para que seja garantido ao indivíduo alcançar a felicidade Teoria Geral: Em alguns momentos a obra de Rousseau pode ser identificada como um diálogo com os pensadores contratualistas do século XVII, em especial Hobbes. A constatação de Rousseau é que o homem nasce bom e é corrompido pelos enlaces sociais. Através do contrato social procura um Estado social legítimo que favoreça as potencialidades humanas. Porque deve existir um ajuste bem delineado ao transformar os direitos naturais em direitos civis. O diagnóstico de Rousseau é que os homens teriam chegado a um ponto em que os obstáculos à sua conservação excedem as forças que cada indivíduo dispõe para manter-se em estado de preservação. A degeneração da sociedade fez com que a segurança de cada um seja ameaçada pela do outro, gerando muito mais o ataque como forma de defesa do que a possibilidade de convivência. A saída que esboça diz respeito à união como possibilidade de juntar forças, visto ser a força e a liberdade os instrumentos primordiais para valorização de cada ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 39 indivíduo. Nesta nova ordem instauram-se as vias para recuperar aquela liberdade natural, ajustada à vida feliz e harmónica. De um modo geral os diversos movimentos revolucionários no decorrer da história buscam inspiração no carácter da discussão promovida por Rousseau. As revoluções liberais atentam para o sentido de liberdade que o autor esboça. O marxismo identifica uma compreensão significativa de vida comunitária através do tema da igualdade. E até o anarquismo encontra pertinência quanto à resistência ao sistema social vigente. Mas é a revolução francesa que coroa suas ideias, elevando a condição de igualdade à liberdade e à fraternidade. Influencia diversos nomes da literatura, a exemplo de Tolstoi (1828-1910). Principal Obra: A obra fundamental que traduz o seu pensamento é o Discurso sobre a Origem e o Fundamento da Desigualdade entre os homens. Nela se apresenta a definição da natureza humana, uma compreensão acerca dos desejos e das diversas nuances da imaginação, agindo sobre nossa condição. Rousseau é um iluminista que se mantém na contracorrente e anuncia a prepotência da razão, sobrecarregando nossas verdadeiras funções. Ele privilegia a importância e o carácter fundamental que o homem simples conserva. Pois a felicidade se apresenta quando a natureza interior corresponde ao exterior. Através da preponderância da razão sobre os sentimentos o ser humano é colocado inevitavelmente em situação de desconforto. Mas é ela que adapta o indivíduo na condição humana vigente e no meio social e jurídico. Como o ser humano, ainda que não seja inclinável à sociedade, desenvolveu seus germens submetendo-se às suas exigência e formalizações, esse processo se constitui com as perdas das condições fundamentais, com a perda da igualdade. E a ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 40 adequação ao artifício, à complexidade, à vida degenerada. Rousseau foi leitor dos antigos gregos e quando apura a ideia de contrato social imprime nas suas observações certas conquistas que foram operadas por esta cultura e que degeneraram-se no decorrer da história, como é o caso da democracia. Ele propõe uma democracia directa e não uma democracia representativa como a que vivenciamos hoje em dia. Principais Conceitos: Para Rousseau o estado de natureza constituía- se por uma condição de liberdade que motivava o indivíduo a uma existência natural e equilibrada. A natureza é uma de suas paixões, tanto no que diz respeito ao interesse pela vida simples deste selvagem, regida pelo contacto directo com as coisas e com o mundo, quanto pelo contacto mesmo com a vida rural e os benefícios que esta oferece às pessoas em seus diversos momentos da vida. Associa esta condição às experiências infantis, ingénuas e felizes. Experiências que possuem outra lógica, outro modo de conhecer diferente daquele que é colocado como padrão e métrica. Há uma bondade inerente à vida natural que é destruída com a sociedade. Ao homem natural falta a abstracção, mas a ausência desta não constitui algo negativo, pelo contrário, lhe permite lidar com as coisas na sua espontaneidade. A humanidade se resume àqueles que lhe rodeiam. Convive bem com a solidão, sem lamentar seu estado. Está inteiro e completo nas suas predisposições. O instinto o adapta à natureza. Em alguns momentos o autor chega a afirmar que neste estado nos basta a alimentação, um par, e o descanso, para a verdadeira vida. Como consequência dessa condição de plenitude, temos a bondade, característica peculiar que o define. O “bom selvagem” é aquele que, por possuir a bondade como inerente à sua condição, não sente qualquer disposição ou interesse em atacar o outro. Há uma compaixão natural que o acompanha. A análise de Rousseau recai sobre o estabelecimento da vida social ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 41 que degenerou toda essa ordem primeva. Para este autor a sociedade surge com o estabelecimento da propriedade privada. É a propriedade a origem das desigualdades e da decomposição moral inerente aos dias actuais. Os indivíduos tornam-se traiçoeiros, sórdidos, desonestos e transgressores em vista deste modelo de sociedade. Tal desigualdade, pergunta o pensador, é autorizada pela lei natural? A constatação a que chega revela que o homem nasce livre, e pelas condições que se constituem no âmbito social passa a ser aprisionado. O ponto nodal de sua crítica à sociedade é revelado pela sua repugnância à hipocrisia, muito característica do seu tempo, presente nos salões e lugares de sociabilidade. O modo como as pessoas se revestem de artifícios para estar neste ou naquele lugar, o que também revela uma deficiência que se inicia desde o processo inicial de educação. O contrato social é saudado como a forma com a qual se pode contrapor essa lógica instituída pela sociedade civil. A partir dele a convenção do pacto é a saída possível para barrar o mal. A ideia de contrato social implica num consenso que deve ser articulado entre os diversos sectores, estendendo soberania ao governante e às directrizes do novo Estado. Prevalece, a partir do contrato social, um Estado social legítimo que se aproxima cada vez mais da vontade geral e também se afasta, consequentemente, da corrupção em vista desta condição. O governante é visto como um funcionário a serviço do povo, um empregado que executa e desempenha sua função sob os olhos daqueles que o empregam. Ele reconhece que a soberania do povo é indivisível. O governo constituído é caracterizado como um corpo intermediário que possui como função a vinculação entre súbditos e soberano. Deve dar conta da execução das leis, fiscalizar a conservação da liberdade e implementar a igualdade entre os grupos da sociedade. Tal governo deve resguardar a soberania que lhe foi ISCED – MANUAL DE CIÊNCIAS POLÍTICAS 42 entregue pela vontade do povo. Este é o corpo político dos cidadãos e deve ser o núcleo central para o qual se voltam todas as atenções. Soberano é o povo, sua vontade possui um carácter primordial para o ordenamento do Estado. Dessa forma, devem-se escolher representantes e a melhor forma de governo. De início a tarefa primordial à qual o governante precisa, se dedicar diz respeito à transição em que as pessoas passam a adquirir a liberdade moral, reivindicada para que os indivíduos possam tornar-se autónomos. Com o predomínio da vontade geral sobre as acções do Estado demarca-se o limite entre o poder que é legítimo ao governante no exercício do seu cargo e aquele que emana do povo. Assim, vontade geral sempre beneficia a sociedade. O povo elege, mas também pode retirar do poder daquele que não corresponde a ela que, por exemplo, seja corrupto. Se
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