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[Título do documento] 1 VI CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE ELETROCARDIOGRAMA 12. 13 e 14 de março de 2021 Nome: __________________________________________________________________ Semestre: _______________ Faculdade:______________________________________ DIRETORIA DA LIGA DE TRANS-CARDIOLOGIA Presidente Maria Clara Oliveira Lapa Vice-presidente Luiza Sento-Sé Cordeiro de Oliveira Diretora Geral Aiala Caroline Santos da Silva Diretora de Ensino Matheus Souza Coelho Diretora de Comunicação Emille Andrade Santos Silva Diretor de Extensão Pedro Otávio Pacheco Moreira Diretor Financeiro Matheus Grisi Mansur Gomes Diretor de Pesquisa Brenno Araújo e Souza 2 SUMÁRIO I. Eletrofisiologia Cardíaca ............................................................... 02 II. Derivações .................................................................................... 05 III. Frequência Cardíaca .................................................................... 07 IV. Ritmo..............................................................................................08 V. Eixo ............................................................................................... 09 VI. Bloqueios de Ramo ...................................................................... 10 VII. Isquemia, Injúria e Necrose ......................................................... 11 VIII. Sobrecargas ................................................................................. 14 IX. Taquiarritmias .............................................................................. 16 X. Bradiarritmias ............................................................................... 20 XI. Bibliografia ................................................................................... 21 ANOTAÇÕES 3 Membrana do miócito em repouso, demonstrando a face interna mais eletronegativa do que a externa. Membrana do miócito em despolarização, demonstrando o fluxo de eletricidade (seta). I. ELETROFISIOLOGIA CARDÍACA 1. FUNÇÃO DO SISTEMA CARDIOVASCULAR A principal função do sistema cardiovascular é promover o movimento do sangue entre pontos de diferentes pressões - Consistem em suas atividades: A) Distribuir substrato e oxigênio para as células; B) Coletar resíduos e CO2 para excreção; C) Participa da HOMEOSTASE: controle da temperatura corporal, distribuição de hormônios e auxílio dos mecanismos de defesa do corpo. 2. PROPRIEDADES ELÉTRICAS DO CORAÇÃO O coração é composto por células específicas, dentre elas estão os miócitos. Essas possuem potencial de ação espontâneo, sem necessidade de outros sistemas para serem despolarizadas. Com isso, distribuem estímulo de despolarização para as outras células cardíacas responsáveis pela contração do músculo e causa o ritmo do coração. Portanto, distúrbios na condução desse estímulo podem levar a uma alteração séria do ritmo, por vezes, letal. A. Potencial de ação cardíaco A membrana da célula cardíaca enquanto polarizada, mantém o potencial de repouso através de bomba de sódio e potássio, assim como no musculoesquelético. Porém, o potencial de ação cardíaco ocorre de forma diferente do tecido musculoesquelético. No músculo cardíaco, o potencial de ação é originado pela abertura de canais de dois tipos: canais de sódio rápidos, tais quais o musculoesquelético, e os canais de cálcio-sódio lentos. Essa diferença resulta em dois tipos de resposta miocárdica. • Resposta Lenta: As células de resposta lenta são as células auto-excitáveis dos nodos sinoatrial e atrioventricular. • Resposta Rápida: Compreende a maior parte do tecido do coração, como o miocárdio atrial, ventricular e o sistema de His-Purkinje. B. Período Refratário Intervalo de tempo após o disparo de um potencial de ação, quando a membrana celular foi alterada para um estado não excitável e está gradativamente voltando ao estado de repouso (excitável). 3. CICLO CARDÍACO É a sequência de eventos elétricos e mecânicos que resultam na geração de pressão no sistema cardiovascular. A pressão (energia potencial) é convertida em fluxo (energia cinética), para suprir todas as células do organismo com nutrientes e cumprir outras funções circulatórias. Nesse contexto, o ECG marca os eventos elétricos do ciclo cardíaco. A representação gráfica do ECG é chamada de traçado. Em geral, o traçado consiste na onda P, complexo QRS e onda T. As ondas são voltagens elétricas geradas pelo coração. O processo de relaxamento das fibras cardíacas é denominado diástole, enquanto o processo de contração é denominado sístole. 4. ELETROFISIOLOGIA CELULAR Para compreender o ECG, temos que observar a membrana celular como se fosse uma pilha em estado de repouso, essa pilha se encontra polarizada. Por outro lado, a despolarização (nesse caso, também a contração) é propagada de célula a célula através de um FLUXO DE ELETRICIDADE, que gera uma diferença de potencial, dada em milivolts. Potencial de ação rítmico semelhante ao registrado no nodo sinoatrial. Potencial de ação em milivolts de células ventriculares, mostrando um “platô”. Nota! A soma desses vetores em todas as células cardíacas, dá o VETOR RESULTANTE! Depois, você vai entender que o vetor resultante é extrema importância quando se analisa o EIXO cardíaco! 4 ELETROCARDIOGRAMA O eletrocardiograma registra os impulsos elétricos que estimulam a contração cardíaca. Portanto, registra as ondas de polarização e despolarização. Esses vetores vindos das diversas regiões do coração vão imprimir deflexões no ECG que são dadas em volts. Sempre que o vetor despolarização se desloca em direção ao eletrodo positivo (pele), vai causar uma deflexão positiva, sempre que ele se desloca na direção oposta ao eletrodo, vai causar uma deflexão negativa. No ECG são descritas as seguintes ondas: Onda P • Representa a despolarização atrial. • Melhor vista em DII • Amplitude: 2,5 mm ( que 2,5 “quadradinhos”). • Duração: 100 – 120 ms ( que 3 “quadradinhos” ). Intervalo PR • É o intervalo entre o início da onda P e o início da onda Q. • Condução atrioventricular. • Duração:120 – 200 ms (5 “quadradinhos” ou 1 “quadradão”). Complexo QRS • Representa a despolarização dos ventrículos. • Onda Q: 1ª onda negativa do complexo. • Onda R: 1ª onda positiva do complexo. • Onda S: 2 ª onda negativa do complexo. • Amplitude: 5-30 mm. • Duração: < 120 ms ou < 3 “quadradinhos” (Se for alargado significa que a condução pelo ventrículo estaria demorando) = contração defeituosa. Intervalo QT • É o intervalo entre o início da onda Q e o final da onda T. • Representa todo o período despolarização e repolarização dos ventrículos. • Dura até 11 “quadradinhos”. Segmento ST • É o segmento desde o final da onda S até o início da onda T. • É ISOELÉTRICO, tem que estar no mesmo nível do segmento PR. • Pode ter supra de até 1 mm. • V2 e V3 até 2mm. Onda T • Representa a repolarização ventricular • Deflexão mais rápida. • Amplitude variável. • Duração variável. • Tem aspecto redondo. • É normalmente assimétrica. Ondas, segmentos e intervalos normais do ECG: Nota! Perceba que o Complexo QT representa tudo que acontece nos ventrículos. Portanto, nos eventos isquêmicos e no infarto agudo do miocárdio, carinhosamente chamado de IAM, as alterações do ECG estarão presentes principalmente nesses locais, com atenção dobrada ao segmento ST. 5 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ECG • O ECG é “escrito” em um papel milimetrado; • Cada quadradinho possui 1 mm; • As linhas horizontais representam a medição temporalem segundos (eixo x = segundos) • Cada quadrado pequeno (“quadradinho”) na vertical mede o equivalente a 0,04s ou 40ms. • Logo, um quadrado grande (“quadradão”) na vertical mede 0,2 ou 200ms. • As linhas verticais representam a medida de milivoltagem da atividade elétrica cardíaca (eixo y = milivolts) • Cada quadradinho na horizontal possui 0,1mv de medida. • Logo, um quadradão na horizontal mede 0,5mv. II. DERIVAÇÕES O ECG completo é composto de 12 derivações. Imagine que você está num shopping e para que as câmeras desse local te enxerguem estão espalhadas em cada canto. Pois bem, as derivações são como câmeras para o nosso coração, as quais estão estrategicamente espalhadas para perceber qualquer alteração na atividade elétrica de qualquer parte do miocárdio. Dessa forma, temos 6 derivações de membros (periféricas) e 6 derivações precordiais. A. Derivações Periféricas Para obtermos as derivações de membros (periféricas), colocam-se eletrodos sobre os braços direito e esquerdo e sobre a perna esquerda. Deve-se lembrar do seguinte: do lado esquerdo estarão os eletrodos com cores do Brasil, do lado direito, os eletrodos com cores rubro negro. Cores “pesadas" descem. O eletrodo amarelo se encontra no braço esquerdo e o eletrodo verde na perna esquerda. O eletrodo vermelho em braço direito e o eletrodo preto em perna direita. Este é o seu papel milimetrado, use-o como quiser. Recomendo desenhar as observações a seguir nele como é demonstrado no exemplo. Nota! A altura de uma onda no ECG se mede em milímetros e representa a medida de voltagem. O comprimento da onda no ECG se mede em milímetros e representa a DURAÇÃO do evento! Depois você vai ver que a DURAÇÃO prolongada de um evento, pode revelar um defeito na condução! 6 Para criar as derivações, são necessários 2 eletrodos, portanto, cada par de eletrodos forma uma derivação. Uma ressalva vai para o eletrodo preto, que é neutro e serve como fio terra. Sintetizando: DI – terminal negativo em braço direito e positivo em braço esquerdo. O vetor é em direção de 0º. DII – terminal negativo em braço direito e positivo em perna esquerda. O vetor é em direção de 60º em relação da DI. Também representa o vetor cardíaco. DIII – terminal negativo no braço esquerdo e positivo na perna esquerda. O vetor é em uma direção de 120 em relação a DI. FIO TERRA - (comumente de cor preta) – Perna direita. Ainda faltam três derivações de membros. Para criá-las também são necessários 2 pontos. A diferença é que os eletrodos colocados nos membros são SEMPRE positivos e por isso elas são chamadas unipolares. Todas confluem para um fio terra, considerado negativo. Sendo assim, as derivações AVR (right), AVL (left) e AVF (foot) também resultam em outras três linhas de referência. Sintetizando: AVL – L de left, portanto colocada no braço esquerdo. Seu Ângulo de orientação é -30°. AVR – R de right, portanto colocada no braço direito. Seu ângulo de orientação é - 150°. AVF – F de foot, portanto localizada no pé. Seu ângulo de orientação é +90°. Essas imagens te mostram como as derivações I, II e III são formadas. Juntas, fazem esse triângulo! Assim como explicado, as diferenças de potencial entre os dois pontos formam vetores, portanto são chamadas de Derivações Bipolares. Nota! Esses são os três primeiros elementos da sua “rosa-dos-ventos” do ECG. Observe ela já começando a ser construída... Desenho de um paciente realizando o exame de ECG. Note que as derivações AVL, AVR e AVF são positivas e o negativo está no fio terra. Nota! As seis derivações I, II, III, AVR, AVL e AVF se reúnem para formar linhas de referência, que se cruzam com precisão num plano sobre o tórax do paciente, uma a cada 30°. 7 No início eu comentei que os eletrodos funcionavam como câmeras no ECG, agora veja como está o seu coração depois de você formar a “rosa-dos-ventos”. É possível vê-lo de diversos ângulos! B. Derivações precordiais Para se obter as 6 derivações torácicas, coloca-se eletrodos positivos em seis diferentes posições ao redor do tórax V1 – Eletrodo posicionado no 4º EIC à direita. V2 – Eletrodo o 4º EIC à esquerda. V3 – Eletrodo entre V2 e V4 V4 – Eletrodo no Ictus V5 – Eletrodo na linha axilar anterior V6 – Eletrodo na linha axilar média III. FREQUÊNCIA A frequência cardíaca é o número de vezes que o coração bate em 1 minuto. Em condições normais é o nodo sinoatrial, localizado na parede posterior da aurícula direita, que comanda os batimentos cardíacos. Porém, em condições patológicas, outros locais do coração podem assumir o comando ou disparar uma contração errônea, causando as arritmias. É interessante saber que: ü Marca-passos auriculares ectópicos – são capazes de assumir a atividade cardíaca numa frequência de 75 bpm; ü Nodo AV – é capaz de estimular o coração numa frequência de 60bpm; ü Marca-passos ventriculares – determinam uma frequência de 30-40 bpm. CÁLCULO DA FREQUÊNCIA A Frequência pode ser obtida através de dois diferentes métodos. • O primeiro método nos fornece uma frequência aproximada e consiste em diminuir gradativamente a frequência a cada quadrado de distância entre duas ondas R consecutivas (RR) na seguinte ordem: 300, 150, 100, 75, 60, 50... • O segundo nos fornece uma frequência mais precisa e consiste em contar a diferença de quadradinhos entre ondas RR, para em seguida dividir 1500 pelo número obtido. MÉTODO 01 1. Escolha uma onda R que caia na linha de um quadradão; 2. Agora comece contando: 300, 150, 100, 75, 60, 50... 3. O local onde a próxima R cair determinará a frequência cardíaca Lado direito Região septal Lado esquerdo 8 Para calcular qualquer outra frequência de forma mais precisa você usará a fórmula a seguir desenvolvida: IV. RITMO O Ritmo Sinusal (RS) é um ritmo fisiológico do coração, que se origina no átrio direito alto, observado no ECG de superfície pela presença de ondas P positivas nas derivações DI, DII e aVF. O eixo de P pode variar entre -30° e +90°. A onda P normal possui amplitude máxima de 2,5 mm e duração igual ou inferior a 110 ms. Podem ocorrer modificações de sua morfologia dependentes da FC. Então utilizamos o critério que a onda P deve ser positiva em DI, DII e AVF sendo cada onda P correspondente ao seu QRS. Ademais, deve-se verificar, também, o ritmo através da distância entre onda semelhantes, que em teoria deve ser semelhante. Geralmente se escolhe o complexo QRS e se avalia se as distâncias entre um e outro estão equivalentes. É válido ressaltar que quando as distâncias entre ondas semelhantes não são equivalentes, mesmo na presença de ondas P positivas nas derivações D1, D2 e aVF, o ritmo passa a não ser sinusal. Logo, ritmo sinusal é igual a distâncias equivalentes entre ondas semelhantes e ondas P positivas em D1 D2 E aVF, sendo cada onda P correspondente ao seu QRS. 9 V. EIXO Para compreender o eixo cardíaco é preciso conhecer um pouco da dinâmica dos vetores no miocárdio. Como já dito anteriormente, o vetor segue o fluxo da eletricidade. Logo, o eixo se refere ao vetor resultante da ativação ventricular (SÂQRS). O fluxo de eletricidade gera vetores para diversas direções do coração. Mas sabemos que a musculatura mais desenvolvida do miocárdio se encontra no VE, fazendo com que o vetor resultante da atividade cardíaca seja apontado da base para o ápice do coração. A partir disso, colocando o coração na “rosa-dos-ventos”, nota-se que o vetor resultante da atividade cardíaca se encontra, em geral, no quarto quadrante localizado entre -30o e +90o. Toda onda positiva em direção ao eletrodo positivo TEM QUE gerar uma deflexão positiva. O resultado disso é que, para o eixo cardíacoestar normal, o QRS deve estar positivo em DI e AVF. Logo, para determinarmos o EIXO NORMAL, inicialmente localizamos em qual quadrante está o vetor do ECG em questão. Então, iremos avaliar apenas DI (0o) e aVF (90o). Exemplo 1: DI positivo e aVF positivo, logo, o eixo encontra-se no quarto quadrante, indicando eixo normal. Imagem demonstrando os vetores de despolarização do coração de acordo com a região. A grande seta é o vetor resultante. Exemplo 2: DI positivo (encaminhando o eixo em direção a DI), porém aVF encontra-se negativo (afastando o eixo de aVF). Então, o vetor encontra-se para a ESQUERDA e para cima, localizando-se no quadrante do desvio para esquerda. 10 Como havia sido dito anteriormente, o eixo sem desvio se encontra entre -30o e +90o. Logo, no quadrante de desvio para a esquerda, ainda poderemos ter um vetor indicando normalidade. Nesses casos é preciso fazer uma determinação precisa do eixo cardíaco. Para fazermos uma determinação precisa do eixo cardíaco, precisamos inicialmente determinar o quadrante do eixo como já foi ensinado anteriormente. Em seguida, precisamos verificar entre as derivações periféricas aquela que apresenta o QRS mais isoelétrico, ou seja, com uma porção positiva do mesmo tamanho que a porção negativa. Lembre-se: é a derivação com o QRS mais isoelétrico. Alguns ECGS não terão derivações que o QRS será facilmente notável como isoelétrico, portanto precisamos comparar com as demais derivações e escolher aquela mais isoelétrica entre todas as derivações periféricas. Uma derivação isoelétrica irá nos traduzir que o eixo é perpendicular aquela derivação. Passo a Passo: 1. Determinar o quadrante. 2. Encontrar a derivação mais isoelétrica. 3. Buscar a derivação perpendicular à ela. DI é negativo, afastando o eixo de DI; aVF é negativo, afastando o eixo de aVF. O eixo se localiza no quadrante de desvio extremo. A derivação mais isoelétrica é a aVL, a derivação perpendicular a ela seria a DII, logo o eixo do QRS é -120o. VI. BLOQUEIOS DE RAMO A despolarização ventricular segue o nó AV e do Feixe de His pelos ramos ventriculares. Os ramos direito e esquerdo fornecem a corrente aos ventrículos direito e esquerdo, respectivamente. A massa do VE é muito maior do que a do VD, portanto as forças elétricas do VE se sobrepõem às do VD. 1. Bloqueio de Ramo Esquerdo (BRE) A. Etiologia: ● Hipertensão → hipertrofia → dilatação ● Cardiopatias isquêmicas ● Valvulopatia aórtica B. Critérios eletrocardiográficos ● Duração do complexo QRS ≥ 120 ms; ● Ondas R alargadas e monofásicas, geralmente com entalhes e empastamentos em D1, aVL, V5 e V6 (aspecto em torre); ● Ausência de Q em DI, V5 e V6; ● Ondas S alargadas com espessamentos e/ou entalhes em V1 e V2; ● Eixo elétrico de QRS desviado para a esquerda (–30° e +60°); ● Inversão do segmento ST em relação ao QRS. A imagem revela um BRE completo! Nota-se a presença de QRS negativo e largado em V1. 11 você aponta para BAIXO para ir para a ESQUERDA você aponta para CIMA para ir para a DIREITA 2. Bloqueio de Ramo Direito (BRD) • QRS alargado com duração ≥ 120 ms como condição fundamental (≥3 quadradinhos); • Segunda onda positiva ao final do QRS em V1 e V2 (volte à imagem e observe); • Eixo elétrico de QRS variável, tendendo para a direita. A imagem acima revela QRS positivo e alargado em V1, logo, BRD. DICA! Lembre-se da seta do carro! Nestes casos, a “seta do carro” é o V1. NOTA! Na prática, não é tão fácil diferenciar um BRE de um BRD apenas pela morfologia da onda R. Para facilitar você vai olhar a derivação V1, se o QRS for alargado e positivo é Bloqueio de ramo direito, se o QRS for alargado e negativo é Bloqueio de ramo esquerdo. Agora volte às duas últimas imagens e veja se não funciona! VII. ISQUEMIA, INJÚRIA E NECROSE A localização de um infarto é uma prática comum, importante na estratificação de risco, além de auxiliar na decisão da conduta. Por isso, o conhecimento anatômico sobre o suprimento sanguíneo coronariano possibilita um diagnóstico mais preciso e sofisticado. As artérias coronárias são os principais ramos da aorta que irrigam o miocárdio e o epicárdio. Ø A artéria coronária direita supre o átrio direito, a maior parte do ventrículo direito, a parede inferior do ventrículo esquerdo, 1/3 posterior do septo, o nó SA e o nó AV. Ø A artéria coronária esquerda supre o átrio esquerdo, a maior parte do ventrículo esquerdo, pequena parte do ventrículo direito e a maior parte do septo. Pelo fato de a artéria coronária direita ser responsável pelo suprimento sanguíneo das áreas onde se encontram os nódulos sinoatrial, atrioventricular e o feixe de His, quando ocorre oclusão da mesma, os infartos gerados podem causar graves arritmias. ATENÇÃO! Na presença de BRE não se lauda: Sobrecarga por Sokolow, Supra e BDAS. Na presença de BRE o índice aceitável para analisar hipertrofia de VE é de Cornell. 12 A. Isquemia A isquemia decorre da deficiência de oxigênio e nutrientes em relação à demanda do cardiomiócito, acarretando disfunção miocárdica sem sofrimento ou lesão permanente, por isso, é potencialmente reversível. A hipóxia altera a permeabilidade da membrana celular, produzindo um distúrbio de regulação e transporte iônico, por alterações na bomba de Na+/K+, aumentando o efluxo do íon potássio ao mesmo tempo que retarda o seu influxo. Logo, ocorre um prolongamento da repolarização e alargamento do potencial de ação da célula isquêmica. A região isquêmica permanece eletricamente negativa por mais tempo com relação à região sadia. Esse fenômeno determina um vetor que se dirige da área isquêmica (negativa) para a sadia (positiva). 1. Isquemia Subepicárdica Vista através da Onda T negativa. Mas por que essa onda negativa? Bem, devemos relembrar que a repolarização ventricular parte do epicárdio para o miocárdio. Quando tal área sofre um processo de isquemia o sentido dessa despolarização é invertida e onda T passa a ser invertida. É um achado geralmente subagudo e crônico, uma vez que o epicárdio é última parede a sofrer durante esse processo. O sentido da lesão é endocárdio, miocárdio e, por último epicárdio. Resumindo: Onda T negativa, pontiaguda, simétrica e profunda. 2. Isquemia Subendocárdica Há um atraso no início e o prolongamento da repolarização na região endocárdica. Assim, a recuperação ventricular inicia-se no epicárdio e progride para o endocárdio, semelhante à repolarização normal. Nesse caso, a onda T apresenta- Exemplo 1: Eletrocardiograma evidenciando onda T invertida em paciente com infarto sem supradesnivelamento do segmento ST. 13 se positiva diferenciando-se de uma onda T normal por se apresentar pontiaguda, simétrica e ampla. Resumindo: Onda T positiva, pontiaguda, simétrica e ampla. B. Injúria Lesão significa infarto agudo ou recente, que ocorre devido à progressão do comprometimento isquêmico do miocárdio, ou seja, o agravamento da insuficiência coronária que, se não for corrigida, levará a morte dos miócitos afetados. Manifesta-se com elevação do segmento ST ou, ainda, manifestar-se com infradesnivelamento do segmento ST. A primeira é mais grave do que a segunda. Nestes estágios, as alterações bioelétricas ainda são parcialmente reversíveis. O supradesnivelamento é típico dos infartos transmurais e tem a especificidade de 91% para o diagnóstico de IAM. O critério utilizado para laudar um supradesnivelamento do segmento ST é um supradesnivelamento maior do que 0,1Mv do ponto situado a 0,04 segundos após o ponto J. O infradesnivelamento é típico dos infartos subendocárdicos, manifestando-se através do infradesnivelamneto maior do que 0,1mv do ponto situado a 0,04 segundos após o ponto J. Resumindo: Ø Supradesnivelamento do Segmento ST • Elevação> 1mm em derivações periféricas. • Elevação > 2mm em derivações precordiais. C. Infarto (ou necrose) Resulta de hipóxia tecidual prolongada que culmina com a morte ou necrose dos miócitos, sendo, portanto, um processo IRREVERSÍVEL. Seu achado eletrocardiográfico é a ONDA Q PATOLÓGICA, indicativo de morte de tecido miocárdico (necrose tecidual), que se diferencia de uma onda Q normal por sua AMPLITUDE MAIOR OU IGUAL A 0,04 SEGUNDOS ou por ALTURA DE 1/3 DO COMPLEXO QRS. Essa região é eletricamente silenciosa e os estímulos passam a se dirigir para longe da área (provocando a deflexão negativa) Exemplo: Supradesnivelamento do segmento ST em D1, aVL, V2, V3, V4, V5 e V6. TOPOGRAFIA DO INFARTO Determinar o local do infarto é importante porque o prognóstico tem relação com a localização do infarto. Infarto anterior do VE: ondas Q patológicas em V1 a V4 Infarto lateral (parte mais esquerda do VE): ondas Q patológicas em DI e AVL: 14 Setor indicando a posição do eixo da onda P RESUMINDO: VIII. SOBRECARGAS ONDA P O padrão da onda P consiste em dois momentos: nos 30 segundos iniciais há somente ativação do átrio direito (AD), nos 20 segundos finais há apenas ativação do átrio esquerdo (AE); e durante 90 segundos ocorre ativação de ambos os átrios. Ø Eixo de Ativação O eixo de ativação da Onda P se encontra entre 30° e 60°. 1. SOBRECARGA ATRIAL DIREITA Ocorre quando há aumento do átrio direito, com consequente aumento da amplitude e deslocamento do seu vetor médio. A. Etiologia: • Insuficiência tricúspide; • Estenose pulmonar; • Atresia da válvula tricúspide; • Miocardiopatia dilatada; • Endocardite bacteriana subaguda das válvulas tricúspide e/ou pulmonar. Infarto inferior/diafragmático: ondas Q patológicas em DII, DIII e AVF No infarto posterior agudo haverá também depressão de ST (oposta à elevação habitual) em V1 e V2 e/ou V3. Nota! Todo IAM de parede inferior (DII, DIII, e AVF) devemos pedir as derivações direitas (V3R e V4R), uma vez que se relaciona com oclusão da coronária direita, o que pode causar infarto de VD. Nota! O infarto nessa área é suspeitado quando são vistos infradesnivelamentos em parede anterior que, na verdade, são “imagens em espelho” da injúria sofrida pela parede posterior do ventrículo esquerdo. Devemos, então, sempre solicitar derivações posteriores (V7 e V8) nesses casos. Setas indicando os vetores de despolarização dos átrios. 15 B. Características eletrocardiográficas: • 1° SINAL: alterações na onda P Presença de onda P pontiaguda com amplitude > 0,25mV ou 2,5mm (2,5 quadradinhos) em derivações inferiores (DII, DIII e aVR). 2. SOBRECARGA ATRIAL ESQUERDA Ocorre quando há crescimento do átrio esquerdo, com consequente deslocamento do seu vetor médio de despolarização. A. Etiologia: • Insuficiência mitral; • Estenose mitral; • Miocardiopatia dilatada. B. Características Eletrocardiográficas: • Aumento na duração da onda P > 0,12s Onda P entalhada em bífida (onda P mitrale), principalmente na derivação DII e o intervalo entre os ápices é maior que 40ms (correspondente a um quadradinho no ECG). Índice de Morris: Em V1 o componente negativo da onda P é > 0,04s (um quadradinho) e possui profundidade amplitude > 1mm. 3. SOBRECARGA VENTRICULAR ESQUERDA (SVE) Ocorre quando há crescimento do ventrículo esquerdo, com consequentes alterações no intervalo QT. A. Etiologia • Valvulopatias (insuficiência ou estenose); • Hipertensão arterial • Shunt esquerdo - direito B. Características eletrocardiográficas • Índice de Sokolow Lyon: É considerado positivo quando a soma da amplitude da onda S na derivação V1 com a amplitude da onda R da derivação V5/V6 for > 35 mm. • Índice de Cornell: Quando a soma da amplitude da onda R na derivação aVL, com a amplitude de onda S de V3 for > 28 mm em homens e 20 mm em mulheres. 4. SOBRECARGA VENTRICULAR DIREITA (SVD) Ocorre quando há crescimento do ventrículo direito, com consequentes alterações no intervalo QT. A. Etiologia • Valvulopatias (ex: estenose de miltral da cardiopatia reumática); • Comunicação interventricular. B. Características eletrocardiográficas • R>S em V1 = V1 positivo (imagem x). OBS: Normalmente o QRS em V1 é negativo. Você já sabe que onda P bifásica em V1 não é um achado anormal. Mas o componente negativo não pode ultrapassar 1mm. Nesse caso, já tem quase 2! QRS é positivos em V1. 16 Aqui temos ECG em franca Taquicardia Sinusal. É possível notar: FC > 100 bpm; Onda P: morfologia sinusal precedendo todos os QRS’s; QRS estreito. Exemplo 1: (Sobrecarga Atrial Direita): Há mudança no padrão normal da onda P (ela deveria ser menor do que 3 quadradinhos). Nesse exemplo, a onda P ocupa um quadrado grande. Exemplo 2 (Sobrecarga Ventricular Esquerda): S de V1 + R de V5 ou V6 > 35mm. No exemplo, podemos ver com facilidade que a onda R em V5 tem mais do que 5 “quadradões” enquanto S em V1 tem mais do que 3 “quadradões”. Apenas com essa observação já é possível contar mais de 40 quadradinhos. (1 Quadradrão = 5 quadradinhos). Sokolow positivo! IX. TAQUIARRITMIAS As taquiarritmias são caracterizadas por uma FC>100 bpm e, de forma geral, são divididas em dois tipos: (1) As taquiarritmias supraventriculares são aquelas originadas acima da bifurcação do feixe de His. Geralmente, inscrevem um QRS estreito (< 120 ms) (2) As taquiarritmias ventriculares originam-se abaixo da bifurcação do feixe de His e, em geral, apresentam QRS largo (> 120 ms). Essa divisão das taquiarritmias de acordo com a duração do QRS é utilizada para simplificar o entendimento. Sabemos que um estímulo normal de despolarização ventricular percorre o Feixe de His, passa aos seus ramos e, por fim, às fibras de Purkinje antes de despolarizar os miócitos dos ventrículos, formando um QRS estreito. Já em uma taquiarritmia ventricular, essa ativação começa fora desse sistema condutor, em um foco anômalo ventricular. A consequência é uma passagem mais lenta do impulso, miócito à miócito, inscrevendo um QRS de duração prolongada. 1. TAQUIARRITMIAS SUPRAVENTRICULARES 1.1 Taquicardia sinusal A. Etiologia: Na maioria das vezes, ocorre em resposta ao aumento do tônus simpático, seja por uma resposta fisiológica (exercício físico, ansiedade, estresse...) ou por uma resposta fisiopatológica (febre, hipotensão, tireotoxicose, anemia, desidratação, IAM, insuficiência cardíaca...). B. Características eletrocardiográficas: • Frequência acima de 100 bpm • Onda P de morfologia sinusal, respeitando o eixo de despolarização atrial (positiva em DI, DII e aVF / negativa em aVR). • Há uma onda P para cada QRS. • O QRS será estreito (salvo em distúrbios de condução intraventricular - ex: bloqueio de ramo) • Geralmente, apresenta início e término gradual. 17 1.2 Taquicardia atrial unifocal Ocorre a origem do estímulo em um foco ectópico, no miocárdio atrial. Assim, apresenta onda P com morfologia diferente da sinusal, onde será determinada pela localização do foco ectópico. A. Etiologia ● Cor pulmonale ● Intoxicação digitálica ● Hipocalemia ● Hipoxemia ● Uso de simpatomiméticos (ex.: cocaína) Exemplo: Taquicardia atrial Unifocal – note que há uma variação quanto à onda P precedendo o QRS, observando-se uma proporção 3:2 em alguns momentos, e 2:1 em outros Outro ponto a ser observado é quanto à linha isoelétrica entre as ondas P, o que diferencia do flutter atrial. Contudo, em ritmos rápidos, esta diferenciação entre TAV com bloqueio e flutter atrial é dificultada. 1.3 Taquicardia atrial multifocal A origem da taquicardia atrial se dá em diferentes focos. Assim, a onda P vai apresentar morfologias diferentes em uma mesma derivação(três morfologias distintas na mesma derivação). Como os focos são distintos, o tempo que o estímulo leva para alcançar o Nó AV é variável, fazendo com que os intervalos PR e RR tornem-se irregulares. O resultado é uma resposta ventricular IRREGULARMENTE IRREGULAR, onde múltiplos focos atriais alternam o controle do ritmo cardíaco. A maioria dos pacientes com tal arritmia apresentam DPOC ou insuficiência cardíaca congestiva e, eventualmente, pode evoluir para uma fibrilação atrial. Exemplo: Taquicardia Atrial Multifocal - Note as ondas P com distintas morfologias numa única derivação, de intervalos RR e PR irregulares. 1.4 Taquicardia Juncional Paroxística Refere-se ao grupo de taquicardias de origem não ventricular que sempre começam e terminam subitamente (caráter paroxístico), excluindo-se as de origem atrial (taqui atrial, FA e flutter). São alterações elétricas FREQUENTES na prática médica. Mais de um tipo de arritmia entra nesse grupo, mas todas têm como mecanismo arritmogênico a REENTRADA. Em um batimento normal, a condução segue para as duas vias, porém, a condução é completada na via de maior velocidade. Diante de um novo estímulo, como uma extrassístole atrial, o impulso irá descer pela via lenta de condução, já que a via rápida está no seu período refratário. Até que o estímulo seja conduzido na via lenta, a via rápida já está fora do seu 18 período de refratariedade, assim, o impulso retorna por ela, completando o ciclo. É como se fosse um “curto-circuito” no sistema de condução do coração. Exemplo: Taquicardia Juncional Paroxística- Note o pseudo-r’ em V1 e pseudo-s em DII, DIII e aVF. 1.5 Taquicardia por Reentrada Nodal: Causa mais comum de taquicardia supraventricular. QRS estreito, RR regular. Onda P é negativa, devido a sua condução retrógrada (Onda P’), podendo estar dentro do complexo QRS, não aparecendo no traçado. Pode aparecer antes ou logo após o complexo QRS, dando a aparência, em V1, de um pseudo-r’ (antes do QRS) ou pseudo-s (depois do QRS), em DII, DIII e aVF. Assim, a onda P' estará muito próxima do QRS anterior, de forma que o intervalo RP' é menor que P'R. Resumindo: ● Frequência cardíaca: entre 120-200 ● Início e término súbitos ● Ativação atrial retrógrada: sem onda P; ou eventual onda P' de aspecto PSEUDO-S em DII, DIII e aVF / PSEUDO-R' em V1, sendo R-P' menor que P'R ● QRS: estreito (exceto se bloqueio de ramo associado) ● Intervalo RR: Regular 1.6 Fibrilação atrial É a taquiarritmia mais frequente na prática médica, sendo causada pelo surgimento de múltiplos focos de despolarização no miocárdio atrial. É como se houvesse um “bug” e diversas células começassem a se contrair de forma desorganizada, por isso é dito que o miocárdio atrial fibrila ao invés de contrair, levando a uma perda da função mecânica, que prejudica o enchimento dos ventrículos e causa repercussões clínicas em situações de maior demanda do sistema cardiovascular. Apesar da hiperestimulação atrial, o nó atrioventricular consegue “filtrar” boa parte dos estímulos, o que evita uma fibrilação ventricular. A resposta ventricular a essa taquiarritmia atrial costuma ser completamente irregular. Na FA o ritmo cardíaco fica IRREGULARMENTE IRREGULAR. A. Critérios eletrocardiográficos para diagnóstico: ● Ausência de onda P ● QRS estreito (exceto de houver bloqueio de ramo) ● Irregularidade do intervalo RR (Imagem 5.6.1) Exemplo: Tente achar a onda p, aí! A melhor derivação para você procurá-la é DII. Na verdade, a única coisa que dá para ver é uma irregularidade no traçado onde deveria estar a onda P! Esse “tremido” é exatamente a FA. Nota-se também um QRS (ou RR) de distância variável, compatível com um ritmo irregularmente irregular. Nota! Quando suspeitar? Sempre que houver TAQUICARDIA com QRS ESTREITO e intervalo RR REGULAR, independente da presença da onda P retrógrada (onda P'). Nota! O ritmo cardíaco pode ser regular, irregularmente regular, ou irregularmente irregular. No caso do irregularmente regular, o ritmo não é normal, porém existe algum padrão na irregularidade. Nota! Se o intervalo RR estiver regular, significa dissociação total entre os átrios e ventrículos 19 1.7 Flutter atrial É uma Taquiarritmia supraventricular com frequência atrial em torno de 300 bpm. O Flutter atrial pode ocorrer em indivíduos com coração normal, porém, na maioria das vezes está relacionado com doenças cardíacas subjacentes. As causas mais comuns são: ● Doenças isquêmicas (Infarto do miocárdio e Angina) ● Comprometimento de válvula mitral ou tricúspide; ● Miocardite e pericardite ● Cardiopatia hipertensiva ● Hipoxemia (Doença pulmonar obstrutiva crônica ou embolia pulmonar) ● Pós-operatório de cirurgia cardíaca. A. Critérios eletrocardiográficos: ● Frequência atrial muito elevada. ● Substituição das ondas “P” por outros denominados de onda “F”, com aspecto pontiagudo, interligados umas às outras e semelhantes entre si. ● Substituição de linha de base isoelétrica por ondulações ou serrilhado monomórficos, assumindo um aspecto denominado dente de serra. ● Flutter atrial 2:1, 3:1, 4:1 indica respectivamente a relação entre os impulsos atriais e ventriculares. Sendo o mais comum 2:1 e o mais raro, 1:1. ● Usualmente o ritmo ventricular é normal Exemplo: Eletrocardiograma que evidencia o padrão serrilhado do flutter atrial com condução atrioventricular 3:1 e 2:1 na derivação D2. Observe que o padrão da onda é serrilhado. AS ETAPAS DE ANÁLISE: ● FREQUÊNCIA: Frequência atrial muito elevada entre 250-450 bpm em geral próximo de 300 bpm; ● ONDA P: Substituídas por ondas F de aspecto denominado dentes de serra. Estão negativas, na maioria das vezes, em DII, DIII e aVF. ● INTERVALO PR: Não é medido, pois a linha de base é serrilhada. ● COMPLEXO QRS: Estreito. 2. TAQUIARRITMIAS VENTRICULARES 2.1 Fibrilação ventricular (FV) É produzida por estímulos de muitos focos ventriculares ectópicos causando uma contração irregular dos ventrículos, não havendo bombeamento cardíaco efetivo. Não há padrão característico da FV. Ela é reconhecida pelo seu aspecto totalmente irregular, com complexos QRS distintos e ausência de segmentos ST e ondas T. Trata-se de um ritmo de parada chocável. Exemplo: Na FV o coração está completamente desorganizado, dessa forma não há padrão no ECG. A intenção da desfibrilação é dar um “reboot” nos miócitos para reorganizar o ritmo 2.2 Taquicardia ventricular (TV) • É a ocorrência de uma série de três ou mais QRS prematuros consecutivos de morfologias anormais, cuja duração exceda 120 ms. • São decorrentes de três mecanismos: reentrada, atividade deflagrada e automatismo. • Pode ser sustentada (duração >30s) ou não sustentada (duração<30s). • O início pode ser paroxístico (súbito) ou não paroxístico. • A forma mais comum são as taquicardias monomórficas: ritmo regular com FC > 100 bpm, QRS largo (> 120 ms) e com desvio do seu eixo elétrico (imagem 5.9.1) Exemplo: Taquicardia ventricular monomórfica, a frequência é de cerca de 200 bpm 20 Observe o traçado. Pela regra dos 300, 150, 100, 75, 60, 50 dá para ver que tem menos de 50 bpm! Mas tem sempre uma onda p precedendo cada QRS, ainda que não tenhamos outras derivações para visualizar. X. BRADIARRITMIAS Bradicardias ou bradiarritmias são alterações do ritmo e/ou frequência cardíaca (FC) caracterizadas por baixa FC. A bradicardia é dita absoluta quando a FC é inferior a 50 bpm ou relativa quando superior à 50 bpm, porém inferior à esperada para condição clínica do paciente. TIPOS DE BRADIARRITMIAS 1. Bradiarritmia sinusal FC em repouso menor que 50 bpm, em vigília, no adulto. A onda P está positiva em D1, DE e AVF com morfologia normal e precedendo todo QRS. 2. Bloqueios Atrioventriculares O bloqueioatrioventricular (AV) é definido como atraso ou interrupção na transmissão de um impulso dos átrios para os ventrículos devido a um comprometimento anatômico ou funcional do sistema de condução. O distúrbio de condução pode ser transitório ou permanente, com condução atrasada, intermitente ou ausente. A terminologia comumente usada inclui: 2.1 Bloqueio AV de primeiro grau Condução atrasada do átrio para o ventrículo (definido como um intervalo PR prolongado de> 200 milissegundos [5 quadradinhos]) sem interrupção na condução atrial para ventricular. Há só um retardo na condução! Observe na imagem. Resumindo: SEQUÊNCIA “P-QRS-T” NORMAL E INTERVALO PR PROLONGADO (≥ 200ms) E CONSTANTE. 2.2 Bloqueio AV de segundo grau Condução atrial intermitente ao ventrículo, que são classificados nos tipos Mobitz tipo I (Wenckebach), Mobitz II bloqueio AV de segundo grau e BAV 2:1. 2.2.1 BAV de segundo grau Mobitz 1 Prolongamento progressivo do intervalo PR precede uma onda P não conduzida. A primeira onda P após o bloqueio é conduzida para o ventrículo com um intervalo PR mais curto em comparação com a última onda P antes do bloqueio. Resumindo: aumento progressivo do intervalo PR até bloqueio completo da onda P. Observe na imagem. 2.2.2 BAV de segundo grau Mobitz 2 O intervalo PR permanece inalterado antes de uma onda P que não conduz aos ventrículos. Resumindo: Onda P é bloqueada subitamente, sem alteração do intervalo PR. É mais grave que o BAV 2° M1. Observe na imagem: 2.2.3 BAV de segundo grau 2:1 Há duas ondas P para o aparecimento de 1 QRS, de modo constante. Ou seja, para cada 2 impulsos sinusais, 1 tem condução bloqueada. Resumindo: 2 ondas P, 1 QRS, 2 ondas P, 1QRS. Observe na imagem: DICA: É o único que tem presença de regularidade no RR! Ele é chamado de RR REGULARMENTE IRREGULAR → é regular e irregular ao mesmo tempo porque ele obedece a um padrão 21 2.3 Bloqueio AV de terceiro grau ou total ou completo Nenhum impulso atrial é conduzido para o ventrículo, todas as ondas P são bloqueadas. Há total dissociação atrioventricular, ou seja, não há nenhuma correlação entre a onda P e o complexo QRS, cada um tem sua frequência, com ondas P simétricas entre si e QRS simétricos entre si. Observe na imagem: Exemplo 1: BAV total. A onda P (representada pela ponta de seta) encontra-se totalmente dissociada do QRS (representado pelos pontos). Exemplo 2: BAV total. Observe a assincronia entre onda P e complexo QRS. 3. Assistolia Inatividade elétrica cardíaca associada à ausência total de contração ventricular. A assistolia é considerada um ritmo terminal e é o mecanismo mais frequente de parada cardíaca – comumente associada à hipóxia (principalmente em crianças). Trata-se de um ritmo que não se beneficia com choque (RITMO NÃO CHOCÁVEL). Principais causas são relacionadas com a evolução final das demais modalidades de paradas cardiorrespiratórias, quando não atendidas adequadamente ou em tempo hábil (5Hs e 5Ts): XI. BIBLIOGRAFIA 1. Filho, Gilson S. Feitosa. ECG – Simples, Fácil e Prático, 1ª ed, 2020. 2. Interpretação Rápida do ECG, Dubin 3ª Ed. 3. Reis, Helder et al. ECG – Manual prático de eletrocardiograma, 1ª Ed. 4. Mangrum, JM, DiMarco, JP. The Evaluation and Manegement of Bradycardia. N Engl J Med 2000; 342: 703-709. 5. Spodick DH, Raju P, Bishop RL, Rifkin RD. Operational definition of normal sinus heart rate. Am J Cardiol 1992;69:1245-6. 6. Viitasalo MT, Kala R, Eisalo A. Ambulatory electrocardiographic recording in endurance athletes. Br Heart J 1982;47:213-20. 7. Hanne-Paparo N, Drory Y, Schoenfeld Y, et al. Common ECG changes in athletes. Cardiology 1976;61:267-78. 8. Northcote RJ, Canning GP, Ballantyne D. Electrocardiographic findings in male veteran endurance athletes. Br Heart J 1989;61:155-60. 9. Brodsky M, Wu D, Denes P, et al. Arrhythmias documented by 24 hour continuous electrocardiographic monitoring in 50 male medical students without apparent heart disease. Am J Cardiol 1977;39:390-5. 10. Fleg JL, Kennedy HL. Cardiac arrhythmias in a healthy elderly population: detection by 24-hour ambulatory electrocardiography. Chest 1982; 81:302-7. 11. 2005 - American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Part 7:4 Monitoring and Medications.Circulation 2005 112 [ Suppl 1] IV 78 – IV 83. 12. Montargil N.D. – Manual de R.C.P. da U.T.I. do Hospital Geral Luis Vianna Filho – Ilhéus. 2006. 22 APOIO:
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