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Curso de Pós-graduação a Distância Finanças Corporativas Autor: Leandro Tortosa Sequeira Universidade Católica Dom Bosco Virtual www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 2 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Objetivo Geral Conhecer os fundamentos e princípios da administração financeira, familiarizando-se quanto ao uso de termos técnicos da área de maneira a poder tomar decisões estratégicas nas finanças das organizações. Conhecer as ferramentas de análise financeira e saber interpretar os indicadores. SUMÁRIO UNIDADE 1 – TEORIA SOBRE FINANÇAS .......................................................... 07 1.1 As finanças nas organizações ......................................................................... 07 1.2 Considerações sobre o dinheiro ....................................................................... 10 1.3 A economia e as Análises Financeiras ............................................................. 13 1.4 Rendas, Investimentos e Poupança ................................................................. 16 1.5 Investimentos no Brasil ..................................................................................... 18 1.6 Indicadores monetários ..................................................................................... 20 UNIDADE 2 – FERRAMENTAS DE ANÁLISE FINANCEIRA I – FLUXOS DE CAIXA ..................................................................................................................... 25 2.1 Avaliação em finanças ...................................................................................... 25 2.2 Valor Presente Líquido (VPL) ........................................................................... 30 2.3 Taxa Interna de Retorno (TIR) .......................................................................... 35 2.4 Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM) ..................................................... 37 2.5 Índice de Rentabilidade (InR)............................................................................ 40 2.6 Período de Payback (P/B) ................................................................................ 42 UNIDADE 3 - FERRAMENTAS DE ANÁLISE FINANCEIRA II – PRODUÇÃO E NEGÓCIOS ............................................................................................................ 48 3.1 Ferramentas de produção e de negócios ........................................................ 48 3.2 Análise do Ponto de Equilíbrio .......................................................................... 51 3.3 Análise de Sensibilidade ................................................................................... 53 3 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 3.4 Análise de Composição dos Preços – Markup, Margem e ROI ........................ 56 3.5 Análise de Estrutura de Capital......................................................................... 59 3.6 Análise de Valor Econômico Adicionado (EVA) ................................................ 63 GLOSSÁRIO E TERMOS IMPORTANTES ............................................................ 68 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 77 4 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Boas vindas Este material tem o propósito de servir como complemento à sua formação acadêmica, como guia dos estudos durante o curso de Finanças Corporativas. Assim sendo, não há a pretensão de que este material venha a ser a única fonte de recursos didáticos. Recomenda-se, fortemente, que o acadêmico busque a erudição tomando como ponto de partida o que lhe é apresentado a partir de agora. Imagino que você, ao decidir especializar-se na Gestão Financeira, sabe que administrar uma organização de mercado pode ser entendido como uma missão, muito mais do que como um simples emprego ou ocupação. Isso, pois, ao assumir uma cadeira de destaque dentro do modo de produção capitalista, ou ao fazer parte de um corpo técnico de uma de suas diversas organizações, o gestor está assumindo a responsabilidade por produzir bens que atenderão a diversas necessidades específicas – inclusive essenciais – e de oferecer em troca por essa produção a remuneração para uma grande nação em busca de melhores e mais edificantes condições de vida, maior prosperidade, fraternidade e liberdade. O poder ora concentrado em suas mãos deve ser repartido entre os acionistas de sua organização e o benefício revertido a uma sociedade ávida por justiça e igualdade, nem sempre respeitada em sua condição humana, e não raro deixada à margem das decisões de suas próprias vidas. Celeridade, parcimônia e responsabilidade devem ser os baluartes dessa sua nova caminhada. E, tudo isso, porque se suas decisões resultarem em fracasso empresarial, pais de família, homens e mulheres de bem, sofrerão as consequências. Por outro lado, com decisões acertadas, todos têm a ganhar. Caro aluno, a estrada é longa e a viagem começa neste exato momento. Minha função é guiá-lo mostrando os rumos que você deve tomar para atingir o conhecimento desejado. Como seu guia, estarei sempre à disposição para o que for necessário. Mas lembre-se: é somente você quem pode dizer até onde quer chegar. Sucesso... 5 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Introdução Você é, agora, um aluno de pós-graduação. E isso quer dizer que, a partir de agora, você passa a fazer parte de um grupo seleto de pessoas que têm acesso a tudo o que um curso de especialização pode oferecer. Ao terminar o seu ciclo de formação, espera-se que você, além de desfrutar de um título que o tornará cobiçado no mercado de trabalho, possa resolver os principais problemas postos por uma sociedade produtora de mercadorias, auxiliando a desenvolver todo o processo de distribuição de renda e de atendimento de diversas necessidades sociais. Mas essa tarefa não é fácil. Assim como um espadachim tem sua espada e um atirador de elite tem o seu fuzil, você tem a sua mente para realizar grandes feitos e fazer a diferença na sociedade. Mas, assim como a pedra afia a espada e o alvo calibra o fuzil, a leitura afinará o seu cérebro. Esse curso é rápido, mas deve ser intenso. E, em sintonia com esse pensamento, organizei esse material como uma série de unidades que refletem assuntos importantes das principais obras que adoto como referência para que você forme sua linha de pensamento. Dividi os autores em grupos que mesclam a opinião de meus antigos mestres da Fundação Getúlio Vargas – em especial dos mestres Adriano Cassanello do Amaral e Ricardo Franco Moura e Jandir de Moraes Feitosa Júnior – e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – as doutoras Élcia Esnarriaga de Arruda e Silvia Helena Brito – fichamentos, textos inéditos de minha autoria e minha própria experiência de mercado – destacando a essencial contribuição do doutor Carlindo Rodrigues Sequeira Júnior – e em organizações públicas – excepcionais contribuições dos mestres Jocelino Francisco de Menezes e Getúlio Marques Ferreira – para melhor cobrir tudo o que penso que é ideal para a sua formação. Acompanhe: Unidade 1: Teoria sobre Finanças. Esse primeiro momento do estudo concentrará os principais autores que descreveram as funções do dinheiro. O objetivo é nivelar o conhecimento de todos os estudantes acerca do que seja a administração financeira, familiarizá-los quanto ao uso de alguns termos técnicos e prepará-los para as seções seguintes. 6 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Unidade 2: Ferramentas de Análises Financeiras I – Fluxos de caixa. O aluno deverá imergir no mundo das análises financeiras de uma corporação tomando como ponto de partida as ferramentas que avaliam os fluxos de caixa empresariais. Unidade 3: Ferramentasde Análises Financeiras II – Produção e Negócios. O cotidiano corporativo é formado por inúmeras decisões que impactam diretamente o ambiente produtivo e de negócios. Nesse ponto os gastos que formam a atividade corporativa devem ser minuciosamente descritos e considerados de modo a favorecer o resultado da instituição. Lembre-se que suas dúvidas e contribuições são sempre bem-vindas. O sucesso de um curso de pós-graduação está além do material didático oferecido ou do simples conhecimento do professor: repousa, também, na riqueza das interações e no empenho dos estudantes. Bons estudos. 7 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 UNIDADE 1 – TEORIA SOBRE FINANÇAS 1.1 As finanças nas organizações Ao longo desse curso você será convidado e provocado a pensar uma nova forma de conduzir as atividades de uma organização, independentemente do setor em que ela atua. O mundo corporativo está essencialmente dividido em três grandes áreas: marketing, operações e finanças. A experiência e a literatura mostram que, no Brasil, os principais players estruturam suas atividades e focam seus esforços para as primeiras áreas (marketing e operações), mas ainda são superficiais na última (finanças). Isso faz com que a tarefa de administrar uma empresa seja, em sua essência, diferente da missão de gerir uma organização. Gerir uma organização – seja qual for – é bem diferente do que simplesmente administrá-la. Gerir e administrar, sob a luz do conhecimento que agora vou convidá-lo a experimentar, têm significados bastante peculiares, diferentes entre si, mas interligados e interdependentes. Isso quer dizer que não é possível conceber qualquer forma de gestão – ainda mais do tipo estratégica – sem que a administração exista e faça parte de um processo orgânico já consolidado. Enquanto que a administração tem como foco os processos diários1 nos quais se envolve uma organização, a gestão “parte dos ombros”2 da administração e concentra-se no negócio, em detrimento do processo. Mas essa transcendência somente é possível a partir do momento em que a administração já esteja consolidada, ou seja, com todos os processos amadurecidos e as relações com o 1 Tais processos englobam as atividades rotineiras de controle das operações, atendimento ao cliente, controle de estoques, realização de pedidos, etc., essenciais para o negócio de uma empresa, estando ela de portas abertas – durante o expediente comercial – ou não – nas mídias sociais, no networking de seus sócios e colaboradores e em todos os demais canais de relacionamento que promovem as atividades principais da instituição. 2 Aqui se faz uma analogia com a famosa frase proferida por sir Isaac Newton “If I have seen further it is only by standing on the shoulders of giants”, em uma tradução livre “eu pude ver além pois me apoiei sobre os ombros de gigantes”. No contexto dessa produção, diz respeito ao pressuposto de se iniciar a partir de algo anteriormente resolvido e completo, como é o caso da relação entre a gestão e a administração. A partir do presente referencial teórico adotado, a gestão somente é possível e viável quando a administração já está amadurecida e caminha de maneira previsível e correta. Players: compreendem as organizações públicas, privadas e de terceiro setor. Essas três grandes áreas aplicam-se às instituições de maneira indistinta. Isso ocorre justamente porque se vive em uma sociedade produtora de mercadorias, onde não é possível imaginar que haja algum tipo de troca absolutamente gratuita. 8 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 mercado estável3. A estabilização da empresa no mercado coincide com as curvas de maturidade de suas principais mercadorias. Após ter em seu portfólio de negócios produtos que atinjam o status de vaca leiteira4 ou se a empresa foi concebida e realizada sob fortes bases conceituais, com planejamento e execução adequados, é o momento do gestor tomar as rédeas do negócio e adotar uma postura estratégica na condução da organização. E a forma mais efetiva do cumprimento dessa missão é a adoção de “armamento pesado”: as ferramentas de finanças corporativas. Mas não podemos “cair na tentação” de entender a empresa como um ser isolado no mundo. Todos os principais acontecimentos econômicos e sociais de nosso tempo influenciam o ambiente corporativo. Os fundamentos nos quais baseamos toda a ciência da administração são, a todo momento, testados e colocados em xeque. Quem ia imaginar que o mundo estaria assim: os árabes derrubaram seus principais governos quebrando uma sequência de décadas de ditadura e centralização do poder. A Europa sofre com iminentes calotes da dívida interna dos principais países, como Itália, Espanha e Portugal – o que pode arrastar para uma espiral negativa seus principais credores, que são França, Alemanha e até a Inglaterra –, taxas de empregos decrescentes, êxodo de trabalhadores para as economias asiáticas e mesmo a concorrência das indústrias locais com as provenientes da China. Os Estados Unidos ainda tentando se recuperar dos efeitos da crise do subprime, em 2008, registrando uma fraca atividade econômica, empregos em escassez, o mesmo problema de concorrência com a produção chinesa e a decadência do mercado de consumo europeu. E um dos países mais industrializados do mundo, o Japão, enfrenta uma das piores crises energéticas de sua história, após os abalos sofridos com o terremoto seguido de Tsunami, que 3 Isso significa que a empresa já tem seus principais produtos ofertados em um grau de maturidade produtiva, em que as receitas não mais se comprometem por conta das tentativas de ganhos de mercados ou mesmo fiquem reféns de um não posicionamento corporativo adequado. 4 De acordo com a Matriz BCG (Boston Consulting Group, 2011), refere-se à categoria de mercadorias que representam as principais fontes de recursos financeiros e de market share da organização, mas apresentando um crescimento de mercado lento ou estabilizado. A matriz ainda é dividida em outras três categorias: “question marks”, com alto crescimento, mas baixa participação de mercado, “stars”, com elevadas taxas de crescimento e de participação de mercado, e “dogs”, que apresentam baixos níveis de crescimento de vendas assim como de participação de mercado. Empresa deve ser entendido de maneira ampla, estendendo sua abrangência às organizações públicas e do terceiro setor. Todas elas têm características que as diferenciam entre si e as tornam únicas. Mas, todas também devem ter um mínimo de organização de suas finanças, já que dependerão do uso de recursos financeiros em algum momento de sua atuação. 9 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 acabou com a usina nuclear de Fukushima, obrigando a revisão de toda a matriz energética. Por outro lado, países que historicamente estiveram à margem do desenvolvimento mundial agora adentram um período – que promete ser longo – de bonança. Falamos dos quatro principais, Brasil, Rússia, China e Índia, que se consolidam como os principais motores do desenvolvimento econômico mundial. Se pudéssemos viajar no tempo e voltar somente 20 anos, até mesmo os analistas econômicos mais revolucionários não dariam crédito a isso tudo que estamos falando. E, dentre esses destaques atuais, podemos dizer que o Brasil é a bola da vez. Está mais comum ouvirmos falar bem do país do que o contrário. Nossos indicadores de produção, trabalho, emprego e educação apontam para uma nação em franco desenvolvimento e com o estabelecimento de fundamentos sólidos o bastante para permitir alguns bons anos de progresso duradouro. Fonte: http://migre.me/6cXfe Mas como isso pode influenciar nas análises, decisões e ações no escopo das finanças corporativas? A resposta é a seguinte: ao compreender como funciona o processo mais avançado, podemos vislumbrar oportunidades,fugir de situações potencialmente prejudiciais e trazer para nossa organização as melhores práticas para estruturar as finanças corporativas de modo a “blindar” as operações dos períodos de baixa do mercado. Convido-o a mergulhar, agora, na Economia para entender como poderemos fazer tudo isso. E, para começar a conversa, vejamos algumas definições básicas, mas bastante importantes. Só assim teremos a plena noção do que será trabalhado e quais são as condições essenciais para que aconteça de maneira bem sucedida essa forma tão peculiar de gestão dos negócios com uso das mais poderosas ferramentas disponíveis na literatura e no mercado. Como ponto de partida para nosso estudo, concentremos nossos esforços, por ora, no principal combustível do motor corporativo: o dinheiro. 10 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 1.2 Considerações sobre o dinheiro Você já se perguntou para que serve o dinheiro? Ou melhor, para que não serve? A sociedade fundamentada sobre o modo capitalista de produção depende desse importante meio para edificar suas relações. É impossível, hoje, não encontrarmos o dinheiro ausente em qualquer parte da tecitura das relações sociais. Até as iniciativas mais nobres (e justas) de altruísmo precisam se valer de seu poder de compra para distribuir oportunidades ou alívio aos que necessitam. Mas, o dinheiro, além de trazer benefícios a quem tem, seu excesso ou (mais frequentemente) a sua falta, pode representar graves problemas para as pessoas. No vocabulário de finanças, então, duas palavras antagônicas, mas separadas por uma linha bastante tênue, devem ser bastante conhecidas do gestor financeiro: investimento e endividamento. Mas, antes que destrinchemos como ambos ocorrem e como tirar proveito de suas características para o cotidiano corporativo (e, por que não, pessoal), vale a pena entendermos o que significa o termo dinheiro. Fonte: http://migre.me/6cXtb Dinheiro é uma das maiores expressões das relações existentes em nossa sociedade. A partir dele, é possível que um professor, que trabalha três períodos e tem filhos pequenos, por exemplo, possa encontrar uma forma de levar os filhos ao colégio: basta contratar um motorista. E permite, também, que esse mesmo motorista possa dar uma rápida parada para o almoço entre um trajeto e outro, pagando por uma importante refeição. Esse interessante meio de trocas foi crucial para o desenvolvimento da sociedade tal como a conhecemos hoje. Como tudo o que existe passa por um ciclo que envolve o nascimento, o desenvolvimento e a decadência, assim também somos nós e nossa capacidade produtiva. Isto é, não temos aos 70 anos o mesmo potencial que tínhamos aos 20. Há, então, a necessidade de algum mecanismo que sustente nossas atividades futuras, em um momento por nós chamado de aposentadoria. A velhice representa um custo de manutenção, que é feito a partir do uso do dinheiro – que, geralmente, acumulamos ao longo de nossa vida profissional. Essa é outra importante função do dinheiro: reserva de valor. 11 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Apesar de representar um símbolo da sociedade capitalista e de ser evidente a necessidade e indispensabilidade de seu uso, o dinheiro é visto de forma dual por diferentes pessoas: como a ferramenta principal para a construção de um mundo mais justo e fraterno, ou como o maior ingrediente dos conflitos e da disparidade entre os povos. Nossos antepassados bem sabiam que a melhor maneira de garantir o jantar era caçando. Isso quer dizer que, nos primórdios de nossa organização social, o principal modo de subsistência era a caça, a pesca e a coleta rudimentar. Quanto mais se conseguia em uma dessas empreitadas, mais condições tinha um caçador de alimentar toda uma tribo. Quanto maior fosse a quantidade de peixes conseguida ou a quantidade de carne estocada, maior o status do explorador devido à importância que ele desempenha em seu grupo. Assim, quanto mais animais eram abatidos, melhores as condições de sobrevivência de um grupo. Mas a caçada tem suas penúrias: pesquisas arqueológicas recentes mostram que a estrutura óssea encontrada em fósseis do homem de neandertal assemelhava-se aos dos peões de rodeio (HALFELD, 2010). Ou seja, ambos enfrentaram animais grandes e nem sempre saíram ilesos de um confronto. Há uma máxima em economia que diz: “as necessidades são ilimitadas e os recursos, escassos”. Assim, pode-se facilmente concluir que o rápido crescimento populacional demandou uma maior quantidade de acúmulo de recursos – e em menor tempo. Esse foi o cenário para o desenvolvimento da agricultura. Com a agricultura, as técnicas desenvolvidas e adaptadas para a caça já não eram eficientes. O esforço e os recursos empregados nessa nova forma de produção social passaram a oferecer maior retorno a quem a ela dedicou suas energias. Menos pessoas, empregando menos recursos, passam a ter mais condições de sustentar mais integrantes do grupo que representam. O tempo passa e algumas pessoas acumulam mais alimentos que outros bens retirados da natureza, enquanto outros gastam praticamente tudo o que ganham. Os primeiros têm, obviamente, mais condições de sobreviver com relativo conforto que os últimos. Agora o cenário é de divisão social entre os que têm mais e os que têm menos. Alguns grupos mais competentes em produzir um determinado bem – seja por conta do clima mais favorável ou pela maior disponibilidade de um determinado recurso – passam a especializar-se nesse bem, enquanto outros se especializam 12 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 em outros. Como o domínio da produção de todos os bens não é pleno, as comunidades começam a desenvolver trocas entre si. Surge então o comércio. Os produtores nem sempre dão conta de produzir e negociar seus produtos. A figura do trader ou do negociador passa a ser de grande importância para a circulação das mercadorias. O trader, muito embora não fabrique produtos, a sua mercadoria, ou seja, o que ele vende, é justamente o ambiente de encontro entre diferentes produtores de mercadorias de utilidade para a sociedade. Nesse ambiente, ocorrem as trocas de mercadorias. Com o aumento da produção e de produtores – e de negociadores – a concorrência passa a determinar os rumos do desenvolvimento social. É o que vivenciamos hoje. Você entendeu a lógica do processo? As necessidades humanas sempre existem. E isso ocorre, pois uma pessoa, para viver, precisa alimentar-se, educar-se, divertir-se... e a plenitude nunca é atingida. A saciedade vem por meio do consumo. Mas, quanto mais se acumula, melhores as condições de sobrevivência. Mas, para melhor acumular, são necessárias formas de agir e de pensar diferenciadas dos demais concorrentes do mercado. A essas ações diferenciadas damos o nome de estratégia. Fonte: http://migre.me/6dkLp O conceito que Halfeld (2010) nos traz é bastante interessante. Vejamos: Imagine-se na seguinte situação: você está no alto de uma plataforma de 15 metros de altura. Lá embaixo há uma piscina. Você prende a respiração e pula. Sentiu frio na barriga? Provavelmente, se você nunca pulou de uma altura dessas, isso pode ser uma situação difícil. Mas há atletas que não só pulam como fazem várias acrobacias antes de cair na água. Outra situação: você quer comprar uma casa. Vê um anúncio, visita o local com o corretor e decide comprar a tão sonhada casa própria. Mas, ao tentar descontar o cheque, o vendedor descobre que não há fundos no cheque que você deu. Qual a relação entre as duas situações? Em ambos os casos temos pessoas em uma situação decisiva pouco antes de uma realização. Percebemos que, no momento da decisão, as chances de êxito 13 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 são maiores para aqueles que estão preparados – seja fisicamente para saltar de uma plataforma,seja financeiramente para executar uma grande compra. Um último exemplo para fechar a questão: no final do ano haverá uma viagem com a empresa para a praia. Você percebe que está um pouco fora de forma e decide frequentar uma academia. Convida um amigo para acompanhar você nessa empreitada. Após intermináveis sessões de alongamento e levantamento de peso, você desiste por achar que não está dando resultado, mas seu amigo continua. Depois de cinco meses, você até assustado com a nova forma de seu amigo, enquanto que você continua do mesmo jeito... Nesse exemplo percebemos que houve uma necessidade (ficar mais forte) que gerou um estado de espírito (motivação para frequentar uma academia). O estado de espírito levou a uma série de ações (fazer exercícios, cuidar da alimentação, etc.). Quem persistiu, colheu os resultados. A isso damos o nome de investimento. Investir, portanto, é abrir mão de algo que pode ser feito agora e trabalhar isso para gerar um potencial de consumo futuro muito maior. 1.3 A Economia e as Análises Financeiras A compreensão da economia permite que se estabeleçam relações entre seus resultados agregados e o desempenho dos vários agentes econômicos que a compõem. Por agentes econômicos entendem-se todas as pessoas e formas de organização (indivíduos, empresas e governo) com capacidade de tomar decisões. Nesse contexto, é dado especial destaque aos intermediários financeiros. Os instrumentos de movimentação de fundos são os ativos financeiros que se constituem, em essência, em direito que um agente possuidor apresenta em relação a outro. Ao longo desse texto, estudaremos a riqueza, as transações de troca que se verificam entre as pessoas. Buscaremos compreender a decisão de utilização de recursos produtivos escassos (terra, trabalho e capital), que carregam um custo de oportunidade, no processo de transformação e produção de diversos bens e serviços, e sua distribuição para o consumo. 14 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Figura 1 - “De moeda em moeda o porquinho enche o papo” Fonte: http://migre.me/6cSgl Toda sociedade econômica, qualquer que seja sua forma de trabalho, enfrenta três problemas fundamentais e determinados pela lei da escassez: • o que e em que quantidade produzir; • como produzir, com que recursos tecnológicos, financeiros, etc.; • para quem produzir, ou seja, para quem deverão ser distribuídos os diversos bens produzidos. Essa tríade de problemas é comum a todas as sociedades, porém é respondida de maneiras diferentes, segundo sejam suas condições e verdades. Algumas economias menos desenvolvidas, e com recursos tecnológicos limitados, regulam essas questões de forma menos eficiente que outras mais desenvolvidas: outras sociedades seguem práticas culturais e religiosas próprias, impondo restrições, por exemplo, ao acúmulo de riqueza: outras, ainda, são conduzidas por ideários que vinculam as decisões econômicas a um planejamento centralizado: e, finalmente, as sociedades econômicas mais liberais costumam delegar ao mercado a solução de seus problemas econômicos básicos, por meio de um sistema de preços e de livre comércio. Se os recursos existissem em abundância na natureza e a economia pudesse distribuir de forma ilimitada seus bens produzidos, os problemas básicos descritos deixariam de existir. Nesse ambiente, as necessidades humanas estariam plenamente satisfeitas e não faria qualquer diferença a curva de oferta de qualquer produto em particular, assim como a eficiência na produção, e a distribuição dos bens e serviços às várias pessoas e famílias. No entanto, os denominados bens livres, como o ar puro, por exemplo, são cada vez menos frequentes, dando lugar aos bens econômicos, que apresentam algum nível de escassez e valor econômico. Por meio desses bens, são regulados 15 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 os padrões de vida, cabendo a toda a sociedade a decisão sobre os produtos a serem consumidos, pois nem todos os desejos e necessidades poderão ser satisfeitos. A alternativa que cabe a toda decisão econômica é a melhor seleção dos produtos relativamente escassos: quanto mais dinheiro se gasta em moradia, menos se consome em vestuário; quanto mais os governos aplicarem em estradas, menos recursos restam para a educação, e assim por diante. Em outras palavras, quanto mais a sociedade consumir hoje, menor sua capacidade de poupança e, em consequência, menor sua capacidade futura de produção e geração de riqueza. Toda sociedade deve indicar como devem ser alocados os recursos para a produção de um produto, e sua transferência para a fabricação de algum outro bem. A economia de pleno emprego assume, ao decidir produzir determinado produto, renunciar à produção de outro. Essa é a lei da substituição, estabelecida segundo as orientações e preferências da sociedade econômica. Toda vez que se deseja obter quantidades adicionais de um bem, é necessário sacrificar quantidades de outro. A economia alerta, ainda, para a conhecida lei dos rendimentos decrescentes, extraída da relação verificada entre um fator de produção (mão de obra, por exemplo) e o bem produzido. Essa lei descreve que unidades adicionais de fatores de produção promovem incrementos na produção, porém a taxas decrescentes. Os acréscimos de produção vão-se reduzindo à medida que se incorporem ao processo mais fatores de produção, ou seja, a parte fixa torna-se cada vez menor por fator de produção introduzido. Por exemplo, a produção (sacos) de grãos agrícolas não acompanha proporcionalmente o crescimento do número de trabalhadores (fator de produção variável) na terra (fator de produção fixo). Conforme se eleva o número de trabalhadores na produção de sacos de grãos na terra, a quantidade elaborada também é incrementada, porém a um volume continuamente decrescente. A produção incremental por unidade de mão de obra irá apresentar-se cada vez menor, ressaltando os rendimentos decrescentes do fator de produção terra. O comportamento da lei dos rendimentos decrescentes não apresenta sempre a mesma regularidade. Algumas vezes, as taxas de variação decrescentes somente começam a ocorrer após a inclusão de uma quantidade maior de fator variável de produção, restando cada vez menos recursos para se trabalhar. Essa lei 16 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 é de fundamental importância para a Economia e a avaliação tecnológica, permitindo melhor entendimento entre as variações e as quantidades produzidas. É interessante ressaltar, ainda, algumas situações de comportamento positivo da produção, em que todos os fatores se elevam conjuntamente na mesma proporção ou, em certos casos, em proporções maiores, como é o caso de escalas industriais de fabricação. Esse fenômeno se verifica em casos de produção em massa, em que são destacados os ganhos de escala, e são influenciados pela disponibilidade de energia abundante e barata (energia nuclear, por exemplo); padronização e especialização da produção; robotização; além de vários outros desenvolvimentos tecnológicos. 1.4 Rendas, Investimentos e Poupança As rendas representam a remuneração dos agentes que participam, de alguma forma, do processo produtivo de uma economia. São, essencialmente, receitas em dinheiro compensatórias de serviços prestados, como salários recebidos, juros sobre capital emprestado, lucros sobre capital investido e assim por diante. Há diversos tipos de renda: • A renda interna equivale ao produto interno da economia, exprimindo o total das rendas geradas no interior de um país. Engloba, em outras palavras, o total dos rendimentos (salários, juros, aluguéis, lucros, etc.) auferidos pelos agentes econômicos em determinado período (um ano, geralmente) em razão de sua participação no processo produtivo interno da economia. • A renda nacional, por outro lado,é a soma de todas as rendas auferidas pelos habitantes de um país, determinada pelas operações produtivas de caráter interno ou externo. A característica marcante da renda nacional é que pertence ao país, sendo igual ao produto nacional. Por exemplo, lucros recebidos do exterior são de propriedade do país recebedor e, portanto, consideradas como renda nacional. Lucros remetidos para outras economias são receitas geradas internamente, porém de propriedade de outros países, não sendo, portanto considerados como renda nacional, e sim classificados como renda interna. 17 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Os países costumam enviar e receber rendas do exterior. A diferença entre o valor enviado e recebido denomina-se renda líquida do exterior. Se negativa, representa uma renda líquida enviada ao exterior; se positiva, denota um fluxo financeiro positivo oriundo do exterior. Os países em desenvolvimento, diante de sua enorme dependência de capital e tecnologia de outras economias mais avançadas, costumam remeter mais rendas que recebem, apurando uma receita líquida negativa. Essas remessas ocorrem normalmente sob a forma de juros sobre o capital emprestado, pagamentos de leasing e royalties pela tecnologia importada, etc. A renda pessoal é a renda efetivamente transferida às pessoas, e é calculada deduzindo-se da renda nacional os lucros retidos pelas empresas, contribuições e benefícios previdenciários, imposto de renda sobre as pessoas jurídicas, etc. O Investimento representa a ampliação de capital em alternativas que promovem o aumento efetivo da capacidade produtiva de um país, determinando maior capacidade futura de gerar riqueza (rendas). O investimento pode ocorrer em bens de capital (máquinas, equipamentos, etc.), denominado formação bruta de capital fixo, e em estoques. Fonte: http://migre.me/6dkKz É importante ressaltar que o conceito de investimento em uma economia vincula-se à criação de riqueza, e não simplesmente à transferência de propriedade de um bem. Adquirir ações em Bolsas de Valores, por exemplo, não pode ser interpretado como investimento dentro do conceito econômico. Por se tratar de mercado secundário, a compra de ações envolve uma simples transferência de posse dos valores, sem agregar riqueza à economia. Se a compra ocorrer, no entanto, quando do lançamento das ações (mercado primário), admite-se uma noção de riqueza motivada pela canalização direta do capital investido na empresa e é considerada como investimento no sentido da economia. A poupança é a parcela da renda economizada pelos agentes econômicos, que não foi consumida na aquisição de bens e serviços. Na avaliação da poupança costuma-se incluir, também, a parcela da renda gerada, mas que não foi transferida 18 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 financeiramente para seus proprietários. Por exemplo, os lucros retidos pelas empresas. A poupança realimenta todo o processo produtivo por meio dos diversos instrumentos de intermediação do mercado de capitais. Os intermediários financeiros captam a poupança disponível e a reconduzem ao sistema produtivo mediante diversas formas de créditos, contribuindo para a expansão do nível de investimento e oferta de bens e serviços. Uma baixa capacidade de poupança ou, o que é o mesmo, alta propensão ao consumo, limita o crescimento da economia. São direcionados, nessa situação menos recursos para investimentos produtivos, inibindo o crescimento do mercado. Nesses casos, os países recorrem normalmente à poupança externa como forma de financiar seu crescimento. É interessante acrescentar que a formação da poupança pela simples retração do consumo não promove, necessariamente, o crescimento da economia, sendo preciso que esses recursos sejam viabilizados, por meio de instrumentos financeiros adequados, para o financiamento dos investimentos produtivos. Se a poupança não for direcionada pelo sistema financeiro aos agentes deficitários de capital para investimento, não se verificará geração de riqueza na economia, somente redução de consumo e da renda nacional. A poupança deve originar-se de estímulos à redução do consumo para lastrear os investimentos da economia. Estudos demonstram que, se não houver o direcionamento da poupança para investimento, o ato de poupar pode constituir-se em fato inibidor do crescimento da economia (HALFELD, 2010). 1.5 Investimentos no Brasil Antes de mais nada, para analisar os diferentes tipos de investimentos, é necessário compreender a realidade nacional. No Brasil existem dois grandes grupos de investimento: • Os investimentos de poupança dizem respeito aos produtos que bancos comerciais, de investimento, e outras instituições financeiras oferecem aos clientes, e que consiste em depósitos realizados, que rendem juros, que são somados ao dinheiro guardado e depois devolvido (ou sacado) ao cliente. 19 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 • Os investimentos acionários nada mais são do que a compra de um pequeno pedaço de uma empresa. Quem o faz torna-se sócio dela e pode desfrutar de seus lucros. Também se pode ganhar com a revenda da participação a outros interessados. Até os anos de 1960, o mercado brasileiro de bolsas de valores não era interessante a ponto de atrair os fluxos dos investimentos de poupança. Ele era alimentado basicamente pelos tradicionais investidores e tinha liquidez (ou seja, facilidade de negociação – compra e venda das ações) para um número extremamente reduzido de ações (máximo de 30 ações). A partir de 1960, no entanto, uma boa parcela dos aplicadores de renda fixa começou a perceber que o retorno a médio e longo prazos no mercado de bolsas de valores era significativo. O aumento dos investimentos no mercado de capitais se deveu também à profissionalização no atendimento aos acionistas. As empresas passaram a distribuir dividendos compatíveis com a realidade do mercado e ficou patente a necessidade de criação de um órgão fiscalizador do mercado. No Brasil, para essa finalidade, foi criada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em 1962, ocorreu o primeiro boom do mercado. Empresas como Brahma, por exemplo, conseguiram render 313% no ano – lembre-se de que a inflação no ano chegou próximo aos 80%. Apesar da inflação, na ocasião, a procura por ações ocorreu muito mais pelo fato de os investimentos em imóveis estarem escassos pela falta de financiamento de longo prazo e devido à eliminação das letras de importação do Banco do Brasil. Para se ter uma ideia da corrida, basta lembrar que, de 1959 a 1962, as ações da Vale do Rio Doce tiveram alta de 3.716%. Evidentemente, sucessivas chamadas de capital (vendas de papéis) das empresas negociadas no pregão e as restrições ao crédito impostas pelo plano trienal do Governo, além da crise política que se avizinhava, derrubaram novamente as cotações e fizeram com que as pessoas se esquecessem das bolsas por mais alguns anos. Em 1969, no entanto, em função do impulso desenvolvimentista da nação e da necessidade de capitalização das empresas nacionais a baixos custos, o Governo novamente atuou permitindo que as empresas passassem a distribuir bonificações em ações sem tributação, reduzindo a tributação dos dividendos na fonte e a correção monetária do capital de giro. 20 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 O processo culminou com a isenção do imposto de renda sobre os aumentos de capital, decorrentes da incorporação de reservas e de lucros não distribuídos. Além disso, os papéis de renda fixa foram mais tributados e houve incentivos para a compra de ações, que tiveram dedução maior no imposto de renda. Com todos esses fatores, ocorreu no mercado uma das maiores altas da história, culminando em 1971. Neste mesmo ano, houve uma grande queda, muito mais ocasionada pela falta de infraestrutura do mercado.Mais adiante, o mercado consolidou-se, gradativamente, com a criação dos Fundos 157, que capturavam uma parcela de incentivo do imposto de renda. Foram criados os mercados futuros e de opções, que protegiam o investidor profissional e davam mais liquidez ao mercado, e estabelecia condições propícias através da informatização de todos os processos, inclusive a guarda das ações (custódia). Os clubes de investimento, grandes responsáveis pelo impulso surgido a partir de 1980, foram regulamentados. Finalmente, mais recentemente, a criação da Bolsa Brasileira de Futuros e da Bolsa Mercantil e de Futuros (que depois resultaram na BM&F BOVESPA, uma operação totalmente integrada entre ambas as bolsas), consolidando as operações de commodities, fez com que o mercado acionário adquirisse maior importância e pudesse ser equiparado a qualquer mercado internacional. 1.6 Indicadores monetários É importante conhecer os principais indicadores monetários para saber o direcionamento dos fluxos de capitais no mercado brasileiro. Vejamos alguns dos principais indicadores: a) Saldos da balança comercial: essa variável vem adquirindo maior importância no cenário econômico brasileiro, principalmente nos últimos anos, dada a premente necessidade de saldar débitos com o sistema financeiro internacional. Suas quedas são acompanhadas por quedas nas cotações das ações, assim como suas subidas costumam antecipar aumentos das cotações. É importante frisar que os saldos da balança comercial refletem mais uma perspectiva de curto prazo, já que eles são divulgados mensalmente. 21 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 b) Dólar paralelo: ainda na atualidade, a poupança nacional possui, infelizmente, características estruturais semelhantes, sob certos aspectos, às de países menos desenvolvidos, onde um fluxo de capitais enorme e não formal sai do país sob a forma de moeda internacional mais forte – no caso o dólar, o euro ou o iene. Devido a este fato, é necessário considerar as variações súbitas do dólar paralelo, que também podem vir a afetar a Bolsa de Valores, embora com muito menos ímpeto que a forma anterior. Examinando-se o spread (diferença entre o que se paga para captar e o que se cobra para emprestar, ou simplesmente a diferença entre duas cotações) verifica-se claramente como se redirecionam os fluxos na economia. • Spreads muito altos, em relação ao comercial, normalmente indicam possível reversão de tendências nas bolsas de valores se elas estiverem em baixa. • Spreads muito baixos indicam possível reversão de tendências se as bolsas estiverem em alta. Figura 2 - “Quem só trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro” Fonte: http://migre.me/6dkLp c) Ouro: o mercado do ouro vem assumindo importância cada vez maior nos fluxos monetários do país. Os processos inflacionários agudos se refletem de imediato no mercado do ouro. Os grandes investidores têm se protegido contra perdas nesse mercado nos casos de crises políticas ou econômicas. Historicamente tem sido observada uma correspondência entre os mercados de dólar paralelo e de ouro no Brasil. É bom lembrar que à medida que o mercado brasileiro se internacionaliza, as cotações internacionais passam a ter maior peso sobre o valor do metal cotado no Brasil. Em outras palavras, o ouro tem sido usado como seguro contra as oscilações do mercado. 22 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 d) Taxa de Juros da Economia: o governo também precisa de dinheiro emprestado para financiar seus projetos e custear suas operações cotidianas. Para isso, recorre ao mercado. E a maneira de remunerar quem empresta dinheiro, é fixando taxas de juros. Essas taxas também são usadas como instrumento de controle da economia no combate contra a inflação: quando o consumo está muito alto, pressionando os preços, é necessário reduzir a atividade econômica, aumentam-se os juros. Quando o consumo está baixo, para estimular o crédito e as compras, reduzem-se os juros. Exercício 1 1. Nossos antepassados bem sabiam que a melhor maneira de garantir o jantar era caçando. Isso quer dizer que, nos primórdios de nossa organização social, o principal modo de subsistência era a caça, a pesca e a coleta rudimentar. Esse período guarda certa semelhança com os dias atuais no que diz respeito ao conceito de riqueza. Qual seria, então, esse fator que une as duas pontas de períodos tão distantes da história? a) A forma de se acumular: tanto antes quanto hoje só se acumula quantidade significativa de dinheiro a partir da competição extrema, que pode, inclusive, implicar na destruição do oponente. b) O quanto se deve acumular: tanto antes quanto hoje o quanto se acumula é que diferencia ricos de pobres. c) O quando se consegue acumular: tanto antes quanto hoje, o tempo é quem define a linha divisória entre ricos e pobres. d) A modalidade do acúmulo: tanto antes quanto hoje, há produtos que determinam a riqueza e que não mudam, independentemente da região, da cultura e do momento histórico. Um bom exemplo disso é a escravatura. 2. Os produtores nem sempre dão conta de produzir e negociar seus produtos. A figura do trader ou do negociador passa a ser de grande importância para a circulação das mercadorias. Mas, o que faz o trader? a) Embora o trader não seja um fabricante de mercadorias, ele é o responsável por promover o ambiente de encontro para a troca de mercadorias entre os diferentes produtores. b) Embora o trader não seja um produtor de mercadorias, ele as compra para o consumo próprio e, ao perceber que haverá sobras, ele as negocia. c) Justamente por ser o principal produtor de mercadorias em uma sociedade, o trader é quem dita os preços, regras do mercado e é quem cria o ambiente de negociação. d) O trader é a principal figura do mercado. Isso pois é função dele ditar os preços e promover a troca de produtos entre os produtores. 23 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 3. As necessidades humanas sempre existem, pois uma pessoa, para viver, precisa alimentar-se, educar-se, divertir-se... e a plenitude nunca é atingida. Isso pressupõe que: a) O modo capitalista de produção está fadado ao fracasso. Seu Calcanhar de Aquiles reside na sua característica de não poder atender a todas as necessidades humanas, o que levará a sociedade ao caos e à autoaniquilação mútua. b) Devemos analisar as finanças corporativas sob a ótica da priorização ou urgência. Projetos que não oferecem retorno devem ser logo descartados, sob pena do uso de recursos escassos e sempre necessários à organização. c) Independentemente do momento histórico, o melhor modo de produção será sempre o capitalista, posto que ele se fundamenta nas necessidades humanas, que são infinitas. d) As finanças corporativas não apresentam qualquer relação com esse ou qualquer outro pressuposto econômico, haja vista a precisa delimitação de escopo de sua classificação enquanto ciência. 4. A lei dos rendimentos decrescentes descreve que unidades adicionais de fatores de produção promovem incrementos na produção, porém a taxas decrescentes. Os acréscimos de produção vão-se reduzindo à medida que se incorporem ao processo mais fatores de produção. Relacionando tal lei econômica ao cotidiano das finanças corporativas, é correto concluir que: a) As finanças de uma organização devem enfocar o resultado e, os investimentos são a melhor forma de se atingir esse propósito. No entanto, há limite para se investir, posto que a capacidade incremental produtiva de qualquer mercadoria é limitada. b) Uma organização de qualquer porte tem condições de utilizar os preceitos econômicos para a condução de suas atividades produtivas cotidianas, exceto a referida lei econômica. c) As organizações devem se atentar para esse importante postulado econômico, tendo em vista que se pode prescindir de investimentos para auferir ganhos deescala produtiva. d) Investimentos e ganhos produtivos apresentam muita coisa em comum: os ganhos somente podem ocorrer mediante a realização de gastos. E não se pode melhorar essa condição sem que esse incremento nas saídas de caixa ocorra. 5. Acompanhe a seguinte situação hipotética: a empresa Ômega aufere lucros anualmente há 10 anos. Durante uma reunião do conselho diretor, ficou decidido que os lucros retidos e não distribuídos seriam gastos com compra de ações de empresas concorrentes, no mercado secundário (bolsa de valores). Do ponto de vista econômico, isso pode ser considerado investimento? a) Sim, pois está sendo aumentado o potencial de ganhos do acionista. b) Sim, pois a empresa está adquirindo fatores de incremento produtivo. 24 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 c) Sim, pois a empresa está eliminando a concorrência. d) Não, pois a empresa não está adquirindo fatores de incremento produtivo. 25 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 UNIDADE 2 – FERRAMENTAS DE ANÁLISE FINANCEIRA I: FLUXOS DE CAIXA 2.1 Avaliação em finanças As finanças corporativas precisam ser corretamente avaliadas, o tempo todo, para que se possa dimensionar de maneira correta o montante de recursos necessário para a efetiva realização da produção. Mais uma vez, devemos lembrar o pressuposto principal da teoria econômica que ensina sobre a escassez dos recursos em oposição à infinidade das necessidades. Lembre-se de que o principal desafio da organização do capital é a melhoria da produtividade. A produtividade somente será maior se houver investimentos. Os investimentos podem ser realizados em capital constante – máquinas, instalações físicas, etc. – ou em capital variável – pessoas, treinamento, gerência, etc. Mas os investimentos devem ser feitos com cuidado. Alie a necessidade de se investir para aumentar a produção e a produtividade, ao fato de que os recursos são escassos, surge o problema da incerteza sobre qual investimento deve ser feito prioritariamente. Até mesmo é comum que se depare com a incerteza sobre a própria necessidade do investimento. A priori, não é possível sabermos se o investimento de fato resultará em ganhos produtivos. Há inúmeros fatores que podem comprometer o melhor dos planejamentos de investimento para o ganho de produtividade. Por exemplo, ao se optar pelo aumento na carga horária de trabalho, autorizando a realização de horas extras em uma empresa que fabrica peças para automóveis, o sindicato da categoria pode “barrar” essa iniciativa por entender que a mesma agrava a exploração do trabalho e submete o operário a uma jornada ainda mais desgastante. Também é comum que o investimento em maquinário, reestruturação de cargos e salários, planos de carreira, estruturação de férias coletivas e uma série de outras tentativas de tornar a produção mais ajustada à demanda, resultem em resistência e descontentamento de trabalhadores e sindicatos, anulando os possíveis ganhos planejados. Mas há outros fatores invisíveis para os gestores desavisados – ou despreparados: os custos do dinheiro ao longo do tempo. Vimos na primeira unidade deste material que a economia nada mais é do que o resultado das interações de todos os agentes econômicos ao longo do tempo. 26 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Assim, de maneira geral, os agentes econômicos ajustam seus preços conforme as relações entre a oferta e a demanda. Por exemplo, se determinado produto está presente em grande quantidade no mercado – ou seja, não há grande procura pelo mesmo – os preços caem. Quando o produto está em falta – em outras palavras, quando há uma procura maior – os preços aumentam. Para ficar mais claro, pense em uma festa: quando vai ocorrer uma grande festa em sua cidade, na qual todos ficam animados em comparecer, os preços dos ingressos tendem a ficar mais caros. Se a festa estiver animada de verdade, no dia do evento é bem provável que, aquele ingresso que era vendido por, digamos, R$ 30,00, passa a ser vendido por R$ 60,00 ou mais, no momento do evento. Mas se a festa estiver perto do fim, ou se ninguém se interessou por ela, é bem provável que, mesmo no dia marcado, os preços caiam bastante para que o prejuízo dos que compraram de maneira antecipada, ou dos realizadores do evento, não sejam muito grandes. Essa dinâmica ocorre o tempo todo e está presente em todos os momentos de nossas vidas, mesmo que não nos demos conta. Seguindo essa lógica, quando as coisas vão bem – há empregos em abundância, já que as empresas estão produzindo e vendendo bem – é comum que os agentes econômicos reajustem seus preços para cima. Os ganhos tendem a ser maiores e, com isso, os custos produtivos também. Esse aumento é sempre repassado ao comprador, que embute esse custo à sua atividade produtiva que é, por sua vez, somado aos custos que o seu trabalho terá. E por aí vai. Esse movimento resulta em pressão nos preços e gera o que chamamos de inflação5. No entanto a inflação não ocorre da mesma forma em todos os pontos da economia. Há produtos, portanto setores, que têm seus preços aumentando em velocidades e intensidades maiores que outros. Por outro lado, alguns mais que sofrem reduções em decorrência da flutuação entre as mesmas relações de oferta e procura, ou fatores que influenciam momentaneamente na produção. E, se isso ocorre com os preços dos produtos, é evidente que se manifeste no valor do trabalho e na sua remuneração correspondente. Mas veja: o capital enfrenta dois problemas, tal como descreve Tortosa 5 Além da inflação, há outras duas situações possíveis, quando se consideram os preços gerais praticados no mercado: a deflação e a estagflação. O primeiro termo diz respeito ao crescimento da inflação abaixo do reajuste dos salários, ou mesmo à redução das taxas de inflação ao longo de um período. O segundo, diz respeito a uma estagnação econômica que, ao mesmo tempo em que não oferece sólidas bases para o aumento na renda da população, não oferece a demanda de mercado suficientemente aquecida para provocar um aumento generalizado de preços. 27 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 (2010): I. Adequação produtiva: o capital precisa produzir mais para enfrentar a concorrência sempre crescente. Não pode reajustar demasiadamente seus produtos como forma de garantir suas margens de ganho, pois isso gera perda de vantagem competitiva quando se considera a concorrência. Então a solução é investir no capital. Máquinas, processos e estrutura física têm a relação entre o preço de aquisição e a sua produtividade exatamente quantificados. Operários, gerência e outras formas de trabalho vivo não podem ser exatamente mensurados. Logo, intensifica-se a exploração e o controle do segundo usando-se o primeiro. II. Precarização do trabalho: o trabalhador não tem outra forma de viver se não participar do mercado. É nesse ambiente que ele troca o produto do seu trabalho por mercadorias usadas no atendimento de suas necessidades. Mas, como seu trabalho torna-se intensificado e os ganhos não ocorrem na mesma proporção, sua capacidade de consumo fica limitada. Como consequência, a de poupança também. Esses problemas fazem que, quanto mais se avança no tempo, menos poder de compra o dinheiro terá. Se hoje é possível saber o que se pode adquirir com uma nota de R$ 100,00, essa tarefa torna-se exercício de adivinhação se tentarmos mensurar o poder de compra desse mesmo dinheiro para daqui a 10 anos. Outra importante forma de análise nos oferece Amaral (2006), quando ensina que: R$ 100,00 na mão hoje vale mais do que R$ 100,00 no futuro, devido à possibilidade de investi-los, ou seja, receber juros e terminar com mais do que o dinheiro inicial. O aumento dos valores, na passagem do valor presente para o valor futuro, deve-se à capitalização dos fluxos de caixa. Inversamente, a reduçãodos valores, na passagem do valor futuro para o valor presente, deve-se ao efeito de descontar6 os fluxos de caixa. Também trabalhamos aqui, que o investimento também representa uma forma de consumo. Isso quer dizer que, se um empreendedor quer aumentar o seu parque produtivo, deverá comprar máquinas e uma série de outros insumos para 6 Amaral (2006) ainda complementa: “Alguns autores preferem a palavra amortizar a descontar. Optamos pela segunda, para evitar confusões, já que na análise de projeto utiliza-se amortizar, frequentemente, no sentido contábil de amortizar gastos diferidos, por exemplo”. Para ele, “Descontar, embora seja utilizado no sentido mercadológico de desconto sobre preço, tem um sentido mais amplo, incluindo o de redução ou diminuição”, e atende a necessidade desse curso de finanças corporativas. 28 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 que esse projeto ocorra. Aqui devemos, mais uma vez, retomar o que dissemos sobre a escassez dos recursos. Raramente um empreendedor dispõe de todos os recursos necessários para a compra dos equipamentos que deseja. Assim, deve recorrer ao crédito. O crédito pressupõe uma interessante situação: um agente econômico que possui recursos financeiros não utilizados os empresta a quem deles precisa para comprar o que quer que seja. Mas esse empréstimo não ocorre de maneira gratuita. Justamente por ter a correta noção de que o tempo altera o poder de compra do dinheiro – e pode trazer consigo muitas surpresas agradáveis, ou não – o credor cobra um valor adicional pelo que foi emprestado. A isso se atribui o nome de juros. Vou citar um exemplo para que a coisa toda fique mais clara. Eu tenho um amigo que, assim como eu, é cirurgião dentista. Certo dia, quando fui visitá-lo, ele veio todo “faceiro” me mostrar o carro novo que havia comprado. Disse-me, mais feliz ainda, que havia pago R$ 80 mil. Mas eu tive a curiosidade de olhar na tabela da FIPE e vi que, na verdade, aquele modelo tinha o preço de R$ 60 mil. Mas e a diferença de R$ 20 mil? São os juros cobrados pelo empréstimo7. Mas o que representam os juros que o credor cobra? Para se proteger da incerteza do futuro, os juros do credor refletem, essencialmente, dois importantes fatores: • Custo de oportunidade: o credor, de alguma maneira, acumulou recursos ao longo do tempo. Esses recursos podem ser “trabalhados” de maneira a aproveitar diferentes oportunidades disponíveis no mercado de investimentos para oferecer potenciais de consumo ainda maiores no futuro. Então, ao emprestar uma parte desse dinheiro, o credor está abrindo mão dessas mesmas oportunidades. Para que não haja qualquer tipo de perda, no mínimo o mesmo que ele ganharia em modalidades mais tradicionais – e mais seguras – será cobrado de quem tomou o dinheiro emprestado. • Risco de crédito: o tomador de empréstimo somente recorreu a uma modalidade de crédito, pois não tinha em mãos o dinheiro necessário para 7 Além dos juros, há outros dois componentes importantes em qualquer financiamento: O principal e o montante. O primeiro representa o valor de troca do bem, ou seja, o preço dele à vista. É somente sobre esse preço que a mistura entre taxa de juros e tempo formam o valor financeiro dos juros cobrados em um financiamento – ou pagos em um investimento. O segundo – montante – representa a soma do preço à vista com a quantidade de juros cobrados no negócio. Tabela da FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – informa os preços médios de veículos no mercado nacional. 29 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 realizar o seu projeto. Mas, em princípio, o credor não sabe qual é a capacidade – e, eventualmente, a credibilidade – do tomador em honrar seus compromissos. Então, para minimizar os efeitos deletérios de um possível calote, tenta-se com os juros acelerar a recuperação do dinheiro emprestado. Na maior parte das vezes8 em que é financiado, o bem adquirido tende a representar um gasto substancialmente maior do que o seu preço de mercado. E isso torna essencial o planejamento bem-feito para a aquisição de insumo, fator produtivo, ou qualquer mercadoria em condições de pagamento a prazo. Não é somente de gastos que vivem as empresas. Mas de previsões de receitas também. Isso quer dizer que, se é preciso planejar-se para os gastos – com pessoal, aquisições, reformas, etc. – também é essencial planejar as receitas. Somente assim é que se apuram os resultados corporativos, no presente e no futuro. Agora, se o futuro é repleto de incertezas, como é que saberemos se um determinado resultado previsto será adequado ou não? Somente com cálculos. E é disso que trataremos a partir de agora. Com o passar do tempo, concluímos que o dinheiro altera o seu poder de compra. Isso por causa do movimento maior de preços da economia, que gera a inflação. Mas também é notável como os agentes econômicos buscam compensar essas perdas com correções de valor atribuindo juros ao dinheiro que emprestam – sob a forma de crédito ou de investimento. E, em uma economia de mercado, essas correções dos juros sobre o dinheiro são realizadas com cálculos específicos. Aqui iremos trabalhar alguns desses cálculos, essenciais ao entendimento correto das análises financeiras corporativas que faremos nas próximas unidades9. Existem duas formas de se calcular os juros de um negócio. Ele pode ser do tipo simples – quando se multiplica o capital pela taxa de juros para se obter o 8 É importante notar que é possível e até comum notarmos que, em países que apresentam inflação e taxas de juros baixas, os bens financiados não apresentam aumentos de preços muito elevados, mesmo que por longos períodos de preços. A combinação entre as taxas de juros e o tempo forma uma mistura explosiva. 9 Por se tratar de um curso de pós-graduação – e não um curso isolado de finanças corporativas –, não trataremos desses cálculos com a profundidade prevista em uma disciplina de matemática financeira. O que se pretende com o conhecimento aqui abordado é oferecer ao aluno as condições para realizar alguns cálculos essenciais ao entendimento dos indicadores que serão usados para a avaliação das finanças corporativas. Logo, o que será tratado aqui é ajustado para a necessidade ora posta. Isso não inviabiliza o aprendizado das técnicas de cálculos oferecidas na cadeira de matemática financeira, tampouco pretende concorrer ou ir de encontro a essa disciplina. 30 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 valor do montante – ou do tipo composto – quando os juros ocorrem de maneira exponencial. As duas modalidades de juros apresentam comportamento bastante similar no curto prazo e a diferença entre ambos tende a ser pequena para períodos igualmente pequenos. Mas, à medida que o tempo avança, o montante calculado pelos juros compostos “explode” em crescimento. Nós nos concentraremos nessa segunda modalidade, devido ao seu alto poder ou impacto sobre qualquer negócio. Outra consideração importante antes de começarmos: você tem em um curso de matemática financeira todo o arcabouço teórico para o desenvolvimento dos cálculos aqui empregados. Justamente por isso, e porque o nosso foco não é como fazer os cálculos, mas sim como interpretar os resultados obtidos com os cálculos, trabalharemos com uma ferramenta poderosa, que nos economizará tempo, dinheiro e muitos esforços: a calculadora financeira HP 12C10: Figura 3 - Calculadora HP 12C Fonte: http://www8.hp.com/br/pt/home.html 10 Escolhemos essa calculadora porque é a mais utilizada no mercado financeiro. Mas o aluno pode usar qualquer outra calculadora financeira ou mesmo planilhas eletrônicas, já que os algoritmos dos cálculos são os mesmos. Há três modelos disponíveis para a mesma calculadora: Série Gold, Série Platinum e Série Prestige. Na prática, o que muda de uma para outra, é a quantidade de memória, avelocidade de cálculo e algumas poucas funções. Para o nosso curso, não importa qual será usada. 31 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Nosso propósito, aqui nesse curso, não é o de promover um treinamento amplo sobre todas as funções da calculadora financeira HP 12C11. Somente as principais funções financeiras serão abordadas para os propósitos desse curso. Inclusive, durante sua capacitação em matemática financeira, certamente serão aprofundados os temas referentes às teorias envolvidas na concepção dos cálculos e o aluno poderá, também, conhecer mais funções da referida calculadora. 2.2 Valor Presente Líquido (VPL) O Valor Presente Líquido, ou simplesmente VPL, é a metodologia mais utilizada para avaliar qualquer projeto, desde a sua concepção até a sua execução. Seu cálculo ocorre a partir do fluxo de caixa descontado (AMARAL, 2006). O autor mostra que: Primeiro, deve-se obter o fluxo de caixa com os valores de cada período. Cada fluxo, tanto os positivos como os negativos, devem ser descontados pelo custo de capital (CC) do projeto, trazendo-o ao valor presente. O CC, também conhecido como o custo médio ponderado de capital (WACC), é a taxa de desconto que pondera a taxa de desconto exigida ou esperada pelos acionistas (Ke) e a taxa média de juros cobrada pelos credores da dívida da empresa (Kd). Quando se trata de um projeto de financiamento, o CC do projeto pode ser acrescido de um prêmio para compensar o endividamento e os riscos incrementais gerados pelo projeto. O fluxo de caixa descontado deve ser o saldo do somatório dos fluxos de caixa positivos e dos negativos, portanto corrigidos para o valor presente pelo CC, ou pelo que chamaremos aqui de Taxa Mínima de Atratividade (TMA) do negócio, cujo significado é o mesmo. A TMA, que nas análises de viabilidade de projetos é representada pela letra “i”, pode ser determinada a partir de uma série de critérios, sempre envolvendo comparações entre algumas taxas resultantes da atividade mercadológica da empresa ou do setor em que atua. As fontes mais comuns são as seguintes: I. Taxas históricas de crescimento da própria empresa II. Custo de captação de recursos da empresa III. Risco de crédito IV. Risco de inadimplência 11 Há diversos bons cursos para esse propósito, inclusive o promovido pelo autor desse material. 32 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 V. Taxas de crescimento de concorrentes e média do setor VI. Taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país VII. Prêmio pago pelo investimento em títulos públicos A vantagem no uso do VPL é estratégica: um dos principais problemas que envolvem os ganhos de produtividade e a estruturação financeira das empresas é o controle do endividamento e o de investimentos financeiros. Se, por um lado, as organizações devem programar suas vendas e os gastos para suas operações cotidianas, é de suma importância que saibam calcular os custos do dinheiro para cada uma das decisões que precisam ser tomadas. O problema se agrava se levarmos em consideração que há custos de endividamento, taxas de retorno esperadas pelos sócios e correções inflacionárias. 2.2.1 Como calcular Antes de calcular o VPL, os dados que “alimentarão” os cálculos devem nascer de uma programação financeira, que nada mais é do que um planejamento do que se quer ou se espera para as finanças organizacionais ao longo de um período. A programação financeira deve ser feita de um jeito claro e de fácil entendimento. Tabelas, desenhos, infográficos são muito bem-vindos. Veja um exemplo: Figura 4 - Diagrama de fluxos de caixa Fonte: Elaboração própria O gráfico acima representa o diagrama de fluxos de caixa. Esse diagrama pode ser facilmente “lido” e interpretado. As setas apontadas para cima representam entrada de dinheiro no caixa. Já as setas em sentido contrário (para baixo) representam saída de dinheiro do caixa. As setas também podem ser substituídas por sinais matemáticos. Assim, uma seta apontada para cima equivale ao sinal positivo (+). Uma seta apontada para baixo tem o significado do sinal negativo (–). Desse modo, temos as seguintes situações possíveis: 33 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 • Seta apontada para cima ou sinal positivo: Receitas de vendas, salários, retiradas de aplicações financeiras (resgates), etc. • Seta apontada para baixo ou sinal negativo: Gastos diversos na empresa, investimentos financeiros (no momento da aplicação), saídas de recursos financeiros do caixa, etc. Os números que acompanham cada seta dizem respeito ao período em que ocorrem os fluxos de caixa. Estes podem ser dias, meses, anos..., mas sempre o período zero diz respeito ao presente, normalmente entendido como o início de um projeto, podendo representar, inclusive, uma fase de concepção em que não há execução, mas apenas tarefas relativas à prospecção das informações necessárias ao início das atividades, como tomada de preços, pesquisas e até compra de equipamentos ou adequação de edificações. Além dos diagramas, é muito comum que se represente uma programação financeira com o uso de tabelas, verticais ou horizontais. Tomando como base o exemplo descrito acima, transformemo-lo em um típico exercício de análise de fluxos de caixa muito usado como base para a elaboração de indicadores matemáticos de finanças corporativas, só que usando o conceito de tabelas. Nesse caso, e da mesma forma como ocorre com os diagramas, é necessário apresentar o período, a taxa e os fluxos de caixa com os respectivos sinais, representando entrada ou saída de caixa. Assim, suponha que uma determinada empresa apresente um investimento inicial de R$ 300,00 e obtenha nos períodos seguintes os fluxos de caixa descritos no diagrama, descontados a uma taxa de 10% ao período. Observe o diagrama do fluxo de caixa apresentado anteriormente com seus dados transportados para uma tabela horizontal: Tabela 1 - Tabela horizontal de fluxos de caixa Períodos 0 1 2 3 4 5 6 Fluxos de Caixa (R$) - 300,00 + 100,00 + 100,00 - 50,00 + 200,00 0,00 + 200,00 i = 10% ao período Fonte: Elaboração própria 34 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 Assim, acompanhemos a resolução: Tabela 2 – Registros na calculadora financeira (exemplo 1) Na HP Teclas Visor Limpar os registros F CLEAR REG 0,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no início do projeto 300 CHS g CF0 - 300,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 1 100 g CFj 100,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 2 100 g CFj 100,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 3 50 CHS g CFj - 50,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 4 200 g CFj 200,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 5 0 g CFj 0,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 6 200 g CFj 200,00 Introduzir o valor da taxa 10 i 10,00 Calcular o Valor Presente Líquido F NPV 85,49 O valor positivo obtido ao final pode nos levar a concluir o seguinte: • O somatório de todos os recebimentos superou o somatório de todos os pagamentos em R$ 85,49; • O saldo final representa um valor já atualizado pela Taxa Mínima de Atratividade (TMA) do projeto; • O investimento é viável do ponto de vista financeiro. 2.2.2 Limitações do indicador O Valor Presente Líquido apresenta algumas limitações, apesar de ser um dos indicadores de avaliação mais usados. Estas são próprias da incerteza inerente às atividades corporativas: • O VPL trabalha com estimativas: projetos fazem parte de planos de negócios. A maior ou menor precisão das previsões não depende somente da qualificação técnica do analista, mas de variáveis mercadológicas incontroláveis. • O VPL considera o mercado constante: o mercado opera em ciclos. Há momentos de profunda crise – como a do ano 2000 (Nasdaq), a do ano 2006-2008 (Subprime),2011 (Dívida Europeia), etc. – e momentos de forte crescimento. Por esse mesmo motivo, não se pode prever o comportamento de ganhos e gastos com exatidão. • O VPL ignora ganhos de produtividade: o capital está em constante desenvolvimento, pois investe uma parte dos seus ganhos no 35 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 aumento da produtividade. Assim, as margens de ganhos se alteram, assim como a capacidade de produzir e vender mais. • Experiência do analista: é bastante comum que a TMA esteja em uma periodicidade diferente dos períodos em que ocorrem os fluxos de caixa. Nesse caso, deve-se usar a regra da matemática financeira de equivalência de taxas. 2.3 Taxa Interna de Retorno (TIR) A Taxa Interna de Retorno, ou simplesmente TIR, é uma taxa de desconto ou correção que torna nulo o resultado do Valor Presente Líquido. Em outras palavras, é uma taxa calculada a partir da relação matemática entre os fluxos de caixa positivos e os negativos de uma série histórica com o objetivo de tornar o empreendimento igual a zero. Seria, portanto, a Taxa Mínima de Atratividade ideal para tornar o projeto neutro no que diz respeito à perspectiva de ganhos ou o risco de perdas. Tal como descreve Amaral (2006): Podem-se calcular os VPLs do projeto com diversas taxas de desconto. Nesse caso, observar-se-ia que à medida que a taxa de desconto aumenta, a VPL diminui, ficando inclusive negativo. Caso fosse criado um gráfico, no momento que a curva atravessa o eixo x, o VPL será igual a zero e a taxa de desconto será, portanto, a TIR. A TIR apresenta informações referentes à margem de segurança de um determinado projeto. Isso quer dizer que, dada a dificuldade natural em se estimar a TMA, representa uma alternativa matematicamente segura para que o analista saiba até que ponto pode confrontar as taxas do próprio negócio com o que o mercado pratica. Assim, supondo que um projeto expresse uma TIR de 30% e o custo de capital de uma empresa seja de 15%, há uma relevante margem de erro para que o projeto possa apresentar retorno positivo. Outra boa vantagem desse indicador é que “mede o retorno do projeto em relação ao investimento realizado” (AMARAL, 2006). Esse é o fator determinante para que a TIR seja usada como o principal indicador dos executivos para rejeitar ou aprovar um projeto. A TIR pode ser entendida, então, como a remuneração do capital esperada para um projeto qualquer. Assim, se o custo de capital for menor que a TIR, o projeto torna-se viável. Caso contrário, deve ser rejeitado. Se a TIR for maior do que 36 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 o custo de capital, o VPL será positivo e, o projeto, viável. 2.3.1 Como calcular Retomemos o projeto fornecido como exemplo no caso da VPL. Agora, o investidor gostaria de saber se um custo hipotético de captação de 7,50% ao período seria ou não razoável para o negócio. A TIR pode fornecer uma pista. Assim, acompanhemos a resolução, mas observe as linhas finais, em que aparecem os comandos para o cálculo da TIR: Tabela 3 - Registros na calculadora financeira (exemplo 2) Na HP Teclas Visor Limpar os registros F CLEAR REG 0,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no início do projeto 300 CHS g CF0 - 300,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 1 100 g CFj 100,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 2 100 g CFj 100,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 3 50 CHS g CFj - 50,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 4 200 g CFj 200,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 5 0 g CFj 0,00 Introduzir o valor do fluxo de caixa no período 6 200 g CFj 200,00 Introduzir o valor da taxa 10 i 10,00 Calcular o Valor Presente Líquido F NPV 85,49 Calcular o valor da Taxa Interna de Retorno F IRR 18,40 O valor positivo obtido ao final pode nos levar a concluir o seguinte: • A TIR para tornar nulo o VPL do projeto é de 18,40% ao período; • Como os custos de captação estão estimados em 7,50% ao período, conclui-se que há uma boa margem de erro para que a projeção de fluxo de caixa venha a se tornar positiva; • Logo, o projeto permite aceitar um custo de captação de 7,50% ao período. 2.3.2 Limitações do indicador Muito embora a Taxa Interna de Retorno (TIR) ofereça a vantagem de poder descomplicar a tarefa de eleger uma TMA que possa ser útil na avaliação de projetos corporativos, há alguns limites para esse indicador. Os principais são os seguintes: 37 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 • A TIR pressupõe reinvestimentos a taxas nem sempre adequadas: “O método da TIR pressupõe que os fluxos de caixa serão reinvestidos pela TIR. Porém a taxa apropriada seria a do custo de oportunidade, ou seja, o custo de capital” (AMARAL, 2006), haja vista que nem sempre as taxas tidas como ideais são aquelas praticadas pelos credores. • Projetos mutuamente excludentes: o método do VPL e da TIR avaliam um projeto como viável ou inviável. Mas se os projetos forem mutuamente excludentes12, a VPL pode representar uma noção mais precisa devido às características próprias de mensurar os saldos dos fluxos de caixa corrigidos pelas taxas de desconto. • Projetos convencionais ou normais: projetos considerados como normais são aqueles que apresentam os fluxos de caixa iniciais negativos – pois é comum que o empreendedor gaste mais do que recebe nos períodos iniciais de sua operação, devido à curva de maturidade do produto e de aprendizagem do mercado. Na sequência, viriam os fluxos de caixa positivos decorrentes do amadurecimento no mercado. • Projetos não convencionais: Já os projetos não convencionais apresentariam um grande fluxo negativo ao final da projeção. O problema disso é que gera múltiplas TIRs, o que deixa a análise sem sentido. 2.4 Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM) A Taxa Interna de Retorno Modificada, ou simplesmente TIRM, é uma taxa de desconto ou correção que tem o propósito de eliminar os complicadores da TIR. A diferença entre as duas é que a TIRM considera o custo do dinheiro tomado como empréstimo para financiar o empreendimento e entende que o dinheiro que o empreendimento gerar será reinvestido. Geralmente, o dinheiro é emprestado a uma taxa segura e fixa – usualmente Caderneta de Poupança ou mesmo um Título Pré Fixado do Tesouro Nacional – impedindo surpresas para o tomador de empréstimo, sendo reinvestido a uma taxa menos segura e, portanto, com maior 12 Mutuamente excludentes são projetos que competem entre si: por terem a mesma função dentro do escopo organizacional ou por representarem soluções semelhantes, a escolha de um necessariamente implica na eliminação do outro. 38 www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 potencial de rentabilidade – como o investimento em ações, por exemplo. Também pode ser feito o cálculo sobre duas modalidades de investimento, onde os fluxos de caixa negativos – os gastos ou investimentos, portanto – são remunerados a uma taxa segura e, os reinvestimentos – saques oriundos do pagamento de bônus ou recebimentos diversos, como aluguéis – são remunerados por uma taxa com risco mais elevado. 2.4.1 Como calcular Suponhamos um caso bastante simples: um investidor decide comprar um imóvel por R$ 110 mil com custos anuais de financiamento de 9% ao ano. Ao final de cada ano, contabiliza o recebimento dos seguintes valores líquidos de aluguéis: R$ 12 mil (ano 1), R$ 15 mil (ano 2), R$ 17 mil (ano 3), R$ 20 mil (ano 4), R$ 22 mil (ano 5) e R$ 24 mil (ano 6). Criando uma tabela com a programação financeira, teríamos o seguinte: Tabela 4 - Tabela horizontal de fluxos de caixa, para cálculo de TIRM Períodos (anos) 0 1 2 3 4 5 6 Fluxos de Caixa (R$) - 110 mil + 12 mil + 15 mil + 17 mil + 20 mil + 22 mil + 24 mil i captação dos recursos = 9% ao ano I reinvestimento dos recursos
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