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Alegações Finais Pateta

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Marcelo Borrasca – Advocacia e Consultoria
	 OAB/SP 250.160
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) DE DIREITO DA 3ª VARA CRIMINAL DE PIRACICABA (SP)
Processo 0002856-10.2021.8.26.0451
DIEGO CARDOSO DE SOUZA, já qualificada nos autos da AÇÃO PENAL em epígrafe, vem respeitosamente na presença de Vossa Excelência, por seu advogado e procurador que está subscreve, com fulcro no artigo 403, §3º do Código Processo Penal, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS:
DOS FATOS
O réu foi denunciado sob a acusação de integrar a organização criminosa denominada Primeiro Comando da Capital. 
Após a audiência de instrução, foi aberta a fase de memoriais. 
O Ministério Público, em sua manifestação final, requereu a condenação do acusado como incurso no artigo 2º, §2º e §3º, da Lei nº 12.850/2013.
 Esse é o relatório.
DA ABSOLUTA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA.
Consta dos autos que o DEIC de Piracicaba desenvolveu investigação objetivando apurar, inicialmente, os delitos de tráfico de entorpecentes e organização criminosa, possivelmente praticados pela pessoa de DIEGO CARDOSO DE SOUZA, vulgo “Pateta”.
O trabalho investigativo teria se iniciado em maio de 2020, por intermédio de interceptação telefônica. Ao final da interceptação, os investigadores elaboraram relatório dando conta da identificação de diversos agentes interceptados e/ou citados nos diálogos, sugerindo a apuração dos crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Com base nesse trabalho foi oferecida a denúncia de fls. 553/557, dando o acusado como incurso no artigo 2º, § 2º e 3º, da Lei 12.850/13.
Ocorre que, encerrada a instrução criminal, é forçoso reconhecer que as provas colhidas não permitem a condenação do acusado DIEGO CARDOSO DE SOUZA.
Analisando a denúncia e os elementos colhidos durante a investigação, verifica-se que, o réu em momento algum foi interceptado ou foi flagrado falando com os outros corréus nas interceptações, mas sim os outros corréus citando alguém de nome “Pateta” que foi DEDUZIDO ser o réu DIEGO. 
Conforme bem esclarecido durante a instrução, os policiais civis afirmaram que nunca foi pego uma sequer interceptação de DIEGO com os demais réus.
UM SIMPLES VULGO CITADO NAS INTERCEPTAÇÕES DOS CORRÉUS NÃO PODE SER USADO DE AFIRMAÇÃO PARA CONDENAR O RÉU.
Segundo consta, o requerimento da autoridade policial para interceptação telefônica foi fundamentado nas informações obtidas através de denúncia anônima, não documentada nos autos, no sentido de que a pessoa de DIEGO CARDOSO DE SOUZA, vulgo “PATETA”, estaria envolvida com o tráfico ilícito de entorpecentes.
Eis o teor da representação, no que interessa ao tema que será aqui debatido:
Portanto, segundo os policiais civis, após receberem a denúncia anônima apontando que DIEGO CARDOSO DE SOUZA, vulgo “Pateta”, estaria realizando o tráfico de drogas e integraria o PCC, obtiveram o número de telefone dele, após “intenso trabalho”.
Após a manifestação do Ministério Público, secundando a representação, Vossa Excelência acolheu o pedido da autoridade policial para deferir a quebra de sigilo telefônico de DIEGO CARDOSO DE SOUZA, vulgo “PATETA”:
Novamente vale frisar que, supostamente, os agentes policiais teriam realizado diligências prévias, “intenso trabalho”, e que teriam apontado que a pessoa de DIEGO CARDOSO DE SOUZA, vulgo “PATETA”, utilizaria o terminal 19-97413.7322.
Contudo, conforme se observa dos relatórios policiais (confirmados pelos investigadores em Juízo), constatou-se, ab initio, que a pessoa que se utilizava do mencionado terminal telefônico, e contra quem recaiu a quebra de sigilo telefônico, não era DIEGO CARDOSO DE SOUZA, vulgo “PATETA”.
Verificou-se que, na realidade, o usuário da aludida linha telefônica era o ora acusado IVAN ALEXANDRE OLIVEIRA BRITO, até então um completo estranho às investigações.
Veja-se:
Estranho porque, seja na denúncia anônima, seja nas hipotéticas diligências prévias realizadas pelos policiais civis, não havia nenhuma menção de IVAN. 
Diante disso, salta aos olhos que a interceptação deveria ter sido imediatamente interrompida.
Afinal, houve denúncia anônima dirigida especificamente contra uma pessoa de vulgo “Pateta” que supostamente seria o paciente DIEGO. 
Os policiais civis afirmaram ter realizado diligências acerca da conduta do denunciado, e requereram a interceptação de um número de telefone que diziam ser dele, após apuração decorrente de “intenso trabalho”. 
E, logo no início do monitoramento, constatou-se que a pessoa que fazia uso daquela linha era outra, não mencionada na denúncia anônima e nem nas diligências preliminares!
O afastamento do sigilo telefônico, como se sabe, incide sobre uma pessoa, e não sobre um aparelho. 
É o alvo da investigação que teve seu sigilo afastado.
Ocorre que, no caso concreto, Vossa Excelência determinou a quebra do sigilo telefônico de “PATETA” que supostamente seria DIEGO CARDOSO DE SOUZA, pessoa perfeitamente identificada, qualificada e individualizada nos autos, mas, na prática, o afastamento do sigilo se materializou em relação ao corréu IVAN, e em suas conversas particulares houve citações de “PATETA” ao qual é forçoso afirmar que é DIEGO, que o corréu IVAN cita em suas conversas. 
Como é de conhecimento de Vossa Excelência, nossas Cortes Superiores sedimentaram o entendimento de que a denúncia anônima, por si só, não autoriza a quebra do sigilo telefônico.
Nesse sentido, confira-se, por amostragem:
“HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO. PREVISÃO CONSTITUCIONAL EXPRESSA DO RECURSO ORDINÁRIO COMO INSTRUMENTO PROCESSUAL ADEQUADO AO REEXAME DAS DECISÕES DE TRIBUNAIS DENEGATÓRIAS DO WRIT. DENÚNCIA. FURTO QUALIFICADO, CORRUPÇÃO ATIVA E QUADRILHA. NULIDADE DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS BASEADAS UNICAMENTE EM NOTÍCIA ANÔNIMA. ILICITUDE DAS PROVAS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
(...).
4. A jurisprudência desta Corte tem prestigiado a utilização de notícia anônima como elemento desencadeador de procedimentos preliminares de averiguação, repelindo-a, contudo, como fundamento propulsor à imediata instauração de inquérito policial ou à autorização de medida de interceptação telefônica.
5. Com efeito, uma forma de ponderar e tornar harmônicos valores constitucionais de tamanha envergadura, a saber, a proteção contra o anonimato e a supremacia do interesse e segurança pública, é admitir a denúncia anônima em tema de persecução penal, desde que com reservas, ou seja, tomadas medidas efetivas e prévias pelos órgãos de investigação no sentido de se colherem elementos e informações que confirmem a plausibilidade das acusações.
6. Na versão dos autos, algumas pessoas – não se sabe quantas ou quais – compareceram perante investigadores de uma Delegacia de Polícia e, pedindo para que seus nomes não fossem identificados, passaram a narrar o suposto envolvimento de alguém em crime de lavagem de dinheiro. Sem indicarem, sequer, o nome do delatado, os noticiantes limitaram-se a apontar o número de um celular. 
7. A partir daí, sem qualquer outra diligência, autorizou-se a interceptação da linha telefônica.
8. Desse modo, a medida restritiva do direito fundamental à inviolabilidade das comunicações telefônicas encontra-se maculada de nulidade absoluta desde a sua origem, visto que partiu unicamente de notícia anônima. 
9. A Lei nº 9.296/96, em consonância com a Constituição Federal, é precisa ao admitir a interceptação telefônica, por decisão judicial, nas hipóteses em que houver indícios razoáveis de autoria criminosa. Singela delação não pode gerar, só por si, a quebra do sigilo das comunicações. Adoção da medida mais gravosa sem suficiente juízo de necessidade.
10. O nosso ordenamento encampou a doutrina dos frutos da árvore envenenada, segundo a qual não se admitirá no processo as provas ilícitas, isto é, contaminadas por vício de ilicitude ou ilegitimidade, sendo certo que todas as demais dela decorrentes também estarão contaminadas com tal vício e deverão ser expurgadas do processo.
11. Habeas Corpusnão conhecido. Writ deferido de ofício.” (STJ – 6ª T. – HC 204.778/SP – Rel. Ministro Og Fernandes – j. 04.10.2012 – DJ 29.11.2012, grifos nossos)
“HABEAS CORPUS. SONEGAÇÃO FISCAL, LAVAGEM DE DINHEIRO E CORRUPÇÃO. DENÚNCIA ANÔNIMA. INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL. POSSIBILIDADE. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. IMPOSSIBILIDADE. PROVA ILÍCITA. TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. NULIDADE DE PROVAS VICIADAS, SEM PREJUÍZO DA TRAMITAÇÃO DO PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.
1. Hipótese em que a instauração do inquérito policial e a quebra do sigilo telefônico foram motivadas exclusivamente por denúncia anônima.
2. "Ainda que com reservas, a denúncia anônima é admitida em nosso ordenamento jurídico, sendo considerada apta a deflagrar procedimentos de averiguação, como o inquérito policial, conforme contenham ou não elementos informativos idôneos suficientes, e desde que observadas as devidas cautelas no que diz respeito à identidade do investigado. Precedente do STJ" (HC 44.649/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ, Quinta Turma, DJ 8/10/07).
3. Dispõe o art. 2°, inciso I, da Lei 9.296/96, que "não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando (...) não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal". A delação anônima não constitui elemento de prova sobre a autoria delitiva, ainda que indiciária, mas mera notícia dirigida por pessoa sem nenhum compromisso com a veracidade do conteúdo de suas informações, haja vista que a falta de identificação inviabiliza, inclusive, a sua responsabilização pela prática de denunciação caluniosa (art. 339 do Código Penal).
4. A prova ilícita obtida por meio de interceptação telefônica ilegal igualmente corrompe as demais provas dela decorrentes, sendo inadmissíveis para embasar eventual juízo de condenação (art. 5º, inciso LVI, da Constituição Federal). Aplicação da "teoria dos frutos da árvore envenenada". 
5. Realizar a correlação das provas posteriormente produzidas com aquela que constitui a raiz viciada implica dilação probatória, inviável, como cediço, em sede de habeas corpus.
6. Ordem parcialmente concedida para anular a decisão que deferiu a quebra do sigilo telefônico no Processo 2004.70.00.015190-3, da 2ª Vara Federal de Curitiba, porquanto autorizada em desconformidade com o art. 2°, inciso I, da Lei 9.296/96, e, por conseguinte, declarar ilícitas as provas em razão dela produzidas, sem prejuízo, no entanto, da tramitação do inquérito policial, cuja conclusão dependerá da produção de novas provas independentes, desvinculadas das gravações decorrentes da interceptação telefônica ora anulada” (STJ – 5ª T. – HC 137.364.096/PR – Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima – j. 27.05.2008 – DJ 04.08.2008, grifos nossos)
“[...] 5. Evidente a flagrante ilegalidade, visto que, em decorrência da suposta prática de tráfico de entorpecentes e associação, a quebra do sigilo, a prisão, a denúncia e a condenação do paciente estão intimamente amparadas nos informes apócrifos recebidos pela autoridade policial, que não se esmerou em realizar procedimentos investigatórios preliminares, antes da requisição da interceptação telefônica. [...] ” (HC nº 229.205/RS, Sexta Turma, MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, julgado em 08/04/2014, grifos nossos)
“[...]
6. No caso em exame, foi a denúncia anônima o gatilho deflagrador da investigação. A autoridade policial teve ciência dos fatos por meio de telefonema e, depois, obteve descrição mais pormenorizada sobre o modo de agir dos supostamente envolvidos mediante mensagens trocadas por e-mail com pessoa que se manteve desconhecida.
Diante desse cenário, indaga-se: se é pacífico o entendimento de que a denúncia anônima isoladamente não autoriza a quebra do sigilo, e que a realização de diligências que demonstrem a plausibilidade dessa denúncia permite a interceptação, como entender como lícita a quebra de sigilo em caso no qual as diligências evidentemente não confirmaram essa verossimilhança, tanto que a linha era utilizada por pessoa diversa da denunciada?
Pior: se nossas Cortes não permitem a medida invasiva com amparo em mera denúncia anônima, como admitir como lícita uma interceptação telefônica que teve início em pessoa contra a qual sequer denúncia anônima havia? 
Importante dizer que, no caso concreto, não se trata do denominado encontro fortuito de provas (serendipidade), cuja licitude é defendida pela doutrina e pela jurisprudência. 
Aqui, a interceptação foi iniciada através da interceptação de um telefone de terceiro, não mencionado na denúncia e nem na investigação preliminar!
Não fosse o suficiente, segundo consta do próprio relatório de investigação, a primeira conversa tida como “de interesse policial” ocorreu apenas no décimo quarto dia de investigações, e fls. 37:
Vejamos: 
O relatório de fls. 37 da cautelar atesta o início das interceptações em 14 de maio:
Primeiras conversas de interesse policial surgem 14 dias após o início das interceptações (fls. 44-45):
Portanto, não bastasse o fato de que as investigações prévias (denúncia anônima e supostas observações e diligências) se dirigiam à outra pessoa que não aquela efetivamente interceptada, os investigadores ainda ouviram o paciente por 14 dias até que surgisse uma conversa que, na ótica deles, despertava interesse policial.
Importante sublinhar, nesse ponto, que basta passar os olhos pelo diálogo mencionado pelos investigadores como “de interesse policial” para se constatar que ele jamais pode ser entendido como indício razoável de autoria para medida tão extrema, menos ainda diante do contexto, porque, como demonstrado, estavam interceptando pessoa diversa daquela contra qual se dirigiu o pedido de quebra de censura telefônica!!!
Observe-se que, no relatório, os policiais civis afirmam que:
Entre as citações por parte de Ivan em relação a membros do “pcc”, está uma em particular onde o mesmo passa para um interlocutor, o numeral telefônico de uma pessoa identificada por “Artur”.
Tal contato telefônico ocorreu na data de 27 p.p., quando Ivan passa o numeral “99881.0792”, pertencente à pessoa de “Artur”.
E, na sequência, os investigadores passam a dizer que, conforme informações anônimas, “Artur” seria JET do PCC na cidade.
Vejamos novamente:
Ora, com todas as vênias, o contexto jamais poderia permitir a continuidade das interceptações. 
Depois de elaborar relatório circunstanciado apontando como alvo de uma investigação uma determinada pessoa, e de informar nos autos que essas investigações levaram ao número do telefone dela, os policiais obtêm autorização judicial para interceptar aquele telefone. Assim que começam a ouvir as conversas, percebem que, na verdade, quem se utiliza da linha é outra pessoa, que não o alvo da investigação. E eles continuam a ouvir as conversas por 14 dias, até que escutam uma conversa na qual o interceptado simplesmente atende uma ligação e passa para o interlocutor o número de uma pessoa nominada Artur. 
Como admitir que esse contexto permitiria, sob o alegação de indícios razoáveis de autoria de crime apenando com reclusão, a prorrogação das escutas????
E, apenas para robustecer o argumento de que, após a interceptação de pessoa errada, os investigadores tentaram (em vão) salvar a prova que estava sendo colhida, um outro episódio é marcante. 
No primeiro pedido de prorrogação, ao informarem o Juízo de que a linha telefônica, na realidade, estava sendo utilizada por outra pessoa que não o alvo da investigação, os policiais civis disseram que contra IVAN (a pessoa que acabou sendo interceptada por engano) também pesavam denúncias de tráfico de drogas e que:
“Podemos afirmar também que contra o investigado “Ivan Guerreiro” recai inúmeras denúncias sobre tráfico de drogas e que o mesmo estaria usando a pessoa de “Daniel Miranda Rosa” para esta prática. 
Tais informações só vêm corroborar com as conversações da interceptação. 
Os contatos telefônicos entre “Guerreiro” e “Daniel” demonstram forte vínculo entre ambos, porém, sempre tratando dos assuntos de forma velada.Para tais contatos telefônicos entre eles, Daniel faz uso da linha 19-9.8740.0565 (operadora OI), sendo esta linha cadastrada em nome de Ivan Alexandre Oliveira Brito (Ivan Guerreiro), CPF 260.953.318-70.” (fls. 42 da cautelar)
Portanto, tentando explicar o inexplicável (que pediram a interceptação de uma pessoa após intenso trabalho, e ao iniciar a escuta perceberam que o telefone era utilizado por pessoa diversa), a polícia civil fez referência a alguns diálogos entre o interceptado e outro número, apontando o interlocutor como pessoa já investigada por envolvimento com o paciente (Daniel), a fim de conseguir a continuidade das escutas.
Contudo, no segundo pedido de monitoramento, os policiais civis informaram que, na verdade, aquele interlocutor não era a pessoa contra quem supostamente tinham denúncias de envolvimento com IVAN (Daniel Miranda da rosa), mas sim Genecyr Basso Neto.
O que se sabe é que, em relação a IVAN, não havia qualquer JUSTA CAUSA que possibilitasse a interceptação de seu terminal telefônico.
Nesse sentido, por 14 dias foram interceptados diálogos do terminal telefônico de IVAN ALEXANDRE OLIVEIRA BRITO, o qual não era o alvo das diligências, em decorrência de verdadeiro equívoco. 
Tais fatos ferem de morte todo o material probatório resultante da quebra de sigilo telefônico.
Pergunta-se: qual seria a função de DIEGO no PCC? Não é possível responder à pergunta, uma vez que não há nos autos, uma se quer interceptação de conversas de DIEGO com um dos outros corréus.
É notório que, está completamente irregular as interceptações realizadas e forçoso dizer que o tal “PATETA” citado nas conversas seja DIEGO. 
Enfim, após a produção de todas as provas, contra os corréus, não há nada que prove que o “PATETA” citado por eles seja DIEGO, não há elementos mínimos que conectem essas supostas atividades delituosas com a organização criminosa PCC. 
Destaque-se que, em situação similar, Vossa Excelência absolveu o corréu HENRIQUE DE FRANÇA COLLETTI (autos 1001992-52.2021.8.26.0451), porque, embora tenha sido demonstrado que ele integrou o PCC, na época das investigações o mesmo já estaria afastado da organização.
Diante disso, sendo as provas insuficientes para uma sentença condenatória, é de rigor o decreto de improcedência da ação penal em relação ao acusado DIEGO CARDOSO DE SOUZA.
Nestes Termos, 
Pede deferimento. 
Piracicaba (SP) na data do protocolo
Marcelo Luiz Borrasca Felisberto Jhullyd Sallyssa Faria
 OAB/SP 250.160 OAB/SP 222.072-e

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