Buscar

pensamento cientifico

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

PENSAMENTO CIENTÍFICO: CONT. Adicione um título ao seu documento
6
O CONHECIMENTO FILOSÓFICO: EMPÍRICO E RACIONALISTA
O conhecimento filosófico é amplo, abarcando diversos posicionamentos ao longo da história da filosofia, especialmente o empírico e o racionalista. Esse tipo de conhecimento também pode incluir o religioso, uma vez que a base de todo conhecimento são os pressupostos filosóficos. Noções de verdade, intuição, dedução, cognoscibilidade, crença, realidade, fenômeno, utilidade e outras são conceitos filosóficos indispensáveis em qualquer tipo de conhecimento. O conhecimento empírico pressupõe a cognoscibilidade dos fenômenos com base nas experiências sensíveis do sujeito, enquanto o racional pressupõe que o conhecimento já é derivado da mente do sujeito, independentemente de qualquer experiência empírica.
David Hume e John Locke eram filósofos empiristas e, portanto, defendiam que a fonte de conhecimento derivava dos dados sensíveis. René Descartes, por outro lado, acreditava que o conhecimento eterno ou matemático poderia ser alcançado pelo simples uso da razão, sem a necessidade de qualquer experiência empírica. Embora seja verdade também que ele tenha defendido que uma junção de mais fatores era condição necessária para alcançar verdades absolutas ou irrefutáveis, por via de seu método cartesiano, que estabelecia, no mínimo, quatro condições, como evidência, análise, ordem e enumeração, ele deduzia que todos esses princípios eram alcançados mediante o uso da razão.
Embora Descartes tivesse defendido o papel da razão como principal responsável pelo conhecimento absoluto, ele fez investigações empíricas durante toda sua vida, especialmente nos campos da anatomia e da fisiologia, contribuindo para uma descrição de partes do cérebro humano, como a glândula pineal, e especulando sobre sua real função no organismo.
Houve também pensadores de grande importância da filosofia que tentaram unir os dois tipos de conhecimentos, sendo o mais famoso o filósofo Immanuel Kant, que lançou as bases de seu método racioempirista. Esse método consistia em tomar elementos que ele considerava verdadeiros do empirismo e do racionalismo. Kant apropriou-se do fenomenismo dos empiristas, em que a fonte de conhecimento se dá através dos fenômenos, e não da realidade em si. Kant acreditava que não poderíamos conhecer nada além das aparências, de modo que todo o mundo estaria subordinado a impressões ou dados sensíveis, tal como acredita Hume. Mais ainda, Kant buscou resgatar o apriorismo do racionalismo, argumentando sobre a plausibilidade de verdades independentes da experiência, que, segundo ele, estariam ali, prontas na mente.
O racioempirismo kantiano levou a discussões calorosas no campo da filosofia e, junto com outros pensadores, inspirou posições bem diferentes entre si na filosofia – especialmente, a fenomenologia e o positivismo lógico.
O incômodo com a posição de Kant é que ele havia se apropriado de elementos problemáticos de ambos os conhecimentos empírico e racionalista, não levando em consideração a própria ciência da época na elaboração de sua filosofia. Os astrônomos Galileu Galilei e Johannes Kepler, por exemplo, já investigavam a realidade além dos fenômenos limitados a dados sensíveis. Galileu estendeu sua percepção com um telescópio que ele havia aprimorado e descobriu três satélites de Júpiter, enquanto Kepler havia calculado a trajetória das elipses planetárias usando ferramentas matemáticas, hipóteses auxiliares e instrumentação de medidas. Isaac Newton, um dos maiores nomes da revolução científica, estabeleceu leis científicas que poderiam se aplicar a quaisquer objetos não diretamente observáveis, mas com velocidades menores do que a da luz. Isso, porém, não foi suficiente para ruir a possibilidade de unificação entre empirismo e racionalismo.
No século XX, o cientista e filósofo Mario Bunge procurou unificar o empirismo com o racionalismo, resgatando o conceito de racioempirismo, mas se desvinculando das posições kantianas notoriamente emblemáticas. Bunge uniu a experiência empírica com a condição de exercê-la mediante uso crítico da razão como forma de investigar a realidade. Mais ainda, ele estabeleceu que seria necessária a unificação do realismo com o cientificismo proclamado dos filósofos da ala radical do iluminismo francês, sobretudo com Condorcet, para formular verdades mais profundas sobre o mundo.
O realismo é a filosofia que advoga a existência de um mundo independente do sujeito (realismo ontológico) e que ele pode ser conhecido (realismo epistemológico), mesmo que indireta e parcialmente, enquanto o cientificismo é a posição segundo a qual a ciência pode produzir o conhecimento mais profundo e verdadeiro da realidade, em comparação com outras formas de conhecimentos, como o religioso proveniente da iluminação religiosa ou mesmo do interpretacionismo hermenêutico. Porém, diferente da concepção caricata difundida sobre o conceito de cientificismo, ele não é uma posição preconceituosa e nem autorrefutável, mas uma atitude esperada de qualquer pesquisador interessado em investigar a realidade e que acredita que o progresso científico é possível e desejável. Mais ainda, o cientificismo é um tipo de filosofia que enriquece a ciência, favorecendo a investigação científica, em vez de focar a atenção exclusiva na contemplação excessiva de leituras sagradas ou de ideias do próprio indivíduo, como faziam os filósofos irracionalistas e teólogos, que negligenciaram séculos de progressos científicos. O cientificismo, hoje, está entrelaçado com o realismo, dando origem à posição conhecida como realismo científico.
O realismo científico é a filosofia que admite que podemos tratar teorias científicas como descrições ou representações verdadeiras do mundo, mesmo que sejam, por vezes, incompletas. É a posição mais defendida dentro da filosofia da ciência, em comparação com sua concorrente antirrealista. O antirrealismo, por sua vez, evita fazer uso de afirmações ou teorias que não correspondam diretamente à observação pura da realidade, desconsiderando o progresso contínuo provocado pela física de partículas ao estudar acontecimentos ou elementos que são imperceptíveis diretamente à nossa experiência sensível ou mesmo a teorização ou modelagem matemática de fenômenos macrossociais que escapam da observação individual do pesquisador sociológico.
Em resumo, o conhecimento filosófico é amplo, contemplando posições muitas vezes compatíveis ou relacionáveis com a ciência, enquanto outras vezes apresentando um tipo de conhecimento totalmente oposto ao científico. Sua característica mais fundamental é o exercício de análise lógica dos enunciados e das teorias científicas, geralmente realizadas por filósofos analíticos ou filósofos da ciência. Seu mérito reside no fato de que ele alimenta tacitamente a ciência em um processo de feedback positivo, proporcionando um vocabulário mais refinado para a ciência e, ao mesmo tempo, alimentando seu repertório de problemas com os novos dados da investigação científica.
ASSIMILE 
1. No mínimo, existem quatro tipos de conhecimentos, cada qual com sua utilidade e aplicação no mundo real.
2. O conhecimento filosófico também tem uma relação de absorção com outros tipos de conhecimentos, principalmente com o científico, contribuindo para o fornecimento de um tratamento conceitual adequado e o levantamento de problemas sobre a realidade.
3. Apenas o conhecimento científico possui um mecanismo de autocorreção com o qual ajuda a ciência a se ajustar cada vez mais à realidade.
O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento científico é um tipo de conhecimento sui generis, ou seja, uma classe de conhecimento único em sua forma. Esse tipo de conhecimento levou séculos para que fosse desenvolvido e teve a participação de diversos filósofos ao longo da história, especialmente o egípcio Ibn al-Haytham e o filósofo inglês Robert Grosseteste, além de figuras notoriamente conhecidas como Francis Bacon, Galileu Galilei e David Hume.
Haytham é considerado o primeiro cientista, porqueaplicou métodos empíricos de investigação para estudar a óptica, sobretudo os efeitos da luz. Grosseteste, por outro lado, é uma figura comumente negligenciada em livros históricos, mesmo tendo importância central no desenvolvimento das bases do método científico. Por outro lado, a literatura vigente considera apenas as contribuições de Bacon, Galileu, Hume e Descartes.
Bacon advogava pela noção de conhecimento intuitivo, ou seja, a ideia de que, com base em observações particulares, era possível realizar generalizações. Galileu, por outro lado, é conhecido por realmente ter aplicado um método científico para a investigação de objetos celestes, indo além do que os empiristas defendiam, ao usar o raciocínio abstrato, a imaginação e a instrumentalização adequada para ultrapassar suas experiências sensíveis. Hume, porém, limitava-se a propor um método atrelado à percepção, de modo que se fôssemos levar ao pé da letra sua posição, não seria possível algo como biologia molecular, cosmologia e principalmente mecânica quântica, já que essas disciplinas transcendem a pura percepção do investigador científico.
Descartes, no entanto, conciliou um aspecto importante que Hume também defendia, o chamado ceticismo metodológico. O ceticismo metodológico é a posição que nos permite duvidar de certas conjecturas ou hipóteses que não foram submetidas à prova. Essa posição é basicamente uma dúvida razoável, nunca absoluta, na falta de boas evidências. Em resumo, essa é a posição que norteia toda a atividade científica ainda hoje.
Com base numa compreensão mais profunda da realidade, os filósofos do século XX tentaram caracterizar de forma objetiva o conhecimento científico, buscando delimitá-lo de outras formas de conhecimentos, sendo a figura mais importante dessa atitude o filósofo austríaco Karl Popper.
REFLITA 
1. O que torna o conhecimento científico confiável?
2. Como o conhecimento filosófico pode contribuir com o conhecimento científico?
3. De forma satisfatória, é possível estabelecer um critério de demarcação entre ciência e pseudociência, indo além das concepções propostas no século XX?
Karl Popper (2013) tentou propor um critério de demarcação entre ciência e não ciência (onde se incluem artes, filosofia e pseudociência), com o objetivo também de responder ao problema de Hume. Sua ideia era de que nenhuma observação é suficiente para confirmar uma teoria, que bastaria um contraexemplo para demonstrar sua falsidade. Analogamente ao exemplo mais tipicamente usado, o fato de observar cisnes brancos em uma região não permite fazer uma generalização apressada de que todos os cisnes são brancos, pois a observação de um cisne negro refutaria a teoria. Então, Popper lançou a condição de que toda teoria, para ser científica, deveria ser passível de falseabilidade ou falseacionismo, ainda mais porque contribuiria para seu refinamento. A falseabilidade é a condição de que teorias devem ter a capacidade de serem provadas falsas em alguma circunstância.
Popper argumentava que a confirmação trivial não assegurava uma boa teoria, utilizando a psicanálise como exemplo de caso para mostrar que a observação do analista geraria uma confirmação excessiva, embora não suficiente para avaliar seu grau de verdade. Mais ainda, ele argumentou que a falta de condições de refutação da teoria psicanalítica seria um elemento vital para sua fossilização, como o caso do inconsciente freudiano, que admite a existência de três instâncias psíquicas ou entidades desencarnadas (id, ego e superego), mas que nunca é clarificado se são conceitos meramente simbólicos ou objetos tão reais quanto axônios, neurônios, sinapses e partículas.
Com seu critério de demarcação, Popper foi duramente criticado pelos filósofos irracionalistas, sobretudo Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. Kuhn (2017) defendeu que existiam, no mínimo, duas ciências: a normal e a extraordinária. A normal é a ciência acerca da qual existe minimamente um consenso estabelecido entre a comunidade científica. Em seguida, dentro da ciência normal, segundo Kuhn, ocorre uma crise sem precedentes, ocasionada por uma nova descoberta, passando a existir a dificuldade de estabelecimento de um consenso. Quando essa nova descoberta se consolida, ocorre uma revolução científica, dando início à etapa de uma nova e extraordinária ciência, rompendo com velhas concepções de mundo. Pense, por exemplo, na revolução científica ocasionada pela emergência da teoria da relatividade geral, que, embora seja sempre lembrada como fruto do trabalho de Albert Einstein, também teve a contribuição de outros grandes nomes da física, como Henri Poincaré. A relatividade provocou uma reação de incerteza na comunidade científica por conta de sua aceitação total ao longo de anos e das limitações físicas agora evidentes das teorias newtonianas para o estudo de objetos de grande massa. Isso, porém, não significa que a relatividade geral demoliu a física de Newton. Isso também não sustenta a defesa de Kuhn de que não existe algo como progresso científico. A teoria da relatividade e o uso da mecânica de Newton têm permanecido de pé ainda hoje, sendo a última responsável pela possibilidade de envio de foguetes ao Espaço.
Feyerabend (2011), por outro lado, foi ainda mais radical e sentenciou que não existe algo como método científico e que, na ciência, “tudo vale”, de modo que não existiriam regras para serem seguidas, a ponto de, segundo ele, os cientistas diversos romperem com os protocolos de investigação para formularem suas ideias. Feyerabend foi seduzido por essa visão por conta de sua descrença na medicina científica e a suposta experiência de cura por uma curandeira, o que o levou a relativizar o status epistemológico da medicina em seus trabalhos. Sua posição ficou conhecida como anarquismo epistemológico. Embora essa seja a visão que mais prevalece na academia, ela é falsa, porque ignora que não existe ciência sem método científico (ou seja, sem regras minimamente estabelecidas e/ou procedimentos experimentais de investigação, principalmente de acordo com os princípios da pesquisa bioética) e, principalmente, sem ethos (ou código de conduta) tacitamente aceito pela comunidade científica. Uma ciência sem método não seria capaz de investigar a realidade em todos os seus níveis, também não seria capaz de progredir ao longo dos anos e, mais importante, sem ethos tanto a verdade como a mentira teriam pesos igualmente válidos dentro da comunidade científica.
O ethos da ciência foi primeiramente clarificado pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton (1968). Ao investigar a comunidade científica, ele identificou alguns princípios que norteavam a pesquisa científica, sendo eles: comunismo epistêmico, universalismo, desinteresse, ceticismo coletivo e originalidade.
O comunismo epistêmico enfatiza que o conhecimento científico é propriedade de todos, portanto, ele deve ser sempre acessível; o universalismo advoga que todos os cientistas, independente de sua etnia ou localização geográfica, podem contribuir com a ciência; o desinteresse destaca que os cientistas devem agir conforme a comunidade, de acordo com os interesses coletivos, sempre acima dos interesses pessoais; o ceticismo coletivo determina que as reivindicações científicas devem ser submetidas à análise crítica da comunidade; e, finalmente, a originalidade diz respeito à ideia de que as demandas científicas devem contribuir com a novidade, seja na formulação de novos problemas, dados ou teorias. A suspensão do ethos leva ao florescimento da pseudociência.
O conceito de pseudociência, de antemão, exige uma compreensão do que é a ciência. No entanto, nenhum filósofo havia sido capaz de conceituar a ciência de forma adequada, deixando sempre espaço para que reivindicações não científicas se passassem como ciência. O filósofo Mario Bunge (2010) mostrou que a concepção popperiana de ciência deixava espaço para que reivindicações parapsicológicas fossem tratadas como ciência, simplesmente porque satisfaziam o critério de falseabilidade. Porém, como Bunge enfatizou, oque torna um campo científico não é sua condição de falseabilidade, mas uma série de princípios, entre os quais estão incluídos um fundo de conhecimento, uma base formal, uma epistemologia realista, uma ontologia materialista, um ambiente livre de pesquisa e, principalmente, a prática de um ethos entre membros da comunidade científica. Nesse sentido, Bunge (2014) define a ciência como um sistema de ideias caracterizados como um conhecimento sistemático, racional, exato, verificável e, portanto, falível, sendo uma representação conceitual do mundo. Além disso, quando um campo falha em satisfazer a maior parte dos princípios de cientificidade, ele pode ser considerado pseudocientífico.
A pseudociência, consequentemente, pode ser conceituada de forma oposta à ciência, como sendo um sistema de crenças subjetivas, irracionalistas ou puramente intuicionistas, inexata, inverificável e, portanto, dogmática, pois ela não submete à prova suas crenças, não exige uma linguagem clara, precisa e objetiva, nem um vocabulário articulado de ideias inter-relacionadas, e, quando se mostra falha, como na hipótese da existência do inconsciente freudiano da psicanálise ou das ondas psi da parapsicologia, ela permanece estagnada no tempo, não atualizando suas crenças à luz de novas evidências.
Em resumo, o conhecimento científico é um tipo especial de conhecimento, que possui em seu aspecto central a revisão constante de hipóteses e teorias científicas, sempre submetendo à prova conjecturas e, mais ainda, proporcionando a melhor representação da realidade em todos os seus níveis (físico, químico, biológico, psicológico, social, artificial, etc.). Por ser um tipo de conhecimento antidogmático por princípio, ele não deve ser confundido com a pseudociência, em que, em sua característica mais essencial, o livre debate de ideias é substituído pelo culto à autoridade e pela salvação contínua de crenças falsas, por conta do sentimento de incerteza provocado pelo mal entendimento da ciência.
EXEMPLIFICANDO 
1. O conhecimento vulgar (ou senso comum) absorve todos os tipos de conhecimentos ao longo dos anos. No entanto, ele pode conservar em seu núcleo crenças falsas sobre a realidade. Por sua vez, o conhecimento religioso possui, ao menos, duas abordagens principais, como a que é baseada na iluminação religiosa e a interpretacionista, advogada por teólogos ou hermeneutas. De forma semelhante ao conhecimento vulgar, esse tipo de conhecimento pode manter ideias falsas em seu núcleo, sobretudo por focar sua abordagem mais no indivíduo subjetivo do que na investigação da realidade externa.
2. O conhecimento filosófico é amplo em sua forma, sendo difícil delimitá-lo. Por essa razão, ele pode ser desenvolvido em uma relação de dependência do conhecimento científico, como também é possível fazê-lo de forma independente. No entanto, sua característica mais fundamental tem sido a clarificação dos conceitos utilizados em diversos tipos de conhecimentos. Além disso, ele é um tipo de conhecimento que permite fazer certas generalizações sobre a realidade. Por exemplo: todos os objetos existentes são materiais; todos os objetos reais possuem propriedades físicas, como energia; a realidade é um grande sistema emergente e material; as leis da natureza revelam a impossibilidade da existência de entidades desencarnadas, como almas, espíritos, inconsciente freudiano ou cérebros dualísticos.
3. O conhecimento científico é único em sua forma. É o tipo de conhecimento que produz o entendimento mais profundo e verdadeiro sobre a realidade, indo além das percepções empiristas, a partir do momento que destaca o importante papel da teorização e modelagem para representar a realidade com base nas evidências. Sua característica mais fundamental é o mecanismo de autocorreção, que permite corrigir imprecisões e, então, refinar cada vez mais as explicações sobre o mundo. Por sua natureza particular, é um conhecimento antidogmático por princípio.
No decorrer do livro, foram exemplificados os diversos tipos de conhecimentos existentes, bem como os desafios que cada um deles enfrenta. Também foi explicado como diferentes tipos de conhecimentos podem ser relacionados com outros, como na relação recíproca entre o conhecimento filosófico e o científico, em que um enriquece o outro, proporcionando um aumento gradual do conhecimento na esfera da atividade humana. Dessa forma, espera-se que, com base nessa introdução, você tenha a capacidade de distinguir os diversos tipos de conhecimentos, bem como de procurar aprofundar seu conhecimento ao longo dos anos.
QTIPOS DE PESQUISAS CIENTÍFICAS
Há diversos tipos de pesquisas científicas, cada qual com seus objetivos, particularidades e, principalmente, objetos de estudos. A diversidade da pesquisa científica permite estudar diversos problemas, da origem do Universo ao comportamento humano, também permite estudar um mesmo problema sob diferentes perspectivas metodológicas, com o objetivo de enriquecer o conhecimento científico, proporcionando uma visão de mundo mais ampla e consistente com as evidências científicas.
Por causa dessa ampla variedade metodológica de pesquisas, uma consequência inevitável é o investimento diversificado para cada tipo de pesquisa, de modo que um físico experimental, por conta da necessidade de instrumentação adequada e a necessidade de exportar ainda mais ferramentas para empreender sua pesquisa, acaba recebendo mais verba para sua pesquisa do que um filósofo ou sociólogo literário, que desenvolve pesquisas de cunho teórico, geralmente revisando a literatura acadêmica vigente para desenvolver seu trabalho.
Isso, no entanto, contribui para uma visão valorativa incorreta da ciência - especialmente pela crença de que maior investimento em uma ciência é um critério que define sua qualidade metodológica ou seu nível de importância. Um exemplo didático que refuta essa concepção equivocada da ciência é dado por cientistas e filósofos, que desenvolveram pesquisas bibliográficas que tinham como objetivo analisar a metodologia de estudos da psicologia evolutiva sobre a questão da divisão do trabalho, diferenças de gêneros e, sobretudo, desigualdades sociais.
Esse tipo de estudo da psicologia evolutiva tem tido ampla repercussão e tem sido considerado útil em decisões políticas que envolvem a possibilidade de rejeitar a implementação de políticas públicas. Uma ideia constantemente propagada para reforçar a posição contrária às políticas sociais é de que a pobreza e a desigualdade social estão nos genes, de que políticas sociais são inúteis e que o quociente de inteligência (Q.I.) é determinado pela genética. No entanto, diversos cientistas e filósofos têm argumentado amplamente contra a metodologia desses estudos dizendo que “são apenas histórias”, ou seja, que não possuem qualquer tipo de correspondência empírica entre a hipótese e a afirmação do qual os proponentes do campo defendem. Por causa dos críticos da psicologia evolutiva que enfatizaram sobre o possível impacto da implementação de ideias “evolutivas” no âmbito político, os cientistas e filósofos contribuíram para reforçar a importância das ciências sociais – mesmo com o campo recebendo pouca verba para a pesquisa e sendo constantemente ameaçado por ideólogos e pseudocientistas.
Os tipos diversificados de pesquisas científicas incluem a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, a pesquisa de campo, a pesquisa de laboratório, a pesquisa qualitativa, a pesquisa quantitativa, a pesquisa exploratória, a pesquisa descritiva e a pesquisa explicativa. Cada tipo de pesquisa tem sua importância dentro da ciência, mas elas também podem ser conduzidas em outros campos de conhecimento, como na filosofia, no jornalismo e, principalmente, na tecnologia - especialmente nas tecnologias sociais, como a administração, o direito e a pedagogia.
A pesquisa bibliográfica, utilizada amplamente em estudos de revisões de literatura científica, refere-se a um tipo de estudo que busca consultar amplas bases de dados, sobretudo indexadores de artigos científicos e livros-textoscom o objetivo de procurar saber o quanto um problema já foi estudado e o quão significativo é a sua evidência. Um exemplo prático desse tipo de estudo é quando o objetivo do pesquisador é identificar a reivindicação de eficácia de alguma terapia ou técnica médica para algum problema de saúde. O pesquisador, dessa maneira, consulta a base de dados, filtra os resultados de buscas, escolhe os estudos, analisa suas discrepâncias metodológicas, emprega uma técnica estatística adequada e extraí a porcentagem de evidência resultante da revisão dos estudos selecionados. Digamos, por exemplo, que o cálculo estatístico, após a análise dos estudos selecionados, revelou que a acupuntura não produziu nenhum efeito clínico estatístico significativo para o tratamento da dor lombar. Então, o autor adiciona sua metodologia, procedimento e conclusão em sua pesquisa bibliográfica.
A pesquisa documental é amplamente utilizada na história, porque ela envolve a investigação primária de algum fenômeno ou ocorrência do passado com base na coleta de documentos, livros, testamentos, gravações, fotografias, cartas, artefatos e mais outras coisas das quais seriam úteis na condução da investigação. Ela também tem aplicação no âmbito da investigação forense, contribuindo para a solução de crimes com base na sua metodologia de extração de dados com o objetivo de fornecer a melhor evidência para o julgamento criminal.
A pesquisa de campo é importante para estudar fenômenos naturais e climáticos, como a atividade vulcânica em uma área geologicamente ativa, coletando rochas vulcânicas na área de ocorrência do evento com o objetivo de estudar sua estrutura, composição e sua possível utilidade para prever a ocorrências de novas erupções vulcânicas. Esse tipo de pesquisa também tem utilidade na solução de acidentes tecnológicos, contribuindo, por exemplo, para decifrar a causa de acidentes aéreos ao analisar o local da queda.
A pesquisa de laboratório é uma forma de estudar problemas de forma direta, com o objetivo de produzir ou reproduzir pequenas condições em seu objeto de estudo e avaliar suas possíveis implicações, como para testar a efetividade de uma vacina em camundongos ou mesmo para reproduzir as circunstâncias ambientais da Terra primitiva com o objetivo de estudar a origem da vida. Esse tipo de pesquisa também é empregado no campo da tecnologia, com o objetivo de produzir e testar a segurança dos organismos geneticamente modificados.
A pesquisa quantitativa visa a implementação de ferramentas estatísticas para quantificar os dados e resultados alcançados após a investigação de um fenômeno ou problema da realidade. Nesse tipo de estudo, também utilizado em ciência social, os pesquisadores podem utilizar estatística inferencial e deduzida, bem como modelagem computacional para prever a ocorrência de um fenômeno em termos quantificáveis, como crises econômicas, desigualdades sociais e o impacto da implementação de uma política pública.
A pesquisa qualitativa é aplicada que não há necessidade de empregar ferramentas estatísticas. Ela pode ser aplicada em psicologia através de questionários para entender o comportamento de uma dada população, por exemplo, analisando a atitude das pessoas ao decorrer da pandemia de coronavírus.
A pesquisa exploratória é uma abordagem inicial para o estudo de um problema ou fenômeno da realidade. Esse tipo de pesquisa não tem como objetivo proporcionar um conhecimento aprofundado sobre qualquer coisa. Na sua aplicação na área da saúde, por exemplo, os pesquisadores utilizam poucos voluntários, uma amostragem pouco ou nada representativa da população, para testar algum novo medicamento ou terapia. Essa pesquisa serve de base para outras mais aprofundadas e pode ser facilmente conduzida por alunos de iniciação científica ou estagiários de laboratórios.
A pesquisa descritiva tem como objetivo interpretar e mapear a ocorrência de um fenômeno com base em técnicas de observação e análise de dados. Ela pode ser empregada no estudo de eventos astronômicos, como supernovas, com o objetivo de estabelecer as condições iniciais do fenômeno e relacionar variáveis para chegar à melhor interpretação dos dados.
A pesquisa explicativa busca estabelecer um conhecimento avançado sobre um fenômeno natural ou social procurando explicar sua origem, evolução e impacto na realidade. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisador busca analisar a compatibilidade de uma ideia com o conhecimento do momento, emprega pesquisas empíricas e tenta explicar as causas de um evento. No caso das ciências naturais, por exemplo, esse evento pode ser a evolução das espécies, com pesquisadores engajados em fornecer a melhor explicação dos mecanismos envolvidos na transmissão de genes entre parentescos e sua implicação no comportamento humano. No caso das ciências sociais, por exemplo, um típico evento estudado são as crises econômicas, com cientistas tentando identificar as variáveis importantes do sistema político-econômico do momento a fim de prever quais razões poderiam levar um país ao colapso financeiro.
Cada tipo de pesquisa tem sua importância e utilidade, de modo que elas não podem ser vistas com base numa visão hierárquica. Todos esses tipos de pesquisa auxiliam a ciência, ajustando as teorias à realidade e, até mesmo, proporcionando um amplo conhecimento sobre problemas que ainda não foram explorados.
ASSIMILE
1. Existem diversos tipos de pesquisas científicas, cada uma com um objetivo específico, que são igualmente importantes para a construção de conhecimento científico.
2. Existem diversos modelos de métodos científicos. Entre eles, se destacam o método hipotético-dedutivo, a falseabilidade popperiana e a concepção bungeana.
3. O anarquismo epistemológico, cuja a posição é exposta na máxima “tudo vale” ou “qualquer coisa serve”, é incompatível com a investigação científica.
MÉTODOS CIENTÍFICOS
O “método científico” é um conceito difícil de definir, embora seja constantemente tratado de forma incorreta e, às vezes, pejorativa. Na literatura filosófica do século XX, por exemplo, o método científico chegou a ser considerado como um mito, como um elemento não existente na investigação científica, de modo que essa visão inspirou a ideia de que a ciência é um campo onde “tudo vale” ou “qualquer coisa serve”, tratando a ciência como um terreno baldio e equivalente a crenças religiosas, superstições e pseudociências. Essa foi uma visão inspirada no filósofo austríaco Paul Feyerabend que foi considerada como razoável em determinados setores das humanidades, bem como no campo da filosofia da ciência, mas incorreta sobre a ciência e o método científico.
Outras visões de método científico, embora incorretas, também ganharam uma ampla aceitação nos setores mais atrasados da ciência básica; em particular, duas visões tiveram uma ampla aceitação: a visão de que a ciência funciona mediante a aplicação do método indutivo. 
Karl Popper foi um dos filósofos mais críticos desse pensamento que buscava comprovar teorias mediante a observação ou coleta de dados particulares. Isto é, digamos que um pesquisador tenha observado um grupo de ursos pretos numa floresta e, então, tenha deduzido uma regra geral de que todos os ursos são pretos. Uma observação de um urso polar no continente antártico, portanto, falsearia a proposição de que “todos os ursos são pretos”, o que levaria a um problema epistemológico, conhecido como problema da indução. Popper, então, estabeleceu que o que determina as condições de cientificidade não é a observação particular da suposta regularidade de um evento, mas a falseabilidade de uma hipótese ou teoria científica, ou seja, a hipótese ou teoria científica deveria ter consequências das quais fossem possíveis de extrair sua refutação. 
O exemplo que corrobora com o modelo de Popper é fornecido pelo próprio naturalista inglês Charles Darwin, em seu livro A Origem das Espécies, que descreve que sua teoria da evolução poderia ser falseada, caso alguém conseguisse demonstrar que algum órgão complexo existiu e que não poderia ter sidoformado por leves modificações numerosas e sucessivas ao longo do tempo.
Popper propõe o método hipotético-dedutivo que, em síntese, passa pelas seguintes etapas:
a. Elaboração do problema (decorrente, muitas vezes, de conflitos de teorias existentes).
b. Construção de um modelo teórico (em que há a formulação das hipóteses centrais).
c. Tentativa de falseamento das hipóteses por meio da observação e da experimentação.
Caso a hipótese não seja verificada por meio dos testes, ela estará falseada, exigindo uma nova reformulação da hipótese ou do problema. Caso ela se supere os testes rigorosos, então ela estará parcialmente confirmada, mesmo que provisoriamente. 
Embora o critério de Popper estivesse alinhado a algumas características das teorias científicas, como no caso da própria teoria da evolução, ele era insuficiente para demarcar a ciência de qualquer atividade não científica, na qual inclui não apenas a filosofia, mas também a pseudociência. Um exemplo é fornecido pelo filósofo Mario Bunge, em sua obra Pseudociência e Ideologia, que argumenta que levar em consideração a falseabilidade, enquanto critério de demarcação, exigiria considerar todas as teorias falsas como científicas, e também exigiria descartar teorias científicas de alto nível que não são falseáveis, como a Teoria Geral dos Campos e a Teoria Geral da Informação, que, sendo tão gerais, só podem ser testadas indiretamente por meio de sua especificação.
Em resposta às propostas simplistas de cientificidade, Bunge desenvolveu sua própria tese, distinguindo o critério de demarcação do modelo de método científico. Para Bunge, o que demarca a ciência de outros campos cognitivos, como a filosofia e a pseudociência, é a presença de uma comunidade de pesquisadores, uma sociedade tolerante à atividade científica, o domínio sobre entidades reais, uma base filosófica (envolvendo a pressuposição de que [a] o mundo é composto de coisas concretas que mudam, segundo leis, [b] uma epistemologia realista, [c] um sistema de valores que enaltece a claridade, a exatidão, a profundidade, a coerência e a verdade, [d] e o ethos da busca livre da verdade), uma base formal (coleção de teorias lógicas ou matemáticas do momento), uma base específica (coleção de dados, hipóteses e teorias do momento), uma problemática (problemas cognitivos relativos à natureza dos objetos concretos), um fundo de conhecimento (específico e acumulado), objetivos racionais (descobrir ou utilizar leis, sistematizar hipóteses e refinar métodos), uma metódica bem delineada (procedimentos verificáveis e justificáveis) e um campo cognitivo sendo componente de um campo de conhecimento mais abrangente.
Bunge considerou o método científico como sendo um conjunto de procedimentos gerais mutáveis, ajustados para cada problema e objeto estudado, constando com (a) a identificação de um problema envolvendo o reconhecimento de um fato, a descoberta de um problema e, em seguida, a formulação do problema; (b) a construção de um modelo teórico envolvendo a seleção de fatores pertinentes do problema, a invenção de hipóteses centrais e suposições auxiliares e, principalmente, tradução matemática; (c) a dedução de características particulares envolvendo a busca por suportes racionais e empíricos, (d) a demonstração da prova ou evidência da hipótese envolvendo a representação e execução da prova ou evidência, a elaboração de dados e a inferência da conclusão; (e) a introdução das consequências na teoria envolvendo a comparação das conclusões com as predições e o reajuste de modelo; e (f), finalmente, a sugestão referente ao trabalho anterior.
Essas características apresentadas por Bunge também rompem com concepções que levavam em consideração a unidade do método científico como sendo algo imutável, ou mesmo semelhante a uma receita de bolo para produzir conhecimento. Para Bunge, o método científico, mesmo sendo único e universal, deve ser visto como um conjunto de procedimentos amplos que mudam conforme o tempo e se ajustam a cada ciência em particular, de modo que a forma como os biólogos investigam microrganismos não envolve o emprego das mesmas técnicas de investigação utilizadas pelos sociólogos para estudar comportamentos sociais ou crises econômicas. De fato, há algumas exceções, como o uso de ferramentas matemáticas e lógicas semelhantes, bem como a atitude de busca pela verdade e admissão de cognoscibilidade da realidade, mas não é como advogam os naturalistas metodológicos, que defendem que o método das ciências naturais deve ser o mesmo das ciências sociais. Essa proposta também rompe com o anarquismo epistemológico de Feyerabend, a ideia segundo a qual não existiria um método científico e universal, pois Bunge reconhece que ele existe e pode ser – e está sendo – aplicado para estudar problemas cognitivos, bem como todos os objetos existentes da realidade, como partículas, elementos químicos, moléculas, planetas, estrelas, supernovas, microrganismos, cérebros, consciência, comportamento, sociedade, ética, experiência estética, artes, cultura, política, linguagem, economia, filosofia e muitas outras coisas, como a própria ciência (sociologia da ciência ou ciência da ciência), diferente da crença falsa compartilhada em diversos campos das humanidades.
PESQUISA COM PESQUISA: METANÁLISES E REVISÕES
Nenhuma pesquisa individual é suficiente para conduzir ou representar uma verdade no mundo, pois ela pode estar sujeita a falhas metodológicas, vieses cognitivos e fraudes intencionais. Também pode ser o caso de um estudo individual ser conduzido sem um grupo de controle adequado para avaliar de forma rigorosa a efetividade um medicamento ou terapia. Talvez um estudo individual não tenha uma amostragem suficientemente representativa para a população, ou pode ser que os animais utilizados para um determinado experimento tenham predisposição a alguma doença, de modo que um teste experimental poderia não representar fielmente as possíveis consequências da ingestão de uma determinada substância. Nesse contexto, entra a importância de conduzir mais experimentos com o objetivo de tentar reproduzir os mesmos resultados – a tal chamada “reprodutibilidade”.
Na reprodutibilidade, ocasionalmente, ocorre de os cientistas chegarem a resultados discrepantes do estudo original. Na verdade, tem-se argumentado que a ciência está enfrentando uma crise de reprodutibilidade por conta das divergências nos resultados experimentais alcançados por pesquisadores independentes ao tentarem replicar experimentos anteriores. Por causa dessas diferenças nos resultados experimentais e, principalmente, nas potenciais falhas metodológicas dos diversos estudos científicos desenvolvidos ao longo dos anos, tornou-se necessária a utilização de estudos de revisão sistemática para avaliar a qualidade da evidência produzida ao longo da análise de dezenas, centenas ou mais de artigos científicos.
Esses estudos de revisão sistemática são extremamente importantes no campo da medicina, porque, com base neles, é possível identificar potenciais falhas, vieses e limitações nos estudos realizados até o momento, contribuindo para fornecer uma visão sobre o estado atual das coisas, como para identificar a qualidade e o nível da evidência produzida até o momento. Em resumo, a revisão sistemática é um tipo de pesquisa secundária com o objetivo de reunir estudos semelhantes, publicados ou não, a fim de avaliá-los criticamente e, quando possível, reuni-los numa ampla análise estatística, chamada metanálise.
A metanálise é uma técnica estatística utilizada para combinar resultados oriundos de diferentes estudos, geralmente aplicada na revisão sistemática. A metanálise ajuda a extrair resultados estatísticos com base na análise geral dos estudos. No entanto, a revisão sistemática pode ser feita de forma independente das técnicas estatísticas, pois não é sempre possível e nem mesmo adequado aplicá-las em todos os casos. 
Existem diversos estudos com medicina alternativa indexados no repositório do PubMed, revelando possíveis efeitos benéficos à saúdehumana, mas isso não significa que esses estudos tenham sido bem conduzidos. Na verdade, existir um estudo não significa que ele seja bom nem que seja “científico”, pois a pseudociência também produz estudos, embora de baixa qualidade, sem o controle adequado, mergulhado em vieses cognitivos e, às vezes, até com indícios de falsificações. Esse é o caso das medicinas alternativas, como acupuntura, homeopatia, quiropraxia, naturopatia, ozonoterapia, antroposofia, reiki, cura quântica, hidroterapia de cólon e, principalmente, psicanálise, que são exemplos típicos de pseudociências, pseudoterapias ou pseudotecnologias, que negligenciam os resultados extraídos das revisões sistemáticas, que normalmente revelam que elas não produzem nenhum efeito estatisticamente significativo, exceto efeitos placebos – que não são causados pela suposta eficácia da medicina alternativa, mas simplesmente por conta do estado psicológico do paciente, bem como de sua relação de confiança com seu médico. Efeitos placebos também não curam absolutamente nada, ao contrário da crença equivocada amplamente divulgada pelos “médicos alternativos”, o efeito placebo está relacionado simplesmente ao alívio de sintomas subjetivos, como dor, por exemplo.
As revisões sistemáticas, com ou sem abordagem metanalítica, são necessárias até mesmo na elaboração de políticas públicas baseadas em evidências, pois, com base nelas, podemos guiar o financiamento para técnicas e terapias realmente eficazes, evitando o desperdício de dinheiro público com medicina alternativa e oferecendo o melhor tratamento disponível à população. Em resumo, as revisões sistemáticas produzem o tipo mais confiável de evidência científica e podem ser guias úteis em nossas escolhas da vida cotidiana, principalmente quando estamos procurando cuidados médicos.
ESTRUTURA E ELEMENTOS
O método científico é a estrutura geral da ciência moderna, de modo que não é possível conceber uma ciência sem método. No entanto, ainda existem mais algumas particularidades, por exemplo, a estrutura do método científico é ordenada logicamente, o que significa que é permitido contradição. Consequentemente, a dialética, por violar o princípio da não contradição, não faz parte da ciência nem do método científico.
Essa estrutura permite que o método científico, enquanto um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e éticos, seja aplicado na ciência com o objetivo de fornecer a melhor explicação da realidade. Uma consequência inevitável é que a estrutura do método requer um nível de compatibilidade das hipóteses com as teorias mais bem confirmadas do momento, o que significa que uma hipótese deve estar em concordância com as leis que regem o mundo, portanto, hipóteses sobre a existência de almas, espíritos ou instâncias psíquicas psicanalíticas, por conflitarem com o princípio de conservação de energia das leis da termodinâmica, não são científicas, mas pseudocientíficas.
O método científico também faz uso de elementos ou símbolos formais, de modo que é possível aplicar ferramentas da lógica e da matemática para extrair das proposições a melhor precisão e objetividade possível, evitando, dessa forma, a ambiguidade da linguagem ordinária e, principalmente, a armadilha da polissemia com certos conceitos. Além disso, adoção de certos elementos ou símbolos formais refuta a crença de que não existe objetividade na ciência.
Mesmo na construção de hipóteses científicas, esses elementos são adicionados ou incrementados com o objetivo de analisar logicamente a compatibilidade das proposições com a conclusão. Mas isso não é uma coisa exclusiva da ciência, pois, atualmente, a filosofia científica é desenvolvida com essas mesmas ferramentas formais e aplica o método científico para avaliar hipóteses filosóficas pela compatibilidade com o conhecimento científico do momento.
O entendimento claro, preciso e profundo do conhecimento científico, bem como a capacidade de comunicar descobertas científicas em diversos países e línguas, é o que revela o aspecto de objetividade da ciência, que não é apenas possível, mas desejável para evitar a confusão e o autoengano. O que não devemos fazer é cair no erro de pensar que objetividade é sinônimo de neutralidade, pois a ciência advoga por princípios éticos de busca pela verdade, racionalidade, humanismo e comprometimento com a investigação da realidade mediante contribuição da comunidade científica. Além disso, os cientistas podem ser inspirados por posições pessoais, bem como políticas, ideológicas e religiosas, de modo que essas posições possam contribuir com alguma nova ideia para resolver um problema. Então, a ciência não é neutra, mas isso não significa que as ideologias pessoais dos cientistas determinem o que é verdade, pois a ciência, enquanto comunidade, advoga por princípios éticos que neutralizam as preferências individuais dos pesquisadores. Daí a importância das revisões sistemáticas e da reprodutibilidade na ciência, pois são formas de identificar exceções das quais as intenções pessoais sobrepuseram à vontade coletiva da comunidade científica pela verdade.
EXEMPLIFICANDO
1. O método científico não é uma receita de bolo para produzir conhecimento, mas um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e éticos que auxiliam na investigação de um problema.
2. O método científico pode ser aplicado não apenas na ciência, mas também na filosofia e na vida cotidiana.
3. As ferramentas formais da matemática e da lógica contribuem para que a ciência mantenha sua objetividade e exatidão, evitando as armadilhas da linguagem ordinária e a subjetividade interpretativa.
Como foi apresentado, existem diversos tipos de pesquisas científicas que norteiam a ciência, cada qual com sua importância e aplicação para o estudo de um problema específico. A pluralidade de investigação permite a extração de um conhecimento mais amplo sobre a realidade mediante uso de método científico. No entanto, o conceito de método científico é pouco claro, de modo que diversas tentativas de modelos foram apresentadas ao longo da história da ciência e da filosofia com o objetivo de classificá-lo, sendo os mais conhecidos o Método Hipotético-Dedutivo (inspirado na indutivismo do filósofo Francis Bacon), a Falseabilidade do filósofo da ciência Karl Popper e a Concepção Sistêmica da Ciência, do físico e filósofo científico Mario Bunge. Embora a ciência leve em consideração um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e éticos ao longo de sua investigação e construção de conhecimento, existem diversas ferramentas formais que contribuem para sua melhor objetividade, evitando as armadilhas da linguagem ordinária e a subjetividade interpretativa.
TIPOS DE PCOMO FAZER PESQUISA CIENTÍFICA: ELABORANDO PERGUNTAS
Um dos primeiros passos ao desenvolver uma pesquisa científica passa por elaborar a pergunta de pesquisa, isso porque, ao desenvolver uma pesquisa, o pesquisador tem em si alguma inquietação, dúvida ou problema que almeja sanar. A pergunta da pesquisa é justamente essa incerteza que o pesquisador possui sobre determinado assunto e que o encoraja a desenvolver uma investigação, mas, se engana quem pensa que o produto final de toda investigação é a solução dessa pergunta. Na verdade, mesmo quando é possível produzir respostas satisfatórias a uma dada pergunta (e nem sempre é possível), outras questões surgem decorrentes da investigação, além da existência própria daquelas que tangenciam a pesquisa e sequer foram tratadas.
Há ainda as questões-problemas que surgem a partir de um avanço na ciência. As novas tecnologias e os novos instrumentos utilizados pela ciência geraram uma série de perguntas sobre questões já conhecidas que originaram novos paradigmas de pesquisa. Essa capacidade de gerar novas perguntas é uma marca do pensamento científico. Dessa maneira, não faltam incertezas a serem trabalhadas em projetos de pesquisa. O desafio que se coloca ao pesquisador é conseguir elaborar uma questão que possa ser transformada em um “plano de estudo factível e válido” (HULLEY, 2008, p.36).
São muitas as origens dos problemas de pesquisa. Um pesquisador mais experiente geralmente toma como questão de pesquisa os problemas encontrados em seus estudos anteriores. Um pesquisador iniciante pode e deve revisar a literatura sobre determinado tema, a fim de encontrar questões abertas. Ele deve procurar ter um certo domínio sobre a literatura do campo de estudo que almeja começar uma investigação. Os livros, as revisões sistemáticas e os eventos de comunicação de pesquisa são bons pontos de partida tanto para quem sabe ou não se sabe qual questão estudar. Os eventos de comunicação científica são grandes oportunidades de conhecimento para o pesquisador iniciante porque ele terá contato com pesquisas mais recentes da sua área, poderá conversar com pesquisadores experientes que já passaram pela fase que ele está, poderá sanar dúvidas sobre as referências bibliográficas mais relevantes, além de formar parcerias de pesquisa. Não se esqueça: a ciência é uma construção coletiva e não individual!
Para elaborar um projeto de pesquisa, aconselha-se que o pesquisador procure um orientador que pode ser tanto um professor quanto um profissional especialista na área. Ele ou ela saberá avaliar se, à luz do campo estudado, a questão elaborada pelo pesquisador é adequada visando os métodos e as ferramentas da área disponíveis, isso porque algumas questões são interdisciplinares ou muito abrangentes e precisam ser delimitadas para garantir a boa condução do estudo. Há também pesquisas que contam com mais de um mentor. De maneira geral, uma boa pergunta de pesquisa tem como característica ser: factível, interessante, nova, ética e relevante (FINER).
Factível: diversos estudos não alcançam seus objetivos porque não conseguem delimitar o tamanho da sua amostra. É preciso planejar o número de pessoas participantes que serão suficientes para a coleta de dados e isso implica em uma análise de adequação de estratégia, tempo e critérios de inclusão ou exclusão de participantes. Além disso, o pesquisador deverá ter acesso às técnicas que precisa para o desenvolvimento da pesquisa, isso inclui equipamentos e habilidades como: fazer a delimitação do estudo, recrutar os participantes quando for o caso, conhecer os métodos de coleta e análise de dados e variáveis, etc. Também há que se ver quanto tempo o estudo irá durar e quanto irá custar, pois dependendo da pesquisa, os custos são altos. O pesquisador deve ter o planejamento de tempo por etapa e de insumos antes de iniciar a pesquisa, incluindo imprevistos. Uma situação que pode acontecer sem o planejamento adequado é o encerramento da pesquisa ainda na fase de desenvolvimento por falta de recursos. Nem sempre, é claro, isso é uma responsabilidade dos pesquisadores. As agências que financiam pesquisas com bolsas e recursos para o desenvolvimento dos testes são, em sua maioria, financiadas pelo governo. Um corte significativo de gastos poderá comprometer muitas pesquisas em andamento. Por fim, o pesquisador deve ter um escopo bem definido, caso contrário poderá se perder tentando responder mais questões do que lhe seriam pertinentes. Mesmo que problemas secundários sejam interessantes, é importante focar em uma questão específica a fim de conseguir se dedicar a ela e entregar resultados relevantes. Já dizia o ditado: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.
Interessante: a questão precisa ser interessante para a ciência, porque não basta que ela seja interessante apenas para o pesquisador que a faz. Para conseguir aporte financeiro, muitas vezes, é preciso que outros pesquisadores da área reconheçam a pertinência da questão. Os especialistas e orientadores são essenciais nesse momento pois poderão dar o feedback necessário para saber se o projeto de pesquisa é pertinente à luz dos seus objetivos.
Nova: Nem sempre é preciso inovar em ciência, mas com uma questão bem delimitada, é possível e desejável a produção de novas informações a partir da pesquisa. Além disso, um avaliador do projeto de pesquisa pode achar que um estudo que não produz nada novo não vale os recursos reivindicados pelo pesquisador. A questão não precisa ser completamente original, mas novas informações sobre o assunto constituem um resultado esperado de boas pesquisas.
Ética: a pergunta de pesquisa deve ser ética, de modo que não cause risco de vida para os participantes, nem uma completa invasão de suas privacidades. Geralmente, os projetos de pesquisa que envolvem testes em humanos ou animais não humanos passam por uma comissão de ética para serem aprovados e as pesquisas devem seguir suas normatizações com extremo rigor. Uma pesquisa que incorra em infrações éticas também não consegue produzir resultados relevantes em ciência.
Relevante: A relevância tem um papel central na busca por uma boa pergunta de pesquisa. Uma forma de pensar a relevância da pergunta é imaginar as conclusões que a pesquisa poderá chegar e pensar quais contribuições e avanços essa conclusão pode trazer à sociedade; vale aqui também discutir com os orientadores e especialistas da área a relevância da pergunta, bem como do projeto de pesquisa como um todo. 
Desenvolver uma boa pergunta de pesquisa, embora pareça uma tarefa individual, é, antes, uma elaboração coletiva que envolve a participação de especialistas, professores, amigos, colaboradores e certo domínio da literatura. São alguns exemplos de perguntas de pesquisa: A redução da gordura alimentar pode reduzir a câncer de mama? Qual a origem dos índios americanos? Qual a composição da atmosfera de Marte? Qual a relação entre subdesenvolvimento e dependência econômica? “A criatividade, a persistência e a capacidade de julgamento são qualidades necessárias a serem exercitadas nessa tarefa” (HULLEY, 2008, p. 43).
ASSIMILE
1. A pergunta de pesquisa é o ponto de partida de todos os estudos científicos. Ela expressa a dúvida, inquietação e incerteza do pesquisador frente a uma parte do campo de estudo de uma disciplina.
2. Para elaborar uma boa pergunta de pesquisa, é necessário ter um certo domínio da literatura da área de estudos. Também é recomendável que o pesquisador discuta sobre ela com os seus pares.
3. Uma boa pergunta de pesquisa tem cinco características, sob o acrônimo FINER. Ela é: factível, interessante, nova, ética e relevante.
A CONSTRUÇÃO DE HIPÓTESES
Uma vez elaborada a questão de pesquisa pode ser necessária a elaboração de hipóteses a serem testadas que darão uma resposta quanto ao problema colocado pelo pesquisador. As hipóteses são uma espécie de diretrizes da pesquisa; elas indicam o que os pesquisadores estão buscando ou o que eles estão tentando comprovar, sendo tentativas prévias de explicação do fenômeno analisado e devem ser formuladas de forma clara e concisa. A hipótese não deve ser confundida com pressuposto teórico, uma vez que no decorrer da pesquisa, ela pode ser descartada e avaliada. A hipótese é sempre provisória e provável.
Nem todas as pesquisas formulam hipóteses. A formulação de hipóteses é dada apenas em estudos correlacionais ou explicativos, isto é, que preveem um dado acerca do fenômeno analisado. Em geral, pesquisas apenas exploratórias não formulam hipóteses. As pesquisas que formulam hipóteses se utilizam do método hipotético-dedutivo que consiste na construção de conjecturas, isto é, premissas altamente prováveis baseadas em hipóteses que, se confirmadas, confirmam também sua veracidade. Um estudo que busque medir o índice de delitos de uma cidade pode ter como hipótese que o índice para determinado semestre será menor que o semestre anterior baseado em determinados fatores. Mais exemplos de hipóteses: quanto maior variedade houver no trabalho, maior será a motivação do trabalhador; o índice de câncer pulmonar é maior entre fumantes que não fumantes; a psicoterapia aumenta gradativamente a expressão do paciente sobre o futuro e diminui a expressão sobre os fatos passados.
Uma hipótese é diferente de uma afirmação, pois o pesquisador não tem plena certeza de sua comprovação. As fontes comuns para formulação de hipótesessão as teorias, generalizações empíricas sobre o problema de pesquisa e estudos revisados, mas elas também podem surgir em campos de estudo pouco explorados. Nesse caso, quanto menor o fundamento empírico da hipótese, maior o cuidado que o pesquisador deve ter quanto a sua aceitação ou rejeição. Um erro grave ao elaborar hipóteses se faz quando o pesquisador não revê a literatura do campo de estudo e formula hipóteses que já foram significativamente aceitas ou descartadas por outros estudos.
Lakatos e Marconi (1991) listaram onze características que uma boa hipótese deve conter:
· Consistência Lógica: o enunciado da hipótese não deve ser contraditório, além disso, deve ser compatível com o conhecimento científico já existente.
· Verificabilidade: a hipótese deve ser passível de verificação.
· Simplicidade: a hipótese deve ser simples, evitando enunciados obscuros ou complexos demais.
· Relevância: a hipótese deve poder explicar ou prever algum dado significativo para a pesquisa.
· Apoio teórico: a hipótese precisa ser baseada em uma teoria já estabelecida, a fim de que haja uma probabilidade maior de produção de conhecimento relevante.
· Especificidade: a hipótese deve indicar as operações de sua verificabilidade.
· Plausibilidade e clareza: a hipótese deve ser provável e seu enunciado claro.
· Profundidade, fertilidade e originalidade: a hipótese deve indicar os mecanismos que podem levar o conhecimento a um nível de maior complexidade do problema. Deve facilitar que mais deduções sejam feitas e expressar uma resolução inédita para a questão.
Ainda segundo Lakatos e Marconi (1991), as hipóteses se dividem em duas categorias: hipóteses básicas e hipóteses secundárias. As hipóteses básicas são aquelas escolhidas pelo pesquisador e que respondem o problema diretamente, por sua vez, as hipóteses secundárias indicam respostas complementares ou outras possibilidades de resposta para o problema em questão. Além dessa classificação, há outras maneiras de classificar hipóteses mais gerais que variam de acordo com o objetivo da pesquisa como: hipóteses de pesquisa, hipóteses nulas, hipóteses alternativas e hipóteses estatísticas. As hipóteses de pesquisa podem ser entendidas como proposições acerca das possíveis relações entre duas ou mais variáveis. Comumente se representa essas variáveis como H11, H2, H3, etc. E há ainda uma classificação para os tipos de hipóteses de pesquisa, sendo:
· Descritivas: as hipóteses desse tipo são utilizadas em estudos descritivos, por exemplo, “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre 800 e 1.000 reais”. 
· Correlacionais: as hipóteses desse tipo explicam as relações entre variáveis, por exemplo, “quanto maior a autoestima, menor o medo da rejeição”.
· Da diferença entre grupos: as hipóteses desse tipo têm a finalidade de comparar grupos, exemplo, “o efeito persuasivo para deixar de fumar será maior em adolescentes que adultos”.
· Causalidade: as hipóteses desse tipo estabelecem relações bem mais fortes entre duas variáveis, em que uma variável estabelece com a outra uma relação de dependência, por exemplo, “a ausência da figura paterna contribui para uma maior probabilidade de conduta antissocial”.
Além das hipóteses de pesquisa, temos as hipóteses nulas. Elas são os opostos das hipóteses de pesquisa, pois as refutam. Retomando os exemplos anteriores, uma hipótese nula seria “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x varia entre 800 e 1.000 reais”. Ou ainda, “não há relação entre autoestima e o medo de sucesso”.
Há ainda, as hipóteses alternativas e as hipóteses estatísticas. A primeira são as possibilidades de respostas alternativas ao problema de pesquisa. Assim, poderíamos dizer, como no exemplo anterior, que “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre 1.200 e 1.500 reais”. As hipóteses estatísticas, por sua vez, são exclusivas das pesquisas quantitativas e representam as hipóteses (pesquisa, nula e alternativa) em símbolos estatísticos.
REFLITA
1. Além do valor das hipóteses para a obtenção de resultados, no que as hipóteses podem contribuir para a pesquisa científica?
2. O que pode ser feito quando a hipótese básica é rejeitada?
3. Qual relação entre a pergunta de pesquisa e a elaboração da hipótese?
A CONDUÇÃO DA PESQUISA
Para que a pesquisa científica seja conduzida da forma correta, é necessário que o pesquisador observe uma série de regras e princípios. De acordo com Academia Brasileira de Ciências (ABC, 2013), os princípios gerais que todo pesquisador deve seguir são: honestidade na apresentação e descrição dos procedimentos da pesquisa; confiabilidade na execução e comunicação da pesquisa; objetividade na coleta e no tratamento de informações; imparcialidade na execução da pesquisa; cuidado na coleta, no armazenamento e no tratamento de dados; respeito pelos voluntários e animais que participarem de testagens; veracidade na atribuição dos créditos aos outros; e, por fim, responsabilidade com a formação e supervisão de novos cientistas.
Além disso, a ABC recomenda uma série de boas práticas que garantem a boa condução da pesquisa. Em resumo, no que concerne ao planejamento da pesquisa, o pesquisador deve observar:
a. Os recursos e materiais necessários à execução do projeto.
b. A averiguação da capacidade científica do pesquisador em dar procedimento à pesquisa.
c. A documentação de dados e informações prévias relevantes para a pesquisa.
d. Reconhecimento dos possíveis conflitos de interesse que possam atrapalhar a pesquisa.
e. A análise sobre propriedade intelectual quando for pertinente à pesquisa.
No que concerne ao manuseio de dados, o pesquisador ou a equipe responsável deve:
f. Registrar os dados coletos de forma fidedigna.
g. Guardar os dados da melhor forma.
h. Arquivar os dados da pesquisa por prazo razoável.
i. Colocar os dados à disposição para que outros pesquisadores possam replicar o estudo.
No que concerne a execução do projeto, o pesquisador ou a equipe responsável devem:
j. Conduzir a pesquisa visando a prevenção de falhas e desperdício de recursos.
k. Tratar todos os objetos de pesquisa com respeito, incluindo artefatos culturais.
l. Ter compromisso com a saúde dos participantes da pesquisa.
m. Garantir a confiabilidade dos dados e resultados.
n. Dar crédito aos financiadores dos seus projetos.
A integridade da pesquisa é um valor absoluto. Tais regras gerais valem para todo tipo de pesquisa, embora haja regras mais pertinentes a algumas pesquisas que outras. Isso porque há, ao menos, duas abordagens em pesquisa: as pesquisas qualitativas e as pesquisas quantitativas. As pesquisas quantitativas se debruçam sobre dados que podem ser quantificados, usualmente recorre à linguagem matemática, especialmente à estatística, a fim de mostrar as causas e relações de determinado fenômeno. A pesquisa qualitativa, por sua vez, não se preocupa com a representação matemática dos fenômenos e sim com a compreensão mais geral deles. Os seus objetos não são quantificáveis, centrando-se na compreensão e explicação de dinâmicas sociais.
De acordo com as características de cada projeto de pesquisa, são escolhidas diferentes formas de pesquisa, sendo que não há uma melhor que a outra, mas a que mais se adequa aos seus objetivos. É possível, inclusive, aliar a pesquisa qualitativa com a quantitativa.
As pesquisas diferem-se também quanto a sua natureza: a pesquisa básica enfoca em construir conhecimentos novos sem aplicação prática prevista, enquanto a pesquisa aplicada visa os resultados práticos desse novo conhecimento, dessa maneira, como as pesquisas visam objetivos diferentes, é possível classificá-las de maneira mais específica. De maneira geral, as pesquisas exploratórias têm como objetivo tornar o problema mais explícito ou elaborar hipóteses, isso envolve levantamento bibliográfico, entrevistas (pesquisa semiestruturada) e análise de exemplos do problema. A pesquisa descritiva visa descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade, sendo exemplos: estudos de caso, análise documentale pesquisa ex-post-facto. A pesquisa explicativa visa determinar os fatores responsáveis pela ocorrência de determinados fenômenos.
Os procedimentos de pesquisa também variam. As pesquisas experimentais seguem um planejamento extenso e rigoroso. Usualmente tais pesquisas definem o objeto, suas variáveis e a elaboração de instrumentos para a coleta de dados, podendo ser desenvolvidas em laboratório ou no campo. Já a pesquisa bibliográfica é feita a partir da obtenção de referências teóricas como livros e artigo científicos, com o objetivo de recolher neles informações que ajudem a solucionar o problema inicial. A pesquisa documental segue caminho semelhante, mas também pode recorrer a fontes mais diversificadas como cartas, filmes, fotografias, pinturas, jornais etc.
Há ainda pesquisas de campo, etnográficas, de levantamentos (censos) e estudos de caso. Cada pesquisa tem sua particularidade, mas em termos gerais, as pesquisas científicas seguem as seguintes etapas: reconhecimento e formulação do problema, exploração do problema na bibliografia ou coleta de dados exploratória, planejamento da pesquisa e elaboração da problemática, elaboração de um modelo de análise (hipóteses), coleta de dados, análise dos dados e comunicação dos resultados.
ACEITAÇÃO E REJEIÇÃO DE HIPÓTESES
Em algumas pesquisas, principalmente se correlacionais ou explicativas, se faz necessário a elaboração de hipóteses, a fim de que possa se obter informações que ajudam a responder o problema de pesquisa. Cada pesquisa é diferente, portanto, algumas podem ter mais de uma hipótese analisada, principalmente quando o problema de pesquisa é complexo. Uma etapa central da pesquisa é avaliar se a hipótese foi aceita ou rejeitada no confronto com os dados empíricos. À rigor, um estudo não é capaz de aceitar ou rejeitar uma hipótese de maneira definitiva, o estudo apenas indica evidências a favor ou contra. Lembre-se que na ciência não há certezas absolutas ou indiscutíveis.
Há vários métodos para testar as hipóteses. Um deles é o Método Hipotético-Dedutivo, elaborado pelo filósofo da ciência Karl Popper na obra Conjecturas e Refutações: o desenvolvimento do conhecimento científico (2003). Segundo Popper, quando os conhecimentos acerca de determinado tema são insuficientes, surgem os problemas. Visando explicar o problema, as hipóteses são formuladas. São elas que ditam as consequências que terão de ser testadas ou falseadas. A partir dessa etapa, procura-se evidências empíricas que contradizem a hipótese. Quando não se consegue derrubá-la, então a hipótese é corroborada. Assim temos o esquema: PROBLEMA – HIPÓTESE – PREVISÃO – TENTATIVA DE FALSEAR – CORROBORAÇÃO.
Há também o método hipotético-indutivo quando se constrói as hipóteses a partir da observação da experiência. Quando se tem alguma informação que dá à hipótese um certo nível de probabilidade, é mais comum o uso do método hipotético-dedutivo. Todavia, na prática, os dois métodos se articulam, pois os modelos elaborados na ciência geralmente atendem tanto um quanto o outro.
Os resultados encontrados na tentativa de falsear a hipótese devem ser comparados com os resultados esperados para que se possa tirar conclusões. Se houver divergência entre eles, é necessário fazer uma análise que contemple saber: qual a causa dessa divergência, no que a experiência é diferente do que se presumia na hipótese e, a partir de uma nova análise de dados disponíveis, agora é possível elaborar novas hipóteses e examinar em que medida elas respondem melhor o problema colocado. Nem sempre as hipóteses são aceitas nas pesquisas, mas isso não significa que a pesquisa não tenha utilidade. O simples fato de eliminar uma das hipóteses, ainda que provisoriamente, faz com que os cientistas fiquem mais próximos da resposta do problema de suas pesquisas.
EXEMPLIFICANDO 
Veja o exemplo prático de formulação hipótese em uma pesquisa sobre as cobras corais.
Observação 1: As cobras corais são coloridas.
Pergunta: Por que essa espécie tem esse tipo de coloração?
Hipótese básica: As cores fortes servem para afastar possíveis predadores.
Hipótese secundária ou alternativa: Na natureza, as cores fortes servem de camuflagem.
Previsão: se colocarmos cobras de borracha uma com cores e uma marrom em fundos brancos com a presença de pássaros, os pássaros tentaram atacar a de borracha, em vez da colorida (H1), ou atacaram as duas igualmente (H2).
Coleta de dados: Nos testes efetuados, os pássaros atacaram significativamente mais as cobras marrons.
Interpretação dos resultados: A hipótese básica é mais provável e foi corroborada.
A elaboração de boas perguntas, a construção de hipóteses significativas e a testagem delas de forma adequada são fundamentais em uma pesquisa quantitativa. Além disso, o pesquisador deve estar sempre atento aos princípios e valores éticos tais como honestidade, respeito, imparcialidade, responsabilidade, entre outros, a fim de garantir uma condução adequada da pesquisa. Uma boa pesquisa, mesmo sem a corroboração de hipótese, colabora com o avanço da ciência.
ENTENDIMENTO DA METODOLOGIA
Saber redigir e analisar artigos científicos é uma habilidade essencial a ser adquirida pelo pesquisador. Antes de tudo, é necessário compreender a estrutura de um artigo que geralmente passa por introdução, metodologia, resultados e discussão. Cada etapa da pesquisa possui uma série de critérios e procedimentos a serem seguidos, os quais podem variar conforme o tipo de pesquisa. Todavia, em geral, construímos uma análise fundamentada de um artigo observando se ele cumpre adequadamente os seguintes aspectos (CASARIN, 2012; PEREIRA, 2018):
a. Tema: inicialmente, deve-se ficar claro o tema do trabalho analisado. Esse tema deve ser relevante na área de conhecimento ao qual se enquadra, pois assim se justifica o emprego dos recursos.
b. Título: o título do artigo deve ser elucidativo, preciso e curto. Os leitores que buscam o artigo devem conseguir saber pelo título se o artigo atende suas necessidades de pesquisa. Para isso, é aconselhável que tenha entre 10 a 12 palavras.
c. Autores: são aqueles que efetivamente contribuíram no desenvolvimento da pesquisa e deve-se observar suas instituições de origem ou qualificação de cada um deles. Também recomenda-se incluir formas de contato.
d. Resumo: tem a finalidade de síntese da pesquisa, dando uma ideia de quais foram os objetivos e os caminhos encontrados. Inclui-se aqui os métodos utilizados. Geralmente, também se coloca uma versão do resumo em outro idioma.
As palavras-chave identificam o tema do artigo por meio da catalogação. 
e. Introdução: é a parte do trabalho em que é apresentado o problema da investigação, as justificativas da pesquisa, a fundamentação teórica da pesquisa, bem como os objetivos do trabalho, as hipóteses e variáveis utilizadas. A fundamentação teórica se baseia, em geral, nas últimas pesquisas da área de estudo.
f. Justificativas da pesquisa: o relatório da pesquisa deve incluir uma consideração sobre a relevância do tema ou problema a ser investigado, o que e onde se pode contribuir com a realização da pesquisa.
g. Objetivos gerais e específicos: o artigo deve ser claro quanto aos seus propósitos, os objetivos devem ser bem definidos e coerentes, além de compatíveis com os métodos e o corpo de conhecimento estabelecido da área.
h. Hipóteses e variáveis: as variáveis são os parâmetros que irão variar, os atributos que se pretende investigar. Elas devem estar bem definidas e explícitas no artigo. Além disso, deve haver uma previsão do comportamento destas (hipótese) que é apoiada na literatura da área.
i.  Metodologia: o artigo deve informar claramente quais são os procedimentos e métodos utilizados a fim de testar as hipóteses. O nível de detalhamento deve ser alto para permitir que outro pesquisador replique o experimento. Inclui saber qual o tipo de pesquisa, a abordagem, o lócus da pesquisa, a população, a amostra, os instrumentos utilizados, os cuidados técnicos, as medidas éticas e a forma de análise de dados.
j. Amostra: o artigo deve detalharmuito bem a população do estudo para que outras pesquisas possam ter parâmetros de comparação. A análise desse conteúdo deve ser meticulosa porque podem esconder falhas que comprometem os resultados da investigação.
k. Instrumento de coleta de dados: o artigo deve ser explícito quanto aos procedimentos utilizados na coleta de dados, aos meios e instrumentos utilizados, às variáveis de estudo e escalas de variação. A utilização de um instrumento não confiável pode comprometer totalmente o resultado obtido. Além disso, deve-se dizer quem coletou, qual período da coleta, os cuidados tomados durante, etc.
l. Validade interna e externa: consiste em uma das etapas mais importantes nas análises dos artigos. Aqui é necessário observar criticamente se, por exemplo, não há situações intervenientes que convergem com a variável independente e podem afetar a variável dependente; se a forma de seleção da amostra é adequada quando não é aleatória, se não há enviesamento na amostragem, etc.
Em suma, é necessário verificar se não há possibilidades de interferência dos resultados que não tenham sido levadas em conta. Há que se verificar também a validade externa, o quanto os resultados conseguem gerar generalizações em outros ambientes ou com outras amostragens. A avaliação também inclui uma análise da confiabilidade e validade dos instrumentos utilizados na coleta de dados. 
m. Dimensão Ética: o artigo deve respeitar os princípios e as diretrizes éticas determinados pelo Comitê de Ética da instituição a que ele está vinculado, principalmente durante a experimentação com humanos e animais não humanos. Sem esse controle, os resultados da pesquisa são severamente comprometidos.
n. Resultados, discussão e conclusão: o artigo deve apontar claramente quais foram os resultados, de forma lógica, objetiva e ordenada, podendo utilizar para isso tabelas, gráficos, como material complementar. O artigo deve ser capaz de responder diretamente e objetivamente a questão-problema colocada na introdução. Após essa etapa, os resultados devem ser discutidos à luz do conhecimento da literatura, comparando-os com outros estudos, a fim de reforçar a validade de sua resposta ou solução.
Parece óbvio, mas um dos aspectos importantes de análise é a coerência geral do artigo desde a introdução até a discussão final. Ele não deve conter contradições, mas sim uma harmonia lógica entre as ideias. A falta de coerência pode ser uma das fontes de erros e falhas da pesquisa científica. Não menos importante, o artigo deve indicar adequadamente todas as referências utilizadas para sua composição. É muito comum que as referências sejam normalizadas para facilitar a comunicação com os outros pesquisadores. Uma boa pesquisa, em geral, conta com um número razoável de referências, indicando que se conhece bem a literatura disponível sobre o tema.
ASSIMILE
Conforme explica Casarin (2012), os trabalhos científicos são frequentemente estruturados em ordem cronológica: Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão, Conclusão e Referenciais Bibliográficos.
a. A seção “Introdução” contém as razões que motivaram a investigação e mostra para os leitores como o artigo está estruturado.
b. A seção “Metodologia” fornece detalhes suficientes para outros cientistas reproduzirem os experimentos descritos no artigo.
c. As seções “Resultados” e “Discussão” apresentam e discutem os resultados da pesquisa, respectivamente. Essas duas seções frequentemente são combinadas para que os leitores entendam o que os resultados significam.
d. A seção “Conclusão” apresenta o resultado do trabalho interpretando os achados em um nível de abstração mais alto do que a Discussão e relacionando esses achados ao problema de pesquisa declarado na Introdução.
LEITURA DOS RESULTADOS
Dada sua importância, abordaremos mais profundamente a análise dos resultados de um artigo científico. A seção dos resultados indica o que foi encontrado na pesquisa, isto é, mostra os dados relevantes obtidos pelo pesquisador. Segundo Pereira (2013), é importante que se apresente as características “demográficas, socioeconômicas, clínicas ou de outra natureza” do objeto estudado. Tais dados podem ser alocados em tabelas para uma melhor visualização. Essa parte serve como indicativo das condições a serem observadas para o estudo poder ser replicado. Também deve-se indicar os critérios de exclusão dos participantes na amostra.
Após a explicitação da amostragem, os resultados devem ser elencados em uma ordenação. Primeiro, os mais relevantes, aqueles que respondem diretamente à questão do artigo. O pesquisador, na sequência, poderá expor os resultados secundários, aqueles achados que não eram esperados, mas que são relevantes. Há algumas dicas que podem ser seguidas para facilitar a elaboração da seção de resultados, são elas:
a. Apresentar os resultados de forma ordenada e lógica.
b. Dar ênfase somente a informações imprescindíveis.
c. Não emitir opiniões ou julgamentos sobre o que foi encontrado, pois a parte interpretativa cabe à seção de discussão.
d. Não replicar no texto os resultados que estão nas ilustrações.
e. Indicar a significância estatística dos resultados.
Assim, espera-se que na seção de resultados se encontre as informações mais relevantes que a pesquisa obteve. A seção de resultados deve ter um texto curto, simples, objetivo, que preze pela clareza e pela ordenação lógica, seguindo sempre as regras da comunicação científica. Muitas vezes, se faz necessário redigir o texto mais de uma vez, até alcançar a clareza pretendida.
ANÁLISE DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS
Na etapa da análise de dados, é comum o uso de estatística descritiva que auxilia na forma de obter informações a partir dos dados coletados. São utilizadas para essa tarefa, resumos, gráficos e tabelas. Muitas vezes, a simples visualização dos dados coletados não consegue expressar todas as informações contidas neles, pois existem informações escondidas que só podem ser visualizadas com aplicações de técnicas e métodos estatísticos. Antes de resumir em gráficos, tabelas e quadros, precisamos saber sobre o que iremos falar, isto é, qual o tipo de variável que estamos interessados. Segundo Da Silva (2011), elas podem ser:
a. Qualitativas: as variáveis desse tipo medem a qualidade, podendo ser ordinais, como o índice de aprovação de um político (péssimo, ruim, regular, bom ou ótimo), ou podem ser nominais, como o sexo de uma pessoa, feminino ou masculino.
b. Quantitativas: as variáveis desse tipo medem a quantidade, podem ser discretas (os valores são contáveis) ou contínuas (os valores dentro de um intervalo), por exemplo, a altura de uma pessoa.
Existem também métodos específicos quando queremos descrever duas ou mais variáveis e como se relacionam entre si. As ferramentas descritivas e analíticas de dados são inúmeras e devem ser utilizadas conforme os objetivos da pesquisa, são algumas delas:
a. Tabela de frequência: indica a frequência observada de um fenômeno. Essa frequência pode ser classificada em absoluta ou relativa – absoluta como o número de eventos e relativa como o percentual. Podemos utilizá-la, por exemplo, quando queremos observar a variável “torcedor de time” em uma turma com 20 alunos em São Paulo, conforme a Tabela 4.1.
b. Gráfico de barras: o gráfico de barras apresenta a frequência absoluta ou relativa de uma observação ou fração de observações. A altura das barras representa o que mais foi observado. Um exemplo desse tipo de gráfico ilustra a nota de cada aluno em uma turma (Figura 4.1).
c. Gráfico de setores (pizza): esse gráfico apresenta uma frequência relativa de uma observação. Eles não são bons para comparações temporais. A Figura 4.2 traz um exemplo desse tipo aplicado às notas dos alunos.
d.  Histograma: se parece com o gráfico de barras, mas possui diferenças. O histograma mede um grupo de dados e não uma certa informação como o gráfico de barras. Note que, em relação ao gráfico de barras, no histograma não é possível identificar a nota de cada aluno.
e. Tabulação cruzada: quando queremos descobrir se há

Outros materiais