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Bem-vindo à nossa oitava aula, que traz questões finais sobre os temas da sala de aula universitária. Desde as primeiras aulas, temos refletido sobre os elementos teóricos e práticos necessários e mínimos a ter em conta para a concepção dos conteúdos programáticos, as escolhas a fazer em termos de métodos (abordagens, planeamento e técnicas também), a utilização de tecnologias e ferramentas de mediação, além de perspectivas pedagógicas/ andragógicas que podem resultar em experiências frutíferas para professores e alunos. No entanto, acreditamos que ainda há espaço para explorar, passo a passo, como exemplo, a lógica de uma experiência da vida real em um curso superior de um Curso de Letras no Rio de Janeiro, Brasil, como: o desenho, o conjunto de decisões tomadas e os critérios de avaliação estabelecidos com o propósito de remodelar as características de uma Literatura Britânica I, cujo conteúdo variou dos estudos de contos populares às peças de Shakespeare e suas adaptações à Literatura de Cordel brasileira. Este exemplo funciona como um estudo de caso que pode ser replicado a outros cursos e disciplinas. Considerando o exposto, a oitava aula se concentrará em delinear os processos envolvidos na implementação das mudanças necessárias em um curso superior tradicional de Literatura Britânica, motivos que promoveram a inclusão da literatura oral como elemento vital para uma melhor compreensão da literatura canônica e da importância do conto popular como o embrião para o desenvolvimento de diferentes tipos de narrativas ao longo do tempo. Além disso, as decisões de oferecer uma nova perspectiva sobre os critérios de avaliação e o desejo de aprimorar as habilidades de leitura dos alunos serviram como diretrizes para a estrutura em que a disciplina agora se baseia. Discutir sobre a importância do planejamento do projeto do programa do curso para inovar os cursos tradicionais de ensino superior. Compreender a reformulação dos critérios de avaliação com vistas a promover os resultados de aprendizagem dos alunos. Refletir sobre uma série de estratégias utilizadas para propiciar a autonomia dos alunos, bem como seu desenvolvimento acadêmico e profissional. Didática do Ensino Superior Aula 8: Otimizando conteúdo, maximizando o aprendizado – uma experiência de educação superior da vida real Introdução Objetivos Antes de explorar os tópicos a serem abordados nesta lição, gostaríamos que você refletisse sobre as seguintes questões: a) Até que ponto as discussões em classe podem ser usadas para ajudar os alunos em suas tarefas? b) Quais são algumas das diretrizes pedagógicas ideais que os professores podem usar para promover o autodesenvolvimento dos alunos? c) Quais tipos de critérios de avaliação são mais eficazes para obter evidências concretas sobre os reais resultados de aprendizagem dos alunos? Era uma vez, o famoso físico Albert Einstein foi confrontado por uma mulher excessivamente preocupada que buscou conselhos sobre como criar seu filho pequeno para se tornar um cientista de sucesso. Em particular, ela queria saber que tipos de livros deveria ler para o filho. - Folkales”, respondeu Einstein sem hesitação. - Tudo bem, mas o que mais devo ler para ele depois disso? perguntou a mãe. - Mais contos populares, afirmou Einstein. - E depois disso? - Ainda mais contos populares, respondeu o grande cientista, e ele agitou seu cachimbo como um mago pronunciando um final feliz para uma longa aventura. (Adaptado de: ZIPES, J. K. Breaking the Magic Spell: Radical Theories of Folk and Fairy Tale. Lexington: The University Press of Kentucky, 2002.). Figura 8.1 - Narrativas orais Fonte: 123RF (2021). Embora a manutenção das disciplinas tradicionais nos currículos dos cursos de ensino superior seja vital para a preservação dos estudos da literatura clássica/ canônica, descobertas recentes e a publicação de material recente na forma de livros e trabalhos acadêmicos podem lançar alguma luz sobre as perspectivas teóricas que têm sido Refletindo sobre... A necessidade de atualização das disciplinas tradicionais do ensino superior http://pos.estacio.webaula.com.br/cursos/MLC022/aula8/img/01.z.jpg utilizadas como guias para o nosso entendimento sobre os elementos históricos, sociais e filosóficos que serviram de material fundamental para a criação artística de obras literárias. Nesse sentido, um novo ponto de vista sobre as obras de arte literárias canônicas pode oferecer novas abordagens para uma exploração mais adequada dos textos literários. Em uma reflexão muito interessante sobre literatura oral, em The Folktale, Thompson (1977) explica que a última metade do século viu um interesse cada vez maior no folclore, especialmente porque os colecionadores têm estado ocupados em todas as partes do mundo ouvindo contadores de histórias, com melhores técnicas de gravação e publicação do que ouvem. Além disso, alguns estudiosos fizeram esclarecimentos e levantamentos locais para colocar em ordem a enorme massa de material; outros desenvolveram métodos para o estudo de narrativas orais; e ainda outros usaram esses métodos para traçar o caminho de muitas das histórias bem conhecidas. Consequentemente, toda essa atividade serviu para esclarecer alguns pontos, assim como para corrigir teorias antigas ou prematuras. Assim, começamos a ver o conto oral como a mais universal de todas as formas narrativas e a compreender sua relação com as histórias literárias de nossa própria civilização. Inevitavelmente, estudiosos e pessoas comuns vêm aprendendo sobre a função do conto na vida de quem conta e de quem escuta, além da natureza dessa arte em diferentes terras e épocas. Nesse sentido, a própria massa dos materiais assim reunidos é tão avassaladora que permanece amplamente desconhecida, exceto por um pequeno grupo de especialistas. No entanto, o assunto é grande importância para todos os estudantes sérios de literatura, antropologia, psicologia e arte em geral. Foi a descoberta da importância dos contos folclóricos numa miríade de obras de arte literária que nos motivou no projeto de redesenho do programa de um curso tradicional de Literatura Britânica I, programa já utilizado várias vezes. Embora pudéssemos contar com a experiência de ter ensinado e discutido os materiais canônicos já disponíveis nos livros de referência sobre o assunto (ABRAHAMS et al., 2006; BORGES, 2002; McRAE; CARTER, 1997; WILHELM et al., 2009), o valor devido à literatura oral sempre foi deixado de lado. Ao manter a relevância da oralidade1 em segundo plano, os alunos inevitavelmente perderiam a chance de expandir seus horizontes, além da exposição a um punhado de motivos e temas que estruturavam a composição literária desses textos. Ademais, as adaptações das peças de Shakespeare em contos e na Literatura de Cordel também seriam deixadas de lado se optássemos por manter intactos os estilos e materiais de ensino tradicionais. Tendo exposto a importância e os motivos para ajustes no programa do curso em voga naquela época, as seções a seguir irão delinear os passos dados na reciclagem do material didático para um design mais atualizado. O que acontece com as histórias tradicionais quando são recontadas em outro tempo e contexto cultural e para um público diferente? 1 Este neologismo é uma mala de palavras composta por palavras: oral e literatura. Expressa a cultura transmitida pela oralidade: contos, mitos, canções, provérbios, enigmas, provérbios ... Foi inventado por Paul Zumthor, especialista em história cultural medieval (https://www.motsvalise.fr/oraliture/ [https://www.motsvalise.fr/oraliture/] ) Sobre a literatura oral O conto oral O valor da literatura oral Estrutura importante https://www.motsvalise.fr/oraliture/ O que acontece com as histórias tradicionais quando são recontadas em outro tempo e contexto cultural e para um público diferente? STEPHENS, John.; McCALLUM, Robyn. Retelling Stories, Framing Culture. London: Routledge, 2013. Nas últimas décadas, houve inúmeras investigações sobre a naturezada narrativa, sua estrutura, essência e manifestações nas culturas. Diversas ciências têm contribuído de forma significativa com recursos teóricos, analíticos e instrumentais para que a forma como articulam elementos e valores culturais possa ser mais bem compreendida na atualidade. É senso comum que contar histórias é uma atividade constante em todo o mundo. No entanto, esta atividade não ocorre de forma uniforme e universal e, conforme nos movemos pelos continentes (houve uma quantidade considerável de material online contendo coleções de contos populares de vários países do mundo), conseguimos encontrar uma variabilidade extraordinária dentro da uniformidade da clínica geral. Embora essa variedade possa parecer meramente caleidoscópica e sem lei a primeira vista, um pouco de estudo cuidadoso é necessário para mostrar que, como todos os outros elementos da cultura humana, os contos populares não são meras criaturas do acaso: eles existem no tempo e no espaço e são afetados pela natureza das terras onde vivem, pelos contatos linguísticos e sociais de seu povo, pelo decorrer dos anos e as mudanças históricas que os acompanham. Porque o conto popular é uma forma de narrativa em prosa tradicional, ficcional, que circula oralmente (HASSE, 2008) . Esses materiais criativos realizados por seres humanos têm influenciado a elaboração de uma variedade de obras de arte literária: a novela, o romance e até mesmo peças de Shakespeare, como se pode notar em publicação recente sobre o assunto. Shakespeare conhecia uma boa história quando ouvia uma e não tinha medo de emprestar do que ouvia ou lia, especialmente contos populares tradicionais [...] Esta antologia única apresenta mais de quarenta versões de contos populares relacionados a oito peças de Shakespeare: a Megera, A Comédia dos Erros, Tito Andronicus, O Mercador de Veneza, Tudo está bem quando acaba bem, Rei Lear, Cymbeline e A Tempestade. Esses contos fascinantes e diversos vêm da Europa, Oriente Médio, Índia, Caribe e América do Sul [...] (ARTESE, 2019). Devido à contribuição dos contos populares como embriões para uma variedade de gêneros literários, houve a necessidade inevitável de incluir esses recursos culturais como parte do curso de Literatura Britânica I tradicional, especialmente porque o conteúdo do curso, objetivos e critérios de avaliação foram baseados em um conjunto de práticas que estavam ficando aquém das tendências inovadoras na pedagogia/ andragogia do ensino superior, como pode ser visto na breve visão geral do antigo plano de estudos do curso Literatura Britânica I: Reflexões sobre a concepção do programa do curso: razões para atualizar os materiais tradicionais Enriquecimento do curso Figura 8.2 – Shakespeare Fonte: 123RF (2021). A Literatura Britânica I dialoga com as demais disciplinas de literatura apresentadas no Curso de Letras e é de fundamental importância para o estudo e compreensão dos conteúdos presentes nas disciplinas de Literatura Britânica II e Literatura Norte-americana. Nesse sentido, a Literatura Britânica I desenvolve a escrita do aluno, bem como a sua competência literária e a capacidade de analisar textos a partir dos prismas formais, ideológicos e culturais. Consequentemente, o aluno amplia seu conhecimento de mundo e visão crítica de forma global/ intercultural. Contextualização 1. Compreender como a formação social e política da Bretanha e as sucessivas invasões contribuíram para a formação da língua e da literatura inglesas; 2. Entender como os conceitos de tradição e honra são importantes e estão presentes nas obras da Literatura Inglesa; 3. Relacionar a tendência entre a relação das religiões pré-cristãs e o Cristianismo; 4. Apreciar a importância da literatura anglo-saxã e sua influência na literatura contemporânea; 5. Explicar as fontes históricas sobre Arthur e sua lenda; 6. Estudar o teatro elizabetano, Shakespeare e sua obra. Objetivos A formação social e política da Bretanha. A tensão entre as religiões pré-cristãs e o cristianismo. Os conceitos de honra e tradição na literatura inglesa. Literatura anglo-saxônica e literatura medieval. As lendas do Rei Arthur. O teatro elisabetano e as contribuições de William Shakespeare. Programa de curso O processo de avaliação consistirá em três etapas: Avaliação 1 (AV1), Avaliação 2 (AV2) e Avaliação 3 (AV3), podendo ser realizada por meio de testes teóricos, testes práticos e projetos relacionados às especificidades de cada disciplina. Critérios de avaliação http://pos.estacio.webaula.com.br/cursos/MLC022/aula8/img/02.z.jpg A perspectiva anterior da Literatura Britânica I tinha as seguintes desvantagens: 1) O uso de recursos tecnológicos não era visto como vital nos processos de tratamento das obras literárias, embora houvesse espaço para seus usos se os professores quisessem; 2) As aulas tinham aulas expositivas como o método mais comum de entrega de conteúdo; 3) As avaliações foram baseadas principalmente em testes escritos; 4) Apenas elementos históricos e literários foram vistos como centrais, o que tornou as aulas exaustivas para a maioria dos alunos e professores; 5) Como o curso era focado idealmente em materiais tradicionais, os alunos dificilmente tinham prazer em ler materiais teóricos nos livros que deveriam ler durante o semestre. Em vez disso, a maioria utilizou recursos online para resenhar livros, o que lhes deu a falsa ideia de terem lido e compreendido a essência dos elementos culturais, filosóficos, sociais e literários inerentes aos textos clássicos elementares que os alunos deveriam ler; 6) Ao não ler os materiais obrigatórios atribuídos à disciplina, a maioria dos alunos perdeu a oportunidade de desenvolver a sua capacidade de leitura que, inevitavelmente, prejudicou e atrasou o desenvolvimento da sua escrita e também da retórica; 7) Uma vez que um número considerável de alunos planejava se tornar professor de Inglês e Literatura Britânica no futuro, o desenvolvimento de suas habilidades de fala e pedagogia não estava ocorrendo exponencialmente, uma vez que o foco principal dos alunos continuava sendo obter notas suficientes nos testes escritos; 8) A assiduidade não foi explorada como uma oportunidade para verificar/ testar os resultados de aprendizagem dos alunos, uma vez que as aulas foram baseadas na suposição de que os alunos tinham lido previamente os textos selecionados e seriam capazes de discutir e comentar qualquer elemento teórico durante as aulas. No entanto, devido ao desinteresse dos alunos pelo material de leitura, as aulas não tiveram o resultado esperado para ambas as partes (professores e alunos). 9) As reclamações sobre a metodologia e o programa do curso aumentavam constantemente. 10) O interesse dos alunos em desenvolver uma investigação mais aprofundada sobre as questões da literatura britânica foi restrito àqueles que já tinham um vasto repertório de leitura. Assim, os elementos anteriores são suficientes e explicam as razões pelas quais o projeto do programa do curso anterior precisava de modificações urgentes e a seção apresentará as modificações realizadas para tornar o curso em discussão uma experiência acadêmica mais prazerosa. Para aprovação na matéria, os alunos devem: 1. Atingir resultado igual ou superior a 6,0, calculado a partir da média aritmética entre as notas das avaliações, considerando apenas as duas notas mais altas obtidas entre as três etapas da avaliação (AV1, AV2 e AV3). A média Aritmética obtida será a nota final do aluno na disciplina; 2. Obter nota 4,0 ou superior em pelo menos duas das três avaliações; 3. Assistir a pelo menos 75% das aulas ministradas. Desvantagens Remodelando um curso tradicional de literatura britânica: a importância dos contos populares, recursos digitais e critérios de avaliação mais flexíveis Figura 8.3 - Remodelagem Fonte: 123RF (2021). O contador de histórias está em toda parte e sempre encontrou ouvintes ansiosos. Quer seu conto seja o mero relato de um acontecimento recente, uma lenda de muito tempo atrás ou uma ficção elaborada,homens e mulheres se apegaram a suas palavras e satisfizeram seus anseios por informação ou diversão, por incitação a feitos heroicos, por edificação religiosa ou para se libertar da monotonia avassaladora de suas vidas (THOMPSON, 1977). Se olharmos mais de perto o texto de THOMPSON (1977), entendemos que a narração de histórias deve ser vista como um meio de lançar alguma luz sobre o misterioso passado dos diversos grupos de povos que imprimiram e compartilharam sua herança cultural ao longo dos séculos. Não só a narração de histórias foi significativa nos tempos antigos, mas também os registros de historiadores notórios de civilizações passadas. Consequentemente, quer tenhamos uma visão mais realista do assunto ou mesmo decidamos nos aventurar no campo das histórias ficcionais-maravilhosas, a arte de usar a linguagem para transmitir uma mensagem às gerações futuras é algo intrínseco ao ser humano. A primeira estratégia empregada para despertar a curiosidade e o interesse dos alunos pela importância das obras de arte clássicas na Literatura Britânica baseou-se na demonstração da importância da literatura oral como elemento-chave de toda produção literária ao longo dos séculos: The Seafarer, The Wanderer, The Legend of Beowulf, The Canterbury Tales, Le Morte D'Arthur de Thomas Mallory e todas as peças de Shakespeare devem seu sucesso ao conjunto de motivos e temas presentes em uma variedade de contos populares de todo o mundo. Consequentemente, uma ação central teve a ver com a inclusão dos contos populares como parte integrante da Literatura Britânica, não apenas como um campo separado de estudo relacionado a outras disciplinas, como Folclore e Estudos Culturais. O segundo passo dado para redesenhar nosso currículo de Literatura Britânica I foi relacionado a mostrar as conexões entre uma literatura de língua estrangeira e o repertório de literatura nacional dos alunos (THOMPSON, 1977). A publicação no mercado editorial brasileiro de peças de Shakespeare em diferentes gêneros, mais especificamente na forma de contos e Literatura de Cordel, abriu caminho para uma diferenciação e valorização da Literatura Britânica entre os estudantes: a reformulação das peças de Shakespeare em outro formato e sua publicação na Cordel Literature (uma narrativa estruturada em conjuntos de estrofes de seis ou sete versos) despertou a curiosidade dos alunos sobre o assunto. Na verdade, a manipulação de diferentes versões literárias do material textual a ser lido facilitou a compreensão dos alunos sobre todas as peças de Shakespeare atribuídas para o semestre, o que inevitavelmente contribuiu para o aumento da motivação dos alunos e o desenvolvimento de suas habilidades de leitura com o tempo. A terceira estratégia dizia respeito ao uso de recursos digitais como meio de disponibilizar aos alunos todo o material didático necessário e como forma de envio antecipado de orientações de cada aula. Embora o uso de pastas digitais (ou seja, por meio da Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 3 http://pos.estacio.webaula.com.br/cursos/MLC022/aula8/img/03.z.jpg computação em nuvem) concedesse aos alunos acesso às versões literárias dos materiais que eles precisariam explorar semanalmente, preparar diretrizes e compartilhá-las com os alunos com antecedência deu-lhes um senso de responsabilidade, a oportunidade de desenvolver seu senso de autonomia e uma compreensão clara dos objetivos de cada aula. Além disso, como as diretrizes funcionaram como uma estrutura para leitura e reflexão, as discussões sobre elementos culturais, históricos, filosóficos, sociais e literários tornaram-se uma prática comum em todas as aulas, o que ajudou e preparou o desempenho dos alunos para todas as tarefas atribuídas no semestre. A quarta e última estratégia – atrelada aos critérios de avaliação, apontou algumas questões desafiadoras: a) Como podemos usar as três avaliações obrigatórias para avaliar com eficácia os resultados de aprendizagem dos alunos (ou seja, como os professores podem ter uma visualização concreta de quanto os alunos aprenderam)? b) De que maneiras as discussões frequentes em sala de aula podem ser usadas para desenvolver a retórica dos alunos ao falar e escrever? c) Em que medida podemos garantir aos alunos a leitura integral de todo texto canônico, bem como sua adaptação a um gênero específico? d) Como podemos desenvolver as habilidades interpessoais dos alunos de tal forma que o trabalho colaborativo se torne uma prática comum? A solução para o atendimento satisfatório das quatro questões exigiu uma reformulação do tipo de avaliação a ser empregada. Nesse sentido, três novos formatos de teste foram incluídos na disciplina: 1. Ensaios colaborativos Com base no conjunto de materiais de leitura proposto para o semestre, os alunos teriam que escrever um ensaio em grupo. Isso significava que cada membro do grupo já teria lido os materiais e precisaria trabalhar em colaboração com seus pares na preparação de um texto acadêmico em 10 semanas. 2. Apresentação de seminário Organizados em grupos, os alunos apresentariam uma seleção de peças de Shakespeare todas as semanas. No entanto, as orientações sobre como a apresentação deveria ser organizada, o sistema de notas, bem como os critérios de classificação seriam previamente compartilhados e exemplificados pelo professor semanas antes da apresentação da primeira turma. 3. Prova escrita Sistematizada em questões objetivas e discursivas, esta última avaliação só seria realizada no final do semestre, o que significava que os alunos já teriam entregado seus ensaios colaborativos e já teriam apresentado suas visões sobre as peças shakespearianas. Uma breve visão sobre os novos elementos do plano de estudos reformulado é a que segue: Contextualização – a Literatura Britânica I dialoga com produções orais e escritas no Curso de Letras e é de fundamental importância para o estudo e compreensão dos conteúdos presentes nas disciplinas de Literatura Britânica II e Literatura Norte- Estratégia 4 Os novos elementos do plano de estudos americana. Nesse sentido, a Literatura Britânica desenvolve as habilidades orais, retóricas, interpessoais e escritas dos alunos, bem como a competência em letramento e capacidade de refletir e analisar textos a partir dos prismas interculturais, históricos, filosóficos, sociais, canônicos e literários. Consequentemente, o aluno amplia seu conhecimento da palavra letramento contemporâneo e antigo, bem como sua visão crítica de forma global/ intercultural. Objetivos – Compreender como a formação social e política da Bretanha e as sucessivas invasões contribuíram para a formação da língua e da literatura inglesas; 2. Explicar a importância da narrativa oral e suas conexões estreitas com a literatura anglo-saxônica, especialmente quando se trata de seus contos populares - The Seafarer & The Wanderer, e seu primeiro poema épico: Beowulf; 3. Discutir sobre os elementos sociais e históricos que deram origem a uma nova versão da Língua Inglesa – Inglês Arcaico, a partir da qual um conjunto de obras literárias foi baseado, especialmente os romances de cavalaria de Thomas Malory e os contos de Cantenbury de Geoffrey Chaucer, que abriram caminho para o surgimento das produções de William Shakespeares em inglês moderno; 4. Construir os conceitos básicos do drama inglês, suas adaptações a outros gêneros textuais (conto literário e literatura de cordel; 5. Discutir o conjunto de eventos históricos, sociais, filosóficos e culturais que influenciaram todas as fases do desenvolvimento da Literatura Britânica. Programa de curso – a formação social e política da Bretanha. A tensão entre as religiões pré-cristãs e o cristianismo. Os conceitos de honra e tradição na literatura inglesa. Literatura anglo-saxônica e literatura medieval. As lendas do Rei Arthur. O teatro elisabetano e as contribuições de William Shakespeare. As influências dos contos populares na literatura britânica e as adaptações das peças skakespearianas em contos literários e na literatura decordel brasileira. Critérios de avaliação: o processo de avaliação consistirá em três etapas – Avaliação 1 (AV1), Avaliação 2 (AV2) e Avaliação 3 (AV3). As avaliações serão realizadas da seguinte maneira: AV1. Ensaios colaborativos; AV2. Apresentação do seminário; AV3. Teste escrito. Para aprovação na matéria, os alunos devem: 1. Atingir resultado igual ou superior a 6,0, calculado a partir da média aritmética entre as notas das avaliações, considerando apenas as duas notas mais altas obtidas entre as três etapas da avaliação (AV1, AV2 e AV3). A média aritmética obtida será a nota final do aluno na disciplina; 2. Obter nota 4,0 ou superior em pelo menos duas das três avaliações; 3. Assistir a pelo menos 75% das discussões da classe ao longo do curso durante o semestre. Como foi delineado no parágrafo anterior, todas as adaptações foram incluídas na nova versão do plano de estudos do curso, que foram destacadas em amarelo para que uma comparação entre os documentos anteriores e os novos seja visível. Como resultado positivo das mudanças implementadas, o seguinte depoimento comenta sobre o senso de realização de uma aluna depois de terminar o curso de Literatura Britânica I: Minha experiência com nossas aulas de Literatura Britânica foi melhor do que eu esperava. Isso não significa que foi fácil, mas certamente gratificante. A forma como as aulas foram ministradas foi direto ao ponto e exigiu que os alunos fossem preparados antes das aulas, confrontando muitas técnicas de estudo diferentes. Minha leitura favorita foi The Canterbury Tales, que foi lida durante nossas palestras sobre o inglês médio. Mas a atividade mais apreciada foi a possibilidade de comparar diferentes versões da obra de Shakespeare em diferentes contextos históricos e sociais . Agora me sinto muito mais confiante e preparada para enfrentar níveis mais elevados de estudo e pesquisa devido ao fato de que realmente aprendi o que significa estudo eficaz (Isabela de Paula [UNESA – Nova América Campus, RJ, Brasil]). As mudanças no plano Figura 8.4 - Satisfação Fonte: 123RF (2021). Exercícios de fixação I - Leia a lista de itens a seguir: i. É necessário explicar as razões pelas quais coisas específicas estão sendo ensinadas. ii. A instrução deve ser orientada para a tarefa em vez de promover a memorização. iii. A instrução deve levar em consideração a ampla gama de diferentes experiências dos alunos. iv. Visto que os adultos são autodirigidos, a instrução deve permitir que os alunos descubram coisas e conheçam por si próprios, sem depender das pessoas. Os elementos citados referem-se a uma perspectiva importante da educação. Qual? a) Pedagogia. b) Psicologia. c) Interculturalismo. d) Teoria da atividade. e) Andragogia. II) Leia o texto: “Alunos desempenhando papéis atribuídos pelo instrutor, improvisando o roteiro, em uma situação social ou interpessoal realista e problemática”. O texto define uma técnica de ensino específica. Qual? a) Palestra. b) Dramatização. c) Feedback dos colegas do aluno. d) Técnica de avaliação em sala de aula. e) Método de caso. III) Leia o texto a seguir: http://pos.estacio.webaula.com.br/cursos/MLC022/aula8/img/04.z.jpg Nesta aula: “Este é o projeto que a maioria das universidades tem seguido. Os programas de estudo são divididos em unidades e tópicos baseados em conceitos importantes e cada tópico será estruturado de uma maneira racional. ” O texto define uma abordagem específica utilizada nas universidades. Qual? a) Abordagem de relevância pessoal. b) Abordagem cognitiva. c) Abordagem de desempenho. d) Abordagem tradicional. e) Abordagem da teoria da atividade. IV) Leia o texto a seguir: “A capacidade de se comunicar e se comportar de maneira apropriada com aqueles que são culturalmente diferentes e de co-criar espaços compartilhados, equipes e organizações que sejam inclusivas, eficazes, inovadoras e satisfatórias”. O texto refere-se a uma definição importante. Qual? a) Competência oral. b) Competência cognitiva. c) Competência intercultural. d) Competência comunicativa. e) Competência de desempenho. V) Leia o texto: “O objetivo desse tipo de avaliação é verificar a aprendizagem do aluno ao final de uma unidade instrucional, comparando-a com algum padrão ou benchmark. Esses tipos de avaliações geralmente estão relacionados ao valor de ponto alto. ” O texto envolve a definição de um importante tipo de avaliação. Qual? a) Avaliação somativa. b) Avaliação formativa. c) Pesquisas online. d) Feedback construtivo. e) Correção de pares. Síntese Discutir sobre a importância do planejamento do projeto do programa do curso para inovar os cursos tradicionais de ensino superior. Compreender a reformulação dos critérios de avaliação com vista a promover os resultados de aprendizagem dos alunos. Refletir sobre uma série de estratégias utilizadas para promover a autonomia dos alunos, bem como seu desenvolvimento acadêmico e profissional. ARTESE, C. Shakespeare and the Folktale: An Anthology of Stories. Princeton University Press, 2019. ABRAHAMS.; et al. 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