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Julia Franco Fernandes - 3˚ PERÍODO MEDICINA - 2022.1 Endocardite infecciosa (EI) é a infecção microbiana do revestimento endotelial do coração. É uma infecção grave que necessita de diagnóstico e intervenção rápida. A doença caracterizase por colonização ou invasão de um agente microbiano nas valvas cardíacas e no endocárdio mural, resultando na formação de vegetações volumosas e friáveis, assim como na destruição dos tecidos cardíacos subjacentes. A vegetação pode estar localizada em qualquer sítio do endotélio, mas freqüentemente ocorre nas superfícies endoteliais das válvulas cardíacas e próteses valvares. O nome “ENDO” já nos remete ser uma infecção (geralmente bacteriana) do lado interior do coração, onde um agente microbiano prolifera nas valvas cardíacas e do endocárdio, o que leva a destruição de tecidos cardíacos. Sendo, que a maioria das endocardites, afetam as valvas cardíacas que já estão lesadas possivelmente de uma doença reumática. A EI se classifica em duas formas, a aguda e a subaguda crônica, dependendo do início, da etiologia e da gravidade da doença. Em geral, o início dos casos agudos é rápido e isto ocorre nos pacientes com valvas cardíacas normais, que podem ser saudáveis e talvez apresentar história de uso de substâncias psicoativas intravenosas, ou podem estar debilitados. Os casos subagudos-crônicos evoluem ao longo de alguns meses e, em geral, os pacientes têm valvas cardíacas anormais. O desenvolvimento de cepas de microrganismos resistentes em razão do uso indiscriminado de antibióticos e o aumento da população de pacientes imunossuprimidos tem dificultado a classificação da EI em casos agudos e subagudoscrônicos. - ENDORCARDITE CRÔNICA AGUDA - Infecção destrutiva e turbulenta causada com frequência por agentes com alta virulência e ataca uma valva previamente normal. - ENDORCARDITE SUBAGUDA CRÔNICA - Infecção causada por microrganismos de baixa virulência que atacam o coração previamente. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE A endocardite infecciosa pode se desenvolver em valvas previamente normais, porém as anomalias cardíacas predispõem o paciente a esse tipo de infecção; a cardiopatia reumática, o prolapso da valva atrioventricular esquerda, as valvas aórticas bicúspides e a estenose valvar calcificada são substratos comuns. Atualmente, as próteses valvares cardíacas são responsáveis por 10-20% de todos os casos de endocardite infecciosa. Depósitos estéreis de fibrina e plaquetas que se acumulam nos marca-passos, nos cateteres vasculares de demora ou nos locais do endocárdio onde jatos de sangue provocados por cardiopatias preexistentes se chocam podem ser foco de semeadura bacteriana e de desenvolvimento subsequente de endocardite. Fatores do hospedeiro, como neutropenia, imunodeficiência, tumor maligno, diabetes melito e abuso de álcool ou de drogas intravenosas, também aumentam o risco de endocardite infecciosa e afetam de modo negativo os desfechos. Recentemente, as infecções estafilocócicas tornaram-se a causa mais comum de EI, seguidas de estreptococos e enterococos. Outros agentes etiológicos fazem parte do chamado grupo HACEK ( e s p é c i e s H a e m o p h i l u s , A c t i n o b a c i l l u s actinomycetemcomitans, Cardiobacterium hominis, Eikenella corrodens e Kingella kingae), bastonetes gramnegativos e fungos. Os agentes etiológicos diferem até certo ponto nos principais grupos de risco elevado. Por exemplo, Staphylococcus aureus é o agente patogênico principal entre os usuários de substâncias intravenosas, enquanto a EI de valvas cardíacas artificiais tende a ser causada por estafilococos coagulasepositivos. Além disso, o S. epidermidis foi associado às infecções de dispositivos implantáveis e às infecções adquiridas nos serviços de saúde. A disseminação dos microrganismos na corrente sanguínea é o fator principal que resulta no desenvolvimento da EI. A porta de acesso à corrente sanguínea pode ser uma infecção evidente, um procedimento dentário ou cirúrgico que cause bacteriemia transitória, APG 10 Endocardite Infecciosa Julia Franco Fernandes - 3˚ PERÍODO MEDICINA - 2022.1 injeção de uma substância contaminada diretamente no sangue por usuários de substâncias intravenosas, ou uma fonte oculta na cavidade oral ou no intestino. Lesão endotelial, bacteriemia e disfunção hemodinâmica podem promover a formação de um trombo de fibrinaplaquetas sobre o revestimento endotelial. O trombo está sujeito à implantação de bactérias durante a bacteriemia transitória, causando ativação dos monócitos, bem como formação de citocinas e fatores tissulares, resultando na proliferação progressiva das vegetações valvares infectadas. Os microrganismos causadores diferem de acordo com os fatores de risco subjacentes. Cerca de 50-60% dos casos de endocardite que afeta valvas lesadas ou deformadas são causados pelo Streptococcus viridans, um grupo relativamente comum da flora oral normal. Por outro lado, o S. aureus, mais virulento (e comum na pele), pode atacar valvas deformadas e também valvas saudáveis e é responsável por 10-20% de todos os casos; ele também é o principal vilão das infecções que acometem os indivíduos que abusam de drogas intravenosas. Os outros agentes bacterianos envolvidos são os enterococos e os microrganismos do grupo denominado HACEK (Haemophilus, Actinobacillus, Cardiobacterium, Eikenella e Kingella), todos comensais da cavidade oral. Em casos raros, bacilos Gram-negativos e fungos estão envolvidos. Em cerca de 10% de todos os casos de endocardite, nenhum microrganismo é isolado do sangue (endocardite com cultura negativa) como consequência de antibioticoterapia prévia, dificuldades no isolamento do agente infeccioso ou porque os microrganismos profundamente entranhados nas vegetações em crescimento não são liberados para a corrente sanguínea. Com as formas aguda e subagudacrônica de EI, formam-se lesões vegetativas friáveis, volumosas e potencialmente destrutivas nas valvas cardíacas. As valvas mitral e aórtica são afetadas mais comumente pela infecção, embora o coração direito também possa ser envolvido, especialmente nos usuários de substâncias intravenosas. Essas lesões vegetativas consistem em uma coleção de microrganismos e restos celulares entremeados em faixas de fibrina do sangue coagulado. As lesões podem ser únicas ou múltiplas, podem crescer até alcançar vários centímetros e geralmente estão frouxamente aderidas às bordas livres da superfície valvar. Os focos infecciosos liberam continuamente bactérias na corrente sanguínea e são uma fonte de bacteriemia persistente. À medida que as lesões crescem, elas causam destruição da valva e provocam regurgitação valvar, abscessos do anel valvar com bloqueio cardíaco, pericardite, aneurisma e perfuração da valva. As lesões vegetativas intracardíacas também causam efeitos locais e sistêmicos a distância.A organização frouxa dessas lesões torna possível que microrganismos e fragmentos das lesões formem êmbolos, que são levados na corrente sanguínea e causam embolia cerebral, pulmonar ou sistêmica. Os fragmentos podem alojarse nos vasos sanguíneos diminutos, causando hemorragias demarcadas, abscessos e infartos dos tecidos. Além disso, a bacteriemia pode desencadear reações imunes que parecem ser responsáveis pelas manifestações cutâneas, poliartrite, glomerulonefrite e outros distúrbios imunes. À frente dos fatores que predispõem à endocardite está a semeadura do sangue com micróbios. O mecanismo ou a porta de entrada do agente na corrente sanguínea pode ser uma infecção manifesta em qualquer local, um procedimento dentário ou cirúrgico que causa bacteremia transitória, a injeção de material contaminado diretamente na corrente sanguínea por usuários de drogas intravenosas ou uma fonte oculta localizada no intestino, na cavidade oral ou mesmo lesões sem importância. O reconhecimento dos substratos anatômicos predisponentese das condições clínicas que causam bacteremia permite que se faça a profilaxia antibiótica apropriada. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Em mais de 80% dos casos, o período de incubação até o início dos sintomas é de cerca de 2 semanas ou menos. Entretanto, quando a infecção é causada por Candida, o período de incubação pode chegar até 5 meses. Os sinais e sintomas iniciais da EI podem ser febre e sinais de infecção sistêmica, alterações das características de um sopro cardíaco preexistente e indícios de disseminação embólica das lesões vegetativas. Com a forma aguda de EI, a febre geralmente ocorre em picos e causa calafrios. Com a forma subaguda, a febre comumente é baixa, tem início gradativo e frequentemente está acompanhada de outros sinais sistêmicos de infecção, inclusive crescimento do baço, anorexia, malestar e letargia. Hemorragias petequiais diminutas formamse frequentemente quando êmbolos alojamse nos vasos finos da pele, nos leitos ungueais e nas mucosas. Hemorragias lineares sob Julia Franco Fernandes - 3˚ PERÍODO MEDICINA - 2022.1 as unhas dos dedos das mãos e dos pés são comuns. Tosse, dispneia, artralgia ou artrite, diarreia e dor no abdome ou no flanco podem ser causados por êmbolos sistêmicos. Alguns pacientes podem desenvolver insuficiência cardíaca congestiva secundária à destruição valvar, à embolia das artérias coronárias ou à miocardite. Insuficiência renal também pode ocorrer em consequência da destruição dos tecidos valvares ou dos efeitos tóxicos dos antibióticos. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS A febre é o sinal mais constante da endocardite infecciosa. Contudo, na doença subaguda (sobretudo nos idosos), a febre pode estar ausente, e as ú n i c a s m a n i f e s t a ç õ e s p o d e m s e r f a d i g a inespecífica, perda de peso e uma síndrome semelhante à gripe; a esplenomegalia também é comum nos casos subagudos. Por outro lado, a endocardite aguda com frequência tem início violento que inclui febre de desenvolvimento rápido, calafrios, fraqueza e cansaço. Os sopros estão presentes em 90% dos pacientes com lesões no lado esquerdo do coração; os microêmbolos podem dar origem a petéquias, hemorragias no leito ungueal, hemorragias retinianas (manchas de Roth), lesões eritematosas indolores na palma das mãos ou na sola dos pés (lesões de Janeway) ou nódulos doloridos nas pontas dos dedos (nódulos de Osler); o diagnóstico é confirmado por culturas de sangue positivas e pelos achados ecocardiográficos. O prognóstico depende do microrganismo infeccioso e do desenvolvimento ou não de complicações. As complicações geralmente surgem nas primeiras semanas após o início do pro- cesso infeccioso e podem incluir a glomerulonefrite causada pelo aprisionamento glomerular de complexos antígeno- anticorpo que pode provocar hematúria, albuminúria ou insuficiência renal. A presença de quadro séptico, arritmias (que sugerem a invasão do miocárdio subjacente) e êmbolos sistêmicos indica mau prognóstico. Sem tratamento, a endocardite infecciosa geralmente é fatal. Contudo, com antibioticoterapia de longa duração (seis semanas ou mais) apropriada e/ou substituição valvar, a mortalidade é reduzida. A taxa de cura das infecções por microrganismos de baixa virulência (Streptococcus viridans ou Streptococcus bovis) é de 98%, e as taxas de cura das infecções por enterococos e Staphylococcus aureus variam de 60-90%; contudo, metade dos pacientes com infecção causada por bacilos aeróbicos Gram-negativos ou fungos acaba sucumbindo. A taxa de cura da endocardite que afeta as próteses valvares é 10-15% inferior em todos os casos. Lesões de JANEWAY HEMORRAGIAS SUBUNGUEAIS (SPLINTER) MANCHAS DE ROTH PETÉQUIAS Julia Franco Fernandes - 3˚ PERÍODO MEDICINA - 2022.1 FATORES DE RISCO Os principais fatores que interferem e aumentam a chance do surgimento da Endocardite Infecciosa estão associados com alterações de fluxo sanguíneo pela valva, alterações valvares morfológicas, manipulação cirúrgica, uso de dispositivos invasivos, tais como cateteres e pressão arterial invasiva, e condições imunossupressoras. Principais fatores de risco: - Valvopatias (doença reumática, alterações d e g e n e r a t i v a s , p r o l a p s o m i t r a l c o m i n s u f i c i ê n c i a v a l v a r e e s p e s s a m e n t o significativo do folheto). - Prótese valvar. - Shunts ou condutos sistêmico-pulmonares. - Passado de endocardite. - Cardiopatia congênita cianótica. - Uso de drogas intravenosas. - Uso de dispositivos implantados (marcapasso, cardiodesfibrilador, cateter venoso central). - Imunossupressão, diabetes mellitus.
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