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TEORIA GERAL DO PROCESSO PENAL Gabriel Bonesi Ferreira Fundamentos do processo penal Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever a origem do processo penal brasileiro. � Identificar a natureza jurídica das normas processuais nacionais. � Definir os sistemas processuais penais. Introdução O Direito Processual Penal decorre de uma longa evolução histórica que acompanha a evolução das penas. Trata-se de um sistema em constante modificação e atualização, tal qual as penas que são impostas aos con- denados. Os fundamentos e as fontes do Direito Processual Penal são variados e é possível ver, historicamente, as incorporações e mudanças dessas fontes e fundamentos, que acabam por impactar diretamente os procedimentos processuais penais. A identificação dos fundamentos do processo penal é importante para compreender o próprio procedimento e a origem do Direito Pro- cessual Penal brasileiro, inclusive, para reconhecer as suas alterações e as possíveis necessidades de alterações, com vistas a deixá-lo o mais democrático possível e alinhado com os preceitos da Constituição Federal. Tal compreensão exige também o estudo da natureza jurídica das normas processuais e as influências dos diferentes sistemas penais históricos na construção do Direito Processual Penal brasileiro. Neste capítulo, você vai estudar o processo penal brasileiro, suas ori- gens e evolução histórica. Vai ver também a natureza jurídica das normas processuais brasileiras e os sistemas processuais penais. 1 Origem do processo penal brasileiro Os sistemas penais mundiais passaram por grandes mudanças históricas ao longo dos tempos. A mudança das penas está intimamente ligada à origem e às mudanças de normas processuais penais que objetivam alcançar a pena e, consequentemente, criam “[...] um caminho que condiciona o exercício do poder de penar (essência do poder punitivo) à estrita observância de uma série de regras que compõe o devido processo penal” (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 35). Desse modo, estabelecer normas de processo penal é também transformar o processo de aplicação da pena o mais justo possível, no qual o acusado deve conhecer todas as normas procedimentais para garantir a sua defesa, bem como os procedimentos que serão adotados para a aplicação da pena ou não. O que, obviamente, não significa que o processo penal sempre irá garantir uma condenação justa, até porque ele pode estar atrelado a sistemas penais falhos que acabam contaminando o devido processo penal, ou mesmo estar baseado em normas materiais penais desalinhadas a princípios fundamentais de direitos humanos. A evolução e o desenvolvimento do processo penal estão intimamente ligados à evolução da pena. Lopes Júnior (2019) aponta que a evolução da pena tem seu início como uma reação coletiva contra um membro que transgride a ordem e a ética social vigentes. É evidente que mesmo as sociedades mais antigas ou os grupos sociais afastados atuais possuem normas de caráter ético e uma organização social com práticas e regras de convivência que ditam e estabelecem padrões de comportamento socialmente aceitos. Segundo Lopes Júnior (2019), a primeira forma de pena tem origem em preceitos religiosos que vão se transformando em atos civis. A primeira forma de pena, por exemplo, é a vingança coletiva, que não pode ser considerada uma pena propriamente dita, mas sim um modo de reação a um comportamento ou ato não aceito pela sociedade. “A vingança implica liberdade, força e disposições individuais; a pena, a existência de um poder organizado” (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 35). Assim, apesar de a vingança e de a pena serem distintas, é possível ve- rificar que codificações antigas como a do conhecido Código de Hamurábi, ou mesmo o Pentateuco, trazem disposições ligadas à Lei de Talião, a qual estabelece a imposição de pena idêntica ao crime praticado, popularmente conhecida pela expressão “olho por olho, dente por dente”. Penas como essas, apesar de poderem ser aplicadas por um poder centralizado, expressam uma ideia de justiça muito atrelada à vingança, no sentido de o infrator sofrer o mesmo mal de sua vítima. Fundamentos do processo penal2 O processo penal, por estar ligado à própria evolução da pena, adquire suas características mais marcantes quando a pena assume caráter de pena pública; isto é, imposta por um Estado em detrimento da atuação familiar ou coletiva, baseada na vingança coletiva por laços de sangue ou composição (LOPES JÚNIOR, 2019). Característica esta que vem atrelada à aplicação da pena imposta por Juiz imparcial e de poderes juridicamente limitados, expressão da autoridade, poder e soberania de um Estado perante aqueles que estão submetidos à sua jurisdição. Por essa razão, conclui Lopes Júnior (2019, p. 36) que “[...] a titularidade do direito de penar por parte do Estado surge no momento em que se suprime a vingança privada e se implantam critérios de justiça”. Em conjunto a essa mudança desenvolve-se também o Direito Processual Penal como ferramenta e meio para a aplicação da pena, de modo que sejam garantidos os critérios de justiça das normas penais. Nesse contexto, Lopes Júnior (2019) destaca o princípio da necessidade do processo penal como um instrumento necessário à aplicação da pena. Como ressalta, este princípio demonstra a necessidade de separação do processo civil do processo penal. Enquanto o Direito Material Civil ocorre e se realiza diariamente, e o processo civil somente é utilizado quando há uma lide, um conflito que é levado à solução pelo Estado, o Direito Penal não é capaz de se realizar sem o processo penal. Dito de outro modo, o Direito Civil se realiza e possui aplicação imediata nos diversos atos e negócios jurídicos que ocorrem na sociedade, mesmo sem a necessidade de uma lide e de um processo judicial, enquanto o Direito Penal e a pena somente se concretizam e se realizam com a sua aplicação por meio do processo penal. O princípio da necessidade, como o nome indica, é o princípio que expressa a ideia de necessidade do processo penal para a materialização e aplicação da pena e do próprio Direito Penal, ou seja, não há aplicação de pena ou do Direito Penal sem a existência de um processo penal. Desse modo, o processo penal é considerado necessário e imprescindível à aplicação da pena. Outro aspecto do princípio da necessidade é o fato de que o processo penal somente existe para se determinar o delito e impor a pena. Portanto, “[...] não existe delito sem pena, nem pena sem delito e processo, nem processo penal senão para determinar o delito e impor a pena” (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 37). Também nesse sentido, é possível afirmar que a punição ou a pena por um ato considerado um delito deixa de ser punido diretamente pela vingança, o Estado passa a ser o detentor exclusivo do direito de punir. Relega-se, por- tanto, somente ao Estado o Poder de exigir o cumprimento de uma sanção àquele que cometeu um delito. Por isso, Lima (2020) conclui que o Direito 3Fundamentos do processo penal Penal ou a pretensão punitiva não é aplicada imediatamente, sem a observân- cia de um processo penal, pois a coação e a sanção penal não são direitos de aplicação imediata pelo Estado, de modo que o processo penal “[...] funciona como o instrumento do qual se vale o Estado para a imposição de sanção penal ao possível autor do fato delituoso” (LIMA, 2020, p. 39). Assim sendo, é possível definir o Direito Processual Penal como: “[...] o corpo de normas jurídicas cuja finalidade é regular a persecução penal do Estado, através de seus órgãos constituídos, para que se possa aplicar a norma penal, realizando-se a pretensão punitiva no caso concreto” (NUCCI, 2016, p. 51). A doutrina aponta também que o processo penal é o meio de aplicação da pena e da sanção penal, mas que esse não é o seu único objetivo, destacando o não menos importante objetivo do Direito Penal que é o cumprimento das regrase garantias constitucionais (LOPES JÚNIOR, 2019; LIMA, 2020; NUCCI, 2016). A aplicação do Direito Penal pressupõe o jogo com diversos direitos e liberdades. No Direito brasileiro, a aplicação de penas é progressiva, de acordo com a gravidade do delito e do direito ofendido, com vistas a coibir e dar resposta a ofensa a esses direitos. Assim, a concepção da sanção penal obje- tiva a repreensão ao delito de modo amplo, dando, de acordo com a ideia de justiça, a punição adequada àquele que comete delito, além de dar resposta a anseios sociais, demonstrando a capacidade do Estado de manter a ordem social, evitando a ofensa a direitos relevantes. Para cumprir o papel punitivo, no entanto, o Estado deve fazer isso respei- tando as normas e garantias constitucionais. Desse modo, o processo penal deve representar também um conjunto de normas que preservem as garantias e os direitos fundamentais frente ao Estado. Dentro da lógica do processo penal existem, portanto, duplo aspecto e objetivos das normas processuais: de um lado, a aplicação da pena e a materialização do monopólio punitivo do Estado sobre aqueles que cometem delito, e de outro, a garantia de normas constitucionais com vistas a garantir a supremacia do Estado Democrático de Direito e a proteção dos indivíduos contra atos e sanções autoritárias, presentes ao longo de toda a história brasileira. Lopes Júnior (2019) ressalta que a aplicação do princípio da necessidade tem sido mitigada em diversas circunstâncias com a ampliação da justiça negocial. Fundamentos do processo penal4 Pelo princípio da necessidade, estabelece-se que a aplicação de uma pena exija o curso do devido processo legal que culmina com a decisão condenatória transitada em julgado. Aponta que esse movimento começou com a Lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/95) (BRASIL, 1995) que criou o instituto da transação penal para os chamados “crimes de menor potencial ofensivo”; ou seja, antes do início da ação penal, o Ministério Público (MP) oferece ao suposto infrator a proposta de cumprimento de uma pena não privativa de liberdade, que pode, caso aceita pelo suposto ofensor, não importar em admissão de culpa e o livrar de uma ação e condenação penal. Desse modo, trata-se de uma solução “acordada” na qual o suposto ofensor não chega a integrar um processo criminal, cumprindo como “contraprestação” alguma medida alternativa, como a prestação de serviços à comunidade, a doação de algum valor a instituições que prestam serviços à comunidade, entre outras. Lopes Júnior (2019) cita também o instituto, não pouco controverso, da delação premiada, em especial do que trata a Lei nº 12.850/2013 (BRASIL, 2013), na qual o “colaborador” assume a culpa por determinados crimes e colabora com as investigações em curso em prol de benefícios como o perdão judicial, redução da pena ou substituição da pena. Nesse cenário, é essencial observar que as normas processuais penais estão em constante alteração, seja em razão da modificação das penas, seja devido a sua aplicação de acordo com novas leis, constituições e institutos que vão sendo criados ao longo da história. A legislação processual penal acompanha também as modificações das ideias de justiça adotadas pelos povos, sendo possível afirmar, ainda que de maneira genérica, que serve em geral para a aplicação de pena, seja pelo modo tradicional por meio do curso do devido processo penal, seja pelas novas formas “negociais” de aplicação de penas. Mudanças de normas materiais e processuais exigem constantes revisões, visto que nem sempre legislações aprovadas mostram-se eficientes ou mesmo se prestam a atingir os devidos objetivos e anseios sociais. 5Fundamentos do processo penal No Brasil, o primeiro Código de Processo Penal foi promulgado em 1832 (BRASIL, 1832). Antes disso, as normas e leis aplicáveis no país eram normas editadas por Portugal, já que o Brasil se tornou independente somente em 1822. Eram as leis portuguesas, então, as aplicáveis até a promulgação de novas leis no Brasil. Após o Código de Processo Penal de 1832, foram ainda promulgadas outras legislações e códigos processuais que tratavam do processo penal, até culminarem com a promulgação do atual Código de Processo Penal, por meio do Decreto-Lei nº. 3.689, de 03 de outubro de 1941, vigente até hoje. A vigência do Código de Processo Penal, desde 1941, não significa que seja o mesmo, pois já passou por diversas mudanças, além de ser lido e interpretado com base na Constituição da República (BRASIL, 1988). 2 Natureza jurídica das normas processuais penais Quando se fala de natureza jurídica, objetiva-se explicitar a essência de um instituto jurídico. Tratar da natureza jurídica do processo penal “[...] trata-se de abordar a determinação dos vínculos que unem os sujeitos (Juiz, acusador e réu), bem como a natureza jurídica de tais vínculos e da estrutura como um todo” (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 38). Lopes Júnior (2016) expõe que a concepção e passagem da esfera penal para a pena pública, em contraposição à vingança privada, foi decisiva para a discussão sobre a natureza jurídica das normas processuais penais. Segundo o doutrinador, mesmo que tenham sido formuladas diversas teorias sobre o tema, as três de maior aceitação e principais ainda são as seguintes: processo como relação jurídica (Bülow); processo como situação jurídica (Goldschmidt) e processo como procedimento em contraditório (Fazzalari), que serão analisadas a seguir. Para o estudo dessas correntes, serão tomadas como referência as obras: Direito Processual Penal e Fundamentos do processo penal, ambas de Aury Lopes Júnior (2019; 2016). Processo como relação jurídica — Bülow Compreender o processo penal como uma relação jurídica mudou radicalmente a concepção sobre o processo, afastando explicações privativistas sobre o processo (LOPES JÚNIOR, 2019). Um dos grandes avanços reconhecidos é a separação entre Direito Material e Direito Processual, enfatizando a inde- pendência das relações jurídicas nesses dois âmbitos (LOPES JÚNIOR, 2019). Fundamentos do processo penal6 O centro da tese de Bülow é pensar o processo como uma relação jurídica que se estabelece entre as partes e o Juiz, relação que é fonte de direitos e obrigações processuais recíprocas. Essa relação jurídica é de natureza pública, porque o vínculo ou a relação entre as partes e um órgão público da admi- nistração da justiça (Judiciário) decorre do exercício de uma atividade que é essencialmente pública (LOPES JÚNIOR, 2016); isto é, decorre da prestação judiciária que é pública e parte do Estado. Com isso, separa-se a relação jurídica processual da relação jurídica de Direito Material, em resumo, “[...] o processo é uma relação jurídica de direito público, autônoma e independente da relação jurídica de direito material” (LOPES JÚNIOR, 2016, p. 99). Nessa relação, as partes do processo, sujeito ativo e passivo, assim como o Juiz, são vistos como sujeitos autônomos que existem na relação processual como sujeitos de direitos e obrigações recíprocos. Aqui, a reciprocidade é entre todos: sujeito ativo e sujeito passivo; sujeito ativo e Juiz; sujeito passivo e Juiz. Tal concepção tem uma consequência jurídica importante, no sentido de que o acusado, o sujeito passivo em um processo penal, deixa de ser concebido como objeto do processo, sobre o qual se incidem os atos processuais para ser considerado um sujeito possuidor de Direitos e obrigações, capaz de estabelecer uma dupla via de relação com o Juiz e com a outra parte, inclusive, exigindo do Juiz a prestação jurisdicional de acordo com a lei (LOPES JÚNIOR, 2016). Com essa tese, foi possível enfatizar a separação entre o Direito Material e o Direito Processual, permitindo pensar o Direito Material separado da “ação”, do processo judicial. Desse modo, se são pensadas condições para o exercício de um direito (material), ou seja, se a situação fática se enquadra ao que está prescrito em lei, é possível tambémconsiderar a existência de pressupostos processuais necessários para a validade e a existência do processo, gerando, entre outros efeitos, o desenvolvimento de teorias sobre nulidades processuais de modo mais adequado (LOPES JÚNIOR, 2016). Essa teoria foi adotada de modo bastante contundente por boa parte da doutrina, apresentando alguns desdobramentos. Entretanto, sofreu também diversas críticas. Processo como situação jurídica — Goldschmidt Lopes Jr. (2016) assevera que a teoria de Goldschmidt superou de modo con- tundente a teoria de Bülow ao considerar que o processo é uma situação e não uma relação jurídica. Segundo apresenta, um dos maiores equívocos é considerar o processo como uma efetiva relação jurídica entre as partes e o Juiz (LOPES JÚNIOR, 2016). 7Fundamentos do processo penal De acordo com essa concepção, o processo é tido como “[...] um conjunto de situações jurídicas processuais pelas quais as partes atravessam, caminham, em direção a uma sentença favorável” (LOPES JÚNIOR, 2016, p. 198). Por isso, não há direitos e obrigações processuais recíprocos, mas situações processuais, de modo que também os pressupostos processuais de Bülow são considerados pressupostos de uma sentença de fundo, isto é, são considerados pressupostos de uma decisão sobre o mérito do processo (LOPES JÚNIOR, 2016). Ao se conceber o processo como uma situação jurídica, permite pensá- -lo como uma complexa situação jurídica em movimento que dá origem a expectativas, perspectivas, cargas e liberação de cargas (LOPES JÚNIOR, 2016). Sobre esses conceitos, Lopes Júnior (2016) explica: A expectativa de uma sentença favorável depende da realização de um ato processual, o aproveitamento de uma chance, por uma das partes (liberação de cargas) que gera a expectativa de obter êxito de acordo com o esperado. Caso a parte deixe de aproveitar uma chance e não pratique o ato processual, ou seja, não libere uma carga, surge uma situação processual desvantajosa que dá a perspectiva de uma sentença desfavorável. Essa perspectiva sempre vai depender da não realização de um ato processual que imponha prejuízo à parte que não liberou a carga que lhe é atribuída (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). As possibilidades surgem a partir das chances que são situações proces- suais que permitem a execução de um ato processual. Frente a uma chance, a parte deve liberar uma carga processual, o que lhe permite aumentar a possibilidade ou expectativa de uma sentença favorável (LOPES JÚNIOR, 2016). A liberação da carga nada mais é do que a prática de um ato processual no momento em que pode ser liberada, de acordo com o ônus que cabe à parte. Desse modo, as partes não estão incumbidas de obrigações processuais, mas de ônus processuais na liberação de cargas e, no processo penal, toda a carga de provar o alegado cabe ao acusador, não havendo distribuição de cargas probatórias, tanto em razão da primeira afirmação ser feita na peça acusatória quanto pela proteção do réu pela presunção de inocência (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). Como consequência, a carga é um conceito ligado à atribuição, e não à distribuição do ônus probatório (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). Assim, apesar de a acusação dever provar o que alega, à defesa também cabe a atribuição da produção de provas que lhe favoreçam. A Desse modo, mesmo que a sua inércia não possa prejudicá-la processualmente, ao deixar de realizar um ato, ou seja, ao deixar de liberar uma carga, assume os riscos pela perda da chance ao aumento da possibilidade de uma sentença condenatória (LOPES JÚNIOR, Fundamentos do processo penal8 2019; 2016). A liberação da carga pode ser uma ação, um agir positivo, como a produção de uma prova da prática de um ato, ou então um agir negativo, isto é, deixar de realizar algum ato processual que possa prejudicar a parte. Por essa corrente, fica evidenciada a incerteza do resultado do processo, que depende da liberação das cargas e aproveitamento de chances. O acolhi- mento dos argumentos da defesa ou da acusação irão depender desse caráter dinâmico de provas. A sentença pode ser justa ou injusta de acordo com a liberação de cargas, evidenciando demasiadamente o risco do resultado do processo (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). Processo como procedimento em contraditório — Fazzalari Para Lopes Júnior (2019) a concepção do processo como um procedimento em contraditório, apresentado por Fazzalari, pode ser considerado como uma continuidade da teoria de Goldschmidt, apesar de ser negado pelo próprio autor e por seus seguidores. Fazzalari também é crítico da concepção do processo como uma relação jurídica. O processo como procedimento em contraditório busca afirmar a impor- tância ao respeito às “regras do jogo”, ressaltando o valor do contraditório como um princípio essencial do processo (LOPES JÚNIOR, 2016). Nessa concepção, todo o procedimento do processo e até a sentença (provimento final) deve ser construído com base no contraditório, o que legitima a pres- tação jurisdicional. Assim, deve-se privilegiar e fortalecer o contraditório no processo, especialmente em relação ao acusado no processo penal (LOPES JÚNIOR, 2016). O contraditório deve observar duas dimensões, o direito à informação (conhecimento) e à efetiva e igualitária participação das partes, objetivando a igualdade de tratamento e oportunidades (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). Continuando nesse pensamento, deve ser dado e garantido o tratamento iguali- tário às partes, sendo ressaltada a importância da participação delas em todos os atos para dar-lhes legitimidade, o que reforça a importância das partes nos autos processuais e do próprio contraditório (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). É importante observar ainda que são ressaltados todos os atos do processo até o provimento final; isto é, todos os procedimentos que são tidos como inter-relacionados de tal modo que a validade dos atos subsequentes exige a validade dos atos anteriores e a validade da sentença pressupõe a validade de todos os atos anteriores a ela (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). 9Fundamentos do processo penal A tese de Fazzalari ressalta, desse modo, a unidade do processo, tendo em vista a ligação entre os atos processuais até o provimento final. Com base nisso, os atos posteriores podem ser anulados caso se evidencie a nulidade de algum ato anterior, havendo uma verdadeira relação de prejudicialidade de validade entre o ato processual anterior e posterior (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). Segundo Lopes Júnior, ocorre uma “revaloração da jurisdição na estrutura processual” (LOPES JÚNIOR, 2016), tendo em vista que o Juiz assume o papel de garantidor do contraditório, responsável por esta regularidade formal para dar legitimidade ao processo. Desse modo, a jurisdição é colocada em segundo plano, ressaltando o protagonismo das partes no processo e rechaçando o ativismo judicial ao colocar o Juiz como garantidor das regras do jogo e não contraditor ou inquisidor (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). 3 Sistemas processuais penais Historicamente, fala-se em sistemas processuais penais que definem e identi- ficam o tipo de processo penal. São eles: inquisitório; acusatório; misto. Hoje muitos autores defendem que não há sistemas processuais “puros” (LOPES JÚNIOR, 2016, 2019; NUCCI, 2016), sendo possível identificar elementos dos sistemas penais nos ordenamentos jurídicos. Sendo assim, é necessário o estudo de cada um. Sistema inquisitório Lopes Júnior (2016) destaca que o sistema inquisitório é, em essência, um modelo histórico. Até o século XII, segundo ele, quem predominava era o sistema acusatório, mas ao longo do século XII até o século XIV foi sendo substituído pelo sistema inquisitório. Este sistema, dotado pelo Direito Ca- nônico, propagou-se por toda a Europa (LIMA, 2020), tendo como principal referência paradigmática o Tribunal da Inquisição ou Santo Ofício, o qual acabou sendo modelo para o processo penal dos países europeus. Esse modelo, no entanto, foi sendo construído aos poucos, reunindoem uma única pessoa — Juiz inquisidor — os poderes de acusar, defender e julgar (LIMA, 2020). A concentração de funções na pessoa do Juiz inquisidor é a característica marcante desse sistema, que detém todos os poderes instrutórios, suprimindo completamente a possibilidade do direito ao contraditório ou qualquer ou- tro processo dialético (LOPES JÚNIOR, 2020). A imparcialidade, por isso, é certamente comprometida, pois ao julgador cabe todo o andamento processual Fundamentos do processo penal10 — fazer a colheita de provas, dar impulso ao processo penal, desencadear e abrir um processo criminal — independentemente de qualquer acusação ou ato do acusado. Desse modo, toda a gestão da prova é concentrada na pessoa do Juiz. A imparcialidade, em razão disso, fica evidente, primeiro pela ligação psicológica do Juiz à causa, por ser e dever ser o acusador, em segundo porque, como a gestão e a produção da prova ocorre por sua iniciativa, pode produzir a prova que quiser e acabar decidindo como quiser, ainda que pudesse haver provas contrárias às que supostamente produziu (LIMA, 2020). Construiu-se o sistema inquisitório sob proposta de descoberta da verdade real e absoluta por meio do processo inquisitório, sendo admitida ampla ati- vidade probatória em relação ao objeto do processo (LIMA, 2020). Contudo, o fato é que o sistema nasce corrompido, pois há evidentes erros de procedi- mentos e de figuras que não permitem sequer a oposição de defesa e produção de provas pelo acusado que poderiam absolvê-lo completamente do crime que lhe foi atribuído. Além disso, eram admitidas até mesmo confissões obtidas por torturas como meios de prova, e o processo era, em regra, escrito e sigi- loso (LIMA, 2020). A confissão era, inclusive, tida como a prova máxima, mesmo que obtida por meio de torturas. Aliás, o acusado poderia ser solto se considerado “suficientemente” torturado sem ter “confessado” o crime que lhe era atribuído (LOPES JÚNIOR, 2016). Destacamos aqui algumas características desse tipo de sistema. � Figura do Juiz inquisidor: a gestão e iniciativa da produção de provas é atribuída ao Juiz; não há divisão de funções, de modo que o Juiz concentra as funções de acusar, julgar e defender; há possibilidade de o Juiz atuar de ofício sem a prévia provocação; parcialidade do Juiz. � Inexistência de contraditório: privilégio das provas de acusação, produzidas pelo próprio Juiz, sem a garantia ao réu ao contraditório da acusação ou das provas produzidas. � Desigualdade de armas: não há igualdade entre a acusação e a defesa, privilegia-se a acusação em detrimento do acusado. Não é também asse- gurado o direito à defesa e à manifestação do acusado sobre as provas. � Atos processuais: em regra, eram sigilosos e escritos. Havia ainda a possibilidade de o Juiz impor o sigilo do processo sem justificá-lo, uma vez que era o único responsável por ele. � Princípio da culpabilidade: presume-se a culpa e a prisão do acusado até o fim do processo como o acusado era tratado como objeto do pro- cesso, a prisão poderia ser decretada e mantida pelo tempo que fosse necessário para o fim do processo (AVENA, 2018). 11Fundamentos do processo penal � Prejuízo do réu: os julgados não formam a coisa julgada, por isso os mesmos fatos podem ser revistos e reanalisados pelo Juiz inquisidor, o que é especialmente prejudicial ao denunciado, pois pode ver a sua absolvição sumariamente revertida. De modo diverso, se houver a revisão de condenação injusta com a absolvição do apenado, além de ser raro, dificilmente será possível reverter a pena aplicada. Trata-se de um sistema evidentemente falho e que viola diversos direitos fundamentais, entre eles, o do contraditório, da ampla defesa, do julgador imparcial e muitos outros, mostrando-se extremamente prejudicial ao acusado. Esse sistema persistiu por aproximadamente sete séculos até que começou a ser alterado após a Revolução Francesa (1789), quando se postulou diversas reformas sociais e de governo, baseadas em ideais iluministas. Sistema acusatório O sistema acusatório é mais antigo do que o sistema inquisitório e remonta ao Direito grego, com maiores desenvolvimentos no Direito romano (LOPES JÚNIOR, 2016). Mas, obviamente, esse sistema passou por grandes transfor- mações ao longo dos anos, sendo que o modelo acusatório atual suscita valores e princípios pensados e instituídos depois da Revolução Francesa. Hoje é um sistema mais alinhado aos princípios da Constituição Federal brasileira e aos diversos direitos e garantias individuais e coletivas. Para Lopes Júnior (2019), a posição do “Juiz” é fundante da estrutura processual, e é importante destacar isso. Quando o Juiz é mantido afastado da iniciativa probatória pelo sistema aplicado, é fortalecida a estrutura dialética e assegurada a imparcialidade do julgador. Para melhor compreender a posição e o papel do Juiz no processo acusatório, vamos analisar agora as principais características desse sistema. � Distinção entre as atividades acusatórias e julgadoras: haverá sempre a figura de um julgador, seja de uma figura estatal como o MP, seja de uma figura privada, separada e completamente distinta do Juiz. � Iniciativa probatória cabe às partes: as provas devem ser produzidas ou requeridas pelas partes. Ao Juiz não cabe a produção de provas e a atuação de ofício. Apesar de haver especialistas que entendem que excepcionalmente o Juiz pode requerer a produção de provas nesse sistema (AVENA, 2018). De qualquer modo, essa atuação seria em caráter excepcional e não pode substituir as partes. Fundamentos do processo penal12 � Imparcialidade do Juiz: o Juiz mantém-se afastado das partes, inclu- sive do trabalho investigativo, mantendo-se passivo quanto à coleta de provas, além de suas decisões fundamentarem-se no livre convencimento atrelado às provas produzidas. � Tratamento igualitário das partes: há equilíbrio processual das partes sem privilégios. � Direitos assegurados: são garantias o contraditório e a ampla defesa, além da possibilidade de apresentação de defesa e provas pelo acusado. � Publicidade: o processo e os atos processuais são em regra públicos, o segredo é admitido em casos excepcionais e mediante fundamentação. � Revisão do processo: garantia da revisão das decisões pelo duplo grau de jurisdição e garantia de critérios de segurança jurídica por meio da coisa julgada. Sistema misto O surgimento do sistema misto é situado historicamente por muitos com o surgimento do Código Napoleônico de 1808, que promoveu a divisão do processo em duas fases: � a pré-processual com características inquisitórias, destituída da ampla defesa, contraditório e ainda sem acusação, na qual se objetiva a apu- ração e materialidade do delito; � fase processual com características acusatórias, permitindo ao réu a defesa, a isonomia processual, a ampla defesa, etc. Em resumo, trata-se de um sistema que mistura institutos dos sistemas inquisitório e acusatório, mas não há uma regra clara da amplitude ou preva- lência de um ou de outro sistema. O modelo do Código Napoleônico é uma das possibilidades de sistema misto. Desse modo, um sistema misto pode ser mais ou menos inquisitório ou acusatório, de acordo com a legislação processual que se analisa (AVENA, 2018). Lopes Júnior (2016; 2019) entende que há um equívoco nessa definição, pois não há sistemas “puros”, de modo que todos acabam possuindo elementos de am- bos os sistemas. Afirma, ainda, que se trata de um reducionismo o enquadramento de sistemas em um sistema misto com base em modelos históricos, devendo ser analisado o núcleo fundante e predominante do sistema, o que pode enquadrá-lo como inquisitivo ou acusatório, não bastando a mera incorporação de alguns elementos de um outro sistema para torná-lo misto (LOPES JÚNIOR, 2019). 13Fundamentos do processo penal Definição do sistema processual brasileiro Não existe um consenso doutrinário sobre qual o sistema adotado peloBrasil. Avena (2018) e Lima (2020), defendem que o modelo brasileiro seja do sistema acusatório, mesmo ressalvando que de fato há dispositivos infralegais de modelo inquisitório, mas defendem que o Código de Processo Penal (CPP) deve ser lido e interpretado à luz da Constituição Federal (CF) que consagra: [...] a obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX) e as garantias da isonomia processual (art. 5º, I), do Juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII), do devido processo legal (art. 5º, LIV), do contraditório, da ampla defesa (art. 5º, LV) e da presunção de inocência (art. 5º, LVII) (AVENA, 2018, p. 64). Em outra vertente, Lopes Júnior (2016; 2019) defende que se trata de um sistema inquisitório ou neoinquisitório, visto que, apesar da separação inicial entre Juiz e MP, diversos dispositivos do CPP permitem que o Juiz assuma o papel de busca da prova e até mesmo a prática de atos tipicamente acusatórios. Lopes Júnior entende que a classificação em sistema misto é equivocada e carente de efetivos fundamentos, por isso em sua análise leva em conta a pre- dominância de características do sistema inquisitório em relação à legislação processual penal brasileira, entre eles o autor destaca (todos artigos do CPP): [...] juiz de ofício converta a prisão em flagrante em preventiva (art. 310), pois isso equivale a ‘prisão decretada de ofício’; ou mesmo decrete a prisão pre- ventiva de ofício no curso do processo (o problema não está na fase, mas, sim, no atuar de ofício!), uma busca e apreensão (art. 242), o sequestro (art. 127); ouça testemunhas além das indicadas (art. 209); proceda ao reinterrogatório do réu a qualquer tempo (art. 196); determine diligências de ofício durante a fase processual e até mesmo no curso da investigação preliminar (art. 156, incisos I e II); reconheça agravantes ainda que não tenham sido alegadas (art. 385); condene, ainda que o Ministério Público tenha postulado a absol- vição (art. 385), altere a classificação jurídica do fato (art. 383) etc. Nesse contexto, dispositivos que atribuam ao juiz poderes instrutórios, como o famigerado art. 156, incisos I e II, do CPP [...] (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 53). Fundamentos do processo penal14 Em opinião contrária, Nucci (2016) entende que o sistema processual penal brasileiro é misto, ressaltando a oposição e as características processuais presentes na CF e no CPP: [...] na Constituição Federal de 1988, foram delineados vários princípios pro- cessuais penais, que apontam para um sistema acusatório; entretanto, como mencionado, indicam um sistema acusatório, mas não o impõe, pois quem cria, realmente, as regras processuais penais a seguir é o Código de Processo Penal (NUCCI, 2016, p. 76). Reforça que é impossível negar que o sistema brasileiro é híbrido, tendo em vista que incorpora características muito relevantes dos dois sistemas. Ainda, por outro turno, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem considerado que a CF fez a opção inequívoca pelo sistema acusatório, relevando esse argumento e o utili- zando em diversas decisões a respeito do tema. Há decisões que reconhecem também que, apesar de se tratar de um sistema acusatório, não possui a sua forma “pura”, pois o sistema dá poderes instrutórios aos juízes, a exemplo do art. 156 do CPP (BRASIL, 1941). Veja alguns exemplos de decisões do STF: � STF — HC: 172697 RS — RIO GRANDE DO SUL, Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento: 27/08/2019, Data de Publicação: DJe-188 29/08/2019. � STF — ADI: 4693 BA — BAHIA 9956087-20.2011.1.00.0000, Relator: Min. ALEXANDRE DE MORAES, Data de Julgamento: 11/10/2018, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-231 30-10-2018. � STF — HC: 115015 SP, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Data de Julgamento: 27/08/2013, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-179 DIVULG 11-09-2013 PUBLIC 12-09-2013. � STJ — REsp: 1658752 MG 2017/0051804-2, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 17/04/2018, T6 — SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/05/2018. � STJ — HC: 347748 AP 2016/0019250-0, Relator: Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Data de Julgamento: 27/09/2016, T5 — QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/10/2016. 15Fundamentos do processo penal � HC: habeas corpus. � ADI: ação direta de inconstitucionalidade. � REsp: recurso especial. Desse modo, é possível verificar que a classificação do sistema brasileiro não é uma tarefa simples. No entanto, todos os doutrinadores concordam que o sistema processual penal brasileiro possui características dos sistemas inquisitório e acusatório, especialmente quando se opõe os dispositivos da legislação processual penal (predominantemente inquisitório) aos processuais penais constitucionais (predominantemente acusatória). AVENA, N. C. P. Processo Penal Esquematizado. 10. ed. São Paulo: Método, 2018. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 ago. 2020. BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília: Presidência da República, 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: 15 ago. 2020. BRASIL. Lei de 29 de novembro de 1832. Promulga o Codigo do Processo Criminal de primeira instancia com disposição provisoria ácerca da administração da Justiça Civil. Brasília: Presidência da República, 1832. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/LIM/LIM-29-11-1832.htm. Acesso em: 15 ago. 2020. BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Acesso em: 15 ago. 2020. BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm. Acesso em: 15 ago. 2020. Fundamentos do processo penal16 LIMA, R. B. de. Manual de Processo Penal. 8. ed. Salvador: Juspodvim, 2020. LOPES JÚNIOR, A. Direito Processual Penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. LOPES JÚNIOR, A. Fundamentos do processo penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2016. NUCCI, G. de S. Manual de processo penal e execução penal. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 17Fundamentos do processo penal