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TEORIA GERAL DO 
PROCESSO PENAL
Gabriel Bonesi Ferreira
Fundamentos do 
processo penal
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Descrever a origem do processo penal brasileiro.
 � Identificar a natureza jurídica das normas processuais nacionais.
 � Definir os sistemas processuais penais.
Introdução
O Direito Processual Penal decorre de uma longa evolução histórica que 
acompanha a evolução das penas. Trata-se de um sistema em constante 
modificação e atualização, tal qual as penas que são impostas aos con-
denados. Os fundamentos e as fontes do Direito Processual Penal são 
variados e é possível ver, historicamente, as incorporações e mudanças 
dessas fontes e fundamentos, que acabam por impactar diretamente os 
procedimentos processuais penais.
A identificação dos fundamentos do processo penal é importante 
para compreender o próprio procedimento e a origem do Direito Pro-
cessual Penal brasileiro, inclusive, para reconhecer as suas alterações e 
as possíveis necessidades de alterações, com vistas a deixá-lo o mais 
democrático possível e alinhado com os preceitos da Constituição Federal. 
Tal compreensão exige também o estudo da natureza jurídica das normas 
processuais e as influências dos diferentes sistemas penais históricos na 
construção do Direito Processual Penal brasileiro. 
Neste capítulo, você vai estudar o processo penal brasileiro, suas ori-
gens e evolução histórica. Vai ver também a natureza jurídica das normas 
processuais brasileiras e os sistemas processuais penais.
1 Origem do processo penal brasileiro
Os sistemas penais mundiais passaram por grandes mudanças históricas ao 
longo dos tempos. A mudança das penas está intimamente ligada à origem 
e às mudanças de normas processuais penais que objetivam alcançar a pena 
e, consequentemente, criam “[...] um caminho que condiciona o exercício do 
poder de penar (essência do poder punitivo) à estrita observância de uma série 
de regras que compõe o devido processo penal” (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 35). 
Desse modo, estabelecer normas de processo penal é também transformar 
o processo de aplicação da pena o mais justo possível, no qual o acusado deve 
conhecer todas as normas procedimentais para garantir a sua defesa, bem 
como os procedimentos que serão adotados para a aplicação da pena ou não. 
O que, obviamente, não significa que o processo penal sempre irá garantir 
uma condenação justa, até porque ele pode estar atrelado a sistemas penais 
falhos que acabam contaminando o devido processo penal, ou mesmo estar 
baseado em normas materiais penais desalinhadas a princípios fundamentais 
de direitos humanos. 
A evolução e o desenvolvimento do processo penal estão intimamente 
ligados à evolução da pena. Lopes Júnior (2019) aponta que a evolução da pena 
tem seu início como uma reação coletiva contra um membro que transgride 
a ordem e a ética social vigentes. É evidente que mesmo as sociedades mais 
antigas ou os grupos sociais afastados atuais possuem normas de caráter ético 
e uma organização social com práticas e regras de convivência que ditam e 
estabelecem padrões de comportamento socialmente aceitos. Segundo Lopes 
Júnior (2019), a primeira forma de pena tem origem em preceitos religiosos que 
vão se transformando em atos civis. A primeira forma de pena, por exemplo, 
é a vingança coletiva, que não pode ser considerada uma pena propriamente 
dita, mas sim um modo de reação a um comportamento ou ato não aceito pela 
sociedade. “A vingança implica liberdade, força e disposições individuais; 
a pena, a existência de um poder organizado” (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 35). 
Assim, apesar de a vingança e de a pena serem distintas, é possível ve-
rificar que codificações antigas como a do conhecido Código de Hamurábi, 
ou mesmo o Pentateuco, trazem disposições ligadas à Lei de Talião, a qual 
estabelece a imposição de pena idêntica ao crime praticado, popularmente 
conhecida pela expressão “olho por olho, dente por dente”. Penas como essas, 
apesar de poderem ser aplicadas por um poder centralizado, expressam uma 
ideia de justiça muito atrelada à vingança, no sentido de o infrator sofrer o 
mesmo mal de sua vítima. 
Fundamentos do processo penal2
O processo penal, por estar ligado à própria evolução da pena, adquire 
suas características mais marcantes quando a pena assume caráter de pena 
pública; isto é, imposta por um Estado em detrimento da atuação familiar ou 
coletiva, baseada na vingança coletiva por laços de sangue ou composição 
(LOPES JÚNIOR, 2019). Característica esta que vem atrelada à aplicação 
da pena imposta por Juiz imparcial e de poderes juridicamente limitados, 
expressão da autoridade, poder e soberania de um Estado perante aqueles que 
estão submetidos à sua jurisdição. Por essa razão, conclui Lopes Júnior (2019, 
p. 36) que “[...] a titularidade do direito de penar por parte do Estado surge 
no momento em que se suprime a vingança privada e se implantam critérios 
de justiça”. Em conjunto a essa mudança desenvolve-se também o Direito 
Processual Penal como ferramenta e meio para a aplicação da pena, de modo 
que sejam garantidos os critérios de justiça das normas penais.
Nesse contexto, Lopes Júnior (2019) destaca o princípio da necessidade do 
processo penal como um instrumento necessário à aplicação da pena. Como 
ressalta, este princípio demonstra a necessidade de separação do processo 
civil do processo penal. Enquanto o Direito Material Civil ocorre e se realiza 
diariamente, e o processo civil somente é utilizado quando há uma lide, um 
conflito que é levado à solução pelo Estado, o Direito Penal não é capaz de se 
realizar sem o processo penal. Dito de outro modo, o Direito Civil se realiza e 
possui aplicação imediata nos diversos atos e negócios jurídicos que ocorrem 
na sociedade, mesmo sem a necessidade de uma lide e de um processo judicial, 
enquanto o Direito Penal e a pena somente se concretizam e se realizam com 
a sua aplicação por meio do processo penal.
O princípio da necessidade, como o nome indica, é o princípio que expressa 
a ideia de necessidade do processo penal para a materialização e aplicação 
da pena e do próprio Direito Penal, ou seja, não há aplicação de pena ou do 
Direito Penal sem a existência de um processo penal. Desse modo, o processo 
penal é considerado necessário e imprescindível à aplicação da pena. Outro 
aspecto do princípio da necessidade é o fato de que o processo penal somente 
existe para se determinar o delito e impor a pena. Portanto, “[...] não existe 
delito sem pena, nem pena sem delito e processo, nem processo penal senão 
para determinar o delito e impor a pena” (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 37).
Também nesse sentido, é possível afirmar que a punição ou a pena por 
um ato considerado um delito deixa de ser punido diretamente pela vingança, 
o Estado passa a ser o detentor exclusivo do direito de punir. Relega-se, por-
tanto, somente ao Estado o Poder de exigir o cumprimento de uma sanção 
àquele que cometeu um delito. Por isso, Lima (2020) conclui que o Direito 
3Fundamentos do processo penal
Penal ou a pretensão punitiva não é aplicada imediatamente, sem a observân-
cia de um processo penal, pois a coação e a sanção penal não são direitos de 
aplicação imediata pelo Estado, de modo que o processo penal “[...] funciona 
como o instrumento do qual se vale o Estado para a imposição de sanção penal 
ao possível autor do fato delituoso” (LIMA, 2020, p. 39).
Assim sendo, é possível definir o Direito Processual Penal como: “[...] 
o corpo de normas jurídicas cuja finalidade é regular a persecução penal 
do Estado, através de seus órgãos constituídos, para que se possa aplicar a 
norma penal, realizando-se a pretensão punitiva no caso concreto” (NUCCI, 
2016, p. 51). 
A doutrina aponta também que o processo penal é o meio de aplicação da 
pena e da sanção penal, mas que esse não é o seu único objetivo, destacando 
o não menos importante objetivo do Direito Penal que é o cumprimento das 
regrase garantias constitucionais (LOPES JÚNIOR, 2019; LIMA, 2020; 
NUCCI, 2016). 
A aplicação do Direito Penal pressupõe o jogo com diversos direitos e 
liberdades. No Direito brasileiro, a aplicação de penas é progressiva, de acordo 
com a gravidade do delito e do direito ofendido, com vistas a coibir e dar 
resposta a ofensa a esses direitos. Assim, a concepção da sanção penal obje-
tiva a repreensão ao delito de modo amplo, dando, de acordo com a ideia de 
justiça, a punição adequada àquele que comete delito, além de dar resposta 
a anseios sociais, demonstrando a capacidade do Estado de manter a ordem 
social, evitando a ofensa a direitos relevantes. 
Para cumprir o papel punitivo, no entanto, o Estado deve fazer isso respei-
tando as normas e garantias constitucionais. Desse modo, o processo penal 
deve representar também um conjunto de normas que preservem as garantias 
e os direitos fundamentais frente ao Estado. Dentro da lógica do processo 
penal existem, portanto, duplo aspecto e objetivos das normas processuais: 
de um lado, a aplicação da pena e a materialização do monopólio punitivo do 
Estado sobre aqueles que cometem delito, e de outro, a garantia de normas 
constitucionais com vistas a garantir a supremacia do Estado Democrático de 
Direito e a proteção dos indivíduos contra atos e sanções autoritárias, presentes 
ao longo de toda a história brasileira.
Lopes Júnior (2019) ressalta que a aplicação do princípio da necessidade tem 
sido mitigada em diversas circunstâncias com a ampliação da justiça negocial. 
Fundamentos do processo penal4
Pelo princípio da necessidade, estabelece-se que a aplicação de uma pena exija 
o curso do devido processo legal que culmina com a decisão condenatória 
transitada em julgado. Aponta que esse movimento começou com a Lei dos 
Juizados Especiais (Lei nº 9.099/95) (BRASIL, 1995) que criou o instituto 
da transação penal para os chamados “crimes de menor potencial ofensivo”; 
ou seja, antes do início da ação penal, o Ministério Público (MP) oferece 
ao suposto infrator a proposta de cumprimento de uma pena não privativa 
de liberdade, que pode, caso aceita pelo suposto ofensor, não importar em 
admissão de culpa e o livrar de uma ação e condenação penal. Desse modo, 
trata-se de uma solução “acordada” na qual o suposto ofensor não chega a 
integrar um processo criminal, cumprindo como “contraprestação” alguma 
medida alternativa, como a prestação de serviços à comunidade, a doação de 
algum valor a instituições que prestam serviços à comunidade, entre outras. 
Lopes Júnior (2019) cita também o instituto, não pouco controverso, da delação 
premiada, em especial do que trata a Lei nº 12.850/2013 (BRASIL, 2013), na 
qual o “colaborador” assume a culpa por determinados crimes e colabora 
com as investigações em curso em prol de benefícios como o perdão judicial, 
redução da pena ou substituição da pena. 
Nesse cenário, é essencial observar que as normas processuais penais estão 
em constante alteração, seja em razão da modificação das penas, seja devido 
a sua aplicação de acordo com novas leis, constituições e institutos que vão 
sendo criados ao longo da história. A legislação processual penal acompanha 
também as modificações das ideias de justiça adotadas pelos povos, sendo 
possível afirmar, ainda que de maneira genérica, que serve em geral para a 
aplicação de pena, seja pelo modo tradicional por meio do curso do devido 
processo penal, seja pelas novas formas “negociais” de aplicação de penas. 
Mudanças de normas materiais e processuais exigem constantes revisões, 
visto que nem sempre legislações aprovadas mostram-se eficientes ou mesmo 
se prestam a atingir os devidos objetivos e anseios sociais.
5Fundamentos do processo penal
No Brasil, o primeiro Código de Processo Penal foi promulgado em 1832 (BRASIL, 1832). 
Antes disso, as normas e leis aplicáveis no país eram normas editadas por Portugal, 
já que o Brasil se tornou independente somente em 1822. Eram as leis portuguesas, 
então, as aplicáveis até a promulgação de novas leis no Brasil. Após o Código de Processo 
Penal de 1832, foram ainda promulgadas outras legislações e códigos processuais que 
tratavam do processo penal, até culminarem com a promulgação do atual Código de 
Processo Penal, por meio do Decreto-Lei nº. 3.689, de 03 de outubro de 1941, vigente 
até hoje. A vigência do Código de Processo Penal, desde 1941, não significa que seja 
o mesmo, pois já passou por diversas mudanças, além de ser lido e interpretado com 
base na Constituição da República (BRASIL, 1988).
2 Natureza jurídica das normas 
processuais penais
Quando se fala de natureza jurídica, objetiva-se explicitar a essência de um 
instituto jurídico. Tratar da natureza jurídica do processo penal “[...] trata-se 
de abordar a determinação dos vínculos que unem os sujeitos (Juiz, acusador 
e réu), bem como a natureza jurídica de tais vínculos e da estrutura como 
um todo” (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 38). Lopes Júnior (2016) expõe que a 
concepção e passagem da esfera penal para a pena pública, em contraposição 
à vingança privada, foi decisiva para a discussão sobre a natureza jurídica 
das normas processuais penais. Segundo o doutrinador, mesmo que tenham 
sido formuladas diversas teorias sobre o tema, as três de maior aceitação e 
principais ainda são as seguintes: processo como relação jurídica (Bülow); 
processo como situação jurídica (Goldschmidt) e processo como procedimento 
em contraditório (Fazzalari), que serão analisadas a seguir. Para o estudo dessas 
correntes, serão tomadas como referência as obras: Direito Processual Penal 
e Fundamentos do processo penal, ambas de Aury Lopes Júnior (2019; 2016).
Processo como relação jurídica — Bülow
Compreender o processo penal como uma relação jurídica mudou radicalmente 
a concepção sobre o processo, afastando explicações privativistas sobre o 
processo (LOPES JÚNIOR, 2019). Um dos grandes avanços reconhecidos é 
a separação entre Direito Material e Direito Processual, enfatizando a inde-
pendência das relações jurídicas nesses dois âmbitos (LOPES JÚNIOR, 2019).
Fundamentos do processo penal6
O centro da tese de Bülow é pensar o processo como uma relação jurídica 
que se estabelece entre as partes e o Juiz, relação que é fonte de direitos e 
obrigações processuais recíprocas. Essa relação jurídica é de natureza pública, 
porque o vínculo ou a relação entre as partes e um órgão público da admi-
nistração da justiça (Judiciário) decorre do exercício de uma atividade que é 
essencialmente pública (LOPES JÚNIOR, 2016); isto é, decorre da prestação 
judiciária que é pública e parte do Estado. Com isso, separa-se a relação jurídica 
processual da relação jurídica de Direito Material, em resumo, “[...] o processo 
é uma relação jurídica de direito público, autônoma e independente da relação 
jurídica de direito material” (LOPES JÚNIOR, 2016, p. 99).
Nessa relação, as partes do processo, sujeito ativo e passivo, assim como 
o Juiz, são vistos como sujeitos autônomos que existem na relação processual 
como sujeitos de direitos e obrigações recíprocos. Aqui, a reciprocidade é entre 
todos: sujeito ativo e sujeito passivo; sujeito ativo e Juiz; sujeito passivo e Juiz. 
Tal concepção tem uma consequência jurídica importante, no sentido de que 
o acusado, o sujeito passivo em um processo penal, deixa de ser concebido 
como objeto do processo, sobre o qual se incidem os atos processuais para ser 
considerado um sujeito possuidor de Direitos e obrigações, capaz de estabelecer 
uma dupla via de relação com o Juiz e com a outra parte, inclusive, exigindo 
do Juiz a prestação jurisdicional de acordo com a lei (LOPES JÚNIOR, 2016).
Com essa tese, foi possível enfatizar a separação entre o Direito Material e 
o Direito Processual, permitindo pensar o Direito Material separado da “ação”, 
do processo judicial. Desse modo, se são pensadas condições para o exercício 
de um direito (material), ou seja, se a situação fática se enquadra ao que está 
prescrito em lei, é possível tambémconsiderar a existência de pressupostos 
processuais necessários para a validade e a existência do processo, gerando, 
entre outros efeitos, o desenvolvimento de teorias sobre nulidades processuais 
de modo mais adequado (LOPES JÚNIOR, 2016).
Essa teoria foi adotada de modo bastante contundente por boa parte da 
doutrina, apresentando alguns desdobramentos. Entretanto, sofreu também 
diversas críticas.
Processo como situação jurídica — Goldschmidt
Lopes Jr. (2016) assevera que a teoria de Goldschmidt superou de modo con-
tundente a teoria de Bülow ao considerar que o processo é uma situação e 
não uma relação jurídica. Segundo apresenta, um dos maiores equívocos é 
considerar o processo como uma efetiva relação jurídica entre as partes e o 
Juiz (LOPES JÚNIOR, 2016).
7Fundamentos do processo penal
De acordo com essa concepção, o processo é tido como “[...] um conjunto 
de situações jurídicas processuais pelas quais as partes atravessam, caminham, 
em direção a uma sentença favorável” (LOPES JÚNIOR, 2016, p. 198). Por isso, 
não há direitos e obrigações processuais recíprocos, mas situações processuais, 
de modo que também os pressupostos processuais de Bülow são considerados 
pressupostos de uma sentença de fundo, isto é, são considerados pressupostos 
de uma decisão sobre o mérito do processo (LOPES JÚNIOR, 2016).
Ao se conceber o processo como uma situação jurídica, permite pensá-
-lo como uma complexa situação jurídica em movimento que dá origem a 
expectativas, perspectivas, cargas e liberação de cargas (LOPES JÚNIOR, 
2016). Sobre esses conceitos, Lopes Júnior (2016) explica: A expectativa 
de uma sentença favorável depende da realização de um ato processual, 
o aproveitamento de uma chance, por uma das partes (liberação de cargas) que 
gera a expectativa de obter êxito de acordo com o esperado. Caso a parte deixe 
de aproveitar uma chance e não pratique o ato processual, ou seja, não libere 
uma carga, surge uma situação processual desvantajosa que dá a perspectiva 
de uma sentença desfavorável. Essa perspectiva sempre vai depender da não 
realização de um ato processual que imponha prejuízo à parte que não liberou 
a carga que lhe é atribuída (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016).
As possibilidades surgem a partir das chances que são situações proces-
suais que permitem a execução de um ato processual. Frente a uma chance, 
a parte deve liberar uma carga processual, o que lhe permite aumentar a 
possibilidade ou expectativa de uma sentença favorável (LOPES JÚNIOR, 
2016). A liberação da carga nada mais é do que a prática de um ato processual 
no momento em que pode ser liberada, de acordo com o ônus que cabe à parte. 
Desse modo, as partes não estão incumbidas de obrigações processuais, 
mas de ônus processuais na liberação de cargas e, no processo penal, toda 
a carga de provar o alegado cabe ao acusador, não havendo distribuição de 
cargas probatórias, tanto em razão da primeira afirmação ser feita na peça 
acusatória quanto pela proteção do réu pela presunção de inocência (LOPES 
JÚNIOR, 2019; 2016).
Como consequência, a carga é um conceito ligado à atribuição, e não à 
distribuição do ônus probatório (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). Assim, apesar 
de a acusação dever provar o que alega, à defesa também cabe a atribuição 
da produção de provas que lhe favoreçam. A Desse modo, mesmo que a sua 
inércia não possa prejudicá-la processualmente, ao deixar de realizar um ato, 
ou seja, ao deixar de liberar uma carga, assume os riscos pela perda da chance 
ao aumento da possibilidade de uma sentença condenatória (LOPES JÚNIOR, 
Fundamentos do processo penal8
2019; 2016). A liberação da carga pode ser uma ação, um agir positivo, como 
a produção de uma prova da prática de um ato, ou então um agir negativo, 
isto é, deixar de realizar algum ato processual que possa prejudicar a parte.
Por essa corrente, fica evidenciada a incerteza do resultado do processo, 
que depende da liberação das cargas e aproveitamento de chances. O acolhi-
mento dos argumentos da defesa ou da acusação irão depender desse caráter 
dinâmico de provas. A sentença pode ser justa ou injusta de acordo com a 
liberação de cargas, evidenciando demasiadamente o risco do resultado do 
processo (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016).
Processo como procedimento em contraditório — 
Fazzalari
Para Lopes Júnior (2019) a concepção do processo como um procedimento 
em contraditório, apresentado por Fazzalari, pode ser considerado como uma 
continuidade da teoria de Goldschmidt, apesar de ser negado pelo próprio autor 
e por seus seguidores. Fazzalari também é crítico da concepção do processo 
como uma relação jurídica.
O processo como procedimento em contraditório busca afirmar a impor-
tância ao respeito às “regras do jogo”, ressaltando o valor do contraditório 
como um princípio essencial do processo (LOPES JÚNIOR, 2016). Nessa 
concepção, todo o procedimento do processo e até a sentença (provimento 
final) deve ser construído com base no contraditório, o que legitima a pres-
tação jurisdicional. Assim, deve-se privilegiar e fortalecer o contraditório no 
processo, especialmente em relação ao acusado no processo penal (LOPES 
JÚNIOR, 2016).
O contraditório deve observar duas dimensões, o direito à informação 
(conhecimento) e à efetiva e igualitária participação das partes, objetivando 
a igualdade de tratamento e oportunidades (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016). 
Continuando nesse pensamento, deve ser dado e garantido o tratamento iguali-
tário às partes, sendo ressaltada a importância da participação delas em todos 
os atos para dar-lhes legitimidade, o que reforça a importância das partes nos 
autos processuais e do próprio contraditório (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016).
É importante observar ainda que são ressaltados todos os atos do processo 
até o provimento final; isto é, todos os procedimentos que são tidos como 
inter-relacionados de tal modo que a validade dos atos subsequentes exige a 
validade dos atos anteriores e a validade da sentença pressupõe a validade de 
todos os atos anteriores a ela (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016).
9Fundamentos do processo penal
A tese de Fazzalari ressalta, desse modo, a unidade do processo, tendo em 
vista a ligação entre os atos processuais até o provimento final. Com base nisso, 
os atos posteriores podem ser anulados caso se evidencie a nulidade de algum 
ato anterior, havendo uma verdadeira relação de prejudicialidade de validade 
entre o ato processual anterior e posterior (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016).
Segundo Lopes Júnior, ocorre uma “revaloração da jurisdição na estrutura 
processual” (LOPES JÚNIOR, 2016), tendo em vista que o Juiz assume o papel 
de garantidor do contraditório, responsável por esta regularidade formal para 
dar legitimidade ao processo. Desse modo, a jurisdição é colocada em segundo 
plano, ressaltando o protagonismo das partes no processo e rechaçando o 
ativismo judicial ao colocar o Juiz como garantidor das regras do jogo e não 
contraditor ou inquisidor (LOPES JÚNIOR, 2019; 2016).
3 Sistemas processuais penais
Historicamente, fala-se em sistemas processuais penais que definem e identi-
ficam o tipo de processo penal. São eles: inquisitório; acusatório; misto. Hoje 
muitos autores defendem que não há sistemas processuais “puros” (LOPES 
JÚNIOR, 2016, 2019; NUCCI, 2016), sendo possível identificar elementos 
dos sistemas penais nos ordenamentos jurídicos. Sendo assim, é necessário 
o estudo de cada um.
Sistema inquisitório
Lopes Júnior (2016) destaca que o sistema inquisitório é, em essência, um 
modelo histórico. Até o século XII, segundo ele, quem predominava era o 
sistema acusatório, mas ao longo do século XII até o século XIV foi sendo 
substituído pelo sistema inquisitório. Este sistema, dotado pelo Direito Ca-
nônico, propagou-se por toda a Europa (LIMA, 2020), tendo como principal 
referência paradigmática o Tribunal da Inquisição ou Santo Ofício, o qual 
acabou sendo modelo para o processo penal dos países europeus. Esse modelo, 
no entanto, foi sendo construído aos poucos, reunindoem uma única pessoa 
— Juiz inquisidor — os poderes de acusar, defender e julgar (LIMA, 2020). 
A concentração de funções na pessoa do Juiz inquisidor é a característica 
marcante desse sistema, que detém todos os poderes instrutórios, suprimindo 
completamente a possibilidade do direito ao contraditório ou qualquer ou-
tro processo dialético (LOPES JÚNIOR, 2020). A imparcialidade, por isso, 
é certamente comprometida, pois ao julgador cabe todo o andamento processual 
Fundamentos do processo penal10
— fazer a colheita de provas, dar impulso ao processo penal, desencadear e 
abrir um processo criminal — independentemente de qualquer acusação ou 
ato do acusado. Desse modo, toda a gestão da prova é concentrada na pessoa 
do Juiz. A imparcialidade, em razão disso, fica evidente, primeiro pela ligação 
psicológica do Juiz à causa, por ser e dever ser o acusador, em segundo porque, 
como a gestão e a produção da prova ocorre por sua iniciativa, pode produzir 
a prova que quiser e acabar decidindo como quiser, ainda que pudesse haver 
provas contrárias às que supostamente produziu (LIMA, 2020).
Construiu-se o sistema inquisitório sob proposta de descoberta da verdade 
real e absoluta por meio do processo inquisitório, sendo admitida ampla ati-
vidade probatória em relação ao objeto do processo (LIMA, 2020). Contudo, 
o fato é que o sistema nasce corrompido, pois há evidentes erros de procedi-
mentos e de figuras que não permitem sequer a oposição de defesa e produção 
de provas pelo acusado que poderiam absolvê-lo completamente do crime que 
lhe foi atribuído. Além disso, eram admitidas até mesmo confissões obtidas 
por torturas como meios de prova, e o processo era, em regra, escrito e sigi-
loso (LIMA, 2020). A confissão era, inclusive, tida como a prova máxima, 
mesmo que obtida por meio de torturas. Aliás, o acusado poderia ser solto se 
considerado “suficientemente” torturado sem ter “confessado” o crime que 
lhe era atribuído (LOPES JÚNIOR, 2016).
Destacamos aqui algumas características desse tipo de sistema.
 � Figura do Juiz inquisidor: a gestão e iniciativa da produção de provas 
é atribuída ao Juiz; não há divisão de funções, de modo que o Juiz 
concentra as funções de acusar, julgar e defender; há possibilidade de 
o Juiz atuar de ofício sem a prévia provocação; parcialidade do Juiz.
 � Inexistência de contraditório: privilégio das provas de acusação, 
produzidas pelo próprio Juiz, sem a garantia ao réu ao contraditório 
da acusação ou das provas produzidas.
 � Desigualdade de armas: não há igualdade entre a acusação e a defesa, 
privilegia-se a acusação em detrimento do acusado. Não é também asse-
gurado o direito à defesa e à manifestação do acusado sobre as provas. 
 � Atos processuais: em regra, eram sigilosos e escritos. Havia ainda a 
possibilidade de o Juiz impor o sigilo do processo sem justificá-lo, uma 
vez que era o único responsável por ele.
 � Princípio da culpabilidade: presume-se a culpa e a prisão do acusado 
até o fim do processo como o acusado era tratado como objeto do pro-
cesso, a prisão poderia ser decretada e mantida pelo tempo que fosse 
necessário para o fim do processo (AVENA, 2018).
11Fundamentos do processo penal
 � Prejuízo do réu: os julgados não formam a coisa julgada, por isso os 
mesmos fatos podem ser revistos e reanalisados pelo Juiz inquisidor, 
o que é especialmente prejudicial ao denunciado, pois pode ver a sua 
absolvição sumariamente revertida. De modo diverso, se houver a 
revisão de condenação injusta com a absolvição do apenado, além de 
ser raro, dificilmente será possível reverter a pena aplicada. 
Trata-se de um sistema evidentemente falho e que viola diversos direitos 
fundamentais, entre eles, o do contraditório, da ampla defesa, do julgador 
imparcial e muitos outros, mostrando-se extremamente prejudicial ao acusado. 
Esse sistema persistiu por aproximadamente sete séculos até que começou a 
ser alterado após a Revolução Francesa (1789), quando se postulou diversas 
reformas sociais e de governo, baseadas em ideais iluministas.
Sistema acusatório
O sistema acusatório é mais antigo do que o sistema inquisitório e remonta 
ao Direito grego, com maiores desenvolvimentos no Direito romano (LOPES 
JÚNIOR, 2016). Mas, obviamente, esse sistema passou por grandes transfor-
mações ao longo dos anos, sendo que o modelo acusatório atual suscita valores 
e princípios pensados e instituídos depois da Revolução Francesa. Hoje é um 
sistema mais alinhado aos princípios da Constituição Federal brasileira e aos 
diversos direitos e garantias individuais e coletivas. Para Lopes Júnior (2019), 
a posição do “Juiz” é fundante da estrutura processual, e é importante destacar 
isso. Quando o Juiz é mantido afastado da iniciativa probatória pelo sistema 
aplicado, é fortalecida a estrutura dialética e assegurada a imparcialidade do 
julgador. Para melhor compreender a posição e o papel do Juiz no processo 
acusatório, vamos analisar agora as principais características desse sistema.
 � Distinção entre as atividades acusatórias e julgadoras: haverá sempre 
a figura de um julgador, seja de uma figura estatal como o MP, seja de 
uma figura privada, separada e completamente distinta do Juiz.
 � Iniciativa probatória cabe às partes: as provas devem ser produzidas 
ou requeridas pelas partes. Ao Juiz não cabe a produção de provas e 
a atuação de ofício. Apesar de haver especialistas que entendem que 
excepcionalmente o Juiz pode requerer a produção de provas nesse 
sistema (AVENA, 2018). De qualquer modo, essa atuação seria em 
caráter excepcional e não pode substituir as partes.
Fundamentos do processo penal12
 � Imparcialidade do Juiz: o Juiz mantém-se afastado das partes, inclu-
sive do trabalho investigativo, mantendo-se passivo quanto à coleta de 
provas, além de suas decisões fundamentarem-se no livre convencimento 
atrelado às provas produzidas.
 � Tratamento igualitário das partes: há equilíbrio processual das partes 
sem privilégios.
 � Direitos assegurados: são garantias o contraditório e a ampla defesa, 
além da possibilidade de apresentação de defesa e provas pelo acusado.
 � Publicidade: o processo e os atos processuais são em regra públicos, 
o segredo é admitido em casos excepcionais e mediante fundamentação.
 � Revisão do processo: garantia da revisão das decisões pelo duplo grau 
de jurisdição e garantia de critérios de segurança jurídica por meio da 
coisa julgada.
Sistema misto
O surgimento do sistema misto é situado historicamente por muitos com 
o surgimento do Código Napoleônico de 1808, que promoveu a divisão do 
processo em duas fases: 
 � a pré-processual com características inquisitórias, destituída da ampla 
defesa, contraditório e ainda sem acusação, na qual se objetiva a apu-
ração e materialidade do delito; 
 � fase processual com características acusatórias, permitindo ao réu a 
defesa, a isonomia processual, a ampla defesa, etc.
Em resumo, trata-se de um sistema que mistura institutos dos sistemas 
inquisitório e acusatório, mas não há uma regra clara da amplitude ou preva-
lência de um ou de outro sistema. O modelo do Código Napoleônico é uma das 
possibilidades de sistema misto. Desse modo, um sistema misto pode ser mais 
ou menos inquisitório ou acusatório, de acordo com a legislação processual 
que se analisa (AVENA, 2018).
Lopes Júnior (2016; 2019) entende que há um equívoco nessa definição, pois 
não há sistemas “puros”, de modo que todos acabam possuindo elementos de am-
bos os sistemas. Afirma, ainda, que se trata de um reducionismo o enquadramento 
de sistemas em um sistema misto com base em modelos históricos, devendo ser 
analisado o núcleo fundante e predominante do sistema, o que pode enquadrá-lo 
como inquisitivo ou acusatório, não bastando a mera incorporação de alguns 
elementos de um outro sistema para torná-lo misto (LOPES JÚNIOR, 2019).
13Fundamentos do processo penal
Definição do sistema processual brasileiro
Não existe um consenso doutrinário sobre qual o sistema adotado peloBrasil. 
Avena (2018) e Lima (2020), defendem que o modelo brasileiro seja do sistema 
acusatório, mesmo ressalvando que de fato há dispositivos infralegais de 
modelo inquisitório, mas defendem que o Código de Processo Penal (CPP) 
deve ser lido e interpretado à luz da Constituição Federal (CF) que consagra: 
[...] a obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX) e as 
garantias da isonomia processual (art. 5º, I), do Juiz natural (art. 5º, XXXVII e 
LIII), do devido processo legal (art. 5º, LIV), do contraditório, da ampla defesa 
(art. 5º, LV) e da presunção de inocência (art. 5º, LVII) (AVENA, 2018, p. 64).
Em outra vertente, Lopes Júnior (2016; 2019) defende que se trata de um 
sistema inquisitório ou neoinquisitório, visto que, apesar da separação inicial 
entre Juiz e MP, diversos dispositivos do CPP permitem que o Juiz assuma o 
papel de busca da prova e até mesmo a prática de atos tipicamente acusatórios. 
Lopes Júnior entende que a classificação em sistema misto é equivocada e 
carente de efetivos fundamentos, por isso em sua análise leva em conta a pre-
dominância de características do sistema inquisitório em relação à legislação 
processual penal brasileira, entre eles o autor destaca (todos artigos do CPP):
[...] juiz de ofício converta a prisão em flagrante em preventiva (art. 310), pois 
isso equivale a ‘prisão decretada de ofício’; ou mesmo decrete a prisão pre-
ventiva de ofício no curso do processo (o problema não está na fase, mas, sim, 
no atuar de ofício!), uma busca e apreensão (art. 242), o sequestro (art. 127); 
ouça testemunhas além das indicadas (art. 209); proceda ao reinterrogatório 
do réu a qualquer tempo (art. 196); determine diligências de ofício durante 
a fase processual e até mesmo no curso da investigação preliminar (art. 156, 
incisos I e II); reconheça agravantes ainda que não tenham sido alegadas 
(art. 385); condene, ainda que o Ministério Público tenha postulado a absol-
vição (art. 385), altere a classificação jurídica do fato (art. 383) etc.
Nesse contexto, dispositivos que atribuam ao juiz poderes instrutórios, como o 
famigerado art. 156, incisos I e II, do CPP [...] (LOPES JÚNIOR, 2019, p. 53).
Fundamentos do processo penal14
Em opinião contrária, Nucci (2016) entende que o sistema processual penal 
brasileiro é misto, ressaltando a oposição e as características processuais 
presentes na CF e no CPP: 
[...] na Constituição Federal de 1988, foram delineados vários princípios pro-
cessuais penais, que apontam para um sistema acusatório; entretanto, como 
mencionado, indicam um sistema acusatório, mas não o impõe, pois quem 
cria, realmente, as regras processuais penais a seguir é o Código de Processo 
Penal (NUCCI, 2016, p. 76). 
Reforça que é impossível negar que o sistema brasileiro é híbrido, tendo 
em vista que incorpora características muito relevantes dos dois sistemas. 
Ainda, por outro turno, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal 
(STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem considerado que a CF fez a 
opção inequívoca pelo sistema acusatório, relevando esse argumento e o utili-
zando em diversas decisões a respeito do tema. Há decisões que reconhecem 
também que, apesar de se tratar de um sistema acusatório, não possui a sua 
forma “pura”, pois o sistema dá poderes instrutórios aos juízes, a exemplo do 
art. 156 do CPP (BRASIL, 1941). 
Veja alguns exemplos de decisões do STF:
 � STF — HC: 172697 RS — RIO GRANDE DO SUL, Relator: Min. LUIZ FUX, Data de 
Julgamento: 27/08/2019, Data de Publicação: DJe-188 29/08/2019.
 � STF — ADI: 4693 BA — BAHIA 9956087-20.2011.1.00.0000, Relator: Min. ALEXANDRE 
DE MORAES, Data de Julgamento: 11/10/2018, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 
DJe-231 30-10-2018.
 � STF — HC: 115015 SP, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Data de Julgamento: 27/08/2013, 
Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-179 DIVULG 11-09-2013 PUBLIC 12-09-2013.
 � STJ — REsp: 1658752 MG 2017/0051804-2, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de 
Julgamento: 17/04/2018, T6 — SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/05/2018.
 � STJ — HC: 347748 AP 2016/0019250-0, Relator: Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Data de 
Julgamento: 27/09/2016, T5 — QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/10/2016.
15Fundamentos do processo penal
 � HC: habeas corpus.
 � ADI: ação direta de inconstitucionalidade.
 � REsp: recurso especial.
Desse modo, é possível verificar que a classificação do sistema brasileiro 
não é uma tarefa simples. No entanto, todos os doutrinadores concordam 
que o sistema processual penal brasileiro possui características dos sistemas 
inquisitório e acusatório, especialmente quando se opõe os dispositivos da 
legislação processual penal (predominantemente inquisitório) aos processuais 
penais constitucionais (predominantemente acusatória).
AVENA, N. C. P. Processo Penal Esquematizado. 10. ed. São Paulo: Método, 2018.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: 
Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 ago. 2020. 
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Brasília: 
Presidência da República, 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: 15 ago. 2020. 
BRASIL. Lei de 29 de novembro de 1832. Promulga o Codigo do Processo Criminal de 
primeira instancia com disposição provisoria ácerca da administração da Justiça Civil. 
Brasília: Presidência da República, 1832. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/LIM/LIM-29-11-1832.htm. Acesso em: 15 ago. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis 
e Criminais e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1995. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Acesso em: 15 ago. 2020.
BRASIL. Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre 
a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas 
e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 
(Código Penal); revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. 
Brasília: Presidência da República, 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm. Acesso em: 15 ago. 2020.
Fundamentos do processo penal16
LIMA, R. B. de. Manual de Processo Penal. 8. ed. Salvador: Juspodvim, 2020.
LOPES JÚNIOR, A. Direito Processual Penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
LOPES JÚNIOR, A. Fundamentos do processo penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 
2016.
NUCCI, G. de S. Manual de processo penal e execução penal. 13. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2016.
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17Fundamentos do processo penal

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