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1 ÉTICA EMPRESARIAL 1 SUMÁRIO 1. CONCEITUAÇÃO BÁSICA .................................................................................. 3 1.1 Reflexão Sobre a Ética .................................................................................. 4 1.2 Principais Doutrinas Éticas (filosófica) ........................................................... 9 1.3. Valores organizacionais .................................................................................. 20 2. DEFINIÇÃO DE ÉTICA EMPRESARIAL ........................................................... 26 2.1. Ética nas Organizações .................................................................................. 26 2.2. Perfil Ético das Organizações ......................................................................... 29 3. CÓDIGO DE ÉTICA DE UMA PROFISSÃO ...................................................... 44 3.1 Código de Ética ............................................................................................ 44 4. A ÉTICA NO SETOR PÚBLICO ........................................................................ 47 4.1 O Código de Ética do Servidor Público ........................................................ 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 49 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 1. CONCEITUAÇÃO BÁSICA Ética é uma palavra de origem grega com duas interpretações possíveis. A primeira é a palavra grega éthos, com “e” curto, que pode ser traduzida por costume. A segunda também se escreve éthos, porém com “e” longo, que significa propriedade do caráter. A primeira serviu de base na tradução pelos romanos para a palavra latina mores e que deu origem à palavra Moral, enquanto que a segunda orienta a utilização atual que damos à palavra Ética. Talvez esteja aí a origem da costumeira confusão que se faz sobre moral e ética. Embora os dois termos estejam inseridos na área do comportamento humano, eles não são termos equivalentes sendo um erro utilizá-los como se fossem sinônimos. Ética Profissional são normas de conduta que deveriam ser colocadas em prática no exercício da profissão. Serve para regulamentar o relacionamento do profissional com seus clientes, caracterizando para a melhoria da dignidade das pessoas e a construção do bem-estar. A ética profissional está em todas as profissões, desde caráter normativo ao jurídico, que regulamenta cada profissão através de estatutos e códigos específicos. Sendo a ética fundamental à vida humana, na vida profissional não seria diferente, porque cada profissional tem responsabilidades individuais e responsabilidades sociais, que envolvem pessoas que dela se beneficiam. O fazer profissional diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, somando as atitudes que deve responder no executar de sua profissão. A ética no 4 cotidiano acaba se refletindo na Ética Profissional. O Estatuto Ético de uma profissão é a responsabilidade que dela decorre. A ética profissional codificada vem a preencher uma necessidade de se transformar em algo claro e prescritivo, para efeitos de controle corporativo, institucional e social, o que navega nas incertezas da ética filosófica. A ética coloca deveres para com sigo mesmo, para com os colegas, para com a sociedade e com os clientes. 1.1 Reflexão Sobre a Ética a) Ética Quando as pessoas respondem intuitivamente à questão “O que é a ética?”, existe uma tendência para a identificar com princípios que distinguem o certo do errado. O que é correto – numa certa medida. A verdade é que a especificidade das situações que exigem uma ação ética motivadas por princípios fortemente éticos exige igualmente um tipo de pensamento específico, o qual denominamos de reflexão ética. A reflexão ética exige percepção e julgamento. Poderemos ser capazes de identificar fatos relevantes num determinado caso e percebermos se os nossos princípios orientadores se aplicam a esta ou a outra situação. O que pode ser extremamente difícil. A capacidade para efetuar distinções e julgamentos desenvolve-se com o tempo. Todos nós adquirimos os nossos princípios éticos de base a par de estruturas mentais valorativas na mais tenra infância. O que é um fato evidente para a maioria das culturas que ensinam às suas crianças a denominada “regra de ouro”, traduzida pela pergunta feita pelos educadores aos seus filhos “como te sentirias se alguém te tivesse feito isso a ti?”. Contudo, a nossa formação ética não termina na infância – é um processo que envolve o questionar contínuo e o pensamento crítico ao longo da vida. E esta é a verdadeira matéria da reflexão ética: aperfeiçoar a nossa percepção ética e 5 capacidade de julgamento através da experiência da vida real, de um pensamento clarificado e de discussões argumentativas. Não só os nossos princípios éticos e estruturas mentais são aprendidos, como podem igualmente ser aperfeiçoados. E devemos acreditar que todos se beneficiam 6 de uma reflexão ética adequada sobre os assuntos emergentes da vida contemporânea, nomeadamente no que diz respeito às obrigações éticas da sociedade em torno das questões da pobreza e da impotência face as situações de injustiça. Todos nós possuímos crenças, ideias e sentimentos no que respeita à ética. E é dever da sociedade promover a reflexão crítica e estimular o debate sobre esta questão. Muitos acreditam que a ética não está, na verdade, enraizada em questões racionais, mas sim na forma como cada indivíduo se sente relativamente a determinado assunto. Uma razão para esta visão está subjacente ao fato de todos nós possuirmos sentimentos fortes no que respeita às questões éticas e, muitas vezes, discordarmos com os outros em relação às mesmas. O que pode levar as pessoas a pensar que não existe uma resposta certa ou errada para qualquer questão ética e que tudo se resume a uma determinada convicção pessoal. O que não é assim tão linear. Porque todos parecemos naturalmente talhados para convencer os outros do nosso ponto de vista ético através dos nossos argumentos. Parece estranho afirmar que a ética está apenas relacionada com formas de sentir e não com estruturas racionais. Afinal de contas, os argumentos constituem formas de apresentarmos razões para os pontos de vista que defendemos e acontece que as pessoas acabam por mudar as suas convicções ao longo dessas discussões argumentativas porque acabam por considerar as razões oferecidas pelos outros como convincentes. Desta forma, a ética não pode servista apenas como uma mera forma de como nos sentimos relativamente a uma questão em específico. O que não quer dizer que as emoções não representem um papel importante no nosso pensamento ético. Se não confiarmos nas nossas emoções até certo ponto – se não nos importarmos com os outros, por exemplo – será difícil explicar por que motivo tomamos a sério quaisquer questões éticas. Assim, as emoções podem, certamente, contribuir para os nossos julgamentos éticos e motivar-nos a agir com preocupação relativamente aos outros, mas não podem traduzir tudo o que está inerente a um julgamento ético. O ponto principal nessa discussão é que os bons julgamentos éticos são 7 considerados juízos, ao invés de ideias pré-concebidas ou intuições emocionais. É importante possuirmos sentimentos fortes relativamente às nossas convicções éticas, mas os sentimentos não são suficientes – temos, sim, que pensar cuidadosamente 8 sobre os nossos julgamentos éticos de forma a assegurar que eles são justificados e consistentes. b) Moral (valores) A moral é normativa a partir de um conjunto de regras, valores, proibições e tabus que provêm de fora do ser humano, ou seja, que são cultivados ou impostos pela política, costumes sociais, religiões ou ideologias. Como as comunidades ou grupos sociais são distintos entre si, tanto no espaço (região geográfica) quanto no tempo (época), os valores também podem ser distintos dando origem a códigos morais diferentes. Assim, a moral é mutável e está diretamente relacionada com práticas culturais. Exemplo: o homem ter mais de uma esposa é moral em algumas sociedades, mas em outras não. Para Cotrim (2002) a ética é um estudo reflexivo das diversas morais, no sentido de explicitar os seus pressupostos, ou seja, as concepções sobre o ser humano e a existência humana que sustentam uma determinada moral. A ética, então, pode ser o regimento, a lei do que seja ato moral, o controle de qualidade da moral. Daí os códigos de ética que servem para as diferentes micro- sociedades dentro do sistema maior. A ética define-se como o conhecimento, a teoria ou a ciência do comportamento moral. É através da ética que compreendemos, explicamos, justificamos, analisamos criticamos e, se assim quisermos, aprimoramos a moral da sociedade. Em última análise, ética é a definidora dos valores e juízos que norteiam a moral. Compete à ética, portanto, o estudo da origem da moral, da distinção entre FIQUE ATENTO! Segundo Cordi (2003, p.62), “ética é uma reflexão sistemática sobre o comportamento moral. Ela investiga, analisa e explica a moral de uma determinada sociedade”. 9 comportamento moral e outras formas de agir, da liberdade e da responsabilidade e de questões como a prática do aborto, da eutanásia e da pena de morte. 10 Conforme Cordi (2003) a ética não diz o que deve e o que não deve ser feito em cada caso concreto, isso é da competência da moral. A partir dos fatos morais a ética tira conclusões elaborando princípios sobre o comportamento moral. Podemos afirmar que o conceito de Ética é mais amplo e rico do que o de Moral. Ética implica em reflexão teórica sobre moral e revisões racionais e críticas sobre a validade da conduta humana, sendo o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, adequado ou inadequado, independentemente das práticas culturais. c) Liberdade Segundo Helvetius e outros deterministas, a liberdade seria uma espécie de ilusão, pois há um aspecto biológico do qual não se pode escapar e, sobretudo, um aspecto jurídico. Veja o que ele diz: “Os homens não são maus, mas submissos aos seus interesses... Portanto, não é da maldade dos homens que é preciso se queixar, mas da ignorância dos legisladores que sempre colocam o interesse particular em oposição ao geral. […] Até hoje, as mais belas máximas morais não conseguem traduzir nenhuma mudança nos costumes das nações. Qual é a causa? É que os vícios de um povo estão escondidos no fundo de sua legislação.” Vamos analisar o que ele diz: Que os homens buscam seus interesses, mas isso não significa que eles sejam maus; Não limitar os interesses humanos particulares, ou seja, aqueles que FIQUE ATENTO! Segundo Cotrim (2002) a Moral é o conjunto de normas, princípios e costumes que orientam o comportamento humano, tendo como base os valores próprios a uma dada comunidade ou grupo social. 11 beneficiam apenas um grupo pequeno ou muito restrito, é preciso haver leis que prefiram os interesses gerais. Se isso não acontecer, não haverá uma mudança nos costumes, pois as leis continuarão a permitir que os erros aconteçam. 12 Existem pensadores que defendem que o ser humano é sempre livre. Embora existem determinações externas e internas, fatores sociais e subjetivos, a liberdade de decidir sobre suas escolhas é superior à força dessas determinações. Um exemplo que poderia ser dado para entendermos essa noção seria a de dois irmãos que têm a mesma origem social, mas um se torna criminoso e o outro não. Vejamos o que o filósofo francês Jean-Paul Sartre disse sobre isso: “...Por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. […]Não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. É, portanto, pensadores que defendem que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo o que fizer.” Analisando o que Sartre escreveu, entendemos que, para ele: Não há determinismo, logo o homem é livre para decidir; Se é livre para decidir, não há desculpas ou justificativas para as ações do homem. Ele só age de tal modo quando quer agir assim; Por ser livre, o homem é responsável por tudo o que faz. Entre os pensadores que defendem a relação entre liberdade e determinismo, estão o holandês Espinosa e os alemães Marx e Engels. Segundo eles, não há uma exclusão entre as ideias de liberdade e de determinismo. Se há fatores objetivos que limitam a liberdade humana, como as leis, as normais, a situação social, é possível que, pela ação, esses limites sejam expandidos. Para isso, precisamos conhecer os determinismos e, quanto maior for o nosso conhecimento a respeito deles, maior será o nosso poder de ação sobre eles. Vejamos o que o filósofo Karl Marx disse sobre isso: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem como circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.” 13 1.2 Principais Doutrinas Éticas (filosófica) As questões éticas ocupam nosso mundo desde o início dos tempos. Costuma- se afirmar que, quando o homem passa a viver em sociedade, seus desejos e impulsos interiores passam a aflorar com mais intensidade, gerando os questionamentos que envolvem a relação com os outros integrantes da sociedade. Assim, os contornos éticos do ser humano passaram se desenvolver. Antes mesmo do início da Filosofia Antiga, cujo nascedouro foi a Grécia, povos mais antigos já tratavam se questões éticas, tais como os chineses e os egípcios, em especial no tocante à religião, ao trato com o povo e à forma de fazer as guerras a) Idade Antiga Sócrates Costuma-se afirmar que a origem da Ética vem dos estudos desenvolvidos por Sócrates. Nascido em Atenas, Sócrates é considerado o pai da Filosofia Moral e próprio precursor da Filosofia. O pensamento de Sócrates foi desenvolvido com base em análises da natureza humana e suas manifestações ético-sociais. Assim,Sócrates quebrou paradigmas vigentes à época, uma vez que a Filosofia então desenvolvida era baseada na visão do Cosmos e da Natureza. Neste contexto, um dos temas mais presentes no pensamento socrático era a VERDADE, como um dos principais integrantes da ÉTICA, que forjaria um juízo universal, com o potencial de direcionar a vida dos homens, tanto no plano pessoal quanto no plano político. A Ética de Sócrates tinha como questão principal a FELICIDADE, a quem denominava como o “bem supremo da vida”, ou a própria finalidade da vida. Assim, Sócrates entendia a natureza humana como fonte de manifestações ético-sociais, sendo que a verdade despontava como verdadeiro paradigma que deveria inspirar todos os homens de todas as Nações, tendo a felicidade como vetor de direcionamento a ser alcançada como própria essência da vida. 14 Segundo Julian Faria: A ética socrática reside no conhecimento e em vislumbrar na felicidade o fim da ação. Essa ética tem por objetivo preparar o homem para conhecer-se, tendo em vista que o conhecimento é a base do agir ético. Ao contrário de 15 fomentar a desordem e o caos, a filosofia de Sócrates prima pela submissão, ou seja, pelo primado da ética do coletivo sobre a ética do individual. Neste sentido, para esse pensador, a obediência à lei era o limite entre a civilização e a barbárie. Segundo ele, onde residem as ideias de ordem e coesão, pode- se dizer garantida a existência e manutenção do corpo social. Trata-se da ética do respeito às leis e, portanto, à coletividade. Na construção de seu pensamento, Sócrates jamais teve a pretensão de ensinar a quem quer que fosse. Para Sócrates, o conhecimento somente seria obtido a partir do reconhecimento da própria ignorância, tendo estabelecido as célebres expressões “eu só sei que nada sei” e “O ignorante supõe saber tudo. O sábio sabe que nada sabe”. Interessante observar que Sócrates não deixou nenhuma obra escrita, sendo seu pensamento divulgado posteriormente, em especial nas obras de Platão. Platão Conforme mencionado, coube a Platão, discípulo de Sócrates, divulgar em suas obras o pensamento do mestre. A Ética de Platão está direcionada a alcançar o BEM. Segundo Platão, somente com a prática do BEM podemos conhecer a ética e a política. Esta é característica bem marcada da Ética Platônica, posto que seu pensamento a direciona para a política. Platão defendia o desprezo aos prazeres da vida, as riquezas e as honras, ensinando que a vida humana deveria estar voltada essencialmente para a prática do BEM. No entanto, não descartava totalmente esses prazeres, posto que pregava a necessidade de equilíbrio entre elementos diversos que levariam a um mesmo fim. Por exemplo, a justa medida entre o prazer e a inteligência, é por meio deste equilíbrio que as ações humanas atingem o bem. Mas, importante ressaltar que, para Platão, o BEM não se realizava nas coisas materiais, mas em tudo que engrandecesse a alma. Para Platão, o BEM somente seria encontrado no mundo das ideias (conhecimento da verdadeira realidade). O escrito “O Mito da Caverna” retrata muito bem esse pensamento de Platão. Para ele, o indivíduo não nasce dotado de Ética, 16 sendo necessário que o Estado venha a intervir, por intermédio da Educação, para dotar o homem de Ética. Assim, a Ética seria fundamentada na LIBERDADE, razão pela qual o homem não nasceria já determinado a agir de acordo com princípios específicos, mas aprenderia a agir de maneira correta. Assim, o agir ético não seria 17 um dom natural do ser humano, mas sim decorrente de um processo educativo constante, complexo e, algumas vezes, doloroso. A Ética tem por base a liberdade, por isso o indivíduo não nasce determinado para agir conforme princípios categóricos, mas aprende-se a agir de maneira correta. A Ética de Platão tem por objetivo conduzir o indivíduo a alcançar o SUMO BEM, seno que, para tal, deverá ele desprezar os prazeres mundanos e incorporar as virtudes essenciais da alma humana. Aristóteles Aristóteles teve suas ideias fomentadas no pensamento de Platão, muito embora a partir daí tenha seguido caminhos opostos ao de seu mestre. Com uma ampla produção intelectual, revelando-se um pensador eclético, já que tratou sobre: o Física; o Ética; o Política; o Metafísica; o Retórica; o Poesia. Aristóteles formulou toda uma reflexão ética, partindo dos fenômenos que emergiam da Ciência Política, base da Ciência Social. A Ética Aristotélica vê o homem individual essencialmente como um integrante da sociedade, determinando, assim, o seu caráter político, alinhado à Ciência Social. Na ética aristotélica possui mais valor um cidadão formado nas virtudes, especialmente aquelas relacionadas ao conceito de Justiça, do que as prescrições objetivas estabelecidas pela lei. A Ética aristotélica realiza uma interpretação das ações humanas fundamentadas em análises de meio e de fim, resultando da definição de determinadas práticas humanas onde o conteúdo moral estará relacionado à prática de ações específicas. Tais ações devem ser implementadas não apenas por parecerem corretas aos olhos de quem as pratica, mas porque através dessas ações 18 o homem estará mais próximo do bem. Aristóteles, em seu livro “Ética a Nicômaco” (1097 b), afirma que esse bem supremo nada mais é do que a felicidade. Através das ações positivas, praticadas num contexto ético e moral, o homem materializa o bem, alcançando a felicidade: 19 (1097 b) Ora, parece que a felicidade, acima de qualquer outra coisa, é considerada como esse sumo bem. Ela é buscada sempre por si mesma e nunca no interesse de outra coisa; enquanto que a honra, o prazer, a razão, e todas as demais virtudes, ainda que as escolhamos por si mesmas (visto que as escolheríamos mesmo que nada dela resultasse), fazemos isso no interesse da felicidade, pensando que por meio dela seremos felizes. Mas a felicidade, ninguém a escolhe tendo em vista alguma outra virtude, nem, de uma forma geral, qualquer coisa além dela própria. Ressalte-se, no entanto, que estamos nos referindo à verdadeira felicidade, aquela que abranda almas e corações, e não à pseudofelicidade, que advém de conquistas e atitudes que massacram o semelhante e determinam um mórbido prazer ao algoz. Para Aristóteles, a VIRTUDE está centrada no JUSTO MEIO, ou seja, os extremos de qualquer situação devem ser descartados, buscando-se a chamada MEDIANIA. Assim, diante de determinada situação, que exige uma decisão, o indivíduo deverá buscar o equilíbrio (que não significa necessariamente exatamente o meio das opções), evitando os extremos. Tudo que é extremo não conduz à VIRTUDE. Epícuro Criador do Epicurismo, afirmou que a sabedoria, a honestidade e a justiça eram essenciais para uma vida feliz. Neste sentido, o objetivo da vida feliz é o PRAZER. No entanto, não devemos confundir o prazer mencionado por Epícuro com o prazer mundano. Para Epícuro, o verdadeiro prazer consistiria na tranquilidade do espírito, que conduziria ao grande fim da moral. Neste contexto, a ÉTICA seria a parte mais importante da Filosofia, uma vez que caberia a ela indicar o caminho da Sabedoria, da Honestidade e da Justiça, ou seja, o próprio caminho da felicidade. 20 ATENÇÃO. O Prof. João Francisco P. Cabral resume com precisão os contornos da Ética proposta por Epícuro (disponível em http://www.brasilescola.com/filosofia/a-etica- epicuro.htm 21 Segundo Epicuro, a posse de poucos bens materiais e a não obtenção de cargos públicos proporcionam uma vida feliz e repleta de tranquilidade interior, visto que essas coisas trazem variadas perturbações. Por isso, as condições necessárias para a boa saúde da alma estão na humildade. E para alcançar a felicidade,Epicuro cria 4 “remédios”: Não se deve temer os deuses; Não se deve temer a morte; O Bem não é difícil de se alcançar; Os males não são difíceis de suportar. De acordo com essas recomendações, é possível cultivar pensamentos positivos os quais capacitam a pessoa a ter uma vida filosófica baseada em uma ética. A felicidade se alcança através de poucas coisas materiais em detrimento da busca do prazer voluptuoso. O homem ao buscar o prazer procura a felicidade natural. No entanto é necessário saber escolher de modo que se evite os prazeres que causam maiores dores; quando o homem não sabe escolher, surge a dor e a infelicidade. O sábio deve saber suportar a dor, visto que logo essa acabará ou até mesmo as que duram por um tempo maior são suportáveis. A conquista do prazer e a supressão da dor se dão pela sabedoria que encontra um estado de satisfação interna. A virtude subordinada ao prazer só pode ser alcançada pelos seguintes itens: Inteligência – a prudência, o ponderamento que busca o verdadeiro prazer e evita a dor; Raciocínio – reflete sobre os ponderamentos levantados para conhecer qual prazer é mais vantajoso, qual deve ser suportado, qual pode atribuir um prazer maior, etc. O prazer como forma de suprimir a dor é um bem absoluto, pois não pode ser acrescentado a ele nenhum maior ou novo prazer. Autodomínio – evita o que é supérfluo, como bens materiais, cultura sofisticada e participação política; Justiça – deve ser buscada pelos frutos que produz, pois foi estipulada para que não haja prejuízo entre os homens. Enfim, todo empenho de Epicuro tinha como meta a felicidade dos homens. 22 Nos jardins (comunidade dos discípulos de Epicuro) reinava a alegria e a vida simples. A amizade era o melhor dos sentimentos, pois proporcionava a correção das faltas uns dos outros, permitindo as suas correções. Com isso, a moral epicurista é baseada na propagação de suas ações, pois ele não se restringiu apenas ao sentimento e ao 23 prazer como normas de moralidade, mas foi muito além de sua própria teoria, sendo o exemplo vivo da doutrina que proferia. Se tivéssemos que resumir a ideia da Ética de Epícuro, certamente sua célebre frase se encarregaria disso: “Faze tudo como se alguém te contemplasse.” Zenão Zenão, seguidor do estoicismo, que acreditava ser a VIRTUDE o grande fim da vida humana. Segundo essa ética estoicista, a virtude moral é constituída de conhecimento racional e força suprema, "no mundo acontece apenas o que Deus quer e o sábio deve aceitar o seu destino". O estoicismo é, portanto, uma forma de viver conforme a natureza, sendo seu tema fundamental a existência de uma ordem universal racional. Assim, segundo a enciclopédia virtual Wikipédia, para os Estóicos, “a felicidade consiste em viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo, devendo assim manter a serenidade e indiferença perante as tragédias e alegrias”. b) Idade Média A Ética na Idade Média é marcada pela influencia e regência da fé católica e suas doutrinas. Entre o século IV e o século XV, predomina a moral cristã. Deus é identificado com o Bem, a Justiça e a Verdade, e deve ser o modelo a ser seguido. Neste contexto dificilmente se concebe a existência de teorias éticas autônomas da doutrina da Igreja Cristã, dado que todas elas de uma forma ou outra teriam que estar de acordo com os seus princípios. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino são os principais filósofos da ética na Idade Média. O primeiro fundamentou a moral cristã, com elementos filosóficos da filosofia clássica, dizendo que a ética tinha por objetivo tornar os humanos em seres felizes, e 24 essa felicidade só seria atingida num encontro amoroso do homem com Deus. O segundo concorda com a essência da teoria de Santo Agostinho, mas fundamenta-se em questões levantadas por Aristóteles durante a Antiguidade 25 Clássica. Em toda a ética de S. Tomás de Aquino está presente o direito natural (jusnaturalismo). Existe uma lei eterna ― uma lei que governa todo o universo e que existe na lógica do surgimento desse universo. A lei natural que existe no Homem é um reflexo (ou uma “participação”) dessa lei eterna que rege o universo. c) Idade Moderna Na Idade Moderna, influenciada pelo Renascimento, a Ética passa a se distanciar dos preceitos cristãos e aproxima-se mais dos conceitos gregos. As bases da Ética passam a se fundamentar na razão, e ficou definida principalmente pelas regras, leis e normas impostas pela sociedade. A ascensão da burguesia influenciou muito nos fundamentos morais, visto que esta camada social gerou novas ideias e conceitos. Os filósofos dessa época pregavam que somente pela Ética era possível evitar conflitos entre o indivíduo e a sociedade. Nicolau Maquiavel, pensador do Renascimento, afirmou que os valores da Ética deveriam se constituir em orientação para os príncipes ou governantes. No entanto, afirma ele que, na realidade histórica, os governantes para serem eficientes na condução e na administração do Estado, precisam, com frequência, de utilizarem-se de meios não-éticos para governar. Por exemplo, precisam usar a violência contra seus inimigos e adversários se quiserem defender o Poder político. Posteriormente, outros pensadores, baseados em Maquiavel, afirmaram que os comportamentos éticos são possíveis nas relações entre os indivíduos. No plano das relações sociais e políticas, a Ética apenas seria possível caso não existisse desigualdade entre os homens e mulheres. Ou seja, a política apenas seria ética se houvesse igualdade de condições entre homens e mulheres. Enquanto as relações forem desiguais: Dominantes/dominados; Proprietários/não-proprietários; Ricos/pobres; 26 Os valores da Ética não podem ser inteiramente realizados. Para haver relações verdadeiramente éticas seria preciso que não haja interesses e conflitos antagônicos na sociedade. Isto não significa que não devamos lutar para que na 27 política as relações devam obedecer aos valores e ideais tradicionais pregados pela Ética em todos os tempos. Immanuel Kant – Königsberg – 1724/1804 “Como muitos outros filósofos, Kant pensava que a moralidade pode resumir- se num princípio fundamental, a partir do qual se derivam todos os nossos deveres e obrigações. Chamou a este princípio “imperativo categórico”. Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785) exprimiu-o desta forma: “Age apenas segundo aquela máxima que possas ao mesmo tempo desejar que se torne lei universal.” No entanto, Kant deu igualmente outra formulação do imperativo categórico. Mais adiante, na mesma obra, afirmou que se pode considerar que o princípio moral essencial afirma o seguinte: “Age de tal forma que trates a humanidade, na tua pessoa ou na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca apenas como um meio.” Quando Kant afirmou que o valor dos seres humanos “está acima de qualquer preço” não tinha em mente apenas um efeito retórico, mas sim um juízo objetivo sobre o lugar dos seres humanos na ordem das coisas. Há dois fatos importantes sobre as pessoas que apoiam, do seu ponto de vista, este juízo. Primeiro, uma vez que as pessoas têm desejos e objetivos, as outras coisas têm valor para elas em relação aos seus projetos. As meras “coisas” (e isto inclui os animais que não são humanos, considerados por Kant incapazes de desejos e objetivos conscientes) têm valor apenas como meios para fins, sendo os fins humanos que lhes dão valor. Assim, se quisermos tornar-nos melhores jogadores de xadrez, um manual de xadrez terá valor para nós; mas para lá de tais objetivoso livro não tem valor. Ou, se quisermos viajar, um carro terá valor para nós; mas além de tal desejo o carro não tem valor. Segundo, e ainda mais importante, os seres humanos têm “um valor intrínseco, isto é, dignidade”, porque são agentes racionais, ou seja, agentes livres com capacidade para tomar as suas próprias decisões, estabelecer os seus próprios objetivos e guiar a sua conduta pela razão. Uma vez que a lei moral é a lei da razão, 28 os seres racionais são a encarnação da lei moral em si. A única forma de a bondade moral poder existir é as criaturas racionais apreenderem o que devem fazer e, agindo a partir de um sentido de dever, fazê-lo. 29 Isto, pensava Kant, é a única coisa com “valor moral”. Assim, se não existissem seres racionais a dimensão moral do mundo simplesmente desapareceria.” d) Idade Contemporânea “O desenvolvimento tecnológico e as mudanças na sociedade trouxeram à Idade Contemporânea novas discussões a respeito da ética. As Revoluções, as mudanças, os avanços, que prometiam resolver os problemas de uns, causaram problemas a outros. Isso quebra os preceitos da ética. Mas surge a questão: até que ponto o indivíduo deve obedecer à ética? Por exemplo: Mentir seria antiético. Mas o que faria um general capturado pelo inimigo se fosse questionado sobre alguma estratégia de seu exército ou sobre a localização de alguma base militar secreta? Seria certo falar a verdade e prejudicar seus soldados e seu país. O exemplo pode parecer estúpido, mas é esse tipo de conflito que as questões éticas enfrentam hoje em dia. A ética imposta a sociedade vale mais do que o valores pessoais? A ética deve ser padronizada e imposta a todos? Afinal, o que é lícito e o que é ilícito?” Na verdade, a questão central da Ética nos tempos atuais está voltada para a necessidade de respostas a recentes questionamentos. O desenvolvimento tecnológico, em especial, trouxe soluções para diversos problemas, mas também trouxe novos problemas. As informações, de forma massificada, passaram a transitar em tempo real, com o advento da internet. Além disso, o acesso a informações no mundo todo passou a estar disponível em um simples clique no mouse do computador. As pessoas passaram a se relacionar virtualmente e numa rapidez sem igual. Porém, novas questões éticas são trazidas à discussão. Como deve ser o comportamento do indivíduo na rede mundial de computadores? Como se dirimir conflitos, ofensas, negociações fraudadas, computadores 30 invadidos, crimes cibernéticos? Da mesma forma, com os avanços das pesquisas, surge a questão da Bioética, envolvendo, em especial, o trato com os dados genéticos: é possível utilizar informações genéticas para fins de seleção ou eliminação em algum emprego? 31 Quem deve ter acesso aos dados genéticos? Enfim, as inúmeras possibilidades tecnológicas geram soluções a diversas questões, mas também geram novos problemas que precisam ser equacionados à luz dos princípios e valores. e) Escola de Frankfurt “A Escola de Frankfurt nasceu no ano de 1924, em uma quinta etapa atravessada pela filosofia alemã, depois do domínio de Kant e Hegel em um primeiro momento; de Karl Marx e Friedrich Engels em seguida; posteriormente de Nietzsche; e finalmente, já no século XX, após a eclosão dos pensamentos entrelaçados do existencialismo de Heidegger, da fenomenologia de Husserl e da ontologia de Hartmann. A produção filosófica germânica permaneceu viva no Ocidente, com todo vigor, de 1850 a 1950, quando então não mais resistiu, depois de enfrentar duas Guerras Mundiais. Ela reuniu em torno de si um círculo de filósofos e cientistas sociais de mentalidade marxista, que se uniram no fim da década de 20. Estes intelectuais cultivavam a conhecida Teoria Crítica da Sociedade. Seus principais integrantes eram: Theodor Adorno; Max Horkheimer; Walter Benjamin; Herbert Marcuse; Leo Löwenthal; Erich Fromm; Jürgen Habermas, entre outros. Esta corrente foi a responsável pela disseminação de expressões como ‘indústria cultural’ e ‘cultura de massa’. A Escola de Frankfurt foi praticamente o último expoente, o derradeiro suspiro da Filosofia Alemã em seu período áureo. Ela foi criada por Félix Weil, financiador do grupo, Max Horkheimer, Theodor Adorno e Herbert Marcuse, que a princípio a 32 administraram conjuntamente. Ernst Bloch e o psicólogo Erich Fromm acompanhavam à distância o despertar desta linha filosófica, que vem à luz justamente em um momento de agitação política e econômica vivido pela Alemanha, no auge da famosa República de Weimar. Seus membros seriam partícipes e observadores das 33 principais mutações que convulsionariam a Europa durante a Primeira Guerra Mundial, seguida por outros movimentos subversivos, dos quais ninguém sairia impune. Esta Escola tinha: Sede: o Instituto para Pesquisas Sociais; Um mestre, Horkheimer,, substituído depois por Adorno; Uma doutrina que orientava suas atitudes; Um modelo por eles adotado, baseado na união do materialismo marxista com a psicanálise, criada por Freud; Uma receptividade constante ao pensamento de outros filósofos, tais como Schopenhauer e Nietzsche; Uma revista como porta-voz, publicada periodicamente, na qual eram impressos os textos produzidos por seus adeptos e colaboradores. O programa por eles adotado passou a ser conhecido como Teoria Crítica. Os integrantes da Escola assistiram, surpresos e assustados, a deflagração da Revolução Russa, em 1917, o aparecimento do regime fascista, e a ascendente implantação do Nazismo na Alemanha, que culminou com um exílio forçado deste grupo, composto em grande parte por judeus, a partir de 1933. Esta mudança marcou definitivamente cada um deles, principalmente depois do suicídio de Walter Benjamin, em 1940, quando provavelmente tentava atravessar os Pireneus, temeroso de ser capturado pelos nazistas. Eles se tornam nômades, viajando de Genebra para Paris, então para os EUA, até se fixarem na Universidade de Columbia, em Nova York. A primeira obra produzida pelo grupo foi denominada Estudos sobre Autoridade e Família, gerada na Cidade- Luz, na qual eles questionam a real vocação da classe operária para a revolução social. Assim, eles naturalmente se distanciam dos trabalhadores, atitude que se concretiza com o lançamento do livro Dialética do Esclarecimento, lançado em 1947, em Amsterdã, que já praticamente elimina do ideário destes filósofos a expressão ‘marxismo’. Erich Fromm e Marcuse dão uma guinada teórica ao juntar os conceitos da 34 Teoria Crítica aos ideais psicanalíticos. Marcuse, que optou por ficar nos Estados Unidos depois da volta do Instituto para o solo alemão, em 1948, foi um dos integrantes da Escola que mais receptividade encontrou para sua produção intelectual, uma vez que inspirou os movimentos pacifistas e as insurreições 35 estudantis, fundamentais em 1968 e 1969, os quais alcançaram o auge no chamado Maio de 68. Por outro lado, Adorno, até hoje tido como um dos filósofos mais importantes da Escola de Frankfurt, prosseguiu sua missão de transformação dialética da racionalidade do Ocidente, na sua obra Dialética Negativa. Sua morte marca a passagem para o que alguns estudiosos consideram a segunda etapa da Escola, que encontra seu principal líder em Jürgen Habermas, ex-assessor de Adorno e, posteriormente, seu crítico mais ardoroso.” 1.3. Valores organizacionais a) Reflexão sobre o conceito de razão De facto, todo o ato de conhecimento inclui duas funções, percepção sensível e pensamento. Com isto não se devem querer distinguir duas faculdades humanas claramente definíveis. Os psicólogos estão cada vez mais convencidos de que percepção e pensamentonão se podem separar entre si Todavia, é claro que algumas das nossas experiências são predominantemente de natureza sensível; outras, pelo contrário, de natureza racional. É igualmente claro que os sentidos nos possibilitam um conhecimento de factos isolados, isto é, de dados determinados os quais, grosso modo, se encontram não-organizados e desconectados, enquanto a nossa razão tende para conceitos gerais e leis. (...). A Natureza consiste em elementos individualizados como seres, sons, sensações de paladar, objetos individuais, etc.; contudo, não hesitamos em a submeter a leis gerais; é o que acontece quando afirmamos possuírem todos os objetos massa ou todos os corpos próximos da terra estarem submetidos à atração universal. A experiência sensível não nos permite que façamos afirmações sobre «todos», enquanto a razão não se encontra disposta a captar os factos singulares no seu contexto concreto e temporal. (...) Mesmo uma reflexão sobre os objetos da vida quotidiana contém elementos 36 construtivos. Se penso numa árvore, não reproduzo apenas todas as qualidades preceptivas a ela ligadas; faço mais: a árvore percebida era um grupo de cores vistas, formas e, talvez, impressões tácteis e cinestésicas. À sua imagem da memória acrescento os caracteres da sua «exterioridade», da sua forma tridimensional e sua 37 existência durável. Especialmente a última é um componente construtivo das impressões visuais pois a árvore vista não continua a existir se eu desviar dela o meu olhar atento. O trânsito, operado na consciência, dos diferentes aspetos passageiros da árvore vista «em privado» para a vista «publicamente», isto é, para o objeto reconhecido por todos, realiza-se tão automaticamente que a diferença entre as duas árvores, a «privada» e a «pública» não é habitualmente considerada. (...) A experiência realiza-se de maneira a que seja completada e integrada, pela passagem do sensível e espontâneo para o racional e refletido. Mediante esta passagem, os elementos do dado recebem aspetos metódicos característicos e permitem ao pensamento dominá-los. Às propriedades dos simples dados dos sentidos é inerente uma certa imprecisão lógica e um entrelaçamento complicado que torna impossível uma classificação pura e simples dos dados na sua especificidade individual. (...) A via conducente ao saber metódico exige a introdução de construções. Estas são o elemento racional a que deve corresponder a experiência de facto. Um objeto exterior é a construção mais simples que utilizamos para a maioria dos conteúdos da percepção sensível. Outras são as formas geométricas, os números e a maioria dos conceitos específico-genéricos da física moderna. Sendo, à primeira vista, a razão tal como o bom senso, a coisa do mundo mais bem partilhada – ainda que nem todos a usem da mesma maneira – nada existe de mais imediato que o significado de razoável e de racional. Mas, olhando mais de perto a questão cai-se na conta de que a noção de razão é difícil de captar. Evoca simultaneamente um ideal, uma atitude e um método. Fala-se de razão como um sistema de princípios, que o século XVIII com Robespierre, diviniza; ou de um determinado processo de julgar os acontecimentos que nos dizem respeito; ou de uma regra de conhecimento. Vejamos apenas, a título de exemplo, alguns dos vários usos da palavra razão nos textos. A guerra interior da razão contra as paixões», diz Pascal, «fez com que aqueles que quiseram a paz se tivessem dividido em dois grupos. Uns quiseram renunciar às paixões e transformaram-se em deuses; outros quiseram renunciar à razão e 38 transformaram-se em brutos animais... Mas, uns e outros não o conseguiram, e a razão não deixa de estar presente tanto a acusar a baixeza e injustiça das paixões como a perturbar o descanso dos que a elas se entregam; as paixões permanecem vivas até naqueles que preferem renunciar-lhes» (Pascal, Pensées). 39 A razão de que fala Pascal é uma espécie de consciência que o Homem tem da própria dignidade e dos fins para que nasceu e continuamente lhe vai mostrando como que um modelo ideal daquilo que deve ser e fazer(...). Mas quando o mesmo autor afirma que a geometria nos mostra «o verdadeiro método de conduzir a razão»; que significar outra coisa; que é a faculdade de conhecer o verdadeiro. (...) Condorcet escreve (...): O rápido triunfo da razão e da liberdade vingou o género humano» (Condorcet, L’esprit géometrique). A razão, aqui, é a luz da inteligência descobrindo os princípios naturais do conhecimento certo e da ação justa. É o ideal para que se voltam os homens do século XVIII, contrastando-o com as perversões que denunciam na sociedade do seu tempo. Finalmente Renan, na sua Priére sur Acrópole, ao falar muito justamente da arquitetura efémera das catedrais, diz: São fantasias de bárbaros que pensam fazer algum bem fora das regras que traçaste, Razão, aos teus seguidores». (Renan, IX. Époque) Esta razão é simultaneamente um ideal w e um método, nome que Renam dá ao pensamento crítico bem elaborado, reconduzindo às dimensões do Homem as miragens que a fantasia se atreve a criar. Sem dúvida, podemos dizer que todos estes usos da palavra razão se interrelacionam, exprimindo talvez, para uma dada época, num determinado sector da civilização, uma maneira comum de pensar a situação do Homem perante os acontecimentos da própria história e das coisas de que deseja apropriar-se, pela especulação ou pela ação. É que a razão só pode definir-se utilmente num contexto; não é uma noção simples e imediatamente dada, mas um dos complexos culturais mais ricos de sentido como tema de observação e de reflexão. b) Racionalidade e ética A racionalidade será ética. A racionalidade ética será comunicacional. Perante 40 a heterogeneidade das formas de experiência, dos modos de compreensão do mundo, dos modelos de relacionamento social, enfim perante a diversidade na atribuição de sentido ao que nos rodeia e ao que inventamos como possível, impõe-se uma margem incompatível com definições prévias e rigorosas de valores, de sentidos, de verdades. 41 Não há leituras literais da realidade, não há fidelidade na apreensão do real. Percepcionamos o mundo como se, significamos como se, imaginamos como se. A estrutura da nossa relação com as coisas é sempre figurativa, resulta sempre de um trabalho criador do entendimento e da imaginação. No processo inevitável de figuração do mundo, atribuímos-lhe contornos, construímos metáforas, impregnamo-lo de linguagem - na forma como o percebemos e na forma como agimos sobre ele. Essa construção de figuras é acompanhada (filtra e é filtrada) por juízos éticos que ou nos conduzem no respeito pelas diferenças e na tolerância por outras formas de figuração do mundo ou nos bloqueiam num quadro de certezas de curtas dimensões e moldura demasiado apertada. A figuração é transfiguração quando abre ao outro, quando solicita para lá do imediato mediatizado pelo próprio, ou desfiguração quando rejeita as figurações alheias e empobrece, assim, as possibilidades de criação de sentido. A questão do outro é de tal modo instituinte da identidade subjetiva que marca decisivamente qualquer dos atos humanos. A inteligência é competência criadora na apreensão, na significação, na imaginação do mundo, ela apreende transformando, significa transformando, imagina transformando - porque atribui sentido, porque avalia, porque se transforma transformando. Todo este trabalho de criação é tributário do lugar reservado ao outro, ao “outro outro” e ao “outro no próprio”. Ensinar às crianças a diversidade nas línguas (há muitas formas de designar um coelho), nos comportamentos (há muitas formas de vestir e comer), nas visões do mundo (há muitas paisagens a descobrir),. . . é fazercom elas um exercício (semiótico, pragmático e ético) de compreensão e tolerância. A racionalidade será ética. A racionalidade ética será comunicacional. Comunicacional quer dizer tensional, atravessada por conflitos, por diferentes interpretações. Comunicar quer dizer gerir diferenças, pôr em comum pontos de vista, construindo um tempo e um espaço lógicos de troca, suportados, é certo, pelos tempos e espaços empíricos de cada interlocutor, mas de nível operatório mais complexo. Comunicar, nesse espaço e tempo lógicos, passa por um trabalho de bi codificação e bi-contextualização que permita justamente pôr em comum alguma coisa: referenciar e investir de sentido, 42 coreferenciar e cosignificar. A comunicação é alimentada por um estado de tensão entre os homens e entre os homens e as coisas. Estado de tensão que a comunicação tende ela própria a 43 alimentar num processo de diferimentos sucessivos e nunca resolvidos. A natureza tensional da comunicação é a sua condição de possibilidade. Mas é também a sua condição dramática. Pensar a racionalidade ética sem escamotear a sua dimensão comunicacional é inevitavelmente pôr em relevo a natureza conflitual dos procedimentos comunicacionais. Os consensos absolutos, por um lado, e as transgressões extremas, por outro, impossibilitam a comunicação, são condições mesmo de incomunicabilidade total. A racionalidade ética é, pois, incompatível com valores e limites definidos rigorosamente a priori, é incompatível com uma lógica do consenso disciplinadora das diferenças e singularidades, assim como é incompatível com a ausência de critérios orientadores da intercompreensão e convivência entre os homens. 1. Que lugar então para os juízos éticos? 2. Como conceber uma moral que preserve a lucidez perante a heterogeneidade? 3. Como definir referentes de acção no labirinto das diferenças? 4. Como definir valores que não ambicionem a hegemonia? 5. Como instituir direitos sem atropelar outros direitos? Estamos perigosamente no reino das aporias, dos paradoxos. Ponto final, abandonemos o problema? Declaremos a esterilidade da questão ou procuremos ainda pensá-la? De facto, tanto as exigências teóricas como as exigências práticas da vida impõem que se insista. Podemos estudar os procedimentos de validação e legitimação dos consensos; podemos tentar articular uma moral universalista (a da Europa?) - enquanto macroética - que não ameace a incomensurável pluralidade de formas de vida antes a proteja; podemos propor a solidariedade como valor fundamental; podemos instituir a resolução caso a caso dos conflitos... A reflexão contemporânea sobre a razão e sobre a ética é modelada pela incontornável importância atribuída à dimensão do fenómeno comunicacional. O logos não é uma entidade imutável, deve dar conta das contradições e mudanças que o atravessam quando atravessa a relação que estabelecemos com o mundo. 44 Os logos tradicional, tal como foi sistematizado pelos Gregos e confirmado pelo pensamento escolástico, seria essencialmente composto por três figuras (o trabalho de figuração atinge também a forma como o pensamento se pensa): a necessidade, a evidência e a proposição. 45 O ser é como é, as coisas são como o seu ser é (na versão ontológica) ou as categorias do conhecimento são universais (na versão epistemológica kantiana). Necessidade e universalidade. Necessidade e imutabilidade. As ideias primeiras e intuitivas são evidentes, elas definem o encadeamento lógico das outras ideias. Evidência e método. Evidência e verdade. A proposição é a forma inequívoca de expressão das verdades necessárias. Proposição e princípio da identidade. Proposição e princípio da não contradição. E, deste modo sistémico, organizado, estariam definidos as possibilidades e os limites do pensamento. A comunicação processar-se-ia entre consciências, a linguagem seria o instrumento que permitiria tornar público o pensamento: concepção pobre e elementar da comunicação que, de facto, postula mais a incomunicabilidade do que o seu oposto. Pensar hoje o pensamento e pensar hoje a ética implica abandonar essas três figuras. O ser e o não ser baralham-se, as evidências tornam-se insustentáveis, a proposição é substituída pelo jogo dos argumentos - e a dimensão comunicacional transforma-se assim no núcleo fundador de uma analítica do social. A figura da “relação”, na sua complexidade lógica e na sua abertura ao novo, é hoje a mais apropriada para pensar a racionalidade. Ela é a única capaz de impedir a afirmação de qualquer absoluto (ontológico ou ético). 46 2. Definição de Ética Empresarial 2.1. Ética nas Organizações a) Conceituação Segundo Joaquim Magalhães Moreira (Ética Empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1999, p. 28), a Ética Empresarial ou Ética nas Organizações pode ser conceituado como o comportamento da empresa – entidade lucrativa – quando ela age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela sociedade (regras éticas). Já vai longe o tempo em que as empresas resumiam suas ações à busca do lucro. Atualmente, para que tenha viabilidade, uma empresa deve primar pela chamada Ética Empresarial, professando condutas que ultrapassam as barreiras do mero interesse interno. Assim, as empresas devem primar pelo relacionamento saudável entre seus colaboradores; respeitar os direitos dos clientes; agir de forma honesta e proba em relação ao Estado; observar a responsabilidade social e ambiental. É todo este conjunto de boas práticas que vão formatar o conceito de Ética Empresarial. 47 b) Formação ética nas empresas Figura 1: Formação ética nas empresas Fonte: (SUNG, 2011). Para que uma empresa observe os procedimentos éticos em suas atividades, não basta a mera existência de recomendações a este respeito. Tampouco é suficiente a criação de um Código de Ética. A formação ética em uma empresa reveste-se de complexidade e deve ser buscada em todos os momentos. A máxima de que o exemplo vem de cima é o ponto de partida para a formação ética nas empresas. Não é possível exigir dos colaboradores que observem a ética e os bons procedimentos se a cúpula da empresa faz exatamente ao contrário. Uma empresa cuja cúpula não respeita os consumidores praticamente gera uma linha mestra de atuar de seus colaboradores, neste mesmo sentido. Assim, pouco importa se no papel a empresa se apresenta como gerenciadora de boas práticas, se na realidade despreza tais valores. Outro ponto importante é a contínua orientação e treinamento dos colaboradores, que devem ser treinados para observarem as boas práticas, em todos os sentidos, quer seja no relacionamento interno, quer seja no relacionamento com clientes, com outras Empresas, com a comunidade e com o próprio Estado. A busca pela excelência de comportamento deve ser um dos vetores primordiais da empresa, como base de uma formação ética. 48 O website “Significados” (www.significados.com.br) observa de forma bastante pertinente a relação de importância na formação Ética das Empresas. Vejamos: "A ética empresarial fortalece uma empresa, melhorando a sua reputação e tendo também um impacto positivo nos seus resultados. Uma empresa que cumpra determinados padrões éticos vai crescer, e vai favorecer a sociedade, os seus fornecedores, clientes, funcionários, sócios e até mesmo o governo. A ética empresarial é uma prática essencial de uma empresa, assim como a responsabilidade social e responsabilidade sócio-ambiental. Um dos grandes benefícios da ética empresarial é que ela é reconhecida e valorizada pelo cliente, sendo estabelecida uma relação de confiança. Essa relação, baseada na satisfação do cliente, vai originarlucro para a empresa, ajudando a que ela cumpra os seus objetivos. No entanto, a confiança com o cliente é uma coisa que demora algum tempo a conseguir, e pode ser perdida com algum erro cometido a nível empresarial. A ética empresarial é a razão de ser de uma empresa, e as empresas que não funcionam de forma ética, por exemplo, tentando ganhar dinheiro fácil enganando os clientes, estão condenadas ao fracasso." Figura 2: Fundamentos de Ética Organizacional 49 Fonte: (SUNG, 2011). 50 2.2. Perfil Ético das Organizações a) Características organizacionais Figura 3: Características organizacionais Fonte: (SUNG, 2011). No admirável mundo em que vivemos, pode-se constatar, sem dificuldade, que as organizações representam a invenção mais sofisticada e complexa de toda a história da humanidade. Elas são a base fundamental da invenção e reinvenção de todas as demais criações do ser humano. Ficamos encantados com as maravilhas criadas pelo conhecimento humano – máquinas e artefatos, como o computador, a nave espacial, o avião a jato, o telefone celular e outras tecnologias avançadas –, mas nos esquecemos de que todas essas invenções são criadas, desenvolvidas e produzidas dentro das organizações. Na verdade, todas as invenções modernas são produtos das organizações. Saco as organizações que projetam, criam, aperfeiçoam, desenvolvem, produzem, distribuem e entregam tudo o que precisamos para viver. Produtos, serviços, facilidades, entretenimento, informação, educação, inovações – tudo isso é continuamente gerado, desenvolvido, produzido e entregue por organizações. Na realidade, vivemos em uma sociedade de organizações. Tudo, ou quase tudo, é inventado, projetado, feito e produzido por organizações. Além disso, nascemos em organizações, aprendemos nelas, trabalhamos nelas, dependemos delas e até́ morremos nelas. Vivemos a maior parte de nosso tempo e de nossas vidas dentro 51 delas. É incrível a quantidade e a heterogeneidade de organizações: empresas, bancos, financeiras, escolas e universidades, hospitais, lojas e comércio, shopping centers, supermercados, postos de gasolina, restaurantes, estacionamentos, 52 organizações não governamentais (ONG), igrejas, repartições públicas, exército, fábricas, rádio e televisão, além de uma interminável lista de exemplos. As organizações produzem bens, serviços, energia e comunicação das mais diversas naturezas e características. Produzem entretenimento e conveniências, proporcionam informação, geram e distribuem conhecimento, cuidam da saúde e da educação e, acima de tudo, impulsionam a inovação e facilitam o desenvolvimento tecnológico e social. Mais ainda, elas agregam valor e criam riqueza. O desenvolvimento de uma nação baseia-se primariamente no desenvolvimento e na atuação de suas organizações. São as organizações que criam o desenvolvimento humano, econômico e social; são elas que tocam a economia de cada país para a frente. Não existem duas organizações iguais. Todas são profundamente diferentes entre si. Há organizações de todos os tamanhos possíveis, desde as micro-organizações – como microempresas ou peque- nas e simples empresas individuais – até enormes e complexas organizações multinacionais e globais que estendem sua influência pelo mundo todo e ultrapassam as fronteiras dos países. Existem organizações compostas de um invejável patrimônio físico e recursos tangíveis, mas também organizações virtuais que não requerem os tradicionais conceitos de espaço e tempo para funcionar. A diversidade e heterogeneidade das organizações é uma realidade simplesmente impressionante. Um belo exercício mental seria tentar listar todos os tipos de organizações que conhecemos. Contudo, as organizações fazem parte de um mundo maior, que é a sociedade em que vivemos. Elas não existem isoladas, ou insuladas, nem são autossuficientes. Elas não vivem sozinhas. Na verdade, elas são sistemas atuando dentro de sistemas maiores e estão inseridas em um meio ambiente constituído por uma enorme variedade de outras organizações. De modo geral, as organizações dependem umas das outras para poderem sobreviver e competir em um complexo mundo de organizações. Elas fornecem insumos e recursos para que outras organizações possam funcionar e trabalhar. Há, portanto, um incrível universo de organizações. O dinâmico intercâmbio 53 entre elas ultrapassa as fronteiras dos países e se projeta em escala global. A interdependência organizacional é cada vez maior graças às alianças estratégicas entre organizações que se relacionam em redes integradas e complexas. Afinal, a União faz a forca. E isso se aplica principalmente às organizações. Na verdade, elas 54 tanto colaboram entre si com relação a recursos e investimentos, como também competem na disputa de clientes e mercados. Um complicado jogo de interesses para alcançar seus objetivos, que podem ser comuns ou antagônicos. O comportamento organizacional volta-se para o estudo da dinâmica e do funcionamento das organizações. Seu foco central está em compreender como a organização funciona e como ela se comporta. Como as organizações são basicamente diferentes entre si, o comportamento organizacional se preocupa em definir as A bases e as características. A ética é um assunto polêmico, que gera uma série de conflitos no âmbito organizacional principalmente quando relacionado às rotinas internas das empresas onde ocorre grande parte das atividades, então o que fazer para driblar este assunto e interagir de forma positiva com a equipe, sendo que as opiniões são divergentes e interferem diretamente sobre a imagem das organizações? Sendo o ambiente de uma empresa um local onde existem diversas personalidades distintas, e ocorrem diferentes situações de trabalho no qual a ética profissional é colocada em prova, a empresa precisar ter um gestor que saiba identificar as habilidades de cada colaborador e, ainda assim ser cauteloso para estabilizar e controlar o comportamento da equipe para extrair seus talentos empreendedores de forma a beneficiar a empresa. A competitividade e a busca pelo crescimento para atingir um alto posto provoca comportamentos duvidosos quanto à índole do indivíduo. Desenvolver a equipe e conhecer seus componentes é fundamental para poder traçar um perfil ético do seu funcionário, para compará-lo com o da empresa, mas no momento da contratação é impossível dizer se o "colaborador" é bom ou não, então o gestor deve acompanhar sua trajetória e suas atitudes no ambiente de trabalho para visualizar os valores éticos de cada pessoa da equipe, desta forma mantendo o equilíbrio ético e a harmonia na empresa. Para ser um gestor é preciso ter capacidade e a habilidade de interpretar fatos e reverter situações de conflito tendo sensibilidade de compreender o comportamento individual de cada pessoa, para descobrir e o caráter e, analisar as responsabilidades 55 e se comprometimento ético como profissional. Para poder exercer essa posição de destaque e dirigir uma equipe o gestor deve ser ético com seus princípios e com os valores que a empresa apresenta para manter e cultivar os valores éticos da organização perante os novos colaboradores. 56 Como, por exemplo, são muito comuns nas empresas do ramo de vendas no setor comercial, situações em que um colega usa de artimanhas pra ficar com a venda do outro, assim aumentando sua comissão, essa atitude provoca a desunião na equipe e prejudica o objetivo maior do setor que é alcançar a meta prevista. Esse tipo de situação desvirtua e provoca a insatisfação para com a empresa por permitir que isto ocorra, sendo assim, é inadmissível que o gestor fique neutro, ele deve se posicionar de forma ética eliminando esses comportamentosnegativos, e estimulando positivamente o espírito de equipe, assim trabalhando em conjunto para obterem os resultados programados pela organização. Em uma organização quando surge uma vaga e há possibilidade de qualquer colaborador ocupar esta posição, pode-se analisar e perceber o caráter de cada indivíduo e saber se ele é ético ou não ao investigar suas competências e atitudes para conseguir o cargo em questão. Se ele é objetivo, prático e sabe resolver questões de imediato sem comprometer seus princípios éticos e nem passar por cima de seus colegas por ambição. Ter o discernimento para expressar suas reais habilidades sem comprometer sua ética pessoal é fundamental na conquista de uma oportunidade de crescimento. A ética depende dos valores que cada ser humano cultiva ao longo de sua vida, sendo assim é difícil dizer o que é teoricamente correto no ambiente organizacional .Para tanto é preciso extrair o melhor de cada situação para edificar e solidificar os princípios de uma empresa, o que é essencial no seu crescimento, assim sendo ético com sigo mesmo e com a sociedade. b) Ética X lucratividade Os economistas do século XVIII, acreditavam que, a ação de cada indivíduo era dirigida por uma “mão invisível”, a fim de contribuir para o bem-estar geral e o bom funcionamento do sistema econômico. Considerando que o lucro é um produto da atividade da empresa que cabe a seus investidores, seja por serem distribuídos, seja por representarem recurso a ser 57 reinvestido na sociedade, há, também sob esse aspecto, grande interesse nessa informação. Ao tecer comentários sobre o conceito de formação do resultado do exercício, os estudiosos do assunto, Iudícibus, Martins e Gelbeck explicam: “A lei veio 58 definir com clareza, através da Demonstração do Resultado do Exercício, o conceito de lucro líquido, estabelecendo critérios de classificação de certas despesas”. Assim é feita a distribuição do lucro entre os sócios de uma empresa, normalmente, o lucro líquido será distribuído aos sócios da empresa de forma proporcional ao capital social de cada um deles. Szuster (1985, p.1) assim se expressa sobre a relação entre capital e lucros: “A manutenção de uma estrutura que permita a obtenção de lucros futuros é considerada necessária”. Entende-se que o capital a ser mantido é aquele que permita a realização completa das operações a que ela se destina, dentro das condições do mercado em que ela atua, e que assegure os rendimentos líquidos mínimos esperados pelos acionistas e investidores, ao final de cada período. Assim, a importância do lucro distribuível pode ser resumida nos seguintes aspectos principais: É uma necessidade da empresa, para manter nela mesma os investimentos já efetuados pelos seus acionistas, sócios e investidores; É ponto fundamental de planos estratégicos e operacionais. Objetivando a continuidade da empresa e necessidade de novas expansões; É a informação mais importante para os sócios, acionistas e investidores, para comparação com seus custos de oportunidade. Pode-se notar que os problemas básicos da economia estão no pêndulo da relação entre consumidor e produtor: a um, o benefício do produto; a dois, o lucro do produto. Os bens a serem produzidos nascem pela procura dos consumidores no mercado e o investimento do produtor visa à lucratividade daquela produtividade. Com efeito, o lucro é parte do sistema mercantilista e existe para fomentar a produção de produtos necessários ao consumo humano e por ele desenvolvido. O lucro é o resultado de todo investimento da empresa em determinado produto ou produtos. Nesta relação, a ética na distribuição de lucratividade é também pressupostos de devolução aos consumidores da preferência do produto comercializado e pela empresa produtora. O lucro ético seria o reinvestimento de parte do resultado do lucro em ações 59 sociais visando prospecção da imagem da empresa como empresa do bem, praticando e não só discursando sobre ética empresarial. O lucro ético não se resume só no resultado final da empresa deve ser aplicado também nas fases de captação, produção e beneficiamento do produto da empresa bem como, na relação entre 60 empregado-empresa, na distribuição do produto e objetivamente na relação com o consumidor, praticando atos e ações positivas tendo como princípios fundamentais não só o crescimento e obtenção voraz do lucro mas, principalmente, a devolução ao consumidor de toda credibilidade depositada em seu produto, com práticas do bem. Figura 4: Aplicabilidade da Ética em Relação aos Lucros da Empresa – Lucro Ético Fonte: (SUNG, 2011). Segundo o prof. Ercílio A. Denny: a necessidade é de sobrevivência. Quanto mais demonstrar ética em seus procedimentos mais lucratividade. Atualmente empresa “ética” é sinônima de empresa aceita pelo mercado, desaguando na aceitação mercadológica e consequentemente em mais vendas e lucratividade. O tema busca trazer a lume, um dilema nas últimas décadas. O lucro com ética ou o lucro ético. O lucro é, sem dúvida o objetivo principal da empresa, mas, dicotomizar responsabilidade social à este lucro, configura a imagem de empresa como empresa do bem e é isso que o consumidor busca em dias atuais, uma empresa que pratica políticas responsáveis e com fundamento sustentável. Neste mister, buscaremos abordar não a ética científica em lato sensu mas mergulharemos na ética intrínseca e extrínseca da empresa, partindo da moral pessoal e social visando à efetividade do necessário e salutar lucro ético. Sendo a ética, a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. A moral positiva, por ser uma coletânea de regras e comportamentos incutidos na racionalidade do ser humano, voltadas a prática do bem comum, o seu reflexo na empresa dá-se de forma natural quando se pratica medidas protetivas, valorativas e empíricas da atividade humanística, sobretudo quando se persegue o lucro. 61 Vários filósofos já debulharam ética em seus diversos seguimentos, mas cabe destacar a classificação do categórico filósofo contemporâneo, prof. Eduardo Garcia Máynez onde dividiu a ética em: ética empírica, ética dos bens, ética formal e ética valorativa. Abordaremos aqui a ética empírica ou subjetivista que assim classifica-se 62 como sendo o comportamento pessoal do agente, ou seja, a ética se formando a partir da vontade pessoal buscando apenas satisfazer a vontade de um líder e não abranger a necessidade dos liderados. Grotescamente é nesse diapasão que os tempos atuais pairam, em vontades quase que pessoais na formação da ética da empresa. Deflagra- se em alguns momentos até um código de ética empresarial, mas a vontade pessoal do gestor continua a prevalecer diante da necessidade de uma ação mais democrática na conduta da empresa. A ética é sobretudo, a exteriorização da moral positiva intrínseca do gestor e, se a empresas não atua com ética em relação as suas atividades empresariais e em seus diversos seguimentos, é fruto de uma formação amoral ou imoral ou tão-somente um aculturamento social incutido por diversos seguimentos de educação e conhecimento no último século, fazendo com que, o foco da prosperidade pessoal e empresarial com fincas apenas em resultados únicos da empresa, e não da coletividade a qual está envolvida, criou a guerra superavitária aonde, empresa boa era que tinha bons lucros e crescimento na bolsa de valores, independentemente de sua política de atuação, método este, incutido pela política capitalista aonde o resultado é sinônimo apenas de lucro ético. Em dias atuais, propor lucro ético está se apartando da utopia mais, ainda é uma meta pouco aplicada pois, a cultura mercadológica ainda olha com desconfiança e, quiçá, medo de ter investimentos em medidas anômalas a capitação de lucrode capital face a rigidez e instabilidade do Estado em relação as políticas econômicas nacionais. Vejo que o Estado ao praticar políticas econômicas com segurança e responsabilidade tributária com incentivos fiscais quando a empresa atua com a subsunção de atividades que a princípio eram de competência do Estado, faz com que seja mais uma das barreiras á prática do providente lucro ético. A implementação da lucratividade ética passaria a contribuir não só apenas para o desenvolvimento da empresa, mas também para o Estado com a diminuição de ações estatais ostensivas tais como: segurança saúde, educação, meio ambiente e demais outras. Em síntese, a necessidade de abordagem do tema é de fundamental 63 importância para os dias atuais visto que, o lucro, visto de forma ampla, não pode ser só resultado positivo financeiro mas sim, toda ação positiva praticada pela empresa voltada ao desenvolvimento e crescimento mercadológico como também a evolução 64 de seus agregados físico, financeiros e institucionais, visando o crescimento coletivo da sociedade. Tal aplicabilidade reveste-se dos pilares muito bem demonstrados pelo ilustre prof. Pablo Jiménez Serrano que são: Convivência; Respeito; Responsabilidade social. Estes visam sobretudo a valorização do ser humano partindo da convivência coletiva para pessoalidade. Adam Smith, já declarava em sua obra Riqueza das Nações que a empresa deve produzir também lucro ético não só lucro econômico, deve atuar em ações de responsabilidade social visando vida longa no mercado em virtude da reciprocidade benéfica dos consumidores em relação as políticas aplicadas pela empresa que, preocupada não só com o lucro financeiro, mas também com o bem estar e satisfação de seus consumidores. De forma direta buscar-se-ia o bem interno de seus funcionários, fornecedores e consumidores e, de forma indireta, com a vida em relação aos investimentos sociais assim como, do resgate do meio ambiente da cultura e da distribuição democrática dos lucros obtidos pelo faturamento. c) Perfil de uma empresa ética A relevância do comportamento ético no meio empresarial. No universo A ação de responsabilidade social com aplicação de políticas sociais em diversos seguimentos é a devolução social do investimento do consumidor no produto produzido pela empresa. 65 empresarial, sempre que uma decisão é tomada, esta imediatamente influência e impacta o ambiente negocial, bem como afeta os que estão ligados a organização. As ações refletem sob os resultados obtidos e são fator preponderante para definir se a empresa terá um desenvolvimento positivo ou negativo, além de interferir na 66 representatividade ou no papel desempenhado por tal empreendimento, perante os que estão ligados a ela, bem como diante da sociedade. As decisões empresariais não são inócuas, anódinas ou isentas de consequências: carregam um enorme poder de irradiação pelos efeitos que provocam. Em termos práticos, afetam stakebolders, os agentes que mantem vínculos com dada organização, isto é, os participes ou as partes interessadas (SROUR, p.50, 2003). As ações de uma organização empresarial, são capazes de impactar em um plano interno os seus funcionários, gestores, cotistas ou acionistas, e pessoas que possuem ligação direta com a empresa. Em um plano externo, essas ações podem impactar os clientes, fornecedores, concorrentes e outros grupos da sociedade. Desse modo, é imprescindível que as empresas busquem agir de forma ética, nas negociações cotidianas, no relacionamento com seus trabalhadores, clientes e fornecedores, pois como explicitado anteriormente, há uma responsabilidade proporcional ao papel desempenhado pelo empreendimento. Ao entrar no mercado competitivo, uma empresa coloca a disposição do público sua marca, seu nome e uma imagem que necessita ser preservada e transmitir confiança. Esses são fatores que contribuem para a evolução e crescimento de um empreendimento, bem como, a ausência dos mesmos, pode trazer sérios problemas de incredibilidade. Confrontando-se com uma situação complexa, é necessário que a corporação empresarial solucione o problema apresentado de maneira que não desabone seu perfil ético perante os seus clientes e a sociedade, caso contrario estará sentenciada ao declínio. Por intermédio de um laboratório de sua propriedade (Veafarm), foram produzidos em 1998 1 milhão de comprimidos inócuos de um remédio indicado para o tratamento de câncer de próstata (Androcur da Schering do Brasil). Dez pacientes que faleceram na época podem ter tido a morte acelerada por terem ingerido o placebo. Revelado o fato, a denúncia da falsificação foi repercutida pela mídia e teve efeitos devastadores sobre a empresa. Desde logo, 19 pessoas foram indiciadas pela justiça no processo de falsificação. Seis meses depois, as lojas mantidas em importantes 67 shoppings paulistanos (Ibirapuera, Morumbi e Iguatemi) tiveram suas portas fechadas; metade dos andares da própria loja matriz, no centro de São Paulo, foi desocupada; o faturamento caiu 80%; dos 200 funcionários que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50; os fornecedores deixaram de receber em dia (SROUR, p.54, 2003). 68 A sociedade tem desempenhado um papel importante na avaliação dos produtos que consome ou serviços de que usufrui, o que tem exigido das empresas cada vez mais, atenção para as ações e decisões que toma e que podem influir na forma como é enxergada socialmente. Pautar pela ética tem sido uma necessidade e não apenas uma escolha, levando em consideração que o consumidor tem deixado de lado, empreendimentos que tenham perfil ético duvidoso. A bem da verdade, em ambiente competitivo, as empresas têm uma imagem a resguardar, uma reputação, uma marca, e em países que desfruta, de Estados de Direito, a sociedade civil reúne condições para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsáveis ou inidôneas. Os clientes, em particular, ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes, dispõem de uma indiscutível capacidade de dissuasão, uma espécie de arsenal nuclear. A cidadania organizada pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsável, em detrimento, até, de suas convicções íntimas (SROUR, p.52, 2003). Destarte, compreende-se que nos tempos atuais a sociedade civil tem de certo modo, influenciado e outras vezes até pressionado, empresas a agir ou a optar por posturas éticas, para não correr o risco de ter sua imagem prejudicada frente aos que consomem o produto ou serviço oferecido pelas mesmas. Aprendemos que a empresa é um conceito legal, definida como uma entidade legal, mas, na prática, ela é também uma entidade social. Ela é uma organização de pessoas onde as ações de uns têm efeito sobre o bem-estar e os direitos dos outros (NASH, p.25, 1993). É inegável que os empreendimentos necessitam dispor de responsabilidade e respeito, para com todos os que direta ou indiretamente estão a eles vinculados, partindo deste ponto, é por tanto compreensível que haja a devida cobrança pelo cumprimento de uma postura ética e adequada. Um outro ponto a ser levado em consideração e destacado, é que assim como a ausência de atitudes éticas podem desestabilizar e prejudicar uma empresa, a soma continua de ações éticas, pode elevar sua reputação e favorecer grandemente o seu crescimento no mercado. No meio empresarial, atitudes que resultem em uma 69 reputação respeitável, influem também para a solidificação e perpetuação de um empreendimento. Vejamos a seguir um exemplo real da influência de ações e comportamentos éticos no crescimento de uma corporação: 70 A Johnson & Johnson possuía 35% do mercado de analgésicos nos
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