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OS REFLEXOS DO RACISMO NO FUTEBOL

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OS REFLEXOS DO RACISMO NO FUTEBOL
Fernanda Rocha[footnoteRef:1] [1: Fernanda Rocha- Licencianda do curso de História na Universidade Federal do Rio Grande-FURG.] 
INTRODUÇÃO
O seguinte estudo tem por objetivo evidenciar atos racistas cometidos no futebol, buscando um recorte delimitarei a realidade dos campos europeus atualmente, envolvendo jogadores brasileiros. Para tanto utilizarei como base, o exemplo do caso do jogador mais famoso do Brasil atualmente, Neymar Júnior, que sofreu ofensas em um campeonato Francês em que os clubes Paris Saint –Germam (PSG) e Olympique de Marseille, em setembro de 2020, desferidos pelo zagueiro espanhol Álvaro González, acusado de ter chamado Neymar de “ mono”, que em espanhol tem a conotação pejorativa para “ macaco”, o caso teve repercussão mundial e o apoio ao jogador brasileiro em diversas redes sociais. No episódio o jogador ofendido foi acusado de agressão ao jogador espanhol, que negou as acuses e o caso foi abafado pelos árbitros e as punições retiradas. Em entrevista publicada no jornal “O dia” Neymar fala um pouco sobre o caso: ” 
 "Ontem me revoltei, fui punido com o vermelho porque quis dar um cascudo em quem me ofendeu. Achei que não poderia sair sem fazer nada porque percebi que os responsáveis não fariam nada. Não percebiam ou ignoravam. Durante o jogo queria dar a resposta como sempre, jogando futebol. Os fatos mostram que não consegui, me revoltei...”
(O Dia | 14/09/2020)
O caso de teve grande repercussão e foi a julgamento pelos comitês avaliando a conduta dos árbitros, jogadores envolvidos e as imagens fornecidas pelos clubes. Apesar das punições , multas, expulsões etc..., os casos de racismo no futebol europeu (mesmo nos clubes brasileiros) são rotineiros, neste mesmo seguimento do caso supracitado, em dezembro do mesmo ano, em partida contra Istanbul Basaksehir, o quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu foi acusado de ter desferido ofensas ao jogador camaronês Pierre Webó que foi expulso após ter reclamado do tratamento recebido, o ato culminou na revolta dos jogadores que incitados por Demba Ba atacante senegalês do Istanbul Bsaksehir e também por Neymar do PSG, se negaram a seguir a partida e se retiraram do campo, e se negaram a voltar a partida até o arbitro ser retirado do jogo, o mesmo nunca havia acontecido até então, marcando atitude histórica na Liga dos campeões(UEFA).
A fim de buscar uma base histórica que paute o racismo nos clubes brasileiros e estrangeiros, farei uma breve contextualização sobre como se deu a entrada de negro nos clubes de futebol, em recorte o Brasil, para tanto utilizarei como base documental a partir de uma pesquisa bibliográfica por meio de revisão, o artigos do portal Geledés :O negro no futebol brasileiro: Inserção e racismo, o artigo Intolerância e racismo no futebol: a racialização do outro de Thales de Almeida Nogueira Cervi e por fim o trabalho de Fábio Henrique Alves da Silva e Paula Ângela de Figueiredo e Paula, intitulado Os Impactos do Racismo na Subjetividade do Jogador de Futebol Negro. 
 Ao final como proposta do trabalho busco soluções reais e efetivas no que tange os casos não isolados de racismo em nossa país, uma questão estrutural, política e social agarrada ao senso de valores e cultura do brasileiro.
INSERÇÃO DO NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO
O futebol como um dos eventos esportivos mais praticados, consumidos e festivos do mundo carrega em sua história, assim como os demais eventos culturais organizados pelas sociedades, sua ideologias, crenças, costumes e pensamentos arreigados à época pertencente de seus apreciadores, nesse sentido preconceitos e descriminações também estão presentes. A História do futebol brasileiro, sua chegada ao Brasil, vem carregada de exclusão e discriminações raciais, segundo matéria escrita por Marcelo Medeiros Carvalho, publicada no Portal Geledés, as teorias raciais sobre miscigenação, inteligências e impactos das “ misturas”, estavam em alta no final do século XIX, época em que os primeiros entusiastas do esporte, jovens da elite, a partir de influências estrangeiras, trazem ao país os ornamentos como chuteiras e bolas, formam clubes ou espaços destinados à prática, exclusivos a estes membros, negros e pobres não tinham acesso a estes centros, assim como a maioria de outros espaços habitados pela elite.
Porém está situação não foi de todo duradoura, clubes brasileiros já por volta de 1904, como o Vasco da gama e o Bangu, dentre outros, já tinham em sua diretoria e campo composto por negros, claro que essas entidades sofreram rechaços por parte dos clubes da elite dominante, que buscavam por meio da criação de várias prerrogativas a retirada destes homens dos clubes ou a impossibilidade de novas contratações.
O autor do artigo, ainda nos conta que o caminho para a aceitação, ou melhor, não proibição da participação de negros no futebol brasileiro passou por diversos percalços, até de fato se efetivar a profissionalização dos atletas jogadores, houve desde a proibição de contratação dos clubes imposta ao (CBD), o diretório responsável pela organização dos jogos das ligas ,pelo presidente da República na década de 20, Epitáfio Pessoa, até o caso de contratação de homens negros como funcionários fantasmas, chamados “operários- jogadores” para que pudessem garantir seu sustento teriam de ser funcionários dos donos dos clubes , ou seja, as imposições e implicações a fim de expulsar negros do convívio social da elite atuante, não tinham extenuantes. 
Uma década mais tarde, por volta de 1933 os entraves para contratação de amadores ainda é presente, vários clubes então integram um sistema “hibrido” permitindo a inserção de amadores, claro que essas decisões não são tomadas com base na bondade ou reflexão dos donos de clubes, mas sim pelo reflexo das atuações dos clubes estrangeiros que atraiam jogadores habilidosos brasileiros, principalmente os negros. Neste momento, jovens negros passam a compor a maior parte dos times, por apresentarem os melhores rendimentos baseados nas suas técnicas desenvolvidas nos campos de “ várzea”, e o futebol passa então a ser porta de ascensão para jovens pobres e negros. Marcelo finaliza:
 Hoje o futebol no país é um esporte tipicamente popular, jogado por pessoas de origens sociais distintas. Contudo, ele é percebido de maneiras também distintas. Para um negro pobre, com poucas oportunidades, o futebol, muitas vezes, apresenta-se como um importante caminho de invenção de mercado para ascensão social. O que pouco mudou ao longo dos anos foi o racismo. Incidentes de discriminação racial ainda são comuns nos estádios, assim como restrita presença de negros fora das quatro linhas, nos cargos de treinadores ou nas direções dos principais clubes do Brasil.
(CARVALHO. M.M.2018)
Racialização do OUTRO E seus impactos 
 O racismo e racialização do outro, altera, serializa e modifica as identificações sociais dos seres constituintes de uma sociedade, afetando auto estima, auto confiança. A ideia de branqueamento diminui assim a formação de uma identidade racial, já que busca negativar o negro, criando uma hierarquia.
 
 A maioria da população brasileira, negra e branca, introjetou o ideal do branqueamento. Esse ideal, inconscientemente, interfere no processo de construção da identidade da pessoa negra, pois o sentimento de solidariedade e pertencimento de grupo entre a população negra acaba por se enfraquecer 
(SILVA E PAULA 2020) APUD (Pinto & Ferreira, 2014, p. 262).
Estudos do ramo da psicologia atestam que atos de racismo e descriminação afetam na subjetividade do sujeito negro, podendo levar até mesmo ao adoecimento psíquico, no artigo: “ Os Impactos do Racismo na Subjetividade do Jogador de Futebol Negro” (SILVA E PAULA 2021), com base no que consta nas cartilhas de orientação aos profissionais de psicológica da CFP (Conselho Federal de Psicologia), em alguns casos a pessoa vítima de racismo tem a percepção do quanto o ato racista a impactou e começa a lutar contra,se fortalecendo com o apoio de movimentos sociais, políticos, buscando se auto afirmar como sujeito negro fortalecendo sua identidade, podemos utilizar como exemplo o caso exposto nessa pesquisa, envolvendo o jogador Neymar. Em outros casos a vítima prefere negar que a atitude do outro foi preconceituosa afim de não lidar com os sentimentos provocados pela descriminação, e pôr fim a terceira tendência é o dilaceramento psíquico, que leva à traumas, requer tratamentos e a busca por ações afirmativas que ajudem no processo de reconstrução psíquica. (Conselho Federal de Psicologia, 2017). APUD (SILVA E PAULA 2020).
As conclusões do estudo supracitado evidenciam que no Brasil se tem uma ideia de democracia dentro dos esportes, pautadas no desempenho do atleta, uma ideia meritocrática, mas que não se mostra verifica, visto que a integração de negros nas comissões técnicas, equipes médicas e departamentos jurídicos de esportes são muito pequenas.
Em outro estudo com a temática “ racialização” o autor Thales de Almeida Nogueira Cervi, nos traz um outro panorama sobre os atos de racismo nos campos, por parte das torcidas, se tem a ideia equivocada de que nos campos de futebol, o discurso com os xingamentos se resumem a piada, ou brincadeira, já que o esporte causa grandes emoções nos expectadores, tais atitudes revelam segundo o pesquisador que as normas institucionalizadas na sociedade, banem racistas de manifestarem suas ideologias carregadas de intolerância no convívio social comum, vendo o estádio como campo livre de criminalização, visto as punições serem brandas ou sequer cogitadas.
 Por meio do riso, o brasileiro encontra uma via intermediária para extravasar seu racismo latente, contornando a censura e a reflexão crítica sobre seu conteúdo e sobre o alcance de satisfação simbólica que o riso propicia, ao mesmo tempo em que ele não compromete sua autorepresentação como não racista. (p.698) APUD(CERVI,2014).
CONCLUSÃO
Como pudemos identificar, atos de descriminação e racismo acontecem nas mais diversas esferas e não deixariam de estar presentes no futebol, sendo a esporte parte da construção cultural de diversas sociedades, que sendo assim vem carregado de ideologias e práticas, como o racismo que acaba sendo ou banalizado ou velado. E se torna preocupante pensar que por meio de comportamentos tidos como “ brincadeira” ou atos ligados ao esporte que é de fato, corporal e até de certo forma violento, se pratiquem discursos e práticas racistas como se o estádio fosse “ território livre”, que como já apontamos causa uma série de consequências traumáticas, danos psicológicos e na construção de identidade e identificação. 
A princípio se tinha a ideia de propor soluções sócio educativas, efetivas de combate ao racismo, uma espécie de intervenção, porém dada a análise histórica e social, creio que tais medidas seriam de fato paliativas, enxergo afinal o racismo como uma espécie de vírus, circulando, uma herança enraizada em nossa sociedade, uma questão de classe, de gênero de ideologia .... Casos como o de Neymar, e de outros tantos jogadores negros , e claro fora do âmbito do esporte seguirão se repetindo, sendo assim creio que se medidas educativas, de conscientização e afins não surtem o efeito esperado, e que deveriam , então as medidas punitivas ganhem peso, já não se pode mais relativizar ou banalizar casos que não são isolados, mas muito recorrentes em nossa sociedade, sendo assim, acredito que a movimentação deva vir por meio da efetivação, cumprimento das leis, que se tornem mais rígidas e que doa no bolso, no cerceamento da liberdade de pessoas racistas. 
REFERÊNCIAS:
- Formato Documento Eletrônico (ISO)
CERVI, Thales de Almeida Nogueira. Intolerância e racismo no futebol: a racialização do outro. Consciência [online]. 2014, n.159 [citado 2021-03-23], pp. 1-5. Disponível em: <http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-76542014000500010&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1519-7654.
- CARVALHO. Marcelo de Medeiros. O negro no futebol brasileiro: inserção e racismo-. Portal Geledés. (2018). Disponível em:
< Https://www.geledes.org.br/o-negro-no-futebol-brasileiro-insercao-e-racismo>.
-JORNAL O DIA. “Aceito minha punição. Que o ofensor também seja punido", diz Neymar”. 14/09/2020. Disponível em: <https://esporte.ig.com.br/futebol/2020-09-14/aceito-minha-punicao-que-o-ofensor-tambem-seja-punido-diz-neymar.html>.
Silva. Fábio Henrique Alves da, Paula. Paula Ângela de Figueiredo e, Os Impactos do Racismo na Subjetividade do Jogador de Futebol Negro. In Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40 (n.spe), e230122, 1-12. Disponível em : https://doi.org/10.1590/1982-3703003230122.

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