Prévia do material em texto
NEGÓCIOS www.grupoa.com.br Interessados em PPTs, Manual do Professor e banco de testes (em inglês) podem procurar pela página do livro em www.grupoa.com.br e clicar em “Material para o professor”. O professor deverá se cadastrar para ter acesso. Fundamentos de Negociação Fundam entos de N egociação Roy J. Lewicki David M. Saunders Bruce Barry 5ª edição 5ª edição 5ª edição Fundam entos deN egociação Lew icki, Sau n ders & B arry Os fundamentos de uma negociação em um texto sucinto e ao mesmo tempo completo. Profundos conhecedores do tema, os autores dividem sua abordagem em três grandes segmentos: BLANCHARD & COLS. Liderança de alto nível BURCHELL & COLS. A melhor empresa para trabalhar CONANT & NORGAARD Touchpoints: criando conexões poderosas a cada momento KETS DE VRIES, M. F. R. Reflexões sobre caráter e liderança Sexo, dinheiro, felicidade e morte LAX & SEBENIUS Negociação 3-D MICHELLI, J. A. A experiência Zappos NAYAR, V. Primeiro os colaboradores, depois os clientes PASCALE & COLS. O poder do desvio positivo SPIRO & COLS. Gestão da força de vendas, 12. ed. SUTTON, R. I. Bom chefe, mau chefe: como ser o melhor... e aprender com o que há de pior ULRICH & COLS. A transformação do RH ULRICH & COLS. Competências globais de RH ULRICH & COLS. RH de dentro para fora WEBBER, A. C. M. Afinal, onde estão os líderes? O líder em xeque WEISS, A. Coach de ouro Consultor de ouro Palestrante de ouro www.grupoa.com.br 0800 703 3444 R oy J. Lew icki D avid M . Sau n ders B ruce B arry Roy J. Lewicki David M. Saunders Bruce Barry Fundamentos de Conheça tambémNegociação nos primeiros quatro capítulos são tratadas a gestão de conflitos, a dinâmica das barganhas competitiva e integrativa e a escolha de estratégias; a seguir, o texto se detém nos aspectos psicológicos fundamentais de uma negociação: a percepção, a cognição, a emoção, a comunicação, o poder, a influência e o julgamento ético; por fim, os autores examinam os contextos sociais das negociações e o seu efeito na evolução do processo. No encerramento, uma lista de boas práticas para os negociadores é também a oportunidade para uma reflexão mais ampla sobre o tema. 5ª ed. A Bookman Editora é um dos selos editoriais do Grupo A Educação, empresa que oferece soluções em conteúdo, tecnologia e serviços para a educação acadêmica e profissional. O Grupo A Educação publica com exclusividade obras com o selo McGraw-Hill Education em língua portuguesa. Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 L671f Lewicki, Roy J. Fundamentos de negociação [recurso eletrônico] / Roy J. Lewicki, David M. Saunders, Bruce Barry ; tradução: Félix Nonnenmacher. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8055-386-4 1. Administração de empresas. 2. Negociação. I. Saunders, David M. II. Barry, Bruce. III. Título. CDU 658 Lewicki_Iniciais_5ed_eletronica.indd iiLewicki_Iniciais_5ed_eletronica.indd ii 06/06/14 08:5106/06/14 08:51 Capítulo 6 A comunicação Objetivos 1. Analisar o que é comunicado em uma negociação e o modo como as pes- soas se comunicam. 2. Discutir as maneiras como a comunicação pode ser melhorada em uma negociação. 3. Desenvolver ferramentas práticas para melhorar os processos de comuni- cação em qualquer negociação. A essência da negociação se reduz a uma forma de comunicação interpessoal. Os pro- cessos de comunicação, verbais ou não, são essenciais à concretização das metas de uma negociação e à solução de conflitos. Este capítulo examina os processos pelos quais os negociadores comunicam seus próprios interesses, posições e metas e enten- dem os da outra parte e da negociação como um todo. Apresentamos uma discussão sobre o que é comunicado em uma negociação e analisamos como as pessoas se co- municam nesse processo. O capítulo termina com uma exposição de alternativas para melhorar a comunicação, sobretudo nas etapas finais de uma negociação. O que é comunicado em uma negociação? Uma das questões fundamentais examinadas pelos pesquisadores da comunicação e da negociação é: o que é comunicado em uma negociação? Para responder a esta per- gunta, os pesquisadores recorrem a diversos métodos. Os principais são a gravação em áudio ou vídeo de dramatizações de negociações e a análise dos padrões de co- municação observados nesses eventos. Em um estudo sobre o tema, os pesquisadores gravaram 60 minutos de negociações entre três executivos de duas empresas do setor do petróleo em vídeo.1 Os resultados do estudo mostraram que mais de 70% das tá- ticas verbais adotadas por compradores e vendedores eram integrativas. Além disso, compradores e vendedores tinham uma tendência a adotar a reciprocidade de com- portamentos – quando uma parte recorria a uma tática integrativa, a outra respondia com tática do mesmo tipo. A maior parte da comunicação em uma negociação não envolve as preferências do negociador.2 Embora as proporções de conteúdos integrativo e distributivo variem em função das questões em discussão, está claro que o teor da comunicação tem res- ponsabilidade limitada nos desfechos de uma negociação.3 Por exemplo, uma parte Lewicki_06.indd 146Lewicki_06.indd 146 15/04/14 11:3115/04/14 11:31 Capítulo 6 A comunicação 147 decide não revelar algumas coisas (os motivos para ter escolhido um fornecedor di- ferente) e, por essa razão, a outra (o fornecedor excluído) talvez não entenda por que alguns resultados não se verificam. Nas seções a seguir discutimos cinco categorias distintas de comunicação observadas no decorrer de negociações e analisamos a vali- dade da noção de que mais comunicação é sempre melhor que menos. 1. As ofertas, as contraofertas e as motivações As comunicações que veiculam ofertas e contraofertas estão entre as mais importantes das negociações.4 Os negociadores têm preferências definidas e, sempre que atuam de acordo com essas preferências, estão agindo de modo racional. Essas preferências dão uma boa medida das motivações do negociador, as quais também são comunicadas ao longo do processo e exercem forte influência nas ações da outra parte e nos resultados da negociação. As estruturas concebidas para explicar o papel da comunicação na ne- gociação se baseiam nas hipóteses de que (1) a comunicação de ofertas é um processo dinâmico (as ofertas variam com o tempo), (2) o processo de apresentação de ofertas é interativo (os negociadores influenciam uns aos outros) e (3) vários fatores internos e externos (por exemplo, limitações de tempo, normas de reciprocidade, alternativas, pressões exercidas pelas entidades representadas) definem a direção que a negociação vai tomar.5 Dito de outro modo, o processo de apresentação de ofertas e contraofertas é dinâmico e interativo, e está sujeito a restrições de natureza situacional e ambiental. Nele, os parâmetros da negociação se alteram constantemente, o que acaba estreitan- do a variação de barganha e direcionando a discussão a um ponto de acordo. 2. As informações sobre alternativas A comunicação na negociação não está limitada à troca de ofertas e contraofertas. Um dos temas importantes investigados nas pesquisas diz respeito ao modo como o compartilhamento de informações com a outra parte influencia o processo de nego- ciação. Por exemplo, uma melhor alternativa para um acordo negociado (BATNA) é suficiente para dar ao negociador uma vantagem sobre a outra parte? A BATNA de uma parte deve ser comunicada à outra? As pesquisas sugerem que a existência de uma BATNA altera vários aspectos de uma negociação: (1) um negociador que possui uma BATNA interessante define preços de reserva mais altos, em comparação com a outra parte; (2) um negociador que negocia com uma parte que possui uma BATNA atraente define preços de reserva mais baixos; (3) quando ambas as partes estão cien- tes de que uma delas tem uma BATNA promissora, esta obtém um resultadomais po- sitivo na negociação.6 Logo, os negociadores devem informar a outra parte de que têm uma BATNA atraente, se esperam obter benefícios completos. É preciso lembrar que o estilo e o tom usados para transmitir informações sobre uma BATNA atraente são importantes. Um tom educado (ou mesmo sutil) para informar à outra parte que você tem uma boa alternativa pode alavancar os resultados que você pretende obter, sem indispô-la. Por outro lado, o negociador que se gabar de ter uma BATNA interessante de modo impositivo ou condescendente pode ser visto como agressivo e ameaçador. 3. As informações sobre resultados A pesquisadora Leigh Thompson e seus colaboradores investigaram os efeitos do compartilhamento de informações sobre as avaliações que negociadores fazem do Lewicki_06.indd 147Lewicki_06.indd 147 15/04/14 11:3115/04/14 11:31 148 Fundamentos de negociação próprio sucesso.7 O estudo se concentrou no modo como vencedores e perdedores avaliaram os desfechos alcançados com suas negociações (os vencedores foram defi- nidos como negociadores que receberam mais pontos na simulação de uma negocia- ção). A equipe de pesquisadores descobriu que vencedores e perdedores avaliaram os próprios resultados de modo análogo quando não tinham ideia do desempenho da outra parte; contudo, quando sabiam que o negociador da outra parte havia se saído melhor ou se sentia satisfeito com os resultados obtidos, essa avaliação tinha um tom menos positivo. Outro estudo sugeriu que, mesmo quando os negociadores sabem que a outra parte não se saiu muito bem, a satisfação com os resultados é menor em comparação com uma situação em que essas informações não estão disponíveis.8 Vis- tos em conjunto, esses resultados sugerem que os negociadores deveriam ser cautelo- sos ao compartilharem seus resultados, ou mesmo dividirem suas reações positivas com a outra parte, sobretudo se negociarão com ela no futuro. 4. Os relatos sociais Outro tipo de comunicação que ocorre em uma negociação são os “relatos sociais”, usados para explicar algo à outra parte, sobretudo quando é preciso dar notícias ruins.9 Três tipos de explicações são importantes: (1) as explicações sobre circuns- tâncias amenizantes, nas quais os negociadores sugerem que não tiveram alternativa para as posições assumidas; (2) as explicações sobre circunstâncias desobrigantes, nas quais esclarecem suas posições a partir de uma perspectiva mais ampla e sugerem que, embora a posição atual possa parecer negativa, ela deriva de motivações posi- tivas (como no caso de um erro não intencional, por exemplo); (3) as explicações de reenquadramento, nas quais os resultados são explicados com uma mudança de con- texto (por exemplo, um prejuízo no curto prazo ou um lucro no longo prazo).10 Os negociadores que usam diversas explicações têm maiores chances de obter resultados melhores, e os efeitos negativos de desfechos insatisfatórios podem ser amenizados apresentando explicações sobre cada um.11 5. A comunicação sobre processos Por fim, é possível adotar comunicações específicas sobre o processo de negociação propriamente dito, isto é, o grau em que ele evolui bem ou quais procedimentos de- vem ser implementados para melhorar a situação. Algumas dessas comunicações são conversas aparentemente triviais, as quais “quebram o gelo” ou geram harmonia entre os negociadores. Contudo, está claro que algumas modalidades de comunicação não são apenas úteis: elas são essenciais (como na intensificação de um conflito, quando os negociadores correm risco de deixar que as hostilidades impeçam o andamento do processo). Uma das estratégias usadas envolve atrair a atenção para as ações conten- ciosas da outra parte e explicitamente rotular o processo como contraproducente.12 Os negociadores que tentam sair de uma espiral conflituosa precisam resistir ao instinto de pagar as comunicações hostis da outra parte na mesma moeda. Como qualquer ser humano, o negociador pode se sentir tentado a ir em frente, apresentando ofertas e contraofertas na busca de um resultado, quando o indicado seria fazer uma pausa e “perder” tempo discutindo um processo que não está dando certo. Às vezes as ações necessárias se resumem a esse intervalo na deliberação substantiva e a uma maior atenção ao processo. Lewicki_06.indd 148Lewicki_06.indd 148 15/04/14 11:3115/04/14 11:31 Capítulo 6 A comunicação 149 Concluímos essa seção discutindo o que é a comunicação na negociação, com três perguntas. Os negociadores são consistentes ou adaptativos? Os negociadores competentes são capazes de adaptar suas estratégias e estilos à situa- ção de barganha específica em que se encontram. Porém, embora essa aptidão pareça boa, as pesquisas indicam que, em relação aos padrões de comunicação, os negocia- dores tendem a ser mais consistentes em suas estratégias, evitando alterá-las.13 Um negociador reage a apenas uma pequena parcela dos indícios comunicados pela outra parte e, nesse processo, usa uma variedade estreita de respostas possíveis. Além disso, essa variedade diminui ainda mais com o avanço da negociação, o que significa que as modalidades de negociação ficam mais raras à medida que o processo evolui.14 Tudo indica que, com relação a decisões relativas à comunicação, muitos negociadores pre- ferem as alternativas mais conhecidas e evitam improvisos. O que foi dito no começo da negociação é importante? Uma parcela relativamente pequena do que é comunicado em uma negociação pode ter efeitos significativos nos resultados desejados. Os pesquisadores descobriram que as “fatias finas” do processo de negociação – os padrões de comunicação vistos nos primeiros cinco minutos – têm um efeito expressivo nos acordos que as partes fecha- rão.15 O tom da conversa durante os primeiros cinco minutos é importante: quanto maior a ênfase na expressão oral de um negociador, com variações no tom e no volu- me, piores os resultados que ele obterá e melhores os resultados da outra parte.16 Em outras palavras, o controle “da palavra” – sem excessos ou manifestações emocionais – é importante já no começo da negociação. O controle da conversa no início do processo tem influência positiva no desem- penho geral de um negociador; porém, ele ajuda as partes a atingirem resultados inte- grativos? Existem evidências de que a obtenção de ganhos mútuos é influenciada pelo que acontece no começo da negociação. Um estudo descobriu que os negociadores que vão além da “pose” e trocam informações sobre questões e prioridades antes da negociação avançar têm ganhos mútuos mais representativos.17 Uma quantidade maior de informações sempre é boa? Algumas pesquisas sugerem que o excesso de informações durante a negociação pode na verdade ser prejudicial aos negociadores. Alguns pesquisadores chamam isso de “efeito informação é ponto fraco”.18 Os negociadores que conhecem as preferências completas de ambas as partes podem ter mais dificuldade em determinar desfechos justos, comparados aos negociadores que não têm essas informações. Existem evidências de que grandes volumes de informações não se traduzem au- tomaticamente em melhores resultados. Um estudo descobriu que a quantidade de informações trocadas não melhorou a percepção de uma parte sobre as preferências da outra.19 A influência da troca de informações precisas sobre os resultados de uma negociação não é tão direta quanto se pensa, isto é, a mera troca de informações não é garantia de uma compreensão imediata das preferências da outra parte nem de re- sultados melhores. Lewicki_06.indd 149Lewicki_06.indd 149 15/04/14 11:3115/04/14 11:31 150 Fundamentos de negociação Como as pessoas se comunicam em uma negociação Embora possa parecer óbvio que o modo como os negociadores se comunicam é tão importante quanto o teor de suas comunicações, as pesquisas também examinam ou- tros aspectos relativos às maneiras nas quais a comunicação evolui em uma negocia- ção. Nesta seção, discutiremos três aspectos associadosaos modos de se comunicar: as características da linguagem usada pelos comunicadores, o uso de comunicação não verbal na negociação, e a seleção de um canal de comunicação para o envio e recebi- mento de mensagens. As características da linguagem Em toda negociação, a linguagem opera em dois níveis: o nível lógico (para propostas ou ofertas) e o nível pragmático (que envolve variáveis de semântica, sintaxe e estilo). O significado traduzido por uma proposta ou declaração é uma combinação de uma mensagem superficial lógica e diversas mensagens pragmáticas (isto é, sugeridas ou inferidas). Dito de outro modo, não são apenas o conteúdo e o modo como este é comunicado que importam: as informações adicionais, veladas ou mais profundas, que se pretende transmitir ou que são percebidas também têm relevância. As ameaças ilustram bem essa condição. É comum reagir não apenas à substância de uma declara- ção ameaçadora, como também (e, muitas vezes, com mais intensidade) às mensagens não verbalizadas que possam insinuar algo sobre a probabilidade de a ameaça ser le- vada à cabo, sobre o relacionamento, ou sobre as chances de as partes negociarem no futuro. O Quadro 6.1 mostra como as ameaças, as quais, já no começo da negociação, podem ser diretas o bastante para compelir a outra parte a fazer uma concessão, na verdade são complexas e nuançadas quando vistas em termos dos elementos específi- cos de linguagem que as compõem. Não importa se a intenção é comandar, compelir, vender, persuadir ou obter um comprometimento: o modo como as partes se comunicam em uma negociação pare- ce depender da capacidade de o falante codificar pensamentos adequadamente e de o ouvinte compreender e decodificar as mensagens enviadas. Além disso, o uso de expressões idiomáticas e coloquialismos muitas vezes é problemático, sobretudo em cenários de negociações transculturais. O sentido pretendido pode estar claro para o falante, mas confuso para o ouvinte (por exemplo, para alguns norte-americanos a frase “estou disposto a ficar até o último criminoso* ser enforcado” é uma declaração de comprometimento positivo. Contudo, para outros – e para pessoas de outras cul- turas – ela é no mínimo confusa). Se o sentido estiver claro, a escolha de uma palavra ou metáfora pode traduzir uma falta de sensibilidade ou gerar um sentimento de ex- clusão, como é comum quando negociadores do sexo masculino expressam interesses usando metáforas esportivas (“bem, é a quarta cobrança de falta e ainda não marca- mos. É hora de acertar o gol”). Curiosamente, como um negociador muitas vezes não está consciente das falhas de comunicação em sua própria cultura, ele demonstra mais preparação para lidar com esses problemas quando negocia com pessoas de culturas diferentes do que quando negocia com alguém de mesma nacionalidade. * N. de T.: A expressão original é “until the last dog is hung”. Nela, o termo dog (cachorro) é usado na acepção de fora da lei, bandido ou criminoso comum. Lewicki_06.indd 150Lewicki_06.indd 150 15/04/14 11:3115/04/14 11:31 Capítulo 6 A comunicação 151 Por fim, a escolha das palavras não apenas sinaliza uma posição, como também de- limita e prevê a conversa que se segue. O pesquisador Tony Simons examinou padrões linguísticos da comunicação nas negociações e fez duas descobertas importantes:20 1. A parte cujas declarações comunicavam os seus interesses tanto sobre a subs- tância da negociação (o objeto dela) quanto sobre o relacionamento com a outra parte obtinha resultados melhores e soluções mais integrativas do que a parte cujas declarações eram voltadas ou para a substância, ou para o relacionamento. 2. Já no começo da negociação os padrões de expressão verbal ajudam a resolver questões que permitem que as partes encontrem possibilidades integrativas no decorrer do processo. O uso de comunicação não verbal Uma parcela expressiva da comunicação interpessoal ocorre por vias não verbais. Exemplos incluem expressões faciais, linguagem corporal, movimentos de cabeça e Quadro 6.1 Todas ameaças são iguais? Uma ameaça é uma mera declaração sobre coisas ruins que acontecerão a outras pessoas caso se mostrem resistentes, ou é algo mais? Gibbons, Bradac e Busch (1992) identificam cinco dimensões linguísticas das ameaças: 1. A linguagem polarizada: o uso de palavras positivas quando se fala das próprias posições (por exemplo, “generosas”, “razoáveis” ou “justas”) e palavras negativas ao se referir às posições da outra parte (“muquiranas”, “irracionais”, “autoritárias”). 2. O imediatismo verbal: a medida da presteza, da urgência ou da distância psicológica relativa que as partes pretendem transmitir. Quando é intenso, o imediatismo verbal tem o objetivo de coagir a outra parte (“OK, então vai ser assim”, ou “eu tomei muito cuidado para…”); quando atenuado, a meta é gerar uma noção de distância ou afastamento (“bem, o caso é o seguinte…”, ou “é preciso tomar cuidado para…”). 3. A intensidade da linguagem: quando elevada, traduz sentimentos fortes sobre o interlocutor (como em afirmativas ou o uso frequente de blasfêmias); quando é reduzida, demonstra sentimentos amenos. 4. A diversidade lexical: o domínio de um vocabulário rico e variado; quando elevada, denota uma posição confortável e a competência com a linguagem; quando limitada, traduz desconforto, ansiedade ou inexperiência. 5. O estilo poderoso: quando é atenuado, manifesta-se como autoproteção, hesitação ou civilidade; quando é intenso, revela-se como intenção de dominação e como clareza, firmeza de expressão e autoconfiança. Segundo Gibbons, Bradac e Busch, as ameaças são mais verossímeis quando incluem descrições negativas polarizadas da outra parte e de suas posições, e quando são expressas com imediatismo, intensidade, diversidade lexical e um estilo diferenciadamente poderoso. Fonte: Adaptado de P. Gibbons, J. J. Bradac e J. D. Busch. “The Role of Language in Negotiations: Threats and Promises”, in L. Putman and M. Roloff (eds.), Communication and Negotiation (Newbury Park, CA: Sage, 1992), pp. 156-75. Lewicki_06.indd 151Lewicki_06.indd 151 15/04/14 11:3115/04/14 11:31 152 Fundamentos de negociação tom de voz. Alguns atos não verbais, chamados de comportamentos assistentes, têm importância especial na conexão com outras pessoas durante uma interação coorde- nada, como uma negociação. Esses comportamentos revelam que você está escutando e preparando a outra parte para receber a sua mensagem. Discutiremos três compor- tamentos assistentes: o contato visual, a posição corporal e o estímulo. Faça contato visual. As pessoas insinceras e covardes têm dificuldade de estabe- lecer contato visual. Os poetas dizem que o olho é a janela da alma. Essa sabedoria popular ilustra a importância do contato visual. Em geral, estabelecer contato visual é uma das maneiras de mostrar que você está prestando atenção e escutando algo importante. Claro que é possível escutar atentamente mesmo sem estar olhando para a outra pessoa. Na verdade, talvez olhar em outra direção enquanto alguém fala seja mais fácil, porque você tem a chance de se concentrar nas palavras faladas, sem se confundir com informações de natureza visual. Porém, a questão é que, ao não fazer contato visual, um negociador não está dando indícios de que esteja prestando aten- ção e escutando o que é dito. No processo de persuasão, é importante fazer contato visual durante a verbali- zação da parte mais importante da mensagem.21 A combinação de recursos verbais e não verbais nesse momento enfatiza a importância da mensagem transmitida. Além disso, o contato visual é importante não apenas ao falar, como também ao receber uma comunicação.22 No entanto, é preciso reconhecer que os padrões descritos aqui são características da sociedade ocidental. Em outras partes do mundo prevalecem padrões diferentes. Por exemplo, manter o olhar baixo é sinal de respeito em alguns países da Ásia.23 Ajuste a posiçãodo corpo. Os pais frequentemente alertam seus filhos para a pos- tura ao sentarem ou se manterem de pé, sobretudo em situações formais como a es- cola, a igreja ou jantares. A ordem “sente-se ereto!” muitas vezes é acompanhada do comando “e preste atenção!” Ao darem essas instruções, os pais estão ensinando seus filhos uma convicção amplamente aceita na sociedade – a postura corporal indica se a pessoa está ou não prestando atenção ao que está sendo dito. Para dar certeza de que está escutando, o negociador deve manter-se empertigado, ligeiramente inclinado para frente, e olhar seu interlocutor direto nos olhos.24 Se o negociador aceita e acata a mensagem da outra parte, é preciso ter cautela para não demonstrar desrespeito com a posição do corpo (por exemplo, reclinando ou girando o corpo, ou pondo os pés sobre a mesa).25 Em contrapartida, cruzar os braços, curvar a cabeça, franzir o cenho e contrair as sobrancelhas podem ser interpretados como sinais fortes de desrespeito ou desaprovação.26 Encoraje ou desencoraje, não verbalmente, a outra parte naquilo que ela diz. É possível sinalizar atenção e interesse no que a outra parte está dizendo por meio de diversos comportamentos simples, como acenar com a cabeça, fazer um gesto simples com a mão, ou murmurar “aham” para sinalizar que você compreendeu a mensagem e que a outra parte pode ir em frente, por exemplo. Na verdade, você pode incentivar alguém a continuar falando sobre assuntos diversos simplesmente acenando afirma- tivamente com a cabeça durante a exposição. Um breve contato visual ou um sorriso e um aceno com a cabeça são sinais de incentivo. Em contrapartida, uma careta, um olhar zangado, uma negativa com a cabeça ou uma mão posta no peito simulando um gesto de dor são sinais de desaprovação. Lewicki_06.indd 152Lewicki_06.indd 152 15/04/14 11:3115/04/14 11:31 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.