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1 AUDITORIA EM SAÚDE NO SISTEMA PÚBLICO BRASILEIRO 1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 2 2. AUDITORIA EM SAÚDE: CONCEITOS.................................................................. 3 2.1 Conceitos ............................................................................................................ 3 3. HISTÓRICO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ..................................................... 5 4. AUDITORIA NO SETOR PÚBLICO ...................................................................... 10 5. AUDITORIAS FISCAIS ......................................................................................... 10 5.1 Auditorias do Sistema de Informação ............................................................... 11 5.2 Auditorias Ambientais e Sociais ........................................................................ 11 5.3 Auditoria Hospitalar .......................................................................................... 12 5.3.1 Necessita Para Auditoria Médica ............................................................... 13 5.3.2 Objetivos .................................................................................................... 14 5.3.3 Importância ................................................................................................. 14 5.4 Envolvidos na Auditoria .................................................................................... 14 5.5 Ciclo de Auditoria .............................................................................................. 15 5.6 Manutenção de Melhorias................................................................................. 17 5.7 Ética .................................................................................................................. 17 5.8 Analisando Dados de Auditoria ......................................................................... 17 5.9 Diferentes Tipos de Dados ............................................................................... 18 5.10 Implementando a Mudança .............................................................................. 18 6. AUDITORIA NO SUS ............................................................................................ 20 6.1 Financiamento do SUS ..................................................................................... 23 7. A AUDITORIA E O PROFISSIONAL DE SAÚDE AUDITOR ................................ 27 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 29 REFERÊNCIAS...............................................................................................................34 2 INTRODUÇÃO Auditoria em saúde tem como objetivo maior, melhorar a qualidade do atendimento ao paciente. Tem sua origem no Reino Unido, sendo idealizada por profissionais médicos que buscavam proporcionar um atendimento de melhor qualidade à clientela, chamando a atenção para as deficiências na prestação de cuidados, na tentativa de frear a prática ineficiente e ineficaz (JOHNSTON et al., 2001). No decorrer da história, o conceito de qualidade acompanhou a evolução do homem, sendo associado ao progresso político, econômico e cultural de cada época. Atualmente, este conceito está relacionado a uma função gerencial e como elemento essencial para a sobrevivência das instituições, independente de sua área de atuação. A área da saúde não se manteve alheia a esta evolução. “Garantia de qualidade em saúde refere-se à elaboração de estratégias tanto para a avaliação da qualidade quanto para a implementação de normas e padrões de conduta clínica” (NEPOMUCENO; KURCGANT, 2008, p.666). Essa nova visão em busca da qualidade nos serviços de saúde tornou-se um fenômeno mundial em razão da conscientização de que a qualidade é indispensável para a sobrevivência tanto dos serviços de saúde quanto daqueles que dele fazem uso (POLIZER; D’INNOCENZO, 2006). Diante de um mercado em que a acirrada concorrência atinge, inclusive, as instituições assistenciais, a auditoria em saúde nessas instituições, tanto no setor privado quanto no público, tornou-se de grande importância diante da necessidade de reduzir custos sem prejudicar a assistência, garantindo a qualidade dos serviços prestados a valores acessíveis. Apesar da grande importância que a auditoria em saúde tem recebido atualmente, assumindo novas dimensões ao longo dos anos, suas origens não são recentes. Sendo assim, este estudo tem como objetivo revisar a evolução histórica da auditoria em saúde. 3 AUDITORIA EM SAÚDE: CONCEITOS 1. Conceitos Apesar de serem originárias da mesma base, as atividades de auditoria na área da saúde diferem substancialmente do conceito de auditoria interna, bastante comum em atividades relacionadas à contabilidade e processos administrativos. Na sua origem, a auditoria médica tratava apenas da verificação de procedimentos médicos, confrontando- os com as solicitações prévias e coberturas contratuais dos planos de saúde. Na última década, pode-se acompanhar a evolução e o aprimoramento destas atividades com a implantação de sistemas informatizados para auxiliar no controle e permitir a transmissão das informações de modo padronizado e confiável. Em um segundo momento, os processos atingiram as contas médicas, levando para o ambiente hospitalar parte do processo de análise das faturas apresentadas. Da avaliação técnica à análise de valores previamente acordados entre as partes para remuneração das despesas médicas decorreu curto espaço de tempo e de lá, para a nova concepção voltada à análise da qualidade do atendimento e dos processos correlatos à área de saúde, este espaço se reduziu ainda mais (MITTEMPERGHER, 2002). A auditoria, em sua raiz, segundo Attie (2006, p.25) “é uma especialização contábil voltada a testar a eficiência e a eficácia do controle patrimonial implantado com o objetivo de expressar uma opinião sobre determinado dado”. Em saúde, o conceito de auditoria foi proposto por Lambeck (apud COUTINHO et al., 2003) em 1956, tendo como premissa a avaliação da atenção com base na observação direta, no registro e na história clínica do paciente. Atualmente, um grande número de hospitais, predominantemente privados, possui serviços de auditoria em saúde (SCARPARO; FERRAZ, 2008). A auditoria em saúde, entre outros conceitos, é a avaliação sistemática da qualidade da assistência ao cliente (PAIM; CICONELLI, 2007). É realizada pela análise dos prontuários e verificação da compatibilidade entre procedimentos realizados e os itens que compõem a conta hospitalar cobrada, garantido um pagamento justo mediante a cobrança adequada (SOUZA; FONSECA, 2005). Ainda, trata-se de um método de avaliação voluntário, periódico e reservado, dos recursos institucionais de cada hospital 4 para garantir a qualidade da assistência por meio de padrões previamente definidos (LIMA; ERDMAN, 2006). Nesse novo conceito de auditoria em saúde, não se trata de uma forma de fiscalização, mas um programa de educação permanente. Através da auditoria, a instituição de saúde tem a possibilidade de realizar um diagnóstico objetivo acerca do desempenho de seus processos, incluindo as atividades de cuidado direto ao paciente e aquelas de natureza administrativa (MANZO; BRITTO; CORREA, 2012). Na atualidade, o conceito de qualidade é compreendido como parte da função gerencial e como elemento essencial para a sobrevivência das instituições nos mercados atuais, que são altamente competitivos. Assim, o conceito de garantia da qualidade em saúde refere-se à elaboração de estratégias tanto para a avaliação da qualidade quanto para a implementação de normas e padrões de conduta através de programas locaisou nacionais. Dessa forma, no setor da saúde, a política da qualidade tem gerado uma preocupação constante com a melhoria da assistência prestada ao paciente, exigindo maiores investimentos na qualificação dos profissionais (NEPOMUCENO; KURCGANT, 2008). Nesse ambiente, a auditoria em saúde ganha espaço e grau de importância. A auditoria em saúde pode ser desenvolvida em vários setores da saúde e por diferentes profissionais. Destacam-se entre eles a auditoria médica e a auditoria em enfermagem. Ambas as auditorias dispõem de áreas específicas de atuação, sendo que a característica do serviço é que destinará o papel do auditor, lembrando que seus objetivos são sempre os mesmos, ou seja, garantir a qualidade no atendimento ao cliente, evitar desperdícios e auxiliar no controle dos custos (PAIM; CICONELLI, 2007). O processo de auditoria ocorre em todas as instituições prestadoras de serviços de saúde do setor público e privado conveniado ao SUS. As estratégias de ações são utilizadas de forma contínua sobre as estruturas organizacionais e funcionais de forma a dimensionar a eficácia e a eficiência das atividades de saúde, cujos resultados são apresentados à administração do sistema de saúde. Ao lado dessas estruturas e organizações burocráticas funcionais da produção de serviços e controle do equilíbrio financeiro, os auditores executam em seus planos, a avaliação do desempenho na rede 5 de serviço como forma de buscar um feedback junto ao usuário e a sociedade de um modo geral (COSTA et al., 2004). As atividades de auditoria que envolvem o campo operacional usualmente executadas são: acompanhamento das unidades de saúde, verificação de denúncias de irregularidades, vistorias nos projetos de credenciamento de novos serviços e (descredenciamento desses), internamentos hospitalares, exames especializados, entre outros. Em face da corresponsabilidade que as operadoras de planos de saúde têm em oferecer serviços de saúde de qualidade (Lei 9659/98), criou-se a necessidade de auditar as instituições de saúde com foco na qualidade dos processos funcionais e estrutura física (COSTA et al., 2004). HISTÓRICO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Para Azevedo (2016) : “a assistência à saúde sempre fez parte de todas as constituições brasileiras desde o império até os dias atuais”. Dos anos 60 até a promulgação da Constituição de 1988 estava configurado o regime da ditadura militar e neste período deu-se início ao processo de redemocratização do país. Ainda para este autor: “mais precisamente de 64 aos anos 80, adotou-se um arranjo federativo concentrador, sendo que o principal poder administrativo era centrado na União”. Entre os anos de 1970 e 1980, com o fim do regime da ditadura, muitos eram os problemas relativos às questões da saúde: destacava-se a desigualdade no acesso aos serviços, havia multiplicidade e descoordenação entre instituições do setor, os recursos empregados nas ações de saúde eram escassos, desorganizados e predominava a falta de resolubilidade e produtividade no emprego destes recursos e a gestão era centralizada e pouco participativa. Já na década de 80 a realidade da maioria da população brasileira era a exclusão do direito à saúde que na época era prestada pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e tinham direito à assistência médica os trabalhadores formalmente empregados, que tinham vínculo com este instituto e assim contribuíam para o mesmo. Ao Ministério da Saúde (MS) se restringia apenas atividades 6 de promoção da saúde e prevenção de doenças, as quais eram realizadas em caráter universal, com a assistência médico-hospitalar para poucas doenças e atendimento dos indigentes, considerados como excluídos no atendimento pelo INAMPS. Conforme ilustra Weber (2004, p. 12): “Aos desempregados ou aqueles à margem do processo formal de produção-emprego-renda, restavam-lhe o socorro pela solidariedade religiosa, congregadas nas Santas Casas de Misericórdia, ou, via de regra, entregues à própria sorte.” Segundo informações da Biblioteca Virtual Sérgio Arouca apud neste ínterim houve o Movimento Sanitário e em 1986 ocorreu a oitava Conferência Nacional de Saúde (CNS), evento onde a saúde foi discutida sob três principais enfoques: a) Saúde como direito; b) Reformulação do Sistema Nacional de Saúde e; c) Financiamento do setor. Na CNS houve consenso em torno do Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS), que posteriormente se transformaria no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim as discussões da 8ª CNS levaram ao reconhecimento da saúde como direito de cidadania na Constituição Federal Brasileira (CFB) de 88 que culminou com o surgimento do SUS: "Este surge como um serviço de saúde para todos, onde deveria prevalecer o acesso igualitário, democrático e descentralizado. O surgimento do SUS foi fundamental diante deste cenário, visto que preconiza em seus princípios e diretrizes uma política de saúde que vai de encontro a estas necessidades citadas." Considera-se a Constituição como o marco mais importante no que se refere às transformações ocorridas no setor da saúde pública brasileira nas últimas décadas. De acordo com seu artigo 196: “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco da doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”. Ainda sobre a CFB, em seu artigo 197, esta ampliou os compromissos do Estado ao classificar as ações e serviços de saúde como de relevância pública e encarregando o poder público de “dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e 7 controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado”. A Lei Orgânica de Saúde de 1990, também teve papel importante nas mudanças propostas na saúde pública brasileira. “Esta dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”. No entanto, após a aprovação do SUS e da Lei Orgânica da Saúde (1990), profundas mudanças econômicas, políticas e na esfera pública viriam a ocorrer. Em meio à crise Carlos Henrique Assunção Paiva, Luiz Antônio Teixeira, Sarney e dos que o sucederam, desfez-se o otimismo de uma rápida e radical transformação do sistema de saúde, então expresso em nossa carta constitucional. Às dificuldades em colocar em prática ações transformadoras que entravam em choque com interesses econômicos de grupos altamente organizados somava-se a complexidade do desafio representado pela implementação de um sistema único de saúde em um país com grandes disparidades regionais. “O Decreto nº 7508, de 28 de junho de 2011 regulamenta a Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990 e dispõe sobre a organização do SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa”. Este decreto, em seu artigo 2º considera: a) A região de saúde visando características culturais, econômicas e sociais bem como redes de transportes e de meios de comunicação facilitará as ações em saúde entre estes municípios; b) Contrato organizativo da ação pública da saúde: são acordos facilitadores para ações em saúde; c) A porta de entrada: facilitará o acesso inicial ao usuário do SUS; d) Comissões intergestores: são instâncias de pactuação entre entes federativos; e) Mapa da saúde: esclarece a distribuição geográfica de recursos humanos e serviços de saúde disponibilizados pelo SUS e pela iniciativa privada; f) Rede de atenção à saúde: são ações desenvolvidas em níveis de complexidade visando à integralidade na assistência em saúde; 8 g) Serviços especiais de acesso aberto: trata-sede atendimento especial em caso de agravo ou situação laboral; h) Protocolos clínicos e diretriz terapêutica: documento a ser seguido pelos gestores que prevê diagnóstico, tratamento e acompanhamento das doenças conforme critérios pré-estabelecidos. Com esta regulamentação é visível a preocupação com a descentralização da saúde, ou seja, quanto mais próximo o usuário estiver de sua realidade, seja ela cultural econômica ou social, provavelmente maior será a efetividade de seu tratamento e consequentemente, menores serão os custos envolvidos. Na prática, surge no estudo de Azevedo (2016) um artigo sobre Tratamento Fora do Domicílio (TFD) no estado do Piauí, contemplando um dos princípios do SUS, a universalidade, este instrumento legal visa proporcionar através do custeio de passagens e diárias o acesso dos pacientes ao tratamento de enfermidades não existentes nas localidades em que residem. Conforme o ABC do SUS, o SUS trata-se de um sistema porque significa que é um conjunto de unidades, de serviços e ações que têm um objetivo em comum: a promoção, proteção e recuperação da saúde. Único porque deve seguir a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todos os estados brasileiros, sob a responsabilidade das três esferas de governos: federal, estadual e municipal. Conforme a lei Orgânica o SUS “é uma nova formulação política e organizacional para o reordenamento dos serviços e ações de saúde estabelecida pela CFB de 1988”. Com uma população superior a 200 milhões de habitantes o Brasil tem, como uma das tarefas mais difíceis e complexas garantir o acesso aos serviços de saúde de forma integral, igualitário e gratuito, direito esse garantido na CFB . Assim sendo, o SUS hoje é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, abrange desde atendimentos ambulatoriais até transplantes de órgãos, garantindo acesso de forma integral, universal e gratuita para toda a população do país . Esse sistema “nasceu da luta de diversos atores sociais por inclusão social, democracia e construção de uma consciência cidadã a partir da compreensão de direitos e deveres de solidariedade”. Além dos princípios e diretrizes do SUS já observados na CFB, como a universalidade, equidade, integralidade foi fundamental a participação da comunidade 9 sendo que para isto foram criados os Conselhos e as Conferências de Saúde. Alguns pesquisadores questionam sobre a supremacia e organização destas entidades, pois acreditam que existam dificuldades em se contemplar a diversidade nas opiniões de toda a sociedade nestes espaços. Conforme ilustra Feijão et al (2015, p. 9) : "Uma das grandes conquistas alcançadas com a consolidação do SUS foi a inserção da participação social entre seus princípios basilares, possibilitando a atuação da população na formulação e fiscalização das políticas e ações públicas de saúde, por intermédio de mecanismos de representação social, como os conselhos e as conferências de saúde." Nos Conselhos de Saúde, os gestores, servidores, presidentes de associações bem como representantes da comunidade podem atuar tanto na formulação e desenvolvimento de políticas públicas de saúde, como também na fiscalização das mesmas . Fazem parte do SUS os seguintes conselhos: Conselho Nacional de Saúde (CNS), Conselho Nacional das Secretarias de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS). Sendo que as conferências de saúde ocorrem a cada quatro anos, convocadas pelo poder executivo, em cada esfera de governo, servindo como espaço de debates sobre a saúde . “Porém, passadas aproximadamente duas décadas de sua instituição, o SUS ainda não conseguiu alcançar os reais objetivos de seus princípios e diretrizes e efetivar os direitos à saúde pela população. A concretização destes princípios ainda produz intensas discussões” . Uma delas é a forma como ocorre o financiamento do SUS e a outra é como fazer o uso adequado dos recursos provenientes deste financiamento. Certamente a auditoria no SUS veio como recurso importante para a melhoria da aplicação destes recursos. 10 AUDITORIA NO SETOR PÚBLICO As empresas e instituições estatais são obrigadas por lei em várias jurisdições a ter seus assuntos examinados por um auditor do setor público. Em muitos países, as auditorias do setor público são realizadas sob a supervisão do auditor geral, que é um instituto responsável pelo fortalecimento da responsabilidade e governança do setor público e pela promoção da transparência (BRASIL, 2005). A auditoria do setor público envolve a análise dos assuntos financeiros das empresas estatais para avaliar se eles foram operados de uma maneira que é do melhor interesse do público e se os procedimentos padrão foram ou não seguidos para cumprir os requisitos estabelecidos para promover a transparência e boa governança (por exemplo, regras de compras do setor público). A auditoria do setor público, portanto, vai um passo além da auditoria financeira de organizações privadas que se concentra principalmente na confiabilidade das demonstrações financeiras (CREPALDI e CREPALDI, 2016). As auditorias das empresas do setor público estão se tornando cada vez mais preocupadas com a eficiência, eficácia e economia dos recursos utilizados nas organizações estatais que deu lugar ao desenvolvimento de auditorias de valor para o dinheiro (BRASIL, 2005). AUDITORIAS FISCAIS As auditorias fiscais são conduzidas para avaliar a exatidão das declarações fiscais arquivadas por uma empresa e, portanto, são usadas para determinar o montante de qualquer sobre ou em avaliação de responsabilidade fiscal para as autoridades fiscais (SCHRAGLE, 2013). Em algumas jurisdições, as empresas acima de um determinado tamanho são obrigadas a realizar auditorias fiscais após intervalos regulares, enquanto em outras jurisdições as empresas aleatórias são selecionadas para auditorias fiscais através da operação de um sistema de votação (SCHRAGLE, 2013). 11 1. 5.1 Auditorias do Sistema de Informação A auditoria do sistema de informação envolve a avaliação dos controles relevantes para a infraestrutura de TI dentro de uma organização. As auditorias do sistema de informação podem ser realizadas como parte da avaliação do controle interno durante a auditoria interna ou externa (BRASIL, 2005). A auditoria do sistema de informação geralmente compreende a avaliação dos seguintes aspectos do sistema de informação: Design e controles internos do sistema; Segurança da informação e privacidade; Eficiência e eficiência operacional; Processamento de informações e integridade de dados; Padrões de desenvolvimento do sistema (VIEIRA e BRAGA, 2014). 2. 5.2 Auditorias Ambientais e Sociais As auditorias ambientais e sociais envolvem a avaliação de pegadas ambientais e sociais que uma organização deixa como consequência de suas atividades econômicas. A necessidade de auditoria ambiental está aumentando devido ao maior número de empresas que fornecem relatórios ambientais e de sustentabilidade em seu relatório anual descrevendo o impacto de suas atividades comerciais no meio ambiente e na sociedade e as iniciativas tomadas por eles para reduzir quaisquer consequências adversas (MARQUES, 2015). A auditoria ambiental forneceu um meio para fornecer garantia sobre a precisão das declarações e reivindicações feitas em tais relatórios. Se, por exemplo, uma empresa divulga o nível de emissões de CO2 durante um período em seu relatório de sustentabilidade, um auditor de meio ambiente verificaria a afirmação ao reunir provas de auditoria relevantes (MARQUES, 2015). 12 3. 5.3 Auditoria Hospitalar A auditoria hospitalar, auditoria clínica, ou auditoria médica, como também é denominada, por ser tema central deste artigo será aborda no próximo tópico mais minuciosamente.A auditoria hospitalar pode ser descrita como um ciclo de melhoria da qualidade que envolve a medição da eficácia dos cuidados de saúde em relação aos padrões acordados e comprovados de alta qualidade e ação para adequar a prática a esses padrões, de modo a melhorar a qualidade dos cuidados e resultados de saúde (KAURA, 2016). Auditoria hospitalar forma o sistema para melhorar os padrões de prática clínica. Os aspectos do atendimento ao paciente são avaliados de acordo com os padrões de atendimento esperados e, quando necessário, as mudanças são feitas a nível individual, de equipe ou de serviço. Uma re-auditoria pode então ser usada para confirmar que as melhorias foram efetivas (VIEIRA e BRAGA, 2009). A Auditoria Hospitalar é um programa planejado que monitora e avalia de forma objetiva o desempenho clínico de todos os praticantes, identifica oportunidades de melhoria e fornece mecanismo através do qual são tomadas ações para realizar e sustentar essas melhorias (MARQUES, 2015). A auditoria hospitalar defronta-se muito com termos como Auditoria Médica e Auditoria Clínica. A auditoria médica é definida como a revisão do atendimento clínico de pacientes fornecidos apenas pela equipe médica. Já a auditoria clínica é a revisão da atividade de todos os aspectos do atendimento clínico de pacientes por equipe médica e paramédica. Em 1994, o termo “auditoria clínica” parece ter substituído em grande parte o termo anterior “auditoria médica”. A auditoria médica é um processo de melhoria da qualidade dos cuidados de saúde. Pretende melhorar o atendimento dos pacientes através da revisão sistemática da prática médica contra critérios explícitos, modificando-a sempre que necessário. A auditoria clínica é cíclica, o que significa que qualquer padrão é auditado deve ser submetido a re-auditoria para avaliar a eficácia das melhorias feitas e outras mudanças, se necessário (CREPALDI e CREPALDI, 2016). 13 A auditoria médica pode ser realizada de várias maneiras, dependendo dos dados coletados. Uma metodologia de auditoria deve sempre ser projetada para que possa ser facilmente reproduzida para fins de re-auditoria. A auditoria clínica geralmente envolve a análise de informações coletadas sobre o paciente durante uma visita a um ambiente de saúde para ver se eles recebem cuidados de acordo com as diretrizes nacionais e / ou se os procedimentos apropriados foram seguidos pelo pessoal (CREPALDI e CREPALDI, 2016). Esta informação pode ser feita sob a forma de documento médico paciente ou documentos eletrônicos armazenados em sistemas de administração de pacientes. Os dados podem ser coletados prospectivamente (como acontece), ou retrospectivamente (após um paciente ter recebido tratamento). Às vezes, as auditorias clínicas envolvem dar aos pacientes ou profissionais de saúde um questionário para completar. Os dados de auditoria geralmente são coletados eletronicamente em uma folha de cálculo ou em um banco de dados, para facilitar a análise dos resultados (GALANTE, 2008). Os dados são então utilizados para determinar se os hospitais estão tratando pacientes de acordo com padrões baseados em evidências. A análise de auditoria permite comparações na prática e resultados tanto entre hospitais quanto dentro do mesmo hospital ao longo do tempo (CREPALDI e CREPALDI, 2016). As auditorias de saúde podem ser realizadas em vários setores e por diferentes profissionais, especialmente auditores médicos e enfermeiros, que, apesar de trabalhar em diferentes áreas, compartilham os mesmos objetivos comuns para garantir cuidados de qualidade, evitar desperdícios e ajudar a controlar os custos (GALANTE, 2008). 4. 5.3.1 Necessita Para Auditoria Médica 1. Motivos profissionais – Os prestadores de cuidados de saúde podem identificar suas lacunas e deficiências e fazer as correções necessárias; 2. Motivos sociais – Para garantir a segurança do público e protegê-los dos cuidados que são inadequados e prejudiciais; 3. Motivos pragmáticos – Para reduzir os sofrimentos dos pacientes e evitar a possibilidade de negação aos pacientes dos serviços disponíveis; ou lesão por serviço excessivo ou inadequado (KAURA, 2016). 14 5. 5.3.2 Objetivos 1. Para planejar o curso de ação futuro – é necessário obter informações de linha de base através da avaliação de realizações para fins de comparação com vista a melhorar os serviços; 2. Regulamentação na natureza – garante a utilização plena e efetiva da equipe e instalações disponíveis; 3. Avalie a eficácia da eficiência dos programas e serviços de saúde efetuadas (KAURA, 2016). 6. 5.3.3 Importância A Auditoria Clínica fornece o quadro para melhorar a qualidade do atendimento ao paciente de forma colaborativa e sistemática. Quando a auditoria clínica é conduzida bem, permite que a qualidade dos cuidados seja revisada objetivamente dentro de uma abordagem que seja de suporte, de desenvolvimento e focada na melhoria (KAURA, 2016). Os benefícios da auditoria clínica incluem: Promove e permite a prática esperada; Fornece oportunidades para educação e treinamento; Desenvolve relacionamentos entre clínicos, equipes clínicas, gerentes e pacientes; Leva melhorias na prestação de serviços e resultados do paciente (KAURA, 2016). 7. 5.4 Envolvidos na Auditoria Todos os que estão envolvidos no cuidado que atribuído a um paciente e qualquer pessoa que possa ser afetada pelos resultados, como aqueles que podem ser convidados a mudar de prática. Se a auditoria tiver implicações em profissionais ou disciplinas em outras áreas, estas devem ser consultadas nas etapas de planejamento (MARQUES, 2015). 15 Além disso, é importante que a auditoria clínica seja suportada por aqueles que têm autoridade e compromisso para ver as mudanças realizadas. Agora é reconhecido que os serviços não podem ser melhorados a menos que os pacientes estejam envolvidos (MARQUES, 2015). 8. 5.5 Ciclo de Auditoria O ciclo de auditoria demonstra os passos envolvidos em uma auditoria completa. Quando uma auditoria clínica revela a necessidade de melhorias em um serviço, é importante que uma reavaliação ocorra após a execução das mudanças. Às vezes, serão necessárias várias auditorias para melhorar um serviço e “fechar o ciclo” (KAURA, 2016). Figura 1: Ciclo de auditoria Fonte: Kaura (2016) Fase 1 – preparação Escolher um tópico: Preferencialmente, um que seja uma alta prioridade para a organização; https://www.nucleodoconhecimento.com.br/wp-content/uploads/2019/07/ciclo-de-auditoria.png 16 Isso pode envolver áreas em que há um alto volume de trabalho, altos riscos ou altos custos de cuidados, ou uma área identificada como prioritária pelos pacientes (KAURA, 2016). Identificar os recursos disponíveis, por exemplo: A organização pode tem um Chefe de Auditoria local? Haverá diretrizes existentes que definem os padrões desejados para a área escolhida? (KAURA, 2016). Selecionar os critérios: Definir os critérios – isso deve ser na forma de uma declaração, p.ex. Todos os pacientes com hipertensão que fuma devem receber conselhos de cessação do tabagismo; e Definir o padrão – geralmente um alvo (porcentagem), este pode ser um padrão mínimo ou um ótimo, dependendo do cenário (KAURA, 2016). Etapa 3 – medição do nível de desempenho: Coletar os dados: Pode ser de registros computadorizados, coleta manual ou ambos; Pode ser retrospectivo ou prospectivo (KAURA, 2016). Analise os dados coletados: Compare o desempenho real com o padrão definido; Discuta o quão bem foram cumpridos os padrões; Se os padrões não foram cumpridos, anote os motivos para isso (se conhecido) (KAURA, 2016). Etapa 4 – fazendo melhorias Apresentar os resultados e discuti-los com as equipes relevantes na organização; Os resultados devem ser usadospara desenvolver um plano de ação, especificando o que precisa ser feito, como ele será feito, quem o fará e quando (KAURA, 2016). 17 9. 5.6 Manutenção de Melhorias Isso acompanha as etapas anteriores da auditoria, para determinar se as ações tomadas foram efetivas ou se são necessárias melhorias adicionais; Envolve a repetição da auditoria (ou seja, metas, resultados, discussão); daí os termos “ciclo de auditoria” (KAURA, 2016). 10. 5.7 Ética A auditoria clínica, por definição, não envolve qualquer coisa a outros pacientes além do seu gerenciamento clínico normal. Portanto, geralmente não requer aprovação formal ética ao contrário da pesquisa. Isso significa, no entanto, que os projetos empreendidos em nome da auditoria clínica não são de fato, pesquisas (GALANTE, 2008). Todas as auditorias clínicas devem ser realizadas dentro de um quadro ético. Na prática, isso significa que deve ser dada consideração a questões como a confidencialidade e a divulgação dos resultados da auditoria (GALANTE, 2008). 11. 5.8 Analisando Dados de Auditoria O objetivo básico da análise de dados é converter dados em figuras úteis. Os padrões nos dados indicam o quão bem a área está em conformidade com os padrões de auditoria. É importante identificar como os dados serão analisados antes de coletá-lo – isso garante que somente informações relevantes sejam coletadas (LIZOTE, VERDINELLI, PEREZ, 2015). O principal objetivo da análise de dados é responder às questões colocadas pelos objetivos da auditoria. Se os dados certos tiverem sido coletados, será fácil analisar e obter as informações necessárias (LIZOTE, VERDINELLI, PEREZ, 2015). O quadro a seguir demonstra um exemplo. Objetivo: Determinar o número de pacientes encaminhados de forma inadequada de acordo com as Diretrizes de Seleção. 18 Coleta de dados: informações relativas a referências de pacientes e revisão por pares para determinar quais referências foram inapropriadas Análise: Compare o número de referências com o número identificado como inapropriado e calcula como média ou porcentagem simples. Em algumas áreas podem ser necessárias técnicas estatísticas mais sofisticadas, particularmente quando são usados grandes tamanhos de amostra. Embora técnicas estatísticas possam ser úteis, é importante que o leitor entenda o que a informação significa. Se os resultados da auditoria forem melhorar a prática e o desempenho, os resultados e a análise devem ser simples o suficiente para que todos no processo de atenção entendam (MARQUES, 2015). 12. 5.9 Diferentes Tipos de Dados Existem dois principais tipos de dados, quantitativos e qualitativos (BURMESTER e MORAIS, 2014). Os dados quantitativos dizem respeito a dados definitivos, numéricos, factuais e específicos, por exemplo, Sim ou Não, Gênero, Pressão sanguínea e Grupos de sangue. A análise desse tipo de dados é realizada utilizando técnicas matemáticas (BURMESTER e MORAIS, 2014). Os dados qualitativos geralmente são descritivos e subjetivos com base em valores e opiniões pessoais, por exemplo queixas e respostas narrativas aos questionários. Estes dados precisam ser analisados de forma diferente e com cuidado devido aos altos níveis de inferência e interpretação que podem ser aplicados à informação (LIZOTE, VERDINELLI, PEREZ, 2015). 13. 5.10 Implementando a Mudança As recomendações para mudanças podem ser registradas em um plano de ação negociado com o Gerenciador de Serviços (BURMESTER e MORAIS, 2014). Uma vez que o relatório de auditoria foi aceito, o Gerente de Serviços é responsável por executar 19 quaisquer alterações para melhorar a entrega dos cuidados (BURMESTER e MORAIS, 2014). É salutar fazer reunião com todas as pessoas envolvidas na auditoria e as pessoas encarregadas de implementar as mudanças, a fim de discutir os resultados e para entender melhor por que são necessárias melhorias, e onde o desempenho precisa melhorar (BURMESTER e MORAIS, 2014). A figura abaixo resume os estágios envolvidos na prática de mudanças. Figura 2: Estágios envolvidos na efetuação de mudanças Fonte: Kaura (2016) https://www.nucleodoconhecimento.com.br/wp-content/uploads/2019/07/estagios-envolvidos-naefetua%C3%A7%C3%A3o-de-mudan%C3%A7as.png 20 As recomendações para mudanças podem ser registradas em um plano de ação. Isso deve incluir quem concordou em fazer o que e quando. Cada ponto precisa ser bem definido, com a pessoa responsável e um cronograma acordado e realista para sua conclusão (SCHRAGLE, 2013). AUDITORIA NO SUS Para Feijão (2015, p. 67): "[...] a operacionalização dos processos de trabalho em auditoria se desenvolve em três fases – analítica operativa e relatório – e segue uma rotina padronizada, independentemente do foco ou objeto da auditoria, podendo originar-se do planejamento anual do serviço ou de demandas não programadas." Segundo Motta, Leão e Zagatto (2005) a auditoria no Brasil, antes de instituir-se o SUS, estava vinculada ao INAMPS e não chegou a ser devidamente descentralizada sendo que sua estrutura apresentava um alto grau de burocracia que conservou sua forma de funcionamento, não chegando à construção de uma “cultura estadual”. Sendo assim, o processo de trabalho de auditoria é sempre o mesmo, o que muda é o seu objeto de trabalho, sendo que os objetos de trabalho de auditoria do SUS são basicamente os seguintes: a) as ações de saúde, sejam elas programáticas ou pontuais, por exemplo: atendimentos específicos, entre outras; b) os serviços de saúde, sejam eles ambulatoriais, hospitalares, laboratoriais, exames de imagem, alto custo, entre outros e c) os sistemas de saúde das três esferas de governo. A auditoria em saúde tem como objetivo maior, melhorar a qualidade do atendimento ao paciente. Tem sua origem no Reino Unido, sendo idealizada por profissionais médicos que buscavam proporcionar um atendimento de melhor qualidade à clientela, chamando a atenção para as deficiências na prestação de cuidados, na tentativa de frear a prática ineficiente e ineficaz . 21 A auditoria tem um papel de destaque no processo de consolidação do SUS. A auditoria pública procura analisar o funcionamento do SUS para evitar possíveis fraudes ou realizar correções nas distorções existentes, além de verificar a qualidade da assistência e o acesso dos usuários às ações e serviços de saúde. Funciona também como um mecanismo de controle interno do Ministério da Saúde (MS); propiciando, desta forma, um aumento da credibilidade e uma melhoria na qualidade da atenção à saúde, fortalecendo a cidadania . A finalidade da auditoria é contribuir com a gestão para a qualificação do acesso universal, em prol da garantia do direito à saúde e do direito à vida, definidos na CFB de 1988, sendo o relatório de auditoria um produto relevante, um instrumento informativo e construtivo, de alta credibilidade pública. O produto da auditoria é reconhecidamente imprescindível na tomada de decisões. Para Moimaz et al., (2012) “é importante o sistema de auditoria como um instrumento confiável aos gestores no planejamento e avaliação das ações em saúde”. As práticas de auditoria já fazem parte da gestão administrativa de muitas instituições hospitalares, que tentam moldar seu processo de trabalho de forma a facilitar futuras intervenções, como é o caso do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde se realizam auditorias a partir dos documentos informatizados, objetivando com isto, a melhoria da qualidade dos registros e do cuidado, uma vez que a auditoria quantitativa dos registros foi facilitada pela utilização da ferramenta informatizada . Na trajetória diária dos serviços públicos de saúde, percebe-se que, no que tange à participação democrática e popular há avanços, porém, as dificuldades no acessoaos serviços de saúde ainda são muitos, como será relatado no decorrer deste estudo. Devido à magnitude territorial do Brasil, o SUS teve muitas dificuldades em sua implementação : “O acesso universal e igualitário estabelecido como princípio do SUS vem sendo estabelecido de forma gradual em função da complexidade decorrente das enormes diferenças regionais e da pluralidade de contextos vivenciados pelos municípios brasileiros.” No que diz respeito ao gênero, há um equilíbrio entre as equipes de auditores, nas três esferas de governo. De acordo com a carga horária de trabalho, a jornada de trabalho 22 é de 8 horas diárias e a remuneração varia de uma esfera para outra dependendo do tipo de vínculo, nomeado ou concursado (Melo, 2007). A auditoria de sistemas de serviços de saúde pode ser categorizada em dois grandes grupos: auditoria clínica que corresponde uma análise crítica sistemática da qualidade da atenção à saúde, incluindo os procedimentos usados no diagnóstico e tratamento, o uso dos recursos e os resultados para os pacientes; e auditoria organizacional, relativa ao sistema de serviços de saúde. Ambas são definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o conjunto das atividades cujo propósito primário é promover, restaurar e manter a saúde da população (Mendes, 2002). Conforme a figura a seguir, a auditoria é composta de cinco momentos: Figura 3: Ciclo da auditoria clínica Fonte: Adaptado de Norman e colegas, 2003, apud Ferreira, 2007 No Sistema Único de Saúde as atividades de auditoria são definidas pelo Sistema Nacional de Auditoria, que classifica as ações de acordo com as atividades a serem executadas, desenvolvendo-as em diferentes níveis de complexidade, que vão desde o cuidado individualizado e o trabalho em equipe até os níveis de sistemas municipais, estaduais e nacionais de saúde (Brasil, 2008). 23 As auditorias no SUS são classificadas segundo os seguintes aspectos: definição do foco; periodicidade da realização; composição das equipes de auditoria; execução (Brasil, 2008). Quanto aos tipos de auditoria, podem ser sobre os sistemas de saúde: gestão; auditoria de serviços de saúde; auditoria de ações em saúde; e auditoria sobre a aplicação de recursos financeiros, que é transversa aos três primeiros tipos (sistemas, serviços e ações de saúde). A periodicidade das auditorias varia de acordo com a sua natureza. Elas podem ser regulares ou ordinárias, quando as ações são inseridas no planejamento; e especiais ou extraordinárias, se realizadas para apurar denúncias ou atender a alguma demanda específica. Classificam-se também pelo aspecto da composição das equipes de auditoria, isto é, podem ser direta quando a ação é realizada com a participação dos técnicos de apenas um dos integrantes do SNA; integrada, quando é realizada com a participação de técnicos de mais de um integrante; e compartilhada, quando a atividade se dá em conjunto com técnicos de outras instituições de controle (por exemplo, Tribunal de Contas da União, TCU, e Controladoria Geral da União, CGU) (Brasil, 2008). Em relação à execução, a auditoria pode ser realizada de acordo com a execução: analítica, consistindo na análise de relatórios, processos e documentos, cuja finalidade é subsidiar a inspeção in loco, utilizando dados dos sistemas de informação do SUS, tais como Sistema de informação ambulatorial (SIA) e Sistema de informação hospitalar (SIH); e operativa, consistindo na verificação, in loco, do atendimento aos requisitos legais que regulam os sistemas de atividades na área da saúde, por meio do exame direto dos fatos, documentos e situações. 1. Financiamento do SUS No Brasil, a implantação de processos de auditoria no SUS procura resguardar ao usuário e a União, estados e municípios a qualidade dos serviços profissionais e institucionais além de preservar o uso adequado do dinheiro público. A Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, ao regular as ações e os serviços de saúde em todo o território 24 nacional, estabelece o Sistema Nacional de Auditoria (SNA) como um mecanismo de controle técnico e financeiro, sob competência do SUS e em cooperação com os estados, Distrito Federal e municípios. No entanto, a instituição desse sistema deu-se apenas em 27 de julho de 1993, pela Lei Federal n. 8.689 em seu art. 6º , e sua regulamentação ocorreu pelo Decreto n. 1.651 de 28 de setembro de1995 . Nesse decreto (21,25) pode-se observar as competências do SNA nas três esferas governamentais, sendo identificada, a nível federal, a aplicação dos recursos transferidos aos estados e municípios, as ações e serviços de saúde de abrangência nacional, os sistemas estaduais de saúde e suas ações, métodos e instrumentos colocados em prática para controle, avaliação e auditoria. A nível estadual observa-se a utilização dos recursos transferidos aos municípios; as ações e serviços previstos no plano estadual de saúde; os servidores de saúde sob sua gestão, sendo estes públicos ou privados, contratados ou conveniados; os sistemas municipais de saúde e seus consórcios intermunicipais e as ações, métodos e instrumentos executados pelos órgãos municipais de controle, avaliação e auditoria. A nível municipal são observadas as ações e os serviços estabelecidos no plano municipal de saúde, os servidores de saúde sob sua gestão, sejam públicos ou privados, contratados e conveniados, e as ações e serviços desenvolvidos por consórcio intermunicipal ao qual o município esteja vinculado. A nível federal, as ações são desenvolvidas pelo DENASUS, enquanto que nos estados e municípios, são executadas por suas áreas de controle, avaliação e auditoria inseridas conforme respectivas secretarias de saúde. O financiamento é sabidamente um dos pontos mais importantes para a consolidação e sucesso de políticas públicas, entre elas o SUS. Muito tem sido discutido sobre a necessidade de financiamento específico, definido e definitivo para saúde, o que tem sido preconizado através da devida execução da Emenda Constitucional 29 por parte das diferentes esferas de gestão do SUS. A regulamentação da Lei nº 141/2012 em seu inciso 3º do Art.198 da Constituição Federal estipula uma quantia mínima a ser aplicada anualmente pela União nas ações em saúde: 25 "Estes percentuais das receitas fiscais são de 15% (nível municipal), 12% (nível estadual) e ao valor do ano anterior, acrescido da correção do PIB (União), sendo que o controle sobre a utilização destes recursos será realizado pelos Conselhos de Saúde, exceto os de controle específico do SUS, o SNA ." A Lei 8.080 (1990) em seu art. 33 prevê que os recursos financeiros do SUS serão depositados em conta especial, em cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde, sendo que no âmbito federal, estes recursos oriundos do Orçamento da Seguridade Social, serão administrados pelo Ministério da Saúde, por intermédio do Fundo Nacional de Saúde (FNS) : "O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu sistema de auditoria, a conformidade à programação aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e Municípios. Constatada a malversação, desvio ou não aplicação dos recursos, caberá ao Ministério da Saúde aplicar as medidas previstas em lei ." A alocação adequada dos recursos financeiros proporciona uma satisfação das demandas e das necessidades da coletividade no âmbito do SUS : os relatórios resultantes das auditorias são instrumentos que servem de parâmetros para reformulação de trabalhos efetuados, diretrizes de controle e avaliação do serviço. Podem servir também como um norteador de como proceder no faturamento de procedimentos feitos pelo SUS, evitando perdas financeiras e de indicadores de saúde, servindo também como papel educativo e ilustrativo por meio de recomendações de melhorias futurasnos serviços, diminuindo os maiores impactos relativos à gestão. O cumprimento dos princípios do SUS – universalidade, integralidade e equidade e está intrinsecamente relacionado à missão do SNA e sua importância consiste em fiscalizar o desenvolvimento de ações e serviços ofertados pelo SUS, corrigindo falhas existentes e atendendo assim, a população da melhor maneira possível . Dentro dessa perspectiva, o Departamento Geral de Ouvidoria do SUS (DOGES) e o Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DENASUS) da SGEP/MS possuem papel fundamental para o fortalecimento da gestão estratégica e participativa, qualificando os processos de gestão do SUS ao ouvir, analisar e encaminhar as demandas provenientes dos usuários, além de auditar as contas do SUS de forma pública e transparente . 26 No estudo a seguir surge a questão de que o contato com o usuário do SUS visando sua opinião sobre os serviços é fato: "Na auditoria do SUS o contato com o usuário é frequente. Ressaltamos a importância desta conduta em tomar a opinião do usuário como referência, valorizando a sua percepção e permitindo o cruzamento dos dados obtidos com as outras fontes de informação. Desta forma, o processo de análise da auditoria é feito com base não somente no cumprimento das leis e regras estabelecidas no SUS, mas também com a visão de quem utiliza estes serviços ." "O DENASUS realiza auditoria e fiscalização no SUS, de forma preventiva e operacional, comparando as situações encontradas com um determinado parâmetro técnico, operacional ou legal, além disso, avalia se as atividades vinculadas ao SUS estão sendo realizadas segundo critérios de eficácia, eficiência e efetividade e também orienta os gestores com relação ao uso adequado dos recursos destinados à saúde." As competências do DENASUS estão descritas no artigo 35 do Decreto N° 7.797 de 2012. Em resumo, o artigo apresenta as competências do DENASUS como as de promover o fortalecimento do SNA do SUS; auditar a adequação, a qualidade e a efetividade das ações e serviços públicos de saúde, e a regularidade legal das aplicações dos recursos do SUS; estabelecer e propor diretrizes e normas para a padronização das ações de auditoria; integrar as ações e procedimentos de auditoria do SNA do SUS; e, demais atividades inerentes . Quanto às atividades planejadas pelo DENASUS, estas podem ser demandadas pelo Ministério da Saúde ou pelos órgãos de controle, como Controladoria Geral da União, Tribunal de Contas da União, Ministério Público, Polícia Federal, Poder Legislativo, por solicitação dos cidadãos, por meio de denúncias ou até mesmo por reclamações à Ouvidoria Geral do SUS. Em BRASIL (2011) consta que: "[...] na SGEP, a auditoria assume o significado de instrumento de gestão que fortalece o SUS, contribuindo para a alocação e utilização adequada dos recursos, a garantia do acesso e a qualidade da atenção à saúde contribuindo para a alocação e utilização adequada dos recursos, a garantia do acesso e a qualidade da atenção à saúde 27 oferecida aos cidadãos. Esta concepção altera a lógica incorporando a preocupação com o acompanhamento das ações e análise dos resultados." A AUDITORIA E O PROFISSIONAL DE SAÚDE AUDITOR Sobre o profissional auditor, alguns pesquisadores , referem que este não deve exercer ou elaborar atividades as quais audita. Por outro lado, não deve ter sequer alguma relação de dependência com as mesmas, assim, manter esta independência viria a facilitar o exercício de suas funções e os resultados de suas auditorias seriam mais imparciais e sem comprometimento já que para exercer a função de auditor é necessária cautela, pois, ao estar subordinado às necessidades da alta administração, precisa se tornar subserviente à política vigente, o que pode vir a comprometer o princípio da isenção. Logo, essa independência se obtém através da posição que o auditor ocupa e da sua objetividade. Ainda sobre o auditor, “a auditoria não se resume, apenas, em controle contábil. Exige um olhar atento à universalidade do problema em foco, demandando dos auditores uma boa formação e dos gestores de auditoria a composição de equipes multidisciplinares” . Porém sabe-se que a disponibilidade de recursos humanos nesta área é escassa. O processo de trabalho na auditoria do SUS tem sido desempenhado por equipes multiprofissionais, em que médicos, enfermeiros, nutricionistas, odontólogos e farmacêuticos já conquistaram seu espaço e desempenham suas funções mediante integração de conhecimentos e experiências, porém, quase não dispõe de fisioterapeutas auditores, assim os serviços de fisioterapia acabam por ser auditados por profissionais não especializados, o que certamente fragiliza as auditorias específicas desta área (29, 32, 33). O ideal seria que cada área fosse auditada por um profissional específico, por exemplo: os serviços odontológicos por um odontólogo, os de farmácia por um farmacêutico e assim respectivamente. O serviço de auditoria deste sistema de saúde, de direito nunca existiu, mas sim a figuração de profissionais médicos que desempenhavam as funções de autorização de 28 internação hospitalar e revisão de contas médicas, comumente confundida como sendo atividades de auditoria, por conta da incapacidade ou mesmo impossibilidade de compreensão da significação das ações de auditoria para própria gestão do sistema e, da quase exclusividade desta modalidade de assistência, pela característica intrínseca do sistema vigente, hospitalocêntrico . Na Lei 7.498/86 em seu art. 11, item H é nítido que os serviços de consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de enfermagem são privativos do enfermeiro. Algumas pesquisas referindo-se à atuação das enfermeiras auditoras, colocam que embora haja um discurso de que a auditoria tem como principal objetivo, a qualidade dos serviços prestados na realidade o principal objetivo de seu trabalho é a redução de custos e que estas profissionais entrevistadas tentam passar a ideia da preocupação com a qualidade já que sua formação visa o cuidado. Referem também que as mesmas não têm total autonomia ficando sob a vontade de seus gestores como surge no seguinte relato: "Nos discursos, as enfermeiras tentam negar a finalidade do controle financeiro de sua prática, buscando demonstrar que esse é um objetivo secundário e que a preocupação com a qualidade do atendimento é a prioridade da auditoria. No entanto, esse parece ser um ideal sustentado por algumas das entrevistadas, pois ao descreverem o dia-a-dia de sua prática, fica evidente que suas ações não se dirigem para esse fim. Admitir que sua prática é voltada para o controle financeiro pode ser desconfortável para profissionais que tem a sua formação voltada para o cuidar e uma prática que carrega, historicamente, a marca do servir ." Hoje, através de uma proposta educativa permanente, há uma grande preocupação por parte do DENASUS, com a qualificação das práticas existentes nos órgãos responsáveis pela auditoria no SUS. Torna-se necessário que estas práticas estejam alinhadas com os princípios do SUS. O DENASUS exerce atividades de auditoria e fiscalização especializadas no âmbito do SUS, constante na Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa do SUS (Participa SUS) . A partir da análise feita nessa pesquisa surgiu a questão da predominância do médico e do enfermeiro atuando na 29 função de auditor em saúde e também a situação não regularizada da profissão auditor em saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vários foram os achados durante a leitura dos artigos: fica claro que a inserção da participação do cidadão tanto na construção das políticas de saúde é fato, bem como no financiamento do SUS. Também surgiram as questões da não regulamentação da profissão auditor, da predominância dos profissionais médicos e enfermeiroscomo auditores, em detrimento de outras áreas de atuação, indo à contraposição ao que prevê o SNA que salienta a necessidade de equipes multidisciplinares nas auditorias. A auditoria é entendida por todos os autores como uma ferramenta realmente imprescindível na gestão de saúde pública, mas sua efetivação e descentralização ainda estão em andamento. Por outro lado, a auditoria no SUS, na visão dos autores, deixa de ter um olhar punitivo para dar lugar a uma ótica educativa. Num outro enfoque, a auditoria em saúde gradativamente muda seu vínculo ligado as questões financeiras e de diminuição de custos para também fazer parte da qualidade dos serviços de saúde. Muitos são os avanços no que se refere à democratização do SUS e nas medidas avaliadoras e de fiscalização do setor público de saúde, e a consequência destes atos fez surgir os serviços de auditoria no sistema público de saúde, porém se remetermo-nos aos motivos que levaram à criação do SUS iremos perceber que a maioria dos problemas ainda persistem. Percebe-se que em termos de auditoria no SUS, há muita escassez na literatura, sobre o assunto. É preciso que mais estudos sejam feitos, e o emprego de capacitações adequadas às pessoas envolvidas, juntamente com “accountability”, responsabilizando assim os sujeitos. Possivelmente, desta forma os princípios e diretrizes do SUS, possam realmente estar alinhados com os objetivos da auditoria. No momento em que a legislação (teoria), se adequar à prática (vivência diária), certamente a saúde pública brasileira será de excelência. No decorrer deste estudo surgiram diversos conceitos para definir auditoria. O que melhor aplicou-se à realidade foi que a auditoria trabalha para qualificar a gestão do SUS, 30 implicando diretamente na melhoria do acesso às ações e serviços de saúde pela população, contribuindo para atender aos seus princípios básicos: universalidade, integralidade e equidade. Ainda para esta autora, o principal desafio do SUS é oferecer um serviço de qualidade associado ao baixo custo à imensa população brasileira que busca diariamente na rede dos serviços públicos de saúde um atendimento digno . Concluiu-se através deste estudo que a auditoria não é somente associada a custos, a mesma pode ser utilizada para gerir a qualidade e as melhorias dos processos dos trabalhos em saúde facilitando o trabalho dos profissionais desta área e por consequências dos seus pacientes. 31 14. REFERÊNCIAS AYACH, C. MOIMAZ, S. A. S. GARBIN, C. A. S. Auditoria no Sistema Único de Saúde: o papel do auditor no serviço odontológico. Saude soc. vol.22 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2013. AZEVEDO, G. A. GONÇALVES, N. S. SANTOS, D. C. A relação entre a auditoria e o sistema público em saúde. Rev. Adm. Saúde - Vol. 18, Nº 70, jan. – mar. 2018. BORDIN, R. WEBER, C. A. T. O papel da auditoria no sistema único de saúde. Revista de direito sanitário, São Paulo. V. 6. N.1/2/3. P. 119/131. 2005. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial para avaliação de governança em políticas públicas. Tribunal de Contas da União. Brasília, 2014. BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 20 set. 1990. p. 018055. RODRIGUES NETO, E. A reforma sanitária e o Sistema Único de Saúde: suas origens, suas propostas, sua implantação e suas perspectivas. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. ROSA, V. L. Evolução da auditoria em saúde no Brasil. Centro Universitário da Filadélfia. Londrina. 2012. VIANA, C. dos S. O papel da auditoria nas instituições hospitalares. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 07, Vol. 11, pp. 05-20. Julho de 2019.
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