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CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS APRESENTAÇÃO NO AVA INTRODUÇÃO DO CURSO CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS Olá! Seja bem-vindo(a) ao curso de Corrida de Rua: Novas perspectivas metodológicas. O objetivo desse curso, dividido em três capítulos, é proporcionar à você novas perspectivas metodológicas relacionados aos aspectos técnicos, biomecânicos e científicos como ferramentas de aprimoramento da performance de atletas de corrida de rua de média e longa distância. Esse curso visa atender especialmente os atletas amadores e recreacionais de corrida de rua, dando-lhes esclarecimentos acerca das diferentes fases que compõem os diversos tipos de corrida, sejam elas curtas, médias ou longas. Iremos também esclarecer alguns pontos relacionados a posição correta dos segmentos corporais, como a cabeça, tronco, braços e pernas, durante as fases que compõem a corrida, de modo que o corredor ou treinador possam levar em consideração esses aspectos durante os treinos e competições, visando a melhora da performance. Exploraremos também a importância da prática regular e sistematizada dos exercícios de coordenação, comumente chamados de educativos de corrida, para a melhora da execução da pisada, aumento da amplitude de passada, readequação da postura e aquecimento corporal. Por fim, abordaremos com vocês alguns métodos para potencializar os treinos e acelerar a recuperação pós-treino, tudo com o objetivo de melhorar a performance. Logo, esse curso irá exigir muita dedicação, organização e reflexão, de maneira que todos os conhecimentos aqui fornecidos possam ser adequadamente inseridos na sua rotina de treino ou do seu atleta. Tenho certeza que juntos vamos conseguir cruzar a linha chegada ao final desse curso com mais conhecimento e prontos para aprimorar a nossa performance de corrida, com mais rendimento e saúde. Bons estudos! Os professores. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – lmvargas@uepg.br Possui Graduação em Licenciatura plena em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2008), Especialização em Treinamento Desportivo pela FIJ. Mestre em Engenharia de Produção pela UTFPr (2011). Doutor em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (2015). Pós-doutor pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2016). Professor do Departamento de Educação Física da UEPG, lecionando as disciplinas de Medidas e Avaliação, Treinamento Esportivo e Musculação (Bacharelado) e Cinesiologia (Licenciatura). É líder do Grupo de Estudos em Treinamento de Força (GETForça). Prof. Esp. Ricardo da Luz – sgtluz@hotmail.com Possui Graduação em Educação Física pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro UFRJ/EEFD. Especialização em Treinamento de Força e Musculação UFRJ/EEFD. Curso na Escola de Educação Física do Exército. Treinador de diversas equipes no âmbito do Exército. Sócio proprietário da RDL TRAINING. VÍDEOS: Vídeo 1: Análise da Técnica de Corrida. Item 1.4 da UNIDADE I – ASPECTOS TÉCNICOS DA CORRIDA (Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ujIwsa4zWGM&t=3s) Vídeo 2: Exercícios Educativos de Corrida. Item 1.5 da UNIDADE I – ASPECTOS TÉCNICOS DA CORRIDA (Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=HvH5WZk0f90) INFORMAÇÕES DO CURSO OBJETIVO GERAL - Conhecer novas perspectivas metodológicas relacionados aos aspectos técnicos, biomecânicos e científicos da corrida de rua como ferramentas de aprimoramento da performance de atletas amadores e recreacionais. OBJETIVO ESPECÍFICOS - Compreender as diferentes fases durante a corrida. - Reconhecer a posição correta dos segmentos corporais durante as fases que compõem a corrida. - Perceber a importância dos exercícios de coordenação (educativos) para melhora da execução da corrida. - Explorar métodos de treinamento capazes de potencializar a performance de corrida. https://www.youtube.com/watch?v=ujIwsa4zWGM&t=3s https://www.youtube.com/watch?v=HvH5WZk0f90 CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PLANO/ROTEIRO DE ESTUDO Cronograma do curso: Início: 23/09/2019 Fim: 12/10/2019 Carga horária: 10 horas PLANO DE ESTUDOS/CRONOGRAMA: O cursista deverá completar a leitura das três unidades que compõem o presente curso e responder o questionário ao final, cujo valor corresponde a nota integral do curso (Valor: 100,0). UNIDADE TÍTULO DA UNIDADE PERÍODO (C.H.) UNIDADE I ASPECTOS TÉCNICOS DA CORRIDA 04 UNIDADE II MÉTODOS DE PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO DE CORRIDA 04 UNIDADE II LIBERAÇÃO MIOFASCIAL 02 SISTEMA DE AVALIAÇÃO Nota Final = Nota do Questionário Final do Curso (Valor: 100,0 pontos). ROTEIRO DE ESTUDOS: Para completar o Questionário Final do Curso o cursista deverá realizar a leitura completa das Unidades I, II e III, dos artigos indicados no decorrer do vídeo e assistir aos vídeos sobre a diferença biomecânica da corrida e exercícios educativos de corrida. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS UNIDADE 1 – ASPECTOS TÉCNICOS DA CORRIDA INTRODUÇÃO O que leva os seres humanos adotarem a prática de exercícios físicos regularmente? Um dos principais motivos para o interesse das pessoas em praticar exercícios físicos e adotar hábitos saudáveis é a melhoria da qualidade de vida e da aptidão física relacionada à saúde. Correr é uma das atividades que mais cresce em número de praticantes. Estudos mostram que correr deixa as pessoas mais felizes, mais saudáveis e melhora o funcionamento do cérebro. O Grupo de Estudos e Pesquisa em Comunicação e Marketing no Esporte, da Universidade Estadual de São Paulo, em parceria com o Strava, realizou uma pesquisa com 1.154 praticantes de corrida. Entre os achados do estudo, conclui-se que a corrida é responsável pelo aumento da sensação de felicidade e melhora na percepção da qualidade de vida. As corridas de média e longa distâncias, além dos benefícios citados anteriormente, sabidamente ajuda a melhorar a saúde do coração, diminuir os níveis de LDL (colesterol “ruim”), aumentar os níveis do HDL (colesterol “bom”), aumentar a capacidade respiratória, estimular a formação de massa óssea, auxiliar na regulação da pressão arterial, aumentar os níveis de serotonina (neurotransmissor que regula sono e o apetite), favorecer a perda ou manutenção do peso, desenvolver a resistência muscular dos membros inferiores e fortalecer as articulações. A presente Unidade tem como finalidade esclarecer alguns aspectos que podem potencializar ainda mais os benefícios gerados pela prática da corrida de rua e melhorar a performance dos corredores. Esses aspectos dizem respeito a técnica e a biomecânica que quando bem desenvolvidos e inseridos dentro do programa de treinamento, serão capazes de alterar a perspectiva em relação ao treinamento e gerar uma nova forma de planejar e realizar o treinamento visando a melhora do rendimento em provas de corrida de rua. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 1.1. FASES DA CORRIDA O que diferencia o ato de andar do ato de correr? Quando uma pessoa está andando ela mantém um dos pés no solo e o outro no aro tempo todo. Já durante a corrida, momentaneamente, ela mantém os dois pés no ar, como se estivesse saltando. Isso nos permite afirmar que a corrida é uma sucessão de saltos. O tempo que a pessoa permanece com os dois pés no ar é chamada de fase aérea e o tempo em que pelo menos um dos pés está em contato com o solo é chamado de fase de apoio. De modo geral, podendo variar de acordo com o pace1, a corrida pode ser dividida em duas fases: 1. Fase de Apoio (45%), presença do pé no solo, composta por duas subfases. 1.1. Apoio anterior: Compreende a fase de aterrissagem e amortecimento, em que o pé aterrissa, amortecendo o movimento, levemente a frente do plano frontal até a posição imediatamente inferior ao centro de massa, quando ocorre a fase de sustentação. 1.2. Apoio posterior: Inicia quando o pé em contato com o solo posiciona-se atrás do plano frontal, dando início a fase de impulso e decolagem para a fase de suspensão. 1 Pace é o tempo que se leva para percorrer 1 quilómetro. 2. Fase Aérea (55%), ausência de contato com o solo, quando ambos os pés estão temporariamente no ar (fase de suspensão); Quadro 1 – Ilustração e descrição das fases da corrida. A p o io a n te ri o r a) Fase de aterrissagem e amortecimento Esta fase se inicia no momento em que o pé entra em contato com o solo. Preferencialmente esse contato deve ser feito com a região do médio pé e próximo ao eixo longitudinal do centro de massa do corredor. b) Fase de sustentação É a fase na qual o centro de massa está longitudinalmente sobre ponto de apoio dos pés. A p o io p o st e ri o r c) Fase de impulsão Inicia-se quando o centro de massa sobrepassa o ponto de apoio e os membros inferiores iniciam o movimento de extensão, proporcionando impulsão a frente (salto). CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Fa se a ér ea d) Fase de suspensão Ocorre quando o corpo está completamente no ar. 1.2. PRINCÍPIOS TÉCNICOS DA CORRIDA Segundo Redkva e Freitas Junior (2010), existem quatro princípios técnicos para realizar uma boa corrida: Equilíbrio: O equilíbrio geral do corpo depende, em parte, do comportamento da cabeça, que é um dos meios mais eficazes de controle. Ela deve estar em linha com o eixo longitudinal do corpo, mantendo o olhar dirigido para cerca de 15 metros à frente. Também são importantes a posição do tronco e os movimentos dos membros, pois os braços movimentam-se, incessantemente, sincronizados com a movimentação das pernas. Coordenação: O menor dos movimentos realizados durante a corrida deve ser realizado sem choques ou pequenas sacudidas, em um ritmo sempre idêntico, correspondente ao das passadas. Descontração: A ação de correr solicita, principalmente, os músculos ou grupos musculares dos membros inferiores. Os grupos musculares responsáveis pelo controle postural, como o Core2, também são extremante importantes para o bom desempenho da corrida. Assim sendo, quanto maior for à inibição dos músculos que não estão sendo induzidos (braços, antebraço, mãos, trapézios, face), tanto maior será a economia de energia e, consequentemente, tanto melhores serão as condições do corredor para realizar o esforço. Eficácia: A dosificação da amplitude dos movimentos, juntamente com uma utilização mais racional das possibilidades do corpo humano, resulta em um gasto orgânico mínimo, adequando-se melhor ao ritmo desejado. Diz respeito a realizar o esforço de acordo com a demanda da prova ou treino, assumindo um ritmo de corrida que possibilite realizar o percurso no menor tempo possível. 2 Core é uma unidade integrada de 29 pares de músculos que suportam e estabilizam o quadril, pélvis e abdome. Os principais músculos do Core são os abdominais, lombares, glúteos e oblíquos. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 1.3. ASPECTOS BIOMECÂNICOS DA CORRIDA Os gestos motores básicos da corrida foram exaustivamente analisados e chegou-se à conclusão de que existe um padrão mínimo de movimentos que devem ser respeitados. Independente do estilo individual de cada corredor é necessário cuidar dos seguintes fatores: 4.1. Ângulo do Corpo: O ângulo em que o corpo se coloca durante a corrida é uma característica natural, porque, à medida que o corredor acelera a passada, o corpo começa a se inclinar para trás, em uma tomada natural de equilíbrio. Para encontrar o ponto ideal da inclinação do corpo, deve-se mantê-lo no conjunto, em uma linha reta, formada pela perna que está atrás (perna de apoio posterior), tronco e cabeça. Na maioria dos casos isso ocorre quando os olhos focam um ponto a certa distância na pista - aproximadamente 15 metros - o que coloca a cabeça posicionada corretamente, fazendo com que o corpo adquira automaticamente o ângulo adequado. Figura 1 – Ângulo do corpo apropriado para corredores. 4.2. Movimento dos Braços Os braços devem movimentar-se lateralmente em relação ao tronco. Sua ação consiste em um balanceamento rítmico, partindo da articulação do ombro, mantendo os cotovelos flexionados em um ângulo de aproximadamente 90 graus ou menos. Os braços devem movimentar-se no sentido anteroposterior (da frente para trás) sem cruzar excessivamente o plano anterior e/ou posterior do corpo, apenas o suficiente para possibilitar o ritmo da corrida, contribuindo para o equilíbrio e o deslocamento para frente. Durante a movimentação dos braços, as mãos devem estar totalmente descontraídas. Essa ação é de suma importância, a ponto de reservar energia para os grupos musculares que realizam a tarefa de correr. Apoio posterior Eixo longitudinal CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Figura 2 – Diferenças em relação ao movimento dos braços entre corridas de diferentes intensidades 4.3. Movimentação das Pernas Ao realizar a passada, o pé responsável pelo apoio posterior só deixa o solo após a extensão total dos joelhos. Nas provas mais longas, as pernas executam um movimento chamado pendular, com uma elevação não muito acentuada do calcanhar da perna de trás. Nas provas de velocidade, o movimento por sua vez é circular, havendo uma flexão mais acentuada do joelho da perna de trás que provoca uma aproximação maior do calcanhar junto à parte posterior da coxa e, consequentemente, faz com que o joelho se eleve mais, para cima e para frente, próximo a altura do quadril, no momento em que essa perna vai à frente para realizar o apoio seguinte (apoio anterior). No entanto, é possível observar em corredores e corredoras de alto nível de provas de 5km e 10km a realização de uma movimentação de pernas mista. Ou seja, uma mistura entre a técnica pendular e a circular. A técnica mista é caracterizada pela elevação do calcanhar próximo ao quadril após a fase de impulsão e a elevação moderada dos joelhos a frente antes de realizar o apoio anterior. Essa técnica permite que os corredores gerem mais força na fase impulsão e uma boa economia de corrida, pelo fato de não realizarem passadas tão longas como nas corridas de velocidade. No entanto, por exigir maior força, o trabalho para mudar a técnica de corrida de pendular para mista, requer treinamento técnico e exercícios de força muscular. Corrida de velocidade Movimento dos braços: - Maior contração - Maior amplitude - Exige maior coordenação - Maior desgaste Corrida de longa distância Movimento dosbraços: - Menor contração muscular - Menor amplitude - Exige menor coordenação - Menor desgaste CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Figura 3 – Técnicas de movimentação das pernas durante corridas de média e longa distância. Fonte: Redkva e Freitas Junior (2010) 4.4. Colocação dos Pés A colocação do pé no solo, ou aterrissagem, ao realizar o apoio anterior depende muito do estilo próprio do corredor. Até pouco tempo atrás defendia-se que nas corridas de meio- fundo (até 1.500 metros), por exemplo, o pé deverá apoiar-se primeiramente sobre o metatarso (médio pé) e nas provas mais longas (acima de 3.000 metros) deveria se colocar primeiro a parte anterior do pé (retro pé) e depois a parte lateral externa. No entanto, estudos realizados nos últimos 10 anos verificaram que essa técnica de realizar o primeiro contato dos pés com o calcanhar era equivocada. A justificativa para afirmar que realizar o apoio anterior com o calcanhar é uma forma equivocada de técnica de corrida se baseia nos seguintes aspectos: - Aterrissar sobre o calcanhar causa uma frenagem no movimento e, consequentemente, diminuição da velocidade a cada passada. Isso ocorre porque o apoio com o calcanhar é feito, por questões biomecânicas, a frente do plano frontal do corpo, fora do vetor longitudinal do centro de massa, o que gera uma frenagem do corpo em deslocamento e, consequentemente, uma maior esforço para manter a velocidade da corrida. - Aterrissar sobre o calcanhar gera uma força de cisalhamento sobre o osso da tíbia que pode causar micro lesões ósseas e aumentar o risco de sofrer uma fratura mais grave. - O apoio anterior feito com o calcanhar só é possível graças ao músculo tibial anterior, que ao contrair realiza a flexão do calcanhar (dorsiflexão) e a elevação do ante pé (ponta do pé). Essa ação motora a cada passada gera uma sobrecarga nessa musculatura e está relacionada ao aparecimento de lesões nessa região e dores na fáscia3 que recobre esse músculo. Essas duas consequências, por sua vez, podem ser as causas das famosas canelites4, que tanto incomodam os corredores de rua. Pendular Circular Própria para corridas de longa distância Própria para corridas de velocidade CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Figura 4 - Tipos de aterrisagem durante o apoio anterior em corridas de longa distância 3 A fáscia é uma estrutura passiva que transmite tensões mecânicas geradas pela atividade muscular. Uma de suas funções é diminuir o atrito entre músculos, vasos, tendões, nervos e ossos. 4 Canelite é o nome popular da síndrome de estresse do medial tibial ou periostite medial de tíbia, que é uma inflamação do principal osso da canela, a tíbia, ou dos tendões e músculos da tíbia, podendo se tornar fratura por estresse. Aterrissagem incorreta Aterrissagem correta Aterrissagem incorreta Aterrissagem correta Retro pé Médio pé Ante pé Aterrissagem mais eficiente para corredores de média e longa distâncias Sentido do movimento CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Figura 5 – Fases da pisada em marcha ou correndo Logo, a técnica ideal de aterrissagem dos pés - apoio anterior - para corredores de média e longa distância (mais de 3.000 metros) é com o região do médio pé, localizado entre retro pé e o ante pé. Figura 6 – Tipos de pisada de acordo com a intensidade do deslocamento ATENÇÃO! Aterrissar na fase de apoio anterior sobre a região dos metatarsos (ante pé) é ideal para corridas de velocidade até 800 metros, pois aumenta a velocidade de reação contra o solo, diminuindo o tempo de contato dos pés com o mesmo e aumentando a velocidade das passadas. Para corredores de rua, de provas de média e longa distância, esse tipo de técnica só deve ser utilizada quando for realizado o sprint final (últimos 400 metros), pois adotá-lo por um período prolongado gera uma excessiva sobrecarga nos músculos posteriores da perna (gastrocnêmio e sóleo) e instabilidade articular do tornozelo. Corridas de velocidade Corridas de média e longa distância Caminhada CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Figura 7 – Diferenças técnicas e biomecânicas entre estilos de corrida. 1.4. ANÁLISE DA TÉCNICA DE CORRIDA A seguir mostraremos um vídeo comparativo entre duas corredoras. (Inserir o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ujIwsa4zWGM&t=3s) A atleta da esquerda, de blusa azul, é a australiana Mirinda Carfrae, triatleta profissional e campeã mundial do Ironman Triátlon. Carfrae alcançou posições no pódio em seis de suas sete tentativas no Ironman World Championship: Dois 1° lugares, três 2° lugares e um 3° lugar. Ela também ganhou o Ironman 70.3 World Championship de 2007. A corredora da direita, de blusa laranja, é a também australiana Melissa Hauschildt, triatleta profissional e ex-atleta de atletismo de meia distância (1.500 e 5.000 metros). Ela é tricampeã mundial, ganhando o ouro no Ironman 70.3 World Championship de 2011 e 2013, bem como o Campeonato Mundial de Triatlo de Longa Distância ITU 2013. Ela também ganhou a Prata no Ironman 70.3 World Championship de 2016. Ambas são excelentes atletas de corrida e possuem as mesmas marcas na etapa de corrida das competições de triátlon. Apesar disso, elas apresentam técnicas de corrida diferentes. https://www.youtube.com/watch?v=ujIwsa4zWGM&t=3s CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Testando os conhecimentos! Você consegue identificar cada aspeto técnico e biomecânico explorado na presente unidade no estilo de corrida realizado por cada uma das atletas? 1.5. EDUCATIVOS DE CORRIDA Uma etapa muito importante da sessão de treinamento de corrida, seja qual for a distância ou intensidade, compreende a execução dos exercícios educativos de corrida. Os exercícios educativos de corrida tem por objetivo desenvolver a melhora da coordenação de corrida por meio de ações motoras dinâmicas que enfatizam determinado movimento realizado na corrida. Ademais, os educativos de corrida também servem como forma de aquecimento pré corrida, pois contribuem diretamente na ativação dos grupos musculares que serão solicitados na mesma, elevando a temperatura corporal, local e aumentando o aporte de sangue oxigenado para fibras musculares. Os exercícios educativos mais comuns e suas definições são: - Skipping: Consiste na realização de uma corrida com elevação acentuada e alternada dos joelhos. Se for realizado a baixo da linha do quadril é chamado de Skipping-baixo e ser for realizado ultrapassando os joelhos da altura do quadril leva o nome de Skipping-alto. Deve-se manter o tronco ereto, olhar para a frente e movimentando os braços ao lado do corpo. Um erro comum é manter os cotovelos flexionados durante o movimento de Skipping e tocar com as palmas das mãos sobre a coxa. Figura 8 - Skipping - Anfersen: Corrida com flexão acentuada dos joelhos de modo que os calcanhares toquem os glúteos. O tronco deverá permanecer levemente flexionado a frente e os baços devem CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS- Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS movimentar-se naturalmente ao lado do corpo, no mesmo ritmo e frequência das pernas. Um erro muito comum é permanecer com as mãos atrás dos glúteos e tocar com os calcanhares nas palmas da mãos. Figura 9 - Anfersen - Dribling: Caminhando para frente, realizar um movimento de marcha de baixa amplitude e grande frequência somente tocando as pontas dos pés. Os joelhos deverão realizar uma semi- flexão. O corpo deverá estar na vertical e o olhar para frente (e não para os pés). Os braços movimentarão naturalmente ao lado do corpo no mesmo ritmo e frequências das pernas. Figura 10 - Dribling - Hopserlauf: Em progressão para a frente, realizar saltos consecutivos no sentido vertical, com elevação alternada dos joelhos até a altura da quadril. A perna de impulsão deverá permanecer CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS estendida durante a fase aérea e os braços deverão movimentar-se de modo alternado em oposição as pernas, mas no mesmo ritmo e frequência. Figura 11 - Hopserlauf Esses quatro exercícios descritos acima são os mais tradicionais e praticados pelos melhores atletas de corrida do mundo. Além deles, existem outras centenas de educativos que irão proporcionar ganhos adicionais em termos técnicos e coordenativos para a corrida. Segundo Redkva e Freitas Junior (2009), a série de exercícios educativos de corrida devem ser realizados no início dos treinos, ou provas, quando o atleta ainda está descansado e pronto para realizar movimentos complexos e coordenativos. A seguir, algumas sugestões de séries de exercícios educativos, com base em Redkva e Freitas Junior (2009): 1. Parado em pé, realizar o movimento dos braços no sentido anteroposterior. 2. No lugar realizar o movimento de braços e pernas do Skipping. 3. Realizar o Skipping parado, tentando tocar os joelhos nas mãos do professor ou auxiliar que estará à frente. 4. Em progressão para a frente, realizar o movimento de braços e pernas do Skipping. 5. Em progressão, realizar o Skipping com os braços levantados acima da cabeça (maior ativação do Core). 6. Em progressão, realizar o Skipping com os braços cruzados sobre o peito. 7. Realizar o Skipping mantendo temporariamente o joelho elevado a altura do quadril enquanto o membro que está no solo realiza dois ou três pequenos saltos com um pé um só antes de realizada a troca da passada. 8. Realizar o Anfersen com braços levantados acima da cabeça, com os cotovelos estendidos e mãos espalmadas. 9. Realizar o Anfersen com os braços cruzados na altura do peito, os pés deverão tocar os glúteos. 10. Realizar o Anfersen de forma completa (braços movimentam-se normalmente) no ritmo estabelecido pelo professor. 11. Realizar o Dribling com ritmos variados (do mais lento para o mais devagar). CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 12. Realizar o Hopserlauf caminhando, elevando os joelhos até a altura do quadril, mas sem saltar. 13. Realizar o Hopserlauf caminhando, elevando os joelhos até a altura do quadril, com um pequeno salto no sentido vertical. 14. Realizar o Hopserlauf padrão, elevando os joelhos até a altura do quadril e saltando o máximo possível em cada passada. Assista o vídeo a seguir e confira uma série completa de educativos de corrida que podem potencializar o seu rendimento na corrida. Perceba que em todos os exercícios educativos demostrados no vídeo, existe uma ênfase muito grande na questão do apoio realizado com a região do médio pé na fase de aterrissagem e amortecimento e a extensão completa dos joelhos por ocasião da fase de impulsão. (Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=HvH5WZk0f90) A seguir, a sequência dos exercícios educativos mostrados no vídeo anterior e suas respectivas nomenclaturas (tradução livre): 1. Hopserlauf (High Knee Skips) 2. Anfersen (Butt Kickers) 3. Dribling (Anckle Drill) 4. Skipping baixo (Skippings) 5. Skipping alto (High Knee Running) 6. Skipping com extensão dos joelhos a frente (Foreleg extension marching) 7. Corrida com joelhos estendidos (Straight Leg Running) 8. Skipping com aterrissagem simultânea (High Knee Bounce Skips) 9. Salto tornozelo (Ankle Bounce) 10. Saltos horizontais alternados (Bounding) https://www.youtube.com/watch?v=HvH5WZk0f90 CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS SAIBA MAIS! O tipo de pisada realizada durante a caminhada ou a corrida podem aumentar as chances de lesões traumato-ortopédicas (ossos, músculos, tendões e ligamentos). Como vimos nessa unidade, realizar a aterrissagem (apoio anterior) com o calcanhar (retro pé) durante a corrida aumenta as chances de ocorrer micro lesões no osso da tíbia, assim como de sofrer com dores no músculo tibial anterior e na fáscia que recobre esse músculo (canelite). Para saber mais, leia o artigo a seguir e descubra algumas informações bem interessantes sobre a influência do tipo de pisada e a dor patelofemoral (dores no joelho). VENTURINI, Claudia Venturini Claudia et al. Estudo da associação entre dor patelofemoral e retro pé varo. Acta fisiátrica, v. 13, n. 2, p. 70-73, 2006. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS UNIDADE 2 - PRESCRIÇÃO DE TREINAMENTO PARA CORREDORES: POR ONDE COMEÇAR? INTRODUÇÃO As corridas contínuas de média e longa distância são as formas de trabalho mais representativa da resistência da potência aeróbica. A resistência e a potência aeróbica se fazem presentes em qualquer prova ou desporto com duração maior do que 5 minutos e se farão notar em todas as atividades físicas, principalmente na fase de treinamento com o objetivo de melhorar a condição física de base. Na fase de preparação física os exercícios aeróbicos deverão comportar uma duração nunca inferior a 30 minutos. Para elementos sedentários e não atletas, sua duração não deve ser inferir a 15 minutos. 2.1. ZONAS ALVO DE TREINAMENTO (ZAT) O método mais comum para a prescrição dos exercícios aeróbios utiliza como variável a FC, por meio de uma classificação que estabelece um percentual para determinada Zona Alvo de Treinamento (ZAT). Esse método parte do princípio da relação existente entre a Frequência Cardíaca Máxima (FCmáx) e a Frequência Cardíaca de Reserva (FCres), através das quais é possível estabelecer as seguintes ZATs: - Zona Aeróbia Regenerativa; - Zona Aeróbia Lipolítica; - Zona Aeróbia Glicolítica; - Zona Mista; - Zona Anaeróbia. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - Zona Aeróbia Regenerativa: Esta zona de treinamento é para pessoas sedentárias que estão começando ou reiniciando uma rotina regular de exercícios físicos, por motivos de mudanças de hábito de vida ou saúde. Também é nesta ZAT que os corredores devem fazer o aquecimento e desaquecimento pré e pós treinamentos mais intensos, respectivamente. Os benefícios ao se exercitar nesta zona são vários, como a redução de parâmetros fisiológicos nocivos à saúde como o colesterol e triglicerídeos, além de ser uma estratégia de recuperaçãopós-treino, pois nessa intensidade haverá uma aceleração da remoção do lactato sanguíneo acumulado durante os esforços mais intensos. - Zona Aeróbia Lipolítica: Nesta intensidade o seu organismo utiliza mais gordura como fonte de energia e a partir desta intensidade seu organismo começa a sofrer os efeitos positivos do treinamento aeróbico visando a melhorada da aptidão cardiorrespiratória. - Zona Aeróbia Glicolítica: Treinando nesta zona você não apenas beneficiará seu coração, como também o seu sistema respiratório. Exercitar-se nesta zona irá aumentar a sua capacidade aeróbica por meio do aumento da capacidade pulmonar; do número e tamanho dos seus vasos sanguíneos; e fortalecer e aumentar o tamanho do coração, permitindo que ele bombeie mais sangue oxigenado por minuto com menos esforço. - Zona Mista ou Limiar Anaeróbico: Se o seu objetivo é apenas manter a forma provavelmente não deverá gastar muito tempo treinando nesta ZAT. No limiar anaeróbico seu treinamento começa a ficar mais anaeróbico do que aeróbico. Em algum ponto nesta zona o seu coração não será capaz de bombear sangue oxigenado suficiente para suprir os músculos em atividade e seu organismo terá que usar fontes anaeróbicas de energia (glicose). Nesta zona você treinará seu corpo para metabolizar eficientemente o ácido lático (lactato). Está é uma zona de treinamento de intensidade alta, então não deve treinar nela por mais de uma hora por dia. No entanto, para fins de emagrecimento, estudos têm mostrado que treinar nessa ZAT faz com que o organismo metabolize gordura após o treino, gerando, a longo prazo, uma redução significativa da gordura corporal em comparação as ZATs anteriores (menos intensas). Os exercícios característicos dessa ZAT são as corridas intervaladas de alta intensidade, os famosos HIITs, com sprints que variam de 200 a 400m, com intervalos regulares de repouso entre eles. - Zona Anaeróbia ou Esforço Máximo: Você não deve correr nesta zona a menos que esteja em ótima forma. Está é uma zona de alto risco de contusões. Nesta zona você se exercitará acima do limiar anaeróbico e seu corpo trabalhará em regime de débito de oxigênio. No entanto, se optar por treinar nesta zona permaneça por períodos curtos de tempo. Os exercícios característicos dessa ZAT são os tiros de velocidade pura de 20, 30, 50 e 100m e tem como objetivo desenvolver a potência anaeróbia. Tabela 1 - Zonas de Treinamento – ZAT FC máxima FC reserva 100 100 Zona Anaeróbia 90 83 Zona Mista CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 80 70 Zona Aeróbia Glicolítica 70 56 Zona Aeróbia Lipolítica 60 42 Zona Aeróbia Regenerativa 50 28 Fonte: Marion et al. (1994) 2.2. CÁLCULO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA MÁXIMA Os parâmetros mais utilizados para a prescrição do treinamento de corrida são baseados principalmente na Frequência Cardíaca (FC), Consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx), Velocidade (v) e Limiar Anaeróbico (LAn). A FCmáx foi por muito tempo o parâmetro mais utilizado para determinar as ZATs de corredores amadores e profissionais. O seu cálculo é muito simples e pode ser visto a seguir: FCmáx = 217 – (0,85 x idade) para ambos os sexos (TANAKA et al. 2001) FCmáx = 208 – (0,70 x idade) para ambos os sexos (BRANCO; VIANNA; LIMA, 2004) Por exemplo, digamos que você ou seu atleta possui 30 anos. Com base no cálculo da FCmáx proposto Tanaka et al. (2001), siga os seguintes passos: 1. Insira a idade na equação e multiplique a idade por 0,85: FCmáx = 217 – (0,85 x idade) = 217 – (0,85 x 30) = 217 – 25,5 2. Subtraia de 217 o valor obtido da multiplicação e encontre a FCmáx: FCmáx = 217 – 25,5 = 191,5 bpm 2.3. CÁLCULO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA DE RESERVA No entanto, a utilização da FCmáx para determinar a ZAT não leva em consideração uma variável importante: a Frequência Cardíaca de Repouso (FCrep), que é a velocidade em batimentos por minuto que o coração trabalha enquanto o organismo está em estado de repouso. Considerar essa variável é fundamental para prescrição de qualquer treinamento que será monitorado por meio de FC, dado a enorme variância que pode existir na FCrep entre indivíduos de mesma idade. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Logo, para prescrever a ZAT com base na FC nós não podemos apenas saber qual é a FCmáx, mas sim quanto nós ou nosso atleta tem de Frequência Cardíaca de Reserva (FCres), ou seja, o quanto sobra da diferença entre a FCmáx e a FCrep. É possível medir a FCrep de forma muito simples: com o indivíduo sentado em repouso por pelo menos cinco minutos, conta-se os batimentos através de apalpação no pulso ou com o auxílio de um monitor cardíaco (frequencímetro). No entanto, a melhor maneira de se verificar a frequência cardíaca de repouso é ao acordar, ainda deitado, realizando-se a medida por três dias e utilizando a média delas. De posse da FCmáx (já elucidada acima) e da FCrep, podemos calcular a Frequência Cardíaca de Reserva (FCres), que é justamente a quantidade de batimentos cardíacos que o coração pode manifestar da frequência cardíaca de repouso até a frequência cardíaca máxima, no nosso caso preditiva máxima, tornando o cálculo para a Frequência Cardíaca de Treinamento (FCt) mais efetiva. Então: FCres = FCmáx – FCrep Exemplo: FCmáx = 191,5 bpm FCrep = 56 bpm FCres = FCmáx – FCrep = 191,5 – 56 = 135 bpm Com o conhecimento da FCrep é possível utilizar a equação apresentada na Tabela 2 para determinar a FCt e a ZAT (em %) correspondente, conforme a aptidão do indivíduo ou o período em que se encontra em sua periodização (planejamento). Lembre-se: peça auxílio a um Profissional de Educação Física para realizar os cálculos e determinar a FCt. Tabela 2 – Frequência Cardíaca de Treino (FCt) FC de Treino: % FCmáx ou % FCres Considerando a FCmáx, usar a seguinte equação: FCt = FCmáx x (%/100) Exemplo FCmáx = 200 bpm Intensidade desejada: 80% Logo: FCt = 200 x (80/100) = 200 x 0,8 = 160 bpm Considerando a FCres, usar a seguinte equação: FCt = [(FCmáx – FC rep) x %] + FCrep Exemplo: CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS FCmáx = 200 bpm FCrep: 60 bpm Intensidade desejada: 80% Logo: FCt = [(FCmáx – FC rep) x (%/100)] + FCrep = [(200 – 60) x (80/100)] + 60 = [140 x 0,80] + 60 = 172 bpm Legenda: FCt = Freq. Cardíaca de Treino; FCmáx = Freq. Cardíaca Máxima; FCrep = Freq. Cardíaca de Repouso. Fonte: Marion et al. (1994) Veja a seguir, na tabela 3, o quanto pode variar em termos percentuais a FCmáx da FCres e entenda a razão de não se utilizar somente a primeira para determinar a ZAT. Tabela 3 – Relação entre a Frequência Cardíaca Máxima e Frequência Cardíaca de Reserva FCmáx FCres 100% 100% 90% 83% 80% 70% 70% 56% 60% 42% 50% 28% Fonte: Marion et al. (1994) A FC pode ser influenciada por diversos fatores, ocorrendo variações que podem influenciar no desempenho e na ZAT proposta. Podemos destacar como mais significativas o Sono, Drift Cardíaco (elevação do ritmo cardíaco no qual há uma diminuição gradual no volume sistólico e na elevação na FC causada por aumento na temperatura e pela desidratação), Competição, Variabilidade diária, Stress, Cafeína, Desidratação e Estadode Treinamento. Então, fique atento e informe o seu treinador sobre possíveis distorções entre a ZAT estabelecida e a percepção do esforço realizado durante o treino. Somente ele será capaz de promover ajustes nas variáveis de controle do treinamento. 2.4. CÁLCULO DO CONSUMO DE OXIGÊNIO MÁXIMO E RESERVA (VO2MÁX. / VO2RESERVA) Existem diversos protocolos que podem ser empregados para encontrar o Consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx) na prescrição do treinamento de corrida. Abaixo, apresentamos alguns protocolos que podem ser empregados em ambientes abertos (pistas) e em academias (esteiras rolantes): 2.4.1. Protocolo Lima/ Vianna (de Esteira rolante) - Preparação/Aquecimento: 4 km/h por 2 minutos. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - Início do teste: 8 km/h - Duração: 1 minuto a cada estágio. - Aumento de 1 km/h a cada estágio. - Equação: VO2máx = vel. Km/h + 1,05 0,3 *onde: vel. Km/h é a máxima velocidade alcançada no estágio anterior ao encerramento do teste. O teste deve ser interrompido quando o avaliado não suportar mais correr ou apresentar sinais preocupantes de fadiga (palidez, dores no peito, descoordenação motora). Tabela 4 – Tabela de conversão do protocolo de Lima e Vianna para estimar o VO2máx. Km/h na esteira 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 VO2 30,2 33,5 36,8 40,2 43,3 47,7 50,0 53,3 56,6 60,0 63,5 66,8 70,1 Exemplo: Último estágio completo na esteira = 18 km/h VO2máx correspondente = 63,5 ml/kg.min 2.4.2. Protocolo de Pista (Corrida de 2400 m) Esse protocolo é indicado para corredores “recreacionais” e consiste em percorrer 2.400 metros no menor tempo possível em superfície plana, de preferência em pista oficial de atletismo. O protocolo indicado para atletas “recreacionais” é calculado da seguinte forma: VO2máx = [2400 x 12] + 3,5 t (seg) Onde: t = tempo em segundos Exemplo 1 Atleta recreacional do sexo masculino que percorreu os 2.400 metros em 8 minutos e 20 segundos (ou 500 segundos) VO2máx = [2400 x 12] + 3,5 CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 500 VO2máx = 61,1 ml/kg.min Exemplo 2 Atleta recreacional do sexo feminino que percorreu os 2.400 metros em 9 minutos e 30 segundos (ou 570 segundos) VO2máx = [2400 x 12] + 3,5 570 VO2máx = 54 ml/kg.min De posse do valor do VO2máx estimado e, mais importante, da velocidade correspondente ao VO2máx, é possível prescrever treinos abaixo, iguais ou acima do VO2máx, com o objetivo de melhorar a capacidade cardiorrespiratória, a resistência anaeróbia, a potência anaeróbia e a velocidade de corrida. O quadro abaixo mostra de forma resumida como a intensidade relacionada ao VO2máx pode ser utilizada para atingir vários objetivos através de treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT). Dependendo da intensidade do treino, haverá um predomínio de determinada fonte de energia e, consequentemente, maior desenvolvimento de determinada capacidade. Quadro 1 - Os três tipos de HIIT e suas respectivas características TIPO 1. Intensidade Alta 2. Máxima 3. Supra máxima OBJETIVO Potência aeróbia Resistência anaeróbia Potência anaeróbia Intensidade 75 a 95% 95 a 100% > 100% Tempo de estímulo > 45 até 300 seg > 20 até 60 seg 10 a 30 seg Relação* 1:1; 1:2 1:3; 1:4 2:1; 1:1; 1:2; 1:3; 1:4; 1:5; ou mais. * Relação: É a razão entre o tempo de estímulo e o tempo de intervalo entre os tiros. Por exemplo: um HIIT de Relação 1:2 significa que o tempo de intervalo é duas vezes maior que o tempo de estímulo. Numa relação 2:1, significa que o tempo de estímulo é duas vezes maior que o tempo de intervalo. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 2.4.3. Protocolo de Pista (Corrida de 3200 m) Este protocolo é indicado para corredores “fundistas” amadores, que consigam percorrer a distância de 3.200 metros entre 8 e 12 min. O protocolo indicado para atletas “fundistas” amadores é calculado da seguinte forma: VO2máx = [118,4 – 4,774 x (t)] Onde: t = tempo em minutos e fração decimal dos 3200m. Exemplo 1 Atleta fundista amador do sexo masculino que percorreu os 3.200 metros em 9 minutos e 30 segundos (ou 9,5 minutos) VO2máx = [118,4 – (4,774 x 9,5)] VO2máx = 73 ml/kg/min Exemplo 2 Atleta fundista amador do sexo feminino que percorreu os 3.200 metros em 11 minutos (ou 11,0 minutos) VO2máx = [118,4 – (4,774 x 11] VO2máx = 66 ml/kg/min Fonte: Weltman (1989) 2.4.4. Conceito e utilização do VO2 de reserva (VO2res) para estimar o VO2 de treino. O Volume Oxigênio de Reserva (VO2res) é entendido como a diferença entre o VO2máx e o VO2 em repouso (VO2rep). Ou seja: VO2res = VO2máx – VO2rep. O VO2rep é por convenção (baseado em estudos) estabelecido como sendo o valor de 3,5 ml/Kg.min. Este valor é considerado o consumo de oxigênio em repouso para a grande maioria dos indivíduos. Assim, quando um exercício é realizado a intensidade do exercício eleva o consumo de oxigênio. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 2.4.5. Cálculo do VO2 res/alvo (ou VO2 de treino) com base no VOmáx e VO2res: Para determinar o VO2res deve-se utilizar a seguinte equação VO2res/alvo = [(VO 2 máx – VO 2 rep) x (% intens/100)] + VO 2 rep. Exemplo 1 VO2máx = 74,5 ml/kg.min VO2rep = 3,5 ml/kg.min Intensidade desejada: 90% Atividade: Corrida em esteira com 1% de inclinação Etapa 1 – Cálculo do VO2res/alvo - 80% do VO2res VO2res/alvo = [(VO 2 máx – VO 2 rep) x (% intens/100)] + VO 2 rep = [(74,5 – 3,5) x 90/100)] + 3,5 = [(74,5 – 3,5) x 90/100)] + 3,5 = [71 x 0,9] + 3,5 = 63,9 + 3,5 = 67,4 ml/kg.min Etapa 2 – Cálculo da velocidade correspondente na esteira (vVO2res/alvo) vVO2res/alvo = VO2res/alvo - 3,5 / 3,33 = 67,4 – 3,5 / 3,33 = 67,4 – 3,5 / 3,33 = 63,9 / 3,33 = 19,18 km/h 2.5. CÁLCULO DO LIMIAR ANAERÓBICO Refere-se à intensidade de exercício onde o nível de lactato sanguíneo começa a se acumular numa velocidade mais alta do que vinha acontecendo em intensidades de exercício mais leves. A partir desse ponto a velocidade de produção de lactato ultrapassa a velocidade de remoção causando um acúmulo que vai se acentuando cada vez mais. Existem basicamente dois Limiares: Limiar 1: representa o ponto cuja produção de lactato é aumentada, mas ainda existe um equilíbrio entre produção e remoção, as fontes aeróbias de energia continuam sendo predominantes no fornecimento de energia para a atividade; Limiar 2: representa o ponto cuja produção de lactato é aumentada desproporcionalmente ao que vinha acontecendo nas intensidades inferiores de exercício, e a fonte energética aeróbia não consegue mais manter “sozinha” (predominantemente) o fornecimento de energia, passando a necessitar de ajuda das fontes anaeróbias, que acentuam o acúmulo de lactato induzindo à fadiga precocemente. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS -Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Em qualquer intensidade de exercício existe produção de lactato, porém em intensidades abaixo do Limiar 2 esse lactato não se acumula, pois a velocidade de remoção é igual a velocidade de produção. O lactato só vai se acumular quando a velocidade de remoção for inferior à velocidade de produção. Até antes do limiar anaeróbio, produção e remoção de lactato estão equilibradas. Determinação indireta da velocidade correspondente ao Limiar Anaeróbico 2 (Lan2) para corrida (SIMÕES, 1998). Lan = (Vm 3000m x 0,97) – 15,81 Onde: Vm = Velocidade em metros por minuto em percurso de 3000 metros (de preferência em terreno plano ou em esteira com 1% de inclinação). Exemplo 1 O atleta percorre 3000 metros na pista de atletismo em 10 minutos. Logo, sua velocidade média foi de 300 metros por minuto. Lan = (Vm 3000m x 0,97) – 15,81 = (300 x 0,97) – 15,81 = 275,2 m/min ou 4,59 m/s ou 16,5 km/h ou 3’38”/km 2.6. CÁLCULO DA VELOCIDADE DE CORRIDA O PACE na corrida é a média de tempo que você leva para correr uma determinada distância, geralmente, um quilómetro. Por exemplo se você leva 50 minutos para correr 10km seu pace médio (ritmo) por km será de 5 minutos. É importante calcular o pace por diversas razões: - Saber como foi seu desempenho comparando duas ou mais provas; - Determinar os ritmos de treinos longos, intervalados e entre outros; - Prever o tempo que você irá completar determinada distância; - Para comparar o seu desempenho com o de outros corredores. Segue abaixo um exemplo de cálculo da velocidade média para corredores recreacionais e amadores: CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Exemplo 1 Atleta recreacional cujo VO2máx é 46,8 ml/kg/min. 1° passo: Calcular a velocidade correspondente ao VO2máx (vVO2máx). VO2máx – 3,5 = 3,3 x vVO2máx 46,8 – 3,5 = 3,3 x vVO2máx vVO2máx = 46,8 – 3,5 / 3,3 vVO2máx = 13,12 km/h 2° passo: Converte o vVO2máx de km/h para metros/min. vVO2máx = 13,12 / 0,06 vVO2máx = 218,66 m/min 3° passo: Calcule a distância a ser percorrida de acordo com a intensidade programada para o treino. Exemplo: Intensidade para o treino = 80%. Então: Vt = 218,66 x (80/100) = 174,92 m/min. 4° passo: De acordo com a distância ou tempo estabelecido para o treino, calcule o PACE. Exemplo: Distância programada a ser percorrida = 10km. Sabendo que: t = D / v t = 10.000 m / 174,92 m/min t = 57,2 min ou 57’12”. Pace (min/km) = 57,2 / 10 Pace: 5,7 ou 5’42”/km 2.7. CONTROLE DO TREINAMENTO A Escala de Percepção do Esforço (PSE) é um método de mensuração e monitoração da intensidade do esforço utilizada em áreas do treinamento físico. A PSE refere-se principalmente ao trabalho muscular intenso que envolve uma tensão relativamente grande sobre os sistemas musculoesquelético, cardiovascular e respiratório. Ainda, a PSE está intimamente relacionada ao conceito de intensidade do exercício, ou seja, "de quão pesada e extenuante é uma tarefa física", podendo ser definida como sendo a intensidade subjetiva de esforço, tensão, desconforto e/ou fadiga que são experimentados durante os exercícios físicos – aeróbicos e de força. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Tabela 9 – Escalas de Percepção de Esforço Subjetivo (PSE) Escala de 15 pontos de Borg Escala proporcional por categoria 6 Nenhum esforço 0 Nenhum esforço 7 0,3 Extremamente leve 0,5 Extremamente leve 8 1 Muito leve 9 Muito leve 1,5 10 2 Leve 11 Leve 2,5 12 3 Moderado 13 Um pouco pesado 4 14 5 Forte 15 Forte (Pesado) 6 16 7 Muito Forte 17 Muito forte 8 18 9 19 Extremamente forte 10 Extremamente forte 20 Máximo esforço 11 Máximo Absoluto Fonte: Borg (1996) Tabela 10 - Classificação da intensidade do exercício dinâmico com base no treinamento de 15 a 60 minutos de duração; intensidade relativa (%). %FCmáx %VO2máx Grau de percepção do esforço (escala de 15 pontos Borg) Classificação da Intensidade <35% < 30% <10 Muito leve 35-59% 30-49% 10-11 Leve 60-79% 50-74% 12-13 Moderada (um pouco pesado) 80-89% 75-84% 14-16 Forte ≥ 90% ≥ 85% ≥ 17 Muito forte Fonte: Pollock e Wilmore (1990). 2.7.1. CÁLCULO DA CARGA DE TREINAMENTO DE ACORDO COM A PSE A carga será a quantidade de esforço realizado por unidade de tempo, ou seja, o produto da intensidade e do volume do treino. No treinamento desportivo quantificamos a carga em Unidade Arbitrária ou UA. A mesma é calculada da seguinte forma: - Unidade arbitrária (UA) = PSE x Duração da sessão (min) CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Tabela 10 – Carga de treinamento de acordo com a PSE e tempo da sessão Microciclo SEG. TER. QUA. QUI. SEX. SAB. DOM. PSE 6 7 6 8 7 5 X Duração (min) 50 40 60 40 45 40 X UA 300 280 360 320 315 200 X Legenda: PSE → Escala proporcional por categoria (ver Tabela 9). Fonte: Foster (2001) E qual a importância de quantificar a carga de treino? Observem na Tabela 10 que um treino cuja PSE foi alta, não necessariamente pode ter apresentado uma carga alta em termos de UA. Percebam que o treino realizado na quarta-feira teve uma PSE de 6 (Forte) e o treino realizado na quinta-feira uma PSE de 8 (Muito forte). No entanto, como o treino da quinta-feira foi 20 minutos mais curto, a carga em UA foi de 320, enquanto que o treino da quarta-feira, cujo volume foi de 60 minutos, apresentou uma carga de 360. Logo, apesar de o treino de quinta- feira ter sido “muito forte”, o de quarta-feira pode ter gerado um esforço fisiológico (não percebido) mais alto. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS UNIDADE 3 - LIBERAÇÃO MIOFASCIAL: UM MÉTODO INOVADOR PARA APRIMORAMENTO DA PERFORMANCE. INTRODUÇÃO O termo miofascial deriva de miofás cia, uma espécie de camada de cobertura que agrega o tecido muscular (mio) e o tecido conectivo (fáscia), e ganhou destaque nas terapias manuais como a massoterapia, substituindo a denominação de músculo. Trata-se de uma técnica de manipulação com pressão moderada sobre o meridiano miofascial, um conjunto de tendões e músculos interligados, visando diminuir a incidência de dor tardia, regenerar o indivíduo e restaurar mais rapidamente sua capacidade de movimento antes da sessão de treino seguinte (BOYLE, 2015). A intensidade de contração e o alongamento dos músculos, ao longo da sessão, provoca um tipo de estresse mecânico na fáscia, que retorna à sua forma inicial após a técnica de liberação miofascial, que se dará primeiramente nos principais segmentos envolvidos e servirá, também, para identificar áreas de desconforto e dor. No treinamento de corrida, a aplicação da técnica de Liberação Miofascial está intimamente ligada ao aumento de flexibilidade e na melhora da postura, sendo bastante eficiente quando realizada na parte final de cada sessão. Se o treino deu maior ênfase ao volume, ou seja, a distância percorrida foi alta, a liberação será feita nas plantas dos pés e membros inferiores. Caso tenha ocorrido alta demanda de produção de força poiso treino envolveu pouca quilometragem mas foi intenso, a prioridade será aplicar a liberação na região lombar e músculos adutores. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 3.1. Rolo de Espuma Uma década atrás, preparadores físicos, treinadores e fisioterapeutas olhariam desconfiados para um pedaço redondo de espuma de cerca de 90 centímetros (Fig. 1). Atualmente, quase toda sala de musculação e a maioria dos preparadores físicos utilizam vários rolos de espuma de diferentes comprimentos e densidades, para auxiliar na recuperação pós- treino e diminuir a sensação de dor muscular tardia (BOYLE, 2018). Figura 1 – Rolo de Liberação Miofascial (LM) Os rolos de espuma progrediram de completos desconhecidos a obrigatórios. Os rolos vêm em várias cores, comprimentos e densidades, mas são todos usados para a automassagem. Os termos autoliberação miofascial (foam rolling), automassagem e trabalho de tecidos moles aplicam-se ao uso da autoliberação miofascial. O uso de rolos de espuma progrediu em muitos círculos de uma abordagem do tipo acupressão à automassagem. Hoje, o rolo é usado para aplicar uma espécie de massagem extensa nos grupos musculares longos como a panturrilha, os adutores e o quadríceps e uma pequena força direcionada a áreas como o Tensor da fáscia lata (TFL), rotadores do quadril e glúteo médio. Quando imaginamos um músculo como uma corda com nó, o rolo de espuma é o objeto que desata o nó, permitindo restaurar o padrão normal da fibra e diminuir a rigidez muscular. 3.2. A análise racional para a liberação miofascial Dois conceitos permeiam a possível justificativa para a eficácia da Liberação Miofascial: 1. Deformação e; 2. Dois termos que Thomas Myers cunhou: travado longo e travado curto. Deformação é uma propriedade comum aos tecidos moles extensíveis. Eles ficam mais rígidos à medida que são estendidos devido à reorientação das fibras de colágeno (CURRIER; NELSON, 1992). A deformação mecânica é definida como alongamento do tecido além de sua extensibilidade intrínseca, resultando de uma carga constante com o passar do tempo (WILHELMI et al., 1998). A analogia que usamos com frequência para descrever deformação CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS envolve pressionar lentamente uma sacola de plástico. Se a pressão é lenta e consistente, a sacola não rompe de imediato, mas se estende conforme a pressão aumenta com o passar do tempo. Pense no hábito de sentar. Um estudo feito por Stuart McGill, um renomado pesquisador na área de dores na região lombar, concluiu que “sentar com as costas desleixadas por até 20 minutos pode resultar em aumento da lassidão dos ligamentos espinais posteriores” (MCGILL; BROWN, 1992). O resultado da deformação é uma mudança na qualidade do tecido muscular ou da fáscia. Em ambos os casos, o tecido torna-se o que Thomas Myers refere como “travado longo”. “Alongado, um músculo tentará se recolher ao seu comprimento de repouso antes de ceder e adicionar mais células e sarcômeros para ligar o hiato. Alongue a fáscia rapidamente e ela se romperá (a forma mais frequente de lesão no tecido conjuntivo). Se o alongamento for aplicado com lentidão suficiente, deformará plasticamente: mudará seu comprimento e conservará essa mudança” (MYERS, 2009). O ponto importante sobre deformação é que essas forças constantes de carga baixa causada pelo sentar tornam o tecido muscular (ou a fáscia superficial) mais longa e mais densa. Vemos um aumento no colágeno e um tecido que está efetivamente travado longo. Pense sobre a Liberação Miofascial como um modo de combater a deformação. Vemos com mais frequência estas disfunções no lado posterior do corpo, na região lombar e superior das costas, glúteos e isquiotibiais. Existem também áreas que parecem se beneficiar mais do rolo de espuma. Em termos simples, precisamos rolar a região posterior do corpo (mas não alongar, pois já está estendida) e então rolar e alongar a região anterior. Assim, qual é a melhor maneira de combater a deformação: massoterapia ou Liberação Miofascial? As mãos trabalham melhor que a espuma. As mãos estão diretamente conectadas com o cérebro e podem sentir. Um rolo de espuma não pode sentir. Muitos atletas batalham para arcar com os serviços de um técnico qualificado ou o custo de uma inscrição em uma academia ou grupo de corrida. No atual estado dos planos de saúde, a prevenção em geral não é um custo coberto. Sem possibilidade de reembolso, o custo da massoterapia isolado pode se aproximar ou ser superior ao custo do treinamento. 3.3. Pontos de aplicação A autoliberação miofascial com o rolo de espuma possui muitas limitações, tanto quanto às áreas em que pode alcançar quanto à aplicação em si. Existem regiões do corpo (tal como a região cervical, por exemplo) nas quais os rolos simplesmente não alcançam. Além disso, quando a pessoa se encontra realmente com dor muscular, torna-se quase impossível aplicar a pressão necessária para resolver a questão, sendo necessária a consulta com um fisioterapeuta ou massoterapeuta. Contudo, quando o atleta se apresenta sem dor, a autoliberação miofascial é um excelente e imprescindível método de preparação para o movimento quando associado à ativação neuromuscular. Além de preparar para o movimento, a autoliberação miofascial também deve ser utilizada ao término da sessão de treinamento para restaurar o padrão tônico muscular (BOYLE, 2018). CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A autoliberação miofascial pode exigir um esforço considerável e ser um trabalho duro, especialmente para clientes e alunos iniciantes e acima do peso, pois os braços são bastante exigidos na movimentação do corpo. Além disso, pode provocar dor e deve ser usado com prudência naqueles clientes e alunos com menos densidade muscular. O rolo de espuma nunca deve causar hematomas e o usuário deve se sentir melhor após breve sessão . 3.4. Tempo de execução da liberação miofascial Segundo Boyle (2015), não há concordância entre preparadores físicos e terapeutas acerca de quando rolar, com que frequência e por quanto tempo; logo apenas diretrizes gerais podem ser fornecidas. Em seu livro O novo modelo de treinamento funcional de Michael Boyle (2ª Edição) o autor afirma que a aplicação do rolo de liberação pode ter um aspecto individual na questão de tempo de execução, parecendo que 5 a 10 minutos de trabalho de tecidos moles no início da sessão, antes do aquecimento parece ser suficiente para a maioria dos alunos. Embora ainda não existam regras definidas e rápidas, uma técnica envolve realizar 10 rolagens lentas em cada posição, outra envolve apenas rolar até que a dor se dissipe ou desapareça (BOYLE, 2015). O rolamento depois da prática pode ajudar na recuperação do exercício extremo. A liberação oferece grandes benefícios tanto antes quanto depois da prática. A liberação miofascial antes do exercício pode ajudar a diminuir a rigidez muscular e permite um melhor aquecimento da região trabalhada. 3.5. Técnicas e dicas de autoliberação miofascial Objetivos: - Liberar pontos de tensão. - Restabelecer fluxo sanguíneo localizado. - Remoção de metabólitos. - Inibição dos sensores cinestésicos hiperativos. Observações gerais: - Mantenha pressão constante do rolo sob a região que sofre a manipulação. - Realize movimentos lentos e na direção das fibras musculares (na dúvida procure um profissional de educaçãofísica). 3.5.1. Músculo Adutor Posição Inicial - Mantenha-se em apoio de frente, com os antebraços apoiados no chão e o rolo sob a parte interna de uma coxa. CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - O pé do lado que está apoiado sobre o rolo deve ficar fora do chão, para gerar liberdade de movimento. O joelho do lado que está apoiado sobre o chão deve ficar estendido, para gerar estabilidade. Execução - Transfira o peso do corpo para a frente e para trás, fazendo que o rolo se movimente sob a parte interna da coxa (Figura 2). Figura 2 - Liberação Miofascial (LM) do Músculo Abdutor 3.5.2. Músculo Bíceps Femoral Posição inicial - Sente-se com a parte posterior de uma coxa apoiada sobre o rolo, e a perna contrária cruzada sobre ela. - Mantenha as duas mãos para trás, apoiadas no chão, e uma postura ereta do tronco. Execução - Transfira o peso do corpo para a frente e para trás, fazendo o rolo movimentar-se sobre a parte posterior da coxa (Figura 3). CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Figura 3 - LM do Músculo Bíceps Femoral 3.5.3. Músculo Grande Dorsal Posição inicial - Em apoio lateral, coloque o rolo sob a região do grande dorsal. - Puxe o braço do lado que está apoiado acima da cabeça. -Mantenha estendido o joelho que está do lado do rolo de massagem. - Mantenha flexionado, com o pé apoiado no chão, o joelho do lado contrário. Execução - Transfira o peso do corpo para a frente e para trás, fazendo o rolo movimentar-se sob a região do grande dorsal (Figura 4). Figura 4 - LM do Músculo Grande Dorsal CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 3.5.4. Banda Iliotibial Posição inicial - Em apoio lateral, coloque o rolo sob a parte externa da coxa e mantenha um dos antebraços apoiados no chão, cruzando a pena contrária à frente e com o pé apoiado no chão. Execução - Transfira o peso do corpo para a frente e para trás, fazendo o rolo movimentar-se sob a parte externa da coxa, flexionando e estendendo o joelho do lado do pé que está apoiado (Fig. 5). Figura 5 - LM do Banda Iliotibial 3.5.5. Músculos da Região Lombar Posição inicial - Inclinando ligeiramente à direita ou à esquerda apoio lateral, coloque o rolo sob a região lombar, mantendo o antebraço apoiado no chão. - Mantenha os joelhos flexionados, com o pé apoiado no chão. - Se você tiver qualquer preocupação sobre lesão espinal, pule a região lombar. - Não existem relatos de problemas com a rolagem da coluna lombar, mas use o bom senso e prossiga com cuidado, controlando a distribuição do peso em cima do rolo com os braços pés e pernas. Execução - Transfira o peso do corpo para a frente e para trás, fazendo o rolo movimentar-se sob a região lombar (Figuras 6 e 7). CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Figura 6 - LM da Musculatura da Região Lombar Figura 7 - LM com bastão para a Região Lombar (variação) 3.5.6. Músculos da região superior das costas Posição inicial - Deite-se posicionando a parte superior das costas sob o rolo de liberação., - Mantenha os joelhos flexionados, com os pés apoiados no chão, com o quadril elevado. - Coloque as mãos na cabeça, com os cotovelos na frente do corpo para o foam roller alcançar a área conhecida como coluna torácica. A união dos cotovelos deixa as escápulas mais afastadas, permitindo que o rolo toque o trapézio inferior e romboides. Execução CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - Transfira o peso do corpo para a frente e para trás, fazendo o rolo movimentar-se sob a região da parte superior das costas (Figura 8). Figura 8 - LM para a região Superior das Costas 3.5.7. Tensor da fáscia lata (TFL) e glúteo médio Posição inicial - Em apoio lateral, coloque a borda do rolo sobre o TFL, logo abaixo da crista ilíaca. - Após trabalhar o TFL, gire 90º para uma posição de decúbito lateral e trabalha a partir da articulação do quadril para a crista ilíaca para abordar o glúteo médio. Execução - Transfira o peso do corpo para a frente e para trás em pequenos movimentos, fazendo o rolo movimentar-se sob a região crista ilíaca e glúteo médio (Figura 9). CURSO: CORRIDA DE RUA: NOVAS PERSPECTIVAS - Prof. Dr. Leandro Martinez Vargas – Universidade Estadual de Ponta Grossa; Prof. Esp. Ricardo Luz – Exército Brasileiro. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS Figura 9 - (a) Tensor da fáscia lata e (b) glúteo médio.
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