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- Direito Civil III – - Teoria Geral dos Contratos Art. 421 ao 440 e dos Art. 458 ao 471 do Código Civil Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. (texto anterior) Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019). Princípio da liberdade de contratar. O dispositivo cuida de dois dos princípio da autonomia da vontade, de uma lado; e o princípio da função social do contrato, de outro. Principio da liberdade de contratar. O dispositivo cuida de dois dos princípios que regem os contratos: o principio da liberdade contratual ou principio da autonomia da vontade, de um lado; e o principio da função social do contrato, de outro, O principio da liberdade contratual compõe-se da liberdade de contratar, propriamente dita, e da liberdade de estabelecer o conteúdo do contrato. A liberdade de contratar se sujeita as limitações legais, como a obrigatoriedade de contratar do fornecedor nas relações de consumo (Código de Defesa do Consumidor, art. 39, incisos II e IX) e a de contratar seguros obrigatórios. Se sujeita, igualmente, a restrições de caráter negocial, como no caso de contrato preliminar que obriga os contratantes a realizar o contrato definitivo, A liberdade de estabelecer o conteúdo do contrato é restringida por normas de ordem pública, de caráter cogente, inclusive as que concretizam a função social dos contratos. É também limitada pelos bons costumes. Em nome deles não se admite, por exemplo, a cobrança por prestação de serviços de natureza sexual. A liberdade de contratar diz respeito ao direito do indivíduo de poder celebrar contratos, ou seja, vem da capacidade civil. A liberdade contratual, por sua vez, se revela na possibilidade de se escolher o conteúdo do contrato. A despeito de não haver disposição expressa em lei, a doutrina brasileira sempre asseverou que a força obrigatória de contrato celebrado livremente entre as partes era um dos princípios norteadores do direito civil brasileiro. Princípio da função social do contrato - analisa se a relação contratual estabelecida entre as partes infere-se no contexto social, e não somente no contexto privado, pois o contrato apresenta consequências relativas, também, à sociedade. Nelson Nery Junior afirma que a função social dos contratos possui a condição de cláusula geral, de modo que: O contrato estará conformado à sua função social quando as partes se pautarem pelos valores da solidariedade (CF, art. 3º, I) e da justiça social (CF, art. 170 caput), da livre-iniciativa, for respeitada a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), não se ferirem valores ambientais (CDC, 51, XIV) etc.[9] A violação do princípio da função social do contrato ocorre nas hipóteses em que o pacto venha a prejudicar os interesses sociais, ou até mesmo o de terceiros que não tenham relação direta com o contrato estabelecido entre as partes. A esse respeito, Nelson Nery Junior aponta algumas situações de inobservância da função social do contrato: Haverá desatendimento da função social, quando: a) a prestação de uma das partes for exagerada ou desproporcional, extrapolando a álea normal do contrato; Quando houver vantagem exagerada para uma das partes; c) quando quebrar-se a base objetiva ou subjetiva do contrato, etc.[10] Flávio Tartuce afirma que a função social do contrato é uma norma geral de ordem pública, conforme previsão do art. 2.035, parágrafo único, do próprio Código Civil, através da qual o contrato necessariamente deve ser interpretado de acordo com o contexto do todo social, não devendo trazer desproporções entre as partes e muito menos desembocar em injustiças sociais. Os contratos também não podem extrapolar os interesses meta individuais ou aqueles que se relacionam com a dignidade humana (TARTUCE, 2007). Dessa forma, pode-se afirmar que o princípio da função social do contrato o reconhece como veículo orientador da vida humana e social. Em relação aos fundamentos da função social do contrato, Pablo Stolze Gagliano destaca a intenção do legislador de caracterizar a função social como um preceito de ordem pública. Ao utilizar a expressão “nenhuma convenção”, no parágrafo único do artigo 2035 do Código Civil, o legislador impõe uma obrigatoriedade a todos os negócios jurídicos (GAGLIANO 2006). PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE Durante a vigência do Estado Liberal, o princípio da autonomia da vontade expressava liberdade absoluta, consentindo livre-arbítrio aos indivíduos para contratar com quem e da forma que se quisesse. Atualmente, a vontade do indivíduo passou a sofrer limitações sobre os contratantes e sobre o conteúdo do contrato. A liberdade de contratar diz respeito ao direito de celebrar contratos, ou seja, vem da capacidade civil. Assim, o antigo princípio da autonomia da vontade foi substituído pelo princípio da autonomia privada. Nas palavras de Fernando Noronha: “foi precisamente em consequência da revisão a que foram submetidos o liberalismo econômico e, sobretudo, as concepções voluntaristas do negócio jurídico, que se passou a falar em autonomia privada, de preferência a mais antiga autonomia da vontade.”[5] Autonomia da vontade significa que a obrigação contratual tem uma única fonte: a vontade das partes. A vontade humana é o núcleo, a fonte e a legitimação da relação jurídica, e não a lei. Desta forma, a força que obriga as partes a cumprirem o contrato encontra seu fundamento na vontade livremente estipulada no instrumento jurídico, cabendo à lei apenas assegurar os meios que levem ao cumprimento da obrigação, possuindo, portanto, posição supletiva. Outra consequência jurídica da aceitação doutrina da autonomia da vontade é assegurar que a vontade criadora dos contratos seja livre de defeitos e vícios, de onde decorre a doutrina dos vícios do consentimento. Importante dogma decorrente desse princípio é de as partes possuírem a liberdade de contratar ou não, de escolher com quem deseja contratar, as cláusulas e a forma que o instrumento jurídico terá. Passamos, então, a analisar os elementos que compõe a autonomia da vontade. O primeiro deles é a liberdade contratual, estritamente ligada à vontade livre e desimpedida, proferida pelo próprio indivíduo sem qualquer coação externa. É a liberdade de contratar ou de se abster, de escolher a parte contratual, de estabelecer os limites do contrato, ou seja, de exteriorizar sua vontade da forma que pretender. - Art. 422. CC - Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. O princípio da boa-fé impõe que os contratantes deverão exercer a faculdade de contratar com probidade e honradez, observando a integridade de caráter, mantendo o equilíbrio e a justiça na avença. A transparência e a clareza das cláusulas são requisitos necessários para a configuração da boa-fé objetiva. Vejamos entendimento do professor Orlando Gomes sobre referido princípio: "O princípio da boa-fé entende mais com a interpretação do contrato do que com a estrutura. Por ele se significa que o literal da linguagem não deve prevalecer sobre a intenção manifestada na declaração de vontade, ou dela inferível. Ademais, submetem-se, no conteúdo do contrato, proposições que decorrem da natureza das obrigações contraídas, ou se impõem por força de uso regular e da própria equidade. Fala-se na existência de condições subentendidas."[6] Não se admite um contrato em que uma das partes se aproveite da ingenuidade ou ignorância da outra e estipule cláusulas que provoquem injustamente prejuízos em decorrência do pacto. Mais adiante, o princípio da boa-fé objetiva será detalhado e esmiuçado com enfoqueà liberdade contratual. O principio da probidade alia-se à busca da justiça, do equilíbrio e igualdade nas prestações obrigacionais, que propugnam pela segurança das relações jurídicas. É um preceito cujo valor extrai-se da honestidade, integridade de caráter, no seu aspecto subjetivo, "(qualificando) a moralidade, a honestidade, a lisura dos negócios (jurídicos), o desempenho legítimo e reto do comportamento humano" (BULOS, 2008, p. 819). No aspecto objetivo, principalmente no que tange à Administração Pública, fundamenta-se no artigo 37 da Constituição, parágrafo 4°, que se qualifica como "espécie de moralidade que equivale a um reclamo contra a desonestidade, o enriquecimento ilícito, a desonestidade, a má-fé" (ibid.). A título de reflexão, tem sido ponderado que "o principio da moralidade (possui uma maior) amplitude se comparado à probidade e à boa-fé. A probidade volta-se para um particular aspecto da moralidade e a boa-fé liga-se mais ao item confiança" (ibid.). Obviamente, tal se da quando se volta às relações que ocorrem dentro da atividade pública. Nas relações de caráter privado, a própria disposição analítica dos preceitos da probidade e da boa-fé ressalta o valor individual destes como balizadores dos negócios jurídicos. Nesse sentido, a probidade exsurge como um preceito de valor constitucional que deve regular as relações sociais privadas - e publicas - conforme verbaliza o artigo 422 do Código Civil: "Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade e da boa-fé”.
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