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SÍNDROMES ÍCTERO-FEBRIS Um resumo sobre a Febre Amarela, Leptospirose e Malária. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O FEBRE AMARELA DEFINIÇÃO: Doença febril aguda causada por um vírus do gênero flavivirus e família flaviviridae, conhecido como vírus amarílico. Apesar de possuir um quadro distinto dos demais, também é considerad o uma arbovirose. • Agente etiológico: Flavivírus! A mesma família do vírus da dengue, flavus significa amarelo! É um vírus de RNA de filamento único e envelopado. • Vetor: Os vetores são artrópodes, “mosquitos” do gênero Aedes e Haemagogus. TRANSMISSÃO • Ciclo silvestre: O vetor é o mosquito Haemagogus! Serve também como reservatório da doença. o Hospedeiro: Macaco, observamos epizoo- tia de febre amarela nos macacos (morte). o Hospedeiro acidental: Humano que entra em região de mata fechada! • Ciclo urbano: O vetor é o mosquito Aedes Aegypti o Hospedeiro: Humano! Ausente no BR desde 1942 por Oswaldo Cruz, ou seja, se o doente tem febre amarela no Brasil é sempre silvestre. QUADRO CLÍNICO • Leve (90% dos casos): Síndrome febril sem foco, não tem nenhum sintoma específico e é autolimit. o Sinal de Faget: Dissociação febre-taquicar- dia. Tem febre e o pulso/FC tá normal! o Ecoturismo: História de ida pra Amazônia ou para uma mata fechada. • Grave (10%): Lesão hepática grave e renal. Letalidade de 50% (altíssima)! o Icterícia: Por hiperbilirrubunemia direta (hepatócito conjunga mas não excreta) e aumento de transaminases (AST > ALT). o Hematêmese: Perda de fatores de coagu- lação hepáticos. o Oligúria: Lesão renal estabelecida. *Sinal de FAgeT: Lembrar de Febre Amarela e Tifoide. LABORATÓRIO → INESPECÍFICO • Hematologia: Hemograma com leucopenia e neutropenia, plaquetopenia e VSH próximo de zero (dado muito característico). • Função hepática: Transaminases elevadas acima de 1000, FA pouco elevada ou normal e hiperbilirrubinemia direta. • EAS: Pode manifestar albuminúria de 300-500mg. DIAGNÓSTICO • Viremia (até o 5º dia): É realizado o isolamento viral para o diagnóstico, só que é muito caro! • Após a soroconversão (a partir do 6º dia): A sorologia ELISA IgM é o exame de escolha. TRATAMENTO → MEDIDAS DE SUPORTE! • Se sangramento intenso: Fatores de coagulação prontos, hidratação, hemotransfusão... • Se lesão renal: Avaliar provável possibilidade de Terapia Substitutiva. • Hidratação: Conforme indicações abaixo. MEDIDA PROFILÁTICA → VACINA: Existe vacina contra a febre amarela e ela deve ser tomada, para evitar sempre o quadro brando, diagnóstico da doença. • Residentes e visitantes de áreas em potencial devem receber a vacina amarílica • Dose aos nove meses segundo calendário vacinal • Populações de cautela: Idosos e gestantes deve-se individualizar, só vacinando se situação de extremo contato/probabilidade de contato. LEPTOSPIROSE DEFINIÇÃO: Patologia bacteriana causada por um agente espiralado (espiroqueta). • Agente etiológico: Leptospira interrogans, uma bactéria espiralada, helicoidal, móvel, em que uma ponta lembra uma interrogação, por isso o nome. • Reservatório: A bactéria se aloja nos rins dos ratos e camundongos, que são reservatórios naturais e não ficam doentes, quando urinam, a bactéria é eliminada e a bactéria vive em solo/água. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Transmissão: Penetrando pequenas abrasões cutâneas ou inalação de gotículas microscópicas. O contato com a água contaminada é o que permite esse contato entre o L. interrogans e o paciente. • Período de incubação: Vai de 7-14 dias. EPIDEMIOLOGIA • Grupos mais expostos ao contágio: Pessoas que trabalham com colheita de arroz, esgotos, minas e túneis, represas, pescaria, tem mais chance de adquirir a doença. o Além disso, o contato de qualquer indivíduo em casos de enchente urbana, em que o esgoto sobe com água contaminada também aumenta a chance de infecção • A urina de 60% dos ratos é positiva para urina • Os principais surtos ocorrem no verão: Nos períodos chuvosos entre feveiro e abril. PATOGÊNESE 1. Leptospiremia: A bactéria passa a se multiplicar e se difundir pelos vasos e tecido conjuntivo com facilidade, sem causar reação inflamatória exube- rante nessa fase inicial. 2. Vasculite infecciosa: Há lesão direta do endotélio vascular, levando a uma capilarite generalizada, com extravasamento e hemorragias. 3. Lesão ou disfunção celular: Por adesão à membrana celular, atinge principalmente o fígado, rins, pulmão, coração e músculo esquelético. a. Fígado: Lesão dos hepatócitos, prejudica a excreção de bilirrubina e com leve aumento das aminotransferases. b. Rins: Pode causar NIA ou NTA, além de isquemia renal decorrente da perda de líquido pro terceiro espaço. Atua com foco no túbulo proximal, aumentando a excre- ção de sódio e potássio. c. Pulmão: Capilarite difusa, a principal causa de óbito no paciente com leptospirose, causando hemoptise e insuficiência resp. d. Coração: Miocardite mononuclear que pode levar à insuficiência cardíaca. e. Músculos: Necrose hialina focal. QUADRO CLÍNICO (VASCULITE INFECCIOSA) FORMA LEVE (ANICTÉRICA) • Primeira fase (Leptospiremia): • Anictérica: Quadros leves não apresentam icterícia • Febre: Alta (38-40) remitente com calafrios. • Sufusão conjuntival: Olhos vermelhos por inflamação da vasculatura, chama atenção no diagnóstico. • Mialgia de panturrilhas: Sintoma não tão específico, mas que as bancas gostam na prova. Se deve à ação patogênica na musculatura. • Segunda fase (Imune): • Redução da febre em lise: Febre cai devagar. • Meningite asséptica: Pode ocorrer como complicação, o paciente apresenta cefaleia intensa , vômito e estado confusional c/ irritação meníngea • Uveíte: Pode acontecer uni ou bilateralmente, geralmente autolimitada. • Laboratório: Leucocitose com desvio à esquerda (lembrar que é a única síndrome febril bacteriana). V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O FORMA GRAVE (ÍCTERO-HEMORRÁGICA): Doença de Weil (Tríade) 1. Icterícia rubínica: Icterícia por aumento de bilirrubina direta, pela mistura de amarelo com o vermelho dos vasos, o paciente cursa com uma icterícia alaranjada nos olhos, que chamamos de rubínica. 2. Hemorragias: Pelo acometimento vascular (capila- rite) dos brônquios, o paciente vai tossir sangue, ter petequias, equimoses e hemorragia digestiva. 3. Lesão renal aguda com K+ baixo ou normal: Pelo acometimento da porção proximal do néfron, a leptospirose causa NTA/NIA com potássio normal. DIAGNÓSTICO • Inespecífico: Uma clínica compatível e a solicitação de alguns exames aumenta muito a suspeita. • Hemograma: Vai mostrar uma leucocitose com desvio à esquerda + plaquetopenia. • CPK alto: Pela lesão nas células musculares • Teste ELISA IgM: Muito raro aqui no BR e caro! • Cultura: Colher o sangue nos primeiros sete dias e o resultado positiva a partir da segunda semana. No entanto, possui baixa sensibilidade. *Exame específico → Microaglutinação: Padrão-ouro, você vai entrar em contato com o soro do paciente um conjunto de hemácias marcadas pela leptospira, positivo se os anticorpos aglutinarem nas hemácias. TRATAMENTO → TRATA A SUSPEITA! • Formas leves: Doxicilina. (Bactéria estranha = Doxi) Doxicilina 100 mg VO 12/12h por 5-7 dias. • Formas graves: Penicilina G cristalina ou Ceftriaxone (na prática cef é mais usado) 1-2g IV a cada 24h por no mínimo 7 dias. • Medidas de suporte: Hidratação venosa, acompanhamento da função renal após semanas a meses e cuidadosem caso de insuficiência respiratória (na UTI). MALÁRIA DEFINIÇÃO: Doença febril infectoparasitária causada por um protozoário do gênero plasmódio. É endêmica em diversas áreas do mundo (tropicais e subtropicais), inclusive aqui no BR. • Agente etiológico: Plasmodium spp. o P. vivax: É o mais comum! o P. falciparum: Doença mais grave! o P. malariae: + Raro! o Outros: P. ovale (restrito à Africa) e P. knowlesi (restrito ao sudeste asiático). • Vetor: Anopheles darlingi, um “mosquito” *FEBRE TERÇÃ: A pessoa tem febre, fica dois dias sem e a febre volta no terceiro. (Característica do p. vivax e p. falciparum) *FEBRE QUARTÃ: A pessoa tem febre, passa 3 dias sem ter e a febre volta no quarto dia. (Característica do p. malarie, em geral) *Por que o P. falciparum geralmente causa malária grave? O grau de parasitemia dele é bem maior, invade hemácias de qualquer idade e permitindo uma maior agudização da anemia, o parasito consome muita glicose, produzindo ácido lático e levando à hipoglicemia e acidose lática. A destruição das hemácias leva à liberação de TNF-alfa, pró-inflamatório que só agrava ainda mais o quadro. CICLO EVOLUTIVO 1. Tem duas etapas → Hepática e eritrocitária 2. O mosquito pica o humano (fase pré-hepática): Inoculando o plasmódio nele. 3. Fase hepática: No fígado, os plasmódios vão sofrer uma preparação (como a residência médica) e se tornarão esquizontes teciduais. 4. Fase eritrocitária: Do fígado o plasmódio adentra a hemácia, onde se reproduz e se multiplica até V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O aquela hemácia romper cheia de esquizontes eritrocitários. *Forma hipnozoíta: Existe uma forma de plasmódio que as vezes fica de forma latente (se fingindo de morto no fígado) que é o P. vivax. Para lembrar: Só pode se fingir de morto quem tá vivax. *FEBRE TERÇÃ: A pessoa tem febre, fica dois dias sem e a febre volta no terceiro. (Característica do p. vivax e p. falciparum e tem relação com o ciclo, sendo no terceiro dia a ruptura das hemácias) *FEBRE QUARTÃ: A pessoa tem febre, passa 3 dias sem ter e a febre volta no quarto dia em que as hemácias se rompem. (Característica do p. malarie, em geral) DIFERENÇAS MORFOLÓGICAS ENTRE O PLASMÓDIO QUADRO CLÍNICO • Febre: Em crises, “do nada”, alta, com muito calafrio e com um padrão de tempo. A febre vem no momento em que os plasmódios rompem as hemácias do corpo! o Febre terçã: No terceiro dia depois da febre. (P. vivax e P. falciparum) o Febre quartã: No quarto dia depois da febre (P. malarie) • Anemia hemolítica: Destruição precoce das hemácias. • Icterícia: Com hiperbilirrubinemia indireta! • Epidemiologia → Norte: A região norte é mais comum, é uma região endêmica, 99% dos casos vem de lá, então a história epidemiológica é crucial para esses pacientes! MALÁRIA GRAVE • Todos os quadros clínicos anteriores + • Disfunção renal: Aumento de uréia e creatinina • Hiperlactatemia: Acidose metabólica com o ânion Gap aumentado. DIAGNÓSTICO • Teste da gota espessa: Exame de escolha, padrão- ouro pela OMS! É coletado uma fota de sangue do paciente e submete-se a lâmina à coloração, possui uma sensibilidade maior que o esfregaço e deve ser usado para a contagem de parasitas. • Teste rápido: Ideal em regiões não endêmicas ou áreas de difícil acesso em que não conseguimos realizar o teste rápido, consegue discriminar o tipo de parasito que está causando o quadro. TRATAMENTO • P. vivax: Cloroquina VO por três dias, 10 mg/kg → 7,5 mg/kg nos outros dois dias. + Primaquina 0,5 mg/kg diluído em 500 mL de SG por 7 dias. (mata o forma hipnozoíta). *Para lembrar: Trata com cloroquina e a prima dela! • P. malarie: Caso confirmado que a infecção é por P. malarie, o tratamento é com a cloroquina VO por três dias, assim como na infecção pelo P. vivax. • P. falciparum: Artemeter + lumefantrina VO por três dias + Primaquina dose única no 1º dia. Tal esquema se aplica para as formas não-graves da infecção pelo P. falciparum. • Formas graves (qualquer espécie): ArtesunATO (tratamento imediaATO) endovenoso 2,4 mg/kg em dose de ataque e 1,2 mg/kg após 12h da dose V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O de ataque, manter por 6 dias. + Clindamicina 20 mg/kg/dia EV + SG a 5%. QUIMIOPROFILAXIA • Quando fazer? Viajantes que visitarão regiões de alto risco de transmissão de P. falciparum na Amazônia Legal, permanecendo por tempo maior que o tempo de incubação e menor que 6 meses e que o acesso ao tratamento e diagnóstico esteja a mais de 24 horas distante. • Qual é o esquema mais indicado? Pode ser feito com Cloroquina, Mefloquina ou Doxicilina, a depender da área. Aqui no Brasil, a resistência à cloroquina é grande, então o esquema a ser feito como primeira escolha é a com a Mefloquina e em segunda escolha com Doxiciclina. REVISÃO DAS SÍNDROMES FEBRIS ICTÉRICAS VÍNCULOS MENTAIS → DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
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