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FEBRES HEMORRÁGICAS 1. Caracterizar as febres hemorrágicas: dengue, leptospirose, hantavirose, febre amarela, febre maculosa, malária, zika e chikungunya. A febre hemorrágica viral é uma doença sistêmica aguda, que consiste classicamente em febre, em uma constelação de sinais e sintomas inicialmente inespecíficos e em propensão à hemorragia e choque. As febres hemorrágicas são um conjunto de achados baseados na instabilidade vascular e diminuição da integridade vascular, devido a uma agressão direta ou indireta, da microvascularização que leva ao aumento da permeabilidade e (particularmente quando a função plaquetária está diminuída) à obstrução e hemorragia local (prova do laço positiva. A pressão arterial é baixa e, nos casos graves, sobrevém choque. Na maioria dos pacientes a hemorragia significa mais um dano vascular disseminado do que uma perda de volume sanguíneo potencialmente fatal. A patogênese da febre hemorrágica é pouco compreendida e varia de acordo com o patógeno implicado na síndrome. DENGUE A dengue é uma doença febril aguda. Existem quatro sorotipos virais antigenicamente distintos, designados DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4, capazes de causar desde febre indiferenciada até formas clinicas graves, como a febre hemorrágica da dengue. AGENTE ETIOLÓGICO E TRANSMISSÃO O vírus da dengue é um arbovírus, do gênero Flavivirus e família Flaviviridae. Com os quatro sorotipos, DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. O vírus é transmitido por artrópodes hematófagos, em especial o Aedes aegypti. EPIDEMIOLOGIA Principal arbovirose do mundo, sendo considerada um problema de saúde pública internacional. Endêmica em vários centros urbanos localizados em regiões tropicais e subtropicais, local propício para o vetor que é o mosquito Aedes aegypti. Sua incidência tende a ser maior no verão (período quente e úmido, que favorece a proliferação do vetor). QUADRO CLÍNICO Período de incubação, em média de 5 a 8 dias que pode evoluir de forma assintomática, como uma febre indiferenciada, como dengue clássica ou formas mais graves como a febre hemorrágica da dengue (FHD). Dengue clássica: febre alta de início abrupto, cefaleia importante, mialgia, artralgia, dor retro-orbitária, manifestações gastrointestinais, anorexia, alterações do paladar, exantema maculopapular ou escarlatiniforme e prurido. No final do período febril, podem surgir manifestações hemorrágicas como epistaxe, petéquias, gengivorragias, metrorragia, entre outras. Na febre hemorrágica da dengue (FHD) as manifestações iniciais podem ser as mesmas da dengue clássica, até que ocorra a defervescencia entre o 3° e 7º dia do início da doença, quando costuma ocorrer a instalação da síndrome. Observa-se surgimento de manifestações hemorrágicas espontâneas ou provocadas, trombocitopenia e efusão de plasma para o terceiro espaço. Na defervescência podem surgir sinais de alarme, que prenunciam evolução desfavorável da doença: vômitos incoercíveis, dor abdominal intensa e contínua, hepatomegalia dolorosa, desconforto respiratório, sonolência ou irritabilidade excessiva, hipotermia, sangramento importante de mucosas, diminuição da diurese e diminuição repentina da temperatura corporal. A FHD pode ser classificada de acordo com sua gravidade em quatro graus: o Grau I: febre acompanhada de sintomas inespecíficos e sem manifestações hemorrágicas espontâneas, tendo como única manifestação hemorrágica a prova do laço positiva ou sangramento no local da punção venosa. o Grau II: febre acompanhada de sintomas inespecíficos e com manifestações hemorrágicas espontâneas (petéquias, equimoses e sangramentos gengival, digestivo, conjuntival, vaginal e urinário). o Grau III: febre acompanhada de sintomas inespecíficos, com manifestações hemorrágicas espontâneas e sinais de insuficiência circulatória: pulso rápido e fraco, redução da pressão arterial (20 mmHg ou menos), pele pegajosa e fria e inquietação. o Grau IV: choque profundo, com pressão sanguínea e pulso não detectáveis. Dengue com complicações é quando o paciente apresenta algum dos seguintes sinais e/ou sintomas: alterações neurológicas, disfunção cardiorrespiratória, insuficiência hepática, plquetopenia igual ou inferior a 20.000/mm3, hemorragia digestiva, derrames cavitários, leucometria global igual ou inferior a 1.000/mm3 e óbito. Classificação segundo a OMS, não contempla vários casos graves e óbitos pela dengue, que às vezes não preenchem os critérios necessários para definição de FHD. ETIOPATOGENIA Teorias para explicar a patogenia da FHD: Imunoamplificação: infecção primaria por um sorotipo leva a produção de anticorpos que na presença de infecção secundária por outro sorotipo induzem a ligação dos anticorpos prévios ao receptor Fc das células apresentador de antígeno, facilitando a entrada do vírus na célula e promovendo aumento da viremia e consequentemente agravamento da doença. No entanto, não explica os casos de FHD na primo-infecção, nem os casos leves nas infecções subsequentes. Imunidade mediada por células T: antígenos são apresentados às células CD4 e CD8 de memória, sensibilizados por infecção prévia, levando à proliferação celular e ativação de citocinas pró-inflamatórias e fator de necrose tumoral α (TNF- α), que atuam no endotélio vascular, levando ao extravasamento plasmático observado nas formas graves da doença. Citocinas: a ativação de citocinas induzindo lesão endotelial tem sido demonstrada pelas altas concentrações de interferon, TNF-α, interleucinas 2, 6, 1, 8 e 10 em pacientes com dengue grave. Hipótese de analise integral: alia outros fatores às teorias de infecção sequencial e da virulência da cepa. Sendo assim, a interação entre os seguintes fatores de risco poderia promover as condições ideais para o aparecimento da síndrome: o Fatores individuais: lactentes e menores de 15 anos, adultos do sexo feminino, raça branca, bom estado nutricional, presença de enfermidades crônicas (diabetes, asma brônquica, anemia falciforme), existência prévia de anticorpos e intensidade da resposta imune anterior. o Fatores virais: virulência da cepa e sorotipo viral. o Fatores epidemiológicos: existência de pessoas sensíveis, vetor suficiente em elevada densidade, espaço de tempo entre 3 meses e 5 anos entre as infecções por sorotipos diferentes e sequência das infecções. Duas alterações fisiopatológicas principais ocorrem na FHD: aumento da permeabilidade vascular, provocando perda de plasma para o terceiro espaço, o que resulta em hemoconcentração, hipotensão e outros sinais de choque, se a perda de plasma se torna crítica; e disfunção na hemostasia, envolvendo alterações vasculares, trombocitopenia e coagulopatia. DIAGNÓSTICO Devem-se considerar dados epidemiológicos, manifestações clinicas e exames complementares. A prova de resistência capilar positiva (prova do laço) auxilia no diagnóstico clínico da doença. A confirmação laboratorial pode ser feita a partir dos seguintes testes laboratoriais: Testes sorológicos para detecção de anticorpos (IgM e IgG); Testes rápidos para detecção de anticorpos (IgM e IgG); Relação IgM/IgG; Cultura viral; Detecção de antígeno NS1; Imuno-histoquímica; Testes moleculares. Alterações laboratoriais inespecíficas: Hemograma: leucopenia, pode ocorrer linfocitose com atipia linfocitária. Bioquímica: aumento das transaminases (em geral aspartato aminotransferase [AST] > alanina aminotransferase [ALT]). Na FHD frequentemente são encontradas as seguintes alterações laboratoriais: Aumento do hematócrito e trombocitopenia. Coagulograma: aumento nos tempos de protrombina, tromboplastina parcial e trombina; diminuição do fibrinogênio e fatores VIII e XII. Hipoproteinemia e albuminúria. TRATAMENTO Essencialmente de suporte e medição sintomática com analgésico e antitérmicos. Classificar o quadro nos grupos A, B, C ou D propostos pelo Ministério da Saúde. Grupo A: quando se tratar de um quadro de dengue o tratamento poderá ser realizado no domicílio. A orientação é hidratação oral na quantidade de 60 mL/kg/dia para o adulto, sendo 1/3 de SRO. Regra geral: para cada copo de SRO, tomar dois copos de líquidos da preferência do paciente. Para crianças menores de 13 anos, a hidratação se baseia na regra de Holliday Segar acrescida da reposição de 3% das perdas da seguinte forma: ●Menores de 10 kg – 130 mL/kg/dia. ●Entre 10 e 20 kg – 100 mL/kg/dia. ●Acima de 20 kg – 80 mL/kg/dia. ●Para o adulto, 1/3 do volume total é SRO. Grupo B: caso de dengue com algum fenômeno hemorrágico espontâneo ou provocado Solicitar hemograma e aguardar resultado para avaliar hemoconcentração. Caso o Ht esteja normal, conduzir como o Grupo A. Orientar retornos diários até 48 horas após a febre. Caso apresente algum sinal de alerta, retornar imediatamente. Grupo C: caso de dengue com sinais de alarme hidratação venosa deve ser iniciada de imediato, qualquer que seja o nível de complexidade. Reposição volêmica com SF a 10 mL/kg na primeira hora, podendo ser repetida por mais duas vezes, caso não haja melhora. Se após as três reposições, não houver melhora clínica e laboratorial, conduzir como Grupo D. Após fase rápida (de reposição), prosseguir com hidratação venosa de manutenção, sendo a primeira etapa 25 mL/kg em 6 horas. A seguir, segunda etapa com SF 1/3 e soro glicosado 2/3 na velocidade de infusão 25 mL/kg em 8 horas. Os pacientes necessitam avaliação para estabilização por período mínimo de 48 horas. Grupo D: todo caso suspeito de dengue com presença de sinais de choque, sangramento grave ou disfunção grave de órgãos Deve-se conduzir uma expansão rápida parenteral, com solução salina isotônica: 20 mL/kg em até 20 minutos, mesmo na ausência de exames complementares. Se não houver melhora, repetir por até três vezes. Fazer uma reavaliação clínica a cada 15 a 30 minutos e de Ht, em 2 horas. Esses pacientes necessitam ser continuamente monitorados, preferencialmente em leito de UTI até a pronta estabilização. PREVENÇÃO E CONTROLE Vigilância epidemiológica Combate ao vetor Educação em saúde e participação comunitária Vacina: não está disponível no SUS LEPTOSPIROSE A leptospirose é uma doença febril aguda. É uma doença infecciosa que acomete animais e que acidentalmente infecta o homem. Atualmente está mais relacionada com as condições socioeconômicas da população e climáticas do que com a exposição ocupacional. A doença tem evolução aguda no homem e crônica na maioria dos animais. AGENTE ETIOLÓGICO E TRANSMISSÃO Bactéria do gênero Leptospira, da família Leptorpiraceae da ordem Spirochaetales espiroqueta Leptospira interrogans. Os roedores são os principais hospedeiros da bactéria, dentre os animais domésticos e de criação os de maior importância epidemiológica são o cão, o boi e o porco. São os portadores assintomáticos que disseminam a bactéria pela urina durante toda a sua vida. A transmissão ocorre pelo contato direto do parasita com a pele lesada ou mucosa e as fontes de infecção são água doce alcalina, lixo e tecidos de animais. EPIDEMIOLOGIA Distribuição geográfica universal, sendo mais prevalente nos países em desenvolvimento. No Brasil ocorre cerca de 10.000 casos por não, com uma taxa de letalidade variando entre 10 e 15%. A doença é mais comum em adultos do sexo masculino, provavelmente devido à maior exposição ocupacional. Crianças são pouco afetadas e apresentam curso da doença mais benigno. A infecção subclínica é muito frequente, tendo sido encontrados elevados títulos de anticorpos aglutinantes em populações de zonas endêmicas. PATOGENIA Os efeitos patogênicos ocorrem por meio de três mecanismos: Capacidade de multiplicação no meio extracelular Poder de fixação à superfície das células do hospedeiro (adesinas) Liberação de endotoxinas (Lp3) com padrão semelhante às infecções graves por gram-negativo. Leptospiras penetram pela pele lesada ou mucosa íntegra. Segue-se um período de incubação médio de 7 a 14 dias, mas que pode variar de 3 a 21 dias. As leptospiras penetram, invadem e multiplicam-se no tegumento do hospedeiro, o poder cinético e inflamatório da bactéria inicia um processo inflamatório local e sistêmico, que propicia o acesso do invasor à circulação sanguínea, dando início ao período septicêmico. Fase septicêmica: provocada principalmente pela ação das toxinas (adesinas e endotelinas) sobre o endotélio capilar, resultando em uma capilarite sistêmica responsável pela maioria das manifestações clínicas dessa fase (febre, cefaleia, mialgia e hiperemia conjuntival). Nas formas graves com envolvimento pulmonar, pode haver alterações na coagulação e na fibrinólise, agravando o prognóstico. Fase imune: inicia-se na segunda semana após o aparecimento dos sinais e sintomas e evolui para a localização dos efeitos da doença para órgãos-alvo (fígado, rins, pulmões, meninges, músculos estriados e pâncreas). Fígado há sinais de colestase, com algumas alterações morfológicas nos hepatócitos que predominam na região centrolobular. Os sinais inflamatórios são discretos, observando-se, entretanto, hiperplasia das células de Kuppfer e praticamente nenhuma necrose. A disfunção hepática predomina nitidamente na excreção biliar, justificando grandes elevações da bilirrubina, mas com leves aumentos das aminotransferases (AST mais elevada que ALT). Rins pode haver nefrite intersticial e necrose tubular, mas a disfunção renal é desproporcional aos achados necroinflamatórios. A isquemia renal, decorrente da hipovolemia (perda de líquido para o terceiro espaço), é um importante fator contribuinte para a lesão renal. O edema intersticial pode ser proeminente, justificando o aumento do órgão. Hemorragias petequiais podem ser visualizadas em sua superfície. A disfunção tubular predomina no túbulo proximal, elevando significativamente a fração excretória de sódio e de potássio. Isso explica por que, eventualmente, a insuficiência renal aguda da leptospirose pode não ser oligúrica e frequentemente não cursa com hipercalemia (o potássio sérico, inclusive, costuma estar baixo). Pulmão A lesão pulmonar é decorrente de uma capilarite difusa e distúrbios da coagulação, levando ao extravasamento de líquido e sangue para os alvéolos. Surgem infiltrados hemorrágicos no pulmão que podem se expressar clinicamente com hemoptise e/ou insuficiência respiratória. É a principal causa de óbito da doença. Coração é afetado com uma miocardite mononuclear, semelhante aos achados da febre reumática, pode levar à insuficiência cardíaca e ser eventualmente a causa de óbito na leptospirose. Músculos Finalmente, a miosite é um achado bastante frequente na leptospirose, mesmo na sua forma anictérica. Os músculos apresentam necrose hialina focal, miócitos vacuolados e infiltrado mononuclear. QUADRO CLÍNICO Forma anictérica (autolimitada): a forma gripal é a apresentação clínica mais comum. O diagnóstico é mais frequente durante surtos epidêmicos, pois casos isolados são facilmente confundidos com febre e influenza e, portanto, subnotificados. O início é súbito com febre alta, calafrio, cefaleia, mialgia e hiperemia conjuntival, frequentemente associado com sintomas digestivos como náuseas, vômitos e diarreia. Pode surgir exantema maculopapular na segunda semana da doença. Ao exame físico: paciente pode estar desidratado, com hiperemia conjuntival e temperatura corporal elevada, semiologia cardiopulmonar pobre, abdome pode haver discreta hepatomegalia, dor nas panturrilhas, espontânea ou durante a palpação é um achado relevante. A fase imune é frequentemente assintomática. Alguns pacientes com a forma anictéricapodem evoluir com meningite asséptica com agravamento da cefaleia e o aparecimento de vômitos “em jato” – análise do líquor apresenta hipercitose moderada com predomínio de linfócitos, com bioquímica normal. Na forma anictérica, há comprometimento renal assintomático, embora os níveis de ureia e creatinina possam estar elevados e o exame de urina encontre-se bastante alterado, notadamente na análise do sedimento, proteinúria, leucocitúria, hematúria e cilindrúria. Laboratório: Hemograma: leucocitose com desvio à esquerda; Leucometria: 3.000-26.000/mm³; Plaquetopenia é um achado frequente na leptospirose (provavelmente por “consumo” de plaquetas em consequência à ativação endotelial), ocorrendo em até 50% dos casos, geralmente com valores entre 50.000- 100.000/mm³; HT pode estar elevado (hemoconcentração), normal ou levemente reduzido. O VHS geralmente está elevado. As enzimas musculares, como a CPK, estão elevadas em 50% dos casos. Forma ictérica (grave) – Síndrome de Weil: definida pelo aparecimento de icterícia por comprometimento hepático, disfunção renal aguda, comprometimento pulmonar e diátese hemorrágica. O início do quadro é semelhante à forma anictérica com febre elevada, cefaleia holocraniana intensa, mialgia generalizada, mais concentrada em membros inferiores, e hiperemia conjuntival. A icterícia é um sinal proeminente e tem uma característica especial apresenta tom alaranjado (pela vasculite associada, sendo denominada icterícia rubínica. A hiperbilirrubinemia tem predomínio da fração direta, refletindo um fenômeno de colestase intra-hepática. Aminotransferases elevam-se pouco, não ultrapassando 200U/L. Segue-se poliúria, que caracteriza a insuficiência pré-renal por lesão endotóxica, que resulta em desidratação que pode atingir intensidade máxima, sobrevindo os sinais de comprometimento hemodinâmico com hipotensão e choque se não houver hidratação generosa, o paciente pode desenvolver necrose tubular aguda oligúrica, que contribui para o edema e a hemorragia pulmonar. A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é comum, apresentando-se com elevação das escórias nitrogenadas, geralmente não superiores a 100 mg/dl de ureia e 2-8 mg/dl de creatinina em casos mais graves as escórias alcançam valores acima de 300 mg/dl para ureia e 18 mg/dl para creatinina, cursando com síndrome urêmica franca e necessidade iminente de diálise. Pode haver dor abdominal intensa. A gravidade do quadro esconde muitas vezes uma miocardite aguda com sinais e sintomas de arritmias, com frequência corresponsáveis pelo prognostico desfavorável. DIAGNÓSTICO Diagnóstico clínico: deve-se suspeitar de leptospirose em todo paciente com quadro febril agudo com menos de 15 dias com temperatura >37,8°C, com um dos seguintes sintomas maiores (cefaleia, mialgia ou prostração) e pelo menos um dos sinais (hiperemia, hemorragia conjuntival, piúria estéril, oligúria, icterícia, hemorragias ou dores à compressão das panturrilhas). TABELA 151.2 →Sinais e sintomas mais frequentes em pacientes com leptospirose SINTOMAS SINAIS Febre alta Calafrio Cefaleia Mialgia Prostração Tonturas Náuseas Vômitos Dor abdominal Dispneia Poliúria/oligúria Tosse/hemoptise Icterícia colúrica Uveíte bilateral Hiperemia/hemorragia/icterícia rubínica Desidratação Toxemia Desorientação Febre Hipotensão Arritmias Taquipneia Estertores crepitantes Hepatomegalia dolorosa Dor à palpação das panturrilhas Exantema maculopapular Piúria estéril Diagnóstico laboratorial: Exames complementares: urina hematúria, proteinúria, leucocitúria, cilindros hialinos, piúria estéril (uroculturas para germes comuns negativas). TABELA 151.3 →Principais achados nos exames complementares de pacientes com as formas anictérica e ictérica da leptospirose EXAMES FORMAS ANICTÉRICAS FORMAS ICTÉRICAS Hemograma Normal Leucocitose/plaquetopenia EAS Alterado (piúria estéril) Alterado (piúria estéril) Proteína C-reativa Elevada Elevada Ureia Normal ou elevada Elevada Creatinina Normal ou elevada Elevada Bilirrubinas Normais Elevadas (BD/BI > 3) ALT-AST Pouco elevadas (<100) Elevadas (<300) TAP Normal Aumentado/diminuído Amilase Normal Elevada EAS = sumário de urina com sedimentoscopia; BD = bilirrubina direta; BI = bilirrubina indireta; ALT = alanina aminotransferase; AST = aspartato aminotransferase; TAP = tempo e atividade protrombínica. Estudos radiológicos do tórax mostra desde infiltrados intersticiais bilaterais, mais localizados nos lobos inferiores, até imagens de consolidação pulmonar decorrente da hemorragia pulmonar. Diagnóstico etiológico: identificação do agente etiológico por meio de culturas, pesquisa de seus antígenos e dosagem de anticorpos específicos. o PCR para identificar o DNA do parasita RT-PCR tem custo alto. o Reação de microaglutinação especifica (MAT) padrão-ouro, desvantagens incluí a ocorrência de reações cruzadas. o ELISA para pesquisa de anticorpos IgM que se trona positivo a partir do início da segunda semana da doença é o método mais utilizado. A FIGURA 151.4 apresenta a correlação clínico-laboratorial da leptospirose em suas duas fases: septicêmica e imune. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Dengue: o início do quadro pode ser idêntico ao da leptospirose, em especial nos dois primeiros dias da doença, com exceção da presença de dor retro-orbitária na dengue e de hiperemia conjuntival na leptospirose. A partir do terceiro dia, surgem na dengue as manifestações gastrintestinais e/ou o exantema maculopapular intensamente pruriginoso. Na leptospirose, o exantema não é pruriginoso, é de ocorrência rara e se manifesta na segunda semana de doença. O leucograma mostra leucopenia acentuada na dengue e em geral não se altera nessa forma clínica da leptospirose. O aumento do hematócrito e a plaquetopenia são típicos da dengue, mas podem ocorrer nas formas graves de leptospirose. Plaquetas abaixo de 100.000 representam fator de risco para sangramento e estão associadas a pior prognóstico na leptospirose. Um estudo recente mostra que os principais marcadores inflamatórios presentes na leptospirose e ausentes nas viroses não complicadas são a proteína C- reativa e a pró-calcitonina. TABELA 151.4 →Principais doenças que devem ser lembradas no diagnóstico diferencial da leptospirose, de acordo com a forma clínica da doença FORMA ANICTÉRICA FORMA ICTÉRICA Dengue Influenza Hepatite viral (anictérica) Malária (Plasmodium vivax) Febre tifoide Hantavírus (síndrome cardiopulmonar)* Riquetsiose (scrub thyphus)‡ Febre hemorrágica da dengue Hepatite aguda fulminante Febre amarela Sepse por bactérias gram-negativas Malária (Plasmodium falciparum) Hantavírus (síndrome hepatorrenal)† * Forma grave. † Rara no Brasil. ‡ Não existe no Brasil. TRATAMENTO Consiste em uso de antimicrobiano e instituição de medidas de suporte. Tratamento antimicrobiano: recomendado na primeira semana da doença, de preferência até o 5º dia, por via oral, durante sete dias, no entanto, a leptospirose é uma doença bacteriana aguda, autolimitada e, na maioria das vezes, resolve espontaneamente, sem uso de antimicrobianos. TABELA 151.5 →Opções terapêuticas para o tratamento da leptospirose em adultos ANTIMICROBIANO FORMAS AMBULATORIAIS (7 DIAS – VO) FORMAS HOSPITALARES (7 A 10 DIAS – IV) Primeira opção Doxiciclina (100 mg a cada 12 horas) Penicilina G potássica (1,5 milhão UI a cada 6 horas) Segunda opção Amoxicilina (500 mg a cada 6 horas) Ceftriaxona (1 g/dia) Medidas de suporte: incluem manutenção dos sinais vitais e da pressão venosa central mediante balanço hídrico rigoroso. É contraindicada a utilização de diuréticos (agravam a hipopotassemia) e a dopamina (induz arritmia). Distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos devem ser corrigidos. Vitamina K deve ser administrada se houver alteraçãoimportante da atividade protrombínica. Hemodiálise está indicada em estados hipercatabólicos com acentuada hipercalemia; em caso de insuficiência renal aguda não oligúrica não deve ser realizada a dialise de imediato, deve-se apenas monitorizar os níveis de creatinina; hemofiltração pode ser utilizada nas formas graves com comprometimento pulmonar. Insuficiência respiratória aguda por edema e hemorragia pulmonar deve ser tratada com oxigênio e ventilação mecânica quando necessário. Controle das hemorragias está relacionado com os fatores da coagulação, com a utilização de transfusões de plasma fresco, de acordo com a monitorização das provas hemostáticas. PREVENÇÃO Controle dos roedores urbanos e silvestres Tratamento de animais infectados Cuidado com a higiene animal Armazenamento apropriado de alimentos em locais inacessíveis aos roedores Cuidados com a água de consumo Limpeza de reservatórios de água Cuidado com os alimentos principalmente nas enchentes Uso de EPIs (botas e luvas) como medidas de proteção individual para trabalhadores em risco Evitar exposição de ferimentos às águas/lama de enchentes ou outra situação de risco Imunização de animais domésticos Quimioprofilaxia com doxiciclina 200mg por semana ou amoxicilina para crianças e gestantes medida incerta. HANTAVIROSE Hantaviroses são doenças sistêmicas febris causadas por vírus. É uma doença zoonótica viral transmitida ao homem por meio da inalação do agente infectante presente em excretas de roedores silvestres infectados. Existem duas apresentações clinicas da enfermidade: a febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR) e a síndrome cardiopulmonar por hantavírus (SCPH), sendo a última a forma que ocorre no Brasil e predominantemente nas Américas. AGENTE ETIOLÓGICO E TRANSMISSÃO Vírus esférico e envelopado de RNA de fita simples, pertencente ao gênero Hantavirus e à família Bunyaviridae. Roedores silvestres são os principais reservatórios do vírus. Os roedores eliminam o vírus na urina, nas fezes e na saliva e a transmissão ocorre por inalação de aerossóis contendo partículas virais. Outras formas de transmissão mais raras são por mordedura, ingestão de alimentos contaminados e contato com excretas contendo o vírus com posterior penetração em mucosas. EPIDEMIOLOGIA Aquisição de hantaviroses no Brasil está muito relacionada com a atividade rural. Parece acometer principalmente jovens do sexo masculino e com média etária de 30 anos. Relacionada com atividade laboral, sendo mais acometidos veterinários, agricultores, agrônomos e outras profissões relacionadas à atividade agropastoril. Atividades que geram aerossóis como limpeza, demolição, remoção de grãos armazenados em silos e paióis constituem importantes fatores de risco. A FHSR ocorre na Ásia e na Europa e tem evolução benigna. A SCPH apresenta elevadas taxas de letalidade e ocorrência nas Américas QUADRO CLÍNICO A SCPH é a forma mais grave da hantavirose e caracteriza-se por acometimento pulmonar que leva à insuficiência respiratória e choque cardiogênico, com letalidade que pode atingir 50% dos casos. Período de incubação varia de 3 a 60 dias, com mediana de 14 dias. A evolução da doença é dividida em quatro fases: Fase prodrômica: quadro influenza-símile, caracterizado por sinais e sintomas inespecíficos como febre, calafrios, mialgia, astenia, náuseas e cefaleia. Outros sinais e sintomas menos frequentes são vômitos, dor abdominal, dor torácica, sudorese e vertigem. Fase cardiopulmonar: após aproximadamente três dias da fase prodrômica, é caracterizada pela crescente infiltração de líquidos e proteínas no tecido intersticial e nos alvéolos pulmonares surge tosse seca, que progride para produtiva, com expectoração muco-sanguinolenta; dispneia de caráter progressivo, podendo evoluir para insuficiência respiratória em menos de 24 horas; fenômenos hemorrágicos podem ocorrer; observa-se também estertores pulmores em decorrência do edema pulmonar, taquicardia e hipotensão arterial, que podem evoluir para o choque em geral associado à depressão miocárdica observada pela diminuição do debito cardíaco e aumento da resistência vascular sistêmica. Fase diurética: nessa fase ocorre recuperação hemodinâmica e acentuada poliúria, que pode persistir na fase seguinte, mas com menor intensidade. Fase de convalescença: pode durar por várias semanas, em especial quando os pacientes necessitam de assistência ventilatória mecânica; o diagnostico tardio pode propiciar a ocorrência de sequelas importantes, como fadiga crônica e restrição da função pulmonar que afetam a qualidade de vida. O óbito pode ocorrer em pouco tempo após o início da falência respiratória e está relacionado à gravidade do caso. Alterações laboratoriais: aumento do hematócrito (geralmente maior que 45%), leucocitose com desvio a esquerda, presença de linfócitos atípicos e plaquetopenia. Pode haver aumento dos níveis séricos de ureia e creatinina (má perfusão renal pela hipovolemia) e elevação das enzimas hepáticas com padrão hepatotóxico. A gasometria arterial pode revelar hipoxemia e acidose metabólica. DIAGNÓSTICO Estabelecido comumente por meio de sorologia pela técnica de ELISA que identifica anticorpos específicos do tipo IgM e IgG. Reação em cadeia da polimerase – transcriptase reversa (RT-PCR) que é o método diagnostico molecular útil para identificar o vírus e seu genótipo. Exame radiológico de tórax: importante para estabelecer diagnostico e para o acompanhamento da evolução da doença. Nos casos mais graves, logo no início do quadro de febre e do aparecimento da dispneia ocorre o padrão radiológico típico de uma pneumopatia com infiltração intersticial difusa bilateral que evolui com confluência da infiltração e consolidação alveolar em todos os campos pulmonares; pode ocorrer desenvolvimento de derrame pleural; no período de convalescência o infiltrado regride, podendo persistir por mais tempo nas bases pulmonares. Nos casos mais leves observa-se infiltrado intersticial difuso discreto com mínima opacidade alveolar. Exames laboratoriais: aumento do hematócrito (geralmente maior que 45%), leucocitose com desvio a esquerda, presença de linfócitos atípicos e plaquetopenia. Pode haver aumento dos níveis séricos de ureia e creatinina (má perfusão renal pela hipovolemia) e elevação das enzimas hepáticas com padrão hepatotóxico. A gasometria arterial pode revelar hipoxemia e acidose metabólica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Na fase prodrômica: dengue, febre amarela, malária, leptospirose, riquetsioses e influenza são os principais diagnósticos diferenciais. Na fase cardiopulmonar: septicemias (principalmente as estafilocócicas), leptospirose, pneumonias por outros vírus e por Mycoplasma pneumoniae e Legionella pneumophila fazem diagnostico diferencial. TRATAMENTO É essencialmente de suporte, devem ser tratados em unidades de terapia intensiva sendo recomendada a adoção de medidas de precaução contra a transmissão do agente por gotículas. O tratamento deve se basear no cuidadoso monitoramento dos parâmetros cardiorespiratórios instituindo assistência ventilatória precocemente. Pacientes que evoluem com hipotensão e choque recomenda-se a reposição volêmica cuidadosa de forma a não agravar o edema pulmonar e a administração de drogas vasoativas. A acidose metabólica e a insuficiência renal, quando presentes, devem ser tratadas com administração de bicarbonato de sódio e de hemodiálise. FEBRE AMARELA A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda. É transmitida por vetores artrópodes, sendo o protótipo das febres hemorrágicas. Possui dois ciclos epidemiológicos distintos: silvestre e urbano AGENTE ETIOLÓGICO E TRANSMISSÃO Arbovírus pertencente à família Flaviviridae, do gênero Flavivirus. Transmitido pela picadade mosquitos dos gêneros Aedes, Haemagogus e Sabethes. O Aedes aegypti é o vetor da forma urbana da doença. EPIDEMIOLOGIA A febre amarela é uma doença sazonal, com maior incidência nos períodos de maior pluviosidade, correspondendo aos meses de dezembro a maio. A suscetibilidade ao vírus é geral e independe de raça e sexo Vacinação diminui a suscetibilidade. PATOGENIA Após a infecção, o vírus atinge os linfonodos regionais , onde se replicam nas células linfoides. Por via hematogênica e de forma sistêmica, chega aos órgãos-alvo. Fígado: a lesão fundamental causada pelo vírus é a necrose hepatocelular, inicialmente nas células de Kupffer e depois nos hepatócitos, atingindo principalmente o meio do lóbulo hepático poupando as areias próximas ao espaço porta-hepático, apenas quando a lesão é mais intensa que a necrose pode ser mais difusa. Baço: causa necrose das células linfoides dos centros germinativos. Coração: além da necrose das células musculares cardíacas, determina pericardite, edema do interstício do miocárdio e, excepcionalmente, tamponamento cardíaco. Demais órgãos: as lesões são voltadas para células do sistema fagocítico-mononuclear. O principal mecanismo de morte celular é a apoptose e o aumento significativo na expressão de várias citocinas como TNF-α, TGF-β e IFN-γ estão associadas aos eventos fisiopatológicos da doença. Nos rins as lesões ocorrem de forma indireta decorrente da insuficiência renal que se instala de maneira progressiva em maior ou menor intensidade devido a diminuição do fluxo sanguíneo que causa nos rins necrose tubular aguda; na fase inicial a diminuição do fluxo provoca perda da capacidade de filtração glomerular resultando na retenção de escorias nitrogenadas e de água e, mais tarde, os rins passam a eliminar proteínas, o que provoca albuminúria. QUADRO CLÍNICO Nas formas leves: observa-se quadro febril inespecífico acompanhado de mal-estar passageiro, com ou sem cefaleia de pouca intensidade o quadro evolui em algumas horas até dois dias, com rápida recuperação. Nas formas moderadas: as manifestações são mais visíveis com um quadro febril um pouco mais intenso, cefaleia e mialgias de intensidade variável, pode ser observado discreta icterícia ou pequenas hemorragias o quadro evolui por até três dias e os pacientes recuperam-se de forma satisfatória. Na forma grave: o início é abrupto com febre elevada e mal-estar, cefaleia intensa, dores musculares sobretudo na região lombar, náuseas, vômitos, tontura e astenia; pelo menos um dos sintomas clássicos (hematêmese, icterícia ou oligo/anúria), hemorragias discretas quase sempre são observadas o quadro evolui por até cinco dias, quanso então se inicia o período de convalescença. Na forma maligna: caracteriza-se por manifestações de insuficiência hepática e renal; apresentação inicial: febre elevada de início abrupto, mal-estar, calafrios intensos, cefaleia holocraniana, dores musculares generalizada, dificuldade para respirar por causa das dores no tórax, náuseas, vômitos, anorexia, prostração, tontura e sede intensa decorrente da desidratação esse quadro evolui por 3 a 5 dias; após esse período alguns pacientes sentem-se melhor com sensação de cura, esse é o período de remissão que dura algumas horas até dois dias; passado o período de remissão ocorre piora do quadro que se caracteriza por manifestações de falência hepatorrenal: icterícia franca, dor em hipocôndrio direito, insuficiência renal com oligúria ou anúria, escorias nitrogenadas se acumulam e os valores séricos de ureia e creatinina aumentam cerca de 5 a 10X, com proteinúria e formação de cilindros na urina, é comum ocorrer hematêmese, melena, gengivorragia, otorragia, uretrorragia e metrorragia, quando a icterícia é intensa pode ocorrer Kernicterus, ou seja, impregnação do sistema nervoso central com bilirrubina resultando em convulsões decorrentes da encefalopatia que se instala. Em sua forma clássica, a doença manifesta-se por quadro hemorrágico grave, causando falência hepatorrenal, que resulta em morte em cerca de 50% dos doentes. DIAGNÓSTICO Os métodos virológicos são mais precisos e incluem o isolamento viral e RT-PCR; exame anatomopatológico com imuno-histoquímica se restringe aos casos fatais em que amostras de fígado são obtidas e detecta antígenos virais. Dos testes sorológicos o teste ELISA IgM é o mais utilizado e para isso é crucial saber o estado vacinal prévio para interpretar corretamente o estado da sorologia, visto que a vacina também induz a formação de anticorpos IgM. Exames laboratoriais são importantes na avaliação clínica e no prognostico da infecção e os mais indicados são hemograma completo, bilirrubinas, aminotransferases, fosfatase alcalina, gamaglutamiltransferase, ureiam creatinina, plaquetas, fatores da coagulação e exame de urina tipo I. Na fase inicial ocorre leucopenia com linfocitose, com valores de 3.000 a 4.000 leucócitos/cm3; quadro evolui com tendência de leucocitose com neutrofilia e linfopenia em função de infecção bacteriana secundária. As plaquetas em geral se encontram com valores em torno de 50.000/cm3. Bilirrubinas estão bastantes alteradas, sobretudo a fração direta, com valores acima de 5,0 mg/dL. Aminotransferases sempre apresentam valores muito alterados, podendo atingir 5.000 U/cm3; ALT (TGP) menos alterada do que a AST (TGO). Ureia pode atingir valores 4 a 5X acima do normal. Creatinina sobe e valores acima de 4mg/dL são frequentes. Exame de urina pode revelar proteinúria, hematúria e cilindrúria. Tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial e tempo de coagulação podem estar aumentados na forma grave da doença. Fatores de coagulação sintetizados no fígado (II, V, IX e X) apresenta-se diminuídos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Todas as doenças febris infecciosas que evoluem com icterícia e hemorragias como a malária, hepatites virais, leptospirose íctero-hemorrágica, dengue hemorrágica, febre tifoide, septicemias. Púrpura trombocitopênica idiopática, envenenamentos exógenos, acidentes por animais peçonhentos são outros diagnósticos diferenciais face à hemorragia que costuma acompanhar esses quadros. TRATAMENTO Não existe tratamento especifico para a febre amarela, logo, o tratamento é sintomático: Para febre utiliza-se antitérmicos convencionais Para cefaleia e mialgias utiliza-se analgésicos convencionais Para prevenir hemorragia gástrica utiliza-se fármacos como os bloqueadores H2 omeprazol, cimetidina e ranitidina. Para hematêmese utiliza-se antieméticos como a metoclopramida. Para insuficiência renal deve ser feito a hidratação e expansão volêmica, seguida de diuréticos como furosemida se não houver resposta adequada; em alguns casos pode ser necessário a indicação de diálise. PREVENÇÃO E CONTROLE Vigilância epidemiológica Vacinação contra a febre amarela Controle dos vetores FEBRE MACULOSA BRASILEIRA A febre maculosa brasileira é uma doença infecciosa febril aguda de gravidade variável. AGENTE ETIOLOGICO E TRANSMISSÃO Causada pela Rickettsia rickettsii uma bactéria gram-negativa intracelular obrigatória com tropismo para células endoteliais. É transmitida pela picada de carrapatos infectados pela bactéria e que permaneçam aderidos ao hospedeiro por um período de 4 a 6 horas. Equídeos, roedores, capivaras, marsupiais têm importante participação no ciclo de transmissão da febre maculosa e há estudos recentes sobre o envolvimento desses animais como reservatórios ou amplificadores de Rickettsia, assim como transportadores de carrapatos potencialmente infectados. EPIDEMIOLOGIA No Brasil, tem sido registrada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Santa Catarina e mais recentemente, a partir de 2005, nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e DistritoFederal De 2001 a 2008, foram registrados 601 casos da doença, com taxa de letalidade média de 24,8%. Os casos que evoluíram para óbito ocorreram na região Sudeste do Brasil. A hipótese para esse fato é de que a doença seja decorrente de mais de uma espécie de Rickettsia, com diferenças nas apresentações clínicas, na virulência e na letalidade. PATOGENIA Após a infecção a partir da picada por um carrapato infectado, o período de incubação pode variar de 2 a 14 dias com média de 7 dias. Após inoculação da Rickettsia rickettsii na pele, ocorre a disseminação pelas vias hematogênicas e linfática com posterior invasão de células endoteliais de pequenos e médios vãos da pele e vários outros órgãos (músculos esqueléticos, encéfalo, pulmões, coração, rins, baço, fígado e trato gastrointestinal). No interior das células endoteliais ocorre multiplicação das riquétsias com posterior disseminação para células adjacentes. Como resultado da infecção e do acometimento endotelial difuso, diferentes alterações vasculares na microcirculação, decorrentes tanto da ação de mediadores infamatórios quanto de lesão celular direta, podem ocorrer durante a evolução da doença: aumento da permeabilidade vascular, hipoalbuminemia, edema, derrames cavitários, edema pulmonar, hipovolemia, alterações hemodinâmicas, distúrbios da coagulação, hemorragias mucosas e cutâneas, micro-oclusões vasculares e lesões teciduais difusas (incluindo-se necrose de extremidades), miocardite, pneumonite, lesões glomerulares e tubulares renais, necrose teciduais. QUADRO CLÍNICO O início geralmente é abrupto e os sintomas são inicialmente inespecíficos e incluem: febre alta, cefaleia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Entre o 2º e o 5º dias da doença surge o exantema máculopapular de evolução centrípeta e predomínio nos membros inferiores podendo acometer região palmar e plantar. Em casos graves, o exantema vai se transformando em petequial e posteriormente em hemorrágico constituído principalmente por equimoses ou sufusões. Paciente não tratado equimoses tendem à confluência, podendo evoluir para necrose, principalmente em extremidades. Nos casos graves, é comum a presença de: edema de membros inferiores; hepatoesplenomegalia; manifestações renais como oligúria e insuficiência renal aguda; manifestações gastrointestinais como náuseas, vomito, dor abdominal e diarreia; manifestações pulmonares como tosse, edema pulmonar, infiltrado alveolar, com pneumonia intersticial e derrame pleural; manifestações neurológicas graves como déficit neurológico, meningite e/ou meningoencefalite, com líquor claro; manifestações hemorrágicas como petéquias, sangramento muco-cutâneo, digestivo e pulmonar. Se não tratada, a pessoa pode evoluir para um estágio de torpor e de confusão mental, com frequentes alterações psicomotoras, chegando ao coma profundo. Icterícia e convulsões podem ocorrer na fase mais avançada da doença DIAGNÓSTICO Exames inespecíficos Hemograma: a anemia e a plaquetopenia são achados comuns e auxiliam na suspeita diagnóstica. Os leucócitos podem estar normais, aumentados ou diminuídos, podendo apresentar desvio à esquerda. Enzimas: creatinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH), aminotransferases (ALT/TGP e AST/TGO) e bilirrubinas (BT) estão geralmente aumentadas. Exames específicos Reação de imunofluorescência indireta (RIFI): é o método sorológico mais utilizado para o esclarecimento diagnóstico das rickettsioses, sendo considerado padrão ouro, e o mais disponível na rotina laboratorial utilizada para identificar e quantificar imunoglobulinas específicas da classe IgM e da classe IgG. Histopatologia/imunohistoquímica: realizada em amostras de tecidos obtidas em biópsia de lesões de pele de pacientes infectados, em especial os graves, ou em material de necropsia. Técnicas de biologia molecular: reação em cadeia de polimerase (PCR). Isolamento: a cultura com isolamento da Rickettsia é o método diagnóstico ideal. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Durante os primeiros dias da doença as manifestações clinicas também podem sugerir leptospirose, dengue, hepatite viral, salmonelose, encefalite, malária, pneumonia por Mycoplasma pneumoniae, dentre outras devido ao quadro de sintomas inespecíficos. Com o surgimento do exantema, os diagnósticos diferenciais são: meningococcemia, sepse por estafilococos e por gram-negativos, viroses exantemáticas (enteroviroses, mononucleose infecciosa, rubéola, sarampo), outras rickettsioses do grupo do tifo, ehrlichioses, borrelioses (doença de Lyme símile), febre purpúrica brasileira, farmacodermia, doenças reumatológicas, como lupus, entre outras. TRATAMENTO O fármaco de escolha é a doxiciclina, que deve ser utilizada em casos leves a moderados, de manejo ambulatorial Nos casos mais severos, que requerem internação e utilização de antibioticoterapia IV, o cloranfenicol é o fármaco utilizado, pela inexistência da doxiciclina parenteral no país. A doxiciclina é contraindicada para gestantes e crianças menores de 9 anos A partir da suspeita de febre maculosa, o tratamento com antibióticos deve ser iniciado imediatamente, não se deve esperar a confirmação laboratorial do caso Se o paciente é tratado nos primeiros 5 dias da doença, a febre geralmente regride entre 24 e 72 horas após o início do uso apropriado de antibióticos. O tratamento deve ser mantido por 3 dias após o término da febre Não é recomendada a antibioticoterapia profilática para pessoas não doentes, que tenham sido recentemente picadas por carrapatos, podendo apenas contribuir para atrasar o início dos primeiros sintomas, caso venham a desenvolver a doença Além da introdução precoce e oportuna do antimicrobiano específico, é recomendado o monitoramento diário – clínico e, quando necessário, laboratorial – do paciente, de modo a identificar precocemente possíveis sinais de agravamento e, se indicado, a adoção de medidas de suporte apropriados, incluindo-se hospitalização. MALÁRIA Malária é uma doença infecciosa aguda causada por protozoários. É também conhecida como paludismo, febre palustre, impaludismo, maleita ou sezão. AGENTE ETIOLÓGICO E TRANSMISSÃO Causada por protozoários intracelulares obrigatórios do gênero Plasmodium. A espécie mais prevalente no Brasil é o P. vivax, seguida do P. falciparum e do P. malariae. A transmissão ocorre pela picada da fêmea de mosquitos do gênero Anopheles contaminada. A malária pode ser transmitida também por: hemotransfusão; compartilhamento de agulhas por usuários de drogas intravenosas; transplante de órgão; congênita. EPIDEMIOLOGIA É uma doença que ocorre nas áreas tropicais e subtropicais do planeta. Acomete sobremaneira populações de países de menor desenvolvimento socioeconômico. No Brasil, a quase totalidade dos casos de malária incide na chamada Amazônia Legal, que compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins Em 2011, foram confirmados 293.815 casos da doença no Brasil, dos quais 99,9% foram notificados na Amazônia Legal Tanto adultos como crianças são suscetíveis à infecção e representam as principais fontes de gametócitos para o mosquito vetor. PATOGENIA Os mecanismos determinantes da agressão patológica da malária baseiam-se na interação dos seguintes fenômenos biológicos: Multiplicação do parasita e destruição dos eritrócitos parasitados e não parasitados: A destruição dos eritrócitos e a consequente liberação dos parasitas e de seus metabólitos na circulação provocam resposta inflamatória no hospedeiro, a qual determina as principais alterações morfológicas e funcionais observadas no indivíduo com malária. A destruição de hemácias contribui, em algum grau, para o desenvolvimento da anemia. Entretanto, na maior parte dos casos,a anemia não se correlaciona com a parasitemia, indicando que a sua gênese seja devida a outros fatores, como: a) sequestro esplênico de eritrócitos, consequente ao desenvolvimento da esplenomegalia; b) participação de autoanticorpos com afinidades tanto pelo parasita como pelo eritrócito; c) disfunção da medula óssea estimulada por ação de citocinas (diseritropoese); e d) hemólise induzida por ação de anticorpos específicos, dirigidos contra antígenos do parasita que são adsorvidos na superfície de eritrócitos normais, não parasitados. Capacidade de citoaderência dos eritrócitos parasitados, levando ao seu sequestro na rede capilar de órgãos vitais, interferindo com a microcirculação e metabolismo tecidual: Durante o ciclo sanguíneo, o P. falciparum induz uma série de modificações na superfície da célula parasitada, o que altera a sua forma bicôncava e permite a sua adesão à parede endotelial dos capilares. Esse fenômeno de citoaderência é mediado por proteínas do parasita expressas na superfície dos eritrócitos infectados, que interagem com diferentes proteínas do hospedeiro. Ocorre principalmente nas vênulas do novelo capilar de órgãos vitais (substância branca do cérebro, coração, fígado, rins e intestino). Dependendo da intensidade, pode levar à obstrução da microcirculação e consequente redução do fluxo de oxigênio, acarretando metabolismo anaeróbico e acidose láctica. Potencial de induzir liberação de citocinas durante a resposta inflamatória aguda, com consequente redução da perfusão tecidual: Durante a esquizogonia sanguínea, ocorre grande liberação de antígenos do parasita, com ativação e mobilização de células imunocompetentes e produção de citocinas com ação direta ou indireta sobre o parasita, mas que simultaneamente podem ser nocivas ao hospedeiro. O fator de necrose tumoral (TNF) e a interleucina-1 são citocinas em geral detectadas no soro de pacientes durante o paroxismo da doença, sendo associadas a muitos dos sintomas da malária aguda, em particular a febre, o calafrio e o mal-estar. Acredita-se que o TNF também atue de forma direta sobre o endotélio microvascular, resultando em lesão endotelial. Nesse caso, pode haver extravasamento de líquido para o espaço intersticial de alvéolos e glomérulos, produzindo graves manifestações pulmonares e renais, respectivamente. Já foi demonstrado também que algumas citocinas aumentam a liberação de mediadores químicos, como o óxido nítrico, que são inibidores da função celular e podem estar implicadas na patogenia de algumas complicações da malária grave, sobretudo o coma e a anemia grave. Lesão celular induzida por complexos imunes: Apesar da grande quantidade de antígenos liberados durante a esquizogonia sanguínea, com extensa formação de imunocomplexos e variável depleção de proteínas do sistema complemento, existem poucas evidências que comprovem o envolvimento de mecanismos imunopatológicos na determinação de quadros graves de malária. Nas infecções crônicas por P. malariae, é descrita a ocorrência de glomerulonefrite lentamente progressiva, porém de mau prognóstico, a qual se apresenta com síndrome nefrótica. A lesão glomerular é produzida pela deposição de imunocomplexos e componentes do complemento nos glomérulos, alterando a sua permeabilidade e induzindo a perda maciça de proteína. QUADRO CLÍNICO O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de plasmódio, sendo de 9 a 14 dias para P. falciparum, 12 a 17 dias para P. vivax e 18 a 40 dias para P. malariae. Fase sintomática inicial, caracterizada por mal-estar, cefaleia, cansaço e mialgia, em geral precede a clássica febre da malária. O ataque paroxístico agudo, coincidente com a ruptura das hemácias ao final da esquizogonia sanguínea, costuma ser acompanhado de calafrio, sudorese, palidez e cianose labial. Essa fase “fria”, típica de descarga adrenérgica, dura de 15 minutos a uma hora, sendo seguida por uma fase febril (“quente”), com temperatura corporal podendo atingir 40oC ou mais. Cefaleia e mialgia intensas em geral acompanham essa fase, podendo ainda ocorrer taquicardia, taquipneia, tosse, lombalgia, náusea, vômitos, dor abdominal e até mesmo delírio Dentro de duas a seis horas ocorre defervescência da febre e o paciente sente-se melhor. Após a fase inicial, a febre assume caráter intermitente relacionado com o tempo de ruptura de uma quantidade suficiente de hemácias contendo esquizontes maduros. A periodicidade dos sintomas está na dependência do tempo de duração dos ciclos eritrocíticos de cada espécie de plasmódio: 48 horas para P. falciparum, P. vivax e P. ovale e 72 horas para P. malariae Entretanto, a constatação dessa regularidade é pouco comum nos dias atuais, em decorrência de tratamento precoce, sendo a febre cotidiana e irregular o padrão mais observado na malária. Ao exame físico: o paciente apresenta-se pálido e com fígado e baço palpáveis. Com a persistência da infecção, o paciente torna-se anêmico e perde peso. O exame dos aparelhos cardiovascular e respiratório é normal na maioria dos pacientes. Entretanto, taquicardia e sopro sistólico podem estar presentes em consequência de febre, anemia e desidratação. Outros achados físicos, de ocorrência menos frequente, incluem icterícia, hemorragia conjuntival, urticária e rash cutâneo petequial. Durante a fase aguda, é comum a ocorrência de herpes simples labial. Malária por P. Vivax – “febre terçã benigna” O pródromo é igual para as três espécies de plasmódio, sendo caracterizado por sinais e sintomas inespecíficos, como mal-estar, fadiga, náuseas, febrícula, discreta cefaleia. O período de incubação oscila entre 12-16 dias, medido pelo início do primeiro “acesso malárico”. As crises febris (“acessos maláricos”) nos estágios iniciais ocorrem diariamente, uma vez que duas gerações de parasitas evoluem concomitantemente, amadurecendo em dias alternados. Com o evoluir da infecção, uma das gerações de protozoários declina e a outra segue a sua evolução normalmente, determinando a periodicidade dos acessos febris a cada 48h – “febre terçã”. Cada acesso febril pode ser descrito da seguinte maneira: o período do frio, iniciando-se abruptamente, durando 30-60 minutos, marcado por um intenso calafrio com tremores, náuseas, vômitos e mialgia – a sensação de frio na verdade é apenas subjetiva, pois o termômetro já pode acusar 38ºC; o período do calor, durando 4-8h, caracterizado por uma grande sensação de calor e febre que pode atingir 41ºC – a fácies do paciente torna-se congesta, os olhos brilhantes, com possibilidade de hemorragias subconjuntivais, o pulso cheio, a pele seca, eventuais náuseas e vômitos; o período de sudorese, no qual a temperatura cai “em crise”, desvanecendo-se os sintomas agudos e estabelecendo-se uma sudorese copiosa, quando o doente acusa sensação de alívio, se bem que acompanhada de lassidão. Caso a parasitemia não seja erradicada com antimaláricos, os “acessos maláricos” se repetem durante algumas semanas (um máximo de três meses), caracterizando o “ataque primário”. Em um estudo brasileiro, os sintomas da malária vivax foram, por ordem decrescente: febre, calafrios, sudorese, esplenomegalia (58%), hepatomegalia (53%), palidez cutâneo-mucosa (36%), icterícia (34%), vômitos (30%), cefaleia (24%), diarreia (22%) e dispneia (7%). Uma das únicas complicações graves e potencialmente fatais desta forma de malária é a rotura esplênica espontânea. O laboratório revela tipicamente uma anemia normocítica normocrômica, de grau leve a moderado, com leucopenia e eventual desvio para esquerda. A bioquímica mostra os sinais indiretos de hemólise: hiperbilirrubinemia indireta, aumento da LDH e redução da haptoglobina, os reticulócitos não se encontram elevados, já que eles são as principais células infectadas. Após o término do “ataque primário”, quando as formas assexuadasdo parasito desaparecem da periferia, a doença passa para um estado de latência clínica (mas não parasitológica), no qual os hipnozoítas hepáticos se mantêm viáveis. Meses adiante, a reativação desses hipnozoítas lança novos merozoítas na circulação, reiniciando o ciclo eritrocitário. Sem tratamento, o paciente evolui com episódios de recidiva da doença ao longo dos próximos quatro anos, quando então se extingue, de forma natural, a atividade parasitária. Malária por P. Falciparum – “febre terçã maligna” O período de incubação oscila entre 8-12 dias responsável pelas formas graves (“perniciosas”) da malária. A parasitemia depende muito da imunidade prévia, natural ou adquirida. Os pródromos e as crises febris são semelhantes aos da malária vivax, porém o estado confusional e as convulsões podem acompanhar a febre. A anemia costuma ser mais grave, acompanhada ou não de reticulocitose. A leucopenia e a trombocitopenia são mais frequentes. A hepatoesplenomegalia é encontrada numa proporção semelhante. Os episódios febris podem se repetir durante os primeiros 12 meses da infecção (geralmente dentro do primeiro mês). Complicações – Malária grave ou “perniciosa” 1. Malária cerebral: ocorre em 30% dos casos nas formas perniciosas início pode ser gradual ou súbito, marcado por cefaleia, delirium (estado confusional), convulsões e coma. 2. Malária renal: ocorre em 65% dos casos nas formas perniciosas, sendo comumente observada em adultos, mas rara em crianças. O quadro clínico é marcado por oligúria e elevação das escórias nitrogenadas (ureia e creatinina). 3. Malária hepática: a icterícia costuma ser um sinal clínico proeminente nas formas graves de malária falciparum. Nestes, o acometimento hepático é evidente e uma verdadeira “hepatite malárica”, com necrose centrolobular, pode ser observada histologicamente, constituindo por si só a maior causa da icterícia. 4. Malária intestinal: também chamada de “malária álgida”, caracteriza-se por extenso comprometimento do tubo digestivo. O quadro pode ser de diarreia profusa, às vezes sanguinolenta, acompanhada de intensa prostração e eventual colapso circulatório. Esta forma de malária, curiosamente, tende a apresentar um curso afebril! 5. Malária pulmonar: é a complicação mais grave de todas, felizmente rara. O quadro é de edema pulmonar não cardiogênico, com formação de membrana hialina e hemorragia intra-alveolar – SDRA (injúria respiratória grave). 6. Hipoglicemia: complicação importante e comum na malária grave, que contribui substancialmente para a morbimortalidade da malária cerebral. 7. Acidose láctica: a oferta reduzida de oxigênio aos tecidos, secundária aos efeitos combinados da anemia, sequestro eritrocitário e hipovolemia, acarreta uma mudança do metabolismo aeróbico para o anaeróbico causando aumento dos níveis de ácido láctico circulante. 8. Outras complicações: aqui podemos destacar a coagulação intravascular disseminada, e a sepse por Gram- negativos (principalmente por Salmonella), que acaba surgindo como infecção nosocomial pulmonar ou urinária. Malária por P. Malariae – “febre quartã” No Brasil, as infecções causadas por esta espécie de plasmódio são relativamente raras (1% dos casos). Seu período de incubação é nitidamente superior aos das outras espécies, oscilando entre 30-40 dias. Quadro clínico semelhante ao da malária por P. vivax, mas os “acessos maláricos” ocorrem a cada 72h “febre quartã”. A parasitemia é moderada, não ultrapassando 20.000/mm³ e acometendo preferencialmente as hemácias maduras. A infecção persiste por longa data (anos), mas os hipnozoítas não foram registrados. A complicação mais temível da malária malariae é a síndrome nefrótica, observada em crianças entre 4-5 anos. Malária na gestante A malária é causa habitual de abortamento, morte neonatal, parto prematuro e baixo peso ao nascimento. No caso do P. falciparum, a placenta funciona como um dos principais órgãos de sequestro eritrocitário, acarretando insuficiência uteroplacentária. Há o risco, mesmo que pequeno, da transmissão congênita da malária geralmente no momento do parto Malária crônica Grupo de sinais e sintomas crônicos, que resultam de vários ataques anteriores, geralmente tratados de maneira inadequada. Consistem em fraqueza, surtos intermitentes de febre, anemia intensa, icterícia leve e volumosa hepatoesplenomegalia. Síndrome da esplenomegalia tropical Alguns autores a chamam de “Síndrome da malária hiper-reativa”. A doença acomete preferencialmente o adulto jovem, geralmente da raça negra. Clinicamente, os pacientes apresentam-se com volumosa hepatoesplenomegalia, anemia e sintomas gerais. O hiperesplenismo é marcante, sendo revelado pela pancitopenia no hemograma. Uma associação de hipoalbuminemia com hipergamaglobulinemia (tal como ocorre no calazar) é a regra. O laboratório pode demonstrar indícios de hiperestimulação imune, como um fator reumatoide em título alto, crioaglutininas, etc. Diagnóstico diferencial síndromes mieloproliferativas, linfoproliferativas (linfomas), calazar, esquistossomose. A suscetibilidade às infecções aumenta e muitos pacientes morrem por conta de sepse grave. Os critérios diagnósticos para esta síndrome são: o Esplenomegalia volumosa de evolução crônica; o Hipergamaglobulinemia acentuada; o Altos títulos de anticorpos circulantes contra os plasmódios da malária; o Infiltração linfocitária sinusoidal hepática; o Hiperesplenismo acentuado; o Regressão do quadro clinicolaboratorial após a terapia antimalárica prolongada. DIAGNÓSTICO O método laboratorial convencional estabelecido para o diagnóstico da malária é a visualização direta do parasita no sangue por meio da microscopia. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A TABELA 148.11 resume os diagnósticos diferenciais de acordo com as principais manifestações presentes na malária. SINTOMA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Febre Outras doenças infecciosas febris agudas. Em gestantes, considerar infecções do trato urinário, útero e mama. Ataques febris paroxísticos agudos, com calafrio Pneumonia pneumocócica, colangite, pielonefrite aguda e hepatite viral. Torpor, obnubilação, confusão mental e coma Meningoencefalites virais, bacterianas e micóticas. Abscesso cerebral, trauma cerebral, hemorragia intracraniana, intoxicação exógena, hiperosmolaridade, hipoglicemia, hiponatremia, uremia e insuficiência hepática. Convulsões Encefalites, encefalopatia metabólica, acidentes cerebrovasculares, epilepsia e intoxicação por drogas ou álcool. Em gestantes, considerar eclâmpsia; em crianças, considerar convulsão febril. Distúrbios da coagulação e sangramentos Sepse, meningococemia, febre hemorrágica viral e rickettsioses. Transtornos do comportamento Psicose, intoxicação/abstinência alcoólica, intoxicação por outras drogas e encefalite viral. Icterícia Hepatite viral, febre amarela, leptospirose, sepse, hemólise, obstrução biliar e hepatite tóxica. Se gestante, colestase gravídica. Se recém-nascido, incompatibilidade Rh e infecções congênitas. Náuseas, vômitos e diarreia Diarreia do viajante, infecção gastrintestinal e doença inflamatória intestinal. Febre hemoglobinúrica Hemólise induzida por fármacos e reação transfusional. Insuficiência renal aguda Sepse, febre amarela, leptospirose, intoxicação por drogas e desidratação por outras causas. Choque (malária álgida) Choque séptico, choque hemorrágico, perfuração intestinal, desidratação e miocardiopatias. TRATAMENTO TABELA 148.2 →Esquemas de tratamento da malária preconizados no Brasil pelo Ministério da Saúde ESPÉCIE DE PLASMODIUM/FÁRMACO DOSE OBSERVAÇÕES P. vivax e P. ovale Cloroquina (comprimidos de 150 mg base) Primaquina (comprimidos de 5 e 15 mg) 25 mg base/kg de dose total em trêsdias, sendo 10 mg/kg no 1o dia, 7,5 mg/kg no 2o e 3o dias Um esquema prático para adultos seria 600 mg da base no 1o dia, seguidos de 300 mg base no 2o e 3o dias 0,25 mg/kg/dia, durante 14 dias ou 0,50 mg/kg/dia, durante sete dias Tomar os comprimidos junto às refeições. A primaquina não deve ser usada em gestantes ou menores de seis meses de idade. Limitar a dose total de cloroquina em 1.500 mg para pessoas com mais de 60 kg. Limitar a dose total de primaquina a 350 mg para pessoas com mais de 100 kg. P. malariae Cloroquina Semelhante à descrita acima para P. vivax P. falciparum Artemeter + Lumefantrina (Coartem® – comprimidos contendo a combinação fixa dos dois medicamentos) Artemeter 3 a 4 mg/kg/dia + Lumefantrina 15 a 20 mg/kg/dia, em duas tomadas diárias, durante três dias A segunda dose deve ser administrada 8 horas após a primeira dose. Mais bem absorvido se ingerido junto com alimentos gordurosos. Não recomendado para gestantes no primeiro trimestre, mulheres em lactação e crianças com menos de seis meses. Artesunato (comprimidos de 100 mg) + Mefloquina (comprimidos de 250 mg) 3 mg/kg/dia em duas tomadas diárias, durante três dias 25 mg/kg. Administrar 75% da dose no primeiro dia e 25% no segundo dia (uma única tomada) Não recomendado para gestantes ou para quem usou quinina nas últimas 24 horas. Alternativa ao esquema de primeira escolha. Quinina (comprimidos de 500 mg) + 30 mg/kg/dia, durante três dias (em três tomadas/dia) Esquema de segunda escolha no Brasil. Doxiciclina (comprimidos de 100 mg) 3,3 mg/kg/dia a cada 12 horas, durante três dias Administrar primaquina como fármaco gametocitocida, em dose única no 6o dia, de 0,75 mg/kg. Quinina (monoterapia) 25 mg/kg/dia durante três dias Opção de escolha para gestantes, nutrizes e crianças menores de seis meses. P. falciparum + P. vivax (mista) Artemeter + Lumefantrina Primaquina Ver dose acima 0,25 mg/kg/dia, durante 14 dias ou 0,50 mg/kg/dia, durante sete dias Ver acima. MEDIDAS PREVENTIVAS Controle do vetor Quimioprofilaxia: Probabilidade alta de exposição à transmissão de malária. Visita a localidades com indicadores elevados de transmissão de malária. Presença de transmissão de malária no perímetro urbano do local de destino. Existência de resistência aos antimaláricos na região. Possibilidade de acesso a serviço de saúde superior a 24 horas do início dos sintomas. Viajante participante de grupo especial ou que seja portador de alguma doença crônica. Duração da viagem menor que seis meses. ZIKA VIROLOGIA E EPIDEMIOLOGIA O Zika (ZIKAV) é um vírus RNA fita-única pertencente ao gênero Flavivirus (o mesmo da dengue e da febre amarela). Arbovirose originária do continente africano “Zika” é o nome da floresta em Uganda onde o vírus foi descoberto em macacos Rhesus, em 1947. Foi identificado pela primeira vez no Brasil em 2015 atualmente doença disseminada e consolidada no país TRANSMISSÃO Principalmente pela picada dos mosquitos Aedes aegypti (regiões tropicais) e Aedes albopictus (regiões temperadas). Existe ainda a possibilidade de transmissão vertical, sexual, transfusional e por acidente ocupacional Em pacientes não gestantes e sem complicações da doença, o período de viremia costuma ser inferior a uma semana. Nas grávidas e nos doentes que evoluem com complicações (ex.: lesões neurológicas – ver adiante), a viremia pode persistir por mais tempo (de duração ainda desconhecida). O ZIKAV pode ser encontrado no sêmen até 62 dias após a infecção sintomática, num momento em que o mesmo já não está mais presente no sangue Na fase aguda da doença, a carga viral no sêmen chega a ser até 100.000 vezes mais alta que no sangue, mostrando a enorme infectividade deste fluido biológico... O vírus também pode ser encontrado na saliva, mas não está claro se o contato direto com esta secreção é capaz de transmitir a doença o mesmo é válido para o leite materno QUADRO CLÍNICO O período de incubação após a picada do mosquito é de 2-7 dias até 50% dos infectados desenvolvem sintomas. A Zika se apresenta como uma doença febril aguda autolimitada, com duração entre 2-7 dias, de evolução branda. Caracteriza-se pelo surgimento de febre baixa, fadiga, exantema maculopapular pruriginoso e hiperemia conjuntival. Outras queixas como cefaleia, dor retro-orbital, mialgia, artralgia (predominando nas pequenas articulações das mãos e pés) e − menos comumente − dor abdominal, diarreia, vômitos, dor de garganta, tosse e úlceras mucosas podem ser observadas. Alguns pacientes persistem com artralgia por até um mês após o término da fase aguda. Complicações neurológicas são raras, mas podem levar ao óbito... Tudo indica que, após a infecção, a maioria dos indivíduos adquire imunidade duradoura contra a reinfecção. Crianças saudáveis que adquirem Zika após o nascimento apresentam curso clínico semelhante ao dos adultos Não existem evidências de que o curso clínico da doença seja mais agressivo nas gestantes A viremia pode durar mais tempo nas gestantes relatos evidenciando viremia persistente por até dez semanas A provável explicação para isso é que em algumas pacientes o ZIKAV consegue invadir e se proliferar na placenta, local onde ele ficaria “protegido” do sistema imune do hospedeiro associada à transmissão vertical e suas complicações O maior problema relacionado ao ZIKAV é o seu neurotropismo (já demonstrado tanto in vitro quanto in vivo), que explica a ocorrência de lesões neurológicas graves como a microcefalia congênita e outras alterações do desenvolvimento em bebês nascidos de mães que tiveram Zika durante a gravidez, além de síndrome de Guillain- Barré, mielite e meningoencefalite aguda em pacientes de qualquer idade SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ (SGB). Há fortes indícios de que o ZIKAV possa causar a SGB, provavelmente por um mecanismo de neurotoxicidade direta. Na epidemia de Zika que acometeu a Polinésia Francesa entre 2013-2014 houve um aumento desproporcional na incidência de SGB acompanhando a circulação do vírus. Um estudo caso-controle mostrou que 93% dos episódios de SGB que ocorreram naquele período apresentavam anticorpos IgM anti-Zika (em comparação com 17% dos controles), e que 88% tinham história prévia de infecção sintomática recente, com intervalo médio entre o início dos sintomas de Zika e o surgimento da SGB de seis dias. A maioria dos pacientes não possuía autoanticorpos antiglicolipídeos (marcadores típicos da SGB esporádica), e o padrão eletroneuromiográfico era de neuropatia axonal motora aguda, corroborando a hipótese de neurotoxicidade direta do vírus. A incidência estimada foi de 2,4 casos de SGB para cada 10.000 infecções por Zika. Aqui no Brasil ainda não há dados consolidados a esse respeito, mas algumas informações preliminares sugerem que também houve aumento nos casos de SGB em associação à ocorrência de Zika. MICROCEFALIA. A partir de agosto de 2015, a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco identificou um aumento totalmente fora do esperado no número de casos de microcefalia em recém-nascidos houve um aumento substancial na prevalência de microcefalia ao nascer na região Nordeste como um todo! Investigações subsequentes estabeleceram uma associação causal entre tal achado e o vírus da Zika. O ZIKAV é capaz de cruzar a barreira placentária e invadir e destruir neurônios primitivos do SNC em formação, impedindo a migração e diferenciação dessas células de modo a prejudicar o crescimento e desenvolvimento do tecido cerebral. O resultado final é um encéfalo pequeno e malformado, o que se expressa clinicamente através da microcefalia. Define-se microcefalia como um PerímetroCefálico (PC) abaixo do esperado para a idade e sexo, ou mais especificamente, um PC mais de dois desvios-padrão abaixo da média para a idade e sexo De agora em diante vamos nos referir apenas à microcefalia congênita (excluída a forma “primária” ou “familiar”), pois este é o tipo de microcefalia que pode ter a Zika como etiologia A microcefalia já pode ser percebida durante o pré-natal, através dos exames ultrassonográficos de rotina. A chance de tais alterações serem observadas é maior no terceiro trimestre em comparação com os trimestres anteriores, quer dizer: numa gestante que teve doença febril exantemática no início da gestação, a ausência de microcefalia e/ou alterações estruturais no SNC do feto nos primeiros meses não afasta a possibilidade de microcefalia, uma vez que esta pode se tornar evidente apenas semanas mais tarde (em geral após a 20ª semana de gestação)! Vale dizer que, por si só, a presença de microcefalia fetal não classifica a gestação como de “alto risco”, podendo o acompanhamento pré-natal ser mantido na rede básica do SUS. DIAGNÓSTICO Método de escolha é o RT-PCR (Reverse Transcription Polymerase Chain Reaction), um exame de biologia molecular que detecta diretamente o RNA viral pode ser feito no soro, urina ou tecidos coletados por biópsia/autópsia. No soro, sua positividade é mais provável nos primeiros cinco dias de doença, podendo acontecer até o 5º dia. Na urina, o RT-PCR pode permanecer positivo por até 15 dias após o início dos sintomas. Nas gestantes pode haver replicação viral persistente, sendo a positividade de ambos os testes mantida por maior período (cuja duração ainda não é totalmente conhecida, mas já se sabe que ela pode chegar a dez semanas). A partir do 6º dia do início dos sintomas pode-se coletar testes sorológicos para detecção de anticorpos anti-Zika (IgM/IgG). Uma segunda amostra desses anticorpos deve ser coletada 15 dias após a primeira... É importante ter em mente que o IgM anti-Zika pode ter reação cruzada com o IgM anti-dengue, ou seja, um resultado positivo para Zika neste teste, na realidade, pode ser dengue... Sempre que houver esta dúvida diagnóstica (geralmente em função do quadro clínico, que fala muito mais a favor de dengue do que de Zika) pode-se recorrer a um teste adicional chamado PRNT (Plaque-Reduction Neutralization Test). Como vimos anteriormente, se uma gestante apresentar feto com microcefalia e/ou alterações estruturais do SNC sugestivas de infecção congênita (conforme evidenciado nos exames ultrassonográficos do pré-natal), está indicada a realização de RT-PCR no soro e na urina concomitantemente, podendo-se fazer também o RT-PCR no líquido amniótico (caso a paciente seja submetida a uma amniocentese). O Ministério da Saúde recomenda que toda gestante que apresente exantema com cinco dias de duração, afastadas outras causas (infecciosas e não infecciosas), colete soro e urina, imediatamente, para realização de RT-PCR para Zika. Todo caso suspeito ou confirmado de Zika (em qualquer paciente) deve ser notificado às autoridades sanitárias. Em se tratando de gestantes ou óbitos possivelmente relacionados à infecção, a notificação deve ocorrer em até 24h. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Principais diagnósticos diferenciais Dengue, Chikungunya, Parvovirose, Rubéola, Sarampo, Malária, Leptospirose e Streptococcus do grupo A É importante ter em mente que dengue, Chikungunya e Zika são transmitidas pelo mesmo vetor e atualmente são endêmicas em nosso meio, ou seja, a coinfecção pelos três vírus é possível. O maior risco deve ser atribuído à dengue, que dentre as três é a virose com maior potencial de morbimortalidade! TRATAMENTO E PREVENÇÃO Não há tratamento antiviral específico, tampouco vacina. Orienta-se uma abordagem sintomática lançando mão de antitérmicos/analgésicos/antipruriginosos, como paracetamol ou dipirona e antihistamínicos. Os AINE devem ser evitados, pela possibilidade de infecção simultânea pelo vírus da dengue As medidas que visam prevenir a picada do mosquito − tanto individuais quanto coletivas − são idênticas às já citadas para dengue e Chikungunya (lembrando que o foco principal é a eliminação dos criadouros do mosquito em água parada). No caso específico da Zika, existem ainda recomendações internacionais para prevenção da transmissão sexual fora das áreas endêmicas: homens que apresentaram infecção sintomática devem se abster de realizar sexo desprotegido (vaginal, oral e/ou anal) por pelo menos seis meses. Se a parceira for uma mulher grávida, o sexo desprotegido (sem camisinha) deve ser evitado durante toda a gestação; homens que não residem em áreas endêmicas, mas viajaram para essas regiões, mesmo sem ter apresentado sintomas da doença devem se abster de realizar sexo desprotegido por pelo menos oito semanas. Internacionalmente, também está sendo recomendado que gestantes ou mulheres que planejam engravidar evitem viajar para localidades com altitude < 2.000 metros em países onde existe transmissão autóctone do ZIKAV. CHIKUNGUNYA O Chikungunya (CHIKV) é um arbovírus de RNA fita única pertencente ao gênero Alphavirus, da família Togaviridae. Em nosso meio, seus principais vetores são: Ae. aegypti e Ae. albopictus No continente africano, outras espécies de Aedes e outros tipos de mosquito também podem estar envolvidos em sua transmissão, como espécies dos gêneros Culex, Mansonia e Anopheles, por exemplo. Em seu ciclo natural o homem é o hospedeiro definitivo, enquanto os primatas não humanos e outros vertebrados como roedores, pássaros e pequenos mamíferos representam hospedeiros intermediários. No meio urbano, o vetor transmite a doença de pessoa a pessoa, sem precisar do hospedeiro intermediário. EPIDEMIOLOGIA A partir de 2013 o CHIKV se estabeleceu nas Américas, e agora faz parte do rol de “doenças tropicais” que ameaçam a população brasileira Já foi descrita a transmissão autóctone da doença em todos os Estados da Federação. A febre de Chikungunya é uma doença de notificação compulsória. A circulação do CHIKV depende da existência do mosquito transmissor. Como os Aedes estão presentes quase que no mundo inteiro (regiões tropicais, subtropicais e temperadas), sempre houve o potencial de disseminação global da doença a partir de seu foco de origem, o oeste africano. Acredita-se que isso só veio a acontecer de forma consistente nos últimos anos devido a dois fatores principais: aumento do turismo nas áreas endêmicas, o que fez com que o vírus fosse “exportado” para novos territórios; surgimento de uma mutação (A226V) que aumentou sua capacidade de replicação nas glândulas salivares do A. albopictus, facilitando o surgimento de uma cadeia de transmissão fora da África. QUADRO CLÍNICO O período de incubação varia de 1 a 12 dias (média de 3 a 7 dias). A fase aguda é marcada pelo início abrupto de febre alta (> 38,5ºC), que dura no máximo dez dias (média de sete dias). Por volta do 2º ao 5º dia sobrevém um quadro de intensa poliartralgia, que predomina em mãos, punhos e tornozelos. O acometimento tende a ser simétrico e distal, e em 30-50% das vezes o esqueleto axial também é envolvido. O exame físico costuma revelar edema periarticular (30-95% dos casos), sendo os derrames sinoviais volumosos menos frequentes (cerca de 15% apenas) A dor articular associada à Chikungunya pode ser intensa e incapacitante! Queixas gastrointestinais e linfadenopatia (principalmente cervical) são outras manifestações que podem ser encontradas. Um rash eritematoso maculopapular aparece em 40-75% dos pacientes, iniciando-se por volta do 3º dia e durando entre três a sete dias Pode haver prurido e formação de bolhas (principalmente em crianças). Após o término da fase aguda febril é comum a persistência
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