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Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Sistema Cardiovascular Valvulopatias É uma doença decorrente da alteração do padrão normal de funcionamento das valvas e isso geralmente está associado com alterações estruturais das valvas que podem sofrer inflamação, calcificação, espessamento, fibrose, que pode dificultar quanto a abertura quanto o fechamento das valvas. A doença cardíaca valvar pode acarretar em estenose ou insuficiência. Elas podem ocorrer isoladamente ou juntas (dupla lesão) na mesma valva e pode envolver apenas uma valva ou mais de uma valva. O fluxo anormal através das valvas danificadas normalmente produz sons cardíacos anormais denominados sopros. As lesões graves podem até ser palpadas como frêmitos. Estenose Chamamos de estenose a falha de uma valva em se abrir completamente, obstruindo o fluxo adiante, assim, o sangue passa com dificuldade para a cavidade seguinte. Na maioria das vezes é causada por uma anomalia primária das válvulas e é quase sempre um processo crônico resultante de calcificação ou cicatrização valvar. Insuficiência Chamamos de insuficiência ou regurgitação a falha de uma valva em se fechar totalmente, permitindo asism a regurgitação (refluxo) de sangue por elas quando elas deveriam estar fechadas. Normalmente é causada de uma doença intrínseca das valvas (endocardite) ou da ruptura das estruturas de sustentação sem haver lesão primária das valvas (músculos papilares, cordas tendíneas, parede do ventrículo, anel mitral). Pode surgir abruptamente ou de modo insidioso como consequência da cicatrização ou da retração das valvas. Relembrando um pouco a fisiologia dessas valvas, elas são constituídas por tecido fibroso que precisa ser forte mas também flexível, para aguentar o estresse mecânico que são submetidas. Existem as valvas atrioventriculares (mitral e tricúspide) e as semilunares (aórtica e pulmonar). A mitral separa o AE do VE enquanto a tricúspide separa o AD do VD. As semilunares se encontram na saída do ventrículo e início das artérias: a pulmonar se localiza na artéria pulmonar e a aórtica se localiza na artéria aorta. Essas valvas são constituídas por folhetos, e todas as valvas são compostas por 3 folhetos, com exceção da mitral que tem somente 2 folhetos e por isso é também chamada de bicúspide. Elas possuem comportamentos diferentes ao longo do ciclo cardíaco mas as atrioventriculares funcionam juntas e as semilunares também funcionam juntas, ou seja, abrem no mesmo momento e e fecham no mesmo momento. O funcionamento normal dessas valvas permite que o sangue siga um fluxo unidirecional, sem voltar à câmara anterior. Vale lembrar que as estruturas dessas valvas não contraem, a abertura e o fechamento ocorre por processos passivos de diferença de pressão entre uma câmara e outra ou entre um ventrículo e uma artéria. (passagem do sangue sempre do local de maior pressão para local de menor pressão). As valvas atrioventriculares estão conectadas a estruturas da parede do ventrículo pelos músculos papilares e pelas cordas tendíneas, contudo, essas estruturas não regulam a sua abertura e fechamento. O desfecho da valvulopatia depende da valva afetada, do grau da lesão, da velocidade de desenvolvimento e da eficácia dos mecanismos compensatórios. Por exemplo, a destruição súbita de uma das válvulas da valva da aorta por infecção pode causar regurgitação e o início abrupto de insuficiência cardíaca. Por outro lado, a estenose mitral reumática geralmente progride com o passar dos anos, e seus efeitos clínicos podem ser bem tolerados até uma fase tardia da evolução. As anomalias valvares podem ser congênitas ou adquiridas: Doença Valvar Congênita A lesão valvar congênita mais comum é a valva aórtica bicúspide que contém apenas 2 válvulas funcionais em vez das 3 normais. As 2 válvulas possuem tamanhos diferentes, e a válvula maior apresenta uma rafe na linha média que resulta da separação incompleta das válvulas. Essa malformação ocorre em uma frequência de 1% a 2% entre todos os nascidos vivos e está associada a mutações. As valvas aórticas bicúspides geralmente não apresentam estenose nem insuficiência no início da vida. Contudo, elas têm mais tendência a desenvolver calcificação degenerativa precoce e progressiva que leva ao desenvolvimento de estenose. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Estenose aórtica calcificada na valva bicúspide congênita. Seta = rafe. Doença Valvar Adquirida A maioria das doenças valvares adquiridas ocorrem nas valvas mitral e aórtica. As causas mais importantes são: CAUSAS ESTENOSE MITRAL Cicatrização pós inflamatória (cardiopatia reumática)* INSUFICIÊNCIA MITRAL Anomalias nas válvulas e comissuras: Cicatrização pós inflamatória,Endocardite infecciosa, Prolapso da valva mitral e Fibrose valvar induzida pelo Fen-fen. Anomalias do aparelho tensor: ruptura de músculo papilar, disfunção dos músculos papilares (fibrose) ou ruptura das cordas tendíneas). Anomalias da cavidade do VE e/ou do anel: aumento do VE (miocardite, cardiomiopatia dilatada) e calcificação do anel mitral. CAUSAS ESTENOSE AÓRTICA Cicatrização pós inflamatória (cardiopatia reumática) Estenose aórtica calcificada Calcificação da valva congenitamente deformada INSUFICIÊNCIA AÓRTICA Doença valvar intrínseca: cicatrização pós inflamatória (cardiopatia reumática) e endocardite infecciosa. Doença aórtica: dilatação de aorta ascendente (hipertensão ou envelhecimento), aortite sifilítica, espondilite anquilosante, artrite reumatóide e Síndrome de Marfan. DOENÇAS VALVARES DEGENERATIVAS As valvas podem sofrer processos degenerativos que afetam a integridade da sua matriz extracelular. Essas alterações incluem: → Calcificações As calcificações podem ser valvulares (na valva aórtica) ou anulares (na valva mitral). Na maioria dos casos, a degeneração calcificada é assintomática e descoberta apenas casualmente pelo encontro de calcificações em um RX de tórax de rotina ou na necrópsia. Em outros pacientes, a esclerose e/ou a calcificação podem ser graves o suficiente para causar estenose e exigir intervenção cirúrgica (avanço sobre o sistema de condução adjacente). Estágios de desenvolvimento do processo de calcificação: 1. Esclerose (aumento da espessura ou endurecimento da válvula) - sem importância hemodinâmica. 2. Presença de massas calcificadas - obstrução do fluxo. 3. Fusão comissural - processo de cicatrização (fibrose). Em A vemos a presença das calcificações (setas) numa valva aórtica previamente normal . Já em D temos um corte que demonstra a extensão da calcificação no miocárdio. O tipo de doença valvar degenerativa mais comum é a degeneração aórtica calcificada. A sua incidência está crescendo com o aumento da idade média da população pois são comuns de ocorrer com o processo de envelhecimento (entre 70-80 anos) devido ao desgaste progressivo causado pelo estresse mecânico repetitivo ao qual as valvas estão sujeitas. Afinal, ocorrem 40 milhões de batimentos por ano, e cada abertura e fechamento normal requer uma deformação considerável das valvas. Além disso, quando a valva aórtica é biscúspide, o início da manifestação ocorre muito mais cedo (frequentemente entre os 40-50 anos de idade). A calcificação das válvulas também são cada vez mais vistas como o equivalente valvar da arteriosclerose relacionada com a idade. Desse modo, é provável que a lesão crônica causada por hiperlipidemia, hipertensão, inflamação e por outros fatores implicados na aterosclerose contribuam para as alterações degenerativas valvulares, embora faltem evidências conclusivas. ALTERAÇÕES NA MEC Em alguns casos, as alterações consistem no aumento de proteoglicanas e na diminuição do colágeno e da elastina (degeneração mixomatosa); em outros casos, a valva torna-se fibrótica e cicatrizada. Além disso, pode haver alterações na produção das metaloproteinases da matriz ou de seus inibidores. Febre Reumática A Febre Reumática consiste em uma doença inflamatória aguda, de caráter sistêmico, mediada pelo sistema imune, que ocorre apósinfecção pelo Streptococcus pyogenes (estreptococo β- hemolíticos do grupo A). Ela se manifesta de uma resposta imune tardia de infecções respiratórias das vias aéreas superiores (normalmente após uma faringoamigdalite). Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Esse comprometimento pode afetar o funcionamento das articulações, da pele e tecido subcutâneo, do SNC e do coração, sendo esse último passível de sofrer um processo de cronificação. A doença reumática cardíaca é a manifestação cardíaca da FR e está associada a inflamações de todas as partes do coração. Contudo, a lesão permanente de estruturas cardíacas, como suas valvas, produzem as características clínicas mais importantes. As demais sequelas são de caráter transitório. A FR afeta principalmente crianças e jovens adultos, devido a alta incidência de faringoamigdalite em indivíduos de 5-18 anos. Ocorre com maior frequência em países em desenvolvimento, porém sua incidência têm diminuído com a antibioticoterapia, melhora das condições socioeconômicas e circunstâncias de moradias. Fisiopatologia A patogenia da FR decorre basicamente de uma reação autoimune consequente de uma doença inflamatória. Essa reação ocorre por conta de um mimetismo molecular, ou seja, nosso sistema imune vai confundir a proteína M do Streptococcus pyogenes com a miosina cardíaca humana, induzindo uma reação cruzada com linfócitos T e linfócitos B. Uma reação cruzada é uma reação não proposital, na qual o anticorpo se liga em um antígeno para o qual não foi especificamente produzido. Isso acontece devido a semelhança química e estrututral entre alguns componentes do patógeno e do tecido cardíaco. Portanto, os anticorpos produzidos contra certos antígenos estreptocócicos (proteína M) induzem essa reação cruzada e passam a atacar proteínas do miocárdio e das valvas cardíacas. Essa resposta depende da ação de linfócitos T e B, além da produção local de citocinas e ativação do complemento, causando lesões inflamatórias autoimunes. Caso se exacerbem, essas lesões podem se tornar irreversíveis. Vale constatar que, apenas uma minoria dos pacientes infectados desenvolvem a FR (cerca de 3%). Portanto, é provável que haja suscetibilidade genética para o desenvolvimento das respostas imunes cruzadas nos pacientes afetados. Ativação do sistema imune contra tecido cardíaco por mimetismo molecular. A Febre Reumática Aguda é caracterizada por focos inflamatórios discretos em diferentes tecidos. As lesões inflamatórias encontradas no miocárdio — os chamados corpos de Aschoff — são característicos da febre reumática. Esses nódulos consistem em acúmulos de linfócitos T, plasmócitos dispersos e macrófagos volumosos ativados (células de Anitschkow) associados a zonas de necrose fibrinoide. As células de Anitschkow são células incomuns dentro do corpúsculo de Aschoff, cujos núcleos contem uma faixa central de cromatina ondulada e delgada (as chamadas “células em lagarta”). Essas células são macrófagos cardíacos que normalmente estão presentes em pequenos números, mas se acumulam e se tornam proeminentes em certos tipos de doenças inflamatórias do coração. As células de Anitschkow podem se tornar multinucleadas, quando então são denominadas de células Gigantes de Aschoff. Durante a FR aguda, os corpúsculos de Aschoff podem ser encontrados em qualquer uma das três camadas do coração: pericárdio, miocárdio ou endocárdio* (inclusive nas valvas). Quando os três folhetos são lesionados, podemos considerar um quadro de pancardite reumática com as seguintes características: O pericárdio pode exibir um exsudato fibrinoso, que geralmente se resolve sem deixar sequelas. O envolvimento do miocárdio — miocardite — manifesta- se na forma de corpos de Aschoff dispersos no interior do tecido conjuntivo intersticial. O envolvimento valvar resulta em necrose fibrinoide e deposição de fibrina ao longo das linhas de fechamento que formam vegetações (verrugas) que perturbam o funcionamento do coração. Pequenas verrugas são visíveis ao longo da linha de fechamento das válvulas da valva mitral (setas). A manifestação da FR aguda se torna aparente após um período de latência de 2 a 3 semanas da infecção. A inflamação ativa das valvas pode levar à estenose* ou insuficiência valvar crônica. Essas lesões envolvem as valvas mitral, aórtica, tricúspide e pulmonar, nesta ordem de freqüência. A valva mitral sozinha está afetada em 70% dos casos, e a mitral e a aórtica estão comprometidas conjuntamente em 25% dos casos. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Já a Febre Reumática Crônica é caracterizada pela organização da inflamação aguda e pela subsequente cicatrização. - Os corpos de Aschoff são substituídos por cicatrizes fibrosas, de modo que eles são raramente vistos na doença crônica. - Em particular, as válvulas tornam-se espessadas e retraídas de modo permanente. Classicamente, a valva mitral exibe espessamento das válvulas, fusão e encurtamento das comissuras e espessamento e fusão das cordas tendíneas (aspecto em “boca de peixe”). Manifestações clínicas A FR aguda ocorre quase sempre em crianças mas cerca de 20% das primeiras crises ocorrem em adultos. Em todos os grupos etários, os sintomas normalmente começam 2 a 3 semanas após a infecção estreptocócica. As principais manifestações clínicas decorrentes da FR podem ser subdivididas nas seguintes categorias: Sinais Articulares São os sinais mais predominantes, comum em 75% dos pacientes com FR. É caracterizada pelo processo inflamatório das grandes articulações (cotovelo, joelho, tornozelo, punhos, quadris, mãos), sendo acompanhado por inchaço, calor, eritema, limitação significativo dos movimentos e macicez à pressão. Ela também tem caráter migratório – ou seja, aparece causando dor e inchaço em uma ou algumas articulações, desaparece sem deixar sequelas residuais, mas então aparece em outras, aparentando assim passar de uma articulação para outra (poliartrite migratória). Sinais e sintomas cardíacos A Cardite Reumática é a segunda maior manifestação clínica, afetando 50-60% dos doentes. Ela geralmente não produz manifestações clínicas durante anos ou mesmo décadas após o episódio inicial da febre reumática. Quando se manifesta, os sinais e sintomas da doença valvar dependem da(s) valva(s) cardíaca(s) afetada(s). Com o decorrer do desenvolvimento da FR, os episódios de cardite se tornam mais intensos, tendo um teor cumulativo, se tornando progressivamente mais fatal. Sendo assim, a ocorrência desse sintoma é um determinante para o mal prognóstico a longo prazo da doença. É bem comum a existência de sopros por acometimento das valvas. Em caso de estenose mitral, encontramos um sopro diastólico em foco mitral, com o som em ruflar – se assemelhando a um bater de assas. Também chamado de sopro de Carey-Coombs, ocorre por conta de um turbilhonamento de sangue através dos folhetos mitrais inflamados e muito edemaciados. Outro sopro comum é o de insuficiência mitral, caracterizado por ser um sopro holossistólico, se irradiando para dorso ou axila. Outros sinais clínicos incluem atrito pericárdico e arritmias; a miocardite pode ser agressiva o suficiente para provocar dilatação cardíaca, que leva à insuficiência funcional da valva mitral à ICC. O reparo cirúrgico ou a substituição das valvas doentes tem melhorado muito o prognóstico dos pacientes com doença reumática cardíaca. Sinais na Pele Marcado principalmente pela presença de eritema marginado (erupção eritematosa anular) que são lesões de caráter múltiplo, indolor, não pruriginosa, podendo se juntar com as adjacentes, formando manchas com formatos serpiginoso. São localizadas nas regiões do tronco, abdome, face interna dos membros superiores e inferiores, com exceção da face (diferente do lúpus eritematoso sistêmico). A temporariedade dessa manifestação clínica consiste, geralmente, no início da doença, podendo persistir ou se tornar recorrente durante meses. Também podem ser percebidos múltiplos nódulos subcutâneos arredondados, firmes, móveis, indolores e sem sinais flogísticospróximos às articulações. Normalmente são encontrados sobre proeminências e tendões extensores, ou seja, cotovelos, punhos, joelhos, tornozelos, região occipital, tendão de Aquiles e coluna vertebral. A investigação desses nódulos no pacientes é feito principalmente na palpação, por conta da dificuldade em encontrá-lo somente por meio da inspeção. Sintomas constitucionais Representado principalmente pela febre (com histórico de garganta inflamada). Pode haver anorexia, dor abdominal e mal-estar, mas não são específicos para FR. Sinal neurológico Marcado pela coreia de Sydenham, distúrbio neurológico caracterizado por movimentos rápidos despropositados e involuntários, que ocorrem em cerca de 10 a 30% das crianças infectadas, se instalando após alguns meses (1 a 6 meses), ou seja, quando houve regressão dos demais sintomas “maiores”. Esses movimentos se acentuam em situações de estresse e esforço físico e costumam durar cerca de 3 a 4 meses. A fisiopatologia dessa manifestação consiste na ação autoimune de anticorpos que se ligam a neurônios dos núcleos da base, principalmente os núcleos caudado e o subtalâmico, interferindo no circuito motor do paciente, que apresentará esses movimentos involuntários. Endocardite A Endocardite infecciosa é uma infecção grave caracterizada pela invasão de microorganismos patogênicos (bactérias ou fungos) nas superfícies endocárdicas resultando em inflamação Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO e lesão local, sendo as valvas cardíacas as mais comumente envolvidas. Cursa com formação de vegetações compostas de resíduos de trombos e microorganismos, muitas vezes associados à destruição dos tecidos cardíacos subjacentes. As bactérias extracelulares são as responsáveis pela grande maioria dos casos. Afeta mais comumente o sexo masculino, podendo acometer estruturas cardíacas normais, sem lesão prévia. Atualmente, predomina em portadores de próteses valvares e dispositivos implantados, como marcapasso e cardiodesfibrilador, usuários de drogas intravenosas, imunossuprimidos e usuários de dispositivos invasivos. Fatores do hospedeiro, como neutropenia, imunodeficiência, neoplasia, diabetes melito e abuso de álcool também aumentam o risco de endocardite infecciosa, e afetam de modo negativo a evolução clínica. Ela pode ser classificada de acordo com a velocidade e a gravidade da evolução clínica em: ENDOCARDITE AGUDA Infecção por microorgansimo altamente virulento em uma valva previamente normal. Essa infecção é capaz de causar morbidade e mortalidade substanciais, são difíceis de curar pela antibioticoterapia e normalmente precisam de cirurgia. É classificada como aguda quando tem menos de 6 semanas de duração. ENDOCARDITE SUBAGUDA Caracteriza-se por ser uma infecção por microorgansimo com menor virulência em estruturas previamente distorcidas como nos casos de febre reumática, valva aórtica bicúspide, valva aórtica calcificada, prolapso mitral e próteses valvares. A doença normalmente aparece de modo insidioso e — mesmo sem tratamento — segue um curso demorado de 6 semanas até meses; a maioria dos pacientes recupera-se após receber a antibioticoterapia adequada. Ela tende a provocar menos destruição valvar do que a endocardite aguda. Ao exame microscópico, as vegetações subagudas da endocardite infecciosa têm com frequência tecido de granulação em sua base (o que sugere cronicidade) que, com o tempo, estimula o desenvolvimento de infiltrados inflamatórios crônicos, fibrose e calcificação. Patogenia Os microorganismos causadores de endocardite infecciosa mais comuns são relacionados no quadro abaixo: Os principais microorganismos causadores da EI são estafilococos e estreptococos, sendo os primeiros mais comuns em casos de infecção hospitalar e os segundos em infecções comunitárias. O Streptococcus viridans é um membro relativamente comum da flora da cavidade oral e acomete normalmente as valvas previamente anormais ou lesadas. Por outro lado, os organismos S. aureus são mais virulentos e comumente encontrados na pele, podendo infectar valvas saudáveis e deformadas. É o principal agente infectante encontrado entre os indivíduos com EI que utilizam drogas ilícitas injetáveis. Os outros agentes como os enterococos e os microrganismos do grupo denominado HACEK (Haemophilus, Actinobacillus, Cardiobacterium, Eikenella e Kingella), são todos comensais da cavidade oral. Em casos raros, bacilos Gram-negativos e fungos estão envolvidos. A porta de entrada do agente na corrente sanguínea pode variar desde um procedimento dentário ou cirúrgico que cause bacteremia transitória, dentição deficiente ou infecção dentária, injeção de material contaminado diretamente na corrente sanguínea por usuários de drogas IV ou uma fonte oculta localizada no intestino, na cavidade oral ou mesmo lesões sem importância. O desenvolvimento da EI, geralmente, segue uma sequência previsível: 1. Lesão valvar ou endotelial. 2. Deposição local de fibrinas e plaquetas. 3. Formação de trombos no local da lesão - endocardite trombótica não bacteriana (ETNB). 4. Se houver bacteremia transitória, há colonização e aderência de bactérias circulantes na vegetação trombótica. 5. Multiplicação e formação da vegetação bacteriana (EI) 6. Destruição valvar e invasão local com formação de abscessos, aneurisma e embolias. Nas formas aguda e subaguda da doença, as valvas cardíacas apresentam vegetações grandes, irregulares e potencialmente destrutivas que contêm fibrina, células inflamatórias e microrganismos. A vegetação pode ser única ou múltipla, e pode acometer mais de uma válvula; às vezes, as vegetações podem provocar erosão e alcançar o miocárdio subjacente, produzindo abscesso cavitário (abscesso anular). Endocardite subaguda causada por Streptococcus viridans na valva mitral previamente mixomatosa. As vegetações grandes e friáveis estão indicadas por setas. As valvas aórtica e mitral são os locais mais comuns da infecção, embora a valva mitral seja um alvo frequente nos casos de abuso de drogas IV. O desprendimento de êmbolos é comum por causa da natureza friável das vegetações, ou seja, são passíveis de sofrer fragmentação/esfacelamento. Visto que as vegetações fragmentadas contêm grande número de microrganismos, é Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO comum o desenvolvimento de abscessos nos locais onde os êmbolos se alojam, levando ao aparecimento de infartos sépticos e aneurismas que resultem de infecção bacteriana na parede arterial (aneurismas micóticos). Manifestações clínicas O quadro clínico sugestivo é vasto, envolvendo diversos sintomas a depender do local acometido. O prognóstico depende do microrganismo infeccioso e do desenvolvimento ou não de complicações. ► Lesões de Janeway São lesões eritematosas ou hemorrágicas indolores nas regiões palmares e plantares, causadas por microembolia séptica. ► Nódulos de Osler Nódulos intradérmicos dolorosos, predominantes nas polpas digitais, causados por vasculite mediada por imunocomplexos. ► Manchas de Roth Lesões hemorrágicas na retina do olho, com palidez central, próximas ao nervo óptico causadas por vasculite mediada por imunocomplexos. Sem tratamento, a endocardite infecciosa geralmente é fatal. Contudo, com a apropriada antibioticoterapia de longa duração (seis semanas ou mais) e/ou a substituição valvar, a mortalidade é reduzida. A taxa de cura das infecções por microrganismos de baixa virulência (p. ex., Streptococcus viridans ou Streptococcus bovis) é de 98%, e as taxas de cura das infecções por enterococos e Staphylococcus aureus variam de 60% a 90%; contudo, metade dos pacientes com infecção causada por bacilos aeróbicos Gram-negativos ou fungos acaba com uma taxa de mortalidade de 50%. Endocardite não-infecciosa Endocardite Trombótica Não Bacteriana (ETNB) É uma condição que está associada a estados de hipercoagulabilidade, ou seja, há a formação de coágulos de sangue nas válvulas cardíacas e no revestimento do coração. É caracterizada pela deposição de vegetações pequenas, não- obstrutivas, estéreis ecom menor componente inflamatório. A lesão valvar não é um pré-requisito, inclusive, vegetações podem ser encontradas em valvas previamente normais. A lesão da ETNB também pode agir como um ninho para a colonização bacteriana e o consequente desenvolvimento de endocardite infecciosa. Os sintomas ocorrem quando um coágulo de sangue se solta e bloqueia as artérias em outra parte do corpo (pode embolizar e formar isquemia no local de formação do êmbolo). O diagnóstico é feito por ecocardiograma e hemoculturas. O tratamento é feito com anticoagulantes. Endocardite de Libman-Sacks (Endocardite no Lúpus Eritematoso Sistêmico) O coração muitas vezes é afetado no lúpus eritematoso sistêmico (LES), mas os sintomas cardíacos geralmente são menos proeminentes do que outras manifestações da doença. Esse tipo de endocardite é caracterizada pela presença de vegetações estéreis nas valvas de pacientes com LES (ocorre em cerca de 10% desses pacientes). As lesões se desenvolvem como consequência da deposição de complexos imunes e, por isso, exibem inflamação associada a com necrose fibrinoide do tecido valvar adjacente à vegetação. Essas lesões podem surgir em qualquer local da superfície das valvas, nas cordas tendíneas, músculos papilares ou mesmo no endocárdio atrial ou ventricular. Comumente, a endocardite de Libman-Sacks se resolve sem cicatrização e não produz déficit funcional. OBS - ESPONDILITE ANQUILOSANTE É outra etiologia que pode desenvolver uma lesão valvar, normalmente de natureza aórtica, aparecendo em até 10% dos pacientes com espondilite anquilosante de longa duração. O anel valvar aórtico se apresenta dilatado e as cúspides valvares são fibrosadas e encurtadas. Lesões inflamatórias focais ocorrem em todas as camadas da parede aórtica, particularmente próximo ao anel valvar. A principal consequência funcional é a regurgitação aórtica. Referências: KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; ASTER, J.C. Robbins Patologia Básica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. SINTOMAS SINAIS Febre (>90% dos casos) Sopro cardíaco Calafrios Embolizações Sudorese Petéquias Calafrios Nódulos de Osler Mal-estar Lesões de Janeway Fadiga Manchas de Roth Dispneia Esplenomegalia Perda de peso Glomerulonefrite Náuseas/vômitos Alterações neurológicas Cefaleia
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