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Recursos em espécie Prof. Marco Aurélio Peixoto Descrição Algumas das principais espécies recursais, ações autônomas de impugnação das decisões judiciais e sucedâneos recursais. Propósito Conhecer as espécies recursais, as ações autônomas de impugnação das decisões judiciais e os sucedâneos recursais é indispensável a você, profissional (atual ou futuro) do Direito, para que possa desempenhar bem suas atividades em uma relação processual civil. Preparação Tenha em mãos um vade mecum comum para consultar diversas normas, a exemplo da Constituição Federal e do Código de Processo Civil, assim como leis específicas, como a Lei do Mandado de Segurança (Lei nº 12.016/2009) e a Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985). Objetivos Módulo 1 Apelação Identificar os principais aspectos do recurso de apelação e da teoria da causa madura. Módulo 2 Subespécies de agravos Analisar as subespécies de agravos, assim como seus requisitos e procedimentos. Módulo 3 Embargos de declaração Reconhecer o cabimento dos embargos de declaração e sua relevância à integração das decisões judiciais. Módulo 4 Ações autônomas de impugnação das decisões judiciais Avaliar as principais ações autônomas de impugnação das decisões judiciais, como também os mais relevantes sucedâneos recursais. Uma das mais significativas garantias do estado democrático de direito é a possiblidade de interpor recursos contra as decisões judiciais a partir do natural e esperado inconformismo com o conteúdo de algumas delas. Não há como se falar em ampla defesa ou em devido processo legal sem abordar o legítimo direito de recorrer. Nessa linha de raciocínio, o recurso é a ferramenta colocada à disposição das partes, do Ministério Público (MP) ou do terceiro eventualmente prejudicado para provocar o Poder Judiciário a realizar uma reanálise da decisão judicial, representando um verdadeiro prolongamento do direito de ação. É preciso destacar que os recursos representam apenas um dos mecanismos de impugnação das decisões judiciais. Há ações autônomas e sucedâneos recursais que precisam ser destacados e bem compreendidos, pois eles também acarretam a possibilidade de desconstituição, anulação ou modificação do conteúdo dos pronunciamentos do juiz. Estudaremos, nos módulos constantes deste conteúdo, algumas das mais relevantes espécies recursais – dentre as quais, a apelação, os agravos (de instrumento, interno e em recurso especial e em recuso extraordinário) e os embargos de declaração. Além disso, analisaremos algumas ações autônomas de impugnação das decisões judiciais, como é o caso da ação rescisória e da reclamação, e alguns dos mais Introdução 1 - Apelação Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os principais aspectos do recurso de apelação e da teoria da causa madura. Recursos de apelação Cabimento da apelação O professor Marco Aurélio Peixoto discorrerá sobre o cabimento da apelação, seja para atacar decisões interlocutórias, seja para impugnar sentenças. frequentes sucedâneos recursais, a exemplo da suspensão de tutela, liminar ou segurança, da correição parcial, do pedido de reconsideração e da remessa necessária. Conceito Nos termos do artigo 1.009 do Código de Processo Civil (CPC), de 2015, cabe o recurso de apelação para atacar as sentenças. No entanto, tal conceito, que se encaixava perfeitamente à luz do CPC anterior, já não é mais suficiente para explicar adequadamente a dita espécie recursal. Atualmente, pode-se dizer que a apelação é o recurso cabível contra: Sentença Decisões interlocutórias não agraváveis Isso ocorre porque, com a pretensa instituição, no artigo 1.015 do CPC/2015, de um rol taxativo para o agravo de instrumento, o artigo 1.009, §1º, prevê que as decisões interlocutórias que não forem suscetíveis de agravo de instrumento não estarão sujeitas à preclusão. Por esse motivo, elas poderão ser um objeto de insurgência em preliminar do recurso de apelação do vencido e até mesmo em preliminar das contrarrazões de apelação apresentadas pelo vencedor. Hipóteses de interposição Já sabemos que não se pode limitar a apelação ao ataque às sentenças, mas resta uma dúvida: É possível dizer que toda sentença necessariamente comporta uma apelação? A resposta também é não, já que, na legislação esparsa, há previsões quanto ao cabimento de outros recursos contra as sentenças, tal como ocorre naquelas: Proferidas em execução �scal de valor igual ou inferior a 50 ORTNS C b b i f i t d l d 10 di ã j l d l ó i ORTNS Obrigação reajustável do Tesouro Nacional. Voltando à análise do CPC, quando o vencido na sentença teve contra si proferida uma ou mais decisões interlocutórias ao longo do processo (como, por exemplo, o indeferimento de produção de prova), seu recurso de apelação poderá ter, caso assim deseje, uma dupla finalidade, ou seja, a impugnação da sentença e/ou das decisões interlocutórias proferidas ao longo do processo. É importante destacar que não haverá propriamente uma opção para o recorrente de abrir mão de impugnar uma decisão interlocutória pela via do agravo de instrumento caso a hipótese esteja caracterizada em um dos incisos do artigo 1.015 do CPC. Na eventualidade de a decisão comportar um agravo de instrumento e a parte não se valer de tal espécie recursal tempestivamente, será dada a preclusão, não sendo possível a ela arguir a aplicação do artigo 1.009, §1º, para impugnar a decisão em preliminar de apelação. Cabem embargos infringentes de alçada em 10 dias, sem preparo, que serão julgados pelo próprio juiz (artigo 34 da Lei nº 6.830/1990). Que decretam a falência Cabe agravo de instrumento (artigo 100 da Lei nº 11.101/2005). Proferidas em juizados especiais cíveis Cabe recurso inominado, no prazo de 10 dias (artigo 41 da Lei nº 9.099/1995). Proferidas em ação que tramite na Justiça Federal Envolvem, de um lado, ente estrangeiro e, de outro, município ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil. Cabe recurso ordinário (segundo artigo 1.027, II, b, do CPC e por previsão do artigo 105, II, da Constituição Federal, para o STJ julgar). Outro questionamento que pode ser feito é se o vencido pode interpor apelação apenas para falar sobre a decisão interlocutória sem mencionar a sentença. A rigor, a resposta seria sim, mas se trata de uma hipótese arriscada processualmente. Se a apelação for provida, haverá impacto na sentença com a anulação e o retorno ao primeiro grau. De outro modo, se for improvida sem que a sentença seja impugnada, o tribunal não terá obtido a devolutividade sobre ela, não podendo, portanto, julgar nada sobre ato sentencial. Saiba mais Tendo sido proferidas duas ou mais decisões interlocutórias não agraváveis ao longo da marcha processual, nada obsta que todas elas sejam objeto de ataque em conjunto nas preliminares da apelação. A única exigência, para tanto, é que haja uma sentença nos autos – ainda que, como dissemos acima, não seja obrigatório que se impugne a sentença. O recomendável é que o apelante abra um capítulo preliminar específico para impugnar cada decisão interlocutória. Como mencionamos acima, o CPC/2015 viabilizou a insurgência do vencedor em relação às decisões interlocutórias proferidas em seu desfavor. Tal se dará por meio de capítulos preliminares às contrarrazões de apelação. Mesmo não constando do artigo 994 do CPC, é de se dizer que, nesse caso, as contrarrazões acabam cumprindo, em essência, o papel de uma espécie recursal. Para isso, nas contrarrazões, o vencedor responderá ao apelo, podendo, ao mesmo tempo, recorrer de tais decisões interlocutórias proferidas ao longo do processo que não comportavam agravo de instrumento. No entendimento da maior parte da doutrina, esse “recurso” oferecido nas contrarrazões será: Subordinado Seguirá o destino da apelação do vencido se ela não for conhecida ou, se houver desistência, o recurso do vencedor também não será conhecido. Condicionado Somente será examinado se a apelação do vencido estiverpor ser acolhida – decisão sob condição legal resolutiva. Há uma exceção a essa característica de ser condicionado. Ela se dá quando se impugnar uma decisão interlocutória que não guarda influência com a sentença, sendo de matéria autônoma ou diversa dela. Exemplo Um ótimo exemplo no qual cabe a situação de exceção é a decisão que estipula a multa atentatória à dignidade da justiça. Quanto ao momento, no julgamento pelo tribunal, de julgar tais insurgências às decisões interlocutórias, há de se destacar que ele é distinto, dependendo de uma apelação do vencido ou do vencedor. Características O prazo para a interposição do recurso de apelação é, considerando o disposto nos artigos 1.003, §5º, e 219 do CPC/2015, de 15 dias úteis. Ela é feita ao juízo de primeiro grau em que se prolatou a sentença – e para o qual também são oferecidas as contrarrazões. Não há mais juízo inicial de admissibilidade, com a análise dos pressupostos recursais, por parte do juízo de primeira instância. O CPC/2015 retirou essa atribuição do juiz, ficando ela apenas sob o encargo do desembargador relator no tribunal respectivo. Tampouco compete ao juiz de primeiro grau atribuir os efeitos recursais à apelação. Não obstante o artigo 995 do CPC, se manteve, no caso dela, o efeito suspensivo ope legis, isto é, trata-se de uma regra geral, nos termos do artigo 1.012. Contidas no §1º do referido artigo, as exceções ocorrem conforme quadro a seguir: Sentenças onde ocorrem exceções Decreta a interdição Condena a pagar alimentos Homologa divisão ou demarcação de terras Sentenças onde ocorrem exceções Julga procedente o pedido de instituição de arbitragem Confirma, concede ou revoga tutela provisória (apenas em relação a tal capítulo) Extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado Cumpre registrar que o rol de hipóteses em que não há efeito suspensivo não é exaustivo, porque há situações em leis extravagantes, conforme o quadro a seguir: Situações em leis extravagantes Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/1985) Sentença em ações de despejo (Lei nº 8.245/1991) Sentença que concede o habeas data (Lei nº 9.507/1997) Sentença concessiva no mandado de segurança (Lei nº 12.016/2009) Sentença que destituir ambos ou qualquer um dos genitores (Lei nº 8069/1990) Sentença que deferir a adoção, salvo a internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando (Lei nº 8069/1990) Nas situações em que o efeito da apelação for meramente devolutivo, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório após a publicação da sentença. Porém, ainda assim, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. Para tanto, o apelante deve formular ao tribunal um pedido de concessão de efeito suspensivo, como indicam os §§3º e 4º do artigo 1.012, entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator prevento, ou diretamente ao relator se já estiver distribuída a apelação. Efeito devolutivo da apelação É relevante falar na devolutividade do recurso de apelação. Trata-se de um recurso com ampla devolutividade, isto é, permite a impugnação de qualquer vício encontrado na sentença, seja ele: De forma (error in procedendo) Quando se alega o error in procedendo, a tendência é que se trate de recurso total, o que levará à sua anulação integral. De julgamento (error in iudicando) Quando se alega o error in iudicando, o mérito recursal é o erro da atividade do julgador quanto à aplicabilidade da lei ou da norma jurídica para o caso. Pleiteia-se, portanto, a reforma da decisão em caso de alegação error in judicando. Na confecção de sua peça recursal, a parte, por evidente, escolhe a matéria que será transferida à análise do tribunal, de modo que pode impugnar apenas uma ou algumas das parcelas da sentença. Não é permitido ao tribunal, assim, manifestar-se sobre matéria que nenhuma das partes apelou pelo fato de que aquela parte da sentença ou decisão, pela ausência de impugnação, restou como transitada em julgado. Quando o apelante alega error in procedendo, pode argumentar: Vício de formação da sentença (intrínseco) Vício processual ou procedimental (extrínseco) Comprovado o vício, justifica-se a invalidação da sentença em grau de apelação pelo colegiado. Sendo a apelação o recurso com a maior devolutividade no processo civil, é possível a arguição de matéria fática, inserindo-a na devolutividade do error in iudicando e pleiteando-se ao tribunal que reveja a decisão que proferiu no tocante aos fatos. Há também ampla possibilidade de reexame de provas, tendo o tribunal competência para rever a discussão probatória, existindo inclusive a possibilidade excepcional de produção de prova no próprio tribunal (artigo 938, §3º). O §1º do artigo 1.013 prevê o seguinte: No primeiro grau, questões discutidas ou suscitadas no processo sem serem solucionadas serão automaticamente devolvidas ao tribunal. Não operará a preclusão desde que estejam relacionadas ao capítulo impugnado no apelo. Cumpre ainda destacar que o §2º do artigo 1.013 indica que, quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um, a apelação devolverá o conhecimento dos demais. Atenção Pedido não deve se confundir com fundamento, já que um pedido pode ter diversos fundamentos. Como se sabe, ao prolatar uma sentença, o juiz exaure sua função jurisdicional, não lhe sendo dado o direito ao arrependimento como regra. Excepcionalmente, contudo, pode-se falar da possibilidade de efeito regressivo no recurso de apelação, o que viabiliza, desde que superada a admissibilidade, o juízo de retratação. Observe as apelações descritas a seguir: ECA Estatuto da Criança e do Adolescente. O apelante pode suscitar questões que, de fato, são novas na apelação. Conforme o artigo 1.014 do CPC, as questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação se a parte provar que deixou Apelação contra sentença que indefere a inicial (artigo 331) Apelação contra sentença de improcedência liminar do pedido (artigo 332, §3°) Apelação contra sentença que extingue o processo sem resolução do mérito (artigo 485, §7°) Apelação contra sentença proferida em causas que digam respeito a direitos da criança ou do adolescente (artigo 198, VI, ECA) de fazê-lo por motivo de força maior. Teoria da causa madura No tocante à teoria da causa madura, o artigo 1.013, §3º, do CPC prevê que, se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deverá, desde logo, decidir o mérito quando: Reformar sentença terminativa Reformar sentença fundada no artigo 485 (sentenças terminativas, que não adentram o mérito). Decretar nulidade (congruência) Decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir. Decretar nulidade (fundamentação) Decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. Constatar omissão Constatar a omissão no exame de um pedido, hipótese em que poderá julgá-lo. Além disso, o §4º também garante que, quando reformar uma sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau. A aplicação da teoria da causa madura, que já guardava previsão anterior, evita o desnecessário prolongamento da relação processual. Desse modo, viabiliza que o julgamento do mérito da demanda, sem que se dê a supressão de instância, ocorra diretamente no tribunal, não demandando o retorno dos autos ao primeiro grau de jurisdição, estando a matéria pronta para julgamento. Aplicando-se o artigo 932, IV e V, do CPC, a apelação comporta julgamentos monocráticos. Desse modo, será possível negar ou dar provimento à apelação se ela forcontrária a determinados parâmetros, são eles: Se o julgamento for colegiado, pode-se dizer que a decisão será tomada por três desembargadores, como prevê o artigo 941, §2º, do CPC, ainda que a Câmara ou Turma tenha mais de três magistrados. Não há mais a figura do revisor, como se exigia no CPC/1973. Ademais, existe a possibilidade de se requerer uma sustentação oral conforme prescreve o artigo 937, I. Se, no julgamento da apelação, não se atingir a unanimidade, o presidente da Turma ou Câmara não deverá proclamar o resultado independentemente de a maioria formada ser no sentido do provimento ou do desprovimento do recurso. Nesse caso, deve incidir a técnica de ampliação do colegiado prescrita no artigo 942: A convocação de desembargadores em número apto a viabilizar a inversão do resultado. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Marque a alternativa correta acerca da teoria da causa madura no recurso de apelação. A O tribunal pode decidir desde logo o mérito favoravelmente ao autor, ainda que não tenha ocorrido a citação do réu no primeiro grau para o oferecimento de contestação. B É possível aplicar a teoria da causa madura, decidindo-se logo o mérito, quando o tribunal decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir. C Ainda que o processo envolva a necessidade de prova dos fatos e não tenha havido tal produção no primeiro grau, o tribunal pode dar provimento à apelação e julgar o mérito favoravelmente ao autor. D A teoria da causa madura somente envolverá a possibilidade de julgamento do mérito pelo tribunal se a extinção do processo em primeiro grau houver se dado também com resolução do mérito. E A teoria da causa madura é apenas uma construção doutrinária e jurisprudencial, carecendo de fundamentação na legislação processual em vigor. Parabéns! A alternativa B está correta. A alternativa B tem fundamento no artigo 1.003, §3º, II, do CPC/2015. Questão 2 Indique a hipótese em que a decisão interlocutória pode ser objeto de insurgência em preliminar da apelação. A Decisão parcial de mérito. B Decisão que determinou a inversão do ônus da prova. C Decisão que determinou a desconsideração da personalidade jurídica. D Decisão que concedeu a tutela provisória de urgência antecipada incidente. E Decisão que concedeu a gratuidade de justiça ao autor. Parabéns! A alternativa E está correta. Só caberia agravo de instrumento se houvesse rejeitado o pedido ou acolhido o pedido de sua revogação com fundamento no artigo 1.015, V, do CPC. 2 - Subespécies de agravos Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as subespécies de agravos, assim como seus requisitos e procedimentos. Agravos, seus requisitos e procedimentos O CPC apresenta os agravos como aptos a atacar as decisões interlocutórias de magistrados de primeira instância e as unipessoais/monocráticas adotadas no âmbito dos tribunais. Há, nos termos do atual CPC, três subespécies de agravo que vamos estudar neste módulo: Agravo de instrumento (artigos 1.015/1.020) Agravo interno (artigo 1.021) Agravo em recurso especial e em recurso extraordinário (artigo 1.042) Agravo de instrumento O agravo de instrumento é o recurso cabível para atacar decisões interlocutórias dos juízes de primeiro grau desde que elas estejam inseridas no rol estabelecido no artigo 1.015 do CPC. A utilização exagerada dos agravos de instrumento sempre foi objeto de intensos debates na doutrina e na jurisprudência, notadamente porque eles abarrotavam as prateleiras dos gabinetes dos desembargadores nos tribunais regionais e federais, consumindo um tempo que, por exemplo, poderia ser dispensado à análise de apelações e ações rescisórias. Tanto foi assim que, na terceira onda de reformas processuais por que passou o CPC/1973, a Lei nº 11.187/2005 buscou tratá-lo como excepcional, cabendo apenas nos casos de: Ataque às decisões de inadmissão da apelação Equivocada atribuição de efeito suspensivo à apelação Lesão grave e de difícil reparação Nas demais situações, a recomendação era utilizar o agravo retido. Ocorre que, exatamente em função da terceira hipótese (lesão grave), justamente por ela ser considerada demasiadamente genérica, não se pôs um fim, como se buscava, ao uso indiscriminado do agravo de instrumento. Com o CPC atual e a ausência de previsão do agravo retido, preocupou-se o legislador em estabelecer um rol pretensamente taxativo para a utilização do agravo de instrumento. Esse rol consta nos incisos e do parágrafo único do artigo 1.015. Nessa linha, passamos a ter duas categorias de decisões interlocutórias de juízes de primeiro grau: as agraváveis e as não agraváveis. Para as não agraváveis, o §1º do artigo 1.009 estabeleceu a ausência de preclusão, sendo permitido àquele que teve contra si uma decisão recorrer quando da apelação ou das contrarrazões por meio de capítulo preliminar. Cabe, portanto, um agravo de instrumento contra as seguintes decisões: Decisões contra as quais cabe agravo de instrumento Decisões contra as quais cabe agravo de instrumento Tutelas provisórias Mérito do processo Exibição ou posse de documento ou coisa Exclusão de litisconsorte Rejeição da alegação de convenção de arbitragem Admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros Rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio Incidente de desconsideração da personalidade jurídica Rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação Concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução Redistribuição do ônus da prova nos termos do artigo 373, §1º Outros casos referidos de forma expressa em lei O parágrafo único do artigo 1.015 estatui que também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento dela, assim como no processo de execução e no de inventário. Isso significa que, nessas situações, não importam os incisos desse artigo. Exemplo Se houver o indeferimento de um pedido de produção de prova no procedimento comum, não caberá agravo de instrumento, embora ele possa ocorrer caso o indeferimento se dê em um inventário. Tão logo o CPC entrou em vigor, iniciaram-se as discussões sobre o cabimento de uma interpretação extensiva do rol do artigo 1.015. O legislador, afinal, não foi capaz de inserir todas as potenciais situações que demandariam o agravo de instrumento, por exemplo, na hipótese de o juízo de primeiro grau inadmitir a apelação por intempestividade, bem como quando existe uma decisão sobre a arguição de incompetência do juízo. A matéria chegou ao STJ, que decidiu o tema em sede de repetitivos, formando um precedente vinculante. No âmbito dos recursos especiais 1.696.396 e 1.704.520, deliberou-se acerca da possibilidade ou não da interpretação extensiva ao rol do artigo 1.015. Sob a relatoria da ministra Nancy Andrighi, a Corte Especial decidiu, por apertada maioria, que o rol é taxativo, porém mitigado às situações urgentes nas quais não seja adequado o aguardo da apelação. Isso significa que, não obstante o fato de o STJ não ter acolhido a tese de que o rol seria meramente exemplificativo, ele passou a admitir que: Ainda que fora das situações dos incisos e do parágrafo único do artigo 1.015, é possível, sob pena de inutilidade da medida, interpor um agravo de instrumento caso se demonstre a impossibilidade de aguardar para recorrer de uma decisão interlocutória tão somente na apelação. Passando a analisar o procedimento, o agravo de instrumento deve ser interposto no prazo de 15 dias úteis, respeitando-se o §5º do artigo 1.003 do CPC. A interposição, diferentemente do que ocorre com a apelação, já se dá diretamente no tribunal competente para seu julgamento, cabendo ao relator realizar o juízo de admissibilidade, atribuir os efeitos e intimar o agravado para oferecimento de contrarrazões, também em 15 dias úteis.Mantendo a linha do código anterior, há peças obrigatórias – em número, inclusive, mais extenso – para a interposição do agravo de instrumento que estão previstas no artigo 1.017 do atual diploma. São elas as cópias: Da petição inicial Da contestação Da petição que ensejou a decisão agravada Da própria decisão agravada Da certidão da respectiva intimação ou outro documento o�cial que Facultativamente, o agravante poderá anexar outras documentações que ele reputar úteis. Cumpre ao advogado declarar, sob pena de sua responsabilidade pessoal, a inexistência de qualquer um dos documentos referidos. Isso ocorreria, por exemplo, em um agravo de instrumento interposto contra o indeferimento de uma tutela provisória de urgência antecipada que tenha sido requerida liminarmente. A exigência de peças obrigatórias somente se dá quando o agravo é interposto em processo que tramita em autos físicos. Como prevê o artigo 1.017, §5º, sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças obrigatórias/facultativas. Ademais, uma relevantíssima garantia consta no §3º do mesmo artigo. Era muito comum, na vigência do CPC anterior, a inadmissibilidade do agravo pela falta de documento obrigatório ou até mesmo facultativo que o tribunal entendesse como essencial à compreensão da controvérsia. Na previsão atual, caso falte a cópia de qualquer peça ou haja outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo, o relator deverá aplicar o parágrafo único do artigo 932, isto é, conceder cinco dias ao agravante para complementar a instrução do recurso ou para sanar o vício. O agravo de instrumento se trata de um recurso que exige preparo para sua interposição, assim como um porte de retorno, conforme tabela que deve ser publicada por cada tribunal. Sendo físicos os autos, o agravante tem o ônus de fazer a juntada ao juízo de primeiro grau, em até três dias da interposição do agravo, da seguinte documentação: comprove Das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado Cópia da petição do agravo de instrumento Comprovante de sua interposição l ã d d í Caso ele assim não proceda, e o agravado faça a arguição e prove o alegado para o relator, será caso de inadmissibilidade do agravo de instrumento. Tal exigência não é aplicável para o agravo em autos eletrônicos. Estando em curso o agravo de instrumento e tomando conhecimento o relator de que houve a reforma integral da decisão agravada, o recurso será considerado prejudicado. O agravo de instrumento, da mesma forma que ocorre com a apelação, comporta o julgamento monocrático pelo relator no tribunal, respeitando-se os incisos IV e V do artigo 932 do CPC. Desse modo, será possível negar ou dar provimento monocraticamente ao agravo de instrumento se ele for contrário a determinados parâmetros, são eles: Para que se dê provimento monocraticamente, é necessário, respeitando o contraditório, que o relator tenha intimado o recorrido para o oferecimento de contrarrazões. Não sendo o caso de decisão monocrática, ele decidirá pela atribuição ou não do efeito suspensivo eventualmente pleiteado ou por deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente a pretensão recursal, comunicando ao juiz de primeiro grau a decisão. Trata-se de um efeito suspensivo ope iudicis – diferentemente do que ocorre com a apelação, cujo efeito decorre da própria lei. O MP será intimado a se manifestar quando for o caso de sua intervenção como fiscal da ordem jurídica. Em seguida, como prevê o artigo 1.020, o relator pedirá a inclusão em pauta, solicitando dia para julgamento em prazo não superior a um mês da intimação do agravado. Evita-se, assim, o desnecessário prolongamento do recurso. Agravo interno Relação dos documentos que instruíram o recurso Previsto no artigo 1.021 do CPC, o agravo interno não estava – ao menos, não com essa nomenclatura – na legislação anterior. No CPC/1973, havia três previsões de um agravo sem nome, que era conhecido como agravo inominado, agravinho, agravo legal, agravo regimental e até agravo interno. O prazo de interposição do agravo interno, levando em conta as disposições dos artigos 1.003, §5º, e 219, ambos do CPC, é de 15 dias úteis. Conforme prevê o diploma ora em vigor, ele cabe contra decisão proferida pelo relator, sendo julgado pelo respectivo órgão colegiado. Observam-se, quanto a seu processamento, as regras do regimento interno do tribunal respectivo. É comum o uso do agravo interno, entre outras possibilidades, contra: A inadmissão de um recurso de apelação ou de agravo de instrumento A atribuição ou não de efeito suspensivo ope iudicis a um recurso O deferimento ou o indeferimento da tutela antecipada recursal O provimento ou desprovimento monocrático de um recurso É preciso mencionar também outra incidência do agravo interno, fora as hipóteses de insurgência contra decisões monocráticas do relator. O artigo 1.030, §2º, prevê que cabe agravo interno da decisão de presidente ou de vice- presidente de tribunal local proferida com base no Inciso I ou Inciso III. Inciso I Negativa de seguimento a recurso extraordinário que discuta questão constitucional que o STF não tenha reconhecido a existência de repercussão geral ou àquele interposto contra acórdão em conformidade com o entendimento do STF exarado no regime de repercussão geral; negativa de seguimento a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do STF ou do STJ exarado no regime de repetitivos. Inciso III Sobrestamento de recurso que verse sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida pelo STF ou pelo STJ. Atenção No caso acima apontado, em especial na hipótese contida no inciso I do artigo 1.030, é muito comum o equívoco na utilização da espécie de agravo, confundindo-se o interno com o agravo em recurso especial e em recurso extraordinário (contido no artigo 1.042 do CPC), que é cabível para atacar, como veremos no próximo subitem, decisões do presidente ou do vice-presidente do tribunal local que inadmitem o recurso excepcional por ausência de pressupostos. O agravo interno é espécie recursal que não sobe para o tribunal hierarquicamente superior ao órgão prolator da decisão. Na verdade, como sempre ataca decisões unipessoais nos tribunais, ele força uma análise colegiada – só que dentro da própria corte à qual pertença quem proferiu a decisão agravada. Na interposição dele, é ônus do agravante impugnar especificamente os fundamentos da decisão recorrida, isto é, não lhe é dado o direito de simplesmente repetir os fundamentos utilizados no recurso ou na ação em que se proferiu a decisão monocrática objeto do agravo. Se não se desincumbir desse ônus, existe a hipótese de inadmissão do recurso. Direciona-se sempre o agravo interno ao relator, que deve intimar o agravado para oferecer contrarrazões em 15 dias. Admite-se o efeito regressivo, isto é, após as contrarrazões, o relator pode se retratar da decisão monocrática. Se assim não o fizer, deverá levar o recurso a julgamento pelo órgão colegiado com pedido de inclusão em pauta. Como o recurso ataca uma decisão unipessoal, não é dada ao relator, exatamente para forçar uma decisão colegiada, a possibilidade de proferir uma nova decisão unipessoal, quer para inadmitir, quer para negar ou dar provimento monocraticamente ao recurso. Já dissemos que o código prescreve que o relator do agravo interno não pode se limitar a reproduzir os fundamentos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno. O objetivo dessa previsão, consagrada no artigo 1.021, §3º, é o de evitar o que repetidamente acontecia com o agravo “inominado” do código anterior. O que acontecia anteriormente era que os relatores geralmente inseriam em seus votos a reprodução idêntica da decisão objeto do agravo sem que se manifestassem, para tanto, acerca das razões do recurso dele. Com o objetivo de inibir o uso indiscriminado dessa espécie recursal, o legisladorestabeleceu que: Se o recurso for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará (não se trata de faculdade) o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre 1 e 5% do valor atualizado da causa. Não basta, para tanto, a inadmissão ou a improcedência. É preciso que ela se manifeste e que se dê à unanimidade. Nessas circunstâncias, a interposição de qualquer outro recurso fica condicionada ao depósito prévio do valor da multa prevista no §4º - à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário da gratuidade de justiça, que pagarão apenas ao final. Agravo em recurso especial e em recurso extraordinário O artigo 1.042 do CPC/2015 estatui que caberá agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou especial, salvo quando ela estiver fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos. O prazo para a interposição desse recurso, tomando por base os artigos 1.003, §5º, e 219, ambos do CPC, é de 15 dias úteis. Trata-se, portanto, de recurso apto a atacar as decisões de inadmissão de presidente ou vice-presidente do tribunal local ao proceder ao primeiro juízo de admissibilidade dos recursos excepcionais. Curiosidade Na redação original do CPC/2015, aprovada no Congresso Nacional e sancionada pela então presidente da República, a admissibilidade dos recursos excepcionais seria feita já nos tribunais superiores, competindo ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido tão somente intimar a parte adversa para o oferecimento de contrarrazões, bem como encaminhar os autos ao respectivo tribunal superior. No entanto, faltando cerca de um mês para o início da vigência do CPC/2015, editou-se a Lei nº 13.256/2016, que restaurou a sistemática que vigorava no CPC/1973, ou seja, o duplo juízo de admissibilidade, sendo o primeiro ainda realizado perante o presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido. Ao se proferir um juízo de admissibilidade, são verificados os pressupostos recursais: Estando ausentes um ou mais pressupostos recursais, é uma hipótese proferir a decisão de inadmissão do recurso, o que dá ensejo à interposição do agravo em recurso: Especial Inadmissão de recurso especial. Genéricos Tempestividade, motivação, forma, recorribilidade, adequação, preparo, legitimidade e interesse. Especí�cos Esgotamento prévio da via recursal ordinária, prequestionamento e vedação de discussão de conteúdo fático-probatório. Extraordinário Inadmissão de recurso extraordinário. Especial e extraordinário Ambos se farão presentes se a decisão houver sido pela inadmissão dos dois recursos excepcionais. Na terceira hipótese, de recurso especial e extraordinário, vale ressaltar que não há a possibilidade de usar apenas um agravo que abarque as duas inadmissões O agravo é interposto em petição dirigida ao presidente ou ao vice-presidente e independe de custas e despesas postais. Aplica-se ao recurso o regime de repercussão geral e de recursos repetitivos, inclusive quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação. De imediato, ainda no tribunal recorrido, faz-se a intimação do agravado, para que possa ofertar contrarrazões, em 15 dias úteis. Passado esse prazo, caso não haja, por parte do presidente ou vice-presidente, o juízo de retratação, remete-se o agravo ao tribunal superior competente. Saiba mais Não existe a possibilidade de fazer, no tribunal local, qualquer juízo de admissibilidade ou julgamento de mérito do recurso – atribuições que, no caso, são privativas do respectivo tribunal superior. O §5º do artigo 1.042 prevê que o agravo pode ser julgado com o recurso especial ou extraordinário, sendo assegurada, nesse caso, sustentação oral e observado o disposto no regimento interno do tribunal respectivo. Caso haja uma interposição conjunta, isto é, tendo havido a inadmissão dos dois recursos excepcionais, com a conseguinte interposição dos dois agravos, eles primeiramente serão remetidos ao STJ para o julgamento do agravo em recurso especial; em seguida, serão remetidos ao STF para a apreciação dele em recurso extraordinário, salvo se estiver prejudicado. Não deve haver confusão quanto às hipóteses de utilização do agravo interno, agravo em recurso especial e extraordinário contra a decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido. A decisão pode ocorrer por: Inadmissão Verificação da ausência de pressupostos recursais. Será caso de agravo em recurso especial e em recurso extraordinário (artigo 1.042 do CPC). Verificação da ausência de repercussão geral no STF ou matéria que já foi decidida sob a sistemática da repercussão geral ou dos repetitivos – e recurso em sentido contrário. Haverá, então, uma hipótese de interposição de agravo interno caso se discorde da decisão, fazendo-se a distinção. Não existe mais o agravo retido, que foi uma das espécies recursais extirpadas pelo diploma ora em vigor. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Negativa de seguimento Questão 1 O vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região negou seguimento ao recurso especial por entender que ele contrariava tese firmada em recurso especial repetitivo. Contra tal decisão, cabe: A Agravo de instrumento para julgamento do Superior Tribunal de Justiça. B Agravo em recurso especial para julgamento do Superior Tribunal de Justiça. C Recurso extraordinário para julgamento do Supremo Tribunal Federal. D Agravo interno para julgamento do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. E Recurso ordinário para julgamento do Superior Tribunal de Justiça. Parabéns! A alternativa D está correta. A alternativa D tem fundamento nos artigos 1.021 e 1.030, §2º, do CPC. Questão 2 Considerando que o processo em primeiro grau tramita em autos eletrônicos, ao também interpor o agravo de instrumento eletronicamente no tribunal: A O agravante estará dispensado de anexar as peças obrigatórias e facultativas ao agravo de instrumento. B O agravante estará obrigado a fazer a juntada ao juízo de primeiro grau, em até três dias da interposição do agravo de instrumento, de cópia da petição do recurso, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso, sob pena de inadmissibilidade. C O agravante estará dispensado da juntada das peças facultativas, mas não da juntada das peças obrigatórias. D Se o relator não admitir o recurso por falta de peças obrigatórias, caberá mandado de segurança. E Independentemente de ser físico ou eletrônico o agravo de instrumento, a comunicação ao juízo de origem será indispensável para viabilizar a retratação. Parabéns! A alternativa A está correta. A alternativa A tem fundamento no artigo 1.017, §5º, do CPC, que prevê essa dispensa de juntada das cópias. 3 - Embargos de declaração Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o cabimento dos embargos de declaração e sua relevância à integração das decisões judiciais. Conceito O recurso de embargos de declaração está previsto nos artigos 1.022 a 1.026 do CPC/2015. Segundo o artigo 1.003, §5º, ele se trata da única espécie recursal prevista em tal diploma cujo prazo para a interposição não é de 15 dias: para fazer sua oposição, nos termos prescritos no artigo 1.023, só há 5 dias à disposição. De todo modo, é importante fazer a ressalva de que, nos processos eleitorais, o prazo dos embargos de declaração é de três dias, como indica o artigo 275, §1º, do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/1965). Cabimento O cabimento dos embargos de declaração se dá contra qualquer decisão para: Corrigir erro material Nesse aspecto, a redação do atual código pôs fim a uma discussão que havia na legislação revogada, pois a redação do artigo 535 dava a entender que o cabimento do recurso se aplicava tão somente a sentenças ou acórdãos, como senão fosse possível imaginar a existência de obscuridades, contradições ou omissões em decisões interlocutórias ou unipessoais dos relatores nos tribunais. Há situações em que é possível presumir a omissão em decisões judiciais, o que comporta a oposição de embargos. Isso pode ocorrer quando a decisão: Deixar de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos em incidente de assunção de competência (IAC) aplicável ao caso a ser julgado; Incorrer nas condutas descritas no artigo 489, §1º (decisões desprovidas de fundamentação). O cabimento dos embargos de declaração O professor Marco Aurélio Peixoto discorrerá sobre o cabimento dos embargos, bem como os fundamentos que permitem que seja cabível (omissão, obscuridade, contradição e erro material). Características Independentemente do sujeito processual embargante, como prevê o artigo 1.023, trata-se de um recurso não sujeito a preparo, isto é, não se aplica o pressuposto recursal que, presente em outras espécies, impõe o Esclarecer obscuridade ou eliminar contradição Suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento recolhimento de custas para a admissibilidade da espécie. O CPC anterior não previa a existência de contrarrazões ao recurso dos embargos de declaração. Acabou por se estabelecer, assim, uma construção jurisprudencial com o objetivo de se admitir as contrarrazões, a critério do magistrado, sempre que houvesse interesse modificativo/infringente. No atual diploma, esse posicionamento se consolidou; assim, como prevê o artigo 1.023, §2º, o juiz intima o embargado para, querendo, manifestar-se no prazo de cinco dias, sobre os embargos opostos caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão embargada. O julgamento dos embargos de declaração também deve, de acordo com o artigo 1.024 do CPC/2015, se dar em cinco dias. Se ele ocorrer nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa na sessão subsequente, proferindo seu voto. Caso não haja o julgamento nessa sessão, será incluído na pauta automaticamente. A natureza da decisão que julgar os embargos de declaração será a mesma da decisão embargada, pois sua decisão se integra à embargada. Desse modo: Decisão: sentença Para os embargos opostos contra uma sentença. Decisão: interlocutória Para os embargos opostos contra uma decisão interlocutória. Decisão: acórdão Para os embargos opostos contra um acórdão. Como prevê o §2º do artigo 1.024, se os embargos forem opostos contra a decisão de relator ou outra decisão unipessoal em tribunal, o órgão prolator da decisão embargada poderá decidir monocraticamente. O legislador preocupou-se com a possibilidade de, diante de determinada decisão, uma das partes interpor um recurso e a outra, os embargos de declaração. Por isso: Caso os embargos sofram modi�cação no julgamento O embargado que já havia interposto outro recurso tem o direito de complementar ou alterar suas razões nos limites da decisão dos embargos. Caso os embargos sejam rejeitados ou não alterem a conclusão anterior O recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos será processado e julgado independentemente de ratificação. Tal previsão (artigo 1.024, §5º) corrigiu um entendimento que se tinha à luz do CPC/1973: quando não houvesse a ratificação, se teria uma causa de inadmissão do recurso. Via de regra, os embargos de declaração, por si só, não geram o efeito suspensivo. No entanto, esse efeito pode se dar ope iudicis, isto é, a eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo juiz ou relator caso seja demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou, sendo relevante a fundamentação, se houver um risco de dano grave ou de difícil reparação. Os embargos de declaração, uma vez opostos, acarretam a interrupção do prazo para a interposição de outros recursos, como, por exemplo, a apelação, o recurso especial ou o recurso extraordinário. Dessa forma, uma vez julgados e intimadas as partes de seu julgamento, tem-se o recomeço do prazo, não se aproveitando aquilo que já se havia computado. Atenção A respeito da interrupção do prazo para outros recursos, o legislador de 2015 inclusive corrigiu uma contradição entre o CPC e a Lei nº 9.099/1995, que disciplina os juizados especiais. Enquanto o CPC anterior já previa a interrupção, a lei que regula os juizados tinha a previsão de que os embargos de declaração acarretam a suspensão do prazo (nesse caso, aproveitava-se aquele já computado). No artigo 1.065 do CPC/2015, contudo, alterou-se expressamente a redação do artigo 50 da Lei nº 9.099/1995: sua previsão agora é de que os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição do recurso. Outra relevante previsão constante do disciplinamento dos embargos de declaração se encontra no artigo 1.025. Muito comumente, o recurso desses embargos é utilizado com a finalidade de prequestionar os dispositivos constitucionais ou legais a fim de viabilizar a interposição dos recursos excepcionais. No entanto, também é comum que os tribunais locais rejeitem os embargos em decisões genéricas, segundo os quais não há qualquer omissão, obscuridade ou contradição. Na vigência do CPC anterior, quando isso acontecia, tratando-se de recurso especial, o recorrente necessitava alegar uma violação preliminar ao artigo 535 a fim de que o STJ, caso acolhesse seu recurso, anulasse o acórdão e determinasse a devolução dos autos ao tribunal de origem para o rejulgamento dos embargos de declaração. Nessa linha, o CPC atual previu que se consideram incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou para fins de prequestionamento, ainda que os embargos sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade. Essa previsão deveria, em tese, evitar a exigência de alegação de violação prévia ao dispositivo que tratava dos embargos de declaração. No entanto, o STJ não tem pensado assim. Em vários julgados, tomando como exemplo o AgInt no AREsp 1043549/RS, tem-se esposado o entendimento de que, para que o STJ adentre o mérito do recurso, deve haver uma alegação preliminar de violação ao artigo 1.022 do CPC. A diferença é que, nesses casos, não se anula o julgado, devolvendo ao tribunal local. Deve-se registrar, por fim, a possibilidade de imposição de multa ao embargante que pretende se valer do recurso com intuito protelatório. Prevê o artigo 1.026, §2º, que, se os embargos forem manifestamente protelatórios, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embagado multa não excedente a 2% do valor atualizado da causa. Não será necessário esperar pelos segundos embargos de declaração para aplicá-la se já for identificado esse intuito na primeira oposição. Uma vez aplicada e havendo a reiteração dos embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10%, enquanto a interposição de qualquer recurso fica condicionada ao depósito prévio do valor dela, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário da gratuidade de justiça, que a recolherão ao final. Fora isso, não serão admitidos novos embargos de declaração caso os dois anteriores tenham sido considerados protelatórios. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Na hipótese de, diante de determinado acórdão, uma das partes interpuser o recurso especial e a outra parte opuser embargos de declaração: A Ainda que haja modificação no julgamento dos embargos de declaração, o embargado que já havia interposto o recurso especial não terá o direito de complementar ou alterar suas razões. B Se não houver modificação no julgamento dos embargos de declaração e o embargado não ratificar as razões do recurso especial, tal recurso não será admitido. C Se houver modificação no julgamento dos embargos de declaração, o embargado que já havia interposto o recurso especial poderá,em cinco dias, complementar ou alterar as razões recursais. D Se houver modificação no julgamento dos embargos de declaração, o embargado que já havia interposto o recurso especial poderá, em 15 dias, complementar ou alterar as razões recursais. E Se os embargos de declaração forem acolhidos, mas não se alterar a conclusão do julgamento anterior, o embargado necessariamente precisará, sob pena de inadmissão, complementar ou alterar as razões do recurso especial. Parabéns! A alternativa D está correta. A alternativa D se fundamenta no artigo 1.024, §4º, do CPC. Questão 2 Marque a assertiva verdadeira acerca da multa nos embargos de declaração. A A multa por embargos de declaração manifestamente protelatórios só pode ser aplicada em caso de reiteração do recurso. B Somente incidirá a multa, no caso da Fazenda Pública, se os embargos forem opostos a sentenças ou acórdãos. C Aplicando-se a multa por embargos de declaração manifestamente protelatórios, a fixação do percentual é decisão discricionária do magistrado. D Se os embargos forem manifestamente protelatórios, o embargante será condenado a pagar ao Estado ou à União multa não excedente a 2% do valor atualizado da causa. E Havendo a reiteração de embargos protelatórios, a multa será elevada até 10%, enquanto a interposição de qualquer recurso fica condicionada ao depósito prévio do valor dela. Parabéns! A alternativa E está correta. A alternativa E tem fundamento no artigo 1.026, §3º, do CPC. 4 - Ações autônomas de impugnação das decisões judiciais Ao �nal deste módulo, você será capaz de avaliar as principais ações autônomas de impugnação das decisões judiciais, como também os mais relevantes sucedâneos recursais Ações autônomas de impugnação e sucedâneos recursais Fora o estudo das espécies recursais, o conhecimento do procedimento atinente aos meios autônomos de impugnação das decisões judiciais, ficando aí abarcados as ações autônomas de impugnação e os sucedâneos recursais, também se mostra muito relevante. As ações autônomas de impugnação, como o próprio nome já indica, não são espécies recursais, mas têm por condão impugnar decisões judiciais a partir do fundamental exercício do direito de ação. Por outro lado, todo meio de impugnação que não seja recurso nem ação de impugnação será chamado de sucedâneo recursal. No presente módulo, abordaremos algumas das mais relevantes ações autônomas de impugnação constantes do Livro III do CPC, como a ação rescisória e a reclamação. Também trataremos de alguns significativos sucedâneos recursais, como a suspensão de liminar, tutela e segurança, além da correição parcial, do pedido de reconsideração e da remessa necessária. Ação rescisória A ação rescisória está disciplinada entre os artigos 966 a 975 do CPC/2015. Já as hipóteses de cabimento estão elencadas no artigo 966, sendo possível o ajuizamento contra decisão de mérito transitada em julgado quando acontecem as situações listadas no quadro a seguir: Situações nas quais é possível o ajuizamento contra decisão de mérito transitada em julgadoSituações nas quais é possível o ajuizamento contra decisão de mérito transitada em julgado Ofender a coisa julgada Violar manifestamente norma jurídica For proferida por juiz impedido ou juízo absolutamente incompetente For fundada em erro de fato verificável do exame dos autos For proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz For fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação Resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei Obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável Ainda cabe uma ação rescisória, segundo o §5º do artigo 966, por manifesta violação de norma jurídica contra uma decisão baseada em enunciado de súmula ou um acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento. Dica O próprio código indica que haverá erro de fato quando a decisão rescindenda admitir um fato inexistente ou quando considerar inexistente um efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. Além disso, o CPC expressamente prevê situações de cabimento da ação rescisória, ainda que diante de decisões que não são de mérito. Isso é possível quando a decisão impede nova propositura da demanda ou a admissibilidade do recurso correspondente. A ação rescisória não precisa objetivar a desconstituição de toda a decisão, mas apenas de um ou alguns capítulos dela, estabelece o §3º do artigo 966. São legitimados ao ajuizamento da ação rescisória: Quem é parte no processo ou seu sucessor a título universal ou singular. d d A ação rescisória não é ajuizada em primeiro grau, sendo de competência originária dos tribunais. Eles, por sua vez, têm por atribuição o julgamento das ações dos próprios julgados, assim como dos juízes que a eles forem vinculados. Não é o simples fato de existir um recurso especial ou um extraordinário que faça com que a rescisória seja proposta no STJ ou no STF. Se um especial interposto não tiver sido conhecido e julgado, sendo, pelo contrário, objeto de inadmissão, o que será mantido é o acórdão do tribunal recorrido, de modo que é no tribunal inferior – e não no superior – que a ação rescisória deverá ser proposta. Na petição inicial, além dos requisitos gerais, seu autor deve: Cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento do processo; Depositar a importância de 5% sobre o valor da causa, que se converterá em multa caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível ou improcedente. Tal exigência de depósito prévio, que não pode ser superior a 1.000 salários-mínimos, não se aplica a: O terceiro juridicamente interessado. O MP não ouvido no processo em que sua intervenção era obrigatória quando a decisão rescindenda for o efeito de simulação ou de colusão das partes a �m de fraudar a lei, ou em outros casos em que se imponha sua atuação. Aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção. A propositura da ação não impede o cumprimento da decisão rescindenda, mas nada impede que seja requerida uma tutela provisória. A resposta do réu tem prazo nunca inferior a 15 e nem superior a 30 dias, ao fim dos quais, com ou sem contestação, se observará, no que couber, o procedimento comum. No que é pertinente ao julgamento, sendo procedente o pedido, o tribunal rescindirá a decisão (iudicium rescidens) e proferirá, se for o caso, um novo julgamento (iudicium rescissorium), determinando a restituição do depósito. Caso considere, por unanimidade, inadmissível ou improcedente o pedido, o tribunal determinará a reversão, em favor do réu, da importância do depósito. Por outro lado, se a decisão for não unânime, ele será restituído ao autor. O prazo para o ajuizamento da ação rescisória é de dois anos, contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. Apesar de sua natureza decadencial, ele se prorrogará até o primeiro dia útil imediatamente subsequente ao prazo quando expirar durante as férias forenses, o recesso e os feriados ou se não houver expediente. Se fundada a ação em prova nova, o termo inicial do prazo será a data de descoberta dela, sendo observado o prazo máximo de cinco anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, ele começará a contar, para o terceiro prejudicado e o MP, que não interveio no processo, a partir do momento em que eles tiverem ciência da simulação ou da colusão.Reclamação Prevista nos artigos 988 a 993 do CPC/2015, a reclamação também tem respaldo constitucional (artigos 102, I, l; 103-A, §3º; 105, I, f; 111-A, §3º). Ela possui, de acordo com o STF, uma natureza jurisdicional, representando o exercício do direito de petição. Caberá reclamação da parte interessada ou do MP para: Garantir a autoridade das decisões do tribunal No caso do acórdão proferido em julgamento de REsp, o STJ, por sua corte especial, esposou, na Reclamação 36.476, o entendimento de que não cabe discutir a aplicação de repetitivos, ainda que estejam esgotadas as vias ordinárias, contrariando, assim, uma expressa disposição do CPC. A reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal. Já seu julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir. Ela deve ser instruída com prova documental e dirigida ao presidente do tribunal. Assim que for recebida, a reclamação será, sempre que possível, autuada e distribuída ao relator do processo principal. Atenção É inadmissível haver a proposição dela após o trânsito em julgado da decisão reclamada. Também o é a reclamação proposta para garantir a observância do acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral Preservar a competência do tribunal (exemplo: admissibilidade da apelação) Garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de IRDR ou IAC Garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo em controle concentrado de constitucionalidade Garantir a observância de acórdão de RE com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de RE ou REsp repetitivos quando estiverem esgotadas as instâncias ordinárias reconhecida ou daquele proferido em julgamento de recursos (extraordinários ou especiais) repetitivos quando não esgotadas as instâncias ordinárias. A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a decisão proferida pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação. Ao despachar a reclamação, o relator: Requisitará as informações da autoridade a quem for imputada a prática do ato impugnado. Se necessário, requisitará a suspensão para evitar dano irreparável. Determinará a citação do beneficiário da decisão impugnada, que terá o prazo de 15 dias para apresentar a sua contestação. Qualquer interessado pode impugnar o pedido do reclamante. Na reclamação que não houver formulado, o MP terá vista do processo por cinco dias, após o decurso do prazo, para as informações e o oferecimento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado. Julgando procedente a reclamação, o tribunal cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à solução da controvérsia. Suspensão de liminar, tutela e segurança O pedido de suspensão é um instrumento de controle das consequências da decisão judicial a ser realizado pelo presidente do tribunal que seja competente para conhecer o recurso respectivo. Ele serve para obstar o início ou a continuidade da eficácia de tutela provisória, sentença, decisão monocrática ou acórdão, dependendo de tal situação se enquadrar numa das hipóteses legais. Esse pedido (de liminar, de efeitos da sentença e da própria ordem contida no mandado de segurança) é prerrogativa da Fazenda Pública e, em alguns casos, do MP. Ele está ligado diretamente à continuidade das atividades administrativas e da preponderância do interesse público. No site do STF, observam-se quatro variações: Suspensão de liminar (SL) Suspensão de segurança (SS) Suspensão de tutela antecipada (STA) Suspensão de tutela provisória (STP) São apresentadas como hipóteses a grave lesão à ordem, à economia, à saúde ou à segurança pública. Sua previsão legal reside nas leis nº 8.437/1992, nº 12.016/09 e nº 7.347/1985. A suspensão pode ser pleiteada independentemente e/ou na concomitância do recurso eventual cabível contra a decisão mandamental. Não se trata de recurso, não tendo prazo, preparo e distribuição. Sua finalidade tampouco é a reforma ou a anulação da decisão. Além disso, a legitimidade dela não é ampla (ativa para o ente público ou para o MP). Sua apreciação se dá pelo presidente do tribunal competente em decisão monocrática suscetível de agravo interno. Ela não tem por objeto a reversão da decisão nem a decretação de error in procedendo ou de error in judicando. A rigor, a decisão continua válida – mas com os efeitos suspensos. Tampouco parece acertada a conclusão de que se trata de uma medida administrativa de competência do presidente do tribunal. Ela deve ser compreendida, na verdade, como um incidente processual de natureza jurisdicional. Saiba mais A suspensão pode ser apresentada de forma concomitante ao recurso, não havendo nada na lei que determine a escolha por uma ou outra modalidade. Na Ação Rescisória 5.857/MA, sob a relatoria do ministro Mauro Campbell Marques, a Corte Especial do STJ decidiu que a decisão do ministro presidente do STJ, que determina a suspensão dos efeitos da antecipação de tutela contra a Fazenda Pública, mesmo quando transitada em julgado, não se sujeita a uma ação rescisória por não induzir coisa julgada material nem impedir a rediscussão do objeto controvertido na ação principal. Já o STF, na Suspensão de Segurança 5.069, sob a relatoria do ministro Ricardo Lewandowski, proferiu a admissibilidade do pedido de suspensão de segurança de decisão proferida na fase de execução apenas em relação à matéria não transitada em julgado na fase de conhecimento. No que é pertinente ao chamado efeito multiplicador, que provoca lesão à economia pública, o mesmo STF entendeu, sob a relatoria do ministro Cezar Peluso, na Suspensão de Segurança 4.042, que isso é fundamento suficiente para o deferimento de pedido de suspensão de segurança. Por fim, nas situações em que a decisão proferida estiver fundamentada em normas infraconstitucionais, o Supremo, na Reclamação 34.560, atestou, sob a relatoria do ministro Edson Fachin na Segunda Turma, que compete ao presidente do STJ apreciar um eventual pedido de suspensão de segurança. Cumpre ressaltar ainda que, em sede de suspensão, não se aufere a eventual legalidade ou mesmo a razoabilidade da decisão atacada, mas tão somente se verifica o risco de grave lesão à ordem ou à economia públicas representado pela referida suspensão. Tal entendimento foi consolidado na Suspensão de Liminar 1.102, no STF, em decisão do ministro Dias Toffoli. A autoridade competente para apreciar o incidente depende da verificação daquela que proferiu a decisão que se pretende atacar, bem como se houve recurso anterior com efeito substitutivo. Sendo a decisão de juiz de primeiro grau, a competência será, via de regra, do Presidente do Tribunal de Justiça (TJ) ou do Tribunal Regional Federal (TRF). Atenção A eventual concessão de efeito suspensivo em agravo de instrumento pode comprometer e prejudicar o mesmo requerimento feito no pedido de suspensão – e vice-versa. Há casos em que a competência para a suspensão é diretamente do STJ ou do STF. Isso ocorre quando se julga o mérito do agravo de instrumento, tendo ocorrido o efeito substitutivo recursal, ou em ordens oriundas de ações originárias propostas em TJs e TRFs. Ainda que seja possível, como já destacamos, a concomitância do pedido de suspensão com o agravo de instrumento, a competência desse pedido pode ser alterada pelo eventual efeito substitutivo. A competência se deslocará ao grau superior se for apreciado o mérito (provido ou não) do agravo de instrumento. Quando a decisão é oriunda de TJ ou TRF em agravo de instrumento, apelação ou ação originária, a competência fica a cargo do presidente de STJ ou STF. Isso também ocorre quando o presidente do TJ ou do TRF indefere o primeiro pedido de suspensão. Não se exige o agravo interno como requisito para o exaurimento da instância ordinária. Correição parcial A correição parcial, enquanto sucedâneo recursal, nasceu nas leis estaduais deorganização judiciária. Em alguns estados, ela é até mesmo chamada de reclamação. Ambas chegam a ser confundidas em muitas ocasiões. Contudo, não é possível haver confusão entre a reclamação com previsão constitucional e a correição parcial, conforme atesta o julgado do TJ/SP publicado na Revista dos tribunais 510/117: Nem se pretenda equiparar a correição parcial à reclamação perante o STF, porque a última é providência emanada, hoje, dos poderes normativos que a Constituição Federal outorgou à Excelsa Corte (artigo 121, parágrafo único) e que se caracteriza também como desdobramento das atribuições jurisdicionais que lhe cabem como instância especial e última, na estrutura orgânica do Poder Judiciário. (REVISTA DOS TRIBUNAIS, 510/117) Desde a entrada em vigor do CPC/1973, havia quem defendesse o desaparecimento da correição parcial. Quem militava contra a subsistência da correição parcial a partir de 1973 fazia isso com base na suposta inconstitucionalidade da medida, já que a legislação estadual – de onde se origina a correição parcial – não poderia criar um recurso que não estivesse previsto na legislação federal. Mas a correição parcial pode ser entendida como recurso? Pensamos que não em função da taxatividade dos recursos. A correição parcial é expressamente referida na lei orgânica da Justiça Federal: Lei nº 5.010/1966 (artigo 6º, incisos I e 9º). Nos termos da lei, compete ao Conselho de Justiça Federal conhecer, no prazo de cinco dias, a correição parcial requerida pela parte ou pela Procuradoria da República contra ato ou despacho do juiz de que não caiba recurso, ou comissão que importe erro de ofício ou abuso de poder. O relator da correição poderá ordenar a suspensão, em até 30 dias, de ato ou despacho impugnado quando compreender que possa decorrer dano irreparável de sua execução. Exemplo A correição parcial pode ser necessária se o juiz se omite no dever de decidir uma questão controvertida durante o desenvolvimento do processo ou inverte tumultuariamente a ordem processual, praticando, por exemplo, um ato pelo outro sem decidir formalmente nem exteriorizar decisão agravável. O artigo 1.001 do CPC, ao dispor sobre a irrecorribilidade dos despachos, não afastou a hipótese de utilização da correição parcial se e quando tais despachos importarem na inversão tumultuária dos atos e das fórmulas de ordem legal do processo, trazendo gravame às partes. Sendo assim, desde a edição do novo Código, pode-se afirmar, com mais certeza, que a correição parcial desmerece o caráter de recurso, tendo, portanto, uma natureza de remédio ou sucedâneo processual. Pedido de reconsideração Outra espécie de meio impugnativo atípico das decisões judiciais é o chamado pedido de reconsideração. Ele é entendido como um expediente utilizado pelas partes para impugnar um ato jurisdicional qualquer, não sendo exigida para a utilização dele qualquer regra cogente de ordem pública relativa à interposição dos recursos. Para o emprego desse pedido, são dispensados: Prazo Preparo Fundamentação do inconformismo Formação do instrumento Classifica-se o pedido de reconsideração como meio de impugnação atípico pela mesma razão indicada para a correição parcial: o fato de não se encontrar seu embasamento em lei federal. Ele é um instrumental frequentemente usado na prática judiciária. Por meio de seus regimentos internos, alguns tribunais chegam a prever expressamente sua utilização. Por ser um meio impugnativo atípico, o pedido de reconsideração não possui aptidão para produzir os efeitos próprios da interposição dos recursos, não gerando, por exemplo, a suspensão ou a interrupção do prazo recursal, além de tampouco impedir a formação da coisa julgada. Remessa necessária A remessa necessária, que não se trata de uma espécie recursal, está disciplinada no artigo 496 do CPC/2015. Apesar da nomenclatura utilizada pelo CPC, ela possui algumas expressões sinônimas: Reexame necessário; Remessa obrigatória; Duplo grau obrigatório de jurisdição. Curiosidade Ela tem origem no direito português, estando vinculada ao processo penal. A remessa necessária era aplicada em situações de condenações à pena de morte, sendo chamada de “recurso de ofício”. Durante a tramitação do projeto de lei que gerou o CPC/2015, muito se discutiu quanto à extinção da remessa necessária. A pressão dos municípios foi decisiva para manutenção desse instituto no Código. A doutrina diverge quanto à natureza jurídica do instituto. Para uns, a remessa necessária é condição de eficácia da sentença, já que: Já para outros, como Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, a remessa tem uma natureza recursal, pois, embora não haja impugnação voluntária, ocorrem os seguintes processos: A provocação é feita pelo próprio juiz; O acórdão substitui a sentença; Aplica-se a proibição da reformatio in pejus. Finalmente, para Daniel Neves, ela é condição impeditiva do trânsito em julgado, porque, na Lei do Mandado de Segurança (Lei nº 12.016/2009), a sentença pode gerar efeitos, ainda que pendentes de reexame. Ela não tem prazo de interposição Não está prevista como recurso (taxatividade) Não se aplica à legitimação recursal (artigo 996) Não estão presentes as características dos recursos (voluntariedade, dialeticidade (não há razões/contrarrazões e contraditório) Nos termos do artigo 496 do CPC, haverá remessa necessária contra as sentenças proferidas contra a Fazenda Pública ou quando os embargos à execução fiscal forem julgados procedentes no todo ou em parte. Parte da doutrina, ainda que minoritária, defende a remessa contra a decisão parcial de mérito (artigo 356), já que tal decisão forma uma definitiva e está sujeita à coisa julgada material. Caso estivesse na sentença, seu conteúdo comportaria a remessa. O conceito de Fazenda Pública, para fins processuais, abrange as pessoas jurídicas de direito público (União, estados, Distrito Federal, municípios, autarquias e fundações públicas), não abrangendo as jurídicas de direito privado que fazem parte do conceito amplo de Administração Pública (empresas públicas e sociedades de economia mista). O legislador estatuiu sensíveis restrições à remessa necessária. Primeiramente, em relação ao valor, já que ele a restringiu às situações em que o valor da condenação ou o proveito econômico obtido na causa seja de valor certo e líquido inferior a: Ademais, o legislador também previu o não cabimento da remessa quando a sentença estiver fundada em: Súmula de tribunal superior; Acórdão proferido pelo STF ou pelo STJ em julgamento de recursos repetitivos; Entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; Entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa. Mil salários-mínimos para a União e suas autarquias e fundações de direito público Cem salários-mínimos para os demais municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público Quinhentos salários-mínimos para os estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os municípios que constituam capitais dos estados Havendo a remessa, não pode ocorrer, conforme a Súmula 45 do STJ, a reformatio in pejus. Não se aplica também, em caso de julgamento por maioria, a técnica de ampliação do colegiado prevista no artigo 942 do CPC. Cumpre realçar ainda que não é admitida a remessa necessária nos Juizados Especiais em razão do previsto no artigo 13 da Lei nº 10.259/2001 e no artigo 11 da Lei nº 12.153/2009. Haverá remessa necessária na ação popular quando houver a extinção do processo sem a resolução do mérito ou a improcedência dos pedidos (artigo 19 da Lei nº 4.717/1965). Segundo a jurisprudência, a regra se aplica às ações de improbidade administrativa e civil pública. Já no mandado de segurança, a remessa ocorrerá se houver a concessão da segurança(independentemente de quem seja autoridade coatora), porém tal autoridade não impede a execução provisória. Remessa necessária O professor Marco Aurélio Peixoto fará um panorama sobre a remessa necessária. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Marque a alternativa em que se dispensa, nos termos do CPC, a remessa necessária: A Sentença proferida contra município (que não seja capital) de valor igual a 250 salários-mínimos. B Sentença proferida contra estado de valor igual a 550 salários-mínimos. C Sentença proferida contra a União de valor igual a 2.000 salários-mínimos. Considerações �nais D Sentença proferida contra município (capital de estado) de valor igual a 450 salários-mínimos. E Sentença proferida contra autarquia federal de valor igual a 1.500 salários-mínimos. Parabéns! A alternativa D está correta. A letra a está correta, com fundamento no art. 496, §3º, II do CPC. Questão 2 Caberá uma ação rescisória contra decisão de mérito transitada em julgado quando: A For proferida por juiz impedido. B For proferida por juiz relativamente incompetente. C For proferida por juiz suspeito. D For fundada em erro de direito. E Obtiver o autor, anteriormente ao trânsito em julgado, uma prova nova cuja existência ignorava. Parabéns! A alternativa A está correta. A alternativa A se fundamenta no artigo 966, II, do CPC. Analisamos neste conteúdo algumas das principais espécies recursais, como a apelação, os agravos e os embargos de declaração, demonstrando as hipóteses de cabimento, o prazo, os pressupostos, o procedimento, os efeitos e as consequências possíveis delas. Mais adiante, abordamos duas das principais ações autônomas de impugnação das decisões judiciais: a ação rescisória e a reclamação. Pontuamos ainda seus requisitos, sua competência, seu procedimento e seus resultados esperados. Também estudamos as espécies de sucedâneos recursais, como a suspensão de liminar, tutela ou segurança, a correição parcial, o pedido de reconsideração e a remessa necessária. Para tal, frisamos a diferença dessas figuras para as espécies recursais, bem como a possibilidade de elas terem um impacto na forma e no conteúdo dos pronunciamentos judiciais. Podcast Agora, o professor Marco Aurelio Peixoto encerra tratando do cabimento de ambos os recursos e demonstrando as diferenças principais entre a apelação e o agravo de instrumento. Referências ASSIS, A. de. Manual dos recursos. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. DIDIER JR., F.; CUNHA, L. C. da. Curso de Direito Processual Civil – meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. v. 3. 18. ed. Salvador: Jus Podivm, 2021. FREIRE, R. da C. L.; CUNHA, M. F. Código de Processo Civil para concursos. 11. ed. Salvador: Jus Podivm, 2021. LEMOS, V. S. Recursos e processos nos tribunais. 4. ed. Salvador: Jus Podivm, 2020. NEVES, D. A. A. Manual de Direito Processual Civil – volume único. 13. ed. Salvador: Jus Podivm, 2021. RODRIGUES, M. A. Manual dos recursos, ação rescisória e reclamação. São Paulo: Atlas, 2017. WAMBIER, L. R.; TALAMINI, E. Curso avançado de Processo Civil – cognição jurisdicional (processo comum de conhecimento e tutela provisória). v. 2. 19. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2021. Explore + Pesquise os seguintes textos na internet para saber mais sobre os assuntos que estudamos: BORGES, F. G. e S.; PEIXOTO, R. C. V. O Superior Tribunal de Justiça e a aplicação da técnica de ampliação do colegiado em embargos de declaração. Empório do Direito. Publicado em: 11 set. 2020. Consultado na internet em: 5 ago. 2021. PEIXOTO, M. A.; BECKER, R. Extensão do efeito devolutivo na apelação. Jota. Publicado em: 17 maio 2020. Consultado na internet em: 5 ago. 2021. PEIXOTO, M. A.; BECKER, R. Os embargos de declaração podem adequar o julgado a um precedente superveniente?. Jota. Publicado em: 24 jul. 2020. Consultado na internet em: 5 ago. 2021. PEIXOTO, M. A.; BECKER, R. Reclamação é inadequada para controle da aplicação de tese de recursos repetitivos?. Jota. Publicado em: 28 fev. 2020. Consultado na internet em: 5 ago. 2021. PEIXOTO, R. O prazo do agravo interno na suspensão de segurança. Jota. Publicado em: 1. nov. 2019. Consultado na internet em: 5 ago. 2021. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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