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Tromboembolismo Venoso (TEV) Introdução - O tromboembolismo venoso engloba duas patologias: • Trombose venosa aguda (TVA) • Tromboembolismo pulmonar (TEP) - Apesar dessas patologias serem distintas, normalmente elas estão interligadas Hemostasia - Processo fisiológico e dinâmico que depende do equilíbrio de fatores: • Pressão e velocidade do sangue • Vasculares • Plaquetas • Coagulantes • Anticoagulantes • Fibrinolíticos - O rompimento do equilíbrio da hemostasia resulta no tromboembolismo venoso _____________________________________________________ Trombose Venosa Aguda (TVA) Definição - Processo trombótico agudo que ocorre no sistema venoso, levando a oclusão parcial ou total da luz da veia Tipos - Existem 2 tipos: • Trombose venosa superficial (TVS): • Ocorre nas veias situadas acima da aponeurose • Trombose venosa profunda (TVP): • Ocorre nas veias situadas abaixo da aponeurose Incidência - 5 milhões de casos/ano nos EUA - Desses 5 milhões de casos, 10% evoluem para TEP - Desses 10% que evoluem para TEP, 10% vão a óbito (50.000 óbitos/ano) Etiofisiopatologia - Fatores responsáveis pela trombogênese: • Tríade de Virchow = lesão endotelial + estase venosa + alterações da coagulação • A tríade de Virchow leva a um estado pró-trombótico (hipercoagulabilidade) - Fatores de risco para a Tríade de Virchow: • Fatores de Risco para Estase Venosa: • Imobilização (perda do coração venoso periférico) • Pós-operatório • Pós-parto • Gravidez • Fatores de Risco para Lesão Endotelial: • Trauma • Queimaduras • Septicemia • Varizes de MMII • Fatores de Risco para Hipercoagulabilidade: • ACOs • Neoplasias • Infecções • Queimaduras e traumas • Trombofilias - Etapas: • Agregação de plaquetas —> trombose primária (trombo branco) —> deposição de trombina no trombo 1º —> aderência do trombo na parede do vaso —> vasoconstrição locoregional —> diminuição do fluxo sanguíneo local —> maior interação dos fatores de coagulação —> formação de trombose secundária (trombo vermelho) —> obstrução venosa Localização - A TVA pode ocorrer em qualquer veia do corpo. No entanto, ela é muito mais comum nas veias dos MMII - As tromboses venosas profundas acometem principalmente a panturrilha. Além disso, há uma maior incidência em MMII esquerdos (fator anatômico) - As tromboses venosas de veia cava inferior são muito raras e costumam afetar pacientes oncológicos - Ainda que mais raramente, existe a possibilidade de tromboses venosas de MMSS. Estas costumam ocorrer no território subclávio-axilar (ocorrem por “trombose de esforço”) - Trombos de MMSS possuem maior incidência no lado direito (pois a maioria dos indivíduos são destros) Prognóstico - Prognóstico Precoce: • A trombose de coxa é mais grave do que a trombose de perna (pois as válvulas da perna irão “fixar” o trombo, diminuindo o risco de tromboembolismo pulmonar) - Prognóstico Tardio: • A trombose de perna é mais grave do que a trombose de coxa (pois a trombose de perna acarreta em maior lesão valvular, causando hipertensão venosa grave) Síndrome de May-Thurner - É a compressão da veia ilíaca comum esquerda pela artéria ilíaca comum direita - Causa um estreitamento da luz e estase venosa, gerando um estado pró-trombótico - Predispõe a formação de trombose venosa ileo-femoral (Síndrome de Cocket) - Todos os indivíduos apresentam um leve grau de compressão da veia ilíaca comum esquerda pela artéria ilíaca comum direita. No entanto, alguns indivíduos apresentam um maior grau de compressão, caracterizando a Síndrome de May-Thurner - Mais frequente nas mulheres Quadro Clínico da Trombose Venosa Profunda - A principal sintomas é a dor! - Essa dor ocorre apenas durante a deambulação (desaparece ao repouso) - A dor ocorre pelos seguintes fatores: • A TVP causa uma inflamação dos vasos, que ao serem comprimidos pela musculatura durante o ato de deambular geram dor • A estase venosa gera um estado de acidose metabólica - Além da dor, outros sintomas incluem: • Fleboedema (aumento da temperatura e cacifo positivo) • Empastamento da panturrilha (Sinal da bandeira negativo) • Aumento da temperatura (ocorre pela estase venosa) • Aumento da circulação colateral: • Ocorre por uma mecanismo de defesa • Causa aparecimento de veias superficiais (veias sentinelas) • Veia Sentinela de Pratt: veias pré-tibiais túrgidas que indicam a presença de trombo • Cianose (Consequência da acidose metabólica causada pela estase venosa) • Febrícula: • Ocorre 48-72h após o evento aguda da trombose • Na ultrapassa 37,5ºC • Está relacionada ao processo inflamatório do trombo na veia • Presença do Sinal de Homans (dor na panturrilha à dorsiflexão do pé )e Sinal de Brancorft (dor à compressão da panturrilha) — não são sinais patognomônicos de trombose venosa Complicações da TVP - Na trombose venosa do território ileofemoral 2 complicações raras podem ocorrer: • Flegmasia alba dolens: • “Perna branca” • Ocorre em decorrência de vasoespasmo arterial (a vasoconstrição da veia causada pela presença do trombo é transferida para o segmento arterial) • Cursa com alterações arteriais (diminuição de temperatura, palidez e parestesia de membro) • É diferenciada da DAOP pela presença de edema • Flegmasia cerúlea dolens: • “Perna azulada” • Ocorre por trombose maciça do membro (ausência total de retorno venoso) • Evolui para gangrena venosa Quadro Clínico da Trombose Venosa Superficial - Se manifestam pela presença de: • Dor, calor, rubor e edema • Impotência funcional • Cordão endurecido doloroso no trajeto de veia superficial! Exames Complementares - Ecocolordoppler: • É o padrão ouro - Outros exames: • FleboRM e FleboTC — devem ser solicitados apenas se dúvida pós ecodoppler • Flebografia — exame invasivo que era o antigo padrão ouro • Dosagem do D-dímero: • Se < 500 —> TEV afastado • Se > 500 —> suspeita de TEV Fluxograma de Diagnóstico Diagnóstico Diferencial - Rotura Muscular (síndrome de la pedrada) — dor súbita na panturrilha ocasionada durante atividade física - Rotura de cisto de Baker — cisto sinovial do joelho que rompe e disseca a musculatura da perna causando dor - Miosite - Compressão extrínseca - Erisipela e celulites Tratamento da TVP - Medidas de suporte: • Repouso no leito com elevação do membro • Evitar massagens na musculatura (para evitar TEP) • Deambulação reservada • Calor local - Anticoagulação: • Heparinas (diminuem o risco de TEP) - Dicumarínicos (antagonistas da vit K): • Warfarina (Marevan®) 5mg • Utilizados em continuidade a heparina - Anticoagulantes de ação direta: • Rivaroxabana (Xarelto®) e Dabigatrana (Pradaxa®) • Menos efeitos colaterais e risco de sangramento do que os dicumarínicos • Utilizados em continuidade a heparina • Vantagem: não necessitam de exame de controle • Podem ser utilizados diretamente no tratamento, sem a necessidade de prescrever a heparina antes - Fibrinolíticos: • Realizam a lise dos trombos • Opções: Sreptoquinase, Uroquinase e Rt-pa (Actilise®) • O Actilise é a droga mais utilizada na prática - Fibrinolíticos in situ + Angioplastia com stent: • Empregado principalmente na síndrome de May-Thurner (trata-se o trombo e a estenose que causou esse trombo) - Trombectomia venosa: • Retirada mecânica dos trombos • Em desuso atualmente • Antes da cirurgia endovascular era utilizada no tratamento dos trombos iliofemorais - Ligadura venosa: • Última alternativa terapêutica • Raramente empregado - Meia elástica: • Meia de compressão de 30-40 mmHg Tratamento das Complicações da TVP - Flegmasia Alba Dolens: • Heparinização + soro vasodilatador/papaverina (para retirar o vasoespasmo) • Obs: monitorar PA pois soro vasodilatador pode causar hipotensão • Não elevar o membro (pois há um componente arterial associado) • Enfaixar a extremidade afetada (para evitar perda de calorpara o meio externo) - Flegmasia Cerulea Dolens: • Apenas Heparinização • Se heparinização falhar —> fibrinolítico • O objetivo é evitar a evolução para gangrena venosa Tratamento da TVS - Clínico: • Repouso com elevação do membro • Analgésicos • Compressas mornas e úmidas • Heparinização, dicumaríncos ou Xarelto - Cirúrgico: • Se trombose da safena magna acima do joelho —> ligadura da crossa da safena • Para evitar hiperpigmentação —> ressecções das veias trombosadas História natural do TEV - Trombose venosa profunda pode evoluir para: • Tromboembolsimo pulmonar: • A TEP por sua vez pode evoluir para: • Fatal • Nada • Hipertensão pulmonar crônica • Hipertensão venosa crônica (Síndrome pós-trombótica): • A Sd pós trombótica por sua vez pode evoluir para: • Hiperpigmentação/dermatite ocre • Edema • Dor do tipo peso/cansaço • Varizes secundárias • Eczema • Úlceras _____________________________________________________ Tromboembolismo Pulmonar (TEP) Definição - Bloqueio da artéria pulmonar ou de seus ramos, levando ao aparecimento de sinais e sintomas cardiorrespiratórios, que se originam a partir de um trombo em veias periféricas ou coração direito Introdução - Entidade grave e potencialmente fatal - Muitas vezes se apresenta de forma inespecífica, retardando o diagnóstico e aumentando a morbimortalidade - Pode ser: • Agudo: • Sinais e sintomas surgem imediatamente após a oclusão da árvore vascular • Varia desde quadros pouco sintomáticos até choque e óbito • Crônico: • Sinais e sintomas (principalmente hipertensão pulmonar) se desenvolvem insidiosamente Incidência - 3ª causa de óbito nos EUA - 500.000 casos/ano - 50.000 óbitos/ano - Aumento da incidência atualmente: • Aumento da população idoso • Aumento do uso de ACOs • Aumento de cirurgias extensas • Maior sobrevida de pacientes oncológicos Etiopatogenia - Ocasionado pela tríade de Virchow (alterações da coagulação + lesão endotelial + estase venosa) - Normalmente a fonte emboligênica decorre de uma TVA periférica ou do coração direito: • 95% das fontes emboligênicas são nos MMII e cavidade pélvica • Coração direito e veias dos MMSS correspondem apenas por 5% • Apenas o território íleofemoral é responsável por 40% —> pois é um sistema pouco valvulado, fazendo com que o trombo se desloque mais facilmente - Trombo em cavaleiro: trombo que impacta o tronco pulmonar, obstruindo a artéria pulmonar direita e a artéria pulmonar esquerda, levando a morte súbita Quadro Clínico - É extremamente variável - De forma geral, existem 3 tipos de doentes: • Assintomáticos • Dor torácica e sensação de desconforto • Choque e óbito - Os sintomas apresentam início súbito, sem manifestações prodrômicas - Sinais e Sintomas: Diagnóstico - Clínica + exames complementares - Clínica: • Pacientes previamente hígidos com sintomas cardiorrespiratórios súbitos —> alta suspeita de TEP - Raio x: • É de importante valor diagnóstico • 1º exame complementar realizado • Achados (não patognomônicos do TEP): • Diminuição da vascularização pulmonar • Aumento do coração direito • Derrame pleural • Elevação do diafragma • Atelectasia laminar • Sinais (não patognomônicos do TEP): • Sinal de Hampton: imagem em cunha cuja base está voltada para a periferia pulmonar. Indica área isquêmica na periferia do pulmão, normalmente no seio costofrênico. • Sinal de Westermark: oligoemia (diminuição do fluxo sanguíneo) secundária a obstrução de ramos arteriais. Indica má perfusão. - Gasometria Arterial • Achados: • Hipóxia (PO2 < 80 mmHg) • Alcalose respiratória - ECG: • Na maioria dos indivíduos estará normal • Em pacientes com TEP extenso: • Hipertensão pulmonar aguda • QRS desviado para direita • Onda P alta e em picos - Ecocardiografia: • Achados: • Sinais de dilatação do VD e artéria pulmonar • Sinais de hipertensão pulmonar - D-dímero: • Se > 500 mcg/l —> suspeita de TEP - Cintilografia pulmonar: • Cintilografia de perfusão: • Infusão intravenosa de radiofármaco contendo tecnécio • Observa-se a difusão desse radiofármaco no parênquima pulmonar • Cintilografia de ventilação: • O radiofármaco é infundido através de nebulização - AngioTC: • É praticamente o padrão ouro para diagnóstico de TEP • É invasivo mas menos do que a arteriografia - Arteriografia: • É o padrão ouro oficial • Principal desvantagem —> invasivo! • Diagnóstico positivo se —> Defeito intraluminal ou “stop” abrupto da artéria pulmonar e seus ramos • Suspeita se —> assimetria de fluxo (oligoemia) - Ecocolordoppler: • Pode ser solicitado um Doppler de MMII • Mostra trombose venosa aguda Diagnóstico Diferencial - Deve ser feito principalmente com doenças cardíacas e/ou respiratórias: • Atelectasias • Pneumonias • Pneumotórax • IAM • Choque cardiogênico • Outras - O diagnóstico de TEP é especialmente difícil em indivíduos que já são portadores de doenças cardíacas e pulmonares Tratamento - Pode ser dividido em: • Clínico —> tratamento de eleição • Cirúrgico —> tratamento de exclusão • Profilático —> tratamento ideal - Tratamento Clínico: • Anticoagulação rápida —> HBPM (via subcutânea) ou HAPM (via bomba de infusão) • Lembrar de realizar ajuste do TC e KPTT (2-3X acima do normal) • Em continuidade às heparinas —> Dicumarínicos (warfarina/marevan®) ou DOACS (rivaroxabana/xarelto®) • Caso seja utilizado dicumarínico —> controle através do TAP (20-40% do normal) e RNI (2,5 - 3,5 no TEP) • OBS: em alguns casos de TEP pode-se não utilizar heparina e partir direto para o Xarelto • Fibrinolíticos: • Devem ser utilizados apenas em casos de exceção • Indicação —> embolias com grandes repercussões hemodinâmicas • Opções —> estreptoquinase, uroquinase e Rt-PA (droga de escolha) - Tratamento Cirúrgico: • Deve ser realizado em indivíduos com contraindicações ao uso de anticoagulantes ou em caso de falha terapêutica com TTO clínico • Opções cirúrgicas preventivas: • Interrupção da veia cava inferior: • Pode ser parcial (utilizando um filtro trans-caval) ou total (utilizando uma ligadura infra-renal da VC inferior) • A ligadura da veia cava inferior é pouco utilizada atualmente • Opções cirúrgicas Intervencionistas: • Embolectomia pulmonar: • Cirurgia a céu aberto (toracotomia) • Opção para pacientes de alto risco com contraindicação absoluta para trombólise ou se trombólise não foi efetiva • Reperfusão por cateter: • Alternativa à embolectomia - Tratamento Profilático: • É o tratamento ideal • Evita que paciente com TEV evoluam para TVA ou TEP • É realizado através da classificação do paciente em Alto, Médio ou Baixo risco • Existem vários protocolos disponíveis para realizar essa classificação • Sempre considerar a idade do paciente e cirurgias prévias de prótese de quadril e joelho • Profilaxia Mecânica: • Em todos os pacientes (independente se baixo, médio ou alto risco) • Visa reduzir a estase mecânica • Opções: elevar pés da cama, mobilização ativa e passiva, deambulação precoce, meia elástica, fisioterapia motora e respiratória, compressão pneumática intermitente e alta hospitalar precoce • Profilaxia Farmacológica: • Visa reduzir a coagulação e aumentar fibrinólise • Indicada apenas nos pacientes de médio e alto risco • Opções: HAPM ou HBPM
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