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História do Cristianismo Moderno - Completo

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HISTÓRIA DO CRISTIANISMO 
MODERNO 
 
Prof. Me. Helder Maioli Alvarenga 
 
 
Prof. Guilherme Bernardes Filho 
Diretor Presidente 
Prof. Aderbal Alfredo Calderari Bernardes 
Diretor Tesoureiro 
Prof. Frederico Ribeiro Simões 
Reitor 
 
UNISEPE – EaD 
Melquisedeque de Jesus Santos. 
Coordenador EaD de área 
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz 
Coordenador Núcleo de Ensino a distância (NEAD) 
 
Material Didático – EaD 
Equipe editorial: 
Fernanda Pereira de Castro - CRB-8/10395 
Isis Gabriel Alves 
Laura Lemmi Di Natale 
Pedro Ken-Iti Torres Omuro 
Prof. Dr. Renato de Araújo Cruz – Editor Responsável 
Apoio técnico: 
Alexandre Meanda Neves 
Anderson Francisco de Oliveira 
Douglas Panta dos Santos Galdino 
Fabiano de Oliveira Albers 
Gustavo Batista Bardusco 
Kelvin Komatsu de Andrade 
Matheus Eduardo Souza Pedroso 
Vinícius Capela de Souza 
 
Revisão: Vanessa Schreiner, Tony Roberson de Mello Rodrigues, Isabella Roveri Splendore 
 
Diagramação: Diego Macedo Pedroso, Máira Ribeiro Fernandes 
 
 
 
 
 
 
SOBRE O AUTOR: 
Helder Maioli Alvarenga 
Nascido em Guarapari, estado do Espírito Santo. Possui graduação (bacharelado) em 
Teologia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino (2016), graduação (licenciatura plena) 
em Filosofia pelo Centro Universitário Salesiano (Unisales) de Vitória (2011), mestrado 
em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2019), 
na área de concentração Religião e Cultura e na linha de pesquisa Religião, Política e 
Educação. Está na carreira docente, em escola pública e cursos particulares, desde 
2019. Atualmente leciona as disciplinas de Antropologia Teológica, Teologia 
Fundamental e Profetismo no curso de Teologia do Seminário Arquidiocesano de 
Diamantina/MG; Antropologia Teológica no Seminário Arquidiocesano de Montes 
Claros/MG; Pastorais Sociais e Direitos Humanos no Instituto Santo Tomás de Aquino 
em Belo Horizonte/MG. Leciona a disciplina de Filosofia na Rede Estadual de Ensino de 
Minas Gerais. É contratado como professor conteudista pela Unisepe para o curso de 
Teologia (EaD). É membro dos grupos de pesquisa: Religião, Educação, Ecologia, 
Libertação e Diálogo – REDECLID – da PUC Minas; e Religião, Política e Espaço 
Público – GREPEP – da PUC Minas. Atua principalmente nos seguintes temas: 
cristianismo, religiões, religião e modernidade, religião e política, religião e ecologia, 
religião e defesa dos animais, religiosidades, Bíblia, sociologia, filosofia, sociedades, 
defesa dos animais não humanos, hermenêutica da religião. 
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/0929649959173951 
SOBRE A DISCIPLINA: 
A disciplina que lhe oferecemos se denomina “História do Cristianismo Moderno”, cuja 
ementa é: “A Cristandade, o Cristianismo entre a Idade Média e a Idade Moderna; fé e 
razão; teocentrismo e antropocentrismo; a Reforma Protestante e o movimento de 
Contrarreforma; o cristianismo no contexto da Revolução Francesa e a Revolução 
Inglesa (Industrial); O cristianismo na Europa, no Novo Continente e na África.” A 
primeira unidade tem como título “Reforma e contrarreforma: a gestação de um novo 
tempo”. Essa unidade apresenta dois capítulos, a seguir: 1) A Reforma Protestante; 2) 
Contrarreforma católica: o Concílio de Trento. A segunda unidade tem como título “Entre 
guerras e novos pensamentos”. Essa unidade apresenta dois capítulos, a seguir: 3) 
Conflitos religiosos na Europa; 4) As diversas correntes e sua influência no cristianismo 
moderno. A terceira unidade tem como título “O cristianismo externamente afirmado e 
internamente questionado”. Essa unidade apresenta dois capítulos, a seguir: 5) O 
cristianismo para além da Europa; 6) A revolta da razão: prenúncios de um novo tempo. 
A você, aluno(a) deste programa de estudos, desejamos êxito. 
 
 
 
 
http://lattes.cnpq.br/0929649959173951
 
 
Os ÍCONES são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de 
linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
UNIDADE I .............................................................................................05 
1º A reforma protestante...........................................................05 
2º Contrarreforma católica: o Concílio de Trento.....................17 
 
UNIDADE II ...........................................................................................27 
3º Conflitos religiosos na Europa.............................................27 
4º As diversas correntes e sua influência no cristianismo 
moderno..................................................................................36 
 
UNIDADE III ..........................................................................................46 
5º O cristianismo para além da Europa....................................46 
6º A revolta da razão: prenúncios de um novo tempo.............57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
UNIDADE I 
CAPÍTULO 1 - A REFORMA PROTESTANTE 
No término deste capítulo, você deverá saber: 
✓ Compreender o contexto que possibilitou o movimento reformador; 
✓ Conhecer Lutero, sua história e como influenciou a História; 
✓ Aprender sobre o movimento reformador para além do luteranismo; 
✓ Vislumbrar o avanço da Reforma nos diversos contextos europeus. 
Introdução 
Conforme temos visto nas diversas disciplinas que estudam a História dentro da Teologia, as 
revoluções e os grandes movimentos históricos não são frutos do acaso ou de momentos isolados. 
Todos os grandes movimentos históricos são gestados por um longo período e, dentro desse 
contexto, alguns fatos ganham preponderância para a significação do tempo histórico. 
As 95 teses pregadas por Lutero na porta de Igreja, questionando diversos aspectos do catolicismo, 
é um fato pontual, mas que, conectado com todo contexto, torna-se uma grande revolução. Esse 
primeiro impulso, que não era de separação da Igreja de Roma, mas de proposição de um debate, 
entraria em um caminho sem volta: a ruptura. 
Essa ruptura marcaria o início de um novo tempo plural na religião, na configuração dos países, no 
pensamento, na política e na economia. A cidade não era a mesma, a cultura não era mais a mesma, 
a economia e a política mudaram. O catolicismo continuaria com muita força, mas já não era a força 
uniforme que governava o mundo espiritual. 
Neste capítulo, nos propomos a analisar o movimento reformador dentro do cristianismo. Buscamos, 
num primeiro momento, entender as causas da Reforma, esmiuçando seu contexto. Apresentamos 
a figura de Lutero e suas ações que provocaram uma ruptura no catolicismo. Por fim, construímos 
um panorama geral do movimento reformador por toda e Europa. 
1.1 Por que a reforma? 
O período medieval viu no Renascimento o movimento cultural que poria fim à sua existência, como 
estudado na história do Cristianismo Medieval. Mas, no início do período Moderno, dois eventos são 
marcantes para esse câmbio histórico na Europa: a expansão geográfica com o descobrimento de 
novos mundos e o fim do catolicismo como única religião, ou monolítico. Se o mundo não se restringia 
apenas à Europa, a própria Europa não se restringiria a uma única visão. Começa o tempo do 
pluralismo. 
O tempo Moderno gira ao redor de dois grandes momentos, o século XVI, com o Renascimento, a 
Reforma e a expansão geográfica, e o século XVIII, com a afirmação da razão. Nos estudos 
históricos, preferimos dividir esse período de 500 anos para melhor compreendê-lo. Assim, nesta 
disciplina, abordaremos a história do Cristianismo Moderno que vai da queda de Constantinopla em 
 
6 
 
1453 até 1789, com a Revolução Francesa. A segunda parte do período Moderno chama-se Idade 
Contemporânea e inicia-se em 1789 até os nossos dias. 
Visto o Renascimento na disciplina anterior, o tema que nos toca refletir como abertura desse novo 
tempo é a Reforma Protestante. Diante disso, as perguntasque emergem são: por que aconteceu a 
Reforma? Qual é o contexto religioso que fez surgir um movimento reformador no interior do 
catolicismo? O que significou esse movimento para a História? 
No interior da Igreja Católica, diversos grupos já haviam empreendido reformas e outros tantos foram 
sufocados e decaíram. Além disso, o surgimento dos Estados Nacionais levou a Igreja Católica a ser 
questionada em seu poder. A classe média burguesa relutava em pagar impostos para sustentar a 
Igreja com sede em Roma. Ainda que tivesse alta ilustração, a vida cristã, em especial na figura dos 
líderes da Igreja, havia se degenerado. 
Por volta de 1500, os fundamentos da velha sociedade medieval estavam ruindo e 
uma nova sociedade, com uma dimensão geográfica muito ampla e com 
transformações nos padrões políticos, econômicos, intelectuais, e religiosos, 
começava a surgir. As mudanças foram realmente revolucionárias, por sua natureza 
e pela força de seus efeitos sobre a ordem social. A síntese medieval foi desafiada 
durante a Reforma, em sua política, pela ideia que a igreja universal deveria ser 
substituída por igrejas nacionais ou estatais e igrejas livres. A sua filosofia 
escolástica, unida à filosofia grega, deu lugar à teologia bíblica protestante [...]. 
(CAIRNS, 1995, p. 221) 
Entre os anos de 1492 e 1600, houve uma grande transformação geográfica. Se o mundo antigo 
cresceu ao redor dos sistemas fluviais, a Idade Média estava vinculada aos mares mediterrâneo e 
báltico. Basicamente nos mesmos anos em que Lutero traduzia o Novo Testamento para a língua 
vernácula, Colombo e outros desbravadores encontravam novas terras e novas rotas de navegação. 
Os mares tornariam-se como estradas. A América do Sul e Central seriam colonizadas por nações 
católicas, a saber, Portugal, Espanha e França. A América do Norte seria colonizada pelos 
protestantes Anglo-saxões. 
No campo político, rompe-se com a ideia e um estado universal e surgem os estados nacionais. Com 
uma estrutura própria de governo e um serviço militar forte, essas nações se opuseram à força 
universalizante da religião e, até mesmo, fizeram um movimento contrário, forçando a religião a 
afirmar os interesses de sua identidade nacional. Assim, muitos príncipes e reis apoiaram a Reforma, 
pois viam nela a possibilidade de reafirmar seu poder. Esse movimento faria surgir as guerras 
religiosas, das quais falaremos em outro tópico. 
A economia ganhava outros ares com o ressurgimento das cidades, deixando de estar centrada 
somente na terra e passando a valorizar as relações comerciais. Assim, surgiria a classe burguesa, 
tão essencial na transformação do novo mundo. Os burgueses também viram na Reforma um 
importante movimento para a afirmação das mudanças que almejavam. O estudo de Max Weber A 
ética protestante e o espírito do capitalismo se tornou um clássico. Nesse livro, o autor demonstra 
como a cosmovisão de mundo dos reformadores gerou um ambiente propício para a afirmação de 
uma sociedade burguesa, iniciada nos fins da Idade Média. 
A sociedade deixara os traços horizontais, em que cada um morria na classe em que havia nascido, 
e passara a ser vertical. Com isso, uma nova classe média emergia, e esse grupo, que assumiu um 
poder que até então não possuía, iria patrocinar e impulsionar o movimento reformista. Diante desse 
 
7 
 
fato novo, até a concepção de trabalho ganhou novas conotações e a ideia de vocação, pensada 
pelos reformadores, casava com essa nova ideia (WEBER, 2012, p. 69-77). 
No campo intelectual, o Renascimento, que no campo das ciências humanas ocasionou uma volta 
ao passado grego, fez com que o cristianismo se voltasse ao estudo das escrituras. O estudo da 
Bíblia voltou-se para a importância das línguas originais (grego e hebraico). Além disso, a 
centralidade do sujeito faria a teologia pensar na salvação como um processo pessoal. Assim, a 
estrutura eclesiástica católica era questionada, inclusive intelectualmente. 
Outro aspecto a ser aprofundado neste capítulo foi a superação de uma mentalidade religiosa 
uniforme. A partir do século XVI, a Europa iniciaria um processo de diversificação de sua cultura e 
de afirmação da pluralidade. A vivência da religião não estava mais num modo de ser, mas em vários 
modos, ainda que na mesma fé cristã. 
Percorrido esse caminho, pode-se dizer que a Reforma Protestante é um acontecimento fruto de um 
longo e amplo movimento de mudança que era gestado no interior do cristianismo desde o século 
XIII. Para a Igreja Católica da época, esse acontecimento representou uma cisão iniciada por um 
monge rebelde; para os reformistas, era a busca por viver a mensagem evangélica de maneira mais 
autêntica; para o secular, representa uma revolução, ou seja, um movimento ocorrido na História e 
do qual não há volta. 
Os fatores que envolvem esse movimento são múltiplos: político, econômico, social, moral, entre 
outros. Aquela configuração de mundo construída pelos medievais já não era mais capaz de nutrir a 
realidade com significados que lhe dessem sentido. Nesse contexto, a figura de Martinho Lutero 
emerge e marca a História para sempre. 
1.2 Martinho Lutero: de monge a reformador 
Conforme estudado até aqui, os fatores que criaram as condições para o acontecimento da Reforma 
foram múltiplos. Enquanto no sul da Europa, região em que o legado do Império Romano manteve 
certa mentalidade universalista, o catolicismo continuou com sua força, na Alemanha emergiria a 
ruptura. Na Alemanha da época, os príncipes buscavam desvencilhar-se de Roma; além disso, os 
movimentos espiritualistas, tais como a Devotio Moderna, tiveram uma aceitação maior. No campo 
intelectual, a Alemanha vivia um florescer de uma literatura crítica as estruturas do mundo. 
Nesse contexto, Martinho Lutero foi o homem dentro da ocasião certa que possibilitou a Reforma. 
Nas atitudes desse monge, a Alemanha concentrou suas forças de oposição a Roma. 
Antes de estudar a vida de Lutero, um quadro biográfico pode nos ajudar a compreender o seu 
movimento: 
Ano Fases da vida de Lutero e do luteranismo 
Até 1517 
Lutero viveu sua formação ainda dentro do catolicismo, mas com 
grande inquietude. 
1518-1521 
Iniciando com uma crítica ao sistema das indulgências, Lutero 
vê-se forçado a romper com o catolicismo. 
 
8 
 
1522-1530 
Lutero organiza seu movimento, a Reforma vai ganhando 
identidade. 
1531 -1555 
O luteranismo entra em conflito com Roma, porém alcançando 
vitórias que possibilitariam sua existência. 
1555 
A Paz de Augsburg. O rei Carlos V assina um tratado que 
estabelece a tolerância ao luteranismo. Era o fato institucional 
mais grande do movimento reformador em seu nascimento. 
 
Martinho Lutero nasceu em 1483 em Eisleben. O pai havia migrado para essa cidade para explorar 
cobre e, inclusive, tinha uma boa situação econômica. Era de família com uma moral e disciplina 
rígidas. Família cristã, mas marcada por muitas superstições que alimentavam a mente dos 
camponeses da época. Essas superstições seriam decisivas na busca que Lutero empreendera em 
seu caminho espiritual na busca por salvação. 
Lutero, ajudado por amigos como Úrsula Cotta, estuda latim, entra na universidade e cursa filosofia 
aristotélica. Foi influenciado por Guilherme de Ockham e seu nominalismo, nutrindo a ideia de que a 
revelação era o único guia no campo da fé, assim como a razão era o único guia no campo da 
filosofia. Em 1505, ele recebeu o título de mestre em Artes, ainda que seu pai quisesse que ele 
estudasse Direito. 
Muito questionado sobre sua salvação e tendo sobrevivido a uma grande tempestade, Lutero entra 
para o mosteiro agostiniano de Erfurt, sendo ordenado padre em 1507. Em 1508, começa a ensinar 
teologia em Wittenberg. Orientado por seu superior a confiar em Deus e a estudar a Bíblia, Lutero 
empreende um caminho na Teologia com a pergunta sempre viva por sua salvação. 
Em 1510 e 1511, ele viaja a Roma,sendo impactado pelo catolicismo que lá encontra: relíquias, 
indulgências, várias missas rezadas pelos mesmos padres em um dia, em troca de dinheiro. Luxúria, 
moral relaxada, formalismo, uma religião que se perdera em sua essência. Essa experiência é 
marcante na vida do monge Lutero. 
Em 1511, ele muda definitivamente para Wittenberg, torna-se doutor em Teologia e ensina a Bíblia. 
Para isso, ele estudava a Bíblia nas línguas originais e instruía os alunos na língua vernácula. Com 
um grupo de professores e alunos, ele começa a gestar a Reforma. 
Lutero, então, passou a ensinar os livros da Bíblia no vernáculo e, para fazê-lo 
melhor, começou a estudar as línguas originais da Bíblia. Aos poucos desenvolveu a 
ideia de que somente na Bíblia podia encontrar a verdadeira autoridade. [...] Entre 
1512 e 1516, quando preparava suas aulas, encontrou a paz interior que não 
conseguira nos ritos, nos atos ascéticos ou na famosa Teologia Germânica dos 
místicos, por ele publicada em 1516. A leitura do verso 17 do capítulo 1 de Romanos 
convenceu-o de que somente pela fé em Cristo era possível alguém tornar-se justo 
diante de Deus. [...] (CAIRNS, 1995, p. 234) 
Nascia a Doutrina da Justificação pela Fé. Só a escritura teria a verdadeira autoridade. Assim, Lutero 
começara a formular as ideias de seu movimento: Só a fé, só a escritura, só a graça, só Cristo. Não 
 
9 
 
poderia haver verdade sobre a salvação do pecador fora da escritura. Essa era a base de seu 
pensamento teológico. 
Em 1517, Johann Tetzel, monge dominicano, começa a vender indulgências próximo à cidade em 
que Lutero vivia. Isso gerou repulsa em Lutero e nos que se opuseram a essa prática, já que Tetzel 
afirmava que a compra da indulgencias poderia garantir ao pecador sua redenção sem o verdadeiro 
arrependimento do pecado. 
No histórico dia 31 de outubro de 1517, Lutero coloca as 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg. 
Nessas teses, ele condenava as indulgências, afirmava sua teologia e propunha um debate, como 
era costume na época. Até aqui, Lutero não tinha claro que estava fundando um novo movimento. 
Sua intenção, como monge que era, foi reformar o cristianismo. 
Nesse momento marcante da História, houve outro fator muito importante: a criação da imprensa em 
1440, por Gutenberg. Assim, as 95 teses de Lutero foram traduzidas para o alemão e publicadas, 
tendo grande alcance. Tetzel utilizaria da força da Ordem Dominicana contra Lutero. Os agostinianos, 
num primeiro momento, apoiariam Lutero. Em 1518, Lutero foi obrigado a debater as 95 teses em 
Heidelberg com os monges de sua ordem, porém só compareceram os simpáticos a suas ideias. 
Em 1518, chega em Wittenberg Filipe Melanchton, que seria o grande parceiro de Lutero e o grande 
pensador da Reforma. Enquanto Lutero tinha um espírito mais audaz e profético, ele era mais 
metódico e calculista, sendo aquele que daria sustentação teológica ao movimento. Com a morte de 
Lutero, ele tornou-se o líder da Reforma luterana. 
Desse momento em diante, Lutero ganhou a simpatia de alguns príncipes do Sacro Império Romano 
Germânico, eleitores do rei. Além disso, seu movimento se dissipava pelas massas. O furor de Roma 
aumentava e os intensos debates travados sobre as 95 teses faziam com que Lutero reafirmasse a 
Sagrada Escritura como única fonte de autoridade. 
Desde então, Lutero começa a publicar pequenos textos em que questiona o fato de ser Roma a 
única instância de interpretação das escrituras, questiona a estrutura sacramental, a hierarquia, o 
sacerdócio e a teologia romana. Tudo isso, inserido no contexto sociopolítico da época, conclamava 
para uma reforma nacional. 
Em 1520, o Papa Leão X excomunga Lutero com a bula Exsurge Domine. Os livros de Lutero foram 
queimados em Colônia, e Lutero queimou a bula do Papa. Entre 1522 e 1530, a separação se 
materializou de verdade. Lutero e Melanchton, nesse período, ainda que perseguidos, publicaram e 
deram corpo à sua teologia. Publicaram uma tradução do Novo Testamento na língua vernácula, 
tornando a leitura da Bíblia algo popular, coisa que não acontecia no catolicismo. 
Ao final de sua vida, o movimento reformador já havia se dividido. Dentro da Reforma, surgira o grupo 
dos anabatistas, mais radicais e que romperiam com Lutero. Alguns humanistas, como Erasmo, 
entusiasta da primeira hora, haviam se separado da Reforma, pela visão de ser humano que Lutero 
tinha. Além disso, os camponeses, que propunham uma revolução na Alemanha da época, não 
tiveram apoio de Lutero, que pediu aos príncipes para agir com violência contra os camponeses. 
Assim, antes mesmo da morte de Lutero, aquele primeiro movimento de ruptura foi marcado por 
outras rupturas que indicavam o início de um caminho plural para todo o Ocidente. Há tantos outros 
 
10 
 
detalhes que poderiam ser citados, mas aqui voltamos nossa atenção para o essencial, a fim de 
compreender a ruptura e o surgimento do cristianismo reformador. 
1.3 O movimento reformador pela Europa 
O movimento de Lutero abriu um novo capítulo na História, o contexto exposto no primeiro ponto 
deste capítulo expõe um fato novo: a pluralidade seria a marca dos tempos modernos. No próprio 
luteranismo, antes mesmo da morte de Lutero, surgem correntes em seu interior e ocorrem 
contradições. Além disso, os diversos contextos locais fizeram com que o movimento reformador 
chegasse a países como Suíça, Inglaterra, Holanda, Hungria, França, entre outros. 
Se pudéssemos olhar pormenorizadamente cada movimento, seria de grande valor. Porém, por 
limitação de tempo e espaço, isso não é possível; por isso, cabe considerar dois grandes movimentos 
essenciais, a Reforma na Suíça e na Inglaterra, e a partir disso, construir um quadro geral. 
A Suíça vivia uma peculiaridade frente aos demais contextos regionais da Europa: era o território 
mais livre no tempo da Reforma. Ela integrava o Santo Império Romano, mas, em 1291, já tinha 
territórios formando uma federação e com governos democraticamente eleitos. Assim, as 
federações, com governos próprios, uniam-se em uma confederação. 
Como cada região tinha o próprio governo, cada região teve a liberdade de pensar para si qual 
religião seguir. Assim, a Reforma na Suíça surge com dispositivos legais feitos pelos governos eleitos 
democraticamente. Além disso, na Suíça o humanismo havia impregnado um grande movimento 
cultural que contribuiu para a difusão das ideias. Nesse contexto, desenvolveram-se três grupos 
reformadores: o de Zwínglio, o de Calvino e o anabatista. 
Outro forte movimento de Reforma se deu na Inglaterra, em que o rei, contrariando a política do 
Papa, rompe com Roma, criando uma igreja estatal. Iniciada por motivos políticos, essa reforma 
também ganharia feições religiosas e marcaria a História pela abrangência do império britânico e sua 
influência sobre o mundo e, em especial sobre suas colônias. 
Colocados esses pontos, cabe-nos olhar para os movimentos em seus traços gerais e nas diversas 
localidades em que ele ocorreu. Diante disso, a construção do quadro a seguir ajuda na 
compreensão. 
Movimento/Local Aspectos principais 
Luteranismo na 
Alemanha 
Em 1555, foi celebrada a Paz de Augsburg, a partir da qual o luteranismo 
passa a ser tolerado no Sacro Império. Em 1580, foi lançado o livro da 
Concórdia, uma espécie de “catecismo” luterano. Em seu interior, havia 
muitas controvérsias, afinal estava se construindo um novo movimento. 
Os diversos embates internos fizeram com que o luteranismo buscasse 
a construção de uma doutrina, a fim de manter a unidade. 
 
11 
 
Luteranismo na 
Escandinávia 
Começou na Dinamarca com Cristian II, sobrinho de Frederico II, que 
ajudou Lutero na Alemanha, com o desejo de superar uma elite formada 
por nobres e clérigos. O governante pretendia criar uma Igreja nacional 
comandada pelo Estado. Hans Tausen (1494-1561) fez na Dinamarca o 
que Lutero fizera na Alemanha. Até os dias atuais,o luteranismo é a 
religião oficial da Dinamarca. A Noruega e a Suécia se tornaram 
independentes da Dinamarca, mas mantiveram a religião reformada. A 
Finlândia se tornou independente da Suécia e manteve o luteranismo. 
Na Islândia o Luteranismo foi introduzido por Einarsen, que publicou o 
Novo Testamento no idioma local. Nesses territórios, um ponto 
importante foi que os reis utilizaram a Reforma para confiscar os 
territórios pertencentes à Igreja Local. 
Huldreich Zwínglio 
(1484-1531) – Suíça 
De família rica, estudou o sacerdócio em Viena e Basileia. Servia ao 
Papa com muito fervor, mas, em contato com o humanismo, começou a 
tecer críticas e a estudar mais profundamente a Bíblia. Além disso, ele 
começou a se opor à ida de jovens suíços como mercenários para servir 
aos exércitos, em especial do Papa. Em contato com o luteranismo, 
teve sua conversão. Zwínglio se opôs à prática de dízimo como 
obrigação. Além disso, insistiu na salvação pela fé, na autoridade da 
Bíblia, na supremacia de Cristo na Igreja e no casamento dos 
sacerdotes. Ele aboliu a liturgia cristã na Suíça e defendeu que a 
autoridade era da comunidade cristã, chamada a decidir seus rumos de 
maneira comunitária. Ele foi um dos mais humanistas reformadores e 
levou a fé reformada para a Suíça. 
Os Anabatistas – 
Suíça, Morávia e 
Holanda 
São considerados ancestrais espirituais dos Batistas e dos Menonitas. 
Propunham rebatizar as pessoas que aderissem à fé reformada. Eram 
contra o batismo de crianças. Eles defendiam que Zwínglio e Lutero 
fizeram uma reforma incompleta por manterem muitos erros praticados 
por Roma. Foram perseguidos tanto por reformados quanto por 
católicos. Os mais radicais se opunham ao controle da religião pelo 
Estado. Era um grupo que tinha uma escatologia forte, reafirmando a 
iminente vinda de Cristo e o forte apoio de camponeses e populares 
mais simples nas cidades. Propunha a venda de propriedades para 
ajudar os pobres. Esses grupos se espalharam por toda a Europa e é 
difícil falar de uma doutrina, pois eram grupos diversificados e com 
ideias muito próprias para cada região. O nome anabatista está 
vinculado à negação do batismo às crianças e à defesa de rebatizar 
quem fora batizado. 
João Calvino (1509-
1564) 
Ele pode ser considerado o pai da segunda geração de reformadores. 
Assim como Lutero, é considerado um dos maiores nomes da Reforma. 
Sua teologia pode ser chamada de “fé reformada”, enquanto a 
instituição eclesial que fundou chama-se presbiterianismo. Genebra, na 
Suíça, é o lugar mais forte de sua atuação. Calvino, diferentemente de 
Lutero, pensava num sistema mais organizado para sua teologia. Ele 
era de formação mais humanista, estudou Direito e vivia na Suíça, que 
já tinha um viés republicano. Calvino dá um passo na ruptura com o 
catolicismo, rejeitando, por exemplo, a presença física de Cristo na Ceia. 
Além disso, defendia a dupla predestinação, sendo a salvação obra 
exclusiva de Deus e Deus, de antemão, já sábia quem iria aderir à fé. 
 
12 
 
Sua teologia brota da afirmação da soberania absoluta de Deus. Daí ele 
retirou cinco ideias mestras: 1) Total depravação humana; 2) Eleição 
incondicional, independente do mérito humano ou da presciência de 
Deus; 3) Limitação da redenção, Cristo havia morrido para os eleitos; 4) 
Irresistibilidade da graça, o eleito é salvo para além de sua vontade; 5) 
Perseverança, os eleitos jamais se perderão. As Institutas da Religião 
Cristã são a expressão acabada de sua teologia. O calvinismo se 
espalhou por partes da Alemanha, Hungria, Morávia, França, Holanda, 
Escócia, Irlanda do Norte e, por um período curto, na Polônia. 
Anglicanismo – 
Inglaterra 
Na Inglaterra, já havia grupos de espiritualidade que afirmavam a 
centralidade das escrituras e a necessidade de uma comunhão pessoal 
com Cristo. Além disso, entre 1485 e 1603, a dinastia Tudor forjou um 
Estado Nacional forte com submissão da classe média ao rei e proteção 
do rei à classe média, rompendo com a estrutura feudal. Assim, já era 
forte a tendência de separação da Igreja nacional de Roma e de assumir 
as terras do papado. Além das influências dos outros movimentos 
reformadores, o fato principal da ruptura se deu por uma questão 
pessoal do rei Henrique VIII. Ele queria um filho homem e acreditava 
que sua esposa jamais lhe concederia. Quis divorciar-se da rainha 
Catarina para se casar com Ana Bolena, porém para isso teria que 
dominar a Igreja Romana na Inglaterra, já que não era permitido o 
divórcio. Para efetivar o seu desejo, o rei rompe com Roma e funda a 
Igreja Anglicana. 
 
Diante desse quadro, podemos afirmar que a Reforma se constituiu de quatro grandes movimentos: 
luteranismo, calvinismo, anabatistas e anglicanos. Esses movimentos, fortemente religiosos, não se 
limitam ao campo da religião. Eles implicaram uma nova configuração geográfica do continente, 
influenciaram nos rumos econômicos e políticos dos estados nações nascentes e configuraram o 
que chamamos de Modernidade. As implicações desses movimentos ainda serão estudadas por nós 
nesta disciplina. 
1.4 Considerações finais 
A obra de Max Weber intitulada A ética protestante e o espírito do capitalismo aponta como o 
surgimento do protestantismo e o avanço do capitalismo são fenômenos diferentes, mas 
relacionados. O movimento reformador é um dos principais agentes de construção do mundo 
moderno. 
Na interpretação das grandes revoluções, não se pode limitar a interpretar um único aspecto da vida, 
mas compreender o contexto e os múltiplos fatores que possibilitaram a virada na História. O passo 
dado por Lutero dentro da religião cristã pode ser grande, mas ganha ainda mais significação quando 
interpretado com os demais movimentos históricos. 
O humanismo, a constituição dos Estados Nacionais, a construção do método científico, a 
organização racional de uma economia e da vida, a nova visão do trabalho e os novos grupos 
religiosos são eventos inter-relacionados que moldaram o período que chamamos de Modernidade. 
 
13 
 
 
Neste capítulo, nos propomos a analisar o movimento reformador dentro do cristianismo. No primeiro ponto, 
discutimos o contexto de mundo que possibilitou o acontecimento da chamada Reforma Protestante. As novas 
descobertas geográficas, a política, a economia, a cultura, enfim todos os aspectos que, casados com a 
Reforma, moldariam a Modernidade. 
No segundo ponto, analisamos a vida do monge Lutero, sua inquietação na busca pela salvação e o retorno à 
leitura da Bíblia como única autoridade para o cristianismo. Buscamos interpretar o simbolismo dessa vida para 
os rumos da História e do cristianismo. 
No último ponto, apresentamos o movimento reformador dos anabatistas, calvinistas e anglicanos. Pelo pouco 
espaço que temos, apresentamos as ideias gerais que cada movimento defendia e os lugares em que se 
estabeleceram. 
 
A Reforma ficou conhecida como Reforma Protestante. Mas protesto de quê? O monge Lutero não tinha a 
intenção de romper com a Igreja de Roma, mas estava decidido a viver um cristianismo autêntico. Por isso, 
não iniciou um movimento que não teria volta e viu na ruptura o único caminho. Porém, ele sabia que em todo 
o lugar e tempo a Igreja poderia assumir uma vida divergente daquela revelada por Jesus. Por isso, afirmava 
que a Igreja reformada deveria ser sempre uma Igreja em reforma. Ou seja, sempre buscar a autenticidade da 
vida cristã. 
 
A Igreja Católica nos tempos de Lutero afirmava que a revelação deveria ser compreendida por meio das 
escrituras e da tradição, e o magistério eclesiástico era o único capaz de interpretá-las, a ponto de os leigos 
não terem acesso à Bíblia. Lutero rompe com essa visão, afirma que somente a escritura era autoridade para 
a comunidade cristã e todas as pessoas poderiam ter acesso a ela. 
 
Para Lutero somente a fé, a escritura, Cristo e a Graça poderiam salvar o ser humano. Nenhum esforço humanopode merecer o céu. A salvação é pura gratuidade de Deus. O contexto de afirmação dessas verdades se deu 
no momento em que a Igreja Católica vendia indulgências e a fé se perdia em práticas supersticiosas. 
 
 
14 
 
 
A interpretação da Doutrina da Justificação pela Graça e Fé dividiu católicos e luteranos há mais de 500 anos. 
Todavia, em 1999, as duas comunidades cristãs assinaram um tratado que declara que ambas concordam 
com a afirmação fundamental de que a salvação só pode ocorrer pela Graça e por meio de Jesus. Diante disso, 
investigue sobre esse tratado e suas afirmações. 
 
 
A Reforma Protestante é um movimento que nasce conectado com demais movimentos históricos que 
possibilitaram o surgimento do mundo moderno. Dos movimentos elencados a seguir, o único que não 
contribuiu para o surgimento do mundo moderno foi: 
a) Afirmação dos Estados Nacionais. 
b) Descobertas de novos territórios na geografia. 
c) Pensamento humanista. 
d) Economia capitalista. 
e) Teologia escolástica. 
A resposta correta é a letra “E”. A teologia escolástica foi o pensamento que deu sustentação ao catolicismo 
no período da Baixa Idade Média. 
 
 
1 - A Reforma Protestante introduziu na questão religiosa do continente europeu a pluralidade. Se antes a 
Igreja de Roma, com sua visão universalista, se impunha, agora os Estados Nacionais afirmavam suas próprias 
visões da religião. Dos quatro grandes movimentos reformadores, indique aquele que não pertence a esse 
período: 
a) Luteranismo. 
b) Pentecostalismo. 
c) Calvinismo. 
d) Anabatistas. 
e) Anglicanismo. 
 
 
15 
 
 
No link, você será direcionado a uma revista acadêmica intitulada “Protestantismo em Revista”. A revista, feita 
de artigos científicos, debate o protestantismo na atualidade e os temas a ele correlacionados. 
http://revistas.est.edu.br/index.php/PR 
 
 
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 11. ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. 
Nesse livro, o sociólogo Max Weber apresenta como a concepção de vocação e de ascetismo do movimento 
reformador conjugou-se muito bem com a nova visão de trabalho apresentada pelo capitalismo. Assim, a 
religião assumiu a ética secular para seu interior, e o capitalismo assumiu como que um ‘espírito’, categoria 
religiosa que explica seu funcionamento. 
 
 
Pesquise em sites e meios bibliográficos sobre os movimentos luterano, calvinista, anglicano e demais igrejas 
históricas que compõem o cristianismo. Esses grupos se dividiram grandemente ao longo da História. Todavia, 
nos dias atuais, por meio de inúmeras iniciativas constroem um diálogo ecumênico e de aproximação. 
 
 
• Língua Vernácula – é o nome que se dá a um idioma próprio de uma nação, região ou um país. No 
tocante ao cristianismo, na Idade Média, a Bíblia só era permitida em latim, a chamada Vulgata. Lutero 
traduziu para o alemão, sua língua vernácula. 
• Devotio Moderna – movimento de renovação apostólica e espiritual entre os séculos XIV e XVI. 
Buscando uma vida mais próxima das fontes cristãs, seus seguidores viviam de maneira simples e 
numa espiritualidade ascética. 
 
http://revistas.est.edu.br/index.php/PR
 
16 
 
 
Resposta: 
1 – Alternativa “B” 
 
 
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 11. ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. 
CAIRNS, Earle L. O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja Cristã. 2. ed. São Paulo: Vida 
Nova. 1995. 
 
 
 
 
 
17 
 
UNIDADE I 
CAPÍTULO 2 – CONTRARREFORMA CATÓLICA: O CONCÍLIO 
DE TRENTO 
No término deste capítulo, você deverá saber: 
✓ Entender o contexto que levou a Igreja Católica a empreender uma reforma; 
✓ Conhecer a história do Concílio de Trento; 
✓ Compreender as definições e as novas diretrizes para a Igreja Católica; 
✓ Vislumbrar o alcance do Concílio de Trento no interior e no exterior da Igreja Católica. 
Introdução 
Na Física, existe um princípio de que toda ação tem uma reação. A transposição desse princípio para 
a ciência histórica, sem a devida contextualização, pode ser problemática. Porém cabe uma 
pergunta: se não houvesse a Reforma Protestante, teria o catolicismo se reformado? Pensamos que 
a resposta seja não. 
É verdade que a reforma católica não é fruto apenas da controvérsia com Lutero, pois movimentos 
reformadores já solapavam o corpo da Igreja há algum tempo. Todavia, o movimento de Lutero 
impulsionou profundamente o catolicismo a se repensar como instituição religiosa. Se, com o 
surgimento dos Estado Nacionais, o poder temporal já sofria crises, com o aparecimento do 
protestantismo até mesmo o poder religioso da Igreja Católica estava sob ameaça. 
Nesse contexto de crise política e religiosa, a Igreja Católica foi forçada a pensar uma 
Contrarreforma. Esse movimento ocorreu com o Concílio de Trento, que é o tema deste capítulo. 
Para entender melhor a Contrarreforma, vamos contextualizá-la, entrar em contato com suas 
definições e vislumbrar o alcance de sua afirmação na vida prática do catolicismo. 
2.1 Contextualização do concílio 
Conforme dito no capítulo anterior, a Reforma Protestante, em conjunto com outras grandes 
mudanças ocorridas, representou uma verdadeira revolução na História. A Modernidade, tempo 
vivenciado por nós até hoje, inicia-se com esses grandes movimentos. A visão de mundo criada e 
sustentada pela Igreja Católica por mil anos ruiu. E agora, como ficaria a Igreja Católica em meio a 
tudo isso? 
Se o tempo era de reformas, a Igreja Católica também empreenderia a sua. Desde o século XI, 
pequenas reformas vinham acontecendo no interior da Igreja. A reforma do mosteiro de Cluny, o 
surgimento das Ordens Mendicantes, o surgimento dos Clérigos Regulares, os diversos grupos 
espiritualistas, enfim, uma infinidade de movimentos, maiores ou menores, que indicavam a 
necessidade de mudanças. 
Se Lutero, Calvino e os demais empreenderam a Reforma, a Igreja Católica fez a chamada 
Contrarreforma, com a celebração e a irradiação do Concílio de Trento. Se Lutero questionara a 
 
18 
 
tradição, a Igreja irá reafirmá-la. Se os sacramentos são questionados, a Igreja os defenderá. Enfim, 
a Igreja Católica interpretou no movimento empreendido por Lutero e demais protestantes um 
questionamento de sua identidade. O Concílio de Trento marcaria o primeiro movimento da Igreja no 
interior da Modernidade. 
O Concílio de Trento aconteceu 28 anos após o surgimento da Reforma, entre os anos de 1545-
1563. Antes dele, figuras como Catarina de Sena (+1380), Joana d’Arc (+1431), Mestre Eckhart 
(+1327), Suzo (+1361), Tauler (+1361) João van Ruysbroeck (+1381), mergulhados na realidade do 
povo, clamavam por um cristianismo mais místico e evangélico. É interessante destacar, ainda, que, 
com exceção das duas mulheres, todos os outros estavam situados na Alemanha ou na Holanda, 
países onde a Reforma tomou grandes proporções. 
No campo intelectual, o humanismo foi o grande responsável por preparar o caminho para a Reforma 
católica. Tomás Moro (+1535), John Fisher (+1535) e, em especial, Desidério Erasmo (+1536) foram 
os responsáveis por pensar um cristianismo com base nas inspirações humanistas. Este último 
mostrou muita maestria para criticar e combater os erros da Igreja Católica de seu tempo. Para ele, 
cultura, natureza e cristianismo não eram coisas opostas, mas complementares na formação do ser 
humano. A leitura crítica da Bíblia e dos padres da Igreja possibilitou a renovação da piedade no 
contato com as fontes cristãs. 
O movimento surgido nos grupos espiritualistas e no humanismo cristão ganharia a adesão do povo 
por meio das Ordens Religiosas. Se as diversas ordens religiosas conseguiam manter alguma 
espiritualidade profunda, o novo tempo pediu, também, novas ordens. Foi assim que sugiram 
diferentes ordens, dentre as quais podemos citar: Teatinos, Barnabitas, Ursulinas, Irmãos de São 
João de Deus, Franciscanos Capuchinhos, Jesuítas, entre outros. 
Essas ordens estavam voltadaspara a pregação, o cuidado da saúde, viver a vida das pessoas como 
elas viviam. Os Jesuítas, fundados por Santo Inácio de Loyola, por exemplo, foram fundados com 
uma inspiração de santificar a vida apostólica, ou seja, contemplar a Deus na vivencia da ação, no 
encontro com o outro. Essas novas congregações encontraram um dinamismo maior perante as 
regras das demais congregações, a fim de atuarem na pastoral. Só assim as reformas dos demais 
grupos seriam capazes de chegar ao povo. 
Esses grupos de religiosos, em especial os Jesuítas, que têm, até os dias atuais, um voto de 
obediência ao Papa, seriam de grande utilidade para a irradiação da reforma conciliar que ocorreria. 
Assim, esse novo momento fez emergir uma nova espiritualidade católica, um trabalho apostólico 
mais elaborado e renovado e um importante encontro entre fé e cultura. 
O entusiasta empenho apostólico fez dos jesuítas a vanguarda do renascimento 
católico nos mais diversos campos: formação da juventude em nível intelectual e 
religioso; missões na Ásia, África e América, progresso da ciência, direção de retiros 
espirituais [...] e associações religiosas de leigos, [...] criação de um estilo artístico 
próprio dentro do barroco e da liturgia. (MATOS, 1997, p. 70) 
Com tudo isso, somado ao movimento da Reforma Protestante e à necessidade de renovação frente 
a um novo tempo, a Igreja Católica repensaria sua forma de ser e estar no mundo a partir de então. 
Esse movimento de renovação chegou às estruturas de poder com o Concílio de Trento. 
 
 
19 
 
2.2 O Concílio de Trento 
Para a Igreja Católica, um concílio é a reunião de bispos que definem aspectos doutrinários e 
pastorais mais urgentes. Assim, ao longo da História, quando aparecia uma divisão, um grupo 
considerado herético e que ameaçasse a unidade ou a necessidade de definir normas diversas, a 
Igreja se reunia em concílio e definia as novas diretrizes ou a afirmação do dogma. Na História, houve 
concílios regionais e outros universais, válidos para a Igreja como um todo. 
Conforme falamos, o momento, sob diversos aspectos, era propício para a celebração de um 
Concílio. 
Da parte católica, já havia um movimento reformista iniciado ainda na Idade Média, 
conhecido como Reforma Gregoriana, em alusão ao papa Gregório VII (1073-1085), 
e que teve avanços e retrocessos ao longo dos séculos. Entretanto, fazia-se urgente 
que os reformadores tivessem uma resposta. Esta era uma demanda do clero 
católico e uma exigência do Imperador Carlos V. Esse, preocupado por ter seu 
império dividido entre católicos e reformados, buscava impor uma solução 
conciliatória, que preservasse a unidade de seus domínios. Nessa tensão, celebra-
se o Concílio de Trento, cerne da Reforma Católica Moderna. (ENGEMANN, 2021) 
A necessidade do concílio era inquestionável. Mas o que o impedia de ocorrer? A alta hierarquia da 
Igreja. Clemente VII (+1534) teve uma atuação mais voltada para o governo da Itália do que para as 
questões religiosas. Em 1526, os turcos vencem os cristãos, conquistando a Hungria para o Islã. Em 
1527, o imperador Carlos V e seus militares saqueiam a cidade de Roma, promovendo uma 
represália. 
Paulo III substitui Clemente VII e inicia uma reforma. Ele reorganizou a inquisição, criou o Index, 
nomeou uma comissão de cardeais para pensar as reformas. Assim, pôs ordem nos governos da 
Igreja e criou as condições para a convocação do Concílio. Em 1545, numa escolha difícil da cidade, 
inicia-se o Concílio de Trento. 
A escolha difícil se deu pelo fato de que o próprio Lutero e os reformadores ansiavam por um Concílio; 
como dito anteriormente, Lutero não pretendia a divisão, mas a renovação. Porém, os reformadores 
queriam que o Concílio ocorresse na Alemanha, lugar de origem do conflito e se negavam a ir a 
Roma. 
O Papa Paulo III se reuniu com o Imperador Carlos V e acertaram a convocação do Concílio em 
1536. Assim, foi convocado para o ano seguinte o Concílio em Mântua, na Itália. Todavia, o 
imperador iniciou uma guerra contra Francisco I e, somado a isso, as exigências do duque da cidade 
impediram que ele ocorresse. Pensou-se em transferir o Concílio para Vicenza, porém não foi 
possível. 
A expansão rápida dos reformadores e a proximidade de seu movimento com a Itália fizeram com 
que a Cúria Romana escolhesse a cidade de Trento, estrategicamente pensada por pertencer ao 
Império e ser de fácil acesso para os bispos italianos. 
Esse espírito de perturbação não cessou durante o Concílio. Se este foi um dos mais importantes na 
história do catolicismo, também foi um dos mais conturbados, pois ocorreu num período de guerras 
e divisões. Por causa disso, ele foi interrompido duas vezes, de 1547 a 1551 e de 1552 a 1562. Em 
1563, foi finalmente encerrado. 
 
20 
 
Além das guerras, o nacionalismo foi um dos grandes desafios para o Concílio, pois este pretendia 
ser universal, mas o contexto dos bispos era de afirmação de suas nacionalidades e interesses, é 
obvio. O imperador esperava a unificação religiosa do Império. Franceses e alemães se uniam contra 
os italianos. No fim, quando conseguiram se entender, a Igreja saiu com o princípio da ideia de que 
o poder religioso deveria se afastar do poder civil. Essa foi uma semente que levou tempo para 
germinar, mas que deu seus frutos na modernidade. 
As decisões do Concílio, pelo ambiente e conturbações relatadas, foram muitas, mas podem ser 
colocadas em três grupos. Fizemos uma tabela para melhor visualização: 
CONTEÚDOS AÇÕES 
Doutrina da fé católica 
Definiu mais precisamente os dogmas, propiciando uma 
interpretação mais assertiva. Diferenciou o cristianismo 
católico do cristianismo protestante. Como os fiéis tinham 
dificuldade de diferenciar um grupo de outro, o catolicismo 
motivou a difusão de sua identidade. 
Decretos disciplinares 
Buscou normatizar a vida do clero e do povo cristão. Os 
bispos não poderiam mais residir fora da diocese, ou seja, 
deveriam ser pastores daquele povo, já que o episcopado 
havia se tornado como que um cargo, tendo bispos que 
ficavam fora da diocese, até mesmo, por anos. Foi instituído 
a criação de seminários para a formação do clero, já que 
anteriormente tinha-se um clero muito malformado, gerando 
muito desvios. 
Sacramentos 
O Concílio definiu os sete sacramentos e instruiu o povo na 
participação assídua nos sacramentos. Com isso, buscava-
se superar práticas de piedade suspeitas ou com pouco 
controle. Reafirmou-se a obrigação da missa dominical e a 
comunhão e confissão anuais. 
 
Diante disso, vimos que um grande movimento, gestado por anos, levou a hierarquia da Igreja a 
promover o Concílio. Encerrado esse período, outro trabalho era importante e levaria décadas: a 
difusão do Concílio. Numa estrutura universal e com realidades tão díspares, esse é um trabalho 
dispendioso, porém necessário. 
2.3 A irradiação do Concílio de Trento ou a difícil reconstrução do catolicismo 
Conforme já apontado anteriormente, a celebração do Concílio de Trento pode ser interpretada como 
um ponto de chegada com relação às reformas que vinham questionando o catolicismo. Porém, sob 
outra perspectiva, também era um ponto de partida, já que os anos de crise e de relaxamento da fé 
produziram muita ignorância, um povo malformado nas questões religiosas e sem clareza da própria 
identidade. 
 
21 
 
Assim, os séculos subsequentes foram de grande militância, a fim de construir uma identidade 
católica sólida. O poder civil, ainda que sob a nova face dos nacionalismos, tentava dominar as 
heresias, pois a ortodoxia atacada era sinônimo das bases da sociedade colocadas em risco. Esse 
fenômeno aconteceu tanto no mundo católico quanto no mundo reformado. Esse ambiente foi 
propício para as guerras religiosas, tema que estudaremos adiante. 
Na Itália e na Espanha, o protestantismo não teve grande penetração, mesmo porque o poder da 
Igreja Católica se manteve bastante arraigado. Além dosinstrumentos já conhecidos, como a 
inquisição e a perseguição dos divergentes, a educação da juventude e as grandes missões 
populares conseguiram manter o catolicismo. 
Na Escandinávia e na Inglaterra, o protestantismo tornou-se religião de estado. Na França, os 
calvinistas conseguiram muitos adeptos, inclusive nas castas mais altas da sociedade, e lograram o 
Edito de Nantes em 1598, o que lhes deu muita liberdade. Porém, os católicos empreenderam uma 
profunda reforma no catolicismo francês e se mantiveram como religião majoritária. 
Na Alemanha, os Jesuítas se dedicaram à formação do clero, e Pedro Canísio (+1597), santo para 
os católicos, empreendeu uma Contrarreforma na Alemanha, com base em um catecismo em forma 
de pergunta e resposta que elucidava a fé católica para o povo, tendo grande penetração nas 
camadas populares. A Alemanha ficou dividida entre o norte protestante e o sul católico. Na Holanda, 
o calvinismo foi vencedor. 
No campo externo, a Igreja Católica mantinha sua imagem triunfal atrelada ao poder. Em 1626, a 
conclusão da Basílica de São Pedro demonstra sua força. No contexto interno, a centralização do 
governo da Igreja na figura do Papa deu mais unidade à Igreja, frente a um protestantismo que se 
dividia em muitas correntes. 
Apesar disso, politicamente falando, a Igreja havia perdido muito de seu poder, em especial se 
compararmos com o período medieval. Todavia, esse fator havia sido benéfico, pois suas lideranças 
lançaram um olhar mais aprofundado para as questões espirituais. Com a nova configuração, a Igreja 
Católica teve que pensar sua missão dentro dos estados nacionais, já que os reis buscavam intervir 
na vida eclesiástica, em especial na nomeação dos bispos. Esse é um fator que principiaria, com 
mais força, a luta pela separação dos poderes temporal e espiritual. 
Internamente, “desenvolvia-se na Igreja uma espiritualidade que se encontrava no mistério do 
homem, portador do pecado original, mas igualmente capaz de erguer-se e de ir ao encontro de 
Deus” (MATOS, 1997, p. 150). A Teologia entra pelo caminho da apologética, ou seja, da defesa da 
fé contra os princípios heréticos. A fundação dos seminários se espalha por todos os rincões 
católicos. As missões populares levavam grandes massas para a pregação e proporcionavam a 
difusão da reforma católica. Muitas congregações religiosas seriam fundadas com essa missão. 
Enfim, sob muitos aspetos, o catolicismo se renovou ou buscou enfatizar dimensões de sua 
espiritualidade que haviam sido deixadas no ostracismo pelas configurações de poder em que a 
instituição eclesiástica se metera. As missões, o retorno aos sacramentos, o surgimento de novas 
congregações religiosas, as novas espiritualidades fizeram do Concílio de Trento uma verdadeira 
revolução para o mundo católico. 
 
22 
 
A prova mais cabal desse reflorescimento foram as grandes escolas místicas surgidas nesse período. 
Além dos Capuchinhos e dos Jesuítas, já citados, Teresa de Ávila (+1587) e João da Cruz (+1591), 
na Espanha, empreendem uma reforma profunda na Ordem Carmelita, surgindo um ramo reformado 
dentro dessa ordem. Francisco de Sales (+1622) e Vicente de Paulo (+1660), na França, constroem 
caminhos espirituais de grande valor. Todos foram considerados santos pelos católicos e estão entre 
os nomes dos maiores místicos produzidos pelo catolicismo. 
Além desses movimentos, tantos outros surgiram na esteira da reforma católica. Ainda os 
estudaremos em outro tópico de nosso livro. Porém, é importante perceber que o novo tempo surgido 
das diversas transformações trouxe uma nova configuração para o cristianismo. 
2.4 Considerações finais 
Muitos dos movimentos surgidos na Modernidade devem ao cristianismo a base para sua possível 
realização: secularização da esfera pública, laicidade do estado, direitos humanos, pluralidade de 
ideias, entre outras coisas. O fator religioso não é a única base, mas sem ele não se explica por que 
a Modernidade Ocidental assim se configurou. 
Assim, se o cristianismo influi sobre a Modernidade, é claro que a Modernidade também atingiu o 
cristianismo. No século XVI, presos ao momento histórico de conflitos e controvérsias, católicos e 
protestantes buscaram construir estruturas religiosas que atendessem ao novo tempo que surgia. 
Diante disso, a Reforma Protestante e a Contrarreforma católica, com o Concílio de Trento, são dois 
momentos-chave e importantes para compreendermos nosso mundo. Atualmente, cristãos do mundo 
inteiro buscam a unidade no essencial e veem a diversidade nas particularidades como um valor. 
Essa conquista é uma longa história, fruto da afirmação das identidades plurais. 
 
Neste capítulo, apresentamos o movimento reformado no interior da Igreja Católica, ou seja, a Contrarreforma, 
que representou o Concílio de Trento. No primeiro ponto, apresentamos o contexto dessa reforma católica e a 
conectamos com o momento final da Idade Média, em que grupos católicos já buscavam a reforma do 
catolicismo. 
No segundo ponto, apresentamos como se deu o Concílio de Trento e suas definições. Imerso no caos de 
conflitos e guerras, a celebração desse Concílio representa uma grande virada para o catolicismo e o resgate 
da atenção para a dimensão espiritual numa instituição que, na luta por poder e prestígio, havia se perdido, 
em especial suas lideranças. 
Por fim, apresentamos as consequências e o alcance do Concílio no corpo da Igreja Católica. O surgimento de 
novos grupos, o aparecimento dos novos místicos e uma dedicação pastoral mais aprofundada, preocupada 
com o bem-estar de seus fiéis. O cuidado especial dado à formação do clero e à vivência sacramental. Tudo 
isso fez o catolicismo se repropor em um novo mundo. 
 
 
23 
 
 
As discussões envolvendo as Igrejas Reformadas e a Igreja Católica estavam centradas, em especial, no tema 
da Graça de Deus, justificação do ser humano, alcance do pecado original e o papel da liberdade humana no 
processo de salvação. Em resumo, a imagem de Deus e sua relação com o ser humano. É ancorada nesse 
debate, também, que a Modernidade faz a virada antropológica, colocando o ser humano como centro de todas 
as coisas. 
 
 
A ideia de sacramentos, a organização do clero, a formatação do culto, a ideia de livros sagrados, entre outras 
coisas, já estavam presentes na Igreja Católica há muito tempo. O Concílio de Trento apenas delimitou e 
afirmou com clareza quais eram os sacramentos, como interpretar os dogmas, de que forma organizar a ação 
da Igreja. Ou seja, foi um concílio pensado para dar solidez a questões que estavam abertas a múltiplas 
interpretações. 
 
 
As Ordens Mendicantes, surgidas no século XII como ar de renovação, precisaram ser reformadas no século 
XVI por viverem um estilo de vida distante do povo, entregues ao luxo e aos privilégios, formando, assim, uma 
casta. Os reformadores buscavam retornar ao estilo de vida evangélico. Assim sendo, o princípio de Lutero de 
que a Igreja Reformada era uma Igreja sempre em Reforma é válido para todas as religiões. Todas elas, ao 
longo da História, precisam se questionar sobre seu estilo de vida. 
 
 
A teologia sacramental da Igreja Católica difere da teologia sacramental da Igreja Luterana. Para os católicos, 
são sacramentos aqueles ditos por Jesus ou expressos em sua intenção, sendo: Batismo, Eucaristia, Crisma, 
Unção dos Enfermos, Penitência, Ordem e Matrimônio. Para Lutero, os sacramentos tinham que ser 
expressamente ditos por Jesus e eram apenas dois: Batismo e Eucaristia. A palavra “sacramento” pode ser 
traduzida por mistério: quais são os mistérios celebrados pelas diversas denominações cristãs? 
 
 
24 
 
 
O Concílio de Trento representou o movimento de Contrarreforma da Igreja Católica frente aos desafios que a 
realidade lhe impusera, em especial a Reforma Protestante. Das definições desse Concílio, estão todas 
elencadas a seguir, exceto: 
a) O bispo deveria morar em sua diocese. 
b) Criaçãodos seminários. 
c) Fundação de ordens religiosas. 
d) Definição dos sete sacramentos. 
e) Definição mais precisa dos dogmas. 
A resposta correta é letra “C”. A fundação de novas ordens religiosas ocorreu antes e depois do Concílio de 
Trento e, até mesmo, motivada por ele. Todavia, o Concílio não definiu quais ordens religiosas deveriam ser 
fundadas; elas surgiram como um movimento espontâneo dentro da Igreja Católica. 
 
 
1. No quadro geral da Europa, dois países, mesmo com toda a efervescência da Reforma Protestante, 
mantiveram-se fortemente católicos. São eles: 
a) Espanha e Itália. 
b) Espanha e Holanda. 
c) Itália e França. 
d) Inglaterra e França. 
e) França e Alemanha. 
 
 
O link o direcionará para a Enciclopédia Digital Theológica Latinoamericana. Nela, há um tópico chamado 
“História da Teologia e do Cristianismo”, em que você encontrará bons artigos sobre a história do cristianismo, 
em especial na Modernidade. 
http://teologicalatinoamericana.com/ 
 
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25 
 
 
MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à História da Igreja. v. 2. Belo Horizonte: O Lutador, 1997. 
Esse livro de Henrique Matos narra a história da Igreja Católica nos períodos moderno e contemporâneo. Com 
riqueza de detalhes e fatos, com imagens e mapas conceituais e, acima de tudo, com uma linguagem fácil e 
acessível, nos ajuda a compreender bem a história da Igreja Católica nesse período da História. 
 
 
Os concílios representaram, para Igreja Católica, o momento de definir suas doutrinas, organizar suas ações 
e pensar sua forma de ser Igreja. Ao longo dos séculos, no corpo da Igreja, muitos foram os momentos em que 
foi preciso rever sua caminhada para manter sua unidade. Em nosso tempo, a Igreja Católica vive no processo 
de implementação das diretrizes de outro concílio: o Concílio Vaticano II. Pesquise sobre ele e veja como foi 
determinante para a Igreja Católica entrar no diálogo ecumênico. 
 
 
• Apologética – um modo de apresentar a doutrina marcada pela defesa da fé com critérios racionais. 
• Cúria Romana – órgão administrativo que governa a Igreja Católica. 
• Index – índice de livros que eram considerados heréticos. 
• Vida Apostólica – modo de vida, em especial de religiosos católicos, marcados pela pastoral, no 
contato com o povo, no serviço as comunidades. 
• Humanismo Cristão – corrente de pensamento que interpretou as bases cristãs do humanismo, 
mostrando não haver contradição entre as teses defendias pelo humanismo e o cristianismo. 
 
 
Resposta: 
1 – Alternativa “A”. 
 
 
26 
 
 
MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à História da Igreja. v. 2. Belo Horizonte: O Lutador, 1997. 
ENGEMANN, Carlos. Cristianismo Moderno. Disponível em: teologicalatinoamericana.com. Acesso em: 12 
dez. 2021. 
 
 
27 
 
UNIDADE II – ENTRE GUERRA E NOVOS 
PENSAMENTOS 
CAPÍTULO 3 - CONFLITOS RELIGIOSOS NA EUROPA 
No término deste capítulo, você deverá saber: 
✓ Compreender o contexto histórico-social dos conflitos religiosos na Europa; 
✓ Conhecer os principais conflitos e suas causas; 
✓ Perceber como a ideia de tolerância foi sendo gestada; 
✓ Aprofundar a importância de hermenêuticas não excludentes. 
Introdução 
A quebra de uma mentalidade uniforme de mundo e afirmação da diversidade não aconteceu de 
maneira pacífica e harmoniosa. Como ocorrido em outros contextos históricos, a divisão de um grupo 
em outros grupos não se dá sem que estes queiram afirmar a sua identidade em detrimento dos 
outros. 
Além disso, a associação da religião como instrumento de paz e dissociado do tema da violência é 
coisa atual. Na história da humanidade, ainda que as guerras não se limitassem ao tema religioso, 
elas tinham também esse componente entre suas causas. 
Assim, neste capítulo, aprofundaremos os conflitos religiosos que assolaram a Europa no período 
posterior à Reforma. Veremos como os temas político e social se relacionam com o religioso. Por 
fim, vislumbraremos o início de uma legislação de tolerância frente ao diferente que resultaria, 
posteriormente, na liberdade de religião. 
3.1 Religião e nacionalidade: os conflitos se multiplicam 
Os grandes movimentos históricos e as grandes revoluções foram marcados por muitos conflitos, 
guerras e sangue. A história raramente viu mudanças de rumos produzidas em harmonia e 
tranquilidade. Na virada da Idade Média para a Modernidade não foi diferente. 
Para a construção dos Estados Nacionais o ódio e o desejo de aniquilamento do outro foi um fator 
preponderante. Na luta por territórios, as nações europeias empreenderam um enorme esforço 
humano, bélico, econômico etc. Todavia, esse movimento, já marcado pela violência, ganharia 
contorno ainda mais dramático: o profundo debate teológico fomentado pelos diversos grupos fez 
emergir os conflitos religiosos marcados pela intolerância da religião do outro. 
O que se viu na Europa dos séculos XVI e XVII foram lutas entre católicos e protestantes, 
protestantes contra protestantes e católicos contra católicos. Se na Idade Média, como foi fortemente 
divulgado nos estudos históricos, a Igreja Católica guerreou contra os inimigos externos e matou 
inimigos internos, os protestantes, onde se tornaram maioria, reproduziram o modelo. 
 
28 
 
Como o fator religioso se tornou evidente nesse contexto, em especial pela quebra de uma visão 
uniforme da fé, os historiadores chamaram muitos conflitos de guerras religiosas. Todavia há de se 
considerar, como temos feito até aqui, que, nesse momento da história, tudo está interligado. 
A fim de terminar com os conflitos de motivação religiosa, os monarcas, em busca de unificar os seus 
reinos, tinham quatro atitudes: separar, entrar em acordo, reprimir ou tolerar (CLOUSE, PIERARD, 
YAMAUCHI, 2003, p.256). Para exemplificar essas ações podemos citar¹: 
Soluções para questões religiosas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
_______________________ 
¹ Quadro retirado de: CLOUSE, R. G; PIERARD, R. V.; YAMAUCHI, E. M. Dois Reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos 
séculos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 263. 
Visto esse quadro geral, podemos perceber que as ideias de liberdade de religião e liberdade de 
consciência, vivenciadas por nós hoje, são frutos de uma longa história. O mundo, saído da Idade 
Média, via na questão religiosa um fator de unidade para o povo. A cristandade, como construída na 
Idade Média, não era a mesma, mas se mantinha no tempo. A novidade está no fato de não se ter 
apenas uma religião. Os arranjos para conseguir alcançar a harmonia dentro dos reinos demandaram 
muitos esforços. 
Para além de tudo isso, cabe salientar que as chamadas guerras religiosas estavam no contexto 
histórico-social-cultural da época. Assim, muitos grupos, como exemplo, os nobres ou camponeses, 
Divisão Acordo Supressão Tolerância 
Um país é dividido 
em territórios 
católicos e 
protestantes e o 
governo da região 
determina a fé que 
será praticada pela 
população. 
O Estado 
desenvolve um 
acordo que resolve 
as diferenças 
religiosas e todos 
têm de concordar. 
O Estado escolhe 
um lado na questão 
religiosa e elimina 
todos os 
dissidentes pela 
execução ou pelo 
exílio. 
O Estado permite 
que diferentes 
crenças coexistam 
com liberdade em 
seu território. 
Paz de Augsburg 
na Alemanha, 1555. 
Guerras Religiosas 
na França, 1562-
89, resultam em 
Henrique IV decidir 
ser católico, mas 
conceder aos 
huguenotes 
liberdade para 
praticarem a sua fé 
em áreas onde 
predominam. 
Elizabeth I e a 
adoção dos trinta e 
nove artigos 
definindo a crença 
da Igreja Anglicana. 
Maria Tudor na 
Inglaterra. 
Felipe II suprime 
toda dissidência na 
Espanha, mas não 
consegue impor o 
catolicismo aos 
holandeses. 
A Holanda no final 
dos séculos XVI e 
XVII. 
Roger William em 
Rhode Island e 
William Penn na 
Pensilvânia 
determinam que 
todas as pessoas, 
de diferentescrenças, tivessem 
liberdade para 
adorar e professar 
sua fé. 
 
29 
 
viam nas revoltas religiosas um meio de demonstrar o seu descontentamento com o poder real. A 
crueldade marcou esse período e cidades inteiras chegaram a ser arrasadas. Os assassinados se 
multiplicavam, assim como era grande o número de refugiados. 
Um dos acontecimentos mais trágicos foi o massacre do Dia de São Bartolomeu 
(agosto de 1572). Ele aconteceu por ocasião do casamento de Henrique de Navarro 
[...] com Margarete de Valois, irmã do então rei, Carlos IX. Esse relacionamento abria 
a possibilidade de que um protestante pudesse acabar tornando-se rei da França. 
Catarina, determinada a impedir que isso acontecesse, tramou com a facção católica 
a matança dos protestantes que haviam se juntado para a celebração em Paris. [...] 
Multidões de parisienses não tardaram a entrar na luta e o massacre espalhou-se até 
para as províncias. Estimativas do número de mortos ficaram na casa das dezenas de 
milhares [...]. (CLOUSE, PIERARD, YAMAUCHI, 2003, p. 257). 
Diante de tudo isso, podemos afirmar que, na formação do Mundo Moderno, a religião teve fator 
preponderante. Não é sem razão que na luta, posterior, pelos direitos humanos, em especial no 
tocante à liberdade, a questão religiosa estivesse posta. A relação entre religião e Estado, em que 
pese o movimento de secularização, sempre esteve presente. 
3.2 A guerra dos trinta anos 
Como já relatado por nós, muitos foram os conflitos que tinham, também, motivação religiosa. Porém, 
de todas as regiões da Europa, a região do Sacro Império Romano foi a que esteve mais imersa 
num conflito com motivação religiosa. O Império tinha uma formação multiétnica e, no decorrer dos 
anos, teve sua formação territorial alterada. Todavia, o território que hoje chamamos de Alemanha 
sempre foi importante e central. 
O fato é que nesse espaço o conflito entre Igreja Católica e Luterana foi muito intenso. E, apesar da 
Paz de Augsburg, a manutenção desse acordo foi muito difícil. Coisa que intriga os historiadores é o 
porquê de a reforma ter perdido força dentro do território em que ela foi gestada? Porém, sabemos 
que o declínio econômico da Alemanha, a grave crise social e o baixo impacto da reforma em 
questões sociais em detrimento de uma doutrina sólida podem ser fatores que explicam o 
enfraquecimento do luteranismo na Alemanha. 
Diante desse quadro e de uma Igreja Católica que, apesar da crise, mantinha muito poder, o 
catolicismo voltou a conquistar o seu poder no Sacro Império e a influenciar nos rumos políticos. Em 
jogo estavam dois pontos: 1) cada príncipe poderia determinar a religião de sua localidade; 2) os 
líderes eclesiásticos que se convertiam ao protestantismo deveriam deixar as terras para a Igreja. 
Assim, se mantinha uma maioria católica nas decisões do império. 
Gebhard Truchsess (+1601), nomeado bispo de Colônia em 1577, se converteu ao protestantismo 
em 1582. A lei da reserva eclesiástica, que lhe tirava o poder sobre a terra, foi invocada. O exército 
foi enviado para garantir a lei. Príncipes protestantes prometeram ajuda, mas não o apoiaram 
suficientemente, pois suspeitavam que ele tinha predileção pelo calvinismo. Assim ele foi deposto e 
substituído por Ernesto da Bavária, duque católico. 
Esse pequeno relato mostra a tensão e a complexa situação da relação das religiões dentro do sacro 
império. Para o Imperador, manter a ordem era uma tarefa difícil, mas fundamental para manter o 
seu poder. O que se viu nesse contexto foram os príncipes protestantes se unirem em associação 
para defender os seus interesses, assim como os católicos se uniram a uma liga católica. 
 
30 
 
Assim, com um elemento religioso fazendo parte da história, eclodiu a Guerra dos Trinta anos. Além 
da questão religiosa, havia o descontentamento dos príncipes com o rei e a luta entre a França e os 
Habsburgos (austríacos e espanhóis) pela hegemonia na Europa. 
Os historiadores costumam dividir a guerra em quatro fases principais: boêmia (1618-
25), dinamarquesa (1625-29), sueca (1630-35) e francesa (1635-48). As hostilidades 
aparentemente intermináveis e o envolvimento de centenas de milhares de soldados 
devastaram as áreas que foram palcos de lutas. A guerra começou como um conflito 
religioso, mas durante as duas últimas fases tornou-se essencialmente uma disputa 
política na qual a casa católica dos Bourbons na França, assustada com crescimento 
do poder dos Habsburgos, enviou tropas e dinheiro para apoiar a causa protestante 
(CLOUSE, PIERARD, YAMAUCHI, 2003, p. 257). 
A questão política se resolveu com a Paz de Westphalia em 1648. Foi esse o primeiro tratado 
moderno de paz internacional e modelo para outros que viriam. Ele indica também um movimento 
de secularização na Europa, pois pela primeira vez um tratado de paz não envolvia questões 
religiosas, mas apenas assuntos estatais. 
Os Habsburgos eram católicos e cresceram em poder fortemente. A França viu nesse crescimento 
o seu poder ameaçado, por isso apoiou os protestantes. Ao final da Guerra ela saiu vitoriosa e os 
protestantes conseguiram o reestabelecimento do acordo de Augsburg. Esse fator foi muito 
importante, pois os Habsburgos, muito próximos dos Jesuítas, tinham uma visão católica muita 
arraigada e exclusiva. 
Apesar das tensões permaneceram, de romper com a lei de que a conversão de um líder ao 
protestantismo implicava a perda do território, a aceitação da possibilidade de um príncipe se tornar 
calvinista, da independência de alguns estados, o Tratado de Westphalia é simbólico, pois ampliou 
o debate sobre a tolerância religiosa. Católicos e protestantes perceberam que não tinham forças 
para destruir uns aos outros. E que a convivência, ainda que tensa, era o melhor caminho. A 
Alemanha levou mais de um século para se reerguer. 
3.3 Conflitos na Inglaterra, controvérsia arminiana e controvérsia luterana 
Os ingleses não se envolveram na Guerra dos Trinta anos. O motivo foi o fato das grandes 
transformações internas. Elizabeth I morre no início do século XVII. Com isso, uma nova família 
ascendeu ao poder: os Stuarts. James I era o novo imperador. Ele tinha bastante educação e era 
muito culto, mas na direção do governo, quis seguir os métodos da dinastia anterior, os Tudors, com 
pulso firme e sendo déspota. Porém, o seu autoritarismo não foi aceito pelos ingleses e ele entrou 
em rota de colisão com o parlamento. 
No parlamento estavam representados os nobres, o clero na Assembleia dos Lordes e os burgueses 
na Assembleia dos Comuns. A dinastia Stuart não conseguiu se relacionar durante todo o seu 
período de governo com o parlamento e o resultado foi o processo que desembocou numa Monarquia 
Parlamentarista. Desde então, na Inglaterra, o parlamento foi quem comandou o governo e não o rei. 
Esse conflito gerado na Inglaterra colocava em jogo duas visões de mundo e que marcaria a ruptura 
que representou a Modernidade. O rei queria defender o seu poder de governar ancorado no direito 
divino, ou seja, o seu poder emana de Deus. O parlamento queria salvaguardar os direitos históricos 
 
31 
 
conquistados pelos ingleses, afirmando que os indivíduos precisariam consentir quanto ao controle 
exercido sobre eles e suas propriedades. 
Assim, nessa questão está posta uma problemática que Noberto Bobbio, em seu livro “A era dos 
diretos”, aponta: a Modernidade é o início de um novo tempo em que, antes de deveres para com a 
coletividade, o indivíduo tem direitos. É a era dos direitos, pois o Direito irá emergir como o guardião 
dos direitos dos indivíduos. Os tribunais precisariam garantir isso e fiscalizar o governo (BOBBIO, 
2004, p. 26-32). 
No campo religioso, os puritanos, ramo mais radical e ascético dentro do anglicanismo, pediram ao 
rei a simplificação das práticas religiosas e uma proximidade maior da teologia e das práticas 
anglicanas com o protestantismo. Porém, só receberam a autorização para traduzira bíblia. 
Se com os puritanos a relação era conturbada, com os católicos James I não estava inclinado a 
favorecer, a ponto de ter o seu assassinato apoiado pelos Jesuítas na Conspiração da Pólvora de 
1605. Nessa conspiração Guy Fawkes motivara os conspiradores a explodir o palácio e o parlamento. 
A chegada do novo rei Charles I que era arminiano conturbou ainda mais as relações religiosas. A 
questão era que o surgimento do anglicanismo na Inglaterra e a proximidade com os protestantes 
colocavam os questionamentos de como organizar a nova religião: manter estruturas católicas ou 
iniciar tudo do zero? 
A economia, os direitos civis e a necessidade relacionamento com o parlamento provocou longos 
embates na Inglaterra. Além disso, os conflitos externos, como exemplo o da Escócia, conturbavam 
ainda mais o quadro social e político do reino. Assim, nesse caldeirão efervescente, eclodiu uma 
guerra civil. 
Puritanos na Inglaterra, presbiterianos da Escócia e da Irlanda, católicos espalhados por todos os 
territórios tentavam emplacar a sua religião como religião de Estado. O parlamento, com essas 
diversas correntes travam lutas contra os reis que ora pretendiam o presbiterianismo, ora o 
puritanismo, ora o catolicismo. Assim foram os reinados de Charles I, Charles II e James II. 
Foi no filósofo John Locke que a Inglaterra conseguiu encontrar o caminho de sua organização. Para 
ele o governo é fruto de um contrato entre governante e cidadãos. A revolução é justificada se esse 
contrato é quebrado. O povo tem direito natural à vida, à liberdade e à propriedade privada, sendo o 
governante o responsável por salvaguardar isso. 
O melhor governo é aquele que é representativo, por isso, a escolha por uma monarquia 
parlamentarista. Além disso, Locke propunha a liberdade religiosa como um valor para o Estado, 
negando a existência apenas de ateus e católicos romanos, por representarem um perigo para o 
estado. 
Na Holanda a discórdia se deu entre os arminianos, seguidores de Jacobus Arminius (1560-1609) e 
os calvinistas. Arminius criou uma objeção ao calvinismo em cinco pontos: 1) A salvação é para todos 
que possuem fé; 2) Cristo morreu por todos; 3) O Espírito Santo é que ajuda ao ser humano a ter fé 
e permanecer no bem; 4) A graça de Deus não é irresistível; 5) É possível sair do estado de graça. 
 
32 
 
Os calvinistas conclamaram um concílio e reafirmaram os pontos de sua fé e condenaram os 
arminianos, a saber: 1) total pecaminosidade humana; 2) eleição incondicional; 3) expiação limitada; 
4) graça irresistível; 5) perseveranças dos escolhidos na graça. Essa discussão, somada a questões 
políticas, inflamou o contexto holandês. Os calvinistas saíram vencedores, ainda que o arminianismo 
permanecesse por um tempo. 
Na Alemanha, o calvinismo conseguira penetrar e causar conflitos com os luteranos. Além disso, 
dentro do próprio luteranismo surgiu um grupo considerado como verdadeiros luteranos que seguiam 
a Matthias Flacius Illyricus (+1573). Eles eram contrários a Melanchthon, que ficara a cargo da Igreja 
depois da morte de Lutero. Entre as acusações que faziam a esse líder estava a de ser tolerante 
demais com os católicos. 
A questão da Ceia do Senhor ou Eucaristia suscitou um intenso debate. Os católicos falam em 
transubstanciação, os luteranos defendiam a presença real, mas vinculada à comunidade, e os 
calvinistas acreditavam que se comungava do corpo e do sangue de Jesus, mas apenas 
espiritualmente. 
As discussões foram abrindo as diversas contradições que haviam no luteranismo. Muitas Igrejas 
Luteranas tinham sua própria confissão e a fragmentação era grande. Diante disso, em 1577 é 
celebrada a chamada Fórmula de Concórdia, que depois foi publicada em 1580. Ela unificou o credo 
entre luteranos dando uma base e promovendo a constituição de catecismos luteranos. Dois terços 
do luteranismo da época aderiram a essa fórmula. 
Os calvinistas não conseguiram fazer esse mesmo caminho. Os governos regionais na Alemanha se 
dividiram entres os luteranos e os calvinistas e essa divisão propiciou que os católicos, saídos do 
Concílio de Trento, ganhassem espaço. Além disso, essa discussão fez com que a Alemanha não 
pensasse nas grandes navegações, como Espanha e Portugal, mas ficasse voltada para dentro de 
si. 
Assim, ao final deste capítulo, podemos vislumbrar que o início desse novo tempo foi de muito conflito 
de forma geral, com grandes repercussões na questão religiosa, mas foi também momento de 
afirmação identidades. Hoje vivemos outro momento, mas a memória dessa história é de grande 
importância para evitar muitos erros futuros. 
Considerações Finais 
A pouco mais de um século, cristãos, das mais diversas denominações, iniciaram um movimento de 
diálogo e de encontro a fim de perceberem que no essencial há unidade e que a diversidade é uma 
riqueza. Esse movimento chamado de ecumenismo proporcionou bonitos testemunhos cristãos para 
mundo, em especial na luta pela justiça social. 
O fato é que conviver com a diferença é uma tarefa sempre difícil, mas essencial para os cristãos, já 
que, desde o início, a riqueza das diversas formas de seguir a Jesus esteve presente. A pluralidade 
e a diversidade não são temas contrários ou que estão distantes do cristianismo. 
Assim, sem negar a história, mas a assumindo, é importante dizer que a afirmação de uma identidade 
não implica necessariamente a diminuição do outro. A violência vivenciada na Europa no período 
 
33 
 
pós-reforma segue como memória de que quando se afirma a identidade negando o outro o resultado 
é a violência. 
 
Neste capítulo abordamos os conflitos religiosos que assolaram a Europa nos séculos XVI e XVII. No primeiro 
ponto, aprofundamos o tema dos conflitos religiosos apontando que o elemento religioso não era o único 
motivador. As questões políticas e sociais, somadas ao fator religioso, contribuíram fortemente para 
aprofundamento dos conflitos. Além disso, apresentamos como os diversos estados nacionais resolveram seus 
conflitos. 
No segundo ponto, abordamos a Guerra dos Trinta anos que ocorreu no Sacro Império Romano Germânico. 
Vimos como católicos e luteranos, vinculados às disputas dos diversos príncipes, lançaram-se uns contra os 
outros a fim de afirmarem os seus pontos de vista. 
Por fim, apresentamos os conflitos da Inglaterra, a controvérsia arminiana e luterana. Assim, ao final deste 
capítulo vimos que o surgimento da Modernidade, marcado pela afirmação dos estados nacionais e a 
pluralidade de caminhos religiosos, ocorreu nesse primeiro momento na luta de afirmação de sua nacionalidade 
ou de sua confissão religiosa. 
 
As nações que conhecemos hoje na Europa estavam sendo gestadas no fim da Idade Média e início da 
Moderna. Com isso, a afirmação de uma identidade nacional passava consequentemente pela afirmação de 
uma identidade religiosa. Foi com o tempo e fruto dos conflitos que os reis perceberam a importância da 
tolerância para manter a unidade. 
 
A mentalidade de cada grupo religioso foi determinante para construir o imaginário pátrio das nações surgidas 
nesse período. Assim, nos lugares em que a fé calvinista se afirmou, por exemplo, o capitalismo se impôs com 
mais celeridade. Nos lugares em que o catolicismo se manteve, o discurso sobre a busca pelo necessário e 
contrário à riqueza também se manteve. 
 
A Igreja Luterana viveu, após a morte de Lutero, o desafio de manter a unidade. A segunda geração dividiu-se 
em dois grupos que questionavam a forma como se interpretava a fé e se organizava a instituição. A afirmação 
 
34 
 
de uma doutrina foi importante para se restaurar a unidade do grupo. Nos dias atuais, como manter a unidade 
das comunidades cristãs? O que é o essencial? 
 
A controvérsia arminiana contrapôs uma mentalidade universalista da fé, que pensava que o Mistério Pascal 
era para todos, a outra que pensava na dupla predestinação do ser humano, em eleitos e condenados.

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