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Aspectos Anatômicos, Fisiológicos e Morfológicos de Plantas Forrageiras - Potencial Produtivo e Qualidade da Forragem Prof. DSc. Francisco Araújo Machado Disciplina: Forragicultura I - Zootecnia 6o Bloco 1. Introdução A anatomia, fisiologia e morfologia de qualquer planta influencia suas características! Influência sobre produtividade e qualidade da planta forrageira! Consequente influência sobre desempenho dos animais sob pastejo! O objetivo desta aula é comparar as principais famílias de plantas forrageiras quanto à anatomia, fisiologia e morfologia, enfocando as diferenças relacionadas ao potencial produtivo e a qualidade da forragem produzida. 2. Aspectos anatômicos de plantas forrageiras C3 e C4 Anatomia dos vegetais Parede celular Influencia o consumo dos animais! (Wilson, 1993) Parede celular dos vegetais: Conferi rigidez ao vegetal; Pode constituir até 80% da matéria seca da forrageira; Variação quanto à espessura, composição química e distribuição nos tecidos celulares; Composição – celulose, hemicelulose, lignina, e outros componentes (água, proteínas, minerais e pectinas). Wilson (1997) Parede celular dos vegetais - Lignificação: Ocorre quando a expansão celular cessa; Tem efeito negativo sobre a digestibilidade; Maior concentração na parede primária, porém conteúdo maior na secundária. Wilson (1997) Figura 1. Aspecto anatômico da parede celular do vegetal. Fonte: Taiz & Zeiger (2004) Arranjos estruturais dos tecidos - Epiderme: Plantas C3 - células com paredes retas de “frente e verso” (gramíneas temperadas) ou “fracamente lobadas” (leguminosas), de fácil digestão; Gramíneas tropicais (C4) - com paredes ao longo das células em formato “sinuoso”, forma esta que dificulta a quebra, separação e digestão. Wilson (1993) Arranjos estruturais dos tecidos - Mesófilo: Células genericamente de fácil digestão; Leguminosas e nas gramíneas temperadas (C3) - digerido com facilidade (mastigação e digestão); Gramíneas tropicais (C4) - estrutura “Kranz”, células da bainha vascular são ligadas as do mesófilo, dificultando a quebra e digestão. Wilson (1993) Figura 2. Estrutura básica da folha de planta C3. Fonte: Raven et al. (1996) Figura 3. Detalhe da anatomia Kranz, em torno dos feixes vasculares, de folha de planta C4 em visão tridimensional. Fonte: Taiz & Zieger (2004) Tecidos vegetais: Parênquima - lignificação da parede celular e conseqüente digestibildade proporcional ao grau de lignificação; Colênquima - células compactas e espessas nas leguminosas, não lignificados, digeridos com facilidade; Esclerênquima - lignificadas na maturidade, presente em lâminas foliares e bainha da folha das gramíneas! A lignificação é maior em tecidos mais velhos, no colmo em relação à folha e na bainha em relação à lâmina foliar; Wilson (1997) Importante determinar a proporção dos diferentes tecidos, além de realizar a medição das paredes do esclerênquima! Paciullo et al. (2002) Concentração de lignina: Plantas C3 - apenas nas células do xilema; Plantas C4 - ocorre na bainha vascular, esclerênquima e parênquima lignificado; A ocorrência da lignina vários locais torna as gramíneas tropicais C4 menos digestíveis!!! (Wilson, 1997) Forrageira DIVMS (%) Referência Stylosanthes guianensis cv. Mineirão 61,5 Paciullo et al. (2003) Feno amendoim-forrageiro (Arachis pintoi) 64,4 Barcellos et al. (2008) Panicum maximum cv. Tobiatã 48,5 Costa & Oliveira (1997) Pennisetum pupureum cv. Taiwan A-146 22,1-50,3 Gomide (1997) Brachiaria decumbens 49,2 Paciullo et al. (2003) Tabela 1. Digestibilidade “in vitro” da matéria seca DIVMS (%) de diferentes gramíneas e leguminosas Consequência da caracterização anatômica de gramíneas e leguminosas: As gramíneas tropicais C4 apresentam, de forma geral, menor digestibilidade!!! (Wilson, 1997) 3. Aspectos fisiológicos de plantas forrageiras (C3, C4 e CAM) Vegetais reduzem CO2 a carboidratos através do ciclo fotossintético de redução do carbono; Diferenças na fixação do carbono - influência na taxa de crescimento, no valor nutritivo, tolerância ao estresse hídrico/sombra. Salusbury & Ross (1992) Figura 4. Representação esquemática do Ciclo C3 de fixação de C em vegetais. Fonte: Taiz & Zieger (2004) Importante! Rubisco (RuBP) realiza carboxilização e oxigenação (fotorrespiração); Perda de CO2 na forma de fosfoglicolato = redução da eficiência da fixação fotossintética do carbono; Em condições favoráveis a fotorrespiração (alta concentração de O2 e baixa de CO2) a eficiência de fixação do carbono cai de 90 para 50 %! Taiz & Zieger (2004) Figura 5. Representação esquemática do Ciclo C4 de fixação de C em vegetais. Fonte: Taiz & Zieger (2004) Ciclo C4 transfere CO2 da atmosfera para as células da bainha = suprime a oxigenação pela Rubisco e conseqüente fotorrespiração = evita perdas no processo! Ocorre redução da perda de água pela planta, pois se reduz a abertura estomática; Nestas plantas ocorre a manutenção ou mesmo aumentam as taxas de acúmulo de CO2, mesmo quando é diminuída a abertura estomática; Plantas C4 são abundantes em regiões quentes, certamente beneficiadas pela vantagem adaptativa! Taiz & Zieger (2004) Figura 6. Representação esquemática do Ciclo CAM de fixação de C em vegetais. Fonte: Taiz & Zieger (2004). Plantas CAM abrem seus estômatos durante a noite e os mantém fechados durante o dia, minimizando a perda de água! Via de fixação de CO2 Necessidade de H2O (g) C3 400-500 C4 250-300 CAM 50-100 Tabela 2. Necessidade de água (g) para fixação de uma grama de CO2, pelas diferentes vias de fixação Adaptado de Salusbury & Ross (1992) 4. Aspectos morfológicos de plantas forrageiras C3 (gramíneas temperadas e leguminosas) e C4 (gramíneas tropicais) • Raízes das gramíneas: Fasciculada ou “em cabeleira”; Raiz primária não é desenvolvida; Raízes secundárias ramificadas e numerosas; • Raízes das gramíneas: Sistema radicular geralmente inferior a um metro de profundidade; Podem ocorrer raízes adventícias, auxiliando na sustentação. Figura 7. Aspecto de raiz de gramínea do gênero Aristida (fasciculada). Fonte: Raven et al. (1996) Aspecto das raízes adventícias do milho (Zea mays L.). Aspecto de raiz fasciculada, de gramínea do gênero Corynephorus. Fonte: Sarmento et al. (2001) 86,18 % das raízes! 85,92 % das raízes! Raízes de gramíneas são superficiais! Figura 8. Aspecto de raiz de planta C3 (dicotiledônea = pivotante). Fonte: Raven et al. (1996) Raízes das Leguminosas Penetração do sistema pivotante é superior ao do fasciculado: Prosopis juliflora (algaroba) - + de 53 metros profundidade de raiz; Medicago sativa (alfafa) - + 6 metros de profundidade de raiz. Figura 8. Aspecto da Medicago sativa (alfafa), rainha das leguminosas forrageiras. Figura 9. Aspecto da Prosopis juliflora (algaroba), importante leguminosa forrageira arbórea das regiões semi-áridas. Figura 10. Aspecto dos nódulos nas raízes de leguminosas. Fonte: Raven et al. (1996) Presença dos nódulos nas raízes de leguminosas. Tabela 3. Nitrogênio fixado por diferentes leguminosas em simbiose com bactérias do gênero Rhizobium, em kg/ha/ano Espécie N2 fixado (kg/ha/ano) Medicago sativa 90-386 Calopogonium mucunoides 64-182 Clitoria ternatea 24-380 Desmathus virgatus 193-228 Calliandra callothirsus 11-101 (3 a 6 meses) Gliricidia sepium 86-309 Leucaena leucocephala Crotalaria juncea 108-230 146-221 Adaptado de Giller & Wilson (1991) • Caule das gramíneas = colmo: Formado pelos “nós” e “entre-nós”; Os nós apresentam gemas – pontos de crescimento, de onde surgem os perfilhos; Nós e entre-nós no colmo, típico das gramíneas • Caule (colmo): Podem ocorrer rizomas; Ocorrem abaixo da superfície do solo, com nós e folhas não desenvolvidas na forma de escamas. Aspecto do rizomas, caules subterrâneos que podemocorrer em espécies de gramíneas • Caule (colmo): Podem ocorrer estolões; Colmos rasteiros, superficiais, que enraízam nos nós que estão em contato com o solo, originando novas plantas em cada nó. Aspecto de estolões que ocorrem em algumas gramíneas Caule das leguminosas forrageiras: Subterrâneos; Aéreos: •Rasteiros ou rastejantes; •Trepadores - sarmentosos; •Trepadores - volúveis; •Eretos. (Miltidieri, 1992) Subterrâneos (rizomas) - órgãos de reserva e multiplicação vegetativa. Aéreos: a) Rasteiros – Superficiais ou estoloníferos, podendo apresentar raízes adventícias. Ex.: Arachis (amendoim-forrageiro). Arachis pintoi Krap & Greg Aspecto do amendoim-forrageiro –crescimento rente ao solo (rasteiro) e os estolões. b) Caules Trepadores: Com órgão de fixação = sarmentoso. Ex: Vicia. Não apresentam órgão de fixação = volúvel. Ex: Galactia, Centrosema e Macroptilium. Aspecto de espécie do gênero Vicia – observar os órgãos de fixação, típico de caule sarmentoso. Macroptilium atroporpureum – espécie trepadora volúvel, sem órgãos de fixação. Figura 12. Aspecto do caule volúvel e frutos tipo vagem de Calopogonium mucunoides. Foto: F.A. Machado c) Eretos: I. Subarbustivo – Até 1,5 de altura. Ex: Stylosanthes. II. Arbustivo - Até 3m de altura. Ex: Cajanus. III. Arbóreo - Acima de 3m de altura. Ex: Lecaena, Prosopis, Gliricidia. Aspecto sub-arbustivo de espécies de Stylosanthes. Aspecto arbustivo do feijão-guandu (Cajanus cajan) Aspecto arbóreo da algaroba (Prosopis juliflora) • Folha das Gramíneas: Disposição alternada; Formada pela bainha, lâmina, colar e lígula; • Folha: Bainha - órgão em forma de cartucho, que nasce no nó e cobre o entrenó (parcialmente ou não); Lígula - parte membranosa que se localiza na parte superior interna da bainha, no limite com a lâmina foliar; • Folha: Lâmina – estrutura linear e paralelinérvia, que desempenha as funções de folha; Colar – ponto de junção da bainha com a folha, + consistente que o resto da folha e esbranquiçada. Aspecto de estruturas morfológicas aéreas e subterrâneas do Cynodon dactylon. Fonte: Gibson (2009) Lâmina Lígula Bainha Colar Folha das Leguminosas Constituída de base foliar, pecíolo e limbo, podendo apresentar pulvino e estípulas. O limbo apresenta várias formas, dependendo da espécie, com nervação penada. Pode ser do tipo: Simples – Quando o limbo é único. Ex: Crotalaria juncea. Folhas das leguminosas: Compostas - pecíolo, os peciólulos, folíolos Aspecto da folha composta do Arachis pintoi (amendoim- forrageiro) Folha simples de limbo único. Composta – Quando o limbo se subdivide em folíolos, podendo ser: a) Trifoliolada – quando a folha apresenta apenas três folíolos. Ex: Siratro, Centrosema, Calopogônio. b) Pinada: Paripinada – quando os folíolos terminam em par. Ex: Vicia (ervilhaca); Imparipinada – quando os folíolos terminam em ímpar. Ex: Indigofera. Folha composta trifoliada (Trifolium repens L.) Folha composta paripenada Folha composta imparipenada Recomposta ou bipinada – Quando os folíolos se subdividem. Ex: Leucaena e Prosopis. Folha recomposta ou bipinada Flores das gramíneas: Hermafroditas, monóicas ou dióicas, envolvidas por brácteas; Flósculo - conjunto formado pela flor, lema e pálea; Conjunto de flósculos - constitui a espigueta; Espiguetas se inserem na ráquis e a sua reunião forma a inflorescência; As inflorescências em gramíneas são classificadas em espiga, racemo e panícula. (Nascimento & Renvoize, 2001) Aspecto de um flósculo (gramíneas) • Espiga: As espiguetas são sésseis, inseridas diretamente na ráquis (eixo de suporte das espiguetas). Ex: capim-buffel (Cenchrus cilliaris L.) Aspecto séssil das espiguetas da inflorescência tipo espiga As espiguetas se inserem diretamente na ráquis, ausência de pedicelos! Inflorescência tipo espiga de Cenchrus cilliaris L. (capim-buffel) • Rácemo: As espiguetas são pediceladas e nascem na ráquis (eixo de suporte das espiguetas). Ex.: Brachiaria brizantha (Hochst. Ex Rich.) Stapf. – capim braquiarão. Aspecto da inflorescência tipo rácemo, típica do gênero Brachiaria (observar o pedicelo) Inflorescência tipo rácemo, no gênero Brachiaria • Panícula: A ráquis (eixo de suporte das espiguetas) apresenta ramificações onde se inserem as espiguetas. Ex.: Panicum maximum Jacq. – capim-tanzânia, colonião, mombaça. Aspecto da inflorescência tipo panícula, observar as ramificações da ráquis (onde se inserem as espiguetas). Gramíneas de inflorescência tipo panícula, observar as ramificações da ráquis (onde se inserem as espiguetas). Aspecto da inflorescência do Panicum maximum Jacq. (panícula) Flores das leguminosas: Envoltórios florais - cálice (conjunto de sépalas) e corola (conjunto de pétalas). Figura 12. Aspecto de Clitoria ternatea, de caule ereto com flor característica da família Fabbaceae. Foto: F.A. Machado Fruto: Gramíneas - é seco, indeiscente e unisseminado, chamado de cariopse (Nascimento & Renvoize, 2001). Leguminosas - tipo vagem ou legume, seco, de um só carpelo e com duas valvas, podendo ser deiscente ou indeiscente (Miltidieri, 1992). Fruto tipo vagem ou legume da Leucaena leucocephala (leucena) Fruto tipo cariopse da Avena sativa (aveia) Morfologia das forrageiras tem impacto direto sobre o seu consumo e conseqüente desempenho animal!! Influência sobre a habilidade do animal em colher a forragem, pois se relacionam com estrutura do dossel, seleção da dieta e tamanho e taxa de bocados. Mertens (2007); Reis et al. (2006); Minson (2000) Figura 14. Morfologia da parte aérea de Arachis pintoi, que desfavorece a apreensão pelo animal em pastejo. Foto: F.A. Machado 5. Considerações Finais O conhecimento das diferenças anatômicas, fisiológicas e morfológicas observadas em plantas C3, C4 e CAM, adquirem importância fundamental dentro da forragicultura; As características fisiológicas garantem maior eficiência na fixação do C pelas C4, permitindo assim maiores produções de matéria seca, no entanto com maior adaptação aos ambientes com déficit hídrico pelas do ciclo CAM; A anatomia e a fixação de N2 nas leguminosas C3, favorecem o valor nutricional e a capacidade de fornecer o elemento N para a pastagem, através da fixação e da ciclagem mais rápida da sua serrapilheira; A morfologia das diferentes forrageiras está intimamente ligada a qualidade da forragem, pois esta determinará o acesso do animal, favorecendo ou não o seu consumo. A associação de características “positivas”, dentro da forragicultura, das leguminosas e gramíneas, C3 e C4 respectivamente, têm levado as várias tentativas de reunir estas na pastagem através do consórcio, e assim tentar de aliar altas produtividades, comuns as plantas C4, ao valor nutricional elevado além de relativa independência de adubos nitrogenados proporcionado pelas leguminosas. GILLER, K. E. & WILSON, K. F. Nitrogen fixation in tropical systems. CAB International. Wallingford. 1991. 313 p. MITIDIERI, J. Manual de gramíneas e leguminosas para pastos tropicais. São Paulo: Editora Nobel, 1992. 198 p. NASCIMENTO, M. do P. S. C. B. do & RENVOIZE, S. A. Gramíneas naturais e cultivadas na região meio-norte. Teresina: Embrapa Meio-Norte, Kew: Royal Botanic Gardens. 2001. 196 p. PACIULLO, D.S.C. Características anatômicas relacionadas ao valor nutritivo de gramíneas forrageiras. Ciência Rural, v.32, n.002, p.357-364, 2002. RAVEN, P. H.; EVERT, R.F.; EICHHORN, S.E. Biologia vegetal. Editora Guanabara Koogan. 5a ed. 1996. 728 p. SALISBURY, F.B.; ROSS, C.W. Plant Physiology. Wadsworth Publishing Company. 4a ed. 1992. 682 p. SARMENTO, P.; RODRIGUES, L.R. de A.; LUGÃO, S.M.B. et al. Sistema radicular de Panicum maximum Jacq. IPR-86 cv Milênio adubado com nitrogênio e submetido à lotação rotacionada. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 37, n.11, p. 1409-1418. 2001.TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Editora Artmed. 3a ed. 2004. 720 p. WILSON, J.R. Organization of forage plant tissues. In: JUNG, H.G.; BUXTON, D.R.; HATFIELD, R.D.; MADISON, J. R. Forage cell wall structure and digestibility. WI: ASA-CSSASSSA, 1993. p. 1-32. WILSON, J.R. Strutural and anatomical traits of forages influencing their nutritive value for ruminants. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON ANIMAL PRODUCTION UNDER GRAZING, 1997, UFV. Anais…Viçosa: UFV, 1997. p. 173-208. Obrigado!
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