Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
agricUltUra, sUstentabilidade e tecnologia D a n ie l M eD ei ro s/ eM br a pa 28 Fevereiro de 2012AgroanalysisEspecial EMBRAPA Agricultura, sustentabilidade e Tecnologia Maurício Antônio Lopes1 elisio Contini2 Introdução sete bilhões de habitantes sobre a terra, marca já atingida em 2011, segundo as Nações Unidas! e as projeções apontam que a humanidade atingirá a nove bilhões de pessoas em 2050, ou seja, dois bilhões a mais que a população atual. Na visão presen- te da caminhada humana pela história, estes números podem ser vistos como conquistas no prolongamento da vida, pelas ciências médicas (ainda que com taxas decrescentes de cresci- mento populacional); e melhor alimentação e nutrição devido ao avanço das ciências agrárias. o outro lado da moeda são os desafios para a agricultura: alimentar uma crescente população, com aumento de renda e urbanização acelerada. Para superar este desafio, é premente aumentar a produção de alimentos, com segurança, qualidade e uso sustentável da base de recursos naturais. Inovação agropecuária é componente crítico do processo de desenvolvimento sustentável e condição para melhoria da alimentação e nutrição no mundo. Além de alimentos, a agricultura é demandada a suprir a sociedade de outras matérias-primas necessárias para o bem-estar humano. A sociedade espera da agricultura contribuição significativa na produção de energia renovável (bioenergia), substituindo parte dos finitos recursos de energia fóssil, novos usos de produtos e subprodutos da agricultura na bioquímica e em vastos setores da economia, como propõe a nascente bioeconomia. em resu- mo, o desafio fundamental é atender a demandas crescentes uti- lizando os recursos naturais finitos de forma inteligente. o Brasil precisará continuar respondendo à necessidade de produzir volumes crescentes de alimentos e matérias-primas, com rentabilidade econômica, para que aumente a nossa capaci- W A N D eR Le y Po RF RI o /e M BR A PA Fevereiro de 2012 Agroanalysis 29Especial EMBRAPA dade de investimentos. Ademais, o País vem assumindo papel de destaque na redução da volatilidade no sistema alimentar mun- dial, e dele espera-se contribuição para o equilíbrio entre a de- manda e a oferta de alimentos e para alívio da fome no mundo. embora a agricultura brasileira tenha como primeira responsa- bilidade o abastecimento regular do mercado interno, expectati- vas crescerão em torno da possibilidade de o País contribuir para a segurança alimentar de países com limitadas capacidades de produção, em especial no mundo em desenvolvimento. As pressões nacionais e internacionais sobre a conservação de recursos naturais e as novas exigências quanto à redução do desmatamento para minimizar os efeitos dos gases de efeito es- tufa são uma realidade. Assim, os aumentos na nossa produção agropecuária devem ser obtidos, prioritariamente, via aumen- to da produtividade. Ainda, as pressões de mercados cada vez mais dinâmicos e competitivos exigirão da pesquisa agrope- cuária avanços em diversificação, agregação de valor, produtivi- dade, segurança e qualidade, com velocidade e eficiência supe- riores àquelas alcançadas no passado. Portanto, para se garantir a competitividade e a sustentabilidade da agricultura frente às mudanças climáticas e à intensificação de estresses bióticos e abióticos previstos para as próximas décadas, serão necessários substanciais avanços em diversos campos do conhecimento científico e tecnológico. Junto com os demais elos das cadeias produtivas para frente e para trás, a pesquisa agropecuária, pública e privada, será um instrumento básico para o aumento da produtividade e da sus- tentabilidade. o aumento da demanda por alimentos, fibras e bioenergia exigirá sofisticação tecnológica que racionalize o uso dos insumos ambientais, isto é, os recursos naturais (água, solo, biodiversidade etc.) e dos serviços ambientais (reciclagem de re- síduos, suprimento de água, qualidade da atmosfera etc.) neces- sários à produção agropecuária e florestal. É também chegado o momento de se investir, de forma mais agressiva, em inovações para agregação de valor às commodities, criando mais oportuni- dades para a agroindústria brasileira, em especial em mercados mais competitivos, sofisticados e rentáveis. A Trajetória Recente da Agricultura Brasileira o Brasil, que nos anos 70 ainda dependia da importação de alimentos básicos, teve nas últimas quatro décadas um dos mais destacados desempenhos mundiais em inovação e produção agropecuária. o salto da nossa produção agropecuária não teve paralelo em nenhuma outra região do mundo. No início dos anos 60, quando o Brasil tinha uma população de cerca de 70 milhões de habitantes, o País colheu 17,2 milhões de toneladas de grãos, cultivando uma área de, aproximadamente, 22 mi- lhões de hectares. A produtividade média era muito baixa, de 783 quilos por hectare. em 2010, a produtividade média dos cultivos de grãos no Brasil já alcançara 3.173 quilos por hectare, um salto de 774%. Portanto, a ideia de que a agricultura brasileira é atrasada e seus produtos de baixo nível tecnológico é falsa e ultrapassada. Com estes avanços em eficiência, a agricultura brasileira foi capaz de responder às demandas de uma população urbana crescente, ofertando alimentos mais acessíveis e baratos, que contribuíram para a redução de pressões inflacionárias e para o alívio das de- sigualdades sociais no País. Adicionalmente, a diversificação e a intensificação das exportações agrícolas, ao longo das últimas décadas, geraram substanciais superávits na balança comercial brasileira. A embrapa, as organizações estaduais de pesquisa, as universidades e o setor privado tiveram papel decisivo nesse processo. o Brasil se tornou líder em inovação agropecuária no mundo tropical, consolidando a imagem de grande produtor de alimentos, capaz de contribuir para um maior equilíbrio entre a demanda e a oferta em âmbito global. Além disso, o País tem uma pujante base de capacitação de recursos humanos, com grande número de universidades, faculdades e escolas técnicas, que contribuem para o contínuo treinamento de técnicos, mul- tiplicadores e produtores. Mas apesar dos avanços em incorporação de inovações pela agricultura, um grande número de propriedades rurais brasilei- ras ainda utiliza baixo conteúdo tecnológico em sua produção, conforme comprovado por publicação recente do Instituto de Pesquisa econômica Aplicada (Ipea, 2010).3 Muitos produtores no País ainda têm dificuldades para acessar e utilizar processos e métodos modernos na produção, como fertilizantes, corretivos de solo, defensivos, tratores, unidades armazenadoras, além de financiamento, orientação técnica, cooperativismo, entre outros recursos. Do total de 5,2 milhões de estabelecimentos rurais no Brasil, identificados no Censo Agropecuário do IBGe de 2006, 983 mil usavam alta tecnologia e apenas 19% dentre os estabe- lecimentos considerados de agricultura familiar. Consequente- PA U Lo L A N Ze T TA /e M BR A PA 30 Fevereiro de 2012AgroanalysisEspecial EMBRAPA mente, a renda na agricultura estava fortemente concentrada, com 8,19% dos estabelecimentos alcançando 84,89% do valor da produção, enquanto 3.776 mil estabelecimentos produziam menos de 10% deste valor.4 Apesar de os processos de inovação tecnológica na agricultu- ra terem possibilitado grandes avanços, é importante reconhe- cer que convivem no Brasil uma agricultura tecnificada e dinâ- mica e outra ainda muito carente, à margem do mercado. os pequenos agricultores brasileiros precisam, mais que nunca, ter acesso a informações, conhecimentos e inovações tecnológicas. e as instituições de fomento, pesquisa e extensão devem atuar de forma inteligente e concertada para desenvolvimento de so- luções que viabilizem a elevação do desempenho e a inserção econômica dos pequenos agricultores, respeitando as diversi- dades regionais e culturais quemarcam o nosso país continen- tal. Políticas públicas de apoio e suporte, tecnologias adequa- das, crédito e capacitação estão entre os ingredientes críticos para que esses segmentos menos favorecidos possam acessar e utilizar inovações agropecuárias. Ampliação de capacidade ge- rencial, além de maior ênfase em associativismo e outras estra- tégias para ganho de escala, eficiência e acesso a mercados são também componentes importantes para se viabilizar a inclusão ao mercado de enorme contingente de pequenos produtores rurais brasileiros. Inovações para Competitividade e Sustentabilidade os desafios no horizonte são enormes. Tecnologias mais eficientes serão necessárias para permitir o atendimento das necessidades básicas de alimentos para a sociedade brasileira, além da produção de excedentes exportáveis para o mundo, constituindo em oportunidade de negócios e responsabilidade social, nacional e mundial. Ao mesmo tempo, estas mesmas tecnologias deverão incorporar práticas para a preservação dos recursos naturais, como solo, água, florestas e biodiversidade. Acrescente-se a esperada contribuição para o mais recente de- safio do aquecimento global e seus potenciais efeitos sobre a produção agrícola. Apesar da dimensão dos desafios, conta a nosso favor o fato de que o avanço tecnológico, em diversas frentes, é impressionante. Verdadeiras revoluções estão acontecendo em vários campos do conhecimento, na biologia com a genômica, na física e na quí- mica com a nanotecnologia, nas tecnologias da informação e da comunicação, com inúmeras inovações que aumentam a nossa capacidade de responder a riscos e desafios. A biologia vem pro- duzindo tremendos avanços nos estudos dos genomas, que nos permitem ampliar a compreensão de mecanismos complexos em plantas, animais e micro-organismos. Daí surgirão soluções que permitirão à agricultura avançar em diversificação, agrega- ção de valor, produtividade, segurança e qualidade. Inovações nos campos da tecnologia da informação e da comunicação, do sensoriamento remoto, da instrumentação avançada, da automação e da robótica indicam que a agricul- tura de precisão emergirá como prática comum nas proprieda- des do futuro. Tais ferramentas e processos permitirão o uso da nossa base de recursos naturais de forma mais inteligente, garantindo mais produtividade, eficiência e sustentabilidade à nossa agricultura. A nanotecnologia, com inovações na es- cala do bilionésimo do metro, também promete revolucionar o desenvolvimento de múltiplos produtos, processos e instru- mentos. sensores avançados viabilizarão o monitoramento de sistemas produtivos com grande precisão, novos materiais permitirão construir máquinas e equipamentos mais eficientes, precisos e duráveis. A seguir, são destacadas algumas vertentes de inovação que deverão receber prioridade das organizações de pesquisa agro- FA BI A N o B A sT o s/ eM BR A PA Fevereiro de 2012 Agroanalysis 31Especial EMBRAPA pecuária brasileiras, em função dos riscos, de oportunidades e desafios apontados: Melhoramento Genético: A produção de novas cultivares vegetais e de raças animais mais adaptadas e produtivas, resultado do processo de melhoramento genético, representa uma das prin- cipais formas de atuação de instituições públicas e privadas de P&D e sustentáculo para a agropecuária brasileira. Inovações em genética e melhoramento vegetal e animal para desenvolvimen- to de sementes melhoradas, raças e sistemas de produção animal adaptados são fundamentais para o Brasil, em especial quando se esperam crescentes desafios decorrentes das mudanças de clima. Água e Agricultura: Apesar de ser o setor que mais con- some água, a agricultura irrigada tende a crescer no futuro, levando-se em conta as mudanças climáticas e secas cada vez mais intensas. Um grande desafio para o futuro será a busca da otimização do uso da água pela agricultura de forma a reduzir a pressão sobre os recursos hídricos e liberar água para outros fins. Inovações que racionalizem o uso da água e evitem ou re- duzam o seu desperdício serão críticas para se responder à cres- cente demanda por alimentos. Segurança Biológica e Defesa da Agricultura: Um dos desafios críticos para a agricultura brasileira é o movimento de or- ganismos ou espécies invasoras exóticas de uma região para outra, em função do comércio, transporte, trânsito e turismo. À medida que o Brasil avança como grande produtor de alimentos e compe- tidor mundial, maior número de barreiras técnicas aos produtos nacionais será colocado. Assim, forte ênfase em inovação tecnoló- gica é fator crítico para o atendimento à diversidade de demandas de países importadores e alinhamento aos rígidos padrões de con- formidade que se consolidam em âmbito internacional. Monitoramento da Agricultura: A produção agropecu- ária do Brasil deverá orientar-se, progressivamente, de acordo com uma visão moderna e sustentável de expansão da capaci- dade produtiva do País. Avanços no desenvolvimento passarão, inevitavelmente, pelo desafio de acomodar, de forma planejada e inteligente, as atividades agrossilvopastoris, as florestas naturais, os recursos hídricos, as cidades etc. Assim, o Brasil precisará construir um arcabouço de políticas públicas e estratégias ino- vadoras de ordenamento territorial e de planejamento do uso sustentável da sua rica base de recursos naturais. Tecnologias de monitoramento por satélites, sensoriamento, modelagem, zoneamento de riscos, dentre outros, terão papel cada vez mais importante no embasamento de tais processos. Mecanização, Automação e Precisão na Agricultura: À medida que o Brasil avança em educação, renda e qualidade G U sT AV o P o RP IN o /e M BR A PA 32 Fevereiro de 2012AgroanalysisEspecial EMBRAPA de vida, os produtores rurais terão crescentes dificuldades para encontrar mão de obra no campo. e o foco em automação e sis- temas de precisão aumentará à medida que se elevarem os cus- tos de insumos, como água, fertilizantes, sementes, energia etc. Assim, os agricultores brasileiros precisarão contar com novas alternativas de mecanização, automação e tecnologias para au- mento de precisão que os ajudarão a superar problemas como o decréscimo na disponibilidade de mão de obra no campo, eleva- dos custos de insumos e pressões para a redução de desperdícios e produção com sustentabilidade, qualidade e eficiência. Avanços no Manejo e na Tropicalização dos Insumos: Não há mais dúvidas de que a agricultura será pressionada a buscar alternativas ou substitutos eficientes para os fertilizantes químicos e defensivos derivados do petróleo. Muitos dos insu- mos convencionais, além de contribuírem para crescentes cus- tos na produção de alimentos, têm impactos no meio ambien- te e afetam direta ou indiretamente processos de aquecimento global. É, portanto, crítico que se busquem fontes alternativas de nutrientes, como o fósforo, além da viabilização da fixação biológica de nitrogênio em gramíneas. estes são exemplos de tecnologias alternativas que poderão mudar definitivamente a capacidade competitiva da agricultura tropical. Qualidade e Funcionalidade de Alimentos e Matérias-Primas: A integração dos conceitos de alimenta- ção-nutrição-saúde aparenta ser um caminho inevitável, em função das mudanças demográficas (aumento da idade média das populações) e da exaustão dos sistemas de saúde e previ- dência social, inclusive nos países desenvolvidos. Prevenção, ao invés de cura de doenças e males, tenderá a se tornar a nor- ma da sociedade, e o desenvolvimento de alimentos com alta densidade nutricional e funcional se tornará cada vez mais prioritário no futuro. Sistemas Integrados e Redução das Emissões de Gases: Tecnologias que permitam a intensificação do uso da base de recursos naturais do País deverão receber cada vez mais atenção no futuro. estima-se que o Brasil tenha em torno de 50 milhões de hectares de pastagens formadas nas décadas de 1970 e 1980 hojedegradadas. essas são as áreas ideais para ex- pansão da agricultura, da pecuária e da base florestal brasileira, sem a necessidade de novos desmatamentos. Inovações como a integração lavoura, pecuária e floresta serão fundamentais para sustentação do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que prevê incentivos para processos tecnológicos que reduzam a emissão de gases de efeito estufa e promovam inten- G U sT AV o P o RP IN o /e M BR A PA Fevereiro de 2012 Agroanalysis 33Especial EMBRAPA sificação e uso sustentável da nossa base de recursos naturais. Avanços Gerenciais na Agricultura: os avanços da tec- nologia da informação com a sofisticação de redes de comuni- cação e transmissão de dados abrem imensas perspectivas para novas formas de integração de atores e cadeias – e o agronegócio brasileiro precisa ocupar este espaço para continuar competiti- vo no futuro. essas tecnologias têm potencial de aumentar a efi- ciência dos sistemas de produção e comercialização, com dimi- nuição de custos de transação e de custos financeiros. Ademais, abrem possibilidades de inovação nos processos de comerciali- zação e relacionamento com os consumidores de produtos do agronegócio. É plausível se conceber que grande parte da agre- gação de valor aos produtos no futuro virá de inovações deriva- das dessas possibilidades. Rentabilidade na Agricultura: em conjunção com as ciências biológicas, automação, tecnologia da informação etc., pesquisa de natureza socioeconômica precisará focar a análise da rentabilidade dos sistemas de produção, em especial frente às rápidas mudanças de paradigmas. De pouco adianta propor tecnologias ambientalmente mais eficientes se o agricultor não tiver rentabilidade para progredir em seu negócio e a sociedade como um todo não tiver ganhos. Acompanhar os mercados, sua evolução e perspectivas, possibilita o estabelecimento de priori- dades de pesquisa e recomendações para políticas agrícolas que contribuam para a manutenção de uma agricultura saudável e competitiva. o comportamento do mercado internacional pre- cisa também ser monitorado e estudado sistematicamente, pois oferece indicadores para alavancar produtos ou recomendar aos produtores a redução da produção. Agricultura, a Indústria do Futuro? A agricultura do futuro deverá estar balizada por conceitos, métodos e aplicabilidades multifuncionais, muito além da visão convencional, da agricultura dedicada à produção de alimen- tos, fibras e energia. os padrões tecnológicos do agronegócio mundial já estão sendo alterados pela introdução de novas tecnologias resultantes de avanços muito recentes do conheci- mento científico. sustentada em tais avanços e sintonizada com a emergente economia Verde, a agricultura deverá se nortear por um novo conjunto de funcionalidades e requisitos, como os exemplificados na figura abaixo, que deverão conformar o padrão tecnológico do agronegócio do futuro. estes novos requisitos e funcionalidades delineiam um agro- negócio organizado em torno de vertentes tecnológicas voltadas para a consolidação de sistemas agroalimentares e agroindus- triais limpos, com balanço positivo de carbono, que integre qua- litativamente a relação campo-cidade, com cadeias e arranjos calcados na sustentabilidade e na inclusão produtiva, principal- mente dos agricultores familiares e pequenos produtores. e conforme aumenta o interesse por diversificação e agrega- ção de valor à agricultura, na forma de novos alimentos, fibras, aromas, biomateriais e outras matérias-primas aplicáveis a di- versos ramos industriais, o interesse dos programas de P&D agrícola se voltará de forma mais intensa para a biodiversidade, buscando diversi- ficação de espécies, sistemas e processos. Muitas funções biológicas importantes, adequadamente estudadas e conhecidas através da biotecnologia moderna, po- derão ser gradualmente incorporadas à agricultura. A biotecnologia moderna pode esta- belecer uma base científica e tecnológica radicalmente nova, que vai muito além da atual transgenia aplicada às commodities. entre as principais rotas que a biotec- nologia deve abrir estão o domínio dos processos metabólicos dos organismos (plantas, animais e micro-organismos) e o seu direcionamento para a produção de materiais e substâncias de alto valor agregado, direcionados para usos não ali- mentares (usos químicos e bioquímicos, médicos, farmacêuticos, nutricionais, energéticos etc.). Conhecimentos Tradicionais, Mercados Étnicos e Regionais, Agroturismo Sistemas Integrados e Sustentáveis, Aquicultura, Agroflorestas Alimentação, Nutrição, Saúde e Bem-Estar Multifuncionalidade na Agricultura Biomassa, Bioenergia, Biomateriais, Química Verde Serviços Ambientais, Serviços Ecossistêmicos, Economia do Carbono 34 Fevereiro de 2012AgroanalysisEspecial EMBRAPA Avanços recentes apontam para a consolidação de diversas frentes da biotecnologia moderna, representadas pela engenha- ria genética, pela genômica integrada ao melhoramento genéti- co, pela engenharia metabólica, pelas tecnologias avançadas de reprodução e clonagem animal, dentre outras, que irão trans- formar os mercados do ponto de vista da ampliação do leque de oportunidades. o sofisticado embasamento técnico e a natu- reza genérica da biotecnologia moderna estão possibilitando a criação de uma nova bioeconomia, com influências em diversos campos do conhecimento e com possibilidades de desenvolvi- mento de imensa gama de novos produtos e processos. o Brasil, como nenhum outro país no mundo, tem condi- ções de alavancar os potenciais econômicos e de sustentabili- dade da nova bioindústria, tanto para intensificar a produção de alimentos, fibras e energia limpa, como para desenvolver uma nova e pujante indústria de químicos renováveis, sem competição com a produção de alimentos. É urgente que se de- finam estratégias para preparar o Brasil, e a nossa agricultura, para a nova bioeconomia. As nossas instituições de pesquisa científica e tecnológica e as empresas do agronegócio precisam olhar adiante, vencer obstáculos, ultrapassar barreiras. Não há tempo a perder! Inteligência Estratégica Quando se avalia a dimensão e complexidade dos desafios à frente, é fácil concluir que o Brasil precisa investir mais em processos de inteligência para o agro- negócio. Consolidação de “inteligência estratégica” e “inteligência competitiva” se torna uma necessidade cada vez mais destacada nesta era de rápidas mudan- ças e constantes quebras de paradigmas. o mundo muda com muita rapidez, e os alvos se tornam cada vez mais difusos e móveis, dificultando decisão e ação de forma rápida e tempestiva. As revoluções no mundo da ciência e da tecnologia indicam que instituições de pesquisa e as empresas do agronegócio não podem trabalhar “mirando o retrovi- sor”. É preciso que a agricultura brasileira se sustente em forte capacidade de antecipação de riscos, de opor- tunidades e de desafios, além de processos coordena- dos de decisão e ação. A agricultura brasileira preci- sa de maior número de think tanks, que realizem, de forma sistemática, a coleta, a análise e a disseminação de informações sobre tendências gerais dos mercados e possíveis trajetórias do processo de inovação e suas implicações para o agronegócio. Tal capacidade é es- sencial para suporte à construção de políticas públicas adequadas, para subsídio à tomada de decisão, em vá- rios níveis, e para o atingimento de metas estratégicas do agronegócio brasileiro. 1. Diretor executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da embrapa Fone: (61) 3448-4346 / e-mail: mauricio.lopes@embrapa.br 2. Pesquisador e Chefe Adjunto do Núcleo de estudos estratégicos do Centro de estudos e Capacitação da embrapa Fone: (61) 3448-1769 / e-mail: elisio.contini@embrapa.br 3. Gasques, J. G.; Vieira Filho, J. e. R.; Navarro, Z. A Agricultura Brasileira: desempenho, desafios e perspectivas, Ipea, Brasília, 2010. 293 págs. 4. Vieira Filho, J.e.R.; santos,G.R. Heterogeneidade no setor Agro- pecuário Brasileiro: contraste tecnológico. Radar nº 14: tecnologia, produção e comércio exterior. Ipea, Brasília, 2011. Págs. 15-20. sA U Lo C o eL H o /e M BR A PA
Compartilhar