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Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s Biologia GENÉTICA E BIOTECNOLOGIA 101 GENÉTICA Variação genética na cor dos grãos de milho. Cada grão representa um indivíduo separado com uma constituição genética distinta. A foto simboliza a história do interesse da humanidade pela hereditariedade. Os humanos cruzaram milho por milhares de anos antes do advento da disciplina da Genética. Ampliando essa herança, o milho, hoje, é um dos principais organismos de pesquisa na Genética Clássica e Moderna. Disponível em: http://sn.uagro.com.br/static//img/editor/ Conceitos Básicos Gene ou gen: É a unidade hereditária presente nos cromossomos e que, agindo no ambiente, será res- ponsável por determinados caracteres do indivíduo. Também pode ser definido como segmento do DNA responsável pela síntese de um RNA. Cada gene é re- presentado por uma ou mais letras. Ex: A, a, XD, IA, CCR5, etc. Locus ou loco: É o local certo que cada gene ocu- pa no cromossomo. Loci é o plural de locus. O posi- cionamento de um gene fora do seu locus normal em determinado cromossomo implica, quase sempre, uma mutação. Cromossomos Homólogos: São considerados ho- mólogos (homo = igual) entre si os cromossomos que, juntos, formam um par. Esses pares só existem nas cé- lulas somáticas, que são diploides (2n). Em um par, os dois homólogos possuem genes para os mesmos ca- racteres. Esses genes têm localização idêntica nos dois cromossomos (genes alelos). Na célula-ovo ou zigoto, um cromossomo é herdado do pai e outro da mãe e ficam emparelhados. Alelos do gene ⇒ Estes genes são chama- dos de alelos porque ocupam o mesmo locus em cromossomos homólogos. Caso o alelo representado por vermelho caracterize cor da pele, certamen- te o alelo azul também determina cor da pele, mesmo que um alelo seja dominante e outro recessivo. locus do gene ⇒ Para demonstrar que os alelos determinam o mesmo caráter, basta representá-los pela mesma letra. Assim, os alelos representados na imagem podem ser AA ou Aa ou aa. Observe que mesmo podendo usar letra maiúscula ou minúscula, trata-se de uma mesma letra. cromossomos homólogos ⇒ São homólogos os cromossomos idênticos na forma e no tamanho. Cromossomos homólogos apresentam genes alelos. Herdado da mãe Herdado do pai Genes alelos: São aqueles que formam pares e se si- tuam em loci correspondentes nos cromossomos homó- logos. Respondem pelo mesmo caráter. Cada caráter é de- terminado pelo menos por um par de genes alelos. Se num determinado local (locus) de um cromossomo houver um gene responsável pela manifestação da carac- terística ‘cor do olho’, no cromossomo homólogo haverá um gene que determina o mesmo caráter, no locus cor- respondente do cromossomo homólogo. Se, por exemplo, houver um gene A num cromossomo, o gene a localizado no homólogo correspondente será alelo de A. Da mesma forma, B é alelo de b; mas A não é alelo de b. Cada par de genes vai determinar um caráter, podendo ser homozigoto (letras iguais – AA ou aa) ou heterozigoto (letras diferentes – Aa). A a B b Representação de uma célula com dois pares de cromossomos homólogos (o par azul e o par vermelho). Neles, estão demonstrados dois pares de alelos (o ‘A’ é alelo do ‘a’ e vice-versa, e o ‘B’ é alelo do ‘b’ e vice-versa). Durante a meiose I, os cromossomos homólogos são separados e, com isso, os alelos se separam. Com a meio- se II, as cromátides são separadas e, assim, cada gameta apresenta um único alelo para cada par de genes. Observe a imagem a seguir de uma célula cujos alelos são Ss: Biologia 102 Extensivo No final da meiose II, cada gameta haploide contém um membro de cada par dos cromossomos homólogos e, consequentemente, um alelo para cada par de genes. Esse ponto do cromossomo é locus do gene com os alelos S e s. Alelos de genes para forma da semente Cromossomos homólogos Antes da meiose I, cada um dos cromossomos homólogos se replica. No final da meiose I, os dois alelos são segregados em duas células-filhas separadas. Meiose I Meiose II Interfase meiótica Gametas haploidesS S SS s s s s S s S S s s Ss S S s s Ss S s A Meiose é responsável pela segregação dos alelos. Embora Mendel não tivesse conhecimento da meiose ou dos cromossomos, agora sabemos que um par de alelos se localiza nos cromossomos homólogos e que a meiose segrega esses alelos. Caráter dominante: É o caráter resultante da presença de um gene que, mesmo sozinho, em dose simples ou em hete- rozigose, encobre a manifestação de outro (chamado de re- cessivo). Os genes são representados por letras. Geralmente usamos a primeira letra do recessivo para representá-los. Para o gene recessivo, usamos a letra em minúsculo, e para o gene dominante, a mesma letra, porém em maiúsculo. Exemplo: no homem, existe um gene normal para a pigmentação da pele, que domina o gene para a ausência de pigmentação (albinismo). Representamos, pois, esse caráter por A (gene normal) e por a (gene para albinismo). Um indivíduo Aa terá um fenótipo normal porque o gene A é dominante sobre o gene a. Entretanto, esse indivíduo irá transmitir para alguns dos seus descendentes o gene a. Caráter recessivo: É aquele que só se manifesta quan- do o gene está em dose dupla ou homozigose. Assim, só teremos indivíduos albinos quando o genótipo for aa. Esses genes são chamados recessivos porque eles ficam “escondidos” (em recesso) quando o gene dominante está presente. No caso de herança ligada ou restrita aos cro- mossomos sexuais, o gene recessivo pode se manifestar, mesmo em dose simples. Homozigoto e heterozigoto: Quando os pares de ale- los são iguais, dizemos que os indivíduos são homozigotos (puros) para aquele caráter, podendo ser dominantes ou recessivos. Quando os pares de alelos são diferentes, di- zemos que os indivíduos são heterozigotos (híbridos) para aquele caráter. Ex: são homozigotos – AA, aa, BB, bb, etc.; são heterozigotos – Aa, Bb, etc. Genótipo: É a constituição genética de um indivíduo, a soma dos fatores hereditários (genes) que o indivíduo recebe dos pais, e que transmitirá aos seus próprios filhos. Não é visível, mas pode ser deduzido pela análise dos as- cendentes e descendentes desse indivíduo. Fenótipo: É a expressão do genótipo, mostrando-se como a manifestação visível ou detectável do caráter con- siderado. É a soma total de suas características de forma, tamanho, cor, tipo sanguíneo, etc. Dois indivíduos podem apresentar o mesmo fenótipo embora possuam genótipos diferentes. Por exemplo, a cor do olho pode ser escura para os dois, sendo um homozigoto (puro) e o outro heterozigoto (híbrido). Externamente, porém, não podemos distingui-los, apresentando, portanto, o mesmo fenótipo. As características fenotípicas não são transmitidas dos pais para os filhos. Transmitem-se os genes, que são os fa- tores potencialmente capazes de determinar o fenótipo. O fenótipo pode sofrer influência do meio, logo: fenó- tipo = genótipo + ambiente. Um exemplo bem estudado da interação entre genó- tipo e ambiente na produção do fenótipo é a reação dos coelhos da raça himalaia à temperatura. Esses animais têm pelos pigmentados (pretos ou marrons) apenas nas extremidades corporais – focinho, orelhas, pernas, patas e rabo –, sendo o restante do corpo coberto por pelos brancos, desprovidos de pigmento. Esse tipo de pelagem desenvolve-se apenas se os coelhos da raça himalaia es- tiverem em ambientes com temperatura entre 15 oC e 24 oC. Se forem criados em temperaturas abaixo de 2 oC, eles passam a ter pelagem pigmentada em todo o corpo. Por outro lado, animais criados em ambientes com tempe- raturas acima de 29 oC têm pelagem inteiramente branca. Estudos genéticos e bioquímicos mostraram que, de- vido ao genótipo dos coelhos himalaias, a enzima respon- sável pela síntese do pigmento melanina só é ativa em células epidérmicas expostas a temperaturas inferioresa 15 oC. Quando esses animais vivem em ambientes entre 15 oC e 24 oC, ocorrem temperaturas inferiores a 15 oC apenas nas extremidades corporais, que perdem mais ca- lor que o resto do corpo; nelas, portanto, a enzima para melanina é ativa e os pêlos são pigmentados, no resto do corpo, em que a temperatura se mantém mais elevada, a Biologia 103Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s enzima é inibida e a pelagem é branca. Quando os coelhos são criados em temperaturas superiores a 29 oC, até mes- mo a epiderme das extremidades do corpo permanece a temperaturas superiores a 15 oC, o que faz a pelagem ser totalmente branca. Em ambientes com temperaturas infe- riores a 2 oC, a temperatura geral da epiderme não ultra- passa 15 oC; portanto, a enzima é ativa em todo o corpo, e a pelagem é totalmente pigmentada. Situação semelhante ocorre com o gato siamês. Se rasparmos o pelo do dorso de um coelho himalaia onde a pelagem é normalmente branca, mantendo-a res- friada com uma bolsa de gelo até o nascimento da nova pelagem, esta será pigmentada. Área raspada Bolsa raspada Crescimento de pêlos pigmen- tados na área raspada Foto de gato siamês e coelho da raça himalaia. A ilustração representa um experimento que mostra a influência da temperatura na cor da pelagem nessa raça de coelhos. Outro exemplo da interação entre genótipo e ambiente na manifestação do fenótipo refere-se à produção de cloro- fila nas plantas. Os genes envolvidos na síntese desse pig- mento são ativos somente na presença de luz. Plantas ger- minadas no escuro não produzem clorofila, apresentando fenótipo albino. Nessas condições, a planta sobrevive ape- nas enquanto duram as reservas de alimento da semente. Por Que Ervilhas? A maioria dos biólogos da segunda metade do século XIX acreditava que a hereditariedade baseava-se na transmis- são de entidades materiais dos pais para os filhos. Eles ad- mitiam, também, que essa transmissão só poderia ocorrer por meio dos gametas, pois estes são a única ligação física entre as gerações. Mendel descobriu que as características hereditárias são herdadas segundo regras bem definidas e propôs uma explicação para a existência dessas regras. Mendel escolheu como material de estudo a ervilha- -de-cheiro Pisum sativum. As principais razões que o leva- ram a optar por essa espécie foram: 1. a facilidade de cultivo; 2. a existência de variedades facilmente identificá- veis por características marcadamente distintas; 3. o ciclo de vida curto, que permite obter várias ge- rações em pouco tempo; 4. a obtenção de descendência fértil no cruzamento de variedades diferentes; 5. a facilidade com que se pode realizar poliniza- ção artificial. As ervilhas são plantas da família das leguminosas, que apresentam fruto em forma de vagem, chamado de legu- me pelos botânicos. A flor da ervilha é hermafrodita, isto é, possui órgãos reprodutores masculinos e femininos; es- tes ficam encerrados em uma espécie de urna – a quilha –, formada por duas pétalas modificadas e sobrepostas. A quilha impede a polinização por pólen de outras flores; consequentemente, os óvulos de uma flor são quase sem- pre fecundados por seus próprios grãos de pólen, proces- so denominado autofecundação. Para realizar fecundação cruzada entre duas plantas de ervilha, é preciso abrir previamente a quilha de algumas flores e cortar suas anteras, o que corresponde a “castrar” a parte masculina. Quando a parte feminina está madura, abre-se novamente a quilha e coloca-se, sobre o estigma, pólen retirado de flores intactas de outra planta. Assim, podem-se cruzar variedades distintas e obter sementes híbridas (do grego hybris, misturado por cruzamento). B ED A C Quilha Flor doadora e pólen Coleta de pólen Estigma Anteras Sementes em formação (óvulos fecundação) Sepala Ovário em corte (futura vagem) Germinação da semente Planta jovem de ervilha Flor receptora de pólen (anteras eliminadas) Polinização artifcial Sépalas Pétalas Pistilo Estames Quilha aberta mostrando aparelho reprodutor Foto (A) e representação esquemática (B) de flor e ervilha, mostrando suas principais partes C: Esquema da polinização artificial em ervilha. D: Esquema de parte de uma flor de ervilha fecundada, com o ovários cortado longitudinalmente, mostrando as sementes em formação (os “grãos-de-ervilha”). E: Ao germinar, a semente origina uma nova planta. Mendel iniciou seus trabalhos com 34 variedades di- ferentes de ervilha, entre as quais selecionou as que mais convinham a seus experimentos. A ideia era trabalhar com variedades cujas características não sofressem alteração de uma geração para outra, o que seria uma garantia de se estar trabalhando com características hereditárias, e não com variações decorrentes de fatores ambientais. Mendel escolheu, também, características com formas bem contrastantes, para que não houvesse dúvida quanto à sua identificação. Por exemplo, quanto à característica “cor dos cotilédones da semente”, há apenas duas cores, Biologia 104 Extensivo amarela e verde, sem cores intermediárias. Depois de um criterioso trabalho de seleção, Mendel concentrou-se no estudo de sete características, cada uma delas com duas formas, ou traços, bem contrastantes. Um dos grandes méritos de Mendel foi ter considerado apenas uma característica de cada vez. Ao cruzar plantas de semente amarela com plantas de semente verde, por exem- plo, ele simplesmente desconsiderava características como altura, forma das sementes, posição das flores no caule etc., atendo-se exclusivamente à característica escolhida. Forma da semente Cor dos cotilédones Cor da casca da semente Forma de vagem Cor da vagem Posição das flores Altura da planta Rugosa Verde Branca Comprimida Amarela Terminal Anã Lisa Amarela Cinza Inflada Verde Axilar Alta Em seus estudos com ervilhas, Mendel escolheu sete diferentes características. Cada uma apresenta duas formas alternativas, ou traços, facilmente identificáveis. Determinando o Genótipo O genótipo que um indivíduo apresenta é inferido a partir da observação de suas características fenotípicas e pela análise do fenótipo de seus pais ou de seus filhos. Quando um indivíduo apresenta o fenótipo condiciona- do pelo alelo recessivo, conclui-se que ele é homozigótico quanto ao alelo em questão. Por exemplo, uma semente de ervilha com cotilédones verdes é homozigótica vv. Por outro lado, o indivíduo que apresenta o fenótipo condicio- nado pelo alelo dominante de um gene pode ser tanto ho- mozigótico como heterozigótico. Uma semente de ervilha com cotilédones amarelos, por exemplo, pode ter genótipo VV ou Vv. Nesse caso, pode-se tentar determinar o genóti- po pela análise dos genitores ou da descendência. Se um indivíduo com fenótipo dominante tem um dos pais com fenótipo recessivo, isso permite concluir que seu genótipo é heterozigótico, pois o indivíduo herdou daque- le genitor um alelo recessivo. Entretanto, se ambos os pais do indivíduo apresentam fenótipo dominante, como ele, nada se pode concluir sobre seu genótipo. Pode-se tentar determinar o genótipo, também, pela descendência do in- divíduo: se algum de seus filhos exibe fenótipo recessivo, concluímos que ele é heterozigótico. Observe os seguintes heredogramas e tente determinar em quais deles a característica é determinada por um gene dominante e em quais heredogramas a característica é de- terminada por um gene recessivo. Para isso, considere os símbolos verdes para a representação de indivíduos afeta- dos e os símbolos brancos para os indivíduos normais. De acordo com o heredograma: I → os pais apresentam fenótipo dominante e o filho possui fenótipo recessivo. É possível ainda dizer que os pais apresentam o genótipo heterozigoto (ex.: Aa) en- quanto que o filho éhomozigoto recessivo (ex.: aa). Como os pais são afetados, conclui-se que a característica é de- terminada por gene dominante. II → os pais também apresentam fenótipo dominante e o filho possui fenótipo recessivo. Para que seja possível pais de mesmo fenótipo ter filho de fenótipo diferente, os pais devem apresentar o genótipo heterozigoto (ex.: Aa) enquanto que o filho é homozigoto recessivo (ex.: aa). Como os pais são normais e o filho é afetado, conclui-se que a característica é determinada por gene recessivo. III → os pais e o filho são afetados. Neste caso todos, podem ser homozigotos recessivos (ex.: aa) ou todos po- dem apresentar pelo menos um gene dominante (ex.: AA ou Aa). Logo, não é possível determinar se a característica é decorrente de um gene dominante ou recessivo. IV → os pais e o filho são normais. Neste caso, todos podem ser homozigotos recessivos (ex.: aa) ou todos po- dem apresentar pelo menos um gene dominante (ex.: AA ou Aa). Logo, não é possível determinar se o fenótipo nor- mal, nem mesmo o fenótipo afetado, é decorrente de um gene dominante ou recessivo. Cruzamento-teste Uma maneira amplamente utilizada para determinar o genótipo de um indivíduo com fenótipo dominante é o cruzamento-teste. Este consiste em cruzar o indivíduo de fenótipo dominante com um indivíduo de fenótipo reces- sivo e, portanto, necessariamente homozigótico. Se entre os descendentes de um cruzamento-teste houver tanto indivíduos com fenótipo dominante quanto com fenótipo recessivo, conclui-se que o indivíduo testa- do é heterozigótico. Se, por outro lado, a descendência é grande e todos os descendentes têm fenótipo dominante, esse é um bom indicativo de que o indivíduo testado é homozigótico dominante. Por exemplo, se cruzarmos uma planta de ervilha de co- tilédones amarelos, cujo genótipo pode ser VV ou Vv, com uma planta de cotilédones verdes (vv), e surgirem descen- Biologia 105Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s dentes verdes (vv), teremos certeza de que o tipo parental amarelo é heterozigótico (Vv). Por outro lado, se uma des- cendência grande é inteiramente amarela, é bem provável que o tipo parental amarelo seja homozigótico VV. Sementes amarelas de genótipo desconhecido Descendência amarela Descendência amarela e verde Cruzamento-teste em ervilhas. A ervilha amarela testada no cruzamento à esquerda é, muito provavelmente, homozigótica (VV), pois sua descendência é inteiramente constituída por sementes amarelas. Por outro lado, a ervilha amarela testada no cruzamento à direita é, com certeza, heterozigótica (Vv), pois, em sua descendência, há indivíduos verdes, recessivos (vv). Primeira Lei de Mendel Gerações P, F 1 e F 2 Antes de iniciar cada cruzamento, Mendel certificava- -se de estar lidando com plantas de linhagens puras. Para ele, eram puras as linhagens que, por autofecundação, da- vam origem somente a plantas iguais a si. Uma linhagem pura alta, por exemplo, quando autofecundada ou cruza- da com outra idêntica a si, só produz descendentes altos. Mendel realizou cruzamentos entre plantas puras que diferiam quanto a cada uma das sete características que ele escolheu. Por exemplo, plantas puras de semente ama- rela eram cruzadas com plantas puras de semente verde; plantas puras altas eram cruzadas com plantas puras anãs; plantas puras de flores terminais eram cruzadas com plan- tas puras de flores axiais; e assim por diante. Nesses cruzamentos, a geração constituída pelas va- riedades puras era denominada geração parental, hoje chamada, abreviadamente, geração P. A descendência imediata desses cruzamentos era chamada de primeira geração híbrida, hoje denominada geração F1 (primeira geração de filhos). A descendência resultante da autofe- cundação da primeira geração híbrida (F1) era denomina- da segunda geração híbrida, hoje chamada de geração F2. A Proporção 3 : 1 na Geração F2 Alguns predecessores de Mendel já haviam observado que certos traços desapareciam em uma geração, reapa- recendo na geração seguinte. A originalidade de Mendel consistiu em estabelecer a relação entre as quantidades de plantas que exibiam o traço dominante e as que exi- biam o traço recessivo, ou seja, a proporção (ou razão) entre os dois tipos de planta da geração F2. Essa visão matemática, quantitativa, aplicada aos cruzamentos, foi uma das grandes novidades que Mendel introduziu nos estudos genéticos. No cruzamento entre plantas puras de sementes ama- relas e plantas puras de sementes verdes, por exemplo, Mendel obteve, em F2, de um total de 8.023 semen- tes, 6.022 sementes amarelas e 2.001 sementes verdes. Dividindo-se o número de sementes amarelas pelo núme- ro de sementes verdes, obtém-se a proporção de aproxi- madamente 3,01 : 1. Em outro experimento, em que plantas puras de se- mentes lisas foram cruzadas com plantas puras de semen- tes rugosas, Mendel obteve, em F2, 5.474 sementes lisas e 1.850 sementes rugosas, o que representa a proporção de aproximadamente 2,96 : 1. Apesar de haver pequenas variações, os números obtidos nos diferentes experimen- tos eram sempre próximos de 3 : 1. Esquema do cruzamento de ervilhas amarelas e verdes e de amarelas entre si. Biologia 106 Extensivo O fato de as proporções entre os traços dominantes e recessivos serem tão parecidas em todas as características analisadas levou Mendel a pensar na existência de uma lei geral, responsável pela herança das características nas ervilhas, que hoje é chamada de lei da segregação dos fa- tores ou primeira lei de Mendel. O aspecto essencial da primeira lei de Mendel é a se- paração dos fatores hereditários (genes) na formação dos gametas. Essa lei pode ser enunciado como a seguir: Os fatores que condicionam uma característica segre- gam-se (separam-se) na formação dos gametas; estes, portanto, são puros com relação a cada fator. Sistema Rh: Exemplo de Herança que Segue a Primeira Lei de Mendel Em nível de ensino médio, o Sistema Rh, aquele que determina se o sangue é Rh negativo ou Rh positivo, é um exemplo de primeira lei de Mendel. A história de descoberta dessa característica sanguí- nea inicia em 1940. Nesta data, o mesmo Landsteiner e seu colega Wiener descobriram o fator Rh depois de realizarem a seguinte experiência: injetaram sangue de macaco Rhesus em co- elhos e verificaram que o organismo do coelho produzia anticorpos contra o sangue do macaco. Concluíram que o sangue do macaco possuía um determinado antígeno (chamado de Rh, em homenagem ao macaco) que não existia no sangue do coelho. Os anticorpos produzidos pelo organismo do coelho foram denominados anticorpos anti-Rh. Posteriormente, retiraram soro de coelhos sensi- bilizados, ricos em anticorpos anti-Rh, e testaram-no em amostras de sangue humano. Obtiveram o seguinte resul- tado: houve reação positiva de aglutinação, indicando a presença do mesmo antígeno do macaco nessas pessoas, em cerca de 85% dos casos. Essas pessoas foram, então, chamadas de Rh+. Entretanto, em cerca de 15% dos casos não houve reação de aglutinação, indicando a ausência de antígenos Rh nessas pessoas que foram chamadas de Rh–. 85% das amostras de sangue de seres humanos aglutinam na presença do soro anti-Rh (apresentam o mesmo fator que o macaco): são Rh+. 15% das amostras de sangue não aglutinam (não apresentam o fator do macaco): são Rh–. 100% das amostras de sangue do macano Rhesus aglutinam na presença do soro anti-Rh. sangue Rh+. soro anti-Rhinjetado em coelhos ou cobaias Esquema do procedimento para a produção de anticorpos contra o fator presente nas hemácias do macaco Rhesus. É interessante notar que os indivíduos Rh negativo não possuem o antígeno Rh nas hemácias, mas também não possuem os anticorpos anti-Rh, diferentemente do fator ABO, no qual os anticorpos são naturais. Se uma pessoa Rh negativa, porém, recebe sangue Rh positivo, fica sen- sibilizada e começa a produzir anticorposanti-Rh. Por isso mesmo, indivíduos Rh– não devem receber sangue Rh+. Portanto, podemos concluir que, com relação ao fa- tor Rh, o indivíduo Rh– é o “doador universal”. É o sangue que todos podem receber sem preocupação de aglutina- ção, no entanto, só podem receber outro sangue igual. Posteriormente estudaremos os tipos de sangue com rela- ção ao sistema ABO, e ficará clara porque o sangue O– é o verdeiro doador universal. Para entender a genética do sistema Rh vamos consi- derar, em nível de ensino médio, um caso de dominância simples, seguindo as regras da primeira lei de Mendel. Gene R Presença de antígeno Rh Gene r Ausência de antígeno Rh Pode-se usar também a letra ‘D’ para identificar o gene porque o antígeno Rh é também conhecido como antígeno D. Fenótipos Genótipos Aglutinogênios hemácias Aglutinas plasma Rh positivo RR; Rr DD; Dd Presença do antigeno Rh Incapacidade em produzir anti- -corpos anti-Rh. Rh nega- tivo Rr dd Ausência do antígeno Rh Capacidade em produzir anti- -corpos anti-Rh, se receberam hemá- cias positivas. Uma grande importância da descoberta do fator Rh foi que se podem esclarecer as causas da eritroblastose fetal, doença hemolítica do recém-nascido que causava muitos casos de abortos, natimortos ou a morte logo após o nasci- mento do bebê. O fator Rh foi confirmado como o respon- sável por essa doença que se caracteriza pela destruição das hemácias do feto, provocando anemia, icterícia (coloração amarela da pele e das mucosas provocada pela liberação do pigmento tóxico amarelo – a bilirrubina, produto da degra- dação da hemoglobina liberada na hemólise). Riscos de eritroblastose fetal somente acontecem se a mãe for Rh–, o pai Rh+ e o bebê Rh+, porque as mulheres Rh– podem produzir anticorpos anti-Rh se forem sensi- bilizadas ao gerarem filhos Rh+ ou tiverem recebido, aci- dentalmente, transfusões de sangue Rh+. Isso acontece porque, durante a gravidez e, principalmente, na hora do parto, ocorrem rupturas na placenta que permitem passa- gem das hemácias Rh+ da criança para a circulação mater- na. O organismo materno fica então sensibilizado, passan- Biologia 107Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s do a produzir anticorpos anti-Rh e adquirindo a memória imunológica quanto ao fator Rh. Geralmente, o primeiro filho escapa ileso porque, na primeira gravidez, a sensibili- zação materna ainda é pequena e o nível de anticorpo no sangue da mãe ainda não é suficiente para afetar a criança (a não ser que a mãe já tenha sido sensibilizada antes por uma transfusão de sangue Rh+, por exemplo). Entretanto, a partir da segunda gestação, na mesma situação, o bebê correria o risco de apresentar a doença, quando os anti- corpos anti-Rh do sangue da mãe, agora em muito maior número, caíssem na sua circulação sanguínea, provocando a destruição das suas hemácias. segundo feto Rh+ anticorpos anti-Rh primei ro feto Rh + anticorpos anti-Rh+ placenta mãe Rh– Primeira gravidez Entre gravidezes Segunda gravidez Esquema da patogenia da etitroblastose fetal. Ilustração produzida com base em: TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010, p. 702. O tratamento da DHRN pode ser efetuado com trans- fusão substitutiva, administrando-se sangue Rh negativo e compatível quanto ao sistema ABO à criança, a fim de evitar outras aglutinações e debelar a crise aguda. Essa troca de sangue pode ser realizada com a criança ainda no útero materno ou logo após o nascimento, porém os resultados não são plenamente satisfatórios. O proce- dimento mais eficaz consiste em evitar a sensibilização da mãe Rh negativa através do uso da imunoglobulina anti- -Rh (anticorpo anti-Rh), que lhe deve ser aplicada pouco antes do parto ou até três dias após. Nesse procedimento, a imunoglobulina injetada destrói as hemácias positivas do feto recém-introduzidas na circulação materna, evitan- do que a produção de anticorpos seja estimulada na mãe. Como a imunoglobulina injetada (ao contrário da pro- duzida naturalmente) tem vida curta e é logo consumida no processo de inativação das hemácias fetais, ela se es- gota nesse processo, evitando a imunização da mãe. A imunoglobulina anti-Rh é preparada a partir de doadores masculinos Rh negativos que receberam sangue positivo ou de mulheres que tiveram também imunização prévia, por meio de transfusões, filhos ou abortos incompatíveis. Destruição das hemácias fetais (Rh+) Representação esquemática do tratamento pós-parto para evitar a sensibilização de uma mulher Rh– que deu a luz um primeiro filho Rh+. Genes Letais São genes que determinam a morte do indivíduo no estado embrionário ou após o nascimento, quando em homozigose. Podem ser dominantes ou recessivos. São letais os genes para a cor amarela em ratos, a braquidactilia, a idiotia amaurótica infantil, a coreia de Huntington, entre outros. O geneticista francês Lucien Claude J. Cuénot (1866- 1951), em seus experimentos, no início do século XX, cruzou várias vezes machos e fêmeas de camundongos amarelos, estes heterozigotos, e sempre obteve 2/3 de animais amarelos e 1/3 de animais cinza, e não a clássica proporção de 3 : 1 da primeira lei de Mendel. Foi assim que Cuénot descobriu que homozigotos para o alelo P, que determina a cor amarela dos camundongos, morriam ainda quando embriões, sendo abortados. P p P p Pp (amarelo) Pp (amarelo) abortado PP Pp (amarelo) Pp (amarelo) pp (cinza) 2/3 1/3 Esquema do cruzamento entre camundongos amarelos heterozigotos. Em homozigose, o alelo P é letal. Observe que, apesar de ser um alelo dominante para a cor dos pelos do camundongo, o alelo P apresenta o caráter letalidade recessivo, pois manifesta letalidade apenas em dose dupla. Biologia 108 Extensivo A braquidactilia (do grego brachys = curto + daktylus = dedo) determina dedos anormalmente cur- tos, além de outros problemas. É causada por um ale- lo dominante que, em homozigose (BB), é letal. Em heterozigose (Bb), o alelo provoca a manifestação da doença com expressividade variável, isto é, que vai desde o encurtamento de alguns dedos, até formas mais graves que envolvem outras anomalias ósseas e retardo mental. Os indivíduos homozigotos recessivos (bb) são normais. A idiotia amaurótica infantil (do grego amaurotikós = próprio para escurecer), ou doença de Tay-Sachs, tem esse nome porque um dos seus sintomas é a perda da vi- são. Ela é causada pro um alelo recessivo que, em homo- zigose (ii), é letal nos primeiros anos de vida. Indivíduos homozigotos dominantes (II) ou heterozigotos (Ii) são normais. As crianças nascem com aparência normal, mas, já nos primeiros meses de vida, manifestam sinto- mas iniciais que, muitas vezes, passam despercebidos. Progressivamente, vão perdendo os movimentos, como a capacidade de engatinhar, sentar ou levantar a cabeça. A cegueira e a paralisia precedem a morte, entre o se- gundo e quarto ano de vida. A coreia de Huntington é uma degeneração nervo- sa com tremores generalizados e sinais de deteriora- ção mental, às vezes só manifestados após os 30 anos o que leva à transmissão dos genes aos descendentes. Região do cérebro já inexis- tente devido ao processo degenerativo causado pela doença de Huntington. Em uma pessoa normal esta regiãoe estaria preenchida por neurônios. Heredograma O heredograma, também chamado árvore genea- lógica, pedigree ou genealogia, é a representação de cruzamentos realizados experimentalmente ou ocorri- dos naturalmente. Os machos são representados por quadrados e as fêmeas, por círculos. Os cruzamentos são indicados por traços horizontais e os descenden- tes, por traços verticais. Os diferentes fenótipos são representados por algum sinal de diferenciação (cor, pontilhado, tracejado,entre outros). Nos heredogramas, usamos as seguintes simbologias: Convenções em um heredograma. Ilustração produzida com base em: SNUSTAD, D. P.; SIMMONS, M. J. Fundamentos da Genética, 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 55. O heredograma a seguir apresenta um caso de albi- nismo humano, deficiência caracterizada pela falta de pigmentação na pele, cabelos e olhos – o albinismo ocu- locutâneo. Representação esquemática de heredograma mostrando a transmissão do alelo para o albinismo em uma família. Nesse heredograma, estão representadas três gera- ções e observa-se que o albinismo é uma característica condicionada por alelo recessivo. Ele se manifesta nos indivíduos I-2 e I-3 e só reaparece em III -1, uma pessoa do sexo feminino. Os indivíduos II-3 e II-4, pais de III- 1, são heterozigotos para albinismo, pois cada um tem um genitor albino. Nos heredogramas, quando os pais apresentam um mesmo fenótipo para um determinado caráter dominante e o filho apresenta fenótipo diferen- te, conclui-se que os pais são heterozigotos e o filho é homozigoto recessivo. Biologia 109Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s Noções de Probabilidade Aplicada à Genética Princípios Básicos de Probabilidade Probabilidade é a chance de um determinado evento ocorrer, entre dois ou mais eventos possíveis. Por exem- plo, a chance de uma moeda cair com a face “cara” vol- tada para cima representa um entre dois eventos possí- veis, “cara” ou “coroa”. Nesse exemplo, dizemos que a probabilidade de sair “cara” é 1/2 (uma chance em duas possíveis) ou 50%, pois espera-se que em metade dos lan- çamentos de uma moeda seja obtida a face “cara”. Esta probabilidade é baseada no fato de a obtenção de “cara” no lançamento de uma moeda ser um evento aleatório e independente, ou seja, obter “cara” ao lançar uma moeda não aumenta nem diminui a chance de sair “cara” em um novo lançamento da moeda. Atenção: lembrar que o numerador da fração de uma probabilidade é o número de eventos desejados e o de- nominador é o número possível daquele evento ocorrer. Exemplo: Analise o seguinte heredograma. Pergunta: Qual a probabilidade de II.2 ser heterozigoto? Resposta: De acordo com o heredograma, conclui-se que os pais são heterozigotos, II.1 é homozigoto recessi- vo e II.2 ou é homozigoto dominante ou heterozigoto. Ou seja, não é possível dizer o genótipo de II.2, mas há uma certeza, II.2 não é homozigoto recessivo, afinal está repre- sentado por um símbolo vazio (não está colorido). Cruzando os pais Aa X Aa, obtém-se: AA, Aa, Aa ou aa. Assim, a probabilidade de II.2 ser heterozigoto é de duas chances em três possíveis, afinal aa é um genótipo impossível para II.2. A Regra do “e” A teoria das probabilidades diz que a probabilidade de dois ou mais eventos independentes ocorrerem con- juntamente é igual ao produto das probabilidades de eles ocorrerem separadamente. Esse princípio é conhecido popularmente como regra do “e”, pois corresponde à pergunta: qual é a probabilidade de ocorrer determinado evento e também um outro? Por exemplo, se jogarmos uma moeda duas vezes, qual é a probabilidade de obtermos duas vezes a face “cara”, isto é, de sair face “cara” no primeiro lançamento e face “cara” no segundo? A chance de sair “cara” na primeira jogada é 1/2, e a chance de sair “cara” na segunda joga- da também é 1/2. Assim, a probabilidade conjunta desses dois eventos ocorrerem é 1/2 x 1/2 = 1/4. A segregação dos alelos de um gene é um evento ca- sual comparável à obtenção de “cara” ou “coroa” no lan- çamento de uma moeda. Suponha que o lançamento de uma moeda dourada represente a formação do gameta feminino, que o lançamento de uma moeda prateada re- presente a formação do gameta masculino, e que “cara” e “coroa” sejam os dois alelos de um gene, A e a. O resulta- do da fecundação é comparável à combinação das faces obtidas no lançamento simultâneo das duas moedas. Aa Segregação de um par de alelos na formação do gameta feminino Aa Segregação de um par de alelos na formação do gameta masculino Comparação entre as probabilidades de obtenção de cara e coroa no lançamento de duas moedas e a formação de diferentes genótipos pela combinação ao acaso de um par de alelos, em um cruzamento genético. Vejamos outro exemplo. Qual é a probabilidade de um casal ter dois filhos do sexo masculino? Uma vez que a pro- babilidade de nascer homem é 1/2, a probabilidade de o ca- sal ter dois meninos, isto é, de o primeiro filho ser homem e o segundo também ser homem, é 1/2 x 1/2, ou seja, 1/4. A Regra do “ou” Outro princípio da teoria das probabilidades diz que a ocorrência de dois eventos mutuamente exclusivos é igual à soma das probabilidades de ocorrer cada um dos eventos iso- ladamente. Eventos mutuamente exclusivos são aqueles em que, ocorrendo um, o outro não ocorre. Esse princípio é co- nhecido popularmente como regra do “ou”, pois correspon- de à pergunta: qual é a probabilidade de ocorrer um deter- minado evento ou outro (eventos mutuamente exclusivos)? Por exemplo, a probabilidade de se obter “cara” ou “coroa” no lançamento de uma moeda é igual a 1, ou seja, é a probabilidade de sair “cara” somada à probabilidade Biologia 110 Extensivo de sair “coroa” (1/2 + 1/2 = 1). Da mesma forma, a proba- bilidade de obter-se “face 1” ou “face 6” no lançamento de um dado é 1/6 + 1/6 = 1/3. Considere agora a seguinte questão: qual é a probabili- dade de se obter “cara” e “coroa” no lançamento de duas moedas? Para responder a essa questão devem-se levar em conta as duas maneiras de se obter “cara” e “coroa”, quan- do se lançam duas moedas: pode sair “cara” na primeira e “coroa” na segunda ou “coroa” na primeira moeda e “cara” na segunda. Como já vimos, a probabilidade de sair “cara” e “coroa” é 1/4 (1/2 x 1/2); da mesma forma, a probabilidade de sair “coroa” e “cara” é 1/4. Como esses dois eventos são mutuamente exclusivos, devemos somar suas probabilida- des, obtendo a probabilidade final de 2/4 ou 1/2 (1/4 para “cara” e “coroa” + 1/4 para “coroa” e “cara”). O Mesmo Raciocínio é Válido para a Genética Por exemplo, um casal quer ter dois filhos; qual é a probabilidade de um ser menina e o outro menino? Há duas maneiras de um casal ter um menino e uma menina; a primeira criança pode ser menino e, a segunda, menina (1/2 x 1/2 = 1/4), ou a primeira pode ser menina e, a se- gunda, menino (1/2 x 1/2 = 1/4). Portanto, a probabilidade de o casal ter uma menina e um menino é 1/4 + 1/4 = 1/2. Como exercício, tente calcular a chance de um casal ter duas crianças do sexo masculino e uma do sexo feminino. Pense na ordem em que as três crianças podem nascer e faça os cálculos. Agora considere duas características para ervilhas: cor (amarela – VV ou Vv – ou verde – vv) e textura (liso – RR ou Rr – ou rugoso – rr). Sabendo que o cruzamento é entre ervilhas VvRr x VvRr, qual a probabilidade de nascer ervi- lhas amarelas e lisas? Para resolver esse problema, aconselha-se fazer a aná- lise da cor separadamente da textura, exemplo: • com relação à cor, as ervilhas cruzadas são Vv X Vv, e os descendentes possíveis são VV, Vv, Vv e vv. Logo, a chance de nascer ervilhas amarelas é de 3/4 (três chances em quatro possíveis). • com relação à textura, as ervilhas cruzadas são Rr X Rr, e os descendentes possíveis são RR, Rr, Rr e rr. Logo, a chance de nascer ervilhas lisas é de 3/4 (três chances em quatro possíveis). • a chance de nascer uma ervilha amarela e lisa é um exemplo de regra do “e”, de modo que, 3/4 x 3/4 = 9/16, ou seja, nove chances em dezes- seis possíveis. O exercício analisado é uma maneira muito comum de se resolver questões de segunda lei de Mendel, que será mais detalhado a seguir. Segunda Lei de Mendel Na primeira lei de Mendel, foi analisado uma única característica da ervilha por vez. No entanto, outro fator analisado por Mendel foi a transmissão simultânea deduas características, como a cor e a textura dos grãos de ervilha, ou a cor e o tipo de implantação das flores. Ele observou que a distribuição dos fenótipos, em F2 ocorria sempre nas mesmas proporções, isto é, para cada 16 er- vilhas, apareciam sempre quatro fenótipos diferentes, na proporção de 9 : 3 : 3 : 1. ervilhas amarelas lisas ervilhas verdes rugosas geração parental (P) gametas segunda geração filial (F2) 9 : 3 : 3 : 1 ervilhas amarelas lisas ervilhas amarelas rugosas ervilhas verdes lisas ervilhas verdes rugosas gametas cruzamento da primeira geração filial (F1 X F2) ervilhas amarelas lisas ervilhas amarelas lisas ervilhas amarelas lisas primeira geração filial (F1) VVRR vvrr VvRr VR vr VvRr VvRr V–R– V–rr vvR– vvrr VR Vr vR vr VR Vr vR vr Esquema do cruzamento de ervilhas amarelas e lisas com ervilhas verdes e rugosas e de amarelas e lisas entre si. Os gametas formam-se combinando os alelos ao aca- so, pois os dois pares de alelos são independentes. O nú- mero de gametas diferentes formados por um genótipo com vários pares de alelos pode ser obtido por meio da fórmula 2n, em que n é o número de pares de alelos hete- rozigotos e 2 é o número de gametas no monoibridismo. Assim, um indivíduo duplo-heterozigoto VvRr, por exem- plo, pode produzir 2n = 4 tipos de gametas. Veja, a seguir, as possibilidades de formação desses tipos de gametas. Formação de gametas em indivíduo duplo-heterozigoto VvRr alelos R r V VR Vr v vR vr Biologia 111Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s Em cruzamento entre dois indivíduos duplo-heterozi- gotos VvRr, os diferentes tipos de gametas formados com- binam-se ao acaso, resultando na geração F2. Veja nos quadros a seguir as possibilidades de com- binações dos gametas nesse tipo de cruzamento, com os respectivos genótipos e fenótipos resultantes. Possibilidades de combinações dos gametas no cruza- mento entre dois indivíduos duplo-heterozigotos VvRr e os genótipos possíveis em F2. Quadro de Punnett gametas femininos gametas masculinos VR Vr vR vr VR Vr vR vr VVRR VVRr VvRR VvRr VVRr VVrr VvRr Vvrr VvRR VvRr vvRR vvRr VvRr Vvrr vvRr vvrr Genótipos e fenótipos em F2 Genótipos Fenótipos 1 VVRR 2 VVRr 2VvRR 4 VvRr 9 ervilhas amarelas lisas 1VVrr 2Vvrr 3 ervilhas amarelas rugosas 1 vvRR 2 vvRr 3 ervilhas verdes lisas 1 vvrr 1 ervilha verde rugosa Observando que os fatores para as diferentes caracte- rísticas apresentavam um comportamento independente e se recombinavam ao acaso, Mendel propôs a sua segun- da lei ou Lei da segregação independente dos fatores. Os casos que analisam a transmissão de dois pares de alelos constituem exemplos de diibridismo. Vimos que a proporção fenotípica da F2 da segunda lei de Mendel é 9:3:3:1. Ou seja, para cada 9 ervilhas amare- las lisas que nascem, surgem 3 amarelas rugosas, 3 verdes lisas e 1 verde rugosa proveniente do cruzamento de ervi- lhas duplas heterozigotas (cruzamento entre F1). Essa mesma proporção poderia ser alcançada por meio de cálculos de probabilidade já estudados anteriormente. Observe o raciocínio a seguir. Do cruzamento entre indivíduos da F1 (ou seja, du- plos heterozigotos – VvRr X VvRr) qual a chance de nas- cer ervilhas: • Amarelas lisas? O cruzamento dos pais, com relação à cor é Vv X Vv. Logo, a chance de nascer uma ervilha amarela é de ¾. O cruzamento dos pais, com relação à textura é Rr X Rr. Logo, a chance de nascer uma ervilha lisa é de ¾. De acordo com a “regra do e”, a chance de nascer ervi- lhas amarelas e lisas é ¾ x ¾, que é igual a 9/16. • Amarelas rugosas? O cruzamento dos pais, com relação à cor é Vv X Vv. Logo, a chance de nascer uma ervilha amarela é de ¾. O cruzamento dos pais, com relação à textura é Rr X Rr. Logo, a chance de nascer uma ervilha rugosa é de ¼ . De acordo com a “regra do e”, a chance de nascer ervi- lhas amarelas e rugosas é ¾ x ¼, que é igual a 3/16. • Verdes lisas? O cruzamento dos pais, com relação à cor é Vv X Vv. Logo, a chance de nascer uma ervilha verde é de ¼ . O cruzamento dos pais, com relação à textura é Rr X Rr. Logo, a chance de nascer uma ervilha lisa é de ¾. De acordo com a “regra do e”, a chance de nascer ervi- lhas verdes e lisas é ¼ x ¾ que é igual a 3/16. • Verdes rugosas? O cruzamento dos pais, com relação à cor é Vv X Vv. Logo, a chance de nascer uma ervilha verde é de ¼ . O cruzamento dos pais, com relação à textura é Rr X Rr. Logo, a chance de nascer uma ervilha rugosa é de ¼ . De acordo com a “regra do e”, a chance de nascer ervi- lhas verdes e rugosas é ¼ x ¼, que é igual a 1/16. Repare, portanto que as probabilidades encontradas foram: 9/16, 3/16, 3/16 e 1/16. Já que os denominado- res são os mesmos, eliminando-os tem-se a proporção 9:3:3:1, exatamente a mesma encontrada por meio do quadro de Punnett. Gametas É preciso ressaltar que os gametas, por serem haploi- des, não apresentam pares de alelos. Assim, não podemos representar o genótipo de um gameta com repetição de uma mesma letra. Exemplo: • Um indivíduo de genótipo VvRr pode gerar game- tas do tipo VR, Vr, vR ou vr. Repare que em ne- nhum dos gametas existem duas letras “vês” ou duas letras “erres”. • Um indivíduo de genótipo VVRr pode gerar game- tas do tipo VR ou Vr. • Por fim, um indivíduo de genótipo VVRR só pode gerar gametas de um tipo VR. Biologia 112 Extensivo Já vimos que quando se pretende descobrir o número de tipos de gametas que um indivíduo é capaz de produzir, pode-se utilizar a fórmula 2n, no qual n representa o nú- mero de pares de alelos heterozigotos. Exemplo: • um indivíduo VvRr possui 2 pares de alelos hete- rozigotos (o par Vv e o par Rr), logo 22 é igual a 4. Este indivíduo pode produzir 4 variedades de gametas. • um indivíduo Aa BB Cc Dd ee possui 3 pares de ale- los heterozigotos (o par Aa, o par Cc e o par Dd), logo 23 é igual a 8. Logo este indivíduo pode produ- zir 8 variedades de gametas. Vários Genes Determinando uma Mesma Característica A determinação de um fenótipo pode resultar, muitas vezes, da ação conjunta de dois ou mais genes, que têm segregação independente. Nesses casos, os descendentes não se distribuem nas proporções mendelianas clássicas esperadas. Devido à interação dos genes a razão fenotípi- ca 9:3:3:1, observadas entre os descendentes de pais dií- bridos, altera-se para outras proporções. A ocorrência de interações gênicas é muito significativa, pois mostra que os fenótipos resultam de processos complexos que envol- vem, muitas vezes, vários genes. Um exemplo de interação gênica é a surdez hereditária humana, em que um gene dominante D é essencial para que ocorra, durante o desenvolvimento embrionário, a formação da cóclea, enquanto outro gene dominante E é essencial para a formação do nervo auditivo. Portanto, para que um indivíduo tenha audição normal, é essencial a presença desses dois genes dominantes. A ausência de qualquer um deles provoca a surdez. Com outras palavras, os dois pares de alelos se complementam na determina- ção da audição normal e, por isso, essa interação gênica é do tipo herança complementar. Assim: Audição normal Surdez D_E_ D_ee ddE_ ddee Outro caso de interação gênica é a cor da pele huma- na. Neste caso, a expressão do caráter manifesta-se de forma quantitativa, dependendo da quantidade de genes dominantes que estão agindo na interação. Podemos con- cluir então que, nesse tipo de herança, os genes possuem efeito aditivo e, por isso, é uma interação gênica é do tipo herança quantitativa. Dependendo da quantidade de genes dominantes, as pessoas podem produzir maior ou menor quantidade de melanina. Assim: Quantidade de genes dominantes Genótipos Fenótipos 4 3 2 1 0 AABB AABb; AaBB AAbb; aaBB; AaBb Aabb; aaBb aabb Negro Mulato escuro Mulato médio Mulato claro BrancoPor fim, existe um terceiro tipo de interação gênica chamada epistasia que será mais bem detalhado a seguir. Epistasia Outro caso de interação gênica é a epistasia, que con- siste no bloqueio da expressão do par de alelos de um gene pelo par de alelos de outro gene. O alelo que enco- bre a manifestação de outro é denominado epistático, e o que tem sua expressão mascarada, hipostático. O alelo inibidor ou epistático pode ser dominante ou recessivo, havendo dois tipos principais de interações epistáticas: epistasia dominante e epistasia recessiva. Epistasia versus dominância Sabemos que a epistasia ocorre quando um par de ale- los inibe a ação de outros pares. Assim sendo, há uma diferença entre epistasia e dominância. A dominância ocorre entre alelos de um mesmo gene e a epistasia, entre alelos de genes distintos. A epistasia dominante ocorre quando o alelo dominan- te de um par inibe a ação de aleIos de outro par. Um exem- plo clássico desse tipo de epistasia é o da cor das penas de galinhas. Aves da raça Leghorn têm dois pares de aleIos, um cujo aleIo dominante condiciona penas coloridas (C) e ou- tro cujo aleIo dominante bloqueia a manifestação de cor (I). Isso significa que o aleIo I é epistático em relação ao aleIo C. Por outro lado, a raça Wyandotte tem plumagem branca condicionada por dois pares de aleIos recessivos. Galo da raça Leghorn com penas brancas. Galo da raça Leghorn com penas coloridas. Galo da ração Leghorn com penas coloridas. Cruzando-se galos Leghorn homozigotos com galinhas Wyandotte brancas, obtêm-se em F1 somente aves bran- Biologia 113Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s cas. As aves de F1 cruzadas entre si produzem galinhas brancas e galinhas coloridas na proporção 13 : 3. Gametas IC Ic iC ic IC IICC IICc IiCC IiCc Ic IICc IIcc IiCc Iicc iC IiCC IiCc iiCC iiCc ic IiCc Iicc iiCc iicc Esquema do cruzamento entre galo homozigoto branco e galinha homozigota branca e de cruzamento entre aves de F1, com penas brancas. Gametas Fenótipos I_C_ BrancasI_cc iicc iiC_ Coloridas Nos casos de epistasia recessiva, o alelo recessivo de um gene, quando em homozigose, inibe o efeito do par de alelos de outro gene, com o qual interage. Um exemplo de epistasia recessiva é a cor da pe- lagem nos ratos. O alelo A de um par interage com o alelo C do outro par, originando a pelagem castanho- -acinzentado, denominada aguti. O alelo c é epistático em relação ao alelo A, mas o alelo recessivo a não pro- duz coloração aguti. Por sua vez, o alelo C determina a cor preta, desde que sem o alelo A, e o caráter albino é obtido pelo alelo c em dose dupla. Ao cruzarmos um rato albino ccAA com uma fêmea preta CCaa, teremos uma F1 100% aguti, com genóti- po CcAa. Esquema do cruzamento entre rato albino e fêmea preta. rato albino fêmea preta geração parental (P) gametas F1 aguti CcAa ccAA CCaa cA Ca Autocruzando F1, obteremos a seguinte proporção fe- notípica: 9 aguti, 3 pretos e 4 albinos. Gametas CA Ca cA ca CA Ca cA ca CCAA CCAa CcAA CcAa CCAa CCaa CcAa Ccaa CcAA CcAa ccAA ccAa CcAa Ccaa ccAa ccaa Genótipos Fenóticos C_A_ aguti C_aa pretos ccA_ albinos ccaa Ratos que possuem pelo menos um alelo dominante em cada locus são aguti. Ratos com genótipo C– são pretos, a menos que tam- bém tenham pelo menos A (o que os torna agouti). Ratos com genótipo cc são albinos, indiferentemente do seu genótipo para outro locus, por- que o genótipo cc bloqueia toda a produção de pigmentação. Os genes podem interagir epistaticamente – A epistasia ocorre quando um gene altera o efeito fenotípico de outro gene. Nesses ratos, a presença do genótipo recessico (cc) em um locus bloqueia à produção do pigmento, produzindo um rato albino, não importando qual é o genótipo do segundo locus. Biologia 114 Extensivo Ausência de Dominância: Dominância Incompleta e Codominância A ausência de dominância é um caso que envolve um único par de alelos, mas com proporções que fogem das regras mendelianas. Ocorre quando não existe dominân- cia absoluta de um gene em relação ao seu alelo. Nesse caso, em heterozigose, os dois genes se interagem, sur- gindo um terceiro tipo de fenótipo. Essa herança pode ser subdividida em dois tipos: dominância incompleta (ou he- rança intermediária) e codominância. Dominância Incompleta (Herança Intermediária) Na herança intermediária, o fenótipo do heterozigoto é intermediário, como acontece com as flores de boca- -de-leão que podem ser vermelhas ou brancas. O hete- rozigoto é cor-de-rosa, um fenótipo intermediário entre vermelho e branco. Outro exemplo é a herança da cor da plumagem de galinhas de raça andaluza, que podem ser pretas, brancas ou azuladas. FVFB FVFV FBFB FVFB FB FB FV FV FV FB FVFV FBFB FVFB FVFB FVFBPlanta F1 Planta F1 Flor cor de rosa Flor vermelha Flor branca Geração P Gameta Geração F1 Geração F2 Gametas Gametas Exemplos de dominância incompleta – Acima, representação esquemática do cruzamento entre plantas de boca-de-leão com flores vermelhas e com flores brancas. Codominância A codominância ocorre quando os dois alelos do heterozigoto são ativos. Na dominância incompleta, o híbrido representa um terceiro fenótipo, enquanto na codominância os dois fenótipos apresentam-se no he- terozigoto. Por exemplo, no gado da raça Shorthorn, quando cruzamos um animal de pelos avermelhados com um animal de pelos brancos, nasce um animal ruão, isto é, malhado, com parte da pelagem vermelha e parte da pelagem branca. C A B Nos cruzamentos com animais da raça Shorthorn, é possível obter três fenótipos distintos: animal com pelagem branca (A); animal com pelagem avermelhada (B) e animal malhado (C). Outro exemplo de codominância é o que ocorre no sis- tema sanguíneo MN, descoberto, em 1927, pelo médico austríaco Karl Landsteiner (1868-1943) e seu colaborador Philip Levine (1900-1987). O sistema MN apresenta três fenótipos, que corres- pondem aos tipos sanguíneos M, MN e N. Os tipos sanguíneos humanos são determinados pela presença de antígenos nas hemácias. A presença apenas do antígeno M nas hemácias é determinada pelo genótipo LMLM e caracteriza o tipo sanguíneo M; a presença apenas do antígeno N nas hemácias, por sua vez é determinada pelo genótipo LNLN e caracteriza o tipo sanguíneo N; por fim, a presença de ambos os antígenos (M e N) nas hemá- cias é determinada pelo genótipo LMLN e caracteriza o tipo sanguíneo MN. Os testes de tipagem sanguínea podem ser realizados graças à presença desses antígenos nas hemácias, pois estes reagem de maneira específica com determinados fatores obtidos do soro sanguíneo. Ao reconhecer o seu antígeno específico, o soro provoca uma reação deno- minada aglutinação, na qual as hemácias ficam aglome- radas. Dessa maneira, a aglutinação das hemácias, em presença de um soro conhecido, indica a presença do antígeno específico: o soro chamado anti-M provoca a aglutinação das hemácias que possuem antígeno M, en- quanto o soro anti-N provoca aglutinação das hemácias que possuem antígeno N. Biologia 115Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s hemácias aglutinadas hemácias não aglutinadas N (N) LN LN MN (M e N) LM LN M (M) LM LM genótipo tipo sanguíneo (antígeno presente) reações com antissoros soro anti-M soro anti-N Esquema de teste de tipagem sanguínea para o sistema MN. Submetendo-se amostras de sangue aos soros anti-M e anti-N é possível identificar os tipos sanguíneos M, N e MN. Ilustração produzida com base em: SNUSTAD, D. P.; SIMMONS, M. J. Fundamentos da Genética. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 69. Relação de dominância entre alelosde um gene Tipo de relação Características Dominância completa Os indivíduos heterozigóticos apresentam o mesmo fenótipo que um dos homozigóticos. Dominância incompleta Os indivíduos heterozigóticos apresentam fenó- tipo intermediário entre os dois homozigóticos. Codominância Os indivíduos heterozigóticos apresentam am-bos os fenótipos dos homozigóticos. Alelos Múltiplos ou Polialelia Polialelia é também uma herança que passa para as ex- tensões da genética mendeliana. Décadas depois do traba- lho de Mendel, outros descobriram que as em muitos casos, os alelos não demonstram uma relação simples entre domi- nância e recessividade. Em outros, um único alelo pode apre- sentar múltiplos efeitos fenotípicos quando é expresso. Os alelos existentes podem formar novos alelos por mutação, podendo haver muitos alelos para um único caractere. Devido às mutações aleatórias, um grupo de indivídu- os pode ter mais de dois alelos para certo gene. (Qualquer indivíduo possui somente dois alelos, é claro – um prove- niente de sua mãe e o outro de seu pai.) De fato, existem muitos exemplos desses alelos múltiplos. A cor da pelagem em coelhos é determinada por um gene com quatro alelos. Existe uma dominância hierárqui- ca nas combinações do gene: C > cch > ch > c Qualquer coelho com o alelo C (junto com qualquer um dos quatro) é cinza escuro, e um coelho que é cc é albino. As cores intermediárias resultam das diferentes combinações alélicas encontradas na figura a seguir. Genótipos possíveis Fenótipo CC, Ccch, Cch, Cc Cinza-escuro cch, cch Cinza-escuro cch ch, cchc Cinza-claro ch ch, ccc Himalaia cc Albino Existem quatro alelos do gene para a cor da pelagem em coelhos. Combinações diferentes de dois alelos produzem cores diferentes. Os alelos múltiplos aumentam o número de possíveis fenótipos. No cruzamento monoíbrido de Mendel, havia apenas um par de alelos (Ss) e dois possíveis fenótipos (re- sultantes de SS, Ss ou ss). Os quatro alelos do gene da cor da pelagem em coelhos produzem cinco fenótipos. Sistema ABO: Um Caso de Alelos Múltiplos Codominantes Como o sistema ABO envolve três alelos: IA, IB e i, se diz que é um exemplo de polialelia (alelos múltiplos). Com relação à dominância de cada um destes alelos pode-se resumir em: IA = IB > i Ou seja, IA e IB são alelos ativos no heterozigoto, dando origem ao sangue de fenótipo AB. Isso é um caso de co- dominância. Por isso se diz que o sistema ABO é um exemplo clás- sico de alelos múltiplos codominantes. A classificação do tipo sanguíneo nesse sistema baseia-se na presença de um antígeno A ou B, que se localiza na superfície das hemácias. Assim, o tipo sanguíneo A apresenta o antígeno A; o tipo sanguíneo B, o antígeno B; o tipo sanguíneo AB, os antíge- nos A e B; e o tipo sanguíneo O não apresenta antígenos. Antígenos estranhos introduzidos no organismo determi- nam uma resposta imunológica, com formação de anticorpos específicos. A função desses anticorpos é inativar os antíge- Biologia 116 Extensivo nos. Contra os antígenos A e B, formam-se no plasma sanguí- neo anticorpos anti-A e anti-B, que promovem aglutinação das hemácias portadoras dos antígenos correspondentes. Os antígenos do sangue são denominados aglutinogê- nios, e os anticorpos, aglutininas. Como os antígenos e os anticorpos correspondentes não podem coexistir num mesmo organismo, os grupos sanguíneos do sistema ABO apresentam os seguintes fenótipos: Sistema ABO Grupo sanguíneo Aglutinogênios (na superfície das hemácias) Aglutininas (no plasma sanguíneo) A A anti-B B B anti-A AB A e B nenhuma O nenhum anti-A e anti-B Fonte de pesquisa: MADER, S. S. Inquiry into life. 9. ed. New York: McGraw- Hill Higher Education, 2001. p. 278. Para que não haja aglutinação no organismo de um receptor, as doações de sangue devem ser específicas, se- guindo o seguinte esquema: Lembre que além do sistema ABO, existem outros sis- temas sanguíneos. Entre eles, o mais importante é o siste- ma Rh, que já foi estudado anteriormente, como um caso de monoibridismo. Considerando o sistema ABO e o sistema Rh, pode-se dizer que o individuo O– é o verdadeiro “doador universal” enquanto o AB+ é o verdadeiro “receptor universal”. A propriedade da aglutinação permite a determinação do tipo de sangue por meio de um teste simples: sobre uma lâmina de vidro, colocam-se duas gotas de soro, uma de anti-A e outra de anti-B. A cada uma delas mistura-se uma gota de sangue. Pode ocorrer aglutinação em uma das gotas, em ambas ou em nenhuma, o que permite a identificação do tipo sanguíneo. Lâminas com gotas de sangue humano, com hemácias não aglutinadas e hemácias aglutinadas. sangue + soro anti-A sangue + soro anti-B tipo sanguíneo hemácias não aglutinadas hemácias aglutinadas 0 A B AB Esquema do teste de tipagem sanguínea para o sistema ABO. Ilustração produzida com base em: MADER, S. S. Inquiry life. 9. ed. New York: McGraw-Hill Higher Education, 2001. p. 278. O sistema sanguíneo ABO é determinado por três ale- los IA, IB e i. O alelo IA controla a síntese do aglutinogênio A e é codominante com o alelo IB, que controla a síntese do aglutinogênio B. Ambos são dominantes sobre i, que con- diciona a não produção de aglutinogênios. Os genótipos e fenótipos possíveis são: Genótipos Fenótipos IAIA e lAi Sangue tipo A lBlB e lBi Sangue tipo B lAlB Sangue tipo AB ii Sangue tipo O Fonte de pesquisa: SNUSTAD, D. P.; SIMMONS, M. J. Fundamentos da Gené- tica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 70. O conhecimento da herança dos tipos sanguíneos per- mite que se faça previsão do tipo de sangue dos descen- dentes, a partir do tipo sanguíneo dos pais. Da mesma for- ma, pode-se determinar o tipo sanguíneo dos pais quando se conhece o tipo sanguíneo dos filhos. A análise da here- ditariedade do sistema ABO foi muito usada em Medicina Legal para resolver dúvidas de paternidade e suspeita de troca de crianças em maternidades. Atualmente, o teste do DNA substitui com vantagem as análises dos sistemas sanguíneos para os casos de paternidade duvidosa. Biologia 117Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s O teste do DNA para paternidade surgiu na década de 1980 e permite estabelecer relações de parentesco ao comparar o DNA dos indivíduos. Esse teste determina a paternidade com mais de 99,99% de certeza, enquanto as análises dos sistemas sanguíneos apenas excluem candi- datos, mas não conseguem indicar quem é o pai. Herança Ligada ao X Todos os tipos de herança que vimos até agora são classi- ficados como herança autossômica, porque os seus respec- tivos genes se localizam nos cromossomos autossomos, que são comuns aos dois sexos, masculino e feminino. Portanto, manifestam-se indistintamente em ambos os sexos. Mas exis- tem também os chamados cromossomos sexuais ou alosso- mos, responsáveis pela determinação genética do sexo em vários animais. Nos mamíferos, são denominados X e Y. A herança condicionada por genes localizados nestes cromossomos sexuais é chamada, genericamente, de he- rança relacionada ao sexo. Nas espécies animais que obedecem ao sistema XY, as fêmeas possuem dois cromossomos sexuais do mesmo tipo (cromossomo X) e os machos possuem um cromos- somo sexual correspondente ao das fêmeas (cromossomo X) e outro diferente, tipicamente masculino (cromossomo Y). As fêmeas possuem o cariótipo 2A + XX e os machos 2A + XY, em que 2A representa os pares de autossomos. Apresentam essa diferenciação sexual do tipo XY vários in- setos, como a mosca-de-frutas Drosophilla melanogaster, e a maioria dos mamíferos, inclusive a nossa espécie humana. Veja, no esquema a seguir, o cariótipo da espécie humana. Cariótipos normais da espécie humana em que 2n = 46. Em A – mulher normal – com 22 pares de autossomos + XX, e em B – homem normal – com 22 pares de autossomos + XY. O cromossomo Y possui uma região homóloga ao X (em verde),mas também possui uma região não homóloga (em laranja), onde existem genes exclusivos do sexo masculino. Fotomicrografia e desenho esquemático dos cromossomos sexuais humanos. Observe a região não homóloga entre eles. Xerodermia pigmentar Moléstia de Oguchi Paraplegia espástica Epidermólise bolhosa Retinite pigmentar Diátese hemorrágica Processos convulsivos x y Cegueira total Daltonismo hemofilia, atrofia óptica e outros genes ligados ao sexo (sex-flocked) Ictiose Hiperictiose auricular e outros genes holândricos C B 9 14 17 18 20 28 34 A Genes exclusivos do sexo masculino 9 14 17 18 20 28 34 B A herança condicionada por genes localizados na re- gião homóloga desses cromossomos não desperta maior interesse porque se comporta como qualquer herança do tipo autossômica. Na herança relacionada ao sexo, interessa-nos aquela condicionada por genes localizados na região não homó- loga dos cromossomos X e Y. Quando os genes se localizam na região não homólo- ga do cromossomo X, ocorre a herança ligada ao sexo ou ginefórica. Na espécie humana, já se conhecem vários ge- nes localizados nessa região, muitos deles, infelizmente, causadores de doenças como o daltonismo, a hemofilia, a distrofia muscular Duchenne (com atrofia e degenera- ção dos músculos esqueléticos), a síndrome de Fabry (um transtorno no armazenamento de lipídios que provoca graves problemas renais e cardíacos) e a displasia ecto- dérmica hipoidrótica (em que há redução drástica das glândulas sudoríparas e sebáceas, poucos pelos e defeitos dentários). Todas essas anomalias são condicionadas por genes recessivos localizados na região não homóloga do cromossomo X. Mas também existem doenças condicio- nadas por genes dominantes localizados nessa região do Biologia 118 Extensivo cromossomo X, como o gene que causa o raquitismo hi- pofosfatêmico (um tipo de nanismo com cabeça e tronco de tamanho normal, mas com os membros muito curtos, deformados e com limitação de movimentos). Foto de criança com distrofia muscular Duchenne. A herança ligada ao sexo é também chamada de he- rança ginefórica porque é transmitida da mãe para o filho do sexo masculino. Vamos usar o daltonismo como exem- plo padrão desse tipo de herança. O daltonismo é uma anomalia genética na qual o indi- víduo não distingue cores como verde, vermelho e azul. No tipo mais comum, a pessoa não distingue o verde do vermelho, sendo ambas as cores percebidas como mar- rom. É causado por gene recessivo ligado ao cromossomo X. Vamos representá-lo pela letra d e seu alelo dominante, que condiciona a visão normal, por D. Para a mulher mani- festar o daltonismo, é necessário que ela seja homozigota recessiva. Já o homem pode manifestar com apenas um alelo d, porque ele não existe no cromossomo Y. Veja os genótipos e fenótipos. Genótipo Fenótipo Símbolo usado em heredogramas XDXD mulher de visão normal XDXd mulher normal portadora XdXd mulher daltônica XDY homem de visão normal XdY homem daltônico Quando você for fazer o exame médico para tirar sua carteira de motorista, o médico vai lhe mostrar uma sé- rie de círculos com bolinhas coloridas, pedindo-lhe que diga qual o número que você enxerga em cada uma delas. Observe as quatro figuras nos círculos A, B, C e D e diga o que você enxergou. Teste para discromatopsia (cegueira para cores) Se você não tem nenhuma discromatopsia, verá, no círculo A, o número 29; no B, o número 45; no C, nenhum número; no D, o número 26. Se sofrer discromatopsia em relação ao vermelho verá, no círculo D, o número 6. Se a discromatopsia for em re- lação ao verde, verá apenas o número 2 no círculo D. Se tiver cegueira para as cores verde e vermelho (daltonismo clássico), vai enxergar, no círculo A, o número 70, nada nos círculos B e D e o número 5, no círculo C. Quem tem dis- cromatopsia total (cegueira total para cores) não distingue nada nos quatro círculos. Os cruzamentos são representados como em monoi- bridismo. Veja um exemplo de um cruzamento de um ho- mem normal com uma mulher normal portadora. Como podemos identificar, em heredogramas, uma herança ligada ao X recessiva? Precisamos procurar uma mulher afetada (XdXd). Para ser esse tipo de he- rança, seu pai e todos os seus filhos do sexo masculino, obrigatoriamente, serão também afetados. E como descobrir se a herança é ligado ao X domi- nante? Neste caso você deve identificar que todo o pai com a característica terá filhas com o mesmo fenótipo. Além disso, todo menino com a característica terá mãe com o mesmo fenótipo. Outros Tipos de Herança Relacionada ao Sexo • Herança restrita ao sexo ou ligada ao cromossomo Y: refere-se aos genes holândricos, ou seja, genes localizados no segmento do cromossomo Y que não apresenta homologia com o cromossomo X. Biologia 119Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s No ser humano, são conhecidos alguns genes holândri- cos, dentre os quais os responsáveis pelo desenvolvimen- to e funcionalidade das gônadas masculinas. • Herança influenciada pelo sexo: os genes locali- zam-se na parte homóloga do par de cromossomos sexuais X e Y, mas têm manifestações diferentes em machos e fêmeas; um exemplo é a calvície, que tem expressão dominante nos homens e recessiva nas mulheres. BIOTECNOLOGIA Tecnologia do DNA Recombinante ou Engenharia Genética A utilização de micro-organismos, plantas e animais para a produção de substâncias úteis ao ser humano é chamada de biotecnologia. A engenharia genética é uma nova biotecnologia baseada nas técnicas modernas de manipulação do DNA, que permite transplantar genes de uma espécie para outra e criar uma nova molécula de DNA que não exista na natureza. Durante um processo de engenharia genética é utili- zada uma técnica conhecida como clonagem molecular. A origem do termo clonagem molecular vem da Genética Bacteriana, que considera uma colônia de bactérias como um clone, pois todos os indivíduos são geneticamente idênticos à bactéria inicial. Essa é a técnica central da tec- nologia do DNA Recombinante. Ela consiste no isolamento e propagação de moléculas de DNA idênticas. Há pelo me- nos dois estágios importantes: • Elaboração do DNA recombinante: O inserto (frag- mento de DNA de interesse) é ligado ao vetor (uma outra molécula de DNA) para formar o DNA recom- binante. • Inserindo o DNA Recombinante numa célula: Numa célula hospedeira compatível é introduzida a molécula de DNA recombinante, num processo chamado de transformação. Para que fragmentos de DNA possam ser seleciona- dos, as chamadas enzimas de restrição são utilizadas. As enzimas de restrição ou endonucleases de restrição são divididas em várias classes, dependendo da estrutura, da atividade e dos sítios de reconhecimento e clivagem. O in- teresse por estas enzimas aumentou em 1973, quando se percebeu que elas poderiam ser usadas para fragmentar o DNA deixando extremidades de fitas simples de DNA, que permitiam a ligação de outros fragmentos. As enzi- mas do tipo II, as mais importantes na Tecnologia do DNA recombinante, são proteínas monoméricas ou diméricas e clivam (“cortam”) o DNA no mesmo sítio do seu reconhe- cimento. O sítio de reconhecimento deste tipo de enzima é normalmente uma sequência palíndrômica, ou seja, ela tem um eixo de simetria e a sequência de bases de uma fita é a mesma fita complementar, quando lida na direção oposta. Atualmente, mais de 1000 enzimas de restrição já foram identificadas. Enzima de restrição Enzima de restrição Extremidades livres Disponível em: http://www.google.com.br/imgres O Processo de Geração do DNA Recombinante Passo-a-Passo • Os pesquisadores querem estudar um gene que produz uma proteína que não se sabe a função. • Os pesquisadores “recortam” (utilizando Enzimas de Restrição), do DNA, o gene de interesse. • Esse fragmento de DNA contendo o gene é mul- tiplicado por PCR (Polimerase Chain Reaction). É ummétodo de amplificação (de criação de múl- tiplas cópias) de DNA (ácido desoxirribonucleico) sem o uso de um organismo vivo, por exemplo, Escherichia coli (bactéria) ou leveduras, para ob- ter várias cópias do mesmo fragmento (ou da mesma informação). • A mesma enzima que clivou (“cortou”) o gene do DNA é utilizada para clivar o plasmídeo (material genético circular não ligado ao cromossomo que fica espalhado pelo hialoplasma das bactérias). Lembre-se que o fragmento de DNA, ao ser cli- vado, gera pontas “adesivas” que são comple- mentares ao plasmídeo se este for clivado com a mesma enzima. Biologia 120 Extensivo • A seguir, o plasmídeo clivado é misturado com os fragmentos de DNA (contendo o gene) e uma en- zima chamada ligase “cola” os fragmentos ao plas- mídeo, produzindo o chamado DNA recombinante. Isso feito, o DNA recombinante é introduzido em uma bactéria hospedeira. • A bactéria hospedeira é colocada em um meio nutritivo seletivo, apenas aquelas que possuem o DNA recombinante crescem, formando colônias. Após muitas gerações de bactérias, o produto da expressão dos genes, as proteínas desejadas, são purificadas das bactérias (são separadas das prote- ínas das bactérias). Acompanhe na imagem a ilustração desse processo: Ligase Ligase Corte do plasmídio por enzima de restrição Corte do DNA a ser clonado com a mesma enzima de restrição União do plasmídio com o DNA a ser clonado DNA recombinante (plasmídio + DNA a ser clonado) Introdução do DNA recombinante na bactéria hospedeira Nucleoide Bactéria hospedeira com DNA recombinante Multiplicação dos plasmídios recombinantes e divisão da bactéria No desenvolvimento industrial, em comparação com os avanços da Medicina e da Agricultura, o DNA recombinante ainda está em sua “infância”, mas, ape- sar disso, vem crescendo com força. Um dos objetivos fundamentais é a produção de baixo custo de maté- rias-primas renováveis que possam substituir os recur- sos fósseis. Além disso, a tecnologia do DNA recom- binante vai ajudar a maximizar recursos industriais, utilizando alternativas biológicas, que são altamente sustentáveis e por consequência os preços dos produ- tos (dependendo do produto e das técnicas de purifi- cação do mesmo) podem até reduzir. As tabelas a seguir demonstram o uso da tecnologia do DNA recombinante na medicina e na agricultura: Alguns produtos de uso medicinal obtidos por meio da biotecnologia Produto Uso Fator neurotrópico derivado do cerébro Estimula o recrescimento de tecidos cerebrais em pacientes com a doença de Lou Gehrig Fator estimulante de colônias Estimula a produção de células brancas do sangue em pacientes com câncer e AIDS Eritropoietina Previne anemia em pacientes submetidos a hemodiálise Fator VIII Repõe fator de coagulação ausente em pacientes com hemofilia do tipo A Hormônio de crescimento Repõe hormônio ausente em pessoas de baixa estatura Insulina Estimula a absorção de glicose do sangue em pessoas com diabete Fator de crescimento derivado de plaquetas Estimula a cicatrização de feridas Ativador de plasmi- nogênio em tecidos Dissolve coágulos de sangue após ataques do coração e derrames Proteínas vacinas: hepatite B, herpes, influenza, doença de Lyme, meningite, coqueluche, etc. Previne e trata doenças infecciosas Aplicações da biotecnologia na agricultura em desenvol- vimento Problema Tecnologias/Genes Melhoramento das adapta- ções ambientais de plantas Genes para tolerância à seca e ao sal Melhoramento de reprodução Esterilidade do macho para sementes híbridas Melhoramento de traços nutricionais Sementes ricas em lisina Melhoramento de plantas após a colheita Atraso do amadurecimento de frutas; tomates mais sólidos; vegetais mais doces Utilização de plantas como biorreatores Plástico, óleos e fármacos produzidos em planta Controle de pestes em plantações Tolerância a herbicidas; re- sistência a vírus; bactérias, fungos e insetos Biologia 121Extensivo C iê nc ia s d a N at ur ez a e su as T ec no lo g ia s Clonagem Clonagem é o processo de criar um organismo gene- ticamente idêntico ao progenitor por meios assexuados. A natureza tem clonado organismos há bilhões de anos. Por exemplo, quando um pé de morango gera uma muda de micropropagação (uma forma de ramo modifica- do), uma nova planta cresce onde a muda se enraíza. Essa nova planta é um clone. Uma clonagem parecida ocorre com grama, batatas e cebolas. As pessoas têm clonado plantas de uma maneira ou de outra por milhares de anos. Por exemplo, quando você corta um ramo de uma planta e enxerta em outra (pro- pagação vegetativa), você está clonando a planta original porque a nova planta possui a mesma composição gené- tica da planta doadora. A propagação vegetativa funciona porque a extremidade do corte forma uma massa de célu- las não especializadas, chamada de calo. Com sorte, o calo crescerá, se dividirá e formará várias células especializa- das (raízes, ramos) e finalmente formará uma nova planta. Mais recentemente, os cientistas foram capazes de clonar plantas, pegando partes de raízes especializadas, extraindo as células da raiz e cultivando-as em uma cultu- ra rica em nutrientes. Na cultura, as células especializadas se tornam não especializadas (desdiferenciadas) em calos. Os calos podem então ser estimulados com os hormônios de planta adequados para crescerem e se tornarem novas plantas, que são idênticas à planta original de onde as par- tes da raiz foram retiradas. Etapas da multiplicação in vitro (condições de assepsia) Porém, as plantas não são os únicos organismos que po- dem ser clonados naturalmente. Os ovos não fertilizados de alguns animais (pequenos invertebrados, vermes, algumas espécies de peixe, lagartos e sapos) podem se desenvolver em adultos plenamente crescidos sob determinadas con- dições ambientais – normalmente algum tipo de estímulo químico. Este processo é chamado de partenogênese e a prole são clones das fêmeas que depositaram os ovos. Outro exemplo de clonagem natural são os gêmeos idênticos. Apesar de serem geneticamente diferentes dos pais, os gêmeos idênticos são clones entre si e que ocor- rem naturalmente. Os cientistas já experimentaram com a clonagem ani- mal, mas nunca foram capazes de estimular uma célula especializada (diferenciada) para produzir diretamente um novo organismo. Em vez disso, eles transplantam a in- formação genética de uma célula especializada em uma célula de óvulo não fertilizado cuja informação genética foi destruída ou removida fisicamente. Nos anos 70, um cientista chamado John Gurdon clonou girinos com sucesso. Ele transplantou o núcleo de uma célula especializada de um sapo em um ovo não fertilizado de outro sapo no qual o núcleo foi destruído por luz ultravioleta. O ovo com o núcleo transplantado se desenvolveu em um girino que era geneticamente idêntico ao segundo sapo. Sapo A Sapo B Clone do Sapo B Ovo Radiação destrói núcleo Ovo sem núcleo Núcleo da célula epitelial Ovo com núcleo transplantado Os ovos se desenvolvem em girinos Célula epitelial totalmente diferenciada Núcleo implantado no ovo Apesar de os girinos de Gurdon não terem sobrevivido até se tornarem sapos adultos, o seu experimento mos- trou que o processo de especialização em células animais era reversível e sua técnica de transferência nuclear abriu caminho para sucessos posteriores em clonagem. Em 1997, a clonagem foi revolucionada quando Ian Wilmut e seus colegas do Instituto Roslin em Edinburgo, Escócia, clonaram com sucesso uma ovelha chamada Dolly. Dolly foi o primeiro mamífero clonado. A Dolly (à direita) foi acasalada e deu à luz um filhote “normal” (o cordeiro a esquerda). Di sp on íve l e m : h ttp :// t1 .g st ati c. co m /im ag es Biologia 122 Extensivo Wilmut e seus colegas transplantaram um núcleo de uma célula de glândula mamária de uma ovelha Finn Dorsett
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