Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Química Geral e Inorgânica Aplicada à Farmácia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Fernando Perna Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Cálculo Estequiométrico • Grandezas Químicas; • Leis Ponderais; • Balanceamento de Reações Químicas; • Cálculo Estequiométrico. • Familiarizar-se com as principais grandezas químicas; • Conhecer as leis ponderais, os seus fundamentos e as suas implicações; • Ser capaz de balancear reações químicas; • Ser capaz de efetuar cálculos estequiométricos de acordo com os seus princípios fundamentais. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Cálculo Estequiométrico Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Cálculo Estequiométrico Grandezas Químicas A Química é uma Ciência que estuda as propriedades da matéria, as suas trans- formações e as leis que as regem. Nesse estudo é necessário utilizar grandezas específicas, apropriadas para descrever quantitativamente os diferentes fenômenos químicos. A seguir, serão discutidas algumas das grandezas químicas mais básicas. Quantidade de Matéria e Mol Quantidade de matéria é uma das grandezas fundamentais do Sistema Interna- cional de unidades (SI). Mede a quantidade de entidades elementares presentes em um sistema – elétrons, átomos, moléculas, íons etc. – e a sua unidade é o mol – plural: mols. Por sua vez, o mol é definido como a quantidade de substância de um sistema que contém tantas partículas quanto for o número de átomos existentes em 0,012 quilograma de carbono-121. Essa quantidade, denominada constante de Avogadro (NA), é igual a 6,022140857 × 10 23 partículas2, valor comumente arredondado para 6,02 × 1023, ou seja, 602 sextilhões de partículas. Pelo exposto, resulta que 12 g, ou 1 mol, de carbono-12 contêm 6,02 × 1023 átomos. Em 2019 entrou em vigor uma redefinição das unidades básicas do SI, entre as quais o mol, estabelecendo um valor numérico exato para NA. Com essa redefinição, o SI será totalmente derivável de fenômenos naturais, com a maioria das unidades baseadas em constantes físi- cas fundamentais. A definição revisada do mol rompe o seu vínculo com o quilograma, criando um número específico de partículas de uma substância: O mol, símbolo mol, é a unidade SI da quantidade de substância. Um mol contém exatamente 6,02214076 × 1023 entidades elementares. Esse número é o valor numérico fixo da constante de Avogadro, NA, quando expresso na unidade mol −1 e é chamado número de Avogadro. Ex pl or De forma simplificada, pode-se entender a constante de Avogadro como sendo “o nome de um número”, da mesma forma que dezena se refere ao número 10, dúzia ao número 12, assim como centena ao número 100. A única diferença é que, enquanto dezena e dúzia são utilizadas no cotidiano para se referirem a pequenas quantidades de objetos manipulados corriqueiramente – uma dúzia de ovos, por exemplo –, a constante de Avogadro – um número muito maior – é empregada em 1. Carbono-12 refere-se ao isótopo de carbono que possui 6 prótons (como todo átomo de carbono) e 6 nêutrons no núcleo; outros isótopos naturais são o carbono-13 (7 nêutrons) e o carbono-14 (8 nêutrons, radioativo). 2. Valor definido pelo Committee on Data of the International Science Council (Codata), que é um comitê interdiscipli- nar internacional que publica periodicamente relatórios estabelecendo valores recomendados para constantes físicas fundamentais e fatores de conversão; confira o site The Nist Reference on Constants, Units, and Uncertainty, constante nas Referências desta Unidade. 8 9 Química para se referir a quantidades de moléculas, átomos etc. Contudo, a forma de trabalhar com esses diferentes números é essencialmente a mesma. Por exemplo: 1 dúzia de pessoas = 1 × 12 = 12 pessoas 2 centenas de átomos = 2 × 100 = 200 átomos 1,5 dezena de moléculas = 1,5 × 10 = 15 moléculas 1 mol de átomos = 1 × 6,02 × 1023 = 6,02 × 1023 átomos 3 mols de íons = 3 × 6,02 × 1023 = 18,06 × 1023 íons = 1,8 × 1024 íons Inversamente: 36 lápis = = 3 dúzias de lápis 36 12 750 elétrons = = 7,5 centenas de elétrons 750 100 1,2 × 1024 moléculas = = 2 mols de moléculas 1,2 × 1024 6,02 × 1023 Uma relação importante que deriva da definição é: 1 mol = 6,02 × 1023 partículas = constante de Avogadro A partir dessa relação, pode-se interconverter quantidade de matéria e número de partículas utilizando uma regra de três: 1 mol — 6,02 × 1023 partículas Por exemplo: • Quantos átomos existem em 3,7 mol de hélio? 1 mol át. He — 6,02 × 1023 át. He 3,7 mol át. He — N N = 3,7 ∙ 6,02 × 1023 ⇒ N = 2,23 × 1024 átomos de He 9 UNIDADE Cálculo Estequiométrico • Quantos mols3 de cobre existem em 1,91 × 1023 átomos? 1 mol át. Cu — 6,02 × 1023 át. Cu n — 1,91 × 1023 át. Cu n = 23 23 1,91 10 6,02 10 ´ ´ ⇒ n = 0,317 mol de átomos de Cu Massa Atômica Não é possível determinar diretamente a massa de um átomo; pode-se, contudo, conhecer a relação entre as massas de diferentes átomos. Tradicionalmente, a massa atômica tinha um valor relativo, sendo uma grandeza sem unidade. Em 1803, o inglês e professor de Ciências John Dalton sugeriu que a referência fosse o átomo de hidrogênio, ao qual se atribuiu a massa igual a 1,0. Tomando a massa do átomo de hidrogênio como padrão, obtinham-se, através de reações químicas, as massas dos demais elementos; por exemplo: mcarbono = 12 mhidrogênio \ mcarbono = 12 unidades Similarmente, para os demais elementos: moxigênio = 16 unidades msódio = 23 unidades mcloro = 35,5 unidades etc. Em 1903, o químico alemão Friedrich Wilhelm Ostwald sugeriu substituir o átomo de hidrogênio pelo de oxigênio, sendo que 1 unidade de massa atômica equivaleria a 1/16 da massa do átomo de oxigênio. Contudo, com a descoberta dos isótopos, em 1912, e particularmente do isótopo de oxigênio, em 1929, surgiram divergências nos valores das massas atômicas dos elementos. Esse problema foi resolvido em 1961, quando a Iupac4 determinou que o padrão para a unidade de massa atômica fosse o isótopo 12 do carbono, ao qual foi atribu- ído o valor exato de 12,00000 unidades. Assim, 1 unidade de massa atômica (1 u5) passou a corresponder a 1/12 da massa do átomo de carbono-12: 3. Embora o termonúmero de mols seja amplamente utilizado, a expressão correta é quantidade de matéria, que é o nome da grandeza cuja unidade é o mol. 4. Abreviação em inglês para União Internacional da Química Pura e Aplicada; trata-se de uma organização interna- cional que visa a estabelecer padrões normativos para a área da Química. 5. Antigamente, a unidade de massa atômica era abreviada por “uma”, de “unidade de massa atômica”, mas essa notação foi substituída por “u”; na área da Saúde ainda é comum referir-se à unidade de massa atômica por Dalton (símbolo Da; 1 Da ≅ 1 u), principalmente ao se referir ao tamanho de moléculas de proteínas. 10 11 Dividido em 12 partes iguais Átomo de 12C Átomo de 12C dividido em 12 partes 1/12 do átomo de 12C 1 unidade de massa atômica 1 u = mC-12 1 12 Figura 1 – Defi nição moderna da unidade de massa atômica Assim, tem-se que a massa atômica indica quantas vezes a massa de um átomo de um determinado elemento é maior que o padrão – 1/12 da massa do átomo de carbono-12 (Figura 2). Figura 2 – A massa de um átomo de sódio é igual a 23 unidades de massa atômica Fonte: Adaptado de brasilescola.uol.com.br A massa atômica é simbolizada por Ar(X), representando a massa atômica rela- tiva do elemento X. Por referir-se a um valor muito pequeno, o valor numérico da massa atômica não é expresso nas unidades de uso corriqueiro – miligrama, grama, quilograma –, adotando-se apenas a unidade u. Uma unidade de massa atômica (1,00000 u) cor- responde a 1,66054 × 10–27 kg2, o que equivale aproximadamente à massa de um próton2 (1,67262 × 10–27 kg; 1,00728 u) ou de um nêutron2 (1,67493 × 10–27 kg; 1,00866 u). Por essa razão, não é coincidência que o número de massa de um determinado átomo – número total de partículas no núcleo (prótons mais nêutrons) – seja muito próximo do valor da sua massa atômica – por serem muito pequenos, a massa dos elétrons é desprezível. 11 UNIDADE Cálculo Estequiométrico Massa Atômica de um Elemento Com algumas exceções, a maioria dos átomos de cada um dos diversos ele- mentos químicos não é igual entre si. Embora todos tenham o mesmo número de prótons, e, portanto, pertençam ao mesmo elemento químico, diferem no número de nêutrons no núcleo. Esses diferentes tipos de átomos de um mesmo elemento são denominados isótopos – do grego isos = igual e topos = lugar, ou seja, mesmo lugar, em uma referência ao fato de que os isótopos de um elemento químico ocu- pam o mesmo lugar na tabela periódica, pois todos têm o mesmo número atômico. Por terem diferentes composições nucleares, os isótopos têm distintas massas atômicas; por exemplo, a massa atômica do cloro-35 (17 prótons e 18 nêutrons, representado também por 35Cl) é 34,96885 u, enquanto a do cloro-37 (17 prótons e 20 nêutrons, ou 37Cl) é 36,96590 u. Isso causa um problema de ordem prática, pois qualquer amostra de um elemento químico será uma mistura de seus isótopos, afetando o valor da massa atômica a ser utilizada em cálculos. Esse problema é resolvido calculando a massa atômica média para o elemento químico, que é obtida levando em conta as massas atômicas de cada isótopo e as suas abundâncias, ou seja, calculando a média ponderada das massas atômicas. Por exemplo, para o cobre, que existe na natureza na forma de dois isótopos, tem-se: Tabela 1 – Massas atômicas e abundâncias dos isótopos de cobre Isótopo Massa atômica (u) Abundância natural (%) 63Cu 62,9296011 69,17 65Cu 64,9277937 30,83 Fonte: Handbook CRC of Chemistry and Physics, 2002 Calculando a média ponderada, tem-se: Média ponderada = ·( )+ ·( )62 9296011 69 17 64 9277937 30 83 100 , , , , Média ponderada = 63,5456349 u Massa atômica e abundância do 63Cu Massa atômica e abundância do 65Cu Ou seja, a massa atômica média relativa do cobre em uma amostra, represen- tada por Ar(Cu), é 63,5456349 u. Esse tipo de cálculo é feito para todos os ele- mentos que tenham isótopos e o resultado é o valor de massa atômica registrado na tabela periódica. 12 13 Massa Molecular Similarmente ao que acontece com os átomos, a massa molecular de uma subs- tância indica quantas vezes a massa de uma molécula é maior que 1/12 da massa do átomo de carbono-12. Enquanto os valores das massas atômicas podem ser obtidos diretamente consul- tando uma tabela periódica, para obter a massa molecular deve-se somar os valores das massas atômicas dos elementos que compõem a substância; por exemplo, para o ácido sulfúrico (H2SO4) tem-se: Mr(H2SO4) = (2 × 1,01) + (1 × 32,06) + (4 × 16,00) ⇒ Mr(H2SO4) = 98,08 u A representação geral para a massa molecular é Mr(X), referindo-se à massa molecular relativa da substância X. O termo massa molecular refere-se especificamente a moléculas, ou seja, substâncias que possuem apenas ligações covalentes entre os seus átomos, não sendo apropriado para compostos iônicos. Nesse caso, a denominação dada é massa-fórmula, embora muitas vezes o termo massa molecular seja utilizado indis- tintamente para ambos os tipos de compostos. Massa de um Íon Um íon é um átomo ou um grupo de átomos em que ocorreu perda ou ga- nho de elétrons; no primeiro caso, forma-se um cátion; no segundo, um ânion. Como a massa de um elétron é muito menor que a de um átomo, a variação de massa resultante do ganho ou da perda de um ou mais elétrons é desprezível, e assim a massa do íon é essencialmente igual à massa da molécula ou do átomo neutro. Por exemplo: Ar(Bi) = 208,98 u ⇒ Ar(Bi3+) = 208,98 u Ar(Cl) = 35,45 u ⇒ Ar(Cl–) = 35,45 u Mr(NO2) = 46,01 u ⇒ Mr(NO 2+) = 46,01 u Mr(SO3) = 80,06 u ⇒ Mr(SO3 2–) = 80,06 u Massa Molar A massa de átomos ou moléculas individuais é extremamente pequena, portanto, não é possível trabalhar com esses valores no dia a dia. As balanças comumente disponíveis são capazes de medir massas com uma exatidão de 0,001 g (10–3 g), ou 0,0001 g (10–4 g), sendo que as mais precisas, utilizadas em aplicações muito especí- ficas, chegam a determinar massas da ordem de 0,0000001 g (10–7 g), valores muito maiores que a ordem de grandeza das massas de átomos e moléculas (10–24 g). Esse problema pode ser contornado com um artifício simples: suponha que se queira determinar a massa de um único grão de arroz empregando uma balança 13 UNIDADE Cálculo Estequiométrico de cozinha, esta com escala de 1 g, não sendo capaz de medir a massa desse grão, mas podendo medir a massa se a quantidade de grãos for suficientemente grande. Considerando que todos os grãos sejam iguais, basta dividir a massa medida pelo número de grãos utilizados para saber a massa de um grão individual. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a átomos e moléculas: uma quantidade suficientemente grande terá uma massa que uma balança poderá registrar; quanto mais partículas forem reunidas, maior será a massa. Existe uma quantidade de áto- mos/moléculas grande o suficiente tal que a massa do conjunto seja numericamen- te igual à massa atômica/molecular da substância, ou seja, 6,02 × 1023 partículas, logo, 1 mol. Por exemplo, a massa atômica de 1 átomo de enxofre é 32,064 u, então, a massa de 1 mol de átomos de enxofre será 32,064 g; similarmente, a massa de uma molécula de água é 18,02 u, e a massa de 1 mol de moléculas será 18,02 g. Em ambos os casos, os valores numéricos das massas são os mesmos, sendo alteradas apenas as quantidades – uma partícula e 1 mol de partículas, res- pectivamente. A massa em gramas de 1 mol de partículas de uma substância é denominada massa molar. Essa relação vale para partículas de qualquer natureza – átomos, moléculas, íons. Em todos os casos, a massa em gramas de 1 mol da substância é numerica- mente igual à massa atômica/molecular. Obviamente, substâncias diferentes são formadas por átomos distintos, de modo que as massas de 1 mol de diferentes substâncias também serão distintas; contu- do, em todos os casos, o número de unidades elementares será sempre o mesmo (6,02 × 1023). Amostras de 1 mol (6,02 × 1023 partículas)de diferentes substâncias; da esquerda para a direita: HgO [óxido de mercúrio(II), 216,59 g], C12H22O11 (sacarose – açúcar comum, 342,29 g), S8 (enxofre, 256,51 g), CuSO4.5H2O [sulfato de cobre(II) penta-hidratado, 249,68 g), NaCl (clo- reto de sódio – sal de cozinha, 58,44 g) e Cu (cobre metálico, 63,55 g): http://bit.ly/2HSkkAD. Ex pl or O conceito de massa molar permite ampliar a correlação de grandezas estabele- cida quando das definições de mol e da constante de Avogadro: ( )( ) ( )( ) r23 r X g 1 mol — 6,02 10 partículas — X g A M ìïï´ íïïî Sendo: Ar(X) (g): massa atômica do elemento X expressa em gramas. Mr(X) (g): massa molecular da molécula X expressa em gramas. 14 15 Uma correlação útil que surge dessa definição é dada por: ( ) ( )r r m mn = ou n = X XA M Sendo: n: quantidade de matéria (mol). m: massa (g). Ar(X)/Mr(X): massa molar (g/mol). Assim, é possível correlacionar a massa de uma substância à sua quantidade de matéria e ao número de partículas – átomos, moléculas, íons. Por exemplo: • Calcule a massa de 3,5 mol de íons Fe2+: 1 mol Fe2+ — Ar(Fe2+) 1 mol Fe2+ — 55,85 g Fe2+ 3,5 mol Fe2+ — m m = 3,5 ∙ 55,85 ⇒ m = 195,8 g de Fe2+ Ou: ( ) 2+ r m mn = 3,5 = m = 195,8g de Fe X 55,85A Þ Þ • Quantas moléculas existem em 20 g de glicose (C6H12O6)? Mr(C6H12O6) = (6 × 12,01) + (12 × 1,01) + (6 × 16,00) Mr(C6H12O6) = 180,18 u 6,02 × 1023 moléc. C6H12O6 — Mr(C6H12O6) 6,02 × 1023 moléc. C6H12O6 — 180,18 g C6H12O6 N — 20 g C6H12O6 23 22 6 12 6 20 6,0 2 10 6,68 10 moléculas de C H O 180,18 N N× ´= Þ = ´ Volume Molar Define-se como volume molar (Vm) o volume ocupado por 1,0 mol de uma substância, independentemente de seu estado físico. Como o volume dos gases é significativamente influenciado pela pressão e temperatura, é necessário estabele- cer condições-padrão para medições experimentais que permitam comparações entre diferentes conjuntos de dados. As condições mais utilizadas são as Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), estabelecidas como: CNTP: T = 0 °C (273,15 K) e P = 1,0 atm 15 UNIDADE Cálculo Estequiométrico Diversas entidades em todo o mundo empregam definições muito diferentes de condições padrão e nenhuma das quais é universalmente aceita. Diferentes organizações estabelece- ram uma variedade de condições adequadas às realidades de suas atividades, com valores próprios de temperatura e pressão (p. e., 15 °C, 16 °C, 20 °C, 21 °C ou 25 °C e 1,0 atm; 15 °C, 20 °C ou 25 °C e 100 kPa; 15 °C e 750 mmHg). Ex pl or Lei de Avogadro Em 1811, o advogado e físico italiano Amedeo Avogadro, trabalhando com ga- ses, fez observações que o levaram ao enunciado da Lei que leva o seu nome – Lei de Avogadro: volumes iguais de gases diferentes, submetidos às mesmas con- dições de temperatura e pressão, contêm os mesmos números de moléculas. Figura 3 – Lei de Avogadro: estando diferentes gases nas mesmas condições de pressão, volume e temperatura, os três balões terão os mesmos números de partículas; por outro lado, como as partículas são diferentes, as massas dos gases em cada caso serão distintas Fonte: Adaptada de Rice University A Lei de Avogadro é geral: quaisquer gases sob as mesmas condições de pres- são, volume e temperatura terão os mesmos números de partículas.6 Agora, o valor numérico do volume molar de um gás qualquer pode ser definido; observa-se que, nas CNTP, o volume molar é: Vm = 22,4 L (CNTP) 6 O valor de 22,4 L reflete o comportamento de gases ideais, ou seja, gases formados por par- tículas de volume desprezível e que não interagem entre si. O volume molar de gases reais normalmente desvia um pouco desse valor; p. e., SO2 (21,9 L), CO2 (22,3 L) e Cl2 (23,0). Ex pl or 6. Desde 1982 a Iupac recomenda que, mantida a temperatura de 0 °C (273,15 K), o valor da pressão de 1,0 atm adotado nas CNTP seja substituído por 1,0 bar (100 kPa), gerando as Condições Padrão de Temperatura e Pressão (CPTP); nessas condições, o volume molar de um gás é de 22,7 L; mesmo assim, ainda hoje as CNTP são ampla- mente utilizadas, em detrimento das CPTP. 16 17 Combinando a definição de volume molar com a Lei de Avogadro e estabele- cendo uma condição-padrão, tem-se que o volume de 1,0 mol de qualquer gás nas CNTP será 22,4 L. A correlação das grandezas químicas pode ser ampliada para incluir substân- cias gasosas: ( )( ) ( )( ) ( )231 mol — 6,02 10 partículas — — 22,4 L CNTP Ar X g Mr X g ìïï´ íïïî É possível obter o volume de certa quantidade de um gás em outras condições de temperatura e pressão, mas esse cálculo está além dos objetivos desta Unidade. A partir deste ponto, pode-se efetuar cálculos reunindo todas as grandezas quí- micas. Por exemplo: • Calcule o volume ocupado por 10 g de CO2 nas CNTP: Mr(CO2) = (1 × 12,01) + (2 × 16,00) ⇒ Mr(CO2) = 44,01 u 1 mol CO2 — Mr(CO2) — 22,4 L CO2 44,01 g CO2 — 22,4 L CO2 10 g CO2 — V 2 10 22,4V V 5,09L de CO 44,01 × = Þ = • Calcule o número de moléculas existentes em 2,0 L de N2, a 0 °C e 1,0 atm: Mr(N2) = 4 × 14,01 ⇒ Mr(N2) = 28,02 u 1 mol N2 — 6,02 × 10 23 moléc. N2 — 22,4 L N2 6,02 × 1023 moléc. N2 — 22,4 L N2 N — 2,0 L N2 23 22 2 2 6,02 10N N 5,375 10 moléculas de N 22,4 × ´ = Þ = ´ • Calcule quantos mols de Ne existem em 11,2 L do gás, nas CNTP: 1 mol Ne — 22,4 L Ne n — 11,2 L Ne 11,2n n 0,5 mol de Ne 22,4 = Þ = 17 UNIDADE Cálculo Estequiométrico Leis Ponderais As leis ponderais foram formuladas no final do século XVIII. São correlações matemáticas estabelecidas a partir do estudo das relações entre as massas das subs- tâncias envolvidas em uma reação química – reagentes e produtos –, tornando-se essenciais aos estudos de Estequiometria. Lei de Lavoisier – Lei de Conservação da Massa A Lei de conservação da massa é uma das leis fundamentais da Química. Foi enunciada em 1774 pelo químico francês Antoine Laurent de Lavoisier: em uma reação química realizada em ambiente fechado, a soma das massas dos rea- gentes é igual à soma das massas dos produtos. Lavoisier realizou diversas reações químicas, tanto em sistemas abertos, quanto em sistemas fechados, e mediu as massas de reagentes e produtos nos dois casos. Observou variações de massa em sistemas abertos, concluindo acertadamente que nesses casos era possível a troca de massa com o ar; contudo, tais variações não ocorriam quando as reações eram realizadas em recipientes fechados; uma dessas reações foi a combustão de mercúrio metálico (Esquema 1): Mercúrio + Oxigênio ∆→ 100,3 g 8,0 g 108,3 g Óxido de mercúrio 108,3 g 108,3 g Massa de reagentes = Massa de produtos Esquema 1 – Conservação da massa observada por Lavoisier; em um sistema fechado, sem variação de massa em uma reação química Importante! Que no final do século XVIII, quando as leis ponderais foram estabelecidas, não se repre- sentavam os elementos químicos utilizando letras, como se faz atualmente? Essa notação foi criada em 1818 pelo químico sueco Jöns Jacob Berzelius; em vez disso, usavam-se símbolos alquímicos para as substâncias, tais como ☿ para o mercúrio e ① para o cloreto de sódio – sal de cozinha. Você Sabia? 18 19 A Lei de Lavoisier pode ser explicada do ponto de vista microscópico, consideran- do que uma reação química corresponde simplesmente ao rearranjo de átomos para formar novas substâncias, sem haver ganho ou perda de nenhum átomo (Figura 4): Figura 4 – Lei de Lavoisier: o número de átomos de cada elemento químico é o mesmo antes e depois da reação: 1 átomo de carbono (preto), 4 átomos de hidrogênio (branco) e 4 átomos de oxigênio (vermelho) Fonte: Wikimedia Commons A necessidade de considerar um sistema fechado se explica pela possibilidade de a reação envolver o oxigênio do ar ou formar algum gás que é liberado para o ar. A conservação da massa é usada em diversas áreas, tais como Química, Enge- nharia Química, Mecânica e Dinâmica de Fluidos. Essa lei teve participação fun- damental na evolução da alquimia para a Química Moderna,sendo um dos seus pilares; contudo, não se aplica a processos nucleares, pois nesse caso parte da massa dos reagentes é convertida em energia. É a partir dessa lei que surgiu uma das mais famosas afirmações científicas: na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Importante! Que o escritor e cientista russo Mikhail Vasilyevich Lomonossov descreveu a Lei de con- servação da massa em 1760, quatorze anos antes de Lavoisier? Lomonossov não levou o crédito pela descoberta por não a ter divulgado na Europa, que à época era o centro do pensamento científico mundial. Você Sabia? Lei de Proust – Lei das Proporções Definidas A Lei das proporções definidas é uma das leis fundamentais da Química. Foi enunciada em 1794, pelo químico francês Joseph Louis Proust: um composto químico contém sempre os mesmos elementos combinados na mesma pro- porção em massa. Em outras palavras, a Lei de Proust estabelece que as massas dos reagentes e pro- dutos podem se alterar de uma reação para outra, mas seguem uma proporção cons- tante: se a massa de um reagente dobrar, o mesmo acontece com a massa do produto. 19 UNIDADE Cálculo Estequiométrico Proust estudou diferentes substâncias para chegar à sua Lei: carbonato de cobre (CuCO3), óxidos de estanho (SnO e SnO2) e sulfetos de ferro (FeS e FeS2). Por exem- plo, preparou carbonato de cobre em laboratório e o comparou ao composto natural – malaquita –, verificando que ambas as amostras produziam as mesmas proporções em massa para os produtos de decomposição – óxido de cobre, gás carbônico, cobre metálico e oxigênio –, independentemente da sua origem (Esquema 2). Carbonato de cobre → Óxido de cobre + Gás carbônico Óxido de cobre → Cobre + Oxigênio 170 lb7 125 lb 45 lb 125 lb 100 lb 25 lb Esquema 2 – Processos de decomposição do carbonato de cobre realizados por Proust; independentemente da sua origem – natural ou sintética –, as proporções em massa dos produtos de decomposição eram sempre as mesmas Proust obteve o mesmo tipo de resultado para outras substâncias com as quais trabalhou; por exemplo, verificou que a pirita (FeS2) contém a proporção constante de 0,57 g de enxofre para cada 1,0 g de ferro, mesmo valor observado na amostra produzida em laboratório. Por exemplo, para a decomposição do carbonato de cobre, tem-se: 3 2CUCO CuO CO D¾¾® + Exp. 1 5,00g — 3,22 g Exp. 2 8,00g — 5,15 g Exp. 3 10,0g — 6,44 g m CuCO 3 /m CuO = 1,55 m CuCO 3 /m CuO = 1,55 m CuCO 3 /m CuO = 1,55 Esquema 3 – Qualquer que seja a massa inicial de CuCO3, a razão entre a sua massa e a de CuO é constante Uma consequência importante da Lei de Proust é que para uma mesma subs- tância, a proporção entre os átomos que a constituem também deve ser constante; qualquer alteração nessa proporção produz uma nova substância (Figura 5), com propriedades diferentes. 7. Abreviação de libra, unidade de massa ainda em uso e amplamente utilizada no final do século XVIII, quando o grama era introduzido; equivale a ca. 453,6 gramas. 20 21 Figura 5 – A alteração nas proporções entre as quantidades de átomos em uma substância gera uma nova substância, com propriedades diferentes Fontes: Adaptado de Wikimedia Commons A Lei de Proust enfrentou resistências por alguns anos, pois na época determina- dos cientistas acreditavam que compostos poderiam ser produzidos com quaisquer quantidades de elementos, não se limitando a proporções específicas; contudo, a Lei acabou se demonstrando correta, principalmente com o surgimento da teoria atômica de John Dalton, em 1808, que lhe deu embasamento teórico. Quando foi proposta, a Lei de Proust foi uma declaração controversa e teve a oposição de ou- tros químicos, mais notavelmente o colega francês Claude Louis Berthollet, quem não acre- ditava que as substâncias sempre se combinassem em proporções constantes e definidas, argumentando que os elementos poderiam se combinar em qualquer proporção; Berthollet também afirmava que os produtos de uma reação dependiam da proporção de reagentes. A Lei de Proust foi aceita apenas em 1812, quando o químico sueco Jöns Jacob Berzelius lhe deu o devido crédito. Ex pl or 21 UNIDADE Cálculo Estequiométrico Balanceamento de Reações Químicas Uma reação química corresponde a um processo em que os átomos de uma ou mais substâncias – reagentes – se reorganizam para formar novas substâncias – produtos. A representação desse processo é feita indicando as fórmulas das subs- tâncias envolvidas, separando reagentes – à esquerda – de produtos – à direita – por uma seta apontada para os produtos; por exemplo, a reação de neutralização de ácido clorídrico com hidróxido de sódio (Equação 1), com a formação de cloreto de sódio e água: HCl + NaOH → NaCl + H2O (Eq. 1) Reagentes Produtos Às vezes, são incluídos símbolos na representação de uma reação química que indicam o estado físico de cada substância, como subscritos: (s) se for um sólido, (l) se for um líquido, (g) se for um gás, (aq) se estiver dissolvida em água. Por exemplo, a reação de formação de água pode ser assim escrita: SO3(g) + H2O(l) → H2 SO4(l) O seu uso não é obrigatório, sendo normalmente empregado quando a informação do esta- do de agregação da substância for relevante. Ex pl or De acordo com a Lei de conservação da massa de Lavoisier, a soma das massas dos reagentes deve ser igual à soma das massas dos produtos; microscopicamente, significa que os números de átomos de cada elemento químico devem ser iguais nos reagentes e produtos. Isso acontece na reação anterior sem a necessidade de nenhu- ma alteração na forma como é escrita; contudo, nem sempre é o caso (Equação 2): H2 + O2 → H2O (Eq. 2) Como está escrita, essa reação não respeita a Lei de Lavoisier, pois o número de átomos de oxigênio nos reagentes é diferente daqueles no produto, sendo ne- cessário alterar a forma como a reação é escrita para contemplar a conservação da massa; esse procedimento corresponde ao balanceamento da reação. A forma aparentemente mais simples de balancear uma reação seria reescrevê-la colocando o átomo de oxigênio que falta no produto (Equação 3): H2 + O2 → H2O2 (Eq. 3) Contudo, esse procedimento constitui um erro gravíssimo, pois fere a Lei das proporções definidas de Proust: ao colocar o índice 2 na molécula do produto, altera-se a razão entre os átomos de hidrogênio e oxigênio, formando-se uma 22 23 substância diferente da água – o peróxido de hidrogênio, popularmente conhecido como água oxigenada. Essa mudança implica em alterações estruturais na molécula (Figura 6), do que resultam propriedades físicas, químicas e biológicas diferentes (Tabela 2). Figura 6 – Estruturas das moléculas de água – à esquerda – e de água oxigenada – à direita –; esfera branca: átomo de hidrogênio, esfera vermelha: átomo de oxigênio Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Tabela 2 – Propriedades da água (H2O) e da água oxigenada (H2O2) Propriedade H2O H2O2 PF (°C) 0,0 – 0,43 PE (°C) 100,0 150,2 d (g/cm3) 0,997 1,44 Índice de refração 1,333 1,406 Aspecto Líquido incolor Líquido incolor Odor Inodoro Pungente Sabor Insípido Amargo e levemente ácido Estabilidade Estável Decompõe-se sob ação de luz, calor e catalisadores Fonte: pubchem.ncbi.nlm.nih.gov; Handbook CRC of Chemistry and Physics, 2002 O procedimento correto para o balanceamento de uma reação química, que res- peita tanto a Lei de Lavoisier quanto a Lei de Proust, é adicionar números inteiros antes de cada substância, de modo que os números dos átomos de cada elemento químico nos reagentes e nos produtos se igualem (Equação 4); esses números são chamados de coeficientes estequiométricos. 2 H2 + O2 → 2 H2O (Eq. 4) O número total de átomos de cada elemento é obtido multiplicando o coeficiente estequiométrico de cada substância pela quantidade de cada tipo de átomo que possuir; assim, após o balanceamento na Equação 4, verifica-se que existem quatro átomos de hidrogênio e dois de oxigênio em ambos os lados da Equação.2 2 2 átomos de H 4 átomos de H H O: 2H O: 1 átomo de O 2 átomo de O 23 UNIDADE Cálculo Estequiométrico Por convenção, não se explicita o coeficiente estequiométrico unitário, tal como acontece com o O2 na Equação 4; deve-se também utilizar os menores coeficientes inteiros possíveis: Escrever: 2 H 2 + O 2 → 2 H 2 O Menores coeficientes possíveis Não escrever: 4 H 2 + 2 O 2 → 4 H 2 O Os coeficientes devem ser simplificados (÷2) Balanceamento pelo Método das Tentativas O método mais simples para balancear uma equação de uma reação química, e que funciona muito bem na maioria dos casos, é por tentativa e erro: contam-se os números de átomos de cada elemento nos reagentes e produtos e atribuem-se os coeficientes estequiométricos apropriados de modo a torná-los iguais. Ainda assim, existem alguns passos simples que ajudam no processo: • Iniciar o balanceamento pelo elemento que estiver em maior quantidade; • Atribuir um coeficiente ao elemento que aparece uma só vez nos dois membros, observando a quantidade de átomos presentes no primeiro e segundo membro; • Se mais de um elemento aparecer uma única vez nos dois lados da reação, a preferência deve ser dada ao elemento com maior índice; • Para igualar o número de átomos, deve-se colocar o índice de um como coe- ficiente do outro; • A transposição deve seguir com todos os elementos, dos índices de um mem- bro para o outro, sendo usados como coeficientes, até que o balanceamento esteja finalizado; • Balancear substâncias simples por último, notadamente H2 e O2; • Se necessário, multiplicar todos os coeficientes da reação pelo mesmo número para eliminar coeficientes fracionários; • Conferir o balanceamento para se certificar de que todos os átomos foram contemplados; • Verificar a possibilidade de simplificar todos os coeficientes para que sejam os menores números inteiros possíveis. Por exemplo, considere o balanceamento da reação de combustão do butano (C4H10), um dos componentes do gás de isqueiros: C4H10 + O2 → CO2 + H2O (Eq. 5) 24 25 Etapas: • Balancear os átomos de hidrogênio: C4H10 + O2 → CO2 + 5 H2O; • Balancear os átomos de carbono: C4H10 + O2 → 4 CO2 + 5H2O; • Balancear os átomos de oxigênio: C4H10 + 13/2 O2 → 4 CO2 + 5 H2O; • Multiplicar todos os coeficientes estequiométricos por 2 para ter apenas números inteiros: 2 C4H10 + 13 O2 → 8 CO2 + 10 H2O. Em outro exemplo, seja a reação de síntese da amônia (NH3): N2 + H2 → NH3 (Eq. 6) Segundo a quarta etapa do procedimento geral, é necessário inverter os índices dos átomos de hidrogênio: multiplicar H2 por 3 e NH3 por 2: N2 + 3 H2 → 2 NH3 (Eq. 7) Automaticamente, o número de átomos de nitrogênio é acertado e a reação está balanceada. Existe um caminho muito útil que pode ser empregado em reações mais simples; considere a seguinte reação não balanceada: SO2 + O2 → SO3 (Eq. 8) Uma análise rápida mostra que o número de átomos de enxofre está correto, mas existe um átomo de oxigênio a mais nos reagentes. A forma mais simples de fazer esse acerto é utilizar um coeficiente fracionário: 2 2 3 1SO O SO 2 + ® (Eq. 9) Agora o balanceamento está correto com 1 átomo de enxofre e 3 átomos de oxi- gênio em cada lado da reação; o coeficiente fracionário é eliminado multiplicando toda a reação por 2: 2 SO2 + O2 → 2 SO3 (Eq. 10) Outro exemplo: Al + O2 → Al2O3 (Eq. 11) Etapas: • Balancear os átomos de alumínio: 2 Al + O2 → Al2O3; • Balancear os átomos de oxigênio: 2 Al + 3/2 O2 → Al2O3; • Multiplicar todos os coeficientes estequiométricos por 2 para ter apenas números inteiros: 4 Al + 3 O2 → 2 Al2O3. 25 UNIDADE Cálculo Estequiométrico Uma equação química balanceada tem dois significados. Por exemplo, na reação: H2 + Cl2 → 2 HCl Os coeficientes descrevem, em uma escala microscópica, as proporções entre as moléculas das substâncias – 1 molécula de H2 reage com 1 molécula de Cl2 para formar 2 moléculas de HCl – por isso os coeficientes não podem ser fracionários –; macroscopicamente, mostra que 1 mol de H2 reage com 1 mol de Cl2 para formar 2 mols de HCl. Cálculo Estequiométrico O cálculo estequiométrico é o processo de calcular quantidades de alguma subs- tância envolvida em uma reação utilizando as grandezas químicas e as leis ponde- rais já discutidas. O termo estequiometria foi originalmente empregado em 1792, pelo químico alemão Jeremias Benjamin Richter. A palavra deriva do grego stoikheion = ele- mento e metron = medida, ou seja, o cálculo das relações quantitativas entre rea- gentes e produtos. A estequiometria é de grande importância prática para todas as atividades que envolvam transformações químicas, tais como as indústrias química, agroquímica, farmacêutica, siderúrgica, metalúrgica, petroquímica, de plásticos etc., sendo fun- damental para calcular as quantidades de reagentes necessárias à transformação e de produtos obtidos. Para as finalidades desta Unidade, será considerado que: • As reações químicas são irreversíveis – uma vez formados, os produtos não são convertidos de volta nos reagentes; • A conversão de reagentes em produtos é completa, ou seja, o rendimento da reação é de 100%; • As substâncias não possuem impurezas, isto é, são 100% puras; • Nenhum reagente está em excesso em relação aos outros. Para realizar um cálculo estequiométrico, ou seja, determinar a quantidade de uma substância participante da reação – quantidade de matéria, número de partí- culas, massa ou volume –, procede-se da seguinte forma: • Escrever a equação da reação química e balanceá-la: 2 A + 3 B → A2B3 26 27 • Escrever a proporção em mols – coeficientes da equação balanceada – abaixo de cada substância: 2 A + 3 B → A2B3 2 mol – 3 mol –– 1 mol • Adaptar a proporção em mols das substâncias às grandezas envolvidas, com base na correlação de grandezas – discutida no início desta Unidade: ( )( ) ( )( ) ( )23 r X g 1 mol — 6,02 10 partículas — — 22,4 L CNTP r X g A M ìïï´ íïïî Para efeito ilustrativo, serão utilizadas a massa da substância A e o volume da substância B – o mesmo raciocínio vale para quaisquer grandezas químicas: 2 A + 3 B → A2B3 2 mol – 3 mol –– 1 mol 2 Mr(A) – 3 Vm É importante notar que os coeficientes estequiométricos são mantidos; • Inserir os dados e a incógnita para as substâncias envolvidas, montando uma regra de três – no exemplo, a massa da substância A é dada e a incógnita é o volume da substância B: 2 A + 3 B → A2B3 2 mol – 3 mol –– 1 mol 2 Mr(A) – 3 Vm m – x • Efetuar o cálculo da regra de três: ( ) m r m 3Vx = 2 AM × Percebe-se que a etapa crucial de todo o processo de cálculo estequiométrico reside na correção em escrever a reação química e balanceá-la; qualquer falha em uma dessas duas atividades comprometerá todo o cálculo subsequente, levando invariavelmente a um resultado incorreto. Portanto, é necessária máxima atenção à primeira etapa do processo. 27 UNIDADE Cálculo Estequiométrico A seguir, são mostrados alguns exemplos de cálculos estequiométricos: • Um dos componentes do gás de cozinha é o gás propano (C3H8). A sua com- bustão é descrita pela seguinte equação – não balanceada: C3H8 + O2 → CO2 + H2O Qual é a massa de vapor de água produzida por 11,0 g de propano? » Escrever a equação da reação química balanceada: C3H8 + 5 O2 → 3 CO2 + 4 H2O » Escrever a proporção em mols abaixo de cada substância de interesse: C3H8 + 5 O2 → 3 CO2 + 4 H2O 1 mol C3H8 –––––– 4 mol H2O » Adaptar a proporção em mols às grandezas envolvidas: C3H8 + 5 O2 → 3 CO2 + 4 H2O 1 mol C3H8 –––––– 4 mol H2O 44,1 g C3H8 –––––– 4 . 18,02 g H2O » Inserir os dados e a incógnita: C3H8 + 5 O2 → 3 CO2 + 4 H2O 1 mol C3H8 –––––– 4 mol H2O 44,1 g C3H8 –––––– 4 . 18,02 g H2O 11 g C3H8 –––––– m » Cálculo da regra de três: 2 11 4 18,02m = m = 18,0g H O 44,1 × × Þ • Quantas moléculas de hidrogênio são formadas quando 0,1 mol de HCl reage completamente com magnésio metálico? » Escrever a equação da reação química balanceada: Mg + 2 HCl → MgCl2 + H2 »Escrever a proporção em mols abaixo de cada substância de interesse: Mg + 2 HCl → MgCl2 + H2 2 mol HCl ––– 1 mol H2 » Adaptar a proporção em mols às grandezas envolvidas: Mg + 2 HCl → MgCl2 + H2 2 mol HCl ––– 1 mol H2 2 mol HCl –– 6,02 × 1023 moléc. H2 28 29 » Inserir os dados e a incógnita: Mg + 2 HCl → MgCl2 + H2 2 mol HCl ––– 1 mol H2 2 mol HCl –– 6,02 × 1023 moléc. H2 0,1 mol HCl –– N » Cálculo da regra de três: 23 22 2 0,1 6,02 10 3,01 10 moléculas H 2 N N× ´= Þ = ´ • A 0 °C e 1 atm, calcule quantos litros de CO2 são produzidos na decomposição térmica de 150 g do carbonato de cálcio, que ocorre segundo a reação: CaCO3 → CaO + CO2 » Escrever a equação da reação química balanceada: CaCO3 → CaO + CO2 » Escrever a proporção em mols abaixo de cada substância de interesse: CaCO3 → CaO + CO2 1 mol CaCO3 ––– 1 mol CO2 » Adaptar a proporção em mols às grandezas envolvidas: CaCO3 → CaO + CO2 1 mol CaCO3 ––– 1 mol CO2 100,09 g CaCO3 –– 22,4 L CO2 » Inserir os dados e a incógnita: CaCO3 → CaO + CO2 1 mol CaCO3 ––– 1 mol CO2 100,09 g CaCO3 –– 22,4 L CO2 150 g CaCO3 ––– V » Cálculo da regra de três: 2 150 22,4V V = 33,7 L CO 100,09 × = Þ 29 UNIDADE Cálculo Estequiométrico Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Concept of mole – part 1 O vídeo apresenta o conceito de mol de forma simples e de fácil compreensão – embora em inglês, é possível acionar legendas com tradução automática ao português. https://youtu.be/4q2elWPfB6A Concept of mole – Avogadro’s number O vídeo apresenta, de forma didática, o número de Avogadro – embora em inglês, é possível acionar legendas com tradução automática ao português. https://youtu.be/13i3xbuaCqI Quão grande é um mol? O vídeo menciona a origem do conceito de mol e faz algumas comparações do tamanho de 1 mol com objetos macroscópicos. https://youtu.be/j8k2_NOXwXY Compreensão visual sobre o balanceamento de equações químicas O vídeo faz uma breve apresentação sobre o procedimento para balancear reações químicas – o menu à esquerda tem outras opções de balanceamento de reações. http://bit.ly/2IqTFtU Leitura Como a Química funciona? O artigo faz um breve resumo de alguns dos principais conceitos da Química, tais como o princípio de Avogadro e as leis ponderais. http://bit.ly/2InTWxn Quantidade de substância O artigo, ressalta os principais aspectos do conceito de quantidade de substância. http://bit.ly/2Ik6PZC 30 31 Referências ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. Trad. Ricardo Bicca de Alencast ro. 5. ed. Porto Alegre, RS: Bookman, 2013. BROWN, T. L. et al. Química: a Ciência central. Trad. Robson Mendes Matos. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. KOTZ, J. C.; TREICHEL JR, P. M. Química geral e reações químicas. Trad. Noveritis do Brasil. 2 v. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. RUSSELL, J. B. Química geral. Trad. Márcia Guekezian. 2 v. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994. SELECTED classic papers from the history of chemistry – atomic hypothesis and discrete nature of matter. J. L. Proust, Annales de Chimie, v. 32, n. 26, 1799. Disponível em: <http://web.lemoyne.edu/~giunta/proust.html#foot1>. Acesso em: 25 abr. 2019. THE NIST reference on constants, units, and uncertainty. [20--]. Disponível em: <https://physics.nist.gov/cuu/Constants/index.html>. Acesso em: 20 abr. 2019. 31
Compartilhar