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A psicologia como Ciência

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· A psicologia como Ciência
Quando pensamos em ciência nos vem a representação de um lugar, geralmente o conhecido laboratório, cheio de tubos de ensaio e com a figura de um cientista maluco, tão bem representado na figura do Albert Einsten. Definir o conceito de ciência não é uma tarefa simples, pois o mesmo se debruça no senso comum e faz esquecermos de que na realidade esse termo deve ser explicado pela busca de compreender ‘verdades’ ou leis naturais que expliquem o funcionamento dos fenômenos e do universo. Além disso a ciência deve ser possivelmente testada, com possibilidades de ser replicável, racional e justificável (COGGIOLA,2020).
Pensando nisso vamos considerar a Psicologia como uma ciência, que ao longo de seu processo epistemológico sofreu rupturas, mas também complementações teóricas na produção do conhecimento da psique humana (ABIB, 2009). A epistemologia da psicologia pode assim ser dividida em dois momentos importantes que chamaremos aqui de Pré-história da Psicologia e Psicologia Científica, explicitados abaixo:
· Pré-história da Psicologia:
A psicologia nesse momento era voltada para o "estudo da alma" já que a própria raiz da palavra significa psyché (alma) + logos (razão). O conceito de alma da filosofia grega trazia a ideia de que era concebida como a parte imaterial do ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e percepção. Pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles contribuíram nesta construção
Outro ponto histórico é marcado pela queda do Império Romano que aproximou os estudos da psicologia a religião, já que a Igreja Católica se tornou a detentora do poder. Santo Agostinho (354- 430) e São Tomás de Aquino (1225-1274) podem ser mencionados como dois pensadores que marcaram esta época, com ideias que mantinham ligações com questões divinas e dogmas da Igreja. Só a partir da queda do feudalismo e advento do Renascimento surgem mudanças socioculturais que necessitavam de embasamento para o “novo modo de produção” de capital (Capitalismo), marcando a entrada da Psicologia como ciência.
· Psicologia como Ciência
Para a Psicologia moderna (ou científica), considera-se Wilhelm Wundt (Alemanha1832-1926) como seu fundador em razão de ter sido o primeiro a realizar experimentos em laboratório a fim de compreender os fenômenos psicofisiológicos. Suas contribuições tiveram o objetivo de ser opositor da psicologia metafísica, já que ele considerava a interpretação da experiência psíquica a partir da própria experiência psíquica. Focando na causalidade e se afastando de doutrinas e do dualismo mente e corpo. Sua maior contribuição pode ser considerada o Princípio dos Resultantes Criativos.
Assim, a partir da descrição detalhada e sistemática dos fenômenos mentais conscientes, Wundt inaugurou um novo modo de construção do conhecimento na área psicológica. A partir da edificação da Psicologia como ciência várias abordagens foram se construído ao longo dos séculos XIX e XX, sendo as mais voltadas para a psicologia do desenvolvimento: o behaviorismo, psicanálise, o humanismo, dentre outras.
É exatamente sobre desenvolvimento humano que vamos dialogar agora! Você já deve ter escutado a seguinte frase: “meu filho tem 03 anos e não fala ainda, mas o médico disse que cada criança tem seu tempo”. Então o que você pensa sobre isso? Será verdadeira essa afirmação? Pois bem, vou te responder baseado em evidências científicas que NÃO! Essa criança está em atraso no desenvolvimento e é preciso SIM ser investigada. Vamos então compreender primeiro o que seria o termo desenvolvimento humano.
Definir desenvolvimento humano não é tão simples. Pois sua área transdisciplinar de atuação edifica variados referenciais teóricos, vamos exemplificar: um pedagogo pode definir o desenvolvimento, utilizando os teóricos construtivistas, já um pediatra irá defini-lo o através da mensuração do aumento da capacidade de realização de funções, cada vez mais complexas.
Para o nosso curso vamos pensar o desenvolvimento como as mudanças nas estruturas motoras, cognitivas e comportamentais de acordo com os seguintes fatores: padrões universais, diferenças individuais e influências comportamentais. Assim compreendemos que existem marcos que não podem ser negligenciados dentro do desenvolvimento neurotípico humano.
Voltando ao exemplo da criança de 3 anos que ainda não verbaliza, temos um atraso considerado de fala, pois espera-se que a criança nesta idade, seja capaz de repetir trechos de histórias e produzir frases de 4 a 5 palavras, iniciando inclusive uma conversação e cantando músicas infantis. Desta forma desenvolvimento e aprendizagem andam de mãos datas.
Da mesma forma que o termo desenvolvimento tem várias abordagens conceituais, o termo aprendizagem segue a mesma linha de cuidado. Basicamente vamos conceituá-lo como a capacidade humana de dá respostas às solicitações e aos desafios impostos pela inter-relação pessoa/ambiente, obedecendo características típicas da aprendizagem humana: linguagem, orientação temporal, capacidade imaginativa, cultura, competência de interação social e a condição de ser sujeitos e objetos de conhecimento.
A pessoa então aprende a aprender através da sua inter-relação com ambiência, sendo assim um processo cognitivo e singular. Duas pessoas expostas aos mesmos estímulos da ambiência vão processar diferentes tipos de aprendizagem. O aprender então é único de cada pessoa. É necessário olhar para alguns fatores que influenciam o processo de aprendizagem como: a relação afetiva da situação, o processamento sensorial da situação e sua relação com experiências anteriores.
A pessoa deve estar afetivamente ligada ao processo de aprendizagem, e tenha cuidado aqui! O afeto para aprendizagem não significa dizer que são apenas emoções “boas” e sim o equilíbrio entre todas as emoções base (alegria, medo, nojo, tristeza e raiva). Todas possuem a mesma importância para ao processo de aprendizagem. Vamos dar um exemplo: Em uma prova você errou aquela questão, que você tinha certeza de que estava certa. Ao receber a prova e perceber o erro, a emoção (raiva por ter errado) fortalece a aprendizagem daquele conteúdo. Muito provavelmente em alguns meses, a única questão que você irá lembrar, daquela prova, seja a que proporcionou a emoção raiva, pelo erro. Viu como todas as emoções base são importantes?!
Da mesma maneira o processamento sensorial também realiza os comandos necessários para a compreensão de todos os estímulos recebidos pelas ambiências e do feedback dado pela pessoa, gerando a aprendizagem. Um bom exemplo seria o quanto uma sala de aula barulheira e com temperatura térmica alta pode ser processada e emitida uma resposta de diminuição de atenção, concentração dos alunos.
Esses dois fatores também estão ligados ao repertório de experiências memorizado, pois as novas experiencias serão sempre emparelhadas e comparadas com as experiências anteriores para se ter um alcance do novo aprender. Um bom exemplo aqui, é quando trocamos de celular e nas primeiras horas de uso do novo aparelho, passamos pelo processo de emparelhamento da aprendizagem anterior (como o antigo celular funcionava? O que é igual com o novo celular? O que é diferente do novo celular?) e nesse processo chegamos à aprendizagem de uso do novo celular.
Desta forma uma aprendizagem para ser efetiva tem a necessidade de que esses fatores possam se interligar, ativando as experiências anteriores e realizando o encaixe de novas aprendizagens, mediadas pelas vivências, motoras, cognitivas, afetivas e sociais. Alguma quebra, por mais simples que seja nestes fatores pode geram o que vamos chamar de barreiras da aprendizagem, podendo gerar alguma dificuldade de aprendizagem ou seja contrapondo o processo de aprendizagem. De toda forma, elas “[...] refletem uma incapacidade ou impedimento para a aprendizagem da leitura, escrita ou cálculo ou para aquisição de aptidões sociais.” (MAZER et al., 2009, p. 9).
 
 
Atividade extra:
Filme: O quarto de Jack
 
 
Referência Bibliográfica:· ABIB, José Antônio Damásio. Epistemologia pluralizada e história da psicologia. Scientiae studia, v. 7, n. 2, p. 195-208, 2009. https://doi.org/10.1590/S1678-31662009000200002
· COGGIOLA, Osvaldo. Ciências humanas: o que são, para que servem. Intelligere, n. 9, p. 14-38, 2020.
· FIGUEIRAS, Almira Consuelo et al. Manual para vigilância do desenvolvimento infantil no contexto da AIDPI. 2005.
· WITTER, Geraldina Porto; LOMÔNACO, José Fernando Bitencourt. Psicologia da aprendizagem. Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1984.

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