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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Paula Denari GUIA DA DISCIPLINA 2020 1 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Objetivo: • Compreender o nascimento da Psicologia como ciência e suas interfaces e relação com os fenômenos educativos. • Possibilitar ao aluno a reflexão aprofundada sobre o que vem a ser o fenômeno da Aprendizagem; • Refletir sobre as concepções psicológicas que embasam as Teorias de Aprendizagem; • Conhecer as principais teorias psicológicas relacionadas à Aprendizagem e, se possível, estabelecer relações entre elas; • Estudar o desenvolvimento humano em sua multidimensionalidade; • Apresentar o desenvolvimento a partir das seguintes abordagens: psicanalítica, comportamental, cognitiva e sócio-histórica; • Compreender teorias e práticas de ensino aprendizagem nas perspectivas sócio interacionista e construtivista; • Estudar os processos de ensino e aprendizagem e as práticas pedagógicas no contexto escolar; • Abrir a possibilidade de questionar e refletir sobre as contribuições da Psicologia para o entendimento do contexto educativo em sua complexidade: seus “atores”, relação professor-aluno, dinâmica e peculiaridades. Introdução: Para que você inicie seus estudos na disciplina Psicologia da Educação é essencial saber um pouco da história do surgimento desta ciência. Tal conhecimento facilitará a compreensão de como as pesquisas da psicologia voltadas para temas ligados à realidade escolar e do processo de ensino aprendizagem surgiram ao longo da história. Além disso, discutiremos os processos de ensino-aprendizagem e os teóricos que estudaram essa relação. Você aprenderá muitos conceitos e fatos que, provavelmente, lhe são novos, espero que esteja motivado para iniciar esta jornada que lhe auxiliará em seu futuro trabalho pedagógico e prática docente. 2 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. A ORIGEM DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA. A palavra psicologia significa literalmente, "estudo da alma" (ψυχή, psyché, "alma" - λογία, logia, "tratado", "estudo"). A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais dos indivíduos (psiquismo). Por esta razão, tal ciência associou-se com as relações de aprendizagem. Afinal é impossível pensar em Educação, sem pensar em comportamento humano e processos mentais. Dizer que a psicologia é uma ciência significa que ela é regida pelas mesmas leis do método científico as quais regem as outras ciências: ela procura um conhecimento objetivo, baseado em fatos empíricos. Não se pode aceitar, portanto, o subjetivismo ou suposições vazias. Seus estudos baseiam-se na análise dos atos e reações observáveis, mas também em processos como os sentimentos, as emoções e as representações mentais que não podem ser observadas diretamente. Pelo seu objeto de estudo, a psicologia desempenha o papel de elo entre as ciências sociais, como a sociologia e a antropologia; as ciências naturais, como a biologia; e áreas científicas mais recentes, como as ciências cognitivas e as ciências da saúde. Dizer que o indivíduo é a unidade básica de estudo da psicologia significa dizer que, mesmo ao estudar grupos, o indivíduo permanece o centro de atenção - ao contrário, por exemplo, da sociologia, que estuda a sociedade como um conjunto. Como toda a ciência, o fim da psicologia é a descrição, a explicação, a previsão e o controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo. Como os processos mentais não podem ser observados, mas apenas inferidos, torna-se o comportamento o alvo principal dessa descrição, explicação e previsão (mesmo as novas técnicas visuais da neurociência que permitem visualizar o funcionamento do cérebro não permitem a visualização dos processos mentais, mas somente de seus correlatos fisiológicos, ou seja, daquilo que acontece no organismo enquanto os processos mentais se desenrolam). Como surgiu a psicologia científica? - Existem muitos modos de estudar a história da psicologia. Um modo muito usual é o cronológico, o qual trata da organização do relato histórico numa certa ordem temporal. No entanto, o campo da psicologia é conhecido pela sua fragmentação e pelas disputas teóricas. No início deste século, a história da psicologia 3 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância caracterizou-se por grandes escolas ou sistemas. Estas escolas eram formulações teóricas sobre o que é ou deve ser psicologia. Exemplo destas grandes escolas, algumas ainda persistindo até hoje, são: o Estruturalismo de Wilhelm Wundt, o Funcionalismo Willian James e o Associacionismo de Edward Thorndike. 1.1. Estruturalismo Podemos considerar Wilhelm Wundt como o pai da Psicologia científica, ele recebe esse título por ter fundado, em 1879, o primeiro laboratório de Psicologia na Universidade de Leipzig, Alemanha. Wundt criou o que, mais tarde, segundo Bock (2013), seria chamado de Estruturalismo. O objeto de estudo do Estruturalismo era a estrutura consciente da mente, tendo como principal objetivo descobrir tudo sobre a estrutura e o conteúdo da mente humana. Seus pesquisadores sustentavam que cada totalidade psicológica se compõe de elementos (sensações, imagens e sentimentos) que se associam entre si. Essa escola psicológica não contribuiu significativamente para a Pedagogia e extinguiu-se com a morte destes pesquisadores. 1.2. Funcionalismo William James, professor da Universidade de Harvard, pode ser considerado o fundador do Funcionalismo em Psicologia, ele elaborou a primeira sistematização de conhecimentos em Psicologia, que segundo Bock (2013) está preocupado em responder “o que fazem os homens” e “por que o fazem”. Os estudos funcionalistas elegeram a consciência como o centro de suas preocupações e traçaram como objetivo a busca pela compreensão de seu funcionamento. 1.3. Associacionismo O Associacionismo foi criado por Edward Lee Thorndike e é resultante de um processo de associação de ideias, das mais simples às mais complexas, resultando assim nas diversas ações humanas. 4 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Segundo Bock (2013), essa pode ser a primeira teoria da aprendizagem, tendo como centro a Lei do Efeito. Segundo essa lei, todo comportamento tende a se repetir se for recompensado e a não acontecer se for castigado. 1.4. Psicologia da Educação: Origem Histórica A Psicologia da Educação surge do resultado do interesse tanto de psicólogos quanto de educadores em aplicar os conhecimentos desenvolvidos pela Psicologia à educação. A área de estudo voltada para a educação surgiu em torno de 1890. Nesse período, a teoria educativa vigente estava voltada para as funções cognitivas. A educação tinha como principal finalidade exercitar as funções cognitivas dos alunos, tais como: a inteligência, a memória, a atenção, a concentração; priorizando assim a transmissão dos conteúdos. Segundo Coll (2004), Thordinke lançou as bases para o entendimento de que a prática educativa deve ser orientada pelo conhecimento psicológico sobre o processo de aprendizagem. Claparède, outro pesquisador da Psicologia, colaborou com a criação do Instituto de Psicologia Aplicada à Educação, pois estava convencido de que a psicologia tem papel primordial na elaboração de uma pedagogia científica. Este estudioso reforçou a ideia de que a prática pedagógica deve estar embasada nos conteúdos sobre o desenvolvimento humano. Segundo Coll (2004) três campos constituem o núcleo da Psicologia da Educação, que são: • O estudo e a mensuração das diferenças individuais, bem como as mudanças de comportamento do sujeito, vinculados a sua participação em situações educativas. • A análise dos processosde aprendizagem, desenvolvimento e socialização. • Desenvolvimento infantil. A Psicologia da Educação por ter natureza híbridas gera divergências entre seus estudos quanto às considerações sobre sua autonomia epistemológica. Segundo Coll 5 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância (2004), existem basicamente três correntes ou posicionamentos, a esse respeito, que você verá as seguir: 1. Existe uma corrente de especialistas que entende a Psicologia da Educação como sendo apenas a terminologia empregada para designar o corpo de princípios e explicações alcançados pela Psicologia como um todo. 2. A Psicologia da Educação é entendida como uma disciplina com autonomia científica e didática, uma vez que tem objetivos, conteúdos e programas de pesquisa próprios, e realiza contribuições originais para as práticas pedagógicas. 3. A Psicologia da Educação é entendida como uma “disciplina ponte”, com um objeto de estudo, alguns métodos, marcos teóricos e conceitos próprios, caracterizando-se como uma disciplina de natureza aplicada. Após ter estudado o primeiro texto de Psicologia da Educação você pode concluir que: muitos são os aspectos estudados pela Psicologia da Educação, e muitas são as contribuições que dela podem advir para o profissional de educação. É dado o nome de Psicologia da Educação ao segmento de estudos e pesquisas que visam descrever os processos psicológicos presentes na educação. Teóricos como Sigmund Freud, Jean Piaget, Burrhus Frederic Skinner, Carl Rogers, Lev Vygotsky e Alexander Luria, são tidos como precursores dos estudos em Psicologia da Educação. Paulo Freire é considerado um dos maiores nomes da Pedagogia mundial, conhecido por retratar a Pedagogia do oprimido, do pobre, do excluído. Já, Seymour Papert foi um importante matemático que defendeu o uso do computador no processo de aprendizagem. Nesse debate, veja o que esses pensadores discutem sobre Educação. https://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=6J0so-4d2dA&hl=pt https://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=6J0so-4d2dA&hl=pt 6 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Leia o artigo Psicologia e Educação no Brasil: Uma Visão da História e Possibilidades nessa Relação, da revista Psicologia: Teoria e Pesquisa 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 131-141. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a12v26ns.pdf Foque nas páginas iniciais. BOCK, Ana M. Bahia et all, FURTADO, Odimar e TEIXEIRA, Mª de Lourdes Tassi. Psicologias. São Paulo: Saraiva, 2013. COLL, Cesar. Desenvolvimento Psicológico e Educação. Porto Alegre: Artmed, 2004. GOMES, William B. Introdução ao estudo de história da psicologia. UFRGS. Disponível em [http://www.ufrgs.br/museupsi/Texto%201.htm] http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a12v26ns.pdf 7 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUAS DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS Como você já estudou a Psicologia, com seus vários campos de estudo, acaba por especializar-se em diferentes áreas, e assim, temos a Psicologia do Desenvolvimento como uma área da Psicologia científica que se ocupa de estudar o desenvolvimento humano, ou seja, a forma pela qual se processam as etapas da vida de um ser humano e suas mudanças psicológicas. Conceituando, podemos afirmar que Psicologia do desenvolvimento é o estudo científico das mudanças de comportamento relacionadas à idade durante a vida de uma pessoa. As pesquisas da Psicologia do Desenvolvimento Humano são complexas, pois o ser humano, em sua evolução, está sujeito a influências diversas, como: o contato com outras pessoas, as experiências vividas, sua própria realidade individual, suas capacidades, suas dificuldades, havendo assim, muitas questões internas e externas ao indivíduo que influenciam esse processo. Em um curso de licenciatura, é muito importante estudar o desenvolvimento humano, já que este significa conhecer as características comuns de uma faixa etária. Assim, é possível planejar o que e como ensinar para os educandos. Os fatores que influenciam o desenvolvimento humano são: • Hereditariedade – a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não desenvolver-se. A inteligência pode desenvolver-se de acordo com as condições do meio em que se encontra. • Crescimento orgânico – refere-se ao aspecto físico. • Maturação neurofisiológica – é o que torna possível determinado padrão de comportamento. • Meio – o conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do indivíduo. 8 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância À primeira vista, até mesmo pelo senso comum, tendemos a pensar que crescer é desenvolver-se e desenvolver-se é tornar-se maduro. Contudo, importa saber pelo menos em relação ao crescimento e a maturação, que esses processos não ocorrem necessariamente de forma coordenada ou concomitante; apesar de poderem ser simultâneos, eles podem evidenciar-se de forma bastante distinta. O termo desenvolvimento, em Psicologia, no seu sentido mais amplo, faz referência às mudanças que ocorrem no ser vivo (humano ou animal) entre o nascimento e a morte, de modo ordenado e que se mantêm por um período de tempo razoavelmente longo e que ainda resultam em comportamentos mais adaptados, organizados, complexos e eficazes no sentido da sobrevivência do indivíduo. A Psicologia do Desenvolvimento se debruça sobre esses tipos de mudança, à qual chama de mudanças de desenvolvimento e sobre as quais existem algumas coisas que você deve saber. Vejamos: a) As mudanças exigem da criança um espaço para se processar, e este espaço assume duas características que são: interna (fisiológico, psicológico e afetivo) e externa (toda a realidade objetiva na qual a criança está inserida) e é o corpo o meio de comunicação entre esses dois espaços experimentados pela criança. Você deve saber que a mudança de desenvolvimento pode ser de dois tipos, ou seja, qualitativa: é aquela mudança marcada pelo aparecimento de novos fenômenos na vida do indivíduo, os quais não podiam ser previstos pelo seu funcionamento anterior. Refere- se a mudanças de tipo, estrutura ou organização, como o aprendizado de uma língua. E quantitativa: é aquela mudança que se refere ao número ou a quantidade, como, por exemplo, aumento de peso, de estatura, de número de palavras no vocabulário etc. Outro aspecto a ser considerado no que tange à diferença de posição teórica sobre o desenvolvimento, que é o foco sobre o qual o estudo recai, ou seja, o aspecto do desenvolvimento que se constitui como foco de seu interesse e estudo. Assim, há teorias que se voltaram mais para o estudo do desenvolvimento cognitivo, outras, para o desenvolvimento da personalidade etc. 9 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ainda é preciso que você considere outra noção cuja construção se fez necessária aos estudos do desenvolvimento humano, que são os aspectos do desenvolvimento, ou seja, aspectos diferentes da vida humana que sofrem mudanças durante o processo de desenvolvimento e que estão entrelaçados e exercem influência entre si, é o que você estudará abaixo. • Desenvolvimento Físico: mudanças no corpo físico, cérebro, capacidade sensorial e habilidades motoras (aparato biológico); • Desenvolvimento Cognitivo: mudanças na capacidade mental (aprendizagem, memória, pensamento e linguagem); • Desenvolvimento Psicossocial: mudanças na personalidade do indivíduo, ou seja, no seu modo peculiar e relativamente consistente de sentir, agir e se comportar no seu relacionamento interpessoal; • Desenvolvimento Moral: referido à capacidade de, no relacionamentointerpessoal, considerar regras de conduta, envolvendo julgamentos sobre certo e errado. Outro aspecto importante que se relaciona o desenvolvimento humano são os processos psicológicos básicos, que são: percepção, memória, pensamento e criatividade. • A Percepção: é o processo de transformação de estimulação física captada por órgãos sensoriais (sensação) em representações mentais. A percepção conjuga a sensação com um significado que a experiência anterior lhe atribui. Portanto, depende da memória e do pensamento. • A memória: é o sistema de armazenamento e recuperação de informações. Ativa-se um conteúdo da memória com base em sinais (informações recebidas pelos sentidos), ocorrendo o fenômeno da atenção. A atenção segue-se a recuperação de informações (ativação da memória). • Pensamento ou raciocínio: é a consecução de uma nova representação, por meio da realização de operações mentais. Envolve a reorganização da informação a fim de resolver problemas, desenvolver novas estruturas cognitivas e interpretar o mundo que nos rodeia. Abstração é a forma superior de pensamento. 10 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Operações mentais: o pensamento implica a organização das representações mentais por meio de: raciocínio dedutivo: combinação de conhecimentos previamente obtidos, retirando-se deles uma conclusão; raciocínio indutivo: parte do conhecido, formulando-se novas hipóteses cerca do que as observações futuras podem revelar; raciocínio avaliativo ou crítico: julgamento de uma ideia ou um produto. • Criatividade: é a ocorrência do que não é comum ou usual, mas que é apropriado e capaz de ser aplicado e operacionalizado. A manifestação da criatividade em geral se associa à preferência cognitiva pela complexidade, à independência comportamental, à sensibilidade ao meio externo e à explicitação mais frequente de ideias e sentimentos. Todos os conhecimentos e conceitos que você aprendeu até aqui estão presentes nas pesquisas e teorias dos principais estudiosos da Psicologia do Desenvolvimento, que serão temas dos próximos textos. Quando somos crianças, passamos pelo processo de aprendizagem, como a percepção do mundo ao nosso redor, cores, fala, nossas características físicas e preceitos básicos. Já quando adolescentes, conseguimos refletir e decidir algumas coisas por conta própria, e no momento em que somos jovens e adultos e estamos totalmente desenvolvidos utilizamos todas aquelas crenças, valores e comportamentos, acumulados ao longo de nossa vida para nortear nossas atitudes. Leia o artigo Psicologia e Educação no Brasil: Uma Visão da História e Possibilidades nessa Relação, da revista Psicologia: Teoria e Pesquisa 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 131-141. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a12v26ns.pdf Foque nas páginas iniciais. http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a12v26ns.pdf 11 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A Psicologia do desenvolvimento humano é o estudo científico que vem falando sobre as mudanças de comportamento de uma pessoa ao longo de sua vida e as fases que uma passa, além de caracterizar um comportamento a partir de uma faixa etária. CALL, Cesar. Psicologia do Ensino. Porto Alegre: Artmed, 2004. CALL, Cesar. Desenvolvimento Psicológico e Educação. Porto Alegre: Artmed,2004. PILLETI, N. ROSA, S.M.ROSSATO,G. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Contexto, 20014. (Livro eletrônico). 12 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM Iremos analisar neste texto as circunstâncias em que ocorrem o desenvolvimento humano focando principalmente nos fatores hereditários e ambientais que o influenciam. O debate sobre a influência dos fatores hereditários e fatores ambientais também pode ser chamado de inatismo versus empirismo, são fundamentais para os estudos do desenvolvimento humano e suas relações com a aprendizagem. Esse debate tem como foco principal a análise sobre quais fatores do desenvolvimento seriam herdados, ou seja, inatos e quais seriam aprendidos por meio das experiências pessoais. Atualmente as teorias de desenvolvimento tendem a considerar que os fatores inatos e experienciais são complementares e não opostos ou excludentes. Contudo, nem sempre foi esse o pensamento dominantee, para chegar a essa conclusão, muitos estudos foram feitos. Resumidamente, o inatismo apresenta, por meio de teorias, o ser humano como um agente estático, sem a possibilidade de sofrer mudanças. Desta forma, quando o homem nasce, sua personalidade, valores, hábitos, crenças, pensamento, emoções e conduta social já estão definidos, uma vez que toda a atividade de conhecimento é exclusiva do sujeito, o meio não participa dela. Seus principais pensadores são Platão, Aristóteles, Descartes. Tal teoria defende que o conhecimento é um constante renascer, cada vez que se apresenta algo novo em nossa mente, ele passa a ser conhecido e seu conhecedor também se transforma. Descartes, por exemplo, acreditava em um conhecimento a priori, que nasce com o ser humano, apresentando uma crença em um ser perfeito, e afirmava ser impossível nossas ideias virem do nada, tampouco aceitava que as ideias eram tiradas de nos mesmos, então concluiu que um ser verdadeiramente superior e perfeito as embutia no ser humano, criando assim, uma forte relação entre o ser perfeito e o imperfeito. 13 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Já para os empiristas, o homem ao nascer é uma “folha em branco”. Segundo Popper, “Não há nada no nosso intelecto que não tenha entrado lá através dos nossos sentidos". Essa é a ideia central do empirismo: a única fonte de conhecimento humano é a experiência adquirida em função do meio físico, mediada pelos sentidos. Assim, o empirismo destaca a importância da educação e da instrução na formação do homem. Essa teoria é também chamada de ambientalismo, pois, convenciona que a origem do conhecimento está nas experiências com os objetos do mundo exterior, que se imprimem em um espírito inicialmente vazio. A "impressão" do conhecimento no intelecto humano se dá por associação e repetição. Na verdade, para os empiristas, o condicionamento habitual que fazemos de nossos sentidos que formam nossos pensamentos, ideias e conhecimento. Existem vários modos como foram colocadas as idéias dos empiristas, e seus principais pensadores são ingleses. O estudo do empirismo e do inatismo é importante em razão das muitas questões polêmicas que giram em torno destas duas teorias atualmente, como o desenvolvimento da homossexualidade, a formação de líderes, o desenvolvimento de superdotação, etc. Outro ponto importante para as teorias do desenvolvimento é se as transformações e mudanças que geram o desenvolvimento humano se dão de forma continua ou descontinua, ou seja, se as mudanças se dão de forma gradual, linear ou se isso ocorre por meio de rupturas. Com inatismo e empirismo apontando para lados opostos ("O saber está no indivíduo" versus "O saber está na realidade exterior"), o século 20 nasceu com uma tentativa de caminho do meio para explicar o aprendizado: a perspectiva construtivista e interacionista. De acordo com essas linhas, o sujeito tem potencialidades e características próprias, mas, se o meio não favorece esse desenvolvimento (fornecendo objetos, abrindo espaços e organizando ações), elas não se concretizam. 14 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3.1. Abordagem interacionista e construtivista – relação sujeito e objeto Nessas abordagens, o sujeito tem um potenciale características inatas, ou seja, que já nascem com ele, mas se o meio não for estimulante não favorecerá o desenvolvimento. Ou seja, o desenvolvimento humano é embasado na interação entre sujeito e objeto, ou dito de outra maneira, o desenvolvimento humano e a aprendizagem caminham juntos. De acordo com essas abordagens o organismo e o meio são interdependentes, nessa visão há uma reciprocidade em que a interação provoca mudanças significativas no sujeito em um movimento dialético que também transforma o meio e o conhecimento. O interacionismo considera que os elementos biológicos e sociais não podem ser dissociados e exercem influência mútua. Na interação contínua e estável com os outros seres humanos, a criança desenvolve todo um repertório de habilidades. Passa a participar do mundo simbólico dos adultos, comunica-se através da linguagem, compartilha a história, os costumes e hábitos de seu grupo social. Já no construtivismo há a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constrói pela relação do indivíduo com o meio físico e social, com o mundo das relações sociais. O conhecimento se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento. O construtivismo é considerado hoje a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima em afirmar que a Escola consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto; em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores. Acreditamos que a Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído. Segundo Mauri (2006) na visão da abordagem construtivista e interacionista o papel do professor é construir desafios para seus alunos, por meio de um planejamento e fazer pedagógico contextualizado. Segundo a autora “o conhecimento não é incorporado 15 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância diretamente pelo sujeito: pressupõe uma atividade, por parte de quem aprende, que organize e integre os novos conhecimentos aos já existentes". (p.34) Para Becker (2001) a educação deve pensar como o aluno interage com o ambiente, na relação professor-aluno, na relação com seus pares e com o currículo. Ainda segundo a autora, para que os alunos aprendam e consequentemente se desenvolvam é necessário que o professor considere as necessidades de sua turma, organizar seu fazer pedagógico de maneira que gere aprendizagem significativa, para isso é necessário que o docente tenha um bom domínio da área de conhecimento e conheça as maneiras que os alunos aprendem os diferentes conteúdos. Nessas abordagens, o professor deve participar ativamente da elaboração do planejamento, da construção de materiais, enfim do cotidiano escolar. Inspirado nas idéias do suíço Jean Piaget (1896- 1980), o método procura instigar a curiosidade, já que o aluno é levado a encontrar as respostas a partir de seus próprios conhecimentos e de sua interação com a realidade e com os colegas. Uma aluna de Piaget, Emilia Ferrero, ampliou a teoria para o campo da leitura e da escrita e concluiu que a criança pode se alfabetizar sozinha, desde que esteja em ambiente que estimule o contato com letras e textos. Veja o trailer do vídeo Construtivismo e Práticas Pedagógicas – integrante da coleção - Grandes Temas I. Tem apenas 4 minutos e está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cclgw2Iy6R0 Acesso em 04/05/2017. BECKER, F. Educação e Construção do Conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. MAURI. T. et all. O Construtivismo em Sala de Aula. São Paulo: Ática, 2006. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: Artmed, 2000. SHAFFER, D. R. Psicologia do Desenvolvimento: Infância e Adolescência. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2005. https://www.youtube.com/watch?v=cclgw2Iy6R0 16 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. TEORIAS PSICOLÓGICAS DE APRENDIZAGEM: BEHAVIORISMO Nos textos anteriores, discutimos o surgimento da Psicologia Científica e da Psicologia da Educação. A partir deste texto, vamos refletir sobre algumas das principais teorias psicológicas que estão relacionadas com a educação e a aprendizagem. As teorias que você verá são: Behaviorismo, teoria de Piaget, teoria de Wygotsky, teoria de Wallon. Tais teóricos têm diferentes concepções de sociedade e de homem o que indica que possuem vários olhares sobre o processo de desenvolvimento das pessoas e sua aprendizagem. 4.1. BEHAVIORISMO Os pesquisadores da teoria Behaviorista procuraram estudar aspectos objetivos, observáveis e mensuráveis da atividade psicológica, focando seus estudos no comportamento, o que deu nome à teoria, Behaviorismo. O termo behaviorismo em inglês significa comportamento. O termo inglês behaviour ou do americano behavior, significando conduta, comportamento – é um conceito generalizado que engloba as mais paradoxais teorias sobre o comportamento, dentro da Psicologia. Estas linhas de pensamento só têm em comum o interesse por este tema e a certeza de que é possível criar uma ciência que o estude, pois, suas concepções são as mais divergentes, inclusive no que diz respeito ao significado da palavra ‘comportamento’. Os ramos principais desta teoria são o Behaviorismo Metodológico e o Behaviorismo Radical. 17 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância FONTE: http://www.portal-administracao.com/2015/08/behaviorismo-estudo-do-comportamento.html O Metodológico teve início em 1913, com um manifesto criado por John B. Watson – “A Psicologia como um comportamentista a vê". Nele o autor defende que a psicologia não deveria estudar processos internos da mente, mas sim o comportamento, pois este é visível e, portanto, passível de observação por uma ciência positivista. Nesta época vigorava o modelo behaviorista de S-R, ou seja, de resposta a um estímulo, motor gerador do comportamento humano. Watson crê ser possível prever e controlar toda a conduta humana, com base no estudo do meio em que o indivíduo vive e nas teorias do russo Ivan Pavlov sobre o condicionamento – a conhecida experiência com o cachorro, que saliva ao ver comida, mas também ao mínimo sinal, som ou gesto que lembre a chegada de sua refeição. Para que você conheça melhor esta escola da Psicologia, é interessante evidenciar que, desde 1860, Ivan P. Pavlov partia do princípio que para se compreender o processo de aprendizagem era necessário se estudar a fisiologia dos reflexos. Reflexo é o nome dado a comportamentos que dão início a uma reação corporal quando o indivíduo se encontra em determinadas situações, como a já citada salivação do cachorro. Essa experiência de Pavlov foi feita com cães, em que um estímulo inicialmente neutro, como o som de uma campainha, que não está associado à salivação dos cães, poderia passar a produzir esta resposta se a campainha fosse tocada juntamente com a apresentação do alimento por repetidas vezes. 18 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O processo de associação da campainha (estímulo - S) à salivação (resposta - R) foi denominado condicionamento. O que gerou a “formula” S – R, ou seja, todo o estímulo gera uma resposta. FONTE: http://www.authorstream.com/Presentation/aSGuest90813-903657-ivan-pavlov/A partir dos experimentos de Pavlov outros pesquisadores também buscaram compreender o comportamento com a “fórmula” S – R. Um deles foi Watson. Para ele, o processo de condicionamento, isto é, a associação de um estímulo inicialmente neutro a uma resposta, por meio do treinamento ou repetição, era a chave para a compreensão do comportamento. Outro pesquisador desta corrente teórica Burrhus Frederic Skinner foi o pesquisador comportamentalista mais conhecido. Suas ideias, originadas no Behaviorismo clássico de Watson e nas pesquisas sobre condicionamento de Pavlov, aprimoraram o estudo do comportamento e estão vivas até hoje, é conhecida por Radical. As pesquisas e teorias desenvolvidas por Skinner defendia que os sentimentos, pensamentos e outros eventos internos, não eram as causas do comportamento. 19 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para Skinner as variáveis que explicam o comportamento humano não são as internas, tais como sentimentos ou estados de humor, mas sim as externas que se encontram nos meios ambientes imediatos. Suas preocupações eram identificar as relações funcionais, ou seja, conexões entre causa e efeito, entre as condições ambientais (causas) e o comportamento humano (efeito). O seu foco de estudos era o comportamento que produz alguma transformação no ambiente de forma positiva ou negativa. Essas consequências, por sua vez, retroagem sobre o organismo, possibilitando que as mesmas respostas apareçam em situações semelhantes futuramente. Por exemplo, ao chegar atrasado à aula, o aluno leva uma "bronca" do professor, futuramente, o mesmo aluno, tende a evitar essa situação, chegando na hora. O processo de ensino e aprendizagem na perspectiva Comportamentalista é visto como um arranjo de contingências de reforços dirigidos à mudança do comportamento. Esse arranjo de contingências explicita a natureza intencional e planejada do ensino. 4.2. Principais Conceitos Agora que você já estudou um pouco sobre comportamento, vamos dividi-lo em duas categorias: comportamento respondente e comportamento operante. Segundo Baun (2006) comportamento respondente são eventos naturais como piscar diante de uma luz forte, correr em uma situação de muito medo ou perigo. Ainda segundo Baun (2006) o comportamento operante é aquele que opera no ambiente com o objetivo de produzir uma consequência. A maioria dos comportamentos humanos são operantes, por exemplo, ler e escrever, parar o carro frente a um sinal vermelho, ou comer com talheres. O comportamento operante pode ser fortalecido ou enfraquecido em consequências do reforço dado, ou seja, um estímulo que aumenta a aparição de um dado comportamento operante. Os reforços são classificados em: positivos e negativos. a) Reforço positivo: são os estímulos que, quando seguem a uma resposta, aumentam a probabilidade de sua ocorrência 20 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância b) Reforço negativo: acontece quando um estímulo considerado aversivo ao organismo é retirado, aumentando a probabilidade de uma dada resposta que se deseja aparecer com maior frequência. Para que você possa considerar um reforço como positivo ou negativo para o organismo é importante verificar os efeitos que ele provoca nas pessoas, a extinção. A extinção do comportamento operante acontece quando não há emissão do reforço frente a um comportamento já instalado, resultando na diminuição de sua frequência até que não seja mais emitido, ou seja, extinto. A punição produz a diminuição ou supressão do comportamento. Outro conceito importante na teoria Comportamentalista é a modelagem. Modelagem, segundo Baun (2006) significa que todos os comportamentos ou ações que se aproximam da resposta desejada são reforçados, combinando-se aproximações sucessivas, até se atingir o comportamento alvo. Ainda, há outros dois conceitos fundamentais da teoria Comportamentalista sobre o processo de ensino aprendizagem que você deve aprender, o de generalização e o de discriminação de estímulos. Vamos a eles! Em termos gerais, a discriminação, segundo Baun (2006) de estímulo ocorre quando o reforço é ministrado na presença de um estímulo específico. A generalização, segundo Baun (2006) de estímulo é responder de modo idêntico aos estímulos semelhantes. Você verá a seguir como a Teoria Comportamentalista pode ser usada na educação. 4.3. Teoria Comportamentalista e Educação A abordagem Comportamentalista teve grande impacto na concepção do processo de ensino aprendizagem, em especial em ambiente escolar. A proposta educacional em que o aluno se submete a este tipo de instrução vai passando por etapas curtas de exposição a conteúdos com grau de dificuldade crescente. 21 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O aluno recebe o conteúdo, responde exercícios e verifica os resultados obtidos com suas respostas para, só então, passar à etapa seguinte. O resultado das respostas, positivo ou negativo, funciona como incentivo para continuar o estudo, isto é, um reforço positivo. Skinner (2006) deu o nome a seu método de instrução programada. Na instrução programada o aluno vai modelando suas respostas de acordo com o que é solicitado pelo material instrucional. O planejamento do professor torna-se fundamental para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem. Skinner é criticado até hoje por sua visão ambientalista da aprendizagem. As críticas tomam a proposta de Skinner de modelagem do comportamento como algo autoritário, que desconsidera o que se passa na mente do aprendiz, impondo a ele o desenvolvimento dos comportamentos socialmente valorizados. O comportamento é definido por meio de unidades analíticas, como respostas e estímulos, e investigado por meio de diferentes métodos, dentre os quais destacam-se: • A observação do comportamento em ambiente experimentalmente controlado; • A observação do comportamento em ambiente natural; • A interpretação de relações comportamentais orientada por evidências empíricas; Veja o vídeo A Psicologia de B. F. Skinner – Behaviorismo, produzido pela ATTA Mídia e Educação. Está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=fsw-SbafVt0 Acesse em 10/10/2017. https://www.youtube.com/watch?v=fsw-SbafVt0 22 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BAUN,Willian M. Compreender o Behaviorismo. Porto Alegre:Artmed, 2006. SKINNER, B.F. Ciência do Comportamento. São Paulo: Martins Editora, 2003. _____________A Análise do Comportamento Humano. São Paulo: EPU, 2006. WERTHEIMER, M. Pequena história da psicologia. São Paulo: Nacional, 1989. 23 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE JEAN PIAGET Nesse texto você começará a estudar os teóricos interacionistas. Jean Piaget é um dos mais conhecidos teóricos que defende a visão interacionista do desenvolvimento humano. Seu trabalho de pesquisa é bastante extenso e detalha as fases do desenvolvimento intelectual infantil. A teoria de Piaget é conhecida como Epistemologia Genética, e é entendida como o estudo dos mecanismos do aumento da complexidade dos conhecimentos. Para elaborar sua teoria, Piaget precisou criar um método particular de investigação que deu o nome de método clínico piagetiano para diferenciar do método clínico criado por Freud. Em sua teoria psicogenética Piaget entende o desenvolvimento humano através de transformações psicológicas contínuas, de maneira linear e sucessiva, a aprendizagem é um processo construtivo, os indivíduos constroem seus conhecimentos em diferentes etapas ou estágios, que se caracterizam por uma sofisticação na maneirade pensar e não num acúmulo de fatos conhecidos. Para Piaget, é pela interação ativa do sujeito com o ambiente, que o conhecimento se estabelece e evolui até suas formas mais complexas. A construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação e acomodação dessas ações e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento. O desenvolvimento cognitivo, para Piaget, é feito por adaptação e por organização. Segundo Piaget quando uma criança encontra no mundo um objeto que ela não conhece, esse objeto desperta a curiosidade da criança, a mesma irá entrar em contato com o objeto e tentar compreendê-lo, dando início ao processo de construção do conhecimento, após conhecer o objeto, esse conhecimento é acomodado, ou seja, é apreendido. Para que você possa entender melhor os princípios teóricos de Piaget, definirei a seguir alguns dos principais conceitos da teoria piagetiana. 24 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • Esquema: autores sugerem que imaginemos um arquivo de dados na nossa cabeça. Os esquemas são análogos às fichas deste arquivo, ou seja, são as estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente organizam o meio. São estruturas que se modificam com o desenvolvimento mental e que se tornam cada vez mais complexas na medida em que a criança torna-se mais apta a generalizar os estímulos. • Assimilação: é o processo cognitivo de colocar (classificar) novos eventos em esquemas existentes. É a incorporação de elementos do meio externo (objeto, acontecimento, etc.) a um esquema ou estrutura já existente. • Acomodação: é a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das particularidades do objeto a ser assimilado. A acomodação pode ser de duas formas: criar um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou modificar um já existente de modo que o estímulo possa ser incluído nele. • Equilibração: é o processo da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio, os estímulos desequilibram os processos mentais e esses buscam, por meio da assimilação, entrar em equilíbrio novamente. Como este estado de equilíbrio é passageiro, Piaget preferiu chamá-lo de equilibração e não de equilíbrio. Agora que você já sabe os conceitos básicos vamos ver os tipos de conhecimento classificados pelo autor. 5.1. Tipos de Conhecimento Piaget refere-se a três tipos de conhecimento. 1. Conhecimento social: todo conhecimento que advém de uma convenção social e que pode variar de grupo para grupo, e também no tempo, uma regra ou forma de escrita pode ser correta hoje, mas pode ser diferente no futuro. É um conhecimento que só pode ser aprendido através de um modelo. Sua tarefa como futuro professor, para este tipo de conhecimento, será a de servir facilitador. Se um de seus alunos não sabe uma palavra cabe a você como professor ensiná-la, tanto o seu sentido quanto o uso em situações futuras. 25 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. Conhecimento físico: é o conhecimento que se adquire através da manipulação ou observação de objetos.por exemplos: observar as folhas que caem. A sua tarefa como futuro professor, nesse tipo de conhecimento, é o de providenciar para que seus alunos tenham os mais diferentes objetos e situações à sua disposição, para que possam obter o conhecimento mais rico possível. 3. Conhecimento lógico-matemático: é uma construção interna, que envolve relações lógicas. Por exemplos: descobrir que sempre que se transfere certo volume de água de um recipiente baixo e largo, para outro, alto e fino, o nível da água fica mais alto no segundo recipiente, contudo o volume de água é o mesmo. A sua tarefa como futuro professor é a de executar as experiências junto com seus alunos e questioná-los para que reflitam sobre o experimento, de maneira que possam ampliar e potencializar seus conhecimentos anteriores. 5.2. Estágios de Desenvolvimento Segundo Piaget Para Piaget, a construção das diferentes formas de raciocínio e conhecimento se dá em estágios sucessivos e lineares. Cada um deles é, ao mesmo tempo, o resultado das possibilidades abertas pelo anterior e a condição necessária do seguinte. 1. Estágio Sensório-motor (0 a 2 anos de idade) É o estágio em que a percepção sensorial e ação motora constituem os principais elementos da formação das estruturas cognitivas. O bebê aprende ao interagir com o ambiente, por meio dos órgãos dos sentidos irá construir a representação dos objetos. 2. Estágio Pré-Operatório (de 2 a 7 anos de idade): Para Piaget, a operação mental é, em primeiro lugar, uma ação interiorizada, não um acúmulo de informações. Pensar é executar, no plano simbólico, uma ação sobre os objetos. É com o aparecimento das estruturas semióticas (linguagem, imitação, jogo do faz de conta, imagem mental etc.) que começa a transformação dos esquemas sensório- motores em esquemas conceituais, ocorrendo, desse modo, lentamente a interiorização das ações. 26 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Toda a dificuldade encontrada pela criança consiste em reconstruir no plano simbólico o que foi conseguido de forma prática. Isto implica num processo de abstração que exige tanto em acrescentar relações aos dados perceptivos como a extraí-las dos mesmos. Em relação às ações, a criança pode proceder por dois tipos de abstrações. Falaremos de abstrações empíricas quando as informações forem extraídas dos próprios objetos ou ações e abstração reflexiva quando extraída da coordenação de esquemas. Ex: noção de “antes depois”, “menor-maior”. A abstração reflexiva cria quadros lógicos necessários ao pensamento: classes, número, tempo, espaço, causalidade e todo o tipo de relações. É através dela que se formam as operações. No período pré-operatório a criança pode pensar em símbolos, mas ainda não pode usar a lógica no sentido de fazer inferências, isto porque, seu pensamento ainda apresenta determinados traços muito próximos ao período anterior, que serão aos poucos modificados. Você pode dizer que as crianças deste período são: • Egocêntricas: é a incapacidade de ver as coisas do ponto de vista do outro. O que o outro pensa não conta, está centrada em si mesma. • Centralizadoras: a criança não pensa em diversos aspectos de uma mesma situação e tem dificuldade em diferenciar a realidade da fantasia. • Irreversíveis: revelam incapacidade de perceber que uma operação pode ser anulada por seu inverso. • Antitransformadoras: concentram-se na sucessão de diferentes quadros, mas não conseguem entender o significado da transformação de um para outro estado. Misturam causa e efeito. Ex: o menino caiu porque se machucou. • Transdutivas: vão do particular para o particular, sem levar em conta o geral. Ao fazerem uma organização pensam em um só aspecto de cada vez. Ex: com o jogo de blocos lógicos, onde existem círculos, retângulos, triângulos e quadrados de cores azul, amarela e vermelha, fazem uma sequência do tipo: círculo azul, círculo amarelo (pensando na forma). 27 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Contudo, é um período muito importante, pois prepara a criança para a execução das operações. Piaget introduz para este período o conceito de função constituinte. Uma função constituinte consiste em conectar, dois elementos de ação, ou duas noções, ou ainda, duas propriedades dos objetos, em relação ordenada. As funções constituintes preparam as operações e as explicações causais. Será preciso atingir a idade próxima aos seis ou sete anos de idade para que a criança desenvolva as operações lógicas, ondea principal característica é a reversibilidade. 5.3. Estágio Operatório Concreto (de 7 a 12 anos de idade) Por volta dos seis ou sete anos de idade a criança atinge o estágio operatório concreto, em que a reversibilidade já é possível. Mas as correspondências, as operações e as funções constituintes guardam por muito tempo esse caráter concreto, no sentido de que é preciso que ocorram sobre objetos manipuláveis ou suscetíveis de serem representados. A reversibilidade consiste em conceber simultaneamente uma ação ou uma operação e a ação ou a operação inversa, recíproca ou compensadora que a anula. O caráter simultâneo é essencial. Por exemplo: a criança a partir deste estágio consegue perceber que a distância entre Santos e São Paulo é a mesma, independente se ela saiu de Santos ou de São Paulo. 5.4. Estágio Operatório Formal (de 12 anos de idade em diante) Durante a adolescência e na idade adulta o pensamento se descontextualiza e pode operar sobre proposições enunciadas e hipóteses. Neste estágio, o adolescente consegue pensar todas as ações e acontecimentos numa rede de relações. O adolescente não se contenta mais em viver as relações interindividuais que seu ambiente lhe oferece, nem com sua inteligência para resolver os problemas do momento; procura, contudo, colocar-se no mundo social dos adultos e, para isso, tende a participar das ideias, das ideologias de um grupo mais amplo, utilizando como intermediário certo número de símbolos verbais que o deixam indiferente quando criança. Isto é a manifestação do pensamento formal. 28 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Não é à toa que o nome de Piaget está associado ao construtivismo. Essa divisão em períodos é uma forma didática de apresentar a construção do conhecimento. É uma maneira de distinguir os aspectos mais relevantes de cada faixa etária e de mostrar que todo aspecto cognitivo do ser humano vai se construindo, pouco a pouco, em contato com a realidade que o cerca. 5.5. Implicações Pedagógicas A teoria piagetiana reveste-se de enorme importância ao indicar que existem fases de desenvolvimento pelas quais todas as pessoas passam e que, dependendo da fase em que se encontre o aluno poderá se beneficiar de um ou outro tipo de abordagem pedagógica. Essa teoria nos indica que para cada conteúdo existe uma gênese, ou seja, que os alunos elaboram hipóteses, muitas vezes incorretas, das quais você como futuro professor deve estar preparado para poder auxiliar seu aluno a superá-la. Sabendo que o aluno não é um sujeito passivo, mas que interage com os conteúdos, procurando assimilá-los aos seus esquemas, você como professor deve se esforçar para proporcionar situações em que seus alunos refletam sobre seus erros. Depois de certo número de repetições, é importante também, para que cheguem a assimilações generalizadoras, que as situações se mostrem cada vez mais variadas e ricas. O professor que se baseia na teoria piagetiana presta muita atenção ao tipo de raciocínio de seu aluno e procura lhe dar suportes adequados para que supere suas dificuldades. Piaget propôs método da observação para a educação da criança. Daí a necessidade de uma pedagogia experimental que colocasse claramente como a criança organiza o real. Criticou a escola tradicional que ensinava a copiar e não a pensar. Para obter bons resultados, o professor deveria respeitar as leis e as etapas do desenvolvimento da criança. O objetivo da educação não deveria ser repetir ou conservar verdades acabadas, mas aprender por si próprio a conquista do verdadeiro. (GADOTI 2004, pg 146). 29 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Fonte: http://crescimentho.blogspot.com.br/2013/03/estagios-do-desenvolvimento-infantil-de.html Durante o estágio pré-operatório, observamos o egocentrismo na criança. Aparece neste período o pensamento animista – tendência de atribuir características psicológicas, como sentimentos ou intenções a eventos e objetos físicos; o antropomorfismo– que é a atribuição de uma forma humana a objetos ou animais (nuvens como grandes rostos, por exemplo); o artificialismo– que atribui uma origem artesanal humana a todas as coisas (a montanha foi esculpida por um homem muito grande); o finalismo é a tendência egocêntrica na qual a criança acha que todos os objetos tem a finalidade de servi-la. O estudo do desenvolvimento do ser humano constitui uma área do conhecimento da Psicologia cujas proposições nucleares concentram-se no esforço de compreender o homem em todos os seus aspectos, englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade. Tal esforço, conforme mostra a linha evolutiva da Psicologia, tem culminado na elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a partir de diferentes metodologias e pontos de vistas, as condições de produção da representação do mundo e de suas vinculações com as visões de mundo e de homem dominantes em cada momento histórico da sociedade. Dentre essas teorias, a de Jean Piaget (1896-1980) não foge à regra, na medida em que ela busca, como as demais, compreender o desenvolvimento do ser humano. Para ler mais sobre essa teoria: http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm Acesso em 10/10/2017. http://crescimentho.blogspot.com.br/2013/03/estagios-do-desenvolvimento-infantil-de.html http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm 30 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BATTRO, A. M. Dicionário terminológico de Jean Piaget. Tradução de Lino Macedo. São Paulo: Pioneira, 1978. BOCK, A. M. et. all. Psicologias: uma Introdução ao Estudo de Psicologia. 13º ed. São Paulo: Saraiva, 2013. COLL, César et. al. (Org.). Desenvolvimento Psicológico e Educação. Vol. 2. Porto Alegre: Artmed, 2004. 31 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. TEORIA HISTÓRICO CULTURAL DE VYGOTSKY O psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934) morreu há mais de 70 anos, mas sua obra ainda está em pleno processo de descoberta e debate em vários pontos do mundo, incluindo o Brasil. Vygotsky apresentou uma teoria alternativa que permitiu a superação das duas abordagens predominantes: o inatismo e o ambientalismo. O ser humano, na concepção de Vygotsky, é produto da interação dos aspectos biológicos e sociais dentro de um tempo e espaço, em um processo permanente de construção histórica. Em toda sua pesquisa Vygotsky buscou compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana e da história individual. O autor entende o desenvolvimento humano em três planos. Um plano é a filogênese, que é a história da espécie. Outro plano é a sóciogênese, ou seja, a história cultural da humanidade, que busca compreender a imersão do ser humano no mundo cultural. O terceiro plano é a ontogênese, que é o percurso do indivíduo em seu próprio ciclo de vida, o seu desenvolvimento. O quarto e último plano é a microgênese, diz respeito ao fato de que todo e qualquer fenômeno psicológico tem a sua história; por exemplo: a história de como alguém aprende a ler e a escrever, aprende a amarrar os sapatos, a andar de bicicleta. é individual. Outros pilares que compõem o pensamento desse autor se fundamentam na concepção de funções psicológicas, que têm origem na base biológica. Partindo das estruturas orgânicas elementares, desenvolvem-se estruturas mais complexas. O funcionamento psicológico é produto das relações interpessoais do sujeito. Primeiro, o conhecimento está presente no plano social (no nível interpsicológico) para depois ser internalizado no plano psicológico (no nívelintrapsicológico) pelo sujeito; a relação homem/mundo é mediada por signos e símbolos. Esse movimento complexo que dá origem as funções psicológicas. Imerso num mundo social desde o nascimento, a criança logo interage com uma classe especial de instrumentos: os signos. Estes não afetam diretamente os objetos, mas podem fazer referência aos mesmos. Antes de prosseguir vamos estudar um pouco mais sobre os instrumentos na visão de Vygotsky. 32 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nessa visão teórica, o instrumento advém de uma construção social que auxilia o indivíduo a relaciona-se com o mundo e transformar a natureza. Ex.: O machado. Contudo, o maior interesse de Vygotsky a respeito dos instrumentos refere-se aos instrumentos psicológicos ou signos. Segundo Oliveira (2002), os signos, na teoria de Vygotsky, são ferramentas fundamentais dos processos psicológicos, são elementos que representam ou expressam objetos e situações. Por exemplo: a palavra cama é um signo que representa o objeto cama. Os signos, na teoria do autor, são vistos como características externas, que fornecem um suporte concreto para a ação do homem no mundo. Esse sistema simbólico, composto de signos, são internalizados formando o que Vygotsky denominou de processo de internalização. O desenvolvimento dos sistemas simbólicos, segundo Oliveira (2002) é o que chamamos de representações mentais, estas substituem o objeto concreto por sua representação simbólica, cultural. Segundo Vygotsky (2007) a capacidade do homem de desenvolver representações mentais é o que viabiliza que seu raciocínio se liberte do objeto concreto e passe a lidar com o real mediado por signos. Um dos principais sistemas de signos e símbolos é a linguagem. A linguagem, segundo Vygotsky (2007) é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, e também um dos sistemas de representação da realidade, sendo, portanto, socialmente construído. É o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real. Para Vygotsky (2007), a cultura fornece ao indivíduo um ambiente estruturado, onde todos os elementos são carregados de significados, e seus membros estão em constante movimento de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, isto é, o processo de desenvolvimento humano é marcado por sua inserção em determinado grupo cultural. Como você pode ver na figura abaixo. 33 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Fonte da imagem: http://afilosofia.no.sapo.pt/, acesso 27/12/2015 Para Vygotsky (2007) a construção psicológica do sujeito é fruto da relação social em que cada função psíquica aparece duas vezes: primeiro como atividade coletiva, social e interpsíquica e depois como atividade individual, intrapsíquica. A linguagem, fenômeno social por excelência, torna-se progressivamente o instrumento essencial do desenvolvimento humano, a partir da aquisição da linguagem a criança adquire instrumentos psicológicos para participar das relações humanas e da aprendizagem. A teoria de Vygotsky atribui à educação um papel primordial no desenvolvimento humano. Para o autor, a herança genética é minimizada e o desenvolvimento humano produz-se graças ao processo social da educação. A teoria de Vygotsky apoia-se em alguns conceitos básicos, que são: instrumentos psicológicos, atividade, mediação e interiorização. A atividade humana é caracterizada, segundo Vygotsky (2007) pelo uso de instrumentos psicológicos, com os quais modifica a natureza e os processos cognitivos. São instrumentos psicológicos todos aqueles objetos cujo uso serve para ordenar e http://afilosofia.no.sapo.pt/ 34 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância reposicionar a informação, utilizando sua inteligência, memória ou atenção, quando quiser e não apenas quando a vida real oferecer. A mediação instrumental, na visão de Vygotsky, converge para outro processo de mediação que a torna possível: a mediação social. É a mediação instrumental entre duas ou mais pessoas que cooperam em uma atividade conjunta ou coletiva, o que constrói o processo de mediação social, que o ser humano passará a empregar, mais tarde, como atividade individual. Esse processo de mediação, gerido pelo adulto ou por outras pessoas permite que a criança desfrute de uma consciência imprópria, de uma memória, atenção e inteligência, emprestadas pelo adulto, que suplementam e conformam aos poucos sua visão do mundo e constroem pouco a pouco sua inteligência, que será assim, durante muito tempo, uma mente social que funciona em seu exterior e com apoios instrumentais e sociais externos. Na medida em que a criança interioriza os ensinamentos do adulto, é que ela construirá as funções psicológicas superiores e consequentemente seu conhecimento. Empregar conscientemente a mediação social implica dar, em termos educativos, importância não apenas ao conteúdo e aos mediadores instrumentais (o quê, com quê), mas também aos agentes sociais (quem). Esses processos você utilizará em sua futura prática pedagógica. O que você está estudando é o processo de interiorização, que consiste em transformar processos externos em internos. Juntamente com o processo de interiorização se dá o processo de assimilação, ou seja, quando os processos de mediação permitem à criança uma educação mais ajustada ao seu nível de atividade possível. Se você em seu fazer pedagógico, como futuro professor, quiser desenvolver a aprendizagem significativa e usar a perspectiva teórica de Vygotsky deverá entender que a consciência dos seres humanos não surge passivamente do impacto causados no sujeito, mas da atividade do sujeito sobre esses objetos; os processos mentais não e se manifestam apenas através da atividade, mas se formam através dela. 35 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Em cada etapa do desenvolvimento da criança existem atividades diretoras, ou principais, características. Dentro dessa linha de raciocínio, as atividades escolares seriam escalonadas por critérios de “sentido”. 6.1. Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP Para Vygotsky (2007) a instrução somente é boa quando vai adiante do desenvolvimento, quando desperta e traz à vida as funções que estão em processo de maturação, ou na zona de desenvolvimento proximal. Se você aceitar essa tese, compreenderá que a aprendizagem significativa é a que se dá a partir dos desenvolvimentos específicos já estabelecidos, ou seja, a aprendizagem que se produz a partir de uma Zona de Desenvolvimento Atual (ZDA), até alcançar os limites de autonomia possível a partir desta base, definidos pela Zona de Desenvolvimento Pro Fonte da imagem: http://pt.slideshare.net/snvanessa/vygotsky, acesso 27/12/2015 Vygotsky, do mesmo modo que Piaget, autor que você estudou no texto anterior, recorre à imitação, como processo germinal da aprendizagem humana. Mas, Vygotsky vê na imitação humana como uma nova “construção a dois” que ocorre entre a capacidade imitativa da criança e o uso inteligente e educativo feito pelo adulto, esse processo se dá na ZDP. http://pt.slideshare.net/snvanessa/vygotsky 36 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A criança vivencia a ajuda do adulto, em princípio, como um conjunto indiscriminado. Mas ali aonde a criança não chega, o adulto completa a atividade proposta com seus recursos e estabelece distinções. No lugar em que a criança só vê situações concretas, de objetos concretos, o adulto lhe faz ver representações e símbolos. Este processo, pelo qual a atividade e funções sincréticas passam a ser convertidas em capacidades e consciência individual,é o longo processo de desenvolvimento humano, que se produz na ZDP. Espero que você tenha compreendido os conceitos passados neste texto e que possa usá-los em sua nova profissão. Oliveira, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento. Um processo Sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2002. VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. 2º Ed. São Paulo: Martins Editora, 2007. Para ocorrer a aprendizagem, a interação social deve acontecer dentro da zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que seria a distância existente entre aquilo que o sujeito já sabe, seu conhecimento real, e aquilo que o sujeito possui potencialidade para aprender, seu conhecimento potencial. Dessa forma, a aprendizagem ocorre no intervalo da ZDP, onde o conhecimento real é aquele que o sujeito é capaz de aplicar sozinho, e o potencial é aquele que ele necessita do auxílio de outros para aplicar. O professor deve mediar a aprendizagem utilizando estratégias que levem o aluno a tornar-se independente e estimule o conhecimento potencial, de modo a criar uma nova ZDP a todo momento. O professor pode fazer isso estimulando o trabalho com grupos e utilizando técnicas para motivar, facilitar a aprendizagem e diminuir a sensação de solidão do aluno. Sua orientação deve possibilitar a criação de ambientes de participação, colaboração e constantes desafios. Essa teoria mostra-se adequada para atividades colaborativas e troca de ideias, como os modelos atuais de fóruns e chats. 37 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Vygotsky foi um grande estudioso da linguagem, já que para ele a aprendizagem estava relacionada com a interação e com os símbolos. Entenda um pouco mais sobre a teoria do autor no que se refere à linguagem em: https://www.youtube.com/watch?v=_BZtQf5NcvE https://www.youtube.com/watch?v=_BZtQf5NcvE 38 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. A TEORIO SÓCIO AFETIVA DE HENRI WALLON Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu em Paris, França, em 1879. Graduou-se em medicina e psicologia. Fez também filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1925, criou um laboratório de psicologia biológica da criança. Wallon defendia que o ser humano é um ser biológico e social e seu desenvolvimento abrange os campos funcionais da afetividade, da motricidade e da inteligência ou cognição. Para o autor, o desenvolvimento é marcado por etapas descontínuas e assistemáticas. São períodos entendidos a partir de um todo marcado por rupturas e retrocessos. Trata de uma construção progressiva em que cada novo passo é um momento de ampliação e reformulação de um estágio anterior do desenvolvimento. No percurso do desenvolvimento humano, na visão de Wallon, os fatores orgânicos são inicialmente os responsáveis em maior intensidade pelas características do indivíduo e vão progressivamente cedendo espaço de determinação ao social, na aquisição de condutas psicológicas superiores, como, por exemplo, a inteligência simbólica. Pode ocorrer, porém, das condutas humanas, em algumas circunstâncias, serem controladas por fatores orgânicos, resultando em pura emoção. A esse respeito, Wallon (1975) comenta que “nos estados em que se aboliu o controle mental, como a exaltação afetiva, podem reaparecer atitudes forçadas que pertencem à primeira infância, crises que derivam da mais rude e elementar emotividade (p. 13).” A complexa dinâmica do desenvolvimento infantil é pontuada por crises e conflitos. No ritmo de passagem de uma etapa para a outra se instala uma crise que pode afetar a conduta da criança. Também podem acontecer conflitos originados a partir dos desencontros entre a ação da criança e o ambiente externo, organizado pelos adultos e pela cultura, ou pelo efeito da maturação nervo. Isto porque as funções nervosas recém adquiridas ficam sujeitas a si mesmas e em situação de desajuste em relação às circunstâncias exteriores, desorganizando as formas de conduta que já se encontravam estabilizadas em relação ao meio exterior. 39 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As crises e os conflitos são a tônica do trabalho de Wallon. Para ele a contradição é constitutiva do sujeito e os conflitos são os propulsores do desenvolvimento, que se dará em etapas. Outro ponto fundamental na teoria de Wallon é que em sua base teórica presume que o desenvolvimento humano é regulado por leis, que são: a lei da alternância funcional, a da preponderância funcional e a da integração funcional. A lei de alternância funcional concebe que durante o desenvolvimento há uma alternância em duas direções opostas que são: centrípeta, voltada para a construção do eu e centrífuga, voltada para a elaboração da realidade externa e do universo que a rodeia. Essas duas direções constituem o ciclo da atividade funcional. A lei de preponderância funcional na qual as dimensões motora, afetiva e cognitiva se sucedem e predominam ao longo do desenvolvimento da criança. A função motora predomina nos primeiros meses de vida da criança, enquanto as funções afetivas e cognitivas se alternam ao longo de todo o desenvolvimento, ora visando a formação do eu em que há predominância afetiva, ora visando o conhecimento do mundo exterior predominância cognitiva. A lei da diferenciação e integração funcional no desenvolvimento a criança vai integrando as novas conquistas do desenvolvimento aos estágios anteriores. Essa sucessão foi descrita pelo autor em estágios ou etapas do desenvolvimento, vão do nascimento até a puberdade. 7.1. Impulsivo-Emocional, de 0 a 1 ano Este estágio é de construção do eu, ou centrípeto. No início da vida do bebê (0 a 3 meses) o que predomina é a impulsividade motriz pura, ou seja, as reações puramente fisiológicas como os espasmos, contrações, choro. Dos 3 aos 9 meses o predomínio das expressões emocionais da relação do bebê com o meio circundante, o surgindo às mímicas faciais, por exemplo. Dos 9 aos 12 meses tem início os exercícios sensório-motores propriamente ditos. Todos os processos, que você leu a cima, tem sua origem em fatores internos e por isso Wallon denominou centrípeto. 40 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7.1.1. Sensório-Motor e Projetivo, de 1 a 3 anos Este estágio tem preponderância centrifuga, ou seja, a criança se volta para as relações com o meio ambiente. Dos 12 aos 18 meses a criança tem seu comportamento todo voltado para a exploração do mundo circundante, ou seja, sensório-motor o qual expandirá sua inteligência e se amplia com o desenvolvimento da marcha. Dos 18 meses aos 3 anos, a criança estará no estágio projetivo, neste surgem as imitações, a ampliação da fala e da atividade simbólica, desenvolvendo assim a inteligência representativa discursiva. 7.1.2. Personalismo, de 3 a 6 anos Nesse estágio há a ampliação da construção do EU e a formação do caráter. Wallon dividiu este estágio em três momentos, que são: 3 anos de idade há a crise de oposição em que a criança busca a independência progressiva do eu, com atitudes de recusa que buscam sua autonomia, afastando-se cada vez mais da dependência total de seus cuidadores. Aos 4 anos de idade é a idade da graça, neste período há um predomínio de comportamentos de seduzir o outro. Dos 5 aos 6 anos de idade surgem as representações de papéis, se dá a imitação de personagens. 7.1.3. Categorial, de 6 a 11 anos Este estágio é predominantemente exploratório e cognitivo, numa busca constante em estabelecer relações com o mundo. Por volta de 6 a 7 anos de idade a criança tem seu desenvolvimento voltado para as cognições, buscando a autodisciplinamental, e domínio e ampliação da atenção. Dos 7 aos 9 anos de idade há constituição da rede de categorias, dominada por conteúdos concretos. Dos 9 aos 11 anos de idade a criança desenvolve, segundo Wallon, o conhecimento operativo racional e a função categorial. 7.1.4. Puberdade e Adolescência, de 11/12 anos até o início da vida adulta. A partir dos 11 ou 12 anos de idade se inicia um estágio predominantemente centrípeto, indispensável para a construção acabada da pessoa e da autoimagem. Neste momento da vida há o dobro do pensamento sobre si mesmo, com preocupações teóricas e dúvidas. Surge a tomada de consciência de si mesmo no tempo, surgindo inquietações metafísicas com orientação de metas definidas. 41 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Como você pode observar, o desenvolvimento humano, na visão de Wallon, se dá em um movimento pendular em que os estágios vão de movimentos centrípetos, voltados para si mesmo, e movimentos centrífugos, em que a criança volta-se para o mundo externo. Embora reconhecesse as imperfeições da instituição escolar, Wallon apontava a mesma como de importância vital para o desenvolvimento da personalidade infantil por ser ela um meio rico e diversificado para se estabelecer relações humanas e por oferecer a oportunidade de convivência em grupos. A noção de “meio” é fundamental na teoria walloniana, pois o estudo da criança só é possível se considerar a investigação acerca do meio em que essa criança se desenvolve. O conceito de meio, como usado na teoria de Wallon, inclui a dimensão das relações humanas, a dos objetos físicos e a dos objetos de conhecimento, todas inseridas no contexto das culturas específicas. A escola é um meio em que pode haver a constituição de diversos grupos com tendências diferenciadas os quais podem ou não estar em harmonia com os objetivos educacionais. Nele o aluno poderá vivenciar, nos diferentes grupos, diferentes papéis e, com isso, se constituir no contato ativo com a sua cultura, e na convivência entre adultos e crianças. Na perspectiva walloniana, a organização do espaço escolar tem um decisivo papel na promoção do desenvolvimento do aluno, não devendo estar restrita somente à seleção dos conteúdos ensinado, mas atingir as várias dimensões que compõem o meio: social, cultural, política e histórica. Para Wallon a educação deve buscar integrar dois polos que são: a formação da pessoa e sua inserção na coletividade, de maneira a formar sujeitos autônomos, pensantes e operantes. Nesse sentido, para Wallon, o educador deve considerar sempre que a inteligência e a afetividade se influenciam mutuamente ao longo do desenvolvimento da criança, proporcionando o crescimento psíquico, através da confrontação do sujeito com o outro. 42 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A confrontação com o outro possibilita a aprendizagem de comportamentos sociais e o desenvolvimento da tomada de consciência de seu próprio EU. Por isso, o ensino precisa considerar o aluno, nas suas dimensões afetiva, cognitiva e motora. Wallon propõe que o papel do professor é de educar e o aluno deve ser visto como um ser em processo de formação para a vida. Nesse caso, o professorado precisa saber não somente sobre a dinâmica das emoções, mas que estas podem ser controladas pela razão, através da reflexão associada com atitudes pedagógicas de diálogo, compreensão e construção de regras de convivência coletiva. Muitas vezes a incapacidade dos profissionais de educação ao mediar à construção do conteúdo, em manter o controle disciplinar dos alunos e a falta de habilidade com situações emocionais, gera medo, insegurança ou agressividade num contexto de contaminação das emoções denominado circuito perverso. Esta situação é gerada em função do desconhecimento acerca dos mecanismos emocionais presentes na relação entre professores e alunos e na relação do aluno com o conhecimento. A emoção é uma expressão motora, momentânea, de origem fisiológica, com visível expressão no organismo. Além disso, a emoção tem duas características fundamentais para a compreensão da situação do circuito perverso, ela tem a capacidade de impregnar no corpo efeitos visíveis, como rubor na face, por exemplo, e é contagiosa, isto é, tem a capacidade de atingir outras pessoas com seus efeitos. DANTAS, Heloysa. A infância da razão: Uma introdução à psicologia da inteligência de Henri Wallon. São Paulo: Manole, 1990. GALVÃO, Izabel. Uma reflexão sobre o pensamento pedagógico de Henri Wallon. In: Cadernos Ideias, construtivismo em revista. São Paulo, F.D.E., 1993. WALLON, Henri, Psicologia e Educação da Infância. Lisboa: Estampa, 1981. 43 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e social) às crianças é comum hoje em dia. No início do século passado, porém, essa idéia foi uma verdadeira revolução no ensino. Uma revolução comandada por Henri Wallon. Sua teoria pedagógica, que diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalou as convicções numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de construção do conhecimento. Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Militante apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, "a própria negação do ensino". Henri Wallon nasceu em 15 de junho de 1879, em Paris, filho de Paul Alexandre Joseph e neto de Henri-Alexandre Wallon. Tornou-se bem conhecido por seu trabalho científico sobre Psicologia do Desenvolvimento, devotado principalmente à infância, em que assume uma postura notadamente interacionista. Para saber mais sobre sua obra, veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=5yBj9H3FFgl Acesso em 10/11/2017. https://www.youtube.com/watch?v=5yBj9H3FFgl 44 Psicologia da Educação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. PSICOLOGIA COGNITIVA E O PROCESSO DA INFORMAÇÃO Nos textos anteriores você aprendeu as principais teorias sobre o desenvolvimento humano, neste você aprenderá uma teoria voltada para a aprendizagem. Para as ciências cognitivas, tanto o homem quanto um robô, ou computador, são considerados sistemas abertos que podem se comunicar com o meio ambiente. Eles tratam as informações vindas do exterior e se regulam em função destas, manipulando-as como símbolos. O cérebro é um sistema cognitivo aberto, que, como o computador, é composto por módulos que assumem a decodificação, ou seja, há uma transformação dos inputs (informações do meio) em símbolos e o armazenamento da informação antes de produzir uma resposta. Para o cognitivismo, todo sistema inteligente, humano ou artificial, possui representações simbólicas do estudo ou processamento do mundo que constituem os significados sobre os quais se opera o pensamento. O campo de estudo da Psicologia Cognitiva é constituído pela maneira como o ser humano recolhe, identifica, transforma, armazena e recupera as informações, e como ele toma decisões e norteia suas condutas. Estas operações, diferentes segundo a natureza da tarefa a cumprir (compreender, avaliar, resolver, calcular, etc), têm um denominador comum: todas elas manipulam informações simbólicas armazenadas na memória, estas são chamadas de representações. A Psicologia Cognitiva confere um papel central à noção de representações e à memória onde essas informações são
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