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INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Autor Larissa Maria de Queiroz DIREÇÃO GERAL: PROF. ME. CLÁUDIO FERREIRA BASTOS DIREÇÃO GERAL ADMINISTRATIVA: PROF. DR. RAFAEL RABELO BASTOS DIREÇÃO DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS: PROF. DR. CLÁUDIO RABELO BASTOS DIREÇÃO ACADÊMICA: PROF. DR. VALDIR ALVES DE GODOY COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: PROFA. ESP. MARIA ALICE DUARTE G. SOARES COORDENAÇÃO NEAD: PROFA. ME. LUCIANA R. RAMOS DUARTE SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO: FRANCISCO CLEUSON DO NASCIMENTO ALVES FICHA TÉCNICA AUTORIA: LARISSA MARIA DE QUEIROZ EXPEDIENTE DESIGNER INSTRUCIONAL: JOÃO PAULO S. CORREIA / MAXWELL FÉLIX PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: FRANCISCO CLEUSON DO N. ALVES / DIEGO PORTO NOJOSA CAPA: FRANCISCO ERBINIO ALVES RODRIGUES TRATAMENTO DE IMAGENS: DIEGO PORTO NOJOSA REVISÃO TÉCNICA: EMANUELLE OLIVEIRA DA FONSECA / JOÃO CARLOS RODRIGUES DA SILVA REVISÃO METODOLÓGICA: FRANCISCO JAHANNES DOS SANTOS RODRIGUES REVISÃO TEXTUAL: SORAIA PEREIRA JORGE DE SOUSA VASCONCELOS Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer mé- todos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autorização escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Direção. FICHA CATALOGRÁFICA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO BIBLIOTECA FACULDADE ATENEU QUEIROZ, LARISSA MARIA DE. Instituição de Direito Público e Privado. / LARISSA MARIA DE QUEIROZ. - Fortaleza: Faculdade Ateneu, 2017. 140 p. ISBN: 978-85-64026-27-8 1. Noções gerais. 2. Direito administrativo. 3. Direito Penal. 4. Direito Civil. Faculdade Ateneu. Seja bem-vindo! Caro estudante, quero cumprimentá-lo pela oportunidade de participar des- sa modalidade de ensino-aprendizagem presente no currículo do curso que você escolheu estudar. Desejo que você se torne um profissional autônomo em termos de aprendi- zado e seja capaz de construir e reconstruir conhecimentos, afinal esse é o traba- lhador que o mercado atualmente exige. Dessa forma, participe de todas as atividades e aproveite ao máximo esse novo tipo de relação com os seus colegas, tutores e professores, pois nossa equipe espera ter com você um ótimo semestre, com muito aprendizado e crescimento mútuo. Bons estudos! Sumário UNIDADE 01: CONHECIMENTO DO DIREITO 1. Noções gerais de direito ................................................................................. 8 1.1. Ramos do direito ...................................................................................... 13 1.2. Fontes do direito ........................................................................................ 14 1.3. Organização do estado ............................................................................. 26 1.4. Espécies normativas e o processo legislativo ........................................... 28 1.4.1. Emendas à constituição ......................................................................... 29 1.4.2. Leis complementares à constituição ...................................................... 31 1.4.3. Leis ordinárias ........................................................................................ 31 1.4.4. Leis delegadas ....................................................................................... 34 1.4.5. Medidas provisórias ................................................................................ 35 1.4.6. Decretos legislativos ............................................................................... 37 1.4.7. Resoluções ............................................................................................. 39 Referências ..................................................................................................... 42 UNIDADE 02: CONHECIMENTO DE DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL 1. Noções gerais de direito administrativo ........................................................ 44 1.1. Órgãos da administração e sua classificação .......................................... 44 1.2. Funções da administração: sua classificação e distribuição pelos órgãos ........................................................................ 47 2. Noções gerais de direito constitucional ....................................................... 48 2.1. Conceito de direito constitucional ............................................................. 48 2.2. Espécies de constituição ........................................................................... 49 2.3. O Poder Constituinte ................................................................................. 50 2.4. O controle da constitucionalidade das leis ................................................ 51 Referências ..................................................................................................... 54 UNIDADE 03: CONHECIMENTO DO DIREITO PENAL 1. Direito Penal ................................................................................................ 56 1.1. Estudo do crime e seus elementos ........................................................... 56 1.1.1. O fato típico ............................................................................................ 56 1.1.2. A culpa .................................................................................................... 58 1.1.3. A Antijuridicidade .................................................................................... 61 1.1.4. A culpabilidade ....................................................................................... 63 1.2. Crimes ou delitos e contravenções ........................................................... 67 1.3. Concurso de crimes .................................................................................. 68 Referências ..................................................................................................... 70 UNIDADE 04: CONHECIMENTO DO DIREITO CIVIL, EMPRESARIAL E DO TRABALHO 1. Direito Civil ................................................................................................... 72 1.1. Parte geral do direito civil .......................................................................... 73 1.1.1. Pessoa natural ou física ......................................................................... 73 1.1.2. Capacidade civil ..................................................................................... 74 1.1.3. Direitos da personalidade ....................................................................... 76 1.1.4. Ausência ................................................................................................. 77 1.1.5. Pessoa jurídica ....................................................................................... 81 1.2. Direitos reais .............................................................................................. 83 1.2.1. Da posse ................................................................................................ 85 1.2.2. Da propriedade ....................................................................................... 88 1.2.3. Da usucapião .......................................................................................... 91 1.2.4. Direitos reais de gozo e fruição .............................................................. 93 2. Direito Empresarial ..................................................................................... 102 2.1. Atos do comércio, teoria da empresa ...................................................... 102 2.2. Sociedades empresárias ......................................................................... 107 2.2.1. Conceito de sociedade empresária ...................................................... 107 2.2.2. Sociedade Empresária X Sociedade Simples (Atividade Civil) ............ 108 2.2.3. Das sociedades não personificadas ..................................................... 109 2.2.4. Dassociedades empresárias ............................................................... 110 3. Direito do trabalho ...................................................................................... 127 3.1. Origens .................................................................................................... 127 3.2. Fontes e princípios do direito do trabalho ............................................... 130 Referências ................................................................................................... 140 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 71 CONHECIMENTO DO DIREITO CIVIL, EMPRESARIAL E DO TRABALHO Apresentação Nesta última unidade do curso de Direito Público e Privado, você estudará as noções de Direito Civil, pelo qual conhecerá os direitos reais e empresarial. Serão expostas também as principais características do Direito do trabalho, suas origens, fontes e princípios. • Ver noções de Direito Civil; • Conhecer a Parte Geral do Direito Civil; • Compreender os Direitos Reais; • Ver noções de Direito Empresarial; • Conhecer os atos do comércio, teoria da empresa; • Compreender as sociedades empresárias; • Ver noções de Direito do Trabalho; • Analisar as origens do Direito do Trabalho; • Aprender quais são as fontes e os princípios do Direito do Trabalho. Objetivos de aprendizagem Uni 72 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 1. DIREITO CIVIL A origem geral da sociedade, que tem como elemento substancial a ordem jurídica que a disciplina, depende essencialmente da harmonia da vida civil e dos interesses individuais em suas diversas relações. Isso se verifica mediante a organização jurídica e política do Estado, destinada a conciliar os interesses antagônicos entre governantes e governados. A vida civil é essencialmente constituída pela vida da família combinada com a prática da propriedade privada. E, como tal, é um direito reconhecido constitucionalmente como um direito fundamental. O início da vida civil disciplinada surgiu da necessidade de trabalho e constitui- ção dos primeiros bens. Daí por diante, as relações de particular para particular em seus aspectos mais expressivos revestiram-se de uma tutela jurídica que constitui o campo de ação do Direito Civil. O regime civil é o ambiente comum, o meio normal e obrigatório em que se desenvolve a vida humana. Quaisquer que sejam as condições de existência de uma pessoa, a parte principal das suas relações é sempre verificada no ambiente civil. Os romanos resumiam os elementos da vida em: a) Connubium: consistia no direito ao casamento, constituindo-se a família civil; b) Commercium: era o direito de transferir a propriedade civil assumindo as qualidades de credor e devedor. Nosso Código Civil regula os direitos e as obrigações de ordem privada relativas às pes- soas, aos bens e às suas relações. Esses direitos e obrigações são todos aqueles que só dizem respeito ao indivíduo, não tendo o Poder Público interesse ou qualquer relação com os mesmos. Fique atento Esse é o conteúdo do Direito Civil; nele, verificam-se os elementos da relação jurídica. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 73 O Direito supõe a existência de um sujeito ativo, de um sujeito passivo e de um objeto. Leia, a seguir, suas definições: a) Sujeito ativo: é o credor da prestação ou obrigação principal ou o benefi ciário principal da relação. Titular do direito subjetivo. b) Sujeito passivo: titular do dever jurídico, devedor da prestação principal. c) Objeto: elemento motriz da relação é a pessoa, a prestação ou a coisa sobre a qual recai o vínculo de atributividade. A relação jurídica gira em torno do objeto. Observação: Ambos os sujeitos terão obrigações que se dividem em dar, fazer e não fazer. De acordo com Bevilácqua, apud Pinho e Nascimento (2009, p. 204), “O sujeito de Direito é o ser a quem a ordem jurídica assegura o poder de agir, contido no Direito. O objeto do Direito é o bem ou vantagem sobre o qual o sujeito exerce o poder conferido pela ordem jurídica. A relação de Direito é o laço que, sob a garantia da ordem jurídica, submete o objeto ao sujeito”. Esses são os elementos essenciais da relação jurídica. “Perceba que as pessoas (sujeito de Direito), os bens (objeto do Direito) e as relações entre pessoas e bens (relação jurídica) são disciplinados pela lei civil visando à ordem privada”. Memorize O Código Civil é dividido em uma Parte Geral e uma Parte Especial. Na primeira, são estabelecidas as noções de pessoas, de bens e de fatos jurídicos. A segunda versa sobre obrigações, contratos, atos unilaterais, empresas, coisas, família e sucessões. 1.1. Parte geral do Direito Civil 1.1.1. Pessoa natural ou física É o ser humano, ou seja, a criatura que provenha de mulher. É o titular de direitos e obrigações. 74 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Desse modo, a existência da pessoa física começa com o nascimento, com vida e termina com a morte natural ou presumida. Observe como o Código Civil define essas situações: Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presu- me-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses ca- sos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as bus- cas e averiguações, devendo à sentença fixar a data provável do falecimento. A morte presumida abre sucessão definitiva, ou seja, estabelece a compro- vação da morte da pessoa, com o início da partilha de bens entre os herdeiros, e dissolve o vínculo conjugal. Observe: Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que con- cede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados re- querer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas. 1.571. § 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônju- ges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente. 1.1.2. Capacidade civil É a aptidão da pessoa física para exercer direitos e assumir obrigações. Nem todos têm capacidade plena, pois há fatos que reduzem ou anulam essa capacidade. Por exemplo: são capazes aqueles que têm no mínimo dezoito anos completos e plena sanidade mental, enquanto os absolutamente incapa- zes são os menores de dezesseis anos e, por fim, os relativamente incapazes são os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 75 Neste sentido, dispõe o nosso Código Civil: Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. [...] Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por defici- ência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legis- lação especial. Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, me- diante instrumento público, independentementede homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 76 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO @ CO NE CT E-S E • Anote suas ideias e dúvidas para ampliar sua discussão na sala virtual, no fórum tutori@conectada. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 1.1.3. Direitos da personalidade O Código Civil protege os direitos da personalidade, que são os referentes ao nome, à divulgação não autorizada de escritos ou da própria imagem, bem como à disposição de órgãos para transplante. Veja o que dispõe o Código Civil: DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da inte- gridade física, ou contrariar os bons costumes. Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 77 Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposi- ção gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em pro- paganda comercial. Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da pro- teção que se dá ao nome. Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de es- critos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são par- tes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascenden- tes ou os descendentes. Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. 1.1.4. Ausência Considera-se ausente a pessoa que desaparece de seu domicílio, não havendo dela notícia. Exemplo: um indivíduo sai de casa para trabalhar e não volta mais, sem dar qualquer notícia, nem a família tem qualquer conhecimento da ocorrência de uma fatalidade que possa ter ocorrido com o mesmo. O Código Civil dá à ausência a seguinte regulamentação: 78 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO CAPÍTULO III DA AUSÊNCIA Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela ha- ver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qual- quer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará cura- dor, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes. Art. 24. O juiz que nomear o curador fixar-lhe-á os poderes e obriga- ções, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores. Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador. § 1º Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedi- mento que os iniba de exercer o cargo. § 2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. § 3º Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a au- sência e se abra provisoriamente a sucessão. Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consi- deram interessados: I - o cônjuge não separado judicialmente; II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 79 IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provi- sória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido. § 1º Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo in- teressados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente. § 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecada- ção dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823. Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, orde- nará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União. Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do au- sente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos. § 1º Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia. § 2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez prova- da a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente. Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína. Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que con- tra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas.80 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o dispos- to no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente. Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a au- sência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do suces- sor, sua parte nos frutos e rendimentos. Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria. Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a su- cessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo. Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, de- pois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as van- tagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono. Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os in- teressados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas. Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provan- do-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele. Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascen- dentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo. Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o au- sente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscri- ções, incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 81 1.1.5. Pessoa jurídica Pessoa jurídica é a união constituída de homens ou bens, com vida, direi- tos, obrigações e patrimônio próprios. Você pode observar, nos seguintes artigos do Código Civil, a disciplina legal aplicada à pessoa jurídica: Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou ex- terno, e de direito privado. Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005) V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurí- dicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código. Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito in- ternacional público. Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmen- te responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011)(Vigência) 82 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO § 1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao po- der público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos cons- titutivos e necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) § 2º As disposições concernentes às associações aplicam-se sub- sidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) § 3º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão confor- me o disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constitui- ção das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato res- pectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. Art. 46. O registro declarará: I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver; II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores; III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamen- te, judicial e extrajudicialmente; IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo; V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso. Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo. Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as deci- sões se tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 83 Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude. Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á adminis- trador provisório. Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determi- nadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particu- lares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. § 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução. § 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado. § 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da ins- crição da pessoa jurídica. Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 1.2. Direitos Reais Os Direitos Reais, também conhecidos como Direito das Coisas, são aque- les que atribuem a uma pessoa prerrogativas, ou seja, direitos, sobre um bem corpóreo, ou melhor, coisa, objeto. O nome “Direito Real” vem do latim, res-rei, coisa; jus in re, direito sobre coisa corpórea. Só existem os Direitos Reais taxativa- mente estabelecidos em lei. São Direitos Reais: a propriedade, a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente comprador do imóvel, o penhor, a hipoteca, a anticrese, a concessão de uso especialpara fins de moradia e a concessão de Direito Real de uso. Você estudará esses direitos a seguir. 84 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO O Direito Real, sendo um vínculo que liga uma coisa a uma pessoa, carac- teriza-se pelo fato de ser oponível a todos, erga omnes, e de o titular do direito poder buscá-la onde quer que se encontre (direito de sequela). Como decorrência, o crédito real prefere ao pessoal. Veja o que dispõe o art. 961, do CC: Art. 961. O crédito real prefere ao pessoal de qualquer espécie; o crédito pessoal privilegiado, ao simples; e o privilégio especial, ao geral. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO REAL: Oponível contra todos; Direito de sequela; Preferência sobre os créditos pessoais; Só existem os taxativamente previstos em lei. O Código Civil elenca os Direitos Reais nos seguintes artigos. Observe: Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007) Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando consti- tuídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 85 Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmi- tidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código. Observe as definições a seguir: 1.2.1. Da posse A posse é o uso ou a utilização da coisa, que pode ser: • Direta: É a posse daquele que a exerce diretamente sobre a coisa, exercendo os poderes do proprietário, sem nenhum obstáculo, tendo, pois, o contato físico com a coisa. • Indireta: É a que entrega a coisa a outrem, em virtude de uma relação jurídica existente entre eles, como no caso de contrato de locação, depósito, comodato e tutela, quando couber ao tutor guardar os bens do tutelado. Nesta, portanto, não há contato físico do possuidor com a coisa. O Código Civil disciplinou o direito de posse nos seguintes artigos. Leia: Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu po- der, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em rela- ção de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, po- derá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros com possuidores. 86 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presun- ção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressa- mente não admite esta presunção. Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possui- dor não ignora que possui indevidamente. Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do pos- suidor com os mesmos caracteres. Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerân- cia assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem. Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. § 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou res- tituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 87 § 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, man- ter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifes- to que a obteve de alguma das outras por modo vicioso. Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sa- bendo que o era. Art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às ser- vidões não aparentes, salvo quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este o houve. Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhi- dos com antecipação. Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebi- dos dia por dia. Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos co- lhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou dete- rioração da coisa, a que não der causa. Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterio- ração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detri- mento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. 88 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem. (Vide Decreto-lei nº 4.037, de 1942) Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual. Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. Art. 1.224. Só se considera perdidaa posse para quem não presen- ciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. @ CO NE CT E-S E • Anote suas ideias e dúvidas para ampliar sua discussão na sala virtual, no fórum tutori@conectada. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 1.2.2. Da propriedade O direito de propriedade é, ainda, um dos mais importantes direitos subjeti- vos e é a viga mestra dos Direitos Reais. O Código Civil assegura ao proprietário o exercício do direito de proprie- dade nos seguintes artigos, vejamos: INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 89 Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injusta- mente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que se- jam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei es- pecial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de pre- judicar outrem. § 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desa- propriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. § 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pes- soas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separada- mente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indeni- zação devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que se- jam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os mo- numentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde 90 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO que não submetidos a transformação industrial, obedecido o dis- posto em lei especial. Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário. Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídi- co especial, couberem a outrem. Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí- -la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por en- contrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à auto- ridade competente. Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para en- contrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos. Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo. Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da desco- berta através da imprensa e outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar. Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove a pro- priedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, de- duzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido. Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 91 1.2.3. Da usucapião O termo usucapião é usado tanto na forma masculina (o usucapião) como na forma feminina (a usucapião). O Código Civil usa a forma feminina. A usucapião é uma forma de aquisição da propriedade. Ocorre quando alguém detém a posse de uma coisa, com ânimo de dono, por um determinado tempo, sem interrupção e sem oposição, desde que essa posse não seja clandestina, nem violenta, nem precária. Memorize Assim, temos as seguintes espécies de usucapião: I. Extraordinária: prevista no art. 1.238, CC. Ocorre mesmo que o possuidor esteja de má-fé; esta é a usucapião que benefi cia o ladrão e o invasor; não há limite para o tamanho do terreno e a pessoa pode já ter um imóvel e, mesmo assim, usucapir outro. O tempo para esta espécie já foi de 30 anos, depois caiu para 20 e agora é de 15 ou apenas 10 anos; isso é uma prova da importância da posse para o Direito; o artigo fala em “juiz declarar por sentença” porque o juiz não constitui a propriedade para o autor, o juiz apenas reconhece ou declara que a pessoa adquiriu aquela propriedade do tempo. Com a sentença, o autor fará o registro no cartório de imóveis, mas, lembre-se, o autor terá adquirido a posse pelo tempo e não pelo registro. Porém, o registro é importante para dar publicidade e para permitir que o autor depois possa fazer uma hipoteca, servidão, superfície, vender o bem a terceiros etc. II. Ordinária: prevista no art. 1.242, CC.O prazo é menor, de dez anos, pois exige título e boa-fé do possuidor, além da posse mansa, pacífi ca; você já estudou boa-fé e título justo na classifi cação da posse; exemplos de título justo seriam um contrato particular, um recibo, uma promessa de compra e venda etc. III. Especial rural: previsto no art. 1.239, CC.O prazo é de apenas cinco anos, mas existe um limite para o tamanho do terreno usucapiendo.O proprietário tem que trabalhar nesse terreno e não pode ter outro imóvel; benefi cia os sem-terra. IV. Especial urbano: previsto no art. 1.240, CC. Semelhante ao rural; benefi cia os sem teto. 92 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Quanto às classificações de posse, temos: a clandestina, que é a posse oculta, não praticada à vista de todos; a violenta, obtida mediante força; e a precária, concedida espontaneamente pelo proprietário, por mera tolerância ou permissão. Dentro dessas condições, de posse mansa e pacífica, e decorrido o tempo previsto em lei, pode o possuidor, trazendo as suas provas, pedir ao juiz que lhe reconheça a aquisição da propriedade por usucapião. A sentença proferida valerá como título de propriedade. Os imóveis públicos não podem ser usucapidos. Observe os artigos do Có- digo Civil que disciplina a usucapião. Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem opo- sição, possuir como seu um imóvel,adquire-lhe a propriedade, in- dependentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se- -á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposi- ção, área de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até du- zentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterrupta- mente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhe- cido ao mesmo possuidor mais de uma vez. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 93 Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamen- te e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dívida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011) § 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 2º (. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011) Art. 1.241. Poderá o possuidor requerer ao juiz seja declarada ad- quirida, mediante usucapião, a propriedade imóvel. Parágrafo único. A declaração obtida na forma deste artigo consti- tuirá título hábil para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no re- gistro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pa- cíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé. Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao deve- dor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião. 1.2.4. Direitos reais de gozo e fruição Ocorre quando o proprietário pode também explorar a coisa economica- mente, auferindo seus benefícios e vantagens. Exemplos: vender os frutos das árvores do quintal; ficar com as crias dos animais da fazenda. Dentro deste con- texto, temos: 94 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO a) Da superfície: É o direito de plantar ou construir em solo alheio, por prazo determinado, mediante concessão do dono, por escritura pública registrada. Observe a regulamentação do Código Civil: Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o direito de cons- truir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, median- te escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O direito de superfície não autoriza obra no subso- lo, salvo se for inerente ao objeto da concessão. Art. 1.370. A concessão da superfície será gratuita ou onerosa; se onerosa, estipularão as partes se o pagamento será feito de uma só vez, ou parceladamente. Art. 1.371. O superficiário responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel. Art. 1.372. O direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus herdeiros. Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pelo concedente, a ne- nhum título, qualquer pagamento pela transferência. Art. 1.373. Em caso de alienação do imóvel ou do direito de super- fície, o superficiário ou o proprietário tem direito de preferência, em igualdade de condições. Art. 1.374. Antes do termo final, resolver-se-á a concessão se o superficiário der ao terreno destinação diversa daquela para que foi concedida. Art. 1.375. Extinta a concessão, o proprietário passará a ter a pro- priedade plena sobre o terreno, construção ou plantação, indepen- dentemente de indenização, se as partes não houverem estipulado o contrário. Art. 1.376. No caso de extinção do direito de superfície em conse- quência de desapropriação, a indenização cabe ao proprietário e ao superficiário, no valor correspondente ao direito real de cada um. Art. 1.377. O direito de superfície, constituído por pessoa jurídica de direito público interno, rege-se por este Código, no que não for diversamente disciplinado em lei especial. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 95 b) Da Servidão: É um vínculo entre imóveis, em que um deles (prédio serviente), por concessão do dono, proporciona ao outro (prédio dominante) algum proveito ou facilidade, como o direito de passar pelo mesmo em certo trecho, direito de passagem de esgoto etc. Veja os artigos do Código Civil que disci- plinam este instituto: Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante, e grava o prédio serviente, que pertence a diversos donos, e cons- titui-se mediante declaração expressa dos proprietários, ou por tes- tamento, e subsequente registro no Cartório de Registro de Imóveis. Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242, autoriza o inte- ressado a registrá-la em seu nome no Registro de Imóveis, valen- do-lhe como título a sentença que julgar consumado a usucapião. Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o prazo da usuca- pião será de vinte anos. Art. 1.380. O dono de uma servidão pode fazer todas as obras ne- cessárias à sua conservação e uso, e, se a servidão pertencer a mais de um prédio, serão as despesas rateadas entre os respecti- vos donos. Art. 1.381. As obras a que se refere o artigo antecedente devem ser feitas pelo dono do prédio dominante, se o contrário não dispuser expressamente o título. Art. 1.382. Quando a obrigação incumbir ao dono do prédio servien- te, este poderá exonerar-se, abandonando, total ou parcialmente, a propriedade ao dono do dominante. Parágrafo único. Se o proprietário do prédio dominante se recusar a receber a propriedade do serviente, ou parte dela, caber-lhe-á custear as obras. Art. 1.383. O dono do prédio serviente não poderá embaraçar de modo algum o exercício legítimo da servidão. Art. 1.384. A servidão pode ser removida, de um local para outro, pelo dono do prédio serviente e à sua custa, se em nada diminuir as vantagens do prédio dominante, ou pelo dono deste e à sua custa, se houver considerável incremento da utilidade e não prejudicar o prédio serviente. 96 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Art. 1.385. Restringir-se-á o exercício da servidão às necessidades do prédio dominante, evitando-se, quanto possível, agravar o en- cargo ao prédio serviente. § 1º Constituída para certo fim, a servidão não se pode ampliar a outro. § 2º Nas servidões de trânsito, a de maior inclui a de menor ônus, e a menor exclui a mais onerosa. § 3º Se as necessidades da cultura, ou da indústria, do prédio domi- nante impuserem à servidão maior largueza, o dono do serviente é obrigado a sofrê-la; mas tem direito a ser indenizado pelo excesso. Art. 1.386. As servidõesprediais são indivisíveis, e subsistem, no caso de divisão dos imóveis, em benefício de cada uma das por- ções do prédio dominante, e continuam a gravar cada uma das do prédio serviente, salvo se, por natureza, ou destino, só se aplicarem a certa parte de um ou de outro. Art. 1.387. Salvo nas desapropriações, a servidão, uma vez regis- trada, só se extingue, com respeito a terceiros, quando cancelada. Parágrafo único. Se o prédio dominante estiver hipotecado, e a ser- vidão se mencionar no título hipotecário, será também preciso, para a cancelar, o consentimento do credor. Art. 1.388. O dono do prédio serviente tem direito, pelos meios judiciais, ao cancelamento do registro, embora o dono do prédio dominante lho impugne: I - quando o titular houver renunciado a sua servidão; II - quando tiver cessado, para o prédio dominante, a utilidade ou a comodidade, que determinou a constituição da servidão; III - quando o dono do prédio serviente resgatar a servidão. Art. 1.389. Também se extingue a servidão, ficando ao dono do prédio serviente a faculdade de fazê-la cancelar, mediante a prova da extinção: I - pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa; II - pela supressão das respectivas obras por efeito de contrato, ou de outro título expresso; III - pelo não uso, durante dez anos contínuos. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 97 c) Do usufruto: Consiste no direito de usar coisa alheia, móvel ou imóvel, e de colher para si os frutos ou os rendimentos por ela produzidos. Exemplos: 1) Com caráter alimentar: um pai tem um filho desempregado/complicado, então dá a ele em usufruto gratuito e vitalício uma casa pra ele viver, e o filho poderá morar lá e alugar um quarto nos fundos a um terceiro, vender as frutas do quintal etc.; 2) Para resolver problema de partilha: um casal tem filhos e apenas um imóvel onde moram; o casal resolve se divorciar, mas com quem fica a casa? Sugestão: o marido sai de casa e o casal transfere a propriedade da casa para os filhos com usufruto gratuito e vitalício para a mãe; este é um acordo muito comum que se faz em divórcio; mesmo que os filhos cresçam e um dia queiram vender a casa, não podem expulsar a mãe, porque usufruto é direito real e a mãe não pode ser obrigada a sair de jeito nenhum; chama-se isto de doação dos pais aos filhos em condomínio, com reserva de usufruto vitalício e gratuito para a mãe. Assim, o Código Civil disciplina o instituto nos seguintes artigos: Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os frutos e utilidades. Art. 1.391. O usufruto de imóveis, quando não resulte de usu- capião, constituir-se-á mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis. Art. 1.392. Salvo disposição em contrário, o usufruto estende-se aos acessórios da coisa e seus acrescidos. § 1º Se, entre os acessórios e os acrescidos, houver coisas consu- míveis, terá o usufrutuário o dever de restituir, findo o usufruto, as que ainda houver e, das outras, o equivalente em gênero, qualidade e quantidade, ou, não sendo possível, o seu valor, estimado ao tempo da restituição. § 2º Se há no prédio em que recai o usufruto florestas ou os recur- sos minerais a que se refere o art. 1.230, devem o dono e o usufru- tuário prefixar-lhe a extensão do gozo e a maneira de exploração. § 3º Se o usufruto recai sobre universalidade ou quota-parte de bens, o usufrutuário tem direito à parte do tesouro achado por ou- trem, e ao preço pago pelo vizinho do prédio usufruído, para obter meação em parede, cerca, muro, vala ou valado. 98 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Art. 1.393. Não se pode transferir o usufruto por alienação; mas o seu exercício pode ceder-se por título gratuito ou oneroso. Art. 1.394. O usufrutuário tem direito à posse, uso, administração e percepção dos frutos. Art. 1.395. Quando o usufruto recai em títulos de crédito, o usu- frutuário tem direito a perceber os frutos e a cobrar as respec- tivas dívidas. Parágrafo único. Cobradas as dívidas, o usufrutuário aplicará, de imediato, a importância em títulos da mesma natureza, ou em títu- los da dívida pública federal, com cláusula de atualização monetá- ria segundo índices oficiais regularmente estabelecidos. Art. 1.396. Salvo direito adquirido por outrem, o usufrutuário faz seus os frutos naturais, pendentes ao começar o usufruto, sem en- cargo de pagar as despesas de produção. Parágrafo único. Os frutos naturais, pendentes ao tempo em que cessa o usufruto, pertencem ao dono, também sem compensação das despesas. Art. 1.397. As crias dos animais pertencem ao usufrutuário, dedu- zidas quantas bastem para inteirar as cabeças de gado existentes ao começar o usufruto. Art. 1.398. Os frutos civis, vencidos na data inicial do usufruto, per- tencem ao proprietário, e ao usufrutuário os vencidos na data em que cessa o usufruto. Art. 1.399. O usufrutuário pode usufruir em pessoa, ou mediante ar- rendamento, o prédio, mas não mudar-lhe a destinação econômica, sem expressa autorização do proprietário. Art. 1.400. O usufrutuário, antes de assumir o usufruto, inventariará, à sua custa, os bens que receber, determinando o estado em que se acham, e dará caução, fidejussória ou real, se lha exigir o dono, de velar-lhes pela conservação, e entregá-los findo o usufruto. Parágrafo único. Não é obrigado à caução o doador que se reservar o usufruto da coisa doada. Art. 1.401. O usufrutuário que não quiser ou não puder dar caução suficiente perderá o direito de administrar o usufruto; e, neste caso, os bens serão administrados pelo proprietário, que ficará obrigado, mediante caução, a entregar ao usufrutuário o rendimento deles, INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 99 deduzidas as despesas de administração, entre as quais se incluirá a quantia fixada pelo juiz como remuneração do administrador. Art. 1.402. O usufrutuário não é obrigado a pagar as deteriorações resultantes do exercício regular do usufruto. Art. 1.403 Incumbem ao usufrutuário: I - as despesas ordinárias de conservação dos bens no estado em que os recebeu; II - as prestações e os tributos devidos pela posse ou rendimento da coisa usufruída. Art. 1.404. Incumbem ao dono as reparações extraordinárias e as que não forem de custo módico; mas o usufrutuário lhe pagará os juros do capital despendido com as que forem necessárias à con- servação, ou aumentarem o rendimento da coisa usufruída. § 1º Não se consideram módicas as despesas superiores a dois terços do líquido rendimento em um ano. § 2º Se o dono não fizer as reparações a que está obrigado, e que são indispensáveis à conservação da coisa, o usufrutuário pode realizá-las, cobrando daquele a importância despendida. Art. 1.405. Se o usufruto recair num patrimônio, ou parte deste, será o usufrutuário obrigado aos juros da dívida que onerar o patrimônio ou a parte dele. Art. 1.406. O usufrutuário é obrigado a dar ciência ao dono de qual- quer lesão produzida contra a posse da coisa, ou os direitos deste. Art. 1.407. Se a coisa estiver segurada, incumbe ao usufrutuário pagar, durante o usufruto, as contribuições do seguro. § 1º Se o usufrutuário fizer o seguro, ao proprietário caberá o direito dele resultante contra o segurador. § 2º Em qualquer hipótese, o direito do usufrutuário fica sub-rogado no valor da indenização do seguro. Art. 1.408. Se um edifício sujeito a usufruto for destruído sem culpa do proprietário, não será este obrigado a reconstruí-lo, nem o usu- fruto se restabelecerá, se o proprietário reconstruir à sua custa o prédio; mas se a indenização do seguro for aplicada à reconstrução do prédio, restabelecer-se-á o usufruto. Art. 1.409. Também fica sub-rogada no ônus do usufruto, em lugar do prédio, a indenização paga, se ele for desapropriado, ou a im- 100 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO portância do dano, ressarcido pelo terceiro responsável no caso de danificação ou perda. Art. 1.410. O usufruto extingue-se,cancelando-se o registro no Car- tório de Registro de Imóveis: I - pela renúncia ou morte do usufrutuário; II - pelo termo de sua duração; III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer; IV - pela cessação do motivo de que se origina; V - pela destruição da coisa, guardadas as disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e 1.409; VI - pela consolidação; VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa ar- ruinar os bens, não lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art. 1.395; VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e 1.399). Art. 1.411. Constituído o usufruto em favor de duas ou mais pesso- as, extinguir-se-á a parte em relação a cada uma das que falece- rem, salvo se, por estipulação expressa, o quinhão desses couber ao sobrevivente. d) Uso: Atribui ao seu titular apenas o uso de coisa alheia, para si e sua família, sem direito, porém, à administração e aos frutos. Exemplo: o proprietário de um bem imóvel concede o uso de sua propriedade a alguém para usar, mas a organização e os rendimentos da mesma são do dono. Assim, observe o diploma normativo deste instituto previsto em nosso Código Civil: Art. 1.412. O usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família. § 1º Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário conforme a sua condição social e o lugar onde viver. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 101 § 2º As necessidades da família do usuário compreendem as de seu cônjuge, dos filhos solteiros e das pessoas de seu ser- viço doméstico. Art. 1.413. São aplicáveis ao uso, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto. e) Habitação: O direito real de habitação restringe-se ao direito de morar em determinado prédio alheio. Exemplo: um proprietário de um bem imóvel concede o direito de moradia a um grande amigo seu que está passando por necessidades financeiras e não pode pagar aluguel. O Código Civil regulamenta esse direito nos seguintes artigos: Art. 1.414. Quando o uso consistir no direito de habitar gratuita- mente casa alheia, o titular deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família. Art. 1.415. Se o direito real de habitação for conferido a mais de uma pessoa, qualquer delas que sozinha habite a casa não terá de pagar aluguel à outra, ou às outras, mas não as pode inibir de exer- cerem, querendo, o direito, que também lhes compete, de habitá-la. Art. 1.416. São aplicáveis à habitação, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto. f) Compromisso de compra e venda: O compromisso, registrado no Registro de Imóveis, garante ao promitente comprador, contra o vendedor e terceiros, o direito real de adquirir o imóvel. Assim, leia o que disciplina o Código Civil: Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou par- ticular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel. Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel. 102 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 2. DIREITO EMPRESARIAL 2.1. Atos do comércio, teoria da empresa Nas sociedades primitivas, os indivíduos buscavam produzir os bens de que necessitavam. Outros eram extraídos da natureza, por meio da caça, da pesca, da pecuária ou do cultivo agrícola e vegetal. Com o passar dos tempos e o natural crescimento dos grupos sociais, começou a haver uma permuta do excedente de produção (o escambo) entre as sociedades, quando elas tentavam suprir a ca- rência na produção de certos artigos, ofertando aquilo que tinham em abundância. Contudo, esse modelo tornou-se ineficaz, pois nem sempre o grupo social detentor de gêneros desejados por outro estava interessado na aquisição do ex- cesso produtivo daquele, fazendo-se necessária a criação de uma unidade comum de valor – a moeda – cobiçada e desejada por todos. A moeda foi o fator determinante para o surgimento do comércio, ou da atividade mercantil, uma vez que possibilitou a transição de uma economia de subsistência, na qual o principal elo econômico entre os grupos sociais eram as trocas do excedente produzido (o escambo), para uma economia de escala, voltada para a produção maciça de determinados bens, com uma parte devendo ser vendida a outros contingentes populacionais. Fique atento Nesse contexto, surgiram os comerciantes, conhecidos inicialmente por mercadores, as pessoas que promoviam a intermediação dos bens entre o pro- dutor e o consumidor, com o objetivo de auferir lucro da profissão, pois geral- mente adquiriam produtos por um preço inferior para revendê-los com majoração no valor da compra. A diferença, excluídos seus custos, era a margem de lucro. À atividade precípua do comerciante, ou seja, ao ato de comprar bens para posterior revenda, deu-se o nome de “atividade mercantil ou comercial”. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 103 Com o passar do tempo, tais comerciantes começaram a sentir a necessidade de se organizarem, e surgiram as corporações de mercadores. Foi aí que se falou pela primeira vez em Direito Comercial, cuja preocupação era regulamentar o direito dos comerciantes. Esse período ficou conhecido como fase subjetiva do Direito Comercial. Porém, principalmente devido aos estudiosos franceses, começou-se a per- ceber que o direito não poderia preocupar-se apenas com a figura do comer- ciante, e sim com a atividade comercial. Surgiu, então, a Teoria dos Atos de Comércio na França, que dizia que o objeto de estudo do ainda chamado Direito Comercial era apenas o ato de comer- cializar, ou seja, comprar e vender. Com isso, a preocupação não era somente o comerciante, mas também a sua atividade. O primeiro Código Comercial, no entanto, só foi elaborado em 1807, tam- bém na França, que, à época, estava sob o comando de Napoleão, ficando por isso conhecido como o Código Napoleônico. O Código Napoleônico reúne as leis vinculadas ao Direito Civil, Penal e Processual que devem ser consideradas pelos franceses. Para saber mais acerca do Código Napoleônico, acesse: http://goo.gl/v6ndFD Link para WEB Você não deve esquecer que a maior contribuição foi dada pelos princípios da igualdade e da liberdade que constituíam a Revolução Francesa, no século XVIII, procurando evitar privilégios corporativos que dominaram o comércio na Idade Média, quando prevalecia o subjetivismo caracterizador dos comerciantes, que só seriam alçados a tal condição se pertencessem a uma corporação. Para tanto, a Revolução Francesa de 1807 tratou de regulamentar as ques- tões relativas ao exercício do comércio de forma objetiva, qualificando o comer- ciante como qualquer pessoa que praticasse “atos de comércio” de forma profis- 104 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO sional e habitual. Tais atos estavam relacionados no próprio código e possuíam correlação com atividades de intermediação de mercadorias, atividades bancárias, seguros e transporte de mercadorias, dentre outras. Pode se dizer que a Revolução Francesa teve relevante papel nas bases da sociedade de uma época, além de ter sido um marco divisório da história dando início à idade contemporânea. Para saber mais, acesse: http://goo.gl/5nLbTG Curiosidade De outra forma, se o Código Napoleônico não acrescentou grandes ino- vações ao Direito Comercial Positivo entãovigente, ele influenciou, com seu ob- jetivismo, a elaboração de outros Códigos Comerciais em diversos países, como Bélgica, Espanha, Portugal, Itália e, inclusive, Brasil, que só implantou o seu em 1850, coma Lei nº 556, de 25 de junho de 1850. Porém, com a evolução dos meios de produção, essa regulamentação so- mente do comércio começou a ficar insuficiente e o Direito Comercial não con- seguia mais abranger todas as situações que necessitavam de regulamentação. Posteriormente, surgiu no direito italiano, por meio do Código Comercial Italiano, a Teoria da Empresa, para suprir as lacunas existentes no Direito Comercial, ampliando significativamente o objeto de estudo desse ramo jurídico. A partir de então, o estudo seria focado em toda a atividade empresarial, toda a organização dos meios de produção, dos serviços e também do ato de comercializar. Se pensarmos de maneira bem simples, podemos perceber que quando se pensa em atividade de comércio logo se lembra de lojas, shopping centers, mer- cados etc.; ao passo que, quando se pensa em atividade empresária normalmente liga-se a indústrias, a fábricas, grandes conglomerados e também às lojas e aos mercados. Isto demonstra que a ideia de empresa é mais abrangente e conse- guiu se adaptar melhor às novas realidades mercadológicas. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 105 Os primeiros grandes centros comerciais surgiram por volta do século X a.C. e tem seu início com o Grande Bazaar. Localizado no atual Irã, o Grande Bazaar é uma estrutura comercial de dez quilômetros de estrutura coberta. Outro importante centro de compras foi o Oxford Covered Market (Mercado Coberto de Oxford), aberto oficialmente na Inglaterra em 1 de novembro de 1774, e existe até os dias atuais. Curiosidade Percebe-se que a primeira noção de empresa possui um caráter econômi- co, ligado somente à complexidade da organização dos fatores de produção. Porém, a doutrina jurídica mudou isso, principalmente com o autor italiano Alberto Asquini, que criou contornos jurídicos para tal conceito e revolucionou o Direito Comercial, como ainda era conhecido. A primeira legislação que se filiou a essa nova teoria foi o Código Civil Italiano de 1942, considerado o grande marco da transformação desse ramo do direito que, aliás, passou a receber uma nova denominação: Direito Empresarial. Inspirada no modelo do Código Civil Italiano de 1942, a moderna Lei Civil Brasileira acabou por provocar uma fusão legislativa entre os dois ramos do Direito Privado, unificando normas básicas do Direito Civil e do Comercial. Por outro lado, implantou um novo sistema jurídico para o Direito Comercial, fundamentado no perfil subjetivo do empresário. Essa nova concepção não se re- sumiu apenas a uma mudança de nomenclatura, mas também introduziu grandes inovações nesta área, pois passou a enquadrar pessoas jurídicas, antes con- sideradas sociedades civis por força do objeto social, conforme dispunha a antiga teoria objetiva dos atos de comércio. Alguns anos após a declaração da independência, em 1834, foi apresen- tado à Câmara o Projeto do Código Comercial. Dezesseis anos de discussões legislativas passaram-se até surgir a Lei Federal nº 556, de 25 de junho de 1850, mais conhecida como o Código Comercial Brasileiro. Com forte influência fran- cesa, esse código adotou a Teoria dos Atos de Comércio, reputando comer- ciante todo aquele que praticasse compra e venda de mercadorias de forma profissional, além de algumas poucas espécies de serviço. 106 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Para saber mais acerca do Código Comercial Brasileiro, acesse http://goo.gl/xvbycK Link para WEB Estava criada a base para o desenvolvimento do Direito Comercial Brasileiro, fincado no objetivismo, segundo o qual a concepção do status de comerciante era atribuída aos que praticassem atividades específicas que você verá posteriormente. Ainda assim, em seu art. 4º, a Lei Federal nº 556, de1850, instituída ne- cessidade de inscrição dos comerciantes nos então existentes Tribunais do Co- mércio (em seguida substituídos pelas Juntas Comerciais), pelo menos para poderem usufruir dos benefícios da legislação comercial, reputando comercian- tes irregulares, aqueles exercentes da atividade mercantil, que não tomassem tal providência, subtraindo alguns direitos exclusivos dos regulares. Curiosamente, contudo, não enumerou os chamados “atos de comércio”, como fizera o Código Francês. Esses só foram detalhados quando da edição do Regulamento nº 737, contemporâneo ao código, que relacionou todas as operações que se constituíam em “atos de comércio”. Dentre elas, operações de câmbio, banco e corretagem, seguros, transporte de mercadorias, além, claro, da compra com objetivo de posterior revenda de bem móvel ou semovente, ou até para alugar seu uso. Ao longo dos anos, muitos dos dispositivos do código foram sendo revoga- dos por legislações mais contemporâneas, a exemplo da Lei das Sociedades Anônimas (1976) e da Lei de Falências e Concordatas (1945), sendo atualmente a Lei de Falências a de nº 11.101/05. No entanto, o “golpe de misericórdia” foi dado com a edição do Código Civil de 2002, que revogou praticamente todos os artigos que ainda vigoravam do Código de 1850. Sobreviveram apenas os relativos ao comércio marítimo, contem- plado em sua Parte Segunda. Hoje, a Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, mais conhecida como Código Civil Brasileiro, disciplina matérias específicas do Direito Comercial, tais como: empresas, empresários, registro público de empresas, livros empresariais e nome empresarial, dentre outras. INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO 107 @ CO NE CT E-S E • Anote suas ideias e dúvidas para ampliar sua discussão na sala virtual, no fórum tutori@conectada. _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 2.2. Sociedades empresárias Primeiramente, faz-se necessário que você conheça o Empresário, que, de acordo com nosso Código Civil, pode ser assim conceituado: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce pro- fissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercí- cio da profissão constituir elemento de empresa. Note que o Código Civil só conceitua o que é empresário, e não atividade empresarial, o que ainda vamos ter a oportunidade de conhecer. 2.2.1. Conceito de sociedade empresária É a reunião de dois ou mais empresários para a exploração, em conjunto, de atividade(s) econômica(s), que possui como consequência, a formação de uma pessoa jurídica para execução de tal fim. 108 INSTITUIÇÃO DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Art. 981. CC. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reci- procamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados. 2.2.2. Sociedade empresária X Sociedade simples (Atividade Civil) A sociedade simples pode ou não adotar um dos modelos societários exis- tentes. Se não o fizer, deverá se submeter às regras que lhes são próprias (art. 997 a 1.038, CC). Se o fizer, seguirá as regras atinentes ao modelo societário escolhido, mas não será efetivamente
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