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O INDIVÍDUO COMO SUPORTE PARA A ARTE E O CAMINHO PARA CONHECER O QUE O CONSTITUI.


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Paula Roberta Duarte Calvario - DRE 118150234 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O INDIVÍDUO COMO SUPORTE PARA A ARTE 
E O CAMINHO PARA CONHECER 
O QUE O CONSTITUI. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2019 
 
 
 RESUMO: Este trabalho apresenta uma análise acerca da tendência da body art e da arte 
performática contemporânea que tem o uso do corpo como suporte, visando entender como a conexão 
entre o artista e o público se torna parte do fazer artístico levando a uma reflexão do indivíduo sobre 
si e sobre o homem em geral e o uso do corpo como expressão da individualidade. Com ênfase na 
performance da artista Marina Abramovic “The Artist is Present (2010 MOMA)” baseando-se nas 
discussões e textos trabalhados em sala durante a disciplina de História da arte 4 ministrada pela 
professora Lorraine Pinheiros Mendes. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Performance, Marina Abramovic, Individualidade, Body Art, Reflexão. 
 
1- Performance e Happening. 
 
 Performance é uma construção física e mental que o artista executa num tempo 
específico, no espaço, na frente de uma audiência, e então acontece um diálogo de 
energia. A plateia e o artista constroem a obra juntos. E a diferença entre a 
performance e o teatro é enorme. No teatro, a faca não é uma faca, e o sangue é 
apenas ketchup. Na performance o sangue é o material, e a lâmina de barbear ou a 
faca, é a ferramenta. É que tudo acontece ao vivo. E não se pode ensaiar a 
performance, pois não se consegue fazer este tipo de coisa duas vezes, nunca. 
(ABRAMOVIC, 2015) 
 
Performance e happening são termos distintos, muitas vezes utilizados como 
sinônimos. No entanto, no primeiro de modo geral não há a real necessidade da participação 
direta do público. O que há em comum entre os dois é o fato de “emprestarem” suas 
características de outras manifestações artísticas (como do teatro, artes visuais e música) e 
de tomarem o corpo como suporte para o fazer artístico. Buscar novos suportes como o corpo 
fora possível quando no início do século 20 as vanguardas europeias se desvencilharam da 
arte acadêmica em busca de novas formas de apoio para suas obras, com a influência 
da pop art e da arte conceitual surgiu na metade do séc. XX o fazer artístico conhecido como 
performance, pois a arte contemporânea abre caminhos para uma nova forma de fazer e 
apreciar arte. 
A performance como expressão artística fora ainda influenciada pelo movimento 
dadaísta, que em sua intenção de negar as estéticas conservadoras e os valores sociais pré-
estabelecidos utilizava métodos artísticos e literários chocantes e incompreensíveis de forma 
intencional, iniciando nebulosas performances teatrais contando também com chocantes 
exposições. A relação artista, obra e expectador então se torna mais escancarada pois havia 
a necessidade de chocar, tocar o público com a obra, com uma arte mental e reflexiva. Essa 
necessidade é presente tanto na performance quanto no happening, a obra é a ação, assim 
como foi arte a ação e a escolha de Marcel Duchamp em colocar em exposição um urinol, 
pois o ato de fazer arte pode ser mais importante que o objeto produzido, ou nem produzido, 
como no caso dele. 
Abramovic portanto em sua definição exalta essa ação, essa interatividade entre o 
artista e o público de forma direta ou indireta, onde a obra vai se construindo com a presença 
do corpo do outro, a mente do outro e as atitudes do outro. Uma conversa entre experiências, 
toques e energia que durante o tempo da performance vai se tornando cada vez mais 
profunda, a reação do público a aquele momento e ação é o que torna a performance válida, 
o impacto é parte fundamental do ato performático podendo ser de forma agressiva ou não. 
Atribuindo então a performance, segundo Schechner, as seguintes funções: “entreter; fazer 
alguma coisa que é bela; marcar ou mudar a identidade; fazer ou estimular uma comunidade; 
curar; ensinar, persuadir ou convencer; lidar com o sagrado e com o 
demoníaco” (SCHECHNER, 2003, p.39). 
O registro posterior ainda que cause algum impacto não terá a mesma efetividade ou 
estranheza do que o público presenciar o ato acontecendo no mesmo tempo e espaço que ele, 
tendo a experiência verdadeira e não apenas o conhecimento de que tal coisa ocorreu, a 
performance acontece ao vivo e é sentida ao vivo, tanto pelo artista quanto pelo público. 
Como diz Abramovic na palestra “Uma arte feita de verdade, vulnerabilidade e conexão”: 
 
Porque, pensando sobre a imaterialidade, a performance é uma arte baseada no 
tempo. Não é como a pintura. Um quadro na parede continua lá no dia seguinte. A 
performance, se você perder, fica apenas a memória, ou alguém para lhe contar, 
mas, na realidade, perdeu a coisa toda. Então, tem de estar lá. E, do meu ponto de 
vista, quando se fala sobre arte imaterial, a música é absolutamente a mais alta de 
todas, porque é a mais imaterial. Depois vem a performance, e depois o resto. Esta 
é a minha forma subjetiva. (ABRAMOVIC, 2015) 
 
 
 
 
2- Conhecendo o homem através da performance. 
 
Marina Abramovic sobre sua performance “The Artist is Present (2010 MOMA)” na palestra 
“Uma arte feita de verdade, vulnerabilidade e conexão”: 
 
 O importante na performance, vocês sabem, todo ser humano sempre tem 
medo de coisas muito simples. Temos medo do sofrimento, temos medo da dor, 
temos medo da mortalidade. Então, o que faço é encenar esses medos na frente de 
uma plateia. Eu uso a energia da plateia e, com ela, posso explorar os limites do 
meu corpo o máximo que consigo. E aí eu me liberto desses medos. E sou o 
espelho de vocês. Se consigo fazer isso por mim, vocês conseguem fazer por 
vocês. (ABRAMOVIC, 2015) 
 
Olhar nos olhos de um conhecido é uma tarefa árdua para os tímidos, mas olhar nos 
olhos de um desconhecido pode ser uma experiência desconcertante e até perturbadora 
mesmo para o mais desinibido dos homens. Após longas horas em uma fila o espectador 
chega à sua vez de se sentar à frente de Marina, ela abaixa a cabeça e respira lentamente 
como se estivesse resetando toda a experiência com a última pessoa que esteve em sua frente. 
Em silêncio e sem toques uma troca de olhar é iniciada, algo singelo e aparentemente frívolo, 
mas o homem não está acostumado a encarar o outro, muito menos a se ver refletido em seu 
olhar, o reflexo em algo, alguém, que está tão vivo quanto ele inicia uma análise sobre seus 
próprios pensamentos, o silêncio é perturbador pois em meio ao caos da vida moderna são 
poucos momentos disponíveis para pensar e refletir sobre si ou sobre qualquer coisa. 
A falta de interferência sonora, tátil ou visual daquele momento abre a brecha para que 
o homem se refugie em si, a artista presente o observa assim como todas as outras pessoas 
que esperam para estar em seu lugar e o indivíduo não tem para onde correr exceto para 
dentro de sua própria mente. Os pesares escondidos pelo ritmo frenético do dia a dia surgem, 
alguns choram com expressões de uma dor vinda do emocional, outros sorriem em meio as 
lágrimas e ainda há os que não esboçam reações, aos poucos cada um que está à espera de 
se pôr em frente a artista presente vai percebendo que naquele momento a obra está sendo 
construída pelo “diálogo” silencioso entre as duas pessoas se observando, sendo que aquela 
interação se torna a obra e não apenas a artista, a mesa e as cadeiras mas sim o diálogo de 
energias que a interação humana pura e sem interferências causava. A artista relata sua 
experiência na palestra anteriormente citada (“Uma arte feita de verdade, vulnerabilidade e 
conexão”): 
 
E o que acontecia? Elas eram observadas pelas outras pessoas, eram fotografadas, 
eram filmadas pela câmera, eram observadas por mim e não tinham para onde 
escapar, exceto para dentrode si mesmas. E isso fez toda a diferença. Havia tanta 
dor e solidão, acontecem tantas coisas incríveis quando olhamos nos olhos de 
alguém, porque, ao cruzar o olhar com um completo estranho, com alguém com 
quem nunca trocamos uma palavra, tudo acontece. E entendi, quando depois de 
três meses me levantei daquela cadeira, que eu já não era mais a mesma. E entendi 
que tenho uma missão muito forte, que tenho de comunicar esta experiência a todo 
mundo. (ABRAMOVIC, 2015) 
 
Além dessa performance realizada no MOMA, anteriormente, quando tinha apenas 24 
anos em, 1974, Marina despiu-se de sua humanidade para tomar a posição de um objeto, 
durante seis horas ela ficou inerte e perto de si havia 76 objetos que o público poderia usar 
para interagir com a mesma, só havia uma informação onde dizia "Eu sou um objeto. Vocês 
podem usar tudo que está sobre a mesa em mim. Assumo toda a responsabilidade, mesmo 
se vocês me matarem. E a duração é de seis horas" durante a performance nomeada 
“Rhythm 0”. As primeiras três horas foram calmas, alguns espectadores a ofereciam o copo 
de água, a rosa e um até mesmo a beijou, porém na segunda metade alguns espectadores se 
tornaram agressivos e imprevisíveis, sua roupa fora picotada com uma tesoura, seu pescoço 
recebeu um corte e até mesmo beberam esse sangue que saiu de sua ferida. A performance 
precisou sofrer uma intervenção quando um dos espectadores apontou uma arma carregada 
na têmpora de Abramovic, antes que a artista fosse morta pela confusão que se instaurou, 
um dos seguranças pegou a arma e a jogou pela janela. 
Ao fim das três horas onde fora humilhada a artista começou a se movimentar em 
direção ao público que apenas fugira temendo algum tipo de retaliação, de sujeito passivo e 
vulnerável Marina se tornou um sujeito ativo e que poderia responder as humilhações 
sofridas durante o tempo da performance. O ocorrido escancara a problemática humana em 
sua relação de poder diante a vulnerabilidade do outro e esse é um dos principais problemas 
não apenas da modernidade, mas sim de toda a história da humanidade. No lugar 
de Abramovic poderia estar diversas minorias sociais como negros, LGBTQI+, pobres e 
todos os que muitas das vezes se encontram oprimidos e vulneráveis, é possível 
problematizar também a questão da presença do corpo feminino. Não seria estranho pensar 
que se ao invés de uma mulher ali estivesse presente um corpo masculino, talvez o público 
se sentiria mais inibido, pois está enraizado na sociedade machista o conceito da mulher 
vulnerável. A artista retrata essa experiência com as seguintes palavras: 
 
O começo dessa performance foi fácil. As pessoas me davam o copo d'água para 
beber, me davam a rosa. Mas, logo depois, teve um homem que pegou a tesoura e 
cortou minhas roupas, e depois pegou os espinhos da rosa e os enfiou no meu 
estômago. Alguém pegou a lâmina de barbear, me cortou no pescoço e bebeu o 
sangue. Ainda tenho a cicatriz. As mulheres diziam aos homens o que fazer. E os 
homens só não me estupraram porque era uma performance num espaço público, 
e porque estavam com as esposas. Me carregaram pela sala, me colocaram sobre 
a mesa, e colocaram a faca entre minhas pernas. Alguém pegou a pistola com a 
bala e colocou contra minha têmpora. Uma outra pessoa tomou a pistola, e eles 
começaram uma briga. (ABRAMOVIC, 2015) 
 
Essas duas experiências trabalham e levantam questionamentos acerca do 
comportamento humano, das conexões que criamos ou deixamos de criar, de como 
agiríamos caso não houvesse consequência nem impedimentos para nossas vontades e 
desejos. E esse é um assunto de extrema relevância, trazendo essa experiência para o 
contexto brasileiro a relação de poder e falta de punição está escancarada no projeto previsto 
pelo atual presidente Jair Bolsonaro, o qual buscar isentar militares de punições em 
operações. O que é uma carta branca para que ainda mais assassinatos ocorram, 
principalmente da população negra e pobre que é maioria nos locais onde acontecem essas 
operações. Casos como o da menina Ágatha (assassinada 20 de setembro na localidade da 
Fazendinha, no Alemão, RJ, por um tiro que partiu da arma de um PM) se tornarão ainda 
mais comuns. Outro aspecto que fora visto na performance de 1974 é o recuo e falta de 
empatia quando antes quem estava sendo hostilizado se ergue esboçando alguma reação, 
ainda há uma desumanização como se o antes vulnerável se tornasse uma coisa: 
 
E, passadas seis horas, eu... comecei a andar em direção ao público. Eu estava um 
trapo. Estava seminua, coberta de sangue, e lágrimas escorriam pelo meu rosto. E 
todo mundo correu, simplesmente fugiram. Não conseguiram me encarar como eu 
mesma, um ser humano normal. (ABRAMOVIC, 2015) 
 
Assim como Abramovic durante a performance de 1974, a população pobre (de 
maioria negra) e outras minorias sociais como os LBTQI+ e as mulheres se encontram em 
uma posição de vulnerabilidade, mas diferente da artista eles não escolheram isso e não é 
tão somente durante seis horas. A performance é capaz de nos fazer pensar, diferente da 
pintura que o público pode simplesmente passar por ela e admirar apenas os valores estéticos 
a performance prende o olhar pois evoca o corpo como a própria arte. Se vendo no artista o 
público passa a olhar para si, com um caráter crítico quase como se uma lição o estivesse 
sendo contada por parábolas, pois assim como o ato performático essas não contam 
diretamente do que se trata, quem está presenciando é levado a refletir e buscar o 
entendimento do que se passa e quando isso acontece ocorre a verdadeira absorção da 
mensagem. Isso é a performance, uma arte viva e humana para que o homem possa refletir 
sobre si e sobre a sociedade no geral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fotografias feitas durante a performance “The Artist is Present (2010 MOMA) ” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3- O corpo como forma de reflexão - Body Art: 
A Body Art utiliza o corpo como suporte ou forma de expressão, não necessariamente 
utilizando tinta, mas muitas vezes objetos e outros materiais. Surgiu no início dos anos 60 
marcado pela cultura do corpo, da nudez, da comunicação corporal e da liberdade sexual, 
muitas das vezes abordando temas de gênero e a sexualidade. O corpo (Muitas vezes do 
próprio artista) sofre intervenções muitas vezes associadas a violência, dor e ao esforço 
físico além disso o sangue, suor, química e física humanos são vistos como materiais e/ou 
ferramentas para a construção da obra como relata Abramovic sobre sua obra “Thomas Lips” 
em 2013 para a e-revista Performatus: 
 
Primeiro, bebi um litro de vinho tinto, comi um quilo de mel puro, então me 
chicoteei até parar de sentir dor. Quebrei o vidro, entalhei uma estrela de cinco 
pontas na minha barriga e, no fim, deitei em cima de uma cruz de gelo, feita de 
gelo puro, por meia hora, até o público de fato se aproximar e me tirar dali. A ideia 
era ver o quanto se pode aumentar a dor que se inflige a si mesma e realmente 
fazer com que seu corpo fique imune. 
 
Algumas vertentes mais radicais abusavam da automutilação, masoquismo e alguns 
chegaram ao suicídio. Um exemplo forte foi “Aktion Sommer” (1965) onde 
Rudolf Schwarzkogler munido de lâminas mutilou o próprio pênis, uma cena chocante que 
visava retirar o espectador da posição de passivo e indiferente. O corpo humano mutilado 
evoca a necessidade da presença total do indivíduo, não há como outra interferência no 
ambiente tirar sua atenção, é seu semelhante que está ali infligindo dor a si mesmo, esse 
choque visava despertar a consciência do indivíduo tanto frente a arte quanto frente a vida. 
O corpo humano ali presente atrai o olhar e a atenção total do espectador, coisa que uma 
pintura pendurada na parede ou até mesmo uma fotografia daquela ação não causaria assim 
como enfatiza Maria Beatriz de Medeiros enfatiza (2005, p.135): 
 
[...] fotografiasnão podem ser jamais consideradas performances, por mais fortes 
e envolventes que sejam, serão sempre registros, recortes de ações retiradas de 
seus contextos, arrancadas de seus sons e cheiros, serão registros, fragmentos de 
instantes desterritorializados. O tempo, elemento estético imprescindível da 
performance, foi desintegrado. 
 
A presença humana da Body Art possibilita uma conversa de individuo para indivíduo 
e sobre as cousas humanas que ambos estão expostos, seja a invisibilidade perante a 
sociedade, preconceito, sexualidade, medos e a própria morte. Esse tipo de arte é a forma 
mais humana e mais real de representar os problemas da humanidade e da vida em sociedade, 
assim como as imperfeições do homem e discutir sobre eles. O artista reflete sobre si e sobre 
quem o observa enquanto o espectador também faz uma reflexão ainda que seja sobre ele 
achar a obra inapropriada, de qualquer forma a arte não vai passar inócua por ele assim como 
poderia acontecer em uma exposição clássica onde muitas das vezes pela pressa e ânsia de 
se ver todos os quadros não há tempo para refletir ou não se quer refletir, a superficialidade 
de significados ou entendimentos não é uma questão cabível para a Body Art. Alguns 
indivíduos inclusive são adeptos ao Body Modification, uma forma de Body Art que também 
choca e ainda traz à tona o discurso sobre auto pertencimento e individualidade perante uma 
sociedade que possui tantos padrões. 
 
4- A busca pela individualidade através do Body Modification. 
 
Revista Ohun, ano 4, n. 4, p.1-32, dez 2008 
 
 Na disciplina histórica reinou por muito tempo a ideia de que o corpo pertencia 
à natureza, e não à cultura. Ora, o corpo tem uma história. Faz parte dela. E até a 
constitui, assim como as estruturas econômicas e sociais ou as representações 
mentais, das quais ele é, de certa maneira, o produto e o agente. (Jacques Le Goff 
e Nicolas Truong) 
 
O mundo moderno está cada vez mais acelerado, a população urbana cresce em 
disparada e como consequência as cidades se tornam pequenas perto do contingente 
populacional. Em meio a tantos indivíduos se torna difícil não se sentir sufocado pela massa. 
É possível fazer um paralelo com a anteriormente citada performance de Marina Abramovic, 
“The Artist is Present” (MOMA, 2010), enquanto o público aguardava para sentar na cadeira 
em frente a artista eles eram um grupo, as relações ali não eram individuais, mas quando um 
indivíduo se sentava em frente a artista todos ali o viam inclusive Marina. Suas feições, suas 
roupas, seus cabelos, seu comportamento, ele, ele era observado, analisado e estava sobre 
julgamento do público e talvez da própria Marina, sua individualidade era notada e exaltada 
pelos outros. 
A body modification funciona quase como essa cadeira da performance, ela é capaz de 
transportar o indivíduo do grupo homogêneo para uma individualidade onde em seu corpo 
estará marcado sua história e suas características próprias. O inconsciente do indivíduo, onde 
ele está livre das normas sociais e das padronizações que são impostas pela sociedade, é ali 
que seus desejos e vontades são representados de formas muitas vezes abstratas, mas não 
menos verdadeiras. Através da arte ele consegue externalizar esses desejos e os adeptos da 
modificação corporal assim o fazem em seu próprio corpo, tatuagens, piercings ou implantes 
são formas que eles encontram de adquirir características únicas que irão ficar visíveis e de 
forma definitiva (Não necessariamente intactas). 
O local onde a marca é deixada não é menos importante do que as intenções de um 
pintor tradicional ao escolher onde ficará cada elemento de sua tela, o corpo é a tela e se uma 
marca é posta em uma área mais escondida então apenas pessoas mais intimas terão acesso 
a ela, acesso a uma parte da história daquele corpo e isso não significa necessariamente que 
irão ter conhecimento do significado ou falta de significado daquela impressão. Apenas o 
dono do corpo possui os segredos para cada intervenção que fez no mesmo, porém esses 
mesmos segredos estão dispostos para todos ao redor verem, o body artist apenas não os dá 
as informações necessárias para desvendar a história impressa em seu corpo. Quase como 
uma performance sendo feita de modo contínuo a Body Modification diferente das marcas 
tribais ou de algumas religiões, é iniciada pela vontade do indivíduo e não pelo contexto 
cultural que ele está inserido. 
Como Abramovic afirmou, “Performance é uma construção física e mental que o 
artista executa num tempo específico, no espaço, na frente de uma audiência, e então 
acontece um diálogo de energia. A plateia e o artista constroem a obra juntos. ”, o tempo da 
performance da Body Modification é o tempo de vida do artista, o espaço é o contexto que 
ele vive e sua audiência são as pessoas que passam em sua vida, desde um desconhecido na 
rua até a própria família. Sua passagem é um discurso sobre sua individualidade, história e 
símbolos que o marcaram, mesmo os que escolhem fazer intervenções no corpo para seguir 
uma moda de um grupo social especifico, esses também marcam em suas peles um discurso 
sobre suas escolhas, sobre o que se identificam ou que tipo de imagem gostariam de passar. 
Dessa forma então alguns se encontram como indivíduos únicos quando estampam em 
suas peles o seu interior, chocam, embelezam, deformam a tela que é o corpo humano 
fazendo assim da própria existência uma performance sobre escolhas, histórias, sobre 
pertencer a si mesmo novamente trazendo à tona discussões sobre questões intrínsecas a 
sociedade que muitas das vezes devido a velocidade com que a vida acontece nos tempos 
atuais acabam não sendo discutidas, tendo assim a arte como uma pausa para que o homem 
possa refletir sobre o homem. 
 
REFERÊNCIAS: 
 
ABRAMOVIĆ, Marina. “‘Body Art’”. eRevista Performatus, 
Inhumas, ano 1, n. 5, jul. 2013. ISSN: 2316-8102 
MARINA ABRAMOVÍC|TED2015 - “Uma arte feita de verdade, vulnerabilidade e conexão” 
disponível 
em: https://www.ted.com/talks/marina_abramovic_an_art_made_of_trust_vulnerability_and_conne
ction/transcript?language=pt-br#t-75919 
BREVE HISTÓRICO DA “PERFORMANCE ART” NO BRASIL E NO MUNDO - José Mário 
Peixoto Santos. Disponível em: http://www.revistaohun.ufba.br/pdf/ze_mario.pdf 
FERREIRA PIRES Beatriz - O corpo como suporte da Arte - Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., VI, 
1, 76-85 
________________________________________________________________________ 
Imagens retirada dos seguintes sites: 
 
Figura 1 - https://www.moma.org/learn/moma_learning/marina-abramovic-marina-abramovic-the-artist-is-present-2010/ 
Figura 2, 3 e 4 -https://nathanaquilinavisualarts.weebly.com/case-study-i.html 
 
________________________________________________________________________ 
 
 
 
https://www.ted.com/talks/marina_abramovic_an_art_made_of_trust_vulnerability_and_connection/transcript?language=pt-br#t-75919
https://www.ted.com/talks/marina_abramovic_an_art_made_of_trust_vulnerability_and_connection/transcript?language=pt-br#t-75919
http://www.revistaohun.ufba.br/pdf/ze_mario.pdf
https://www.moma.org/learn/moma_learning/marina-abramovic-marina-abramovic-the-artist-is-present-2010/
https://nathanaquilinavisualarts.weebly.com/case-study-i.html

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