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GRELHA DE LEITURA TEXTO: Ramos, Alberto Guerreiro. A Nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das Nações. RJ, FGV, 1989 (Cap. 6: Uma abordagem substantiva da organização). IDEIAS-CONTEÚDO ARGUMENTOS A disciplina organizacional contemporânea não desenvolveu a capacidade analítica necessária à crítica de seus alicerces teóricos. O estudo científico das organizações trata de estruturas que conduzem à efetiva utilização de recursos físicos e de mão-de-obra. A teoria da organização precisa ser r e f o r m u l a d a s o b r e n o v o s fundamentos epistemológicos. A organização define, cria e molda o ambiente. As organizações têm prote ica habilidade de moldar a sociedade. As organizações controlam as ações de seus membros e moldam a realidade. Qualquer sistema social consiste basicamente de uma estrutura, uma tecnologia e uma teoria (Schon, 1971). A estrutura é o conjunto de papéis e de relações entre os membros individualmente. A tecnologia é o conjunto vigente de normas e praxes consolidadas, através do qual as coisas são feitas e os resultados conseguidos. A teoria é o conjunto de regras epistemológicas segundo o qual a real idade interna e externa é interpretada e tratada, em termos práticos. A teoria da organização nunca examinou, em termos de crítica, a epistemologia inerente ao sistema de mercado. O c o n c e i t o d e r a c i o n a l i d a d e predominante na vigente teoria organizacional parece afetado por fortes implicações ideológicas. A presente teoria da organização não distingue, sistematicamente, entre o significado substantivo e o significado formal da organização. A teoria da organização não tem clara compreensão do papel da interação s i m b ó l i c a , n o c o n j u n t o d o s relacionamentos interpessoais. A teoria da organização apoia-se numa visão mecanomórf ica da atividade produtiva do homem, e isso f i c a p a t e n t e a t r a v é s d e s u a incapacidade de distinguir entre trabalho e ocupação. No campo da teoria da organizacional, a noção de racionalidade possui insuficiente qualificação teórica. O homem não pode ser considerado u m s e r r a c i o n a l , p o r q u e o conhecimento abrangente está além de sua capacidade. O homem racional não se preocupa com a natureza ética dos fins per si. O homem é um ser que calcula, decidido apenas a encontrar, com precisão, meios adequados para a t i ng i r me tas , i nd i f e ren te ao respectivo conteúdo de valor. A sociedade moderna pode ser compreendida adequadamente como sociedade organizacional. N a s o c i e d a d e m o d e r n a , a organização formal (burocracia) se tornou um modelo social fundamental, e sua racional idade calcul is ta imanente passou a ser o padrão dominante de racionalidade para a existência humana. Nem todas as finalidades da vida humana pertencem à esfera das organizações econômicas formais. Na tentativa de obter os recursos necessários a seu bem-estar material, o i n d i v í d u o p o d e - s e p e r m i t i r atividades mecanomórficas. Todavia, e s s a s r e g r a s o p e r a c i o n a i s e mecânicas não se ajustam a todo o espectro da conduta humana. Antes da sociedade de mercado, nunca existiu uma sociedade em que o critério econômico se tornasse o padrão da existência humana. Em todas as sociedades primitivas e arcaicas, a v ida s imból ica fo i predominante e manteve os padrões de economicidade em condição periférica e subordinada A presente teoria da organização é sobretudo uma expressão da ideologia de mercado, e é de natureza dessa ideologia negligenciar os pontos envolvidos pela interação simbólica. Pontos como o amor, a confiança, a honestidade, a verdade e a auto- atualização não deveriam estar incluídos no campo de ação da organização econômica, e que tais organizações deveriam ser distintas de outros tipos de sistemas sociais, a que esses pontos efetivamente pertencem. Há uma distinção sistemática entre trabalho e ocupação. O trabalho é a prática de um esforço subord inada às necess idades objetivas inerentes ao processo de produção em si. A ocupação é a prática de esforços livremente produzidos pelo indivíduo em busca de sua atualização pessoal. Na sociedade de mercado, a noção de lazer tem sido degradada, porque se tornou sinônimo de ociosidade, passatempo e diversão, conotações que o lazer nunca teve antes. Num mundo de “trabalho total”, tal como o que pressupõe o sistema de mercado, o lazer naturalmente perde o caráter que anteriormente teve. O lazer só é possível quando o homem se sente unido a si próprio. A ociosidade e a incapacidade de lazer entre si se correspondem. Lazer é o contrário de ambas. Grandes mudanças subterrâneas ocorreram nos últimos três séculos, e por meio delas o lazer perdeu seu caráter como uma das bases da cultura ocidental. O processo da consolidação institucional do sistema de mercado é inseparável de um processo de desculturação da mentalidade ocidental, por meio do qual é eliminado o sentido original de palavras como razão, racionalidade e lazer. O lazer e a distinção qualitativa nele contida entre trabalho e ocupação foram transformados, de maneira a enquadrar o termo no arcabouço epis temológico do s is tema de mercado. A ascensão do trabalho como a mais prezada de todas as atividades humanas se deu em virtude de uma série de razões. O sistema de mercado encontrou c o n d i ç õ e s e x c e p c i o n a i s p a r a estabelecer seu comando sobre a vida social durante a chamada revolução industrial O sistema de mercado é um sistema de preços e precisa de padrões o b j e t i v o s p a r a d e t e r m i n a r a equivalência de bens e serviços. O sistema de mercado não pode funcionar em bases puramente técnicas e econômicas. É necessário que a teoria da organização vigente amplie sua perspectiva, sendo capaz de observar as nuances dos múltiplos tipos de organização existentes e os distintos modos de comportamento que com elas interagem. Os limites da teoria da organização deve r i am co inc i d i r com seus objetivos. A conduta individual, no contexto das organizações econômicas, está s u b o r d i n a d a a c o m p u l s õ e s operacionais, formais e impostas. A organização econômica é apenas um caso particular de diversos tipos de microssistemas sociais, em que as f u n ç õ e s e c o n ô m i c a s s ã o desempenhadas. Uma abordagem substantiva da teoria das organizações deve se preocupar com os meios de eliminação de compulsões desnecessárias agindo sobre as atividades humanas nas organizações econômicas. A teoria da organização tem sido, em grande parte, uma ideologia do sistema de preço de mercado, a qual não observa os diferentes contextos, cenários, vínculos e necessidades que conformam as organizações. O homem tem diferentes tipos de necessidades, cuja satisfação requer múltiplos tipos de cenários sociais. O comportamento administrativo é conduta humana condicionada por imperativos econômicos. Diferentes categorias de tempo e espaço vital correspondem a tipos d i f e r e n t e s d e c e n á r i o s organizacionais. Di ferentes sistemas cogni t ivos p e r t e n c e m a c e n á r i o s organizacionais. Diferentes cenários sociais requerem enclaves distintos, no contexto geral da tessitura da sociedade, havendo vínculos que os tornam inter- relacionados.
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