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Livro-Texto Unidade II PSICOLOGIA JURIDICA

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PSICOLOGIA JURÍDICA
Unidade II
MÓDULO III
Freud, o ego, o ID e o superego: a tradição da moral e da lei
Para os estudiosos do Direito talvez a parte mais interessante da psicanálise seja a metapsicologia. 
Sigmund Freud percebia, principalmente depois da Primeira Guerra Mundial, que havia necessidade de 
refinar a distinção entre consciência e inconsciente e criar o que se convenciona chamar de Segunda 
Tópica. Freud passava a atender pessoas traumatizadas pelas cenas de violência presenciadas na Primeira 
Guerra Mundial e se questionava porque os seres humanos, que aparentemente deveriam buscar prazer, 
se envolvem em guerras. Chegou à conclusão de que o ser humano obedecia inconscientemente a duas 
pulsões: a pulsão de vida e morte. Freud chama a pulsão de vida (ligada à sexualidade e à reprodução) 
de Eros, a de morte (ligada à agressividade e à destruição) de Tânatos. Como procura repetir experiências 
prazerosas, o ser humano busca também experiências desprazerosas, no limite da agressividade e da 
morte, em uma tentativa de resolver um conflito inconsciente.
As nossas pulsões são forças anárquicas e buscam a realização. Atuam no que Freud chama de Id 
(nem feminino, nem masculino, como it, em inglês), algo sobre o qual não temos controle. Dizemos, 
muitas vezes, quando agimos sem pensar: “foi mais forte que eu”. Daí, a necessidade da lei de manter 
as pulsões sob controle. Para que haja a convivência em uma sociedade civilizada, a imposição da 
lei, a castração, procura, portanto, não somente regular a sexualidade como também impedir que a 
agressividade se manifeste. Podemos chamar o ego, o eu, grosso modo, com a consciência. Pelo ego, 
estamos ligados à realidade, ao mundo no qual vivemos cujas limitações somos obrigados a aceitar. 
No entanto, ego não é suficiente para segurar as pulsões. O que mantém as pulsões sob controle 
é para Freud o que chama de superego que se “localiza” entre o ego e o Id. Para quem estuda a 
lei, o superego é especialmente interessante, porque representa a lei no inconsciente. Como, para 
Freud, a lei é instaurada pelo pai, o superego é a instância paterna no inconsciente. Não se trata do 
pai, no sentido natural, mas no sentido cultural, simbólico. Pai, padre, juiz, patrão e outras figuras 
paternas são representantes de uma cultura orientada na figura do pai. Obedecer ao superego evita 
a frustração de ser chamado à ordem o tempo todo. Cabe dizer que “a lei” no sentido freudiano não 
é a lei no sentido técnico jurídico. O que chama de lei são as normas da civilização que podem ser 
encontradas também na moral.
Obedecer a lei é importante para manter a violência sob controle, mas tem outro lado: a lei delimita 
nossa sexualidade. Como vimos na abordagem do Complexo de Édipo, há a interdição da mãe ou do pai. 
Além disso, existe uma moral sexual que, dependendo da sociedade na qual vivemos nos impõe limites 
à maneira como vivemos nossa sexualidade. Cabe dizer que Freud diz que a tradição da lei ocorre via 
superego de geração para geração. É uma herança cultural subjetiva que a cada geração é questionada 
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Unidade II
e modificada, pois cada geração tem sua chance de se reposicionar diante da lei, modificando-a, criando 
uma cultura mais rica ou mais agressiva. Lidar com as pulsões, a realidade, a consciência e o superego 
gera no ser humano sentimentos confusos. Essa confusão se expressa nas nossas doenças psíquicas. 
Freud chega a dizer que o ser humano “é um animal doente”. 
As teses unitária e dualista das origens da moral
Ao passo que os nativistas postulam a origem única da conduta moral, os partidários da tese empirista 
se encontram divididos em dois grupos: unicistas e dualistas. No primeiro deles, figuram Durkheim e 
seus discípulos para os quais o desenvolvimento da moralidade individual passa por diversas fases, mas 
sem que exista a menor solução de continuidade entre elas. Esse autor explica a transformação do 
“conformismo obrigatório” que rege nas sociedades primitivas (segmentárias) na solidariedade orgânica 
que se observa nas sociedades diferenciadas (democráticas), pela diminuição da vigilância do grupo 
sobre o indivíduo. “Plus la société est complexe, plus la personalité est autonome et plus importants sont 
les rapports de cooperation entre individus égaux” (DURKHEIN, Sociologie et Philosophie, p. 65 e seg.).
Os psicanalistas (Freud, Ferenczi, Rank) também se mostram unicistas e fazem derivar a origem de 
toda moral da evolução constante dos impulsos destruidores (instinto da morte) que primitivamente 
dirigidos contra o meio (sadismo) se voltam contra o próprio “ego” e se convertem em sua forma mais 
implacável. Segundo essa teoria, quanto maior tenha sido a violência primitiva do Id e quanto maior 
intensidade tenha alcançado o complexo de Édipo, tanto maior facilidade existirá para que se forme 
um superego ou consciência moral robusta. A passagem da primeira para a segunda fase (sadismo-
masoquismo) tem lugar em virtude de denominado processo de introjeção, mediante a qual a imagem 
paterna é fixada e identificada no ego, infligindo o indivíduo a si mesmo os mesmos castigos que 
antes tentara dar ao pai (considerado como símbolo da autoridade social). O mecanismo de introjeção 
(identificação com o ego) às vezes falha e persiste na idade adulta, uma atitude de hostilidade para a 
sociedade e, especialmente, para todos os sinais representativos da autoridade (reis, magnatas, chefes 
ou inclusive agentes de polícia). Assim, Ferenczi demonstrou com a psicanálise de diversos criminosos 
anarquistas, acusados de haverem assassinado pessoas de grande significação social, que em todos eles 
o complexo de Édipo se achava ainda em plena evolução, de sorte que o suposto delito político ou social 
que cometeram representava em realidade um parricídio simbólico, isto é, uma vingança deslocada 
contra a tirania primitiva e opressora de seu progenitor.
Em contrapartida, o mecanismo de introjeção que dá lugar a formação do superego encontra-se 
exagerado nos denominados neuróticos compulsivos. Esses indivíduos vivem sempre atormentados 
pelo sentimento de uma grande responsabilidade e têm um verdadeiro pânico à ação (“Peur de 
l´action”, de P. Janet), por acreditar que seus atos terão más consequências. Sempre acreditam agir 
mal e precisam desenvolver uma religião particular, baseada em cerimônias e práticas expiatórias, para 
purificar sua “consciência de culpa” (Schudbewusstsein). Esta é tão grande que nos casos extremos 
conduz ao denominado “delito autopunitivo”, em virtude do qual o indivíduo se acusa de faltas 
que não cometeu e pede para ser castigado com severidade, ou castiga a si próprio com autolesões 
capazes de chegar ao suicídio.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Em suma, a conduta moral, segundo a concepção psicanalítica, dependerá somente do grau de 
desenvolvimento do superego e esse, por sua vez, representaria uma força oscilante, derivada do fundo 
sádico do instinto destruidor (coincidindo com a fase do erotismo). Uma pessoa socialmente boa seria na 
medida em que era má para si mesma. A posição clássica entre bom e mau fica, segundo isso, reduzida 
nos seguintes termos: mau para os demais ou mau para nós mesmos. É claro que os psicanalistas 
admitem a existência de pessoas indiferentes, isto é, nem más nem boas; elas carecem de vida afetiva, o 
Id e o superego quase não se contam: somente dominam o ego, calculador e perfeitamente adaptado ao 
princípio da realidade. O pior é que entre esse tipo de seres incapazes de delinquir (por medo ao castigo) 
e incapazes também de se sacrificar (por medo ao sofrimento), incluem os psicanalistas uma maioria de 
intelectuais e homens daciência! 
Referências:
BOCK, A. M. B. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. 
Cap. 6.
MIRA Y LOPEZ, Emilio. Manual de psicologia jurídica. Campinas, SP: Servanda Editora, 2015.Cap. IV.
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Unidade II
MÓDULO IV
Neurose, psicose, perversão, psicopatologia, normalidade e o Direito
Cabe de início fazer algumas reflexões sobre a questão da doença mental. A legislação brasileira usa 
o termo “doença mental”, por exemplo, no art. 26, do Código Penal, para estabelecer a inimputabilidade 
penal. Podemos deduzir do uso do termo “doença mental” que a legislação acompanha a visão da 
medicina e de algumas teorias do campo do saber da psicologia que diferenciam a doença mental 
da normalidade. Isso faz sentido, pois o Direito tradicionalmente trata da norma. Dependendo da 
abordagem que se adota a respeito da psique pode se dizer que a doença mental é uma “desorganização 
do mundo interior”.[1] Essa é a posição da medicina que elabora a distinção, tal como o Direito o faz, entre 
saúde e doença mental. Há verdadeiros códigos que estabelecem para os médicos os protocolos para 
encontrarem os diagnósticos e as terapêuticas.
No entanto, a diferenciação entre doença e saúde mental encontra seus críticos. Dois grandes críticos 
da psiquiatria merecem ser citados nesse contexto: Michel Foucault e Franco Basaglia. Resumidamente, 
o que criticam é que “o saber científico e suas técnicas surgem, [...], comprometidos com os grupos 
que querem manter determinada ordem social”.[2] Essas e outras razões levaram Franco Basaglia a 
criar a Antipsiquiatria, um movimento que no Brasil está sendo fundamental na transformação dos 
“manicômios” em clínicas especializadas, nas quais se procura respeitar a cidadania do doente. 
Do ponto de vista da psicanálise, a diferença entre “doente” e “normal” é apenas uma questão da 
maneira como cada um de nós lida com suas angústias. Para Sigmund Freud, o ser humano é um “animal 
doente”, porque a civilização exige sacrifícios que causam conflitos inconscientes. Freud contribuiu para 
o estudo das doenças mentais, dividindo seu imenso campo de estudo em três estruturas psíquicas: 
neurose, psicose e perversão. Quem pesquisa a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), as 
encontrará descritas dentre inúmeros outros quadros de doenças. Para Freud, as estruturas psíquicas 
manifestam o jeito como cada um se posiciona diante da angústia causada pela castração que a 
civilização impõe. As estruturas psíquicas são, em outras palavras, “as diferentes maneiras de posicionar-
se diante da lei do desejo”.[3]
Neurose
Quem sofre de uma neurose obsessiva tenta resolver os conflitos internos entre a lei e o desejo, 
negando o desejo, tentando obedecer cegamente à lei. São pessoas “certinhas” que sofrem, por exemplo, 
de timidez, porque não se permitem manifestar o que desejam. Defendem-se do mundo que os angustia 
por suas surpresas e por suas contingências, permanecendo nos limites das normas sociais, do senso 
comum. O conflito entre a obediência à lei e o desejo pode levar o sujeito, por exemplo, a apresentar 
sintomas comportamentais repetitivos ou a viver paralisado por dúvidas e pelo medo de agir.
A neurose histérica pressupõe uma posição diante da lei do desejo que questiona sua legitimidade. 
Inconscientemente, a pessoa que sofre de histeria quer ser chamada à ordem. Acredita que um dia 
vai realizar seu desejo dentro da civilização que, por ora, lhe nega essa realização. Característica para 
a neurose histérica é a insatisfação generalizada, rebeldia, a falta de concentração. Muitas vezes, a 
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PSICOLOGIA JURÍDICA
insatisfação converte-se em dores no corpo sem fundo orgânico. A neurose de angústia, cujo traço 
principal é a fobia causada por objetos, tem sua origem no mesmo fato que é causa das histerias histérica 
e obsessiva, ou seja, o desejo sexual infantil recalcado. No fundo, o que causa a neurose de angústia, 
é medo de castração, medo da sexualidade que pode, frequentemente, manifestar-se na adolescência.
Quando uma pessoa sofre de uma psicose maníaco-depressiva, na medicina chamada de 
transtorno bipolar, ela vive fases alternadas de aparente “normalidade”, de euforia e de melancolia. 
As fases de euforia e de melancolia são desencadeadas pelo que na psiquiatria se chama de “evento”. 
Emoções fortes que não tiram pessoas neuróticas, ou seja, “normais”, da série, provocam euforia ou 
depressão nas pessoas que sofrem desse tipo de psicose. Elas “perdem o rumo” nessas fases da vida. 
Dentre os mais diversos tipos de psicoses, abordados por Freud e os psiquiatras que dialogam com sua 
teoria, e também pelos que estabeleceram CID 10, são as psicoses esquizofrênica e paranoica. Quando 
uma pessoa sofre de esquizofrenia, ela apresenta uma fala “sem rumo”. Tem grande dificuldade para 
se ligar ao mundo, “não encontra maneira de usar a mídia [...] adequadamente e toma caminhos 
incomuns, não aceitos, pelo discurso” [...] “não consegue encontrar a normalidade”.[4] Fora dos padrões 
da normalidade encontra-se, portanto, também quem sofre de uma psicose paranoica. À diferença do 
quadro de esquizofrenia, na paranoia, a pessoa constitui um quadro não confuso, orientado, porém, 
delirante. A pessoa pode ter a ilusão de ser perseguido ou, ao contrário, apresentar algum delírio de 
grandeza. Vale lembrar que, muitas vezes, a psicose só se manifesta quando o que na medicina se 
chama de “evento” desencadeia a psicose. 
Finalmente, vale mencionar a estrutura psíquica que Sigmund Freud chama de perversão. Não 
necessariamente, a perversão se confunde com o que na psiquiatria se chama psicopatia. Para Freud, 
perverso é quem busca satisfação sexual além dos limites da maneira “normal” de encontrar prazer. 
Como a própria psicanálise reconhece que não há um padrão de satisfação sexual, perverso é, em 
termos gerais, um sujeito que não se curva diante dos limites da civilização e vai buscar a satisfação 
“exatamente onde as leis e o discurso comum indicam que a satisfação está proibida”.[5] Diante desse 
conceito de perversão, podemos constatar que perversos são muitos! Diferentemente do perverso, o 
sujeito que a psiquiatria chama de psicopata é um sujeito aparentemente “normal”. Bem comportado, 
age dentro da lei e engana até profissionais experientes. No entanto, essa aparente “normalidade” do 
psicopata representa um perigo. Não reconhecido como sujeito perigoso, é capaz de cometer atos 
extremamente violentos pelo puro prazer de causar dor e de matar.
[1] BOCK, A. M. B. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 348.
[2] Op. cit. p. 349
[3] FORBES, Jorge. Inconsciente e responsabilidade: psicanálise do século XXI. São Paulo: Manole, 2012, p. 40.
[4] Op. cit. p. 40
[5] Op. cit. p. 40
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MÓDULO V
A família vista pela psicologia jurídica: do pátrio aos laços amorosos
A família que acabamos de conhecer nos módulos anteriores, sobretudo pela teoria psicanalítica 
de Sigmund Freud que elabora o Complexo de Édipo como sendo a chave de compreensão da psique 
e que desenvolve uma topologia, de acordo com a qual encontramos a lei como uma das instâncias 
do inconsciente (o superego), tem seu correlato no antigo Código Civil brasileiro de 1916. Nele, o pai 
aparece como a figura dominante da família, a ele cabe o pátrio poder. Contrário à concepção que 
hoje temos da família, a família tradicional regrada pelo antigo Código Civil é uma família nuclear. 
Impensável uma família que não seja composta por pai, mãe e filhos! Impensável, essa família não ser 
constituída pelo casamento. Na lógica patriarcal da antiga legislação civil, o pátriopoder constitui na 
família uma hierarquia a partir da figura do pai. O homem é o chefe da sociedade conjugal. A mulher 
casada é relativamente incapaz. A separação do casal não é possível e, quando ocorre, investiga-se a 
culpa pelo fracasso do casamento. Além disso, desconfia-se da capacidade das mulheres criarem os 
filhos homens. A guarda do filho varão, a partir dos 6 anos de idade, fica com o pai. Estamos, portanto, 
diante de um código moral assimétrico sexual, que durante o século XX vai perdendo suas feições.
Depois das duas grandes guerras, em toda parte do mundo, mulheres assumem postos de comando. 
No lugar dos homens (não podemos esquecer que muitos morreram nas guerras), o Estado faz a função 
do provedor, função essa que se expressa no direito social. A emancipação feminina, a invenção de 
meios anticoncepcionais mais seguros, as mulheres tornam-se mais independentes e encaram com mais 
facilidade uma eventual separação do casamento. O divórcio implica um afastamento de pais e filhos. 
Novas formas de convívio familiar dão lugar à família nuclear e, consequentemente, Complexo de Édipo 
deixou de ser a chave de compreensão do inconsciente.
A Constituição Federal de 1988 dá conta dessas mudanças, quando desenha nos artigos 226 e 
seguintes a nova família que está sob a proteção da lei. A família contemporânea pode ser biparental, 
constituída por casamento ou união estável, para muitos, heterossexual ou homossexual, uma vez que o 
Supremo Tribunal Federal, em 2011, reconheceu a união estável homossexual. Por Resolução do Conselho 
Nacional de Justiça, os cartórios do Brasil não podem mais recusar a celebração de casamentos civis 
entre pessoas do mesmo sexo. Finalmente, a Constituição reconhece também a família monoparental, 
aquela constituída por um dos pais e seu(s) filho(s). Com isso, a lei brasileira permite a constituição e 
reconstituição livre da família, não mais obrigada a seguir um único modelo previsto em lei.
Segundo alguns especialistas, um dos motivos que desencadeiam distúrbios emocionais nos filhos 
é a convivência em um lar em conflito permanente. Dessa forma, entende-se que a separação conjugal 
deveria representar uma possível solução, mas infelizmente muitos casais encontram sérias dificuldades 
na reorganização desse sistema, inclusive na divisão de responsabilidades. Assim, o casal decide procurar 
um profissional que ajuizará ação competente, prosseguindo o feito até sentença judicial ou homologação 
de acordo que estabelecerá quem ficará com a guarda dos filhos, visitas, pagamento de alimentos e 
partilha dos bens. A questão é que guarda e o direito de visitas existe em função dos menores, com o 
objetivo de manter contato entre os filhos e os pais após a separação, contribuindo com a “homeostase” 
emocional dos envolvidos. Diante disso, o pátrio poder cede também a uma forma mais igualitária 
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PSICOLOGIA JURÍDICA
de gerir a família: o poder familiar. O Código Civil de 2002, que entrou em vigor em 2003, pressupõe 
a igualdade dos cônjuges. Prevê a dissolução da sociedade conjugal no caso da impossibilidade de 
comunhão de vida. Além disso, prevê, apesar da separação do casal, a manutenção do vínculo de pais e 
filhos pela guarda compartilhada. Esse vínculo é caro ao legislador, uma vez que os filhos têm o direito 
de convivência familiar.
A guarda única ou exclusiva, aquela conferida a um só dos genitores, passou a ser insuficiente 
para atender as necessidades e os interesses dos pais e, principalmente, dos filhos. Com as mudanças 
cada vez mais aceleradas na estrutura familiar, procuram-se novas modalidades de guarda capazes de 
assegurar aos pais uma repartição equitativa da autoridade parental, bem como aos filhos, que serve 
para amenizar os efeitos desastrosos na maioria das separações. A guarda compartilhada ou conjunta 
é um dos meios de exercício da autoridade parental aos pais que desejam continuar a relação com os 
filhos quando ocorre a fragmentação da família. A justificativa para a adoção desse sistema está na 
própria realidade social e jurídica, que reforça a necessidade de garantir o melhor interesse da criança 
e a igualdade entre homens e mulheres na responsabilização dos filhos. A continuidade do convívio da 
criança com ambos os pais é indispensável para seu desenvolvimento emocional de forma saudável.
As vantagens da guarda compartilhada são maiores que as desvantagens, basicamente em função 
de uma melhora na autoestima do filho, melhora no rendimento escolar (enquanto que na guarda 
monoparental decai), diminuição do sentimento de tristeza, frustração, rejeição e do medo de abandono, 
já que permite o acesso sem dificuldade a ambos os pais. Também ajuda na inserção da nova vida 
familiar de cada um dos genitores, além de ter uma convivência igualitária. Por essas e outras razões, a 
alienação parental, o ato de afastar o filho do pai ou da mãe, foi proibida por lei e foi dada a Justiça a 
possibilidade de intervenção nos casos em que ela ocorre.
Referências:
BRANDÃO, E. P., GONÇALVES, H. S. Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Nau, 2004, p. 51 s.
FORBES, Jorge. Inconsciente e responsabilidade: psicanálise do século XXI. São Paulo: Manole, 2012. 
Cap. 6.2.

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